Ação cautelar preparatória de ação de ação civil pública - greve - cópia protocolada
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DOUTORADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ESTUDO DA AÇÃO DO PROPRANOLOL SOBRE A SECREÇÃO DE TESTOSTERONA EM CÉLULAS
INTERSTICIAIS TESTICULARES DE RATO
MARIA DO CARMO DE CARVALHO E MARTINS
Recife, PE – Brasil
2002
ESTUDO DA AÇÃO DO PROPRANOLOL SOBRE A SECREÇÃO DE TESTOSTERONA EM CÉLULAS
INTERSTICIAIS TESTICULARES DE RATOS
MARIA DO CARMO DE CARVALHO E MARTINS
Tese apresentada ao Curso de Doutorado em
Ciências Biológicas do Centro de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de
Pernambuco, como parte dos requisitos para
obtenção do grau de doutor em Ciências
Biológicas, área de Concentração em
Farmacologia, Fisiologia e Química Medicinal.
Orientadora:
Profª. Dr.ª Maria Inês Wanderley
Co-orientador:
Dr. Daniel Pedro Udrisar
Recife, PE – Brasil
2002
2 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
“Dois horizontes fecham nossa vida: Um horizonte – a saudade do que não há de voltar; Outro horizonte – a esperança dos tempos que hão de chegar.”
Machado de Assis
3 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
Ao César, pela tolerância, compreensão e apoio, por
tudo o que vivemos juntos desde a adolescência e, por
todas as dificuldades superadas;
Aos meus filhos Rafael, Dalila, Daiane e Mariana, pelas
incontáveis horas de convívio que lhes foram roubadas;
À minha mãe, por dedicar sua vida aos filhos e netos e,
especialmente, por cuidar de mim e da Mariana durante
seus primeiros meses de vida (aqui em Recife)
4 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
AGRADECIMENTOS
- Aos Doutores Maria Inês Wanderley e Daniel Pedro Udrisar,
Docentes da Disciplina de Fisiologia do Departamento de Fisiologia e
Farmacologia da Universidade Federal de Pernambuco, pela orientação,
tolerância, compreensão, apoio e paciência em todas as fases do
trabalho, bem como pelo acompanhamento constante desde o mestrado,
pela confiança, pelos anos de convivência e, especialmente, pelo
exemplo de conduta científica e humana;
- À Universidade Federal do Piauí pela oportunidade para a
realização do curso de Pós-graduação;
- À Coordenadoria Geral de Capacitação de Docente e à CAPES
pelo suporte financeiro e pelas informações prestadas, sempre que
necessário;
- Ao Prof. Antônio de Deus Filho, Diretor do Centro de Ciências
da Saúde da Universidade Federal do Piauí, pelo apoio e pela
colaboração prestados;
- Ao Prof. Francisco Teixeira Andrade, Chefe do Departamento de
Biofísica e Fisiologia da Universidade Federal do Piauí, pela amizade,
pelos ensinamentos, pela confiança e pelo constante incentivo
concedidos para o ingresso na carreira científica e para a realização
deste curso de pós-graduação;
- À Profª. Dr.ª Lis Cardoso Marinho Medeiros, docente do
Departamento de Biofísica e Fisiologia da Universidade Federal do Piauí,
pela amizade, pelo constante incentivo e precioso apoio concedidos para
a realização deste curso de pós-graduação;
- À Profª. Maria Marilza Moita e demais professores e funcionários
técnico-administrativos do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da
Universidade Federal do Piauí pela convivência e carinho;
5 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
- À Coordenadora do Curso de Doutorado em Ciências Biológicas,
Dr.ª Luana Cassandra B. Coelho e às secretárias Adenilda Eugênia,
Jaciene e Liane Santos, pelo carinho e pela disposição em ajudar;
- À todos os colegas do curso de pós-graduação, pela convivência
e carinho;
- À Profª. Maria do Amparo Andrade, pessoa maravilhosa sempre
pronta a ajudar, pela grande amizade, pelos anos de convivência, pelo
carinho e incondicional apoio em todos os momentos difíceis longe de
minha família;
- Aos familiares e amigos, em especial aos meus pais, irmãos e
avó, pelo amor, incentivo e apoio nos momentos difíceis;
- À Alexandra, Barnabé e Cilene, por cuidar de meus filhos,
especialmente durante minha permanência em Recife;
- À Sara Regina Rufino, pela amizade, convivência e apoio;
- À Daniela Carneiro (bolsista de Iniciação Científica) e Carla,
Maria do Carmo e Regina (mestrandas) do Laboratório de Endocrinologia
do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal
de Pernambuco, amizades novas consolidadas no convívio no
laboratório, pelo carinho e apoio;
- Ao Prof. Dr. José Moita, Docente da Disciplina de Química da
Universidade Federal da Piauí, pela disposição em colaborar e pelas
orientações acerca da utilização do programa estatístico "origin";
- Finalmente, a todos aqueles de uma forma ou de outra, contribuíram
direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho.
6 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
SUMÁRIO
Página
DEDICATÓRIA...........................................................................................3
AGRADECIMENTOS..................................................................................4
LISTA DE
FIGURAS...................................................................................9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.....................................................11
RESUMO..................................................................................................13
ABSTRACT...............................................................................................15
I. INTRODUÇÃO......................................................................................17
1. Vias de tradução do sinal hormonal no testículo................................21
2.Ações do propranolol no testículo: envolvimento da PK-
C................30
II. OBJETIVOS..........................................................................................31
1. OBJETIVOS GERAIS.......................................................................31
2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................31
III. MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................32
1. ANIMAIS........................................................................................32
2. REAGENTES................................................................................32
3. GRUPOS
EXPERIMENTAIS.........................................................33
3.1. Células intersticiais tratadas agudamente com propra-
7 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
nolol.......................................................................................33
3.2. Animais tratados cronicamente com propranolol
.................32
4. METODOLOGIA............................................................................3
4
4.1. Preparação e incubação das células intersticiais
testiculares............................................................................34
4.1.1.Obtenção das células intersticiais testiculares............34
4.1.2.Purificação das Células de Leydig...............................35
4.1.3.Secreção de testosterona in
vitro.................................36
4.2. Viabilidade Celular.................................................................37
4.3. Radioimunoensaio da Testosterona......................................37
4.4. Atividade da proteína quinase C............................................38
4.4.1.Preparação da fração citosol + membrana..................38
4.4.2.Purificação parcial da PK-C por cromatografia em
DEAE-Agarose............................................................39
4.4.3.Determinação da atividade da PK-
C............................40
4.5. Ligação do [3H]PDBu às células intersticiais testiculares......41
8 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
4.6. Ligação do [3H]PDBu à fração DEAE-
Agarose......................42
5. Tratamento Estatístico....................................................................43
IV. RESULTADOS...................................................................................45
1. TRATAMENTO AGUDO.................................................................45
1.1.Efeito do propranolol sobre a secreção de testosterona em
em preparação enriquecida em células de
Leydig...................45
1.2.Efeito do propranolol adicionado junto com PDBu, LHRH
ou H-7 na secreção de testosterona em preparação enri-
quecida em células de Leydig..................................................46
1.3.Efeito do propranolol na atividade da PK-C..............................47
1.4.Comparação da ligação do [3H]PDBu às células intersti-
ciais testiculares e à fração DEAE-agarose.............................50
2. TRATAMENTO CRÔNICO COM PROPRANOLOL...........................53
2.1.Efeito do tratamento crônico com propranolol durante oito
dias sobre a secreção de testosterona estimulada com pro-
pranolol, LHRH e PDBu em células intersticiais testiculares.......53
2.2.Efeito do tratamento crônico com propranolol durante oito
dias sobre a atividade da proteína quinase C .............................55
2.3.Efeito do tratamento crônico com propranolol durante cinco
semanas sobre a secreção de testosterona estimulada com
9 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
propranolol, LHRH e PDBu em células intersticiais de rato .........56
2.4.Efeito do tratamento crônico com propranolol durante cinco
semanas sobre a atividade da proteína quinase C ..........................57
2.5.Ligação do [3H]PDBu às células intersticiais testiculares de
animais tratados com propranolol durante cinco semanas...........59
2.6.Efeito do tratamento crônico com propranolol durante cinco
semanas sobre a secreção de testosterona estimulada com
hCG e dbAMPc em células intersticiais de rato ..........................61
V. DISCUSSÃO........................................................................................65
VI. CONCLUSÕES...................................................................................75
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................77
9 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1. Via do AMPc no testículo......................................................23
Figura 2. Via dos lipídios de inositol no testículo.................................24
Figura 3. Efeito de diferentes concentrações de S-propranolol
sobre a secreção de testosterona em preparação enri-
quecida em células de Leydig de rato...................................45
Figura 4. Efeito do propranolol sobre a atividade da PK-C..................48
Figura 5. Efeito do H-7 e da ausência de Ca2+ na ação do pro-
pranolol sobre a atividade da PK-C......................................49
Figura 6. Ligação de [3H]PDBu à fração DEAE-A e às células
intersticiais testiculares em função da concentração de
PDBu (A) ou de propranolol
(B).............................................51
Figura 7. Análise de Scatchard da ligação de [3H]PDBu às célu-
células intersticiais testiculares.............................................52
Figura 8: Efeito do tratamento crônico com 30 mg/Kg propranolol
(via intraperitoneal) durante oito dias sobre a secreção
de testosterona estimulada pelo S-propranolol (100 μM),
LHRH ( 10-7 M), PDBu (200 nM)...........................................54
Figura 9: Efeito do tratamento com 30 mg/Kg propranolol por via
intraperitoneal durante oito dias sobre a atividade da
proteína quinase
C................................................................55
Figura 10. Efeito do tratamento com propranolol (500 mg/L na
água de beber) durante cinco semanas sobre a secreção
de testosterona estimulada por S-propranolol (100 μM),
LHRH (10-7 M) e PDBu (200
mM)..........................................57
Figura 11. Efeito do tratamento com propranolol (500 mg/L na
10 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
água de beber) durante cinco semanas sobre a ativi-
dade da proteína quinase C.................................................58
Figura 12. Ligação de [3H]PDBu às células intersticiais testicula-
res obtidas de animais tratados com propranolol
durante cinco semanas, em função da concentração
de PDBu (A) ou de propranolol (B).....................................60
Figura 13. Análise de Scatchard da ligação de [3H]PDBu às cé-
lulas intersticiais testiculares de animais tratados com
propranolol durante cinco semanas....................................61
Figura 14. Efeito do tratamento crônico com 30 mg/Kg proprano-
lol (por via intraperitoneal) durante oito dias sobre a
secreção de testosterona estimulada pelo hCG
(1mUI/mL), na ausência ou na presença de 100μM
S-propranolol......................................................................62
Figura 15. Efeito do tratamento crônico com 500 mg/L proprano-
lol na água de beber durante cinco semanas sobre a
secreção de testosterona estimulada pelo hCG
(1mUI/mL), na ausência ou na presença de 100μM
S-propranolol.......................................................................63
Figura 16. Efeito do tratamento crônico com 500 mg/L proprano-
lol na água de beber durante cinco semanas sobre a
secreção de testosterona estimulada pelo dbAMPc
(1 mM), na ausência ou na presença de 100μM
S-propranolol.......................................................................64
Figura 17. Representação esquemática dos possíveis sítios de
ação do propranolol na via que envolve a proteína qui-
nase C para produzir dessensibilização das células
intersticiais testiculares ao propranolol e aos ativado-
res da PK-C........................................................................72
11 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AA: ácido araquidônico
AMPc: 3’,5’- adenosina-monofosfato cíclico
BSA: albumina sérica bovina
CaMKII: proteína quinase II dependente de Ca2+/calmodulina
1,2-DAG: 1,2-diacilglicerol
dbAMPc: dibutiril AMP cíclico
DEAE-A: DEAE-Agarose
EPM: erro padrão da média
GAP: proteína ativadora de GTPase
GnRH: hormônio liberador de gonadotrofina
GRK: quinases de receptor acoplado à proteína G
hCG: gonadotrofina coriônica
H-7: 1-(5-isoquinolinylsulfonyl)-2-methyl-piperazine
i.p.: intra-peritoneal
IP3: inositol 1,4,5-trifosfato
LH: hormônio luteinizante
LHRH: hormônio liberador de hormônio luteinizante
LIT: líquido intersticial testicular
MAPKs: proteínas quinases ativadas por mitógenos
M199: meio 199
PA: ácido fosfatídico
PAPase: fosfohidrolase do ácido fosfatidíco
PBS: tampão fosfato-salina
PC: fosfatidilcolina
PDBu: forbol 12,13-dibutirato
PDD: forbol 12,13-didecanoato
12 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
PIP2: fosfatidilinositol 4,5-bifosfato
PIP3: fosfatidilinositol 3,4,5-trifofosfato
PK-A: proteína quinase A
PK-C: proteína quinase C
PLA2: fosfolipase A2
PLC: fosfolipase C
PLCβ: fosfolipase C β
PLD: fosfolipase D
PMA: forbol 12-miristato 13--acetato
PPI: lipídio de inositol ou fosfoinositídeo
PPI-PLC: fosfolipase C específica para lipídio de inositol
PS: fosfatidilserina
OAG: 1-oleoil-2-acetil-rac-glicerol
RIE: radioimunoensaio
TPA: 12-O-tetradidecanoilforbol 13-acetato
13 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
RESUMO
O propranolol, utilizado frequentemente na patologia cardíaca
por seu efeito bloqueador β-adrenérgico, está freqüentemente
associado com efeitos sexuais colaterais. Esses efeitos não parecem
estar relacionados ao bloqueio β-adrenérgico. O efeito do propranolol
sobre o metabolismo dos fosfolipídios e do diacilglicerol tem sido
referido na literatura. No presente trabalho foi estudado o envolvimento
da via de tradução do sinal do diacilglicerol/proteína quinase C
(DAG/PK-C) na ação do propranolol sobre a secreção de testosterona
em células intersticiais testiculares de rato. O tratamento agudo com
propranolol estimulou a secreção de testosterona in vitro com
concentrações da droga variando de 1μM a 100 μM. O H-7 (20 μM),
inibidor da PK-C, reduziu esse efeito em aproximadamente 50%. Na
concentração de 75 μM o S-propranolol reduziu 50% da ligação do
[3H]12,13-dibutirato de forbol ([3H]PDBu) às células enquanto que no
homogeneizado dessas células a redução da ligação foi de apenas
5%. Esses resultados sugerem que o efeito do S-propranolol sobre a
ligação do [3H]PDBu poderia ser indireto, possivelmente por aumentar
a concentração de um mediador químico que interage com o domínio
regulatório da PK-C. Em concentrações ainda mais baixas (1 nM a
100 nM), o S- ou R-propranolol adicionado diretamente à mistura de
reação com PK-C parcialmente purificada das células intersticiais
aumentou a fosforilação da histona. Essa fosforilação foi comparável
àquela obtida com (25 μM) fosfatidilserina, não ocorreu em ausência
de Ca2+ e foi revertida com 20 μM H-7. O tratamento crônico com
propranolol por via intraperitoneal (30 mg/Kg/8 dias) bloqueou o efeito
14 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
estimulatório do S-propranolol e dos ativadores da PK-C (PDBu e
LHRH) sobre a secreção de testosterona em células intersticiais
testiculares in vitro, sugerindo a dessensibilização da via do DAG/PK-C
nessas células. Contudo, a atividade da PK-C não foi modificada. O
tratamento mais prolongado, por via oral, com propranolol (500 mg/L/5
semanas) produziu uma dessensibilização mais suave na resposta
secretória das células, não modificou a ligação do [3H]PDBu e não
modificou a atividade, em valores absolutos, da PK-C. Esses
resultados sugerem que a PK-C não está envolvida na
dessensibilização da resposta secretória. A especificidade dessa
dessensibilização é sugerida pela não modificação (redução) do efeito
inibitório do propranolol sobre a secreção de testosterona estimulada
pelo hCG e dbAMPc, ativadores indireto e direto da PK-A. Concluindo,
os resultados sugerem que a PK-C pode ser a quinase putativa
envolvida no efeito agudo estimulatório do propranolol sobre a
secreção de testosterona pelas células intersticiais testiculares e que a
dessensibilização dessas células após tratamento crônico com
propranolol não envolve diminuição da atividade ou de concentração
dessa enzima.
Palavras chave: Propranolol – Tradução de sinal – Proteína
quinase C – Esteroidogênese – Testículo
Endereço eletrônico: [email protected]
15 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
ABSTRACT
Propranolol is a drug frequently used in cardiac pathology for its
adrenergic β–blocker effect. It is frequently associated with collateral
sexual effects. These effects appeared to be unrelated with the β-
adrenergic blockade. The propranolol effect on the phospholipids and
diacylglycerols metabolism has been reported. In this work the
diacylglycerol/kinase C protein (DAG/PK-C) signal transduction
pathway involvement in the propranolol action on the testosterone
secretion in rat testicular interstitial cells was studied. The propranolol
acute treatment stimulated the in vitro testosterone secretion at
concentrations ranging from 1μM a 100 μM. The PK-C inhibitor H-7 (20
μM) reduced this effect in 50% approximately. S-propranolol in the 75
μM concentration reduced 50% of [3H]phorbol 12,13-dibutyrate
([3H]PDBu) binding to the interstitial cells while that in homogenate of
the these cells the binding reduction was by only 5%. These findings
suggest that the effect of the S-propranolol on [3H]PDBu binding could
be indirect, possibly by increasing the concentration of a chemical
mediator interacting with the PK-C regulatory domain. At even lower
concentrations, propranolol L- or D- (1nM a 100 nM) directly added to
the reaction mixture with PK-C partially purified from interstitial cells
increased the histone phosphorylation. This phosphorylation was
comparable to that obtained with (25 μM) phosphatidylserine. It did not
occur in Ca2+ absence and it was reverted with 20 μM H-7. The
propranolol chronic treatment by intraperitoneal administration (30
mg/Kg/8 days) blocked the stimulatory effect of S-propranolol and PK-
C activators (PDBu and LHRH) on the in vitro testosterone secretion in
16 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
testicular interstitial cells, that suggests the DAG/PK-C pathway
desensitization in these cells. However, the PK-C activity was not
modified. The more prolonged treatment propranolol (500 mg/L/5
weeks) by oral administration has produced a softer desensitization in
the secretory reply of the cells, but it did not modify the [3H]PDBu
binding and PK-C activity, in absolute values. These results suggest
that the PK-C is not involved in the secretory reply desensitization. The
especifity of this desensitization is suggested by the absence of
modification (reduction) of the propranolol inibitory effect on the
stimulated testosterone secretion by hCG and dbcAMP, PK-C
activators indirect and direct. In conclusion, the results suggest that
PK-C could be the putative quinase involved in the propranolol
stimulatory acute effect on the testosterone secretion for the testicular
interstitial cells and that the desensitization of these cells after chronic
propranolol treatment does not involve activity or concentration
reduction of this enzyme.
17 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
I. INTRODUÇÃO
O propranolol é um agente bloqueador β-adrenérgico não-
seletivo amplamente utilizado para o tratamento da hipertensão,
profilaxia da angina pectoris e para o controle de arritmias cardíacas, e
que está entre as drogas mais amplamente prescritas nas sociedades
industrializadas. Bloqueia competitivamente os receptores β1 e β2
(Gilman et al.,1990; Dash e Rao, 1995). Apenas o isômero óptico S(-)
tem atividade β-bloqueadora, sendo o isômero R(+) totalmente ineficaz
(Barrett e Cullum,1968; Svetlov e Hanahan,1997).
Tem-se verificado que concomitantemente com o aumento no
uso de β-bloqueadores na prática médica, um número crescente de
artigos têm enfatizado o risco de efeitos sexuais colaterais −seu uso no
controle da pressão sanguínea, em pacientes moderadamente
hipertensos, está frequentemente associado à diminuição da
capacidade erétil, da libido e impotência masculina (Croog et al.,1986;
Knarr,1976; Miller,1976; Moss e Procci,1982; Poloniecki e
Hamilton,1985; Warren e Warren,1977). Tais efeitos, geralmente,
surgem dentro de dias após o início da administração da droga, e com
a descontinuação do uso é observado um rápido retorno da função
sexual normal (Knarr,1976). A disfunção sexual com o propranolol
parece estar relacionada com a dose, visto que vários estudos
encontraram evidências de impedimento erétil em doses de 120
mg/dia e acima (Moss e Procci,1982). Recentemente foi demonstrado
em ratos, que a administração aguda de propranolol por via
subcutânea está associada com diminuição da performance
copulatória e dos reflexos eréteis e ejaculatórios (Smith et al., 1995). A
impotência induzida pelo propranolol pode ser parcialmente devida ao
18 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
efeito bloqueador β-adrenérgico periférico da droga que pode exercer
efeitos diretos no componente nervoso simpático do mecanismo erétil
e/ou no débito cardíaco impedindo a circulação nos vasos sanguíneos
penianos em pacientes com doença vascular periférica, uma vez que
tem sido documentado fluxo sanguíneo diminuído nas artérias
penianas de pacientes durante o tratamento com propranolol (Neil-
Dwyer et al.,1981). Por outro lado, durante o tratamento crônico com
propranolol em homens saudáveis foi observada uma redução
significativa da concentração plasmática de testosterona (Rosen et
al.,1988). Lewis et al. (1981) já haviam mostrado que os níveis de
testosterona plasmática eram reduzidos pela administração de doses
únicas de RS-propranolol (80 mg) em homens saudáveis. Resultados
opostos, contudo, têm sido referidos por outros autores utilizando
pacientes saudáveis (Dart et al.,1981) ou ratos adultos tratados
cronicamente com propranolol (Plecas et al.,1997). Provavelmente,
esse aumento é devido a uma ação central do propranolol, o qual
penetra no cérebro (Hoffman e Lefkowitz,1992) e/ou a uma ação direta
na gônada (Martins et al.,1996; Wanderley,1986). Os dados
correntemente disponíveis sugerem que enquanto os efeitos diretos
das catecolaminas sobre a secreção de testosterona são
estimulatórios (Anakwe et al.,1985; Cooke et al.,1982; Moger et
al.,1982; Moger e Murphy,1983; Wanderley,1986; Wanderley et
al.,1989), efeitos indiretos, centrais ou locais, sobre a produção de
testosterona são principalmente inibitórios e envolvem interação de
diferentes hormônios e fatores (Rivier e Rivest,1991), além das
influências sobre o fluxo sanguíneo testicular (Damber e Janson,1978).
Wanderley (1986) e Martins et al. (1996) demonstraram um efeito
estimulatório direto do propranolol sobre o volume do líquido intersticial
testicular (LIT) e a produção de testosterona basal e estimulada pela
gonadotrofina coriônica humana (hCG) nesse compartimento
19 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
testicular. O(s) mecanismo(s) preciso(s) através do(s) qual(is) o
propranolol induz disfunção sexual é(são) desconhecido(s). Esse efeito
estimulatório do propranolol sobre a secreção de testosterona sugere
um mecanismo de ação dessa droga que independe de seu clássico
bloqueio β-adrenérgico, que pode resultar de uma ação intrínseca da
droga e aqui denominada de “agonista-símile”.
São várias as evidências que suportam outras ações do
propranolol, diferentes da clássica ação β-bloqueadora, e que são
dependentes da integridade da membrana. Nesse sentido, estudos in
vitro demonstraram o efeito inibitório equipotente dos isômeros R e S
do propranolol na agregação secundária de plaquetas, captação e
liberação de 5-hidroxi [14C]triptamina, adesão ao colágeno, retração do
coágulo e geração de tromboxano A2, em concentrações da droga
similares ou ligeiramente maiores que aquelas atingidas in vivo na
prática clínica (Weksler et al.,1977). Os mecanismos responsáveis por
essas ações são pouco compreendidos e são frequentemente
referidos como ações “quinidina-símile”, ou seja, resultantes de
interações hidrofóbicas com os componentes lipídicos de membrana,
desde que, como a quinidina, o propranolol exerce atividade
anestésica local, a qual parece contribuir para sua atividade anti-
arrítmica (Barrett e Cullum,1968; Marshall et al.,1975). Essas ações
são também referidas como propriedades estabilizadoras não-
estereoespecíficas de membrana e que modificam a fluidez de
membrana (Weitman et al.,1989). Outros autores demonstraram que o
propranolol se associa preferencialmente com os fosfolipídios acídicos
negativamente carregados (fosfatidilserina -PS e ácido fosfatídico -PA)
(Surewicz e Leyko,1981); ou que o propranolol aumenta a mobilidade
das cadeias de ácidos graxos associadas aos fosfolipídios (Akiyama e
Igisu,1979), sendo sugerido então que o propranolol perturba as
interações proteína-lipídio na superfície da membrana
20 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
(Surewicz,1982). Dash e Rao (1990), através de estudos in vitro
demonstraram que o propranolol, em concentrações terapêuticas,
diminui a microviscosidade equivalente da membrana de plaquetas e
aumenta o grau de desordem das cadeias de hidrocarbonetos da
bicamada lipídica. Além disso, foi demonstrado que o propranolol liga-
se especificamente à fosfatidilserina e ao fosfatidilinositol presentes na
face interna da membrana plaquetária (Dachary-Prigent et al., 1979). A
perturbação do microambiente fisicoquímico da membrana pode
interferir com a tradução molecular do sinal através da membrana,
afetando a resposta celular aos agonistas (acoplamento do receptor
aos sistemas de segundos mensageiros – adenosina 3’-5’ monofosfato
cíclico (AMPc), Ca2+ citosólico, fosfatos de inositol e diacilglicerol- ou
ainda influenciar diretamente o metabolismo dos fosfoinositídeos -PPI).
Bazan et al.(1985) demonstraram que na retina bovina a forma
racêmica do propranolol estimula a degradação de fosfoinositídeos
provavelmente pela ativação da fosfolipase C (PLC) fosfoinositídeo-
específica (PPI-PLC) possivelmente por uma perturbação na
membrana causada pela intercalação da droga na membrana ou como
resultado da mobilização de Ca2+. A forma racêmica do propranolol
além de inibir a conversão de PA em diacilglicerol pela fosfohidrolase
em hepatócitos (Jamal et al.,1991) também inibe a ativação da
proteína quinase C (PK-C) em neutrófilos humanos, provavelmente
pela interação ao nível do domínio regulatório da enzima (Sozzani et
al.,1992 ). Os estereoisômeros R e S do propranolol apresentam
efeitos igualmente potentes sobre a atividade da PK-C em neutrófilos
(Sozzani et al.,1992 ). Em plaquetas estimuladas pela trombina a
forma racêmica do propranolol parece inibir a tradução de sinal
inibindo a atividade da PLC e da PK-C (Dash e Rao,1995). Dados
obtidos em plaquetas estimuladas pela trombina sugerem que o
propranolol inibe a tradução do sinal, possivelmente interagindo a nível
21 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
do acoplamento proteína G-fosfolipase C (PLC) e/ou na própria PLC
(Dash e Rao,1995).
Recentemente, Svetlov e Hanahan (1997) demonstraram que
tanto a forma racêmica quanto o isômero R do propranolol potenciam
o aumento na concentração intracelular de cálcio e inibem a atividade
da fosfolipase D (PLD) induzidos pela trombina em plaquetas
humanas, possivelmente afetando a função plaquetária pela regulação
do balanço fosforilação/defosforilação presumivelmente pela inibição
de componentes (diferentes fosfatases e fosfohidrolases) mediando o
“cross-talk” entre a PLC e a PLD, os quais poderiam ser isoenzimas da
PK-C ou outros elementos ainda não caracterizados.
1. Vias de tradução do sinal hormonal no testículo
O controle da produção de esteróides pelas células de Leydig é
realizado primariamente pela ação da gonadotrofina hormônio
luteinizante (LH) (Dufau e Catt,1978), secretado em pulsos de alta
atividade biológica pela adenohipófise sob o controle da secreção
episódica do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) (Clarke e
Cummins,1982; Levine e Duffy,1988; Pau et al.,1986; Urbanski et
al.,1988; Wildt et al.,1981).
Há dois sistemas principais de segundo mensageiros que
parecem ser os efetores da ação hormonal no testículo: a via do AMPc
e a dos lipídios de inositol (Steele e Leung,1992).
O LH estimula a função esteroidogênica da célula de Leydig
através da interação com receptores de LH na superfície celular
(Figura 1), resultando principalmente na estimulação de eventos
dependentes de AMPc (Dufau e Catt,1978). Após a ocupação dos
sítios receptores específicos de LH nas células de Leydig pelo
LH/hCG, vários processos são iniciados na membrana plasmática
através de uma proteína ligante de GTP (proteína G) e que levam à
22 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
ativação da adenilato ciclase ligada à membrana (Dufau et al.,1980,
1984; Dufau,1988; Gore-Langton e Armstrong,1988). Esta enzima, por
sua vez, catalisa a síntese de AMPc a partir de ATP no lado
citoplasmático da membrana plasmática (Steele e Leung,1992). A via
do AMPc parece ser altamente compartimentalizada (Dufau et
al.,1978) e pode ser afetada por níveis intracelulares e vias não-AMPc
na membrana (Dufau et al.,1987; Dufau e Knox,1985; Sullivan e
Cooke,1986).
As proteínas G são heterogêneas com diferentes subtipos (Gs,
Gi, Gq, Go, etc.) capazes de interagir com diferentes tipos de
receptores (Gershengorn e Perlman,1995; Kaziro et al.,1991),
traduzindo sinais a partir dos receptores de membrana para diferentes
moléculas efetoras incluindo a adenilato ciclase, PLC e canais iônicos
(Birnbaumer,1990; Freissmuth et al., 1989; Gilman,1987, 1990; Kaziro
et al., 1991; Levis e Bourne,1992; Neer,1994). Os receptores de LH,
além do receptor β-adrenérgico e vários outros receptores interagem
com a Gs, que por sua vez interage seletivamente e estimula a
atividade do efetor enzimático adenilato ciclase levando a um aumento
dos níveis de AMPc celular (Dufau,1988; Gilman,1990).
O AMPc é o segundo mensageiro que media muitas
modificações dependentes de hormônio no metabolismo celular. Esta
resposta à estimulação hormonal é mediada através de um aumento
nos níveis de AMPc o qual, por sua vez, ativa a proteína kinase A (PK-
A) dependente de AMPc (Cooke et al.,1979; Marsh,1975; Rommerts
et al.,1974). O AMPc liga-se à subunidade regulatória inibitória da PK-
A inativa e promove sua dissociação do complexo, dessa forma
permitindo o aumento da atividade da subunidade catalítica, a qual,
então, para a esteroidogênese pelas células de Leydig parece
fosforilar uma proteína substrato ainda não identificada em um resíduo
23 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
treonina, iniciando a produção de testosterona estimulada pelo LH
(Edelman et al.,1987; Stocco e Clark,1991).
1º mensageiro(hormônio)
Adenilatociclase
Proteina-G
ATP
AMPc
Subunidaderegulatória
Subunidadecatalítica
PK - A
Espaçoextracelular
Membranaplasmática
Citosol
Fosforilação de proteína substrato Figura 1. Via do AMPc no testículo
Apesar da regulação da esteroidogênese testicular estar
predominantemente sob o controle das gonadotrofinas hipofisárias,
outros hormônios e fatores localmente produzidos, dentre eles o
LHRH, podem influenciar a diferenciação da célula de Leydig e as
ações agudas ou crônicas do LH na esteroidogênese (Dufau,1988;
Saez,1994; Steele e Leung,1992). O LHRH estimula um outro sistema
de segundo mensageiro envolvido na esteroidogênese no testículo; a
via que utiliza a hidrólise de fosfoinositídeos (PPI’s), fosfolipídios que
24 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
contêm o açúcar mio-inositol como grupo polar (Berridge e
Irvine,1989).
Os PPI’s, ou lipídios de inositol, são compostos de um esqueleto
de glicerol contendo grupos de ácidos graxos nas posições 1- e 2- e
um grupo fosfato acoplado através de uma ligação fosfodiéster na
posição 3- ao mio-inositol (Berridge e Irvine,1989). A hidrólise desses
fosfolipídios ocorre por ação de uma fosfolipase. No caso dos PPI’s
atua a PLC PPI-específica ou PPI-PLC, que não hidrolisa outros
fosfolipídios, tais como a fosfatidilcolina (PC) (Rhee e Choi,1992). A
fosfolipase C beta (PLCβ) é um sistema de segundo mensageiro
extensamente estudado ativado por receptores que se acoplam por
meio de interação com proteínas G (Dohlman et al.,1991; Kaziro et
al.,1991), e consiste em uma família de enzimas que hidrolizam
fosfolipídios na ligação fosfodiéster da posição 3- do esqueleto de
glicerol (Rhee e Choi,1992).
fosfolipase C- ativadaPIP2
diacilglicerol ESPAÇOEXTRACELULAR
MEM
BR
AN
APL
ASM
ÁTI
CA
CITOSOL
quinase-Cativadamimetizado por
esteres de forbol
IP3
CLIVAGEMGTP
proteína G ativadaq
Y q
receptorativado
LIBERA CaDO RETÍCULO
ENDOPLASMÁTICO
2+
simulada porionóforos de Ca2+
FOSFORILAPROTEÍNAS CELULARES
LHRH
Figura 2. Via dos lipídios de inositol no testículo
25 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
Quando o PIP2 (fosfadilinositol 4,5-bifosfato) é o substrato, como
ocorre na via que leva à produção de testosterona estimulada pelo
LHRH, a ação da PLCβ leva à formação de inositol 1,4,5-trifosfato (IP3)
e 1,2-diacilglicerol (1,2-DAG) (Rhee e Choi,1992; Gershengorn e
Perlman,1995; Steele e Leung,1992). Cada um destes mensageiros
afeta o metabolismo celular através de diferentes vias sinalizadoras,
razão pela qual esta via sinalizadora é referida como uma via
sinalizadora bifurcante.
O IP3 pode aumentar a concentração intracelular de Ca2+ pela
mobilização dos estoques no retículo endoplasmático e/ou estimulando
o transporte através da membrana plasmática (Berridge,1984,1987;
Berridge e Irvine,1989).
O diacilglicerol (DAG), em combinação com a fosfatidilserina
(PS) e, dependendo do subtipo de isoenzima, com ou sem elevação
da concentração intracelular de Ca2+, ativa a PK-C dependente de
fosfolipídio (Nishizuka,1984), resultando na formação de um complexo
quaternário altamente ordenado consistindo da kinase, o 1,2-DAG, os
cofatores Ca2+ e fosfatidilserina, e o substrato (Gershengorn e
Perlman,1995; Hannun e Bell,1986). Outros produtos da membrana
celular, tais como o ácido araquidônico (AA) e o fosfatidilinositol 3,4,5-
trifosfato (PIP3) também ativam fisiologicamente a PK-C e sinergizam
com o 1,2-DAG para ativar a PK-C de forma máxima (Liu,1996).
Uma outra via que leva indiretamente à formação de 1,2-DAG é
a via que envolve a ativação do receptor de uma fosfolipase D (PLD)
que hidrolisa fosfolipídios, como a fosfatidilcolina (PC) para gerar
colina e ácido fosfatídico (PA) (Cook e Wakelam,1992; Exton,1990). A
PLD pode ser ativada pela PK-C, e há algumas indicações de ativação
direta mediada por receptor via proteínas G (Geny e Cockroft,1992).
Existe a possibilidade de que a ativação da PLD seja uma
consequência secundária da ativação da PLC (McKenzie et al.,1992).
26 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
O PA, por sua vez, pode ser defosforilado para 1,2-DAG pela PA
fosfohidrolase (Cook e Wakelam,1992; Gershengorn e Perlman,1995;
Koul e Hauser,1987). Alguns estudos sugerem que o ácido fosfatídico
possa atuar como um segundo mensageiro e que a fosfohidrolase do
ácido fosfatídico (PAPase) seja uma enzima regulatória chave na
interação entre PLC e PLD na tradução de sinal (Agwu et al.,1991;
Gay e Murray,1991). Além disso, há evidências sugerindo que o PA
possa atuar como um fator modulador da produção de testosterona em
células de Leydig (Lauritzen et al., 1994). Em relação aos efeitos do
PA, alguns estudos mostraram que este fosfolipídio parece mais
potente que o DAG na ativação da PLC específica para PIP2
(Jackowski e Rock,1989), que o PA ativa várias isoformas de
fosfatidilinositol-4-fosfato-5-quinase tipo I –enzima que gera substratos
para a PLC (Jenkins et al.,1994), e ainda que o PA é capaz de ativar
quinases Ca2+-dependentes e Ca2+-independentes em extratos de
tecidos, incluindo fígado, cérebro, pulmões, testículos e plaquetas
(Bocckino et al.,1991; Khan et al.,1994). Khan et al.(1994) sugerem
que estas serina/treonina quinases podem representar uma
superfamília de quinases dependentes de fosfolipídios que
desempenham um importante papel na mediação dos efeitos celulares
do PA gerado pela ação da PLD.
A PK-C, descoberta em 1977, é considerada como um elemento
regulatório chave na tradução de sinal e exerce seus efeitos através da
catalisação da fosforilação de um substrato específico, modulando a
atividade de diversas proteínas diferentes, e está geralmente envolvida
em diversos processos incluindo crescimento e proliferação celular,
desenvolvimento neural, transmissão sináptica, regeneração axônica,
contração e relaxamento do músculo liso, estimulação da secreção de
células endócrinas, exócrinas e sanguíneas, lipogênese em
adipócitos, glicogenólise em hepatócitos, promoção de tumores e
27 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
envelhecimento (Berridge e Irvine,1989; Liu,1996; Nishizuka,1984,
1986,1988).
A PK-C é uma serina e treonina quinase que catalisa a
transferência de fosfato do ATP para o grupo hidroxila livre em
resíduos serina ou (menos freqüentemente) treonina de proteínas
substrato, que é amplamente distribuída em vários tecidos de
mamíferos, sendo o sistema nervoso a fonte mais abundante
(Edelman et al.,1987; Nikula e Huhtaniemi, 1988; Nishizuka, 1980).
Vários hormônios e efetores ativam a PK-C como parte de sua
transmissão de sinal transmembrana (Kikkawa e Nishizuka,1986).
Quando totalmente ativa, a PK-C é considerada como um complexo
quaternário consistindo de fosfolipídio aniônico, Ca2+, DAG e a enzima
(Hannun e Bell,1986; Liu,1996). Nos testículos, a atividade da PK-C foi
identificada nos túbulos seminíferos e células de Leydig, e está
envolvida na regulação destes compartimentos testiculares (Galdieri et
al.,1986; Kimura et al., 1984; Nikula et al.,1987), participando na ação
do LHRH e seus análogos agonistas na secreção de andrógeno pela
célula de Leydig devido a fosforilação e (ativação) de algumas
proteínas implicadas na produção de esteróides (Nikula e
Huhtaniemi,1988; Steinschneider et al.,1989; Wanderley e Negro-
Villar,1996). Os ésteres de forbol são potentes promotores de tumores
que podem mimetizar a ação do DAG e ativar a PK-C, afetando as
funções das células de Leydig e das células de Sertoli (Castagna et
al.,1982; Nikula e Huhtaniemi, 1988). Os ésteres de forbol têm uma
estrutura DAG-símile, aumentando a afinidade da PK-C pelo cálcio e
fosfolipídios e, em sua forma ativa, apresentam um grupo cabeça
relativamente polar (a molécula de forbol) com ésteres substituintes
lipofílicos (Lee e Blackshear,1987). As evidências disponíveis indicam
que os ésteres de forbol não levam à quebra de fosfolipídios de
inositol, à geração de DAG endógeno, ou à mobilização de Ca2+
28 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
intracelular (Lee e Blackshear,1987). Nishizuka (1984) sugeriu que
cada molécula de éster de forbol se intercala na bicamada de
fosfolipídios da membrana e ao interagir com uma molécula de PK-C
produz um complexo quaternário pelo qual a enzima é ativada. Além
disso, como são lentamente metabolizados, os ésteres de forbol
persistem nos tecidos por períodos muito mais longos que o DAG,
causando ativação prolongada da PK-C, e produzindo depleção
("down-regulation”) da enzima pela indução da inserção da PK-C na
membrana plasmática onde ela é gradualmente proteolisada (Liu,1996;
Nishizuka,1995). Os ésteres de forbol depletam seletivamente
algumas, e não todas as isoenzimas da PK-C (Adams e Gullick,1989;
Ase et al., 1988; Cooper et al., 1989; Olivier e Parker,1992). Os
ésteres de forbol ativos mais comumente empregados são o forbol 12-
miristato 13-acetato (PMA; também referido como 12-O-
tetradecanoilforbol 13-acetato ou TPA), forbol 12,13-dibutirato (PDBu)
e o forbol 12,13-didecanoato (PDD) (Lee e Blackshear,1987).
Evidências recentes sugerem que o LH também ativa a via dos
fosfoinositídeos, aumentando a atividade da PLC, gerando DAG e
subseqüentemente ativando a PK-C (Rommerts e Cooke,1988).
Apesar da contribuição da via dos fosfoinositídeos estimulada pelo LH
para a esteroidogênese não estar totalmente esclarecida, os
metabólitos dessa via podem contribuir para um efeito facilitatório ou
para a potenciação do estímulo mediado pelo AMPc na célula de
Leydig (Dufau,1988). Baixas concentrações de LH aumentam o Ca2+
livre intracelular sem produzir qualquer alteração detectável no AMPc
(Sullivan e Cooke,1985), o que pode indicar um mecanismo não-
dependente de AMPc na mobilização de Ca2+, como por exemplo o
mecanismo de IP3 (Steele e Leung,1992). No entanto, para a
esteroidogênese máxima ambas as vias parecem estar envolvidas
(Sullivan e Cooke,1985).
29 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
Tem sido demonstrado também que a ligação de alguns
receptores, além de ativar a fosfolipase C, também ativa a fosfolipase
A2 (PLA2), o que resulta na liberação de ácido araquidônico (AA) a
partir de fosfolipídios (Minegishi et al.,1987). O AA e seus metabólitos,
na via dos fosfoinositídeos, podem aumentar a atividade da PK-C
(McPhail et al.,1984). No testículo há evidências da implicação desta
via que leva à formação de AA no mecanismo de sinalização tanto do
LH (Abayasekara et al.,1990) quanto do LHRH (Lin,1985; Steele e
Leung,1992). O AA tem se mostrado efetivo em ativar a proteína
kinase dependente de Ca2+ e fosfolipídio, e estimular diretamente a
esteroidogênese na célula de Leydig, sugerindo que sua conversão
em prostaglandinas ou leukotrienos não é necessária para seu efeito
esteroidogênico (Lin,1985). Entretanto, outros investigadores
observaram que a hidrólise de fosfolipídios estimulada pelo LHRH é
acompanhada por níveis aumentados de prostaglandina E que
coincidem com a estimulação da esteroidogênese (Molcho et al.,1984),
ou ainda, encontraram produtos da lipoxigenase modulando os efeitos
de um agonista do LHRH (luliberina) dependentes do cálcio na
produção de testosterona em células de Leydig de rato (Sullivan e
Cooke,1985). Dix et al.(1984) sugerem que o AA também pode
desempenhar um papel significante como segundo mensageiro em
razão do fato de seus metabólitos estarem envolvidos na
esteroidogênese estimulada pelo LH; em seus estudos mostraram que
os produtos da via da lipoxigenase, mas não os da via da
cicloxigenase são importantes na ação do LH.
2. Ações do propranolol no testículo: envolvimento da PK-C
Wanderley (1986), em estudo in vitro utilizando uma preparação
de células intersticiais testiculares de rato referiu que a adição de
propranolol em concentrações variando de 1 μM a 10 μM aumenta
30 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
significativamente a produção basal de testosterona e diminui a
produção de AMPc e testosterona estimuladas pela gonadotrofina
coriônica humana (hCG). Nesse mesmo estudo observou que a
injeção intraperitoneal de propranolol não modificou os níveis
plasmáticos de testosterona. Tinajero et al. (1993) também referiram
que o S-propranolol inibe a secreção de testosterona e de AMPc
estimuladas pelo hCG. Contudo, esses autores observaram que o
propranolol inibe a secreção basal de testosterona. Lauritzen et
al.(1994) mostraram que o propranolol (RS e R de maneira
equipotente) induz um aumento no nível de PA (possível mensageiro
intracelular envolvido na modulação local da esteroidogênese
testicular) e uma inibição da síntese de testosterona estimulada pelo
LH em células de Leydig de rato. No seu estudo esses autores referem
que o efeito do propranolol sobre a secreção basal de testosterona foi
oposto ao encontrado por Tinajero et al.(1993).
Os efeitos do propranolol nos diferentes experimentos in vitro
aqui referidos foram demonstrados com concentrações da droga
similares ou um pouco mais elevadas do que aquelas alcançadas in
vivo na prática clínica. Assim, pode-se pensar que a droga quando
administrada terapeuticamente pode afetar os sistemas de tradução do
sinal nas células intersticiais testiculares.
Considerando o amplo uso clínico do propranolol, da
hipertensão à angina pectoris, onde são referidos os efeitos sexuais
colaterais, a elucidação do efeito estimulatório do propranolol sobre as
células de Leydig em um nível molecular é de significado terapêutico
potencial.
31 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
II. OBJETIVOS
1. OBJETIVOS GERAIS
1.1. Analisar os efeitos dos tratamentos agudo (diretamente in
vitro) e crônico (in vivo) com propranolol sobre a secreção
basal e estimulada de testosterona em preparações de
células intersticiais testiculares (in vitro);
1.2. Avaliar o envolvimento da via do DAG/PK-C na ação do
propranolol sobre a secreção de testosterona;
1.3. Avaliar os efeitos do tratamento crônico com propranolol
sobre a secreção de testosterona envolvendo a via do
AMPc/PK-A .
2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.1. Comparar o efeito do propranolol com o de dois ativadores
da proteína quinase C – PDBu e LHRH, sobre a secreção
de testosterona;
2.2. Determinar o efeito do propranolol sobre a ligação do
[3H]PDBu às células intersticiais testiculares intactas ou
homogeneizadas;
2.3. Determinar o efeito do propranolol sobre a atividade da
PK-C;
2.4. Determinar o efeito do tratamento crônico com propranolol
sobre a secreção de testosterona estimulada por dois
ativadores da proteína quinase A – dbAMPc e hCG .
32 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
III. MATERIAL E MÉTODOS
1. Animais
Ratos machos Wistar (Ratus norvegicus albinus) adultos com
pesos entre 240 e 360g foram utilizados nos experimentos. Os animais
foram criados no biotério do Departamento de Fisiologia e
Farmacologia da Universidade Federal de Pernambuco, recebendo
alimentação (ração Purina para ratos) e água filtrada ad libitum. Os
animais foram mantidos em sala com ventilação e iluminação naturais
(aproximadamente 12 horas de claro e 12 horas de escuro) e
temperatura que variava entre 25 e 29ºC durante todo o ano.
2. Reagentes
Albumina sérica bovina (BSA) Fração V obtida de Miles
(Naperville, IL) e de ICN Biomedicals Inc; Ácido tricloroacético (TCA),
Álcool etílico P.A., Azida de sódio, Bicarbonato de sódio (NaHCO3),
Cloreto de potássio (KCl), Cloreto de sódio (NaCl), Sacarose obtidos
de VETEC; Adenosina 5’-trifosfato (ATP), Azul tripan (direct blue 14),
Carvão ativado, Colagenase tipo I, Coomassie brilliant blue R 250,
Coquetel de inibidores de fosfatases, Coquetel de inibidores de
proteases, Dextran, Dithithreitol (DTT), Ácido
etilenodiaminotetraacético (EDTA), Ácido etilenoglicol bis (β-aminoetil
éter)-N,N,N’,N’-tetracético (EGTA), Fluoreto de fenilmetilsulfonato
(PMSF), Forbol 12,13-dibutirato (PDBu), Fosfatidilserina (PS, cérebro
bovino), Gelatina tipo III, Histona de timo de bezerro tipo III-S, Inibidor
da tripsina tipo 1S, Leupeptina, R-propranolol, RS-propranolol, S-
propranolol, 1-oleoyl-2-acetyl-rac-glycerol (OAG), 2,5-diphenyl-oxazole
(PPO), Testosterona, t-octylphenoxypolyethoxyethanol (Triton X-100),
Trizma hidrocloreto (Tris[hydroxymethyl]aminomethane hydrochloride)
obtidos de Sigma Chemical Co. (St. Louis, MO); Meio de cultura 199
33 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
(Meio 199) obtido de GIBCO (Grand Island, NY); Etanol absoluto, 2,2’-
p-phenylen-bis(5-phenyloxazol) (POPOP) obtidos de MERCK; Percoll
obtido de Pharmacia (Uppsala, Sweden); 1,2,6,7 [3H] Testosterona,
[3H] Phorbol- 12,13-dibutyrate ([3H]PDBu) 16 Ci/mmol obtidos de
Amersham International (Buckinghamshire, England); Hormônio
liberador de hormônio luteinizante (LHRH) obtido de Península (San
Carlos, CA); [γ-32P] ATP 5000Ci/mmol obtido de New England Nuclear
(Boston, MA); DEAE-agarose obtida de Bio-rad (Hercules, CA); 1-(5-
Isoquinolinylsulfonyl)-2-methyl-piperazine (H-7) obtido de Seikagaku;
Éter etílico P.A. obtido de Proanalysi-Isofar; Cloreto de cálcio (CaCl2),
Fosfato de potássio monobásico (KH2PO4), Fosfato de sódio dibásico
(Na2HPO4.7H2O), Fosfato de sódio monobásico (NaH2PO4.H2O),
Glicerol, Tolueno P.A. obtidos de Reagen; Ácido fosfórico 85 % obtido
de Nuclear; Propranolol (Inderal 80 mg) obtido de Zeneca.
3. Grupos Experimentais
3.1. Células intersticiais tratadas agudamente com propranolol
Nesse estudo o S-propranolol foi adicionado diretamente
(in vitro) a uma preparação de células intersticiais testiculares
(enriquecidas ou não em células de Leydig) oriundas de
animais intactos.
3.2. Animais tratados cronicamente com propranolol
Para este estudo foram utilizados dois modelos de
tratamento crônico. O primeiro, referido por Martinez e Barthe
(1981) com ligeiras modificações, consistiu na administração de
RS-propranolol a 1% em água destilada nas doses de 30, 50 e
60 mg/Kg por via intraperitoneal durante um período de oito a
treze dias, fracionadas em duas injeções diárias, alternando a
34 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
cada injeção o lado da aplicação. Os controles receberam
solução salina isotônica.
O segundo modelo consistiu no tratamento durante cinco
a oito semanas com RS-propranolol (Inderal) 500 mg/L na água
de beber. Os controles receberam água de beber. Essa dose e
regime de tratamento foram escolhidos por serem eficazes em
produzir bloqueio β-adrenérgico (Gay et al., 1990). O inderal foi
escolhido por ser comumente usado para o tratamento de
hipertensão, induzindo disfunção sexual (Croog et al., 1988). O
tratamento foi iniciado com animais entre 50 e 60 dias de idade.
Após o período de tratamento previsto, os animais foram
sacrificados, os testículos foram removidos e as preparações
de células intersticiais foram obtidas e tratadas in vitro com S-
propranolol e os demais ativadores da esteroidogênese,
conforme descrito em Metodologia (itens 4.1.1 e 4.1.3).
4. Metodologia
4.1. Preparação e incubação das células intersticiais
testiculares
4.1.1.Obtenção das células intersticiais testiculares:
A obtenção das células foi realizada conforme
descrito por Hedger e Eddy (1986) modificado por
Wanderley e Udrisar (1994), e Wanderley e Negro-Villar
(1996). Os animais foram sacrificados por anestesia com
éter, e os testículos foram rapidamente removidos e
cuidadosamente descapsulados. Os testículos
descapsulados foram incubados em uma solução
enzimática (2 mL/testículo) contendo colagenase (0,5
mg/mL), inibidor da tripsina (0,2 mg/mL) e leupeptina (5
35 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
μg/mL) dissolvidos em tampão fosfato-salina (PBS)
(136,9 mM NaCl, 2,68 mM KCl, 8,1 mM Na2HPO4.7H2O,
1,47 mM KH2PO4) contendo albumina sérica bovina
(BSA) (1 mg/mL). O pH foi ajustado para 7,4. A
incubação durou 20-30 minutos em um banho-maria a
37ºC, sob agitação de 100 ciclos/minuto até a dispersão
dos túbulos em uma massa homogênea. O tecido
disperso foi imediatamente diluído à 50 mL com
PBS/BSA para diminuir o efeito da enzima, os túbulos
seminíferos sedimentados durante 2 minutos e o
sobrenadante foi filtrado através de malha de nylon (80
μm). O filtrado foi centrifugado em tubos plásticos de 50
mL a 150xg, 21ºC, durante 15 minutos. O sobrenadante
foi descartado e as células sedimentadas foram
ressuspendidas em M199/BSA contendo NaHCO3 (2,2
mg/mL) e BSA (1 mg/mL), com o auxílio de uma pipeta
plástica até que nenhum agregado celular fosse visível.
Essa suspensão foi centrifugada como anteriormente e
repetida a mesma operação duas vezes (3 lavagens). Em
seguida, as células foram contadas utilizando uma
câmara de Neubauer. O número de células a serem
incubadas foi determinado previamente em 0,25 x 106
células/0,5 mL de meio de incubação.
4.1.2.Purificação das Células de Leydig
As células de Leydig foram purificadas em gradiente
de Percoll descontínuo (Hedger e Eddy,1986; Wanderley
e Negro-Villar,1996; Wanderley et al., 2000). Para isto,
colocou-se cuidadosamente a suspensão de células (5
36 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
mL) dispersas obtidas através do procedimento descrito
no item 2.1 (após a primeira lavagem do filtrado das
células intersticiais) sobre o gradiente de Percoll (0 a
90%), realizando em seguida centrifugação a 1.300xg
durante 30 min a 21ºC. Os primeiros 8 mL aspirados a
partir do fundo do tubo −fração contendo as hemácias
(interface 82-90%)− foram descartados, e nos 8 mL
seguintes (interface 43-68%) foram obtidas as células de
Leydig. A fração de células de Leydig foi lavada duas
vezes em M199/BSA como descrito anteriormente para
as células intersticiais. Em seguida, as células foram
contadas utilizando uma câmara de Neubauer. O número
de células a serem incubadas foi determinado
previamente em 0,25 x 106 células/0,5 mL de meio de
incubação.
4.1.3.Secreção de testosterona in vitro
As preparações de células intersticiais testiculares,
enriquecidas ou não em células de Leydig (0,25 x 106
células/0,5 mL) foram pré-tratadas, em triplicata, em tubos
de polipropileno 12x75, por 5 minutos com M199 ou com
S-propranolol diluído em M199, e a seguir, foram
incubadas por 3 horas com M199, S-propranolol com ou
sem outras drogas teste, segundo protocolo de trabalho
(LHRH 10-7 M, PDBu 200 nM, hCG 1mUI/mL e dbAMPc 1
mM). As incubações foram realizadas, logo após a
obtenção da suspensão celular , a 34ºC sob atmosfera de
95% de O2 e 5% de CO2, em banho-maria tipo Dubnoff
com agitação de 60 ciclos por minuto. O inibidor da
proteína quinase C, H-7, foi adicionado 30 minutos antes
37 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
da adição de propranolol e, a suspensão foi então
incubada por um período adicional de 2 horas e 30
minutos. Após o término da incubação as células foram
precipitadas por centrifugação (150xg por 15 min) a 4 ºC,
o sobrenadante coletado e armazenado a -20ºC para
posterior determinação da testosterona por
radioimunoensaio (RIE).
4.2. Viabilidade Celular
Foi utilizado o critério de exclusão do corante azul tripan
(0,5%), o qual depende da integridade da membrana celular. A
leitura das células foi realizada na câmara de Neubauer. A
viabilidade celular foi expressa como a porcentagem de células
não coradas em relação ao número total de células. Essa
porcentagem variou entre 90 e 95 %. Esse estudo foi realizado
após o término das incubações.
4.3. Radioimunoensaio da Testosterona
A testosterona foi determinada diretamente no meio de
incubação (sem extração). As amostras do meio de incubação
(100 μL para os basais e 50 μL para células de Leydig
incubadas com hCG e dbAMPc) foram incubadas com
anticorpo anti-testosterona e 10.000 cpm de [3H]-Testosterona
a 4ºC, durante 20 horas, sendo o volume final da reação de
0,32 mL. O tampão de ensaio utilizado foi o PBS - 0,1%
gelatina. O anticorpo anti-testosterona foi desenvolvido em
coelhos e produzido no laboratório da Dra. Inês Wanderley
(UFPE), e sua diluição final no ensaio foi de 1:5.000.
Uma mistura de carvão-dextrana na concentração de
0,625% de carvão e 0,0625% de dextrana foi utilizada para
38 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
remover a testosterona livre. Os tubos foram centrifugados a
1.300xg, à 4ºC, durante 20 minutos. O traçador ligado ao
anticorpo foi lido em 0,4 mL do sobrenadante adicionado a
frascos de cintilação contendo 5 mL de solução de cintilação (3
g de PPO + 0,2 g de POPOP + 20 mL de metanol + 980 mL de
tolueno). A leitura foi realizada em um contador de cintilação
líquida (Liquid Scintillation Analyzer). Foram preparados
padrões de testosterona de 8, 16, 32, 64, 128, 256 e 512 pg/20
μL e dosados em triplicata. A testosterona das amostras foi
dosada em duplicata.
O coeficiente de variação intra-ensaio foi de 8,1% e o
coeficiente inter-ensaio foi de 15,1%.
4.4. Atividade da proteína quinase C
4.4.1.Preparação da fração citosol + membrana
A preparação da enzima e o ensaio para atividade da
PK-C foram realizados de acordo com o procedimento de
Nikula et al. (1987), modificado por Wanderley e Negro-
Villar (1996), e Wanderley et al. (2000). As células
intersticiais testiculares de rato, aproximadamente 30x106
células, foram lavadas (150xg, 15 min, 4οC) 2 vezes em
0,5 mL de M199 e 1 vez em 2 mL de tampão de
homogeneização (20 mM Tris-HCl pH 7,4, 2mM EDTA,
2 mM EGTA, 5 mM dithiothreitol (DTT) e 250 mM
sacarose), ressuspendidas em 1 mL deste tampão
contendo 0,1 mM fluoreto de fenilmetilsulfonato (PMSF) e
50 μg/50μL de leupeptina, e homogeneizadas utilizando
um “Sonic dismembrator”, em intensidade baixa durante
30 segundos (3 sonicações com duração de 10 segundos
39 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
cada). O homogeneizado foi incubado com 0,1% de
triton X-100 a 4 οC por 30 minutos e, em seguida,
centrifugado a 100.000xg durante 60 minutos a 4 οC. O
sobrenadante (extrato cru) foi coletado e o “pellet”
descartado. A atividade da PK-C foi determinada após
cromatografia em DEAE-Agarose.
4.4.2.Purificação parcial da PK-C por cromatografia em
DEAE-Agarose
Os extratos crus de homogeneizados celulares
foram aplicados sobre colunas de DEAE-Agarose (de
volume total de aproximadamente 0,4 mL) equilibradas e
lavadas com tampão de homogeneização. As amostras
foram colocadas sobre as colunas e as colunas foram
então lavadas com 2mL de um tampão contendo 20 mM
Tris-HCl, pH 7,4, 0,5 mM EDTA, 0,5 mM EGTA, 5 mM
DTT, 50 μg/mL leupeptina e 20 mM NaCl (tampão de
lavagem). As amostras foram eluídas da coluna com 1,2
mL de tampão de lavagem contendo 200 mM NaCl. As
proteínas totais do eluato foram determinadas, por
espectrofotometria no visível, pelo método de Bradford
(1976). Para isso, reagiram-se as proteínas da amostra
com 5 mL do corante Coomassie blue e foi feita a leitura
de absorbância em 595 nm (faixa de maior absorção do
corante). A concentração de proteínas na amostra foi
determinada por interpolação na curva de calibração,
obtida através das leituras de absorção para padrões
com concentrações conhecidas de albumina.
40 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
4.4.3.Determinação da atividade da PK-C
A atividade da PK-C foi determinada medindo-se a
incorporação de 32P a partir do [γ-32P] ATP na histona. A
mistura de reação ( volume total de 300 μl) continha 20
mM Tris-HCl, pH 7,4, 8 mM MgCl2, 400 μg/mL histona,
600 μM CaCl2, 25 μg/mL fosfatidilserina (PS), 3 μg/mL 1-
oleoil-2-acetil-rac-glicerol (OAG), 17 μM [γ- 32P] ATP (4 x
104 cpm/nmol) e 20 μL fração da enzima (30 μg). A
reação foi realizada em tubos de polipropileno 12x75.
Para preparar a mistura de lipídios, alíquotas de 10 mg
PS/mL de clorofórmio e 10 mg OAG/mL de clorofórmio
foram misturadas e o solvente removido sob nitrogênio.
O resíduo foi então suspendido em 20 mM Tris-HCl, pH
7,4, por sonicação em um “Sonic dismembrator” em
intensidade alta (3 sonicações com duração de 1 minuto
cada), em gelo, e as micelas lipídicas resultantes foram
adicionadas conforme especificado acima para o ensaio.
Para a medida da atividade basal, amostras em
triplicatas foram incubadas na ausência de PS e OAG. A
reação foi iniciada pela adição da fração da enzima. A
incubação, realizada por 3 min a 30 °C, foi finalizada pela
rápida adição em sequência de 50 μL 0,2% BSA, 50 μL
0,5% desoxicolato de sódio (DOC) e 2 mL de ácido
tricloroacético (TCA) 10% v/v, 4 °C, para obter um
precipitado firme. O precipitado foi lavado 3 vezes (1
mL/lavagem) com TCA 5% v/v a 4 °C contendo 10 mM
ATP e, então solubilizado com 0,25 mL 1 N NaOH a 60
°C por 10 minutos. Amostras de 100 μL foram removidas
em duplicatas e transferidas para viais de cintilação
41 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
contendo 0,1 mL 1 N HCl. A radioatividade foi medida
por espectrometria de cintilação líquida. A atividade da
proteína quinase C foi calculada pela diferença de
incorporação de 32P na histona em presença e em
ausência dos fosfolipídios (PS e OAG) e Ca2+, sendo
expressa em picomoles de 32P incorporado min-1 mg
proteína-1.
4.5. Ligação do [3H]PDBu às células intersticiais testiculares
O ensaio de ligação para as células intersticiais
testiculares foi realizado em tubos Eppendorf com um volume
final de 500 μL para a mistura de incubação. As células
intersticiais testiculares (5x106 células em M199 contendo 0,1
% BSA) foram pré-incubadas com diferentes concentrações de
S-propranolol ou PDBu a 34°C durante 15 minutos, e tratadas
com [3H]PDBu (≈40.000 cpm) durante 15 minutos. Os tubos
foram centrifugados a 12.000 rpm durante 1 minuto em uma
microcentrífuga IEC MB. Após a centrifugação, o sobrenadante
foi decantado de cada tubo e uma alíquota foi retirada para
determinar a concentração de [3H]PDBu livre. O “pellet” foi
lavado uma vez em M199/BSA e o sobrenadante
completamente removido e descartado. O fundo do tubo
contendo o “pellet” foi cortado e transferido para um vial de
cintilação. O “pellet” foi dissolvido com 100 μL de 1 N NaOH, e
neutralizado com igual volume de 1 N HCl. A radioatividade foi
contada tanto nas alíquotas de sobrenadante quanto nos
“pellets” dissolvidos. A ligação inespecífica foi avaliada na
presença de 10 μM PDBu não marcado. A ligação específica
42 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
representa a diferença entre a ligação total e a inespecífica. A
determinação da capacidade e afinidade de ligação do
[3H]PDBu às células intersticiais testiculares foi realizada
segundo o método gráfico Scatchard (Scatchard, 1949).
4.6. Ligação do [3H]PDBu à fração DEAE-Agarose
Após obtenção, as células intersticiais testiculares de rato,
aproximadamente 30x106 células, foram centrifugadas a 150xg
durante 15 minutos a 4°C. O sobrenadante foi descartado e o
“pellet” foi lavado em 3 mL de tampão de homogeneização a
150xg durante 15 minutos a 4 °C. Após nova lavagem em 1 mL
de tampão de homogeneização a 1.300xg durante 10 minutos a
4°C, o “pellet” foi ressuspendido em 1 mL de tampão de
homogeneização 0,1 mM PMSF, e então sonicado em
intensidade baixa (3 sonicações com duração de 10 segundos
cada) em um “Sonic dismembrator” a 4°C. O homogeneizado
foi incubado durante 30 minutos a 4 °C com 0,1 % triton X-100
em 1 mL de tampão de homogeneização. Em câmara fria,
foram pipetados 1 mL de amostra por tubo Eppendorf para
microcentrífuga. Após 2 minutos de centrifugação, o
sobrenadante foi colocado sobre coluna de DEAE-agarose
(volume total igual a 2 mL) previamente lavada e equilibrada
com tampão de homogeneização. O eluato foi coletado e
passado 3 vezes pela coluna para obter saturação. A coluna foi
lavada com 2 x volume da coluna com tampão contendo 20
mM NaCl. As amostras foram eluídas da coluna com 3 mL de
tampão contendo 200 mM NaCl (1 mL por vez). O ensaio de
ligação foi realizado em tubos de reação contendo, em um
volume total de 300 μL, 10 mM Tris-HCl, pH 7,4, 1,5 mg/mL
43 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
BSA, 1 mM CaCl2, 7,5 mM MgCl2, 200-400 μg/mL de proteína
da fração DEAE-A, 200 μg/mL PS e [3H]PDBu (≈ 40.000 cpm).
Para preparar a mistura de lipídios, alíquotas de 10 mg PS/mL
de clorofórmio e 10 mg OAG/mL de clorofórmio foram
misturadas e o solvente removido sob nitrogênio. O resíduo foi
então suspendido em 20 mM Tris-HCl, pH 7,4, por sonicação
em um “Sonic dismembrator” em intensidade alta (3 sonicações
com duração de 1 minuto cada), em gelo, antes da adição à
mistura de incubação. Os tubos foram pré-incubados com
diferentes concentrações de PDBu ou propranolol a 37 °C por
15 minutos e tratados com [3H]PDBu por mais 15 minutos. A
ligação inespecífica foi avaliada na presença de 10 μM PDBu
não marcado. Os tubos foram imediatamente transferidos para
um banho de gelo. A separação do [3H]PDBu livre do ligado foi
obtida pelo uso de uma mistura de carvão-dextrana (7,5
mg/tubo). Os tubos foram centrifugados a 1.300xg, à 4 ºC,
durante 20 minutos. A fração ligada (sobrenadante) foi
transferida para viais contendo 5 mL de solução de cintilação
para contagem. A ligação específica representa a diferença
entre a ligação total e a inespecífica.
5. Tratamento Estatístico
Os dados experimentais representam a média ± o erro padrão
da média (média ± EPM) dos valores obtidos para cada grupo.
A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o teste t
de Student para comparações dos valores basais de cada grupo
com os experimentais (propranolol, LHRH, PDBu, hCG, hCG +
propranolol, dbAMPc e dbAMPc + propranolol), e análise de
44 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
variância para comparação entre os grupos. Os valores com p <
0,05 (quando indicado) foram considerados significativos.
45 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
III. RESULTADOS
1. TRATAMENTO AGUDO
1.1. Efeito do propranolol sobre a secreção de testosterona em
preparação enriquecida em células de Leydig
O objetivo desses estudos foi verificar os efeitos da adição
direta do propranolol em uma preparação enriquecida em células
de Leydig, sobre a secreção basal e estimulada de testosterona,
para determinar se o propranolol estimula a secreção de
testosterona em células de Leydig de rato através da ativação da
via da proteína quinase C (PK-C). A Figura 3 mostra que o
0
TEST
OST
ERO
NA
(n
g/m
L)
CONCENTRAÇÃO DE PROPRANOLOL ( M)
0,0
0,5
1,0
10 100 10001
Figura 3. Efeito de diferentes concentrações de S-propranolol sobre a
secreção de testosterona em preparação enriquecida em células de Leydig de
rato. As células (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3 horas. Os
resultados representam a média ± EPM de três determinações.
46 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
propranolol, em doses variando de 100 nM a 100 μM (10-7 M a 10-4
M), produziu um aumento dependente da concentração da
secreção de testosterona após 3 horas de incubação. A adição de
uma concentração mais alta de propranolol (1000 μM) não
modificou a secreção de testosterona pela preparação enriquecida
em células de Leydig.
1.2. Efeito do propranolol adicionado junto com PDBu, LHRH
ou H-7 na secreção de testosterona em preparação
enriquecida em células de Leydig
Os objetivos desse experimento foram: 1. Determinar se o
propranolol era capaz de modificar o estímulo secretório máximo
produzido pelo PDBu ou pelo LHRH, conhecidos ativadores da PK-
C, sobre a secreção de testosterona por células de Leydig de rato
(Nikula et al., 1987; Romanelli et al.,1987; Wanderley e Negro-
Villar,1996), e 2. Determinar o efeito do inibidor da PK-C, H-
7, adicionado 30 minutos antes da adição do propranolol,
sobre o efeito estimulatório desta droga na secreção de
testosterona. A Tabela 1 mostra que concentrações estimulantes
máximas de propranolol (100 μM) e PDBu (200 nM) ou LHRH (10-7
M) foram adicionadas isoladamente ou em combinação ao meio de
incubação. A combinação de qualquer um dos ativadores da PK-C
produziu um aumento leve e não significante na secreção de
testosterona quando comparada com a produzida em resposta à
adição do propranolol isoladamente. Em relação à resposta obtida
pela adição do H-7, a tabela mostra que esta droga suprimiu a
resposta ao propranolol em aproximadamente 50%. A falta de
aditividade de resposta às concentrações máximas das drogas
estudadas e a inibição do efeito estimulatório do propranolol pelo
47 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
H-7 sugerem uma provável participação da PK-C na ação do
propranolol nestas células.
Tabela 1. Efeito do S-propranolol adicionado junto com PDBu, LHRH ou H-7
sobre a secreção de testosterona em preparação enriquecida em células de
Leydig. As células (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3 horas.
Adições Testosterona (ng/mL)
Ausência 100
μM
S-propranolol
Presença 100 μM
S-propranolol
Basal 0,16 ± 0,02 1,15 ± 0,15
PDBu (200 nM) 1,06 ± 0,09 1,43 ± 0,28
LHRH (10-7 M) 1,13 ± 0,12 1,53 ± 0,17
H-7 (20 μM) 0,34 ± 0,03 0,59 ± 0,09*
O H-7 foi adicionado 30 minutos antes da adição de S-propranolol. Os
dados representam a média ± EPM de determinações em triplicata. *
p< 0,05 versus propranolol isoladamente.
1.3. Efeito do propranolol na atividade da PK-C
Os resultados mostrando que os efeitos estimulatórios do
propranolol e do PDBu sobre a secreção de testosterona não
foram aditivos sugerem a possibilidade de ativação da PK-C pelo
propranolol. Para determinar se o propranolol ativa diretamente a
PK-C, esta droga foi adicionada diretamente à mistura de reação
(conforme descrito na Metodologia). A Figura 4 mostra que, em
baixas concentrações o S- ou o R-propranolol (os dois
estereoisômeros opticamente ativos de propranolol) na ordem de 1
48 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
nM (10-9 M) fosforilaram totalmente a histona. O aumento na
fosforilação da histona foi cerca de 90 - 100% para
concentrações de propranolol variando de 1 nM a 100 μM
(aumento equivalente ao obtido com quantidades saturantes de PS
(25 μg/mL)). Em concentrações suficientemente altas (1000 μM) o
propranolol aumentou a fosforilação da histona em apenas cerca
de 30% acima dos níveis basais. Para evidenciar se este efeito
estimulatório do propranolol foi na atividade da PK-C, o H-7, um
inibidor desta enzima, foi adicionado à mistura de reação (Figura
200
100
0BASAL PS
S - Propranolol
R - Propranolol
% D
E AT
IVID
AD
E D
A P
K-C
10 100 10001
CONCENTRAÇÃO DE PROPRANOLOL ( M)
Figura 4. Efeito do propranolol sobre a atividade da PK-C. As células
intersticiais testiculares (30 x 106) foram lisadas por sonicação para extração,
purificação parcial em DEAE-Agarose (fração DEAE-A) e ensaio de atividade
da PK-C como descrito na Metodologia. A atividade na ausência de PS e Ca2+
(30,13 ± 1,14 pmoles 32P min-1 mg proteína-1) foi definida como basal (100%).
Os resultados representam a média ± EPM de um experimento representativo.
49 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
5). O H-7 é um inibidor de quinases que, na PK-C, atua no domínio
catalítico desta enzima (Hayashi,1992). Na presença do H-7 o
efeito estimulatório do propranolol na enzima foi abolido. Um
resultado similar foi obtido na ausência de Ca2+ (Figura 5).
A ligação da PK-C à PS é cooperativa e aumentada na presença
de Ca2+ de uma maneira dependente da concentração (Hannun e
Bell, 1986) e, postula-se que o Ca2+ possa participar no
"clustering" de
200
100
0
% D
E AT
IVID
AD
E D
A P
K- C
BASAL PS S-Prop. 10 Mμ PS+Ca2+ +Ca2+ - Ca2+
S-Prop.- Ca2+
PS+ H7 + H7
S-Prop.10 Mμ 10 Mμ
Figura 5. Efeito do H-7 e da ausência de Ca2+ na ação do propranolol sobre a
atividade da PK-C. As células intersticiais testiculares (30 x 106) foram lisadas
por sonicação para extração, purificação parcial em DEAE-Agarose (fração
DEAE-A) e ensaio de atividade da PK-C como descrito na Metodologia. A
atividade da PK-C foi medida na presença de 25 μg/mL de PS ou S-propranolol
(10 μM) na presença ou ausência de 500 μM Ca2+ ou 20 μM H-7. A atividade na
ausência de PS e Ca2+ (30,13 ± 1,14 pmoles 32P min-1 mg proteína-1) foi definida
como basal (100%). Os resultados representam a média ± EPM de um
50 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
experimento representativo.
fosfolipídio (Bazzi e Nelsestuen, 1991), formando uma ponte entre
a PK-C e o lipídio acídico (Hannun et al.,1985, 1986).
1.4. Comparação da ligação do [3H]PDBu às células
intersticiais testiculares e à fração DEAE-agarose
Devido ao efeito estimulatório do propranolol sobre a
atividade da PK-C in vitro considerou-se necessário verificar se o
sítio de interação do propranolol com a PK-C era o mesmo que o
do PDBu com esta enzima. Com este propósito, foi estudada a
capacidade do propranolol inibir a ligação do [3H]PDBu às células
intersticiais testiculares ou à fração DEAE-agarose. O PDBu é
conhecido por ligar-se e ativar a PK-C. Os sítios que se ligam ao
[3H]PDBu são específicos também para o PDBu, de forma que o
PDBu impede, por competição, a ligação do PDBu marcado
proporcionalmente às suas concentrações relativas no meio de
incubação. A Figura 6A mostra que a concentração de PDBu que
dá uma ligação de 50% da máxima obtida com o PDBu marcado
para 5 x 106 células/tubo ou para 265,2 μg da fração DEAE/tubo,
foi de 20 nM. O Kd e a capacidade máxima de ligação (gráfico de
Scatchard –Figura 7) foi 20 nM e 94,962/célula, respectivamente.
Conforme esperado, as curvas de competição correspondentes se
superpuseram, indicando a mesma afinidade para o [3H]PDBu e
PDBu em ambas preparações. Considerando que o propranolol
une-se aos mesmos sítios aos quais o PDBu se une e que
apresenta afinidade e especificidade equivalentes, era de se
esperar que o propranolol prevenisse, como o fez o PDBu, a
ligação de [3H]PDBu às células intersticiais testiculares e à fração
DEAE-agarose. A Figura 6B, mostra a ligação sob condições de
51 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
ensaio idênticas às da Figura 6A, mas na presença de diferentes
52 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
95
90
80
7060504030
20
10
10 100 1000
CÉLULA
FRAÇÃO DEAE - agarose
CONCENTRAÇÃO DE PDBu (nM)
PER
CEN
TUA
L D
E [
H] P
DB
u LI
GA
DO
3
A
95
90
80
7060504030
20
10
10 100 1000
CÉLULA
FRAÇÃO DEAE - agarose
CONCENTRAÇÃO DE PROPRANOLOL ( M)
PER
CEN
TUA
L D
E [
H] P
DB
u LI
GA
DO
3
B
Figura 6. Ligação de [3H]PDBu à fração DEAE-A e às células intersticiais
testiculares em função da concentração de PDBu (A) ou de propranolol (B). A
fração DEAE-A foi analisada para ligação específica do [3H]PDBu na presença
de 200 μg/mL de PS, 500 μM Ca2+ e 7,5 mM MgCl2. As células intersticiais
testiculares (5 x 106) foram pré-incubadas a 37°C durante 15 minutos com as
concentrações indicadas de PDBu ou S-propranolol e expostas durante mais
15 minutos ao [3H]PDBu (≈ 40.000 cpm). A ligação inespecífica foi determinada
na presença de excesso de PDBu não radioativo (10 μM). Os pontos
representam a média ± EPM de quadruplicatas de um experimento
representativo. Dois experimentos adicionais deram resultados similares.
53 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
concentrações de propranolol. A inibição de 50% da ligação
máxima do [3H]PDBu às 5 x 106 células/tubo ocorreu na
concentração de aproximadamente 75 μM de propranolol. Em
contraste, com a mesma concentração de propranolol,
aproximadamente 95% do [3H]PDBu permaneceram ainda ligados
aos 265,2 μg da fração DEAE/tubo, indicando que o propranolol
não foi capaz de se ligar aos mesmos sítios que o [3H] PDBu.
Figura 7. Análise de Scatchard da ligação de [3H]PDBu às células intersticiais
testiculares. As células intersticiais testiculares (5 x 106) foram pré-incubadas a
37 °C durante 15 minutos com PDBu e expostas durante mais 15 minutos ao
[3H]PDBu (≈ 40.000 cpm). Os parâmetros para a reta foram determinados por
regressão linear (r= -0,9879).
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,80,00
0,02
0,04
0,06
0,08
LIG
AD
O/L
IVR
E (p
mol
/5 x
106 c
élul
as/n
M)
[3H]PDBu LIGADO (pmol/5 x 106 células)
54 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
2. TRATAMENTO CRÔNICO COM PROPRANOLOL
O tratamento crônico justificou-se por duas razões: 1ª) pelo fato
conhecido de que o uso prolongado de um fármaco pode levar à
dessensibilização da resposta do organismo ao mesmo e, 2ª) pela
maior semelhança com o uso clínico do propranolol.
Foram utilizadas as mesmas abordagens metodológicas vistas
nos estudos anteriores (agudos), para demonstrar o envolvimento
da PK-C. Também foram realizados estudos para determinar se o
tratamento crônico com propranolol dessensibilizava a via do
AMPc/PK-A, tendo em vista que o tratamento agudo in vitro reduz a
secreção de testosterona estimulada pelo hCG (Tinajero et al.,1993;
Wanderley, 1986) e pelo dbAMPc (Lauritzen et al.,1994;
Wanderley,1986), ativadores indireto e direto da PK-A,
respectivamente.
2.1. Efeito do tratamento crônico com propranolol durante oito
dias sobre a secreção de testosterona estimulada com
propranolol, LHRH e PDBu em células intersticiais testiculares
Nesses estudos os animais foram tratados com doses de 30, 50
e 60 mg/Kg de peso corporal de propranolol por via intraperitoneal,
fracionadas em duas injeções diárias durante um período de oito a
catorze dias, de acordo com protocolo de Martinez e Barthe (1981),
escolhendo-se a dose de 30 mg/Kg e um período de oito dias de
tratamento devido a alta letalidade observada com as outras doses
e/ou períodos de tratamentos mais longos. Observou-se que a
injeção intraperitoneal de propranolol em doses mais elevadas
produzia intensa perda de peso nos animais tratados, e ao exame
da cavidade abdominal foram observadas áreas de fibrose mais
intensas com tratamentos mais prolongados, tais lesões também
55 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
foram referidas pelos autores citados acima. Entretanto, não foram
observadas diferenças nos pesos dos testículos.
Na Figura 8 são apresentados os resultados da produção de
testosterona em preparação de células intersticiais de rato obtidas
de animais tratados durante oito dias com propranolol. Os agentes
estimulatórios foram o S-propranolol, o LHRH e o PDBu, estes
últimos ativadores indireto e direto da PK-C, respectivamente, os
quais foram adicionados diretamente às preparações celulares.
Observou-se que o tratamento durante oito dias bloqueou
completamente o efeito estimulatório do S-propranolol, do LHRH e
-70
0
70
140
210
280
** *
PDBuLHRHS-prop
TES
TOS
TER
ON
AΔ%
(ES
TIM
ULA
DO
- B
AS
AL)
Controle RS-prop 8 dias
Figura 8: Efeito do tratamento crônico com 30 mg/Kg propranolol (por via
intraperitoneal) durante oito dias sobre a secreção de testosterona estimulada
pelo S-propranolol (100 μM), LHRH ( 10-7 M), PDBu (200 nM). As células
intersticiais testiculares (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3 horas.
Δ% estimulado-basal: diferença percentual (Δ%) da produção de testosterona
estimulada menos a basal do respectivo grupo. Os resultados representam a
média ± EPM de incubações em triplicata.
* p<0,05 em relação ao respectivo controle (ANOVA).
56 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
do PDBu sobre a produção de testosterona.
2.2. Efeito do tratamento crônico com propranolol durante oito
dias sobre a atividade da proteína quinase C
Tendo em vista os resultados obtidos de estimulação da
atividade de uma putativa PK-C in vitro pelo propranolol, os animais
foram submetidos a um tratamento prolongado com propranolol
para verificar se o mesmo modificava a atividade da PK-C nas
células intersticiais testiculares. A Figura 9 mostra que houve uma
tendência
0
30
60
90
120
ATI
VID
AD
E D
A P
K-C
Δ% (E
STI
MU
LAD
O -
BA
SA
L)
Controle RS-prop 8 dias
Figura 9: Efeito do tratamento com 30 mg/Kg propranolol por via intraperitoneal
durante oito dias sobre a atividade da proteína quinase C. As células intersticiais
testiculares (30 x 106) foram homogeneizadas por sonicação para extração,
purificação parcial em DEAE-Agarose (fração DEAE-A) e ensaio de atividade da
proteína quinase C, conforme descrito em Material e Métodos. A atividade na
ausência de PS e Ca2+ (controle:39,67 ± 4,43 pmoles 32P min-1 mg proteína-1;
propranolol: 44,5 ± 0,45 pmoles 32P min-1 mg proteína-1) foi definida como basal
57 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
(100 %). Os resultados representam a média ± EPM de incubações em
triplicata.
à redução da atividade da PK-C após o tratamento crônico
durante oito dias com 30 mg/kg propranolol, sem contudo haver
alcançado significância estatística.
2.3. Efeito do tratamento crônico com propranolol durante cinco
semanas sobre a secreção de testosterona estimulada com
propranolol, LHRH e PDBu em células intersticiais de rato
Considerando que o tempo de oito dias de exposição ao
propranolol não tenha sido suficiente para modificar a atividade da
proteína quinase C, passou-se a utilizar um período de tratamento
mais longo. Contudo, devido aos inconvenientes observados
utilizando a via peritoneal após um período prolongado de tempo
(com catorze dias observou-se intensa reação inflamatória com
fibrose no local da aplicação, levando à perda de peso e maior
número de mortes dos animais) adotou-se para esse tratamento
mais prolongado a via oral (500mg/L propranolol na água de beber
durante cinco a seis semanas).
A Figura 10 mostra que o tratamento crônico com propranolol
durante cinco semanas inibiu completamente o efeito estimulatório
do S-propranolol sobre a produção de testosterona. Essa Figura
mostra ainda que o tratamento com propranolol também
diminuiu, porém de forma não significante, o efeito estimulatório do
PDBu, ativador direto da PK-C, sobre a secreção de testosterona.
Em relação ao LHRH, ativador indireto da PK-C, o tratamento
crônico com propranolol, ao contrário, mostrou tendência a aumento
do efeito estimulatório desse ativador sobre a secreção de
testosterona.
58 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
0
30
60
90
*
PDBuLHRHS-prop
TES
TOST
ER
ON
AΔ%
(EST
IMU
LAD
O -
BA
SA
L)
Controle RS-prop 5 semanas
Figura 10. Efeito do tratamento com propranolol (500 mg/L na água de beber)
durante cinco semanas sobre a secreção de testosterona estimulada por S-
propranolol (100 μM), LHRH (10-7 M) e PDBu (200 nM). As células intersticiais
testiculares (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3 horas.
Δ% estimulado – basal: diferença percentual (Δ%) da produção de testosterona
estimulada menos a basal. Os resultados representam a média ± EPM de
incubações em triplicata.
* p<0,05 em relação ao respectivo grupo controle.
2.4. Efeito do tratamento crônico com propranolol durante
cinco semanas sobre a atividade da proteína quinase C
Na Figura 11 observa-se que o tratamento mais prolongado
com propranolol modificou significativamente a atividade da PK-
C. Contudo, quando os valores basais ou estimulados dos dois
grupos são comparados entre si não são observadas diferenças
significativas. Ou seja, a diferença entre o grupo controle e o grupo
tratado com propranolol se deu às custas do valor basal médio do
59 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
grupo tratado ser mais alto (embora não significante) e do valor
estimulado médio ser mais baixo (embora não significante) em
relação ao controle.
0
30
60
90
*
ATI
VID
AD
E D
A P
K-C
Δ% (E
STI
MU
LAD
O -
BA
SA
L)
Controle RS-prop 5 semanas
Figura 11. Efeito do tratamento com propranolol (500 mg/L na água de beber)
durante cinco semanas sobre a atividade da proteína quinase C. As células
intersticiais testiculares (30 x 106) foram homogeneizadas por sonicação para
extração, purificação parcial em DEAE-Agarose (fração DEAE-A) e ensaio de
atividade da proteína quinase C, conforme descrito em Material e Métodos. A
atividade na ausência de PS e Ca2+ (controle: 57,34 ± 3,01 pmoles 32P min-1 mg
proteína-1; propranolol: 60,15 ± 3,36 pmoles 32P min-1 mg proteína-1) foi definida
como basal (100 %).
Os resultados representam a média ± EPM de incubações em triplicata.
* p < 0,05 em relação ao Δ % da atividade da PK-C do grupo controle.
2.5. Ligação do [3H]PDBu às células intersticiais testiculares de
animais tratados com propranolol durante cinco semanas
60 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
A capacidade do propranolol adicionado in vitro de inibir a
ligação do [3H]PDBu às células intersticiais testiculares obtidas dos
animais cronicamente tratados com esta droga foi estudada. A
Figura 12A mostra que a concentração de PDBu que dá uma
ligação de 50% da máxima obtida com o PDBu marcado para 5 x
106 células/tubo foi de 25 nM. O Kd e a capacidade máxima de
ligação (Figura 13) foi 17,54 nM e 75,877/célula, respectivamente
para as células de animais controle e de animais tratados
cronicamente com o propranolol. Não houve diferença entre as
curvas de competição correspondentes às células intersticiais
testiculares de animais tratados com propranolol cinco semanas e
aquelas obtidas dos animais controle, indicando a mesma afinidade
para o [3H]PDBu e PDBu em ambas preparações. A Figura 12B,
mostra a ligação sob condições de ensaio idênticas às da Figura
12A, mas na presença de diferentes concentrações de propranolol.
A inibição de 50% da ligação máxima do [3H]PDBu às 5 x 106
células/tubo ocorreu na concentração de aproximadamente 100 μM
de propranolol. E, novamente não foram observadas diferenças na
ligação ao [3H]PDBu e PDBu entre as preparações celulares obtidas
de animais controle e de animais tratados durante cinco semanas
com propranolol.
61 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
1 10 100 10005
10
25
50
75
90
95
A
CONTROLE PROP 5 SEMANASPE
RC
ENTU
AL
DE
[3 ]PD
Bu L
IGA
DO
CONCENTRAÇÃO DE PDBu (nM)
1 10 100 10005
10
25
50
75
90
95
B
CONTROLE PROP 5 SEMANASP
ERC
ENTU
AL
DE
[3 H]P
DBu
LIG
ADO
CONCENTRAÇÃO DE PROPRANOLOL (μM)
Figura 12. Ligação de [3H]PDBu às células intersticiais testiculares obtidas de
animais tratados com propranolol durante cinco semanas, em função da
concentração de PDBu (A) ou de propranolol (B). As células intersticiais
testiculares (5 x 106) foram pré-incubadas a 37°C durante 15 minutos com as
concentrações indicadas de PDBu ou S-propranolol e expostas durante mais 15
minutos ao [3H]PDBu (≈ 40.000 cpm). A ligação inespecífica foi determinada na
presença de excesso de PDBu não radioativo (10 μM). Os pontos representam a
média ± EPM de quadruplicatas de um experimento representativo. Dois
experimentos adicionais deram resultados similares.
62 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
RS-PROP 5 SEMANAS
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
CONTROLE
LIG
ADO
/LIV
RE
(nm
ol/5
x 1
06 cél
ulas
/nM
)
PDBu LIGADO (nmol/5 x 106 células)
Figura 13. Análise de Scatchard da ligação de [3H]PDBu às células intersticiais
testiculares de animais tratados com propranolol durante cinco semanas. As
células intersticiais testiculares (5 x 106) foram pré-incubadas a 37 °C durante 15
minutos com PDBu e expostas durante mais 15 minutos ao [3H]PDBu (≈ 40.000
cpm).
2.6. Efeito do tratamento crônico com propranolol durante oito
dias ou cinco semanas sobre a secreção de testosterona
estimulada com hCG e dbAMPc em células intersticiais de rato
Considerando que o propranolol adicionado diretamente in vitro
inibe a via do AMPc/PK-A, a qual está envolvida na secreção de
testosterona pelas células de Leydig (Tinajero et al.,1993,
Wanderley,1986), foi de interesse verificar se o tratamento crônico
com propranolol também modificava a via do AMPc/PK-A. Para isso
as células intersticiais testiculares oriundas de animais tratados
cronicamente com propranolol foram estimuladas com hCG e
63 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
dbAMPc, ambos ativadores indireto e direto da PK-A,
respectivamente. Na Figura 14 observa-se que o tratamento com
propranolol durante oito dias inibiu o efeito estimulatório do hCG
sobre a secreção de testosterona. A Figura 15 mostra que o
tratamento com propranolol durante cinco semanas também inibiu
o efeito estimulatório do hCG sobre a secreção de testosterona. Nas
Figuras 14 e 15 observa-se ainda que a adição direta in vitro de
100 μM propranolol às células obtidas de animais cronicamente
tratados com propranolol foi capaz de inibir (completamente no
0
900
1800
2700
hCG + S-prophCG
*
TES
TOS
TER
ON
AΔ%
(ES
TIM
ULA
DO
- B
AS
AL) Controle
RS-Prop 8 dias
Figura 14. Efeito do tratamento crônico com 30 mg/Kg propranolol (por via
intraperitoneal) durante oito dias sobre a secreção de testosterona estimulada
pelo hCG (1mUI/mL), na ausência ou na presença de 100 μM S-propranolol. As
células intersticiais testiculares (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3
horas.
Δ% estimulado-basal: diferença percentual (Δ%) da produção de testosterona
estimulada menos a basal do respectivo grupo.
Os resultados representam a média ± EPM de incubações em triplicata.
* p<0,05 em relação ao Δ % do respectivo grupo controle.
64 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
caso do tratamento durante cinco semanas) o efeito estimulatório do
hCG sobre a secreção de testosterona, resultado similar ao obtido
em estudos agudos in vitro (Tinajero et al., 1993; Wanderley,1986).
0
200
400
600
800 Controle RS-Prop 5 semanas
*
hCG + S-prophCG
TES
TOS
TER
ON
AΔ%
(ES
TIM
ULA
DO
- B
AS
AL)
Figura 15. Efeito do tratamento crônico com propranolol 500 mg/L na água de
beber durante cinco semanas sobre a secreção de testosterona estimulada pelo
hCG (1mUI/mL), na ausência ou na presença de 100 μM S-propranolol. As
células intersticiais testiculares (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3
horas.
Δ% estimulado-basal: diferença percentual (Δ%) da produção de testosterona
estimulada menos a basal do respectivo grupo.
Os resultados representam a média ± EPM de incubações em triplicata.
* p<0,05 em relação ao Δ % do respectivo grupo controle (ANOVA).
A produção de testosterona estimulada pela adição do
dbAMPc às preparações celulares também foi inibida pelo
tratamento crônico com propranolol (Figura 16), ou seja, o dbAMPc
não reverteu a ação inibitória do propranolol, indicando que a ação
inibitória do propranolol sobre a secreção de testosterona
poderia
65 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
ocorrer em um efetor intracelular posterior à formação do AMPc.
0
400
800
1200
1600
Controle RS-prop 5 semanas
*
dbAMPc + S-propdbAMPc
TES
TOS
TER
ON
AΔ%
(ES
TIM
ULA
DO
- B
AS
AL)
Figura 16. Efeito do tratamento crônico com propranolol 500 mg/L na água de
beber durante cinco semanas sobre a secreção de testosterona estimulada pelo
dbAMPc (1 mM), na ausência ou na presença de 100 μM S-propranolol. As
células intersticiais testiculares (0,25 x 106/0,5 mL) foram incubadas durante 3
horas.
Δ% estimulado-basal: diferença percentual (Δ%) da produção de testosterona
estimulada menos a basal.
Os resultados representam a média ± EPM de incubações em triplicata.
* p<0,05 em relação ao respectivo grupo controle.
66 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
V. DISCUSSÃO
Diversos trabalhos têm descrito vários efeitos do propranolol
não atribuídos a sua clássica ação bloqueadora β-adrenérgica que
dependem de suas propriedades anestésicas e estabilizadoras da
membrana e, que podem interferir com a tradução de sinal através da
membrana a nível molecular (Anderson et al.,1996; Bazan et al.,1985;
Dachary-Prigent et al.,1979; Dash e Rao,1995; Gay e Murray,1991;
Jamal et al.,1991; Koul e Hauser,1987; Lauritzen et al.,1994; Marshall
et al.,1975; Sozzani et al.,1992; Surewicz e Leyko,1981; Weitman et
al.,1989; Weksler et al.,1977). O propranolol é uma amina lipofílica
primária, relativamente não tóxica (English,1996), que atravessa
rapidamente as membranas celulares (Meier e Ruoho,1984 apud
Meier et al.,1998), liga-se preferencialmente aos fosfolipídios
(fosfatidilserina, ácido fosfatídico e fosfatidilinositol) em membranas
celulares (Bazan et al.,1985; Dachary-Prigent et al.,1979; Surewicz e
Leyko,1981; Weksler et al.,1977), acumula-se nas células por
particionamento nos compartimentos acídicos intracelulares (Perry et
al.,1992), afetando também a via metabólica para ácido fosfatídico e
fosfoinositídeos de diferentes tecidos (Bazan et al.,1985; Koul e
Hauser,1987; Lauritzen et al.,1994; Sozzani et al.,1992).
Os resultados deste estudo obtidos com o modelo de tratamento
agudo com propranolol mostram que o propranolol produz um
aumento na secreção de testosterona, dependente da concentração,
em doses variando de 100 nM a 100 μM. Adicionalmente, mostram
que em baixas concentrações (1 nM a 100 nM) essa droga aumenta a
fosforilação da histona e que a PK-C pode ser a quinase putativa
envolvida nesta reação. Foi também referido que a ativação desta
quinase putativa pode estar envolvida no efeito estimulatório do
67 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
propranolol sobre a secreção de testosterona pelas células de Leydig
de ratos. Este envolvimento é substanciado pelas seguintes
observações. Primeiro, o achado de que o H-7, um inibidor da PK-C,
bloqueou o efeito estimulatório do propranolol na secreção de
testosterona, e o fato de que o aumento na secreção de testosterona
exercido pelo PDBu e pelo LHRH (ativadores direto e indireto da PK-
C, respectivamente - Nikula e Huhtaniemi,1988; Wanderley e Negro-
Villar,1996) não foi modificado pelo propranolol, indicando o mesmo
mecanismo de ação para as três drogas. Apesar de se saber que o H-
7 pode bloquear outras proteínas quinases, particularmente a proteína
quinase dependente de AMPc, estes efeitos adicionais não
representam um problema no caso do propranolol, uma vez que foi
demonstrado que este β-bloqueador inibe a via do AMPc em células
de Leydig (Tinajero et al.,1993; Wanderley,1986). Contudo, não é
possível descartar a participação de outras quinases no efeito inibitório
do H-7. Segundo, o propranolol inibiu a ligação de [3H]PDBu às células
intersticiais testiculares. Esta inibição foi dependente da dose.
Entretanto, a concentração de propranolol necessária para obter 50%
de ligação do [3H]PDBu às células (5 x 106 células/tubo), foi
aproximadamente 1.000 vezes maior do que aquela observada com o
PDBu. Na fração DEAE-A, o estudo da ligação do [3H]PDBu mostrou
um comportamento diferente quando comparado ao estudo da ligação
do [3H]PDBu à preparação celular. Nas células, a inibição de 50% da
ligação ocorreu com 75 μM S-propranolol, uma concentração que
inibiu apenas 5% da ligação do [3H]PDBu à fração DEAE-A. Assim, a
diferença marcante na concentração de propranolol e PDBu
juntamente com o não paralelismo das curvas de ligação às células e
à fração DEAE-A indicam que os efeitos do propranolol na ligação do
[3H]PDBu às células poderia ser indireto, possivelmente aumentando a
concentração de diacilglicerol ou de outros mediadores químicos para
68 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
interagir com o domínio regulatório da PK-C. Esta possibilidade se
fundamenta no estudo que refere que o propranolol estimula a
degradação de polifosfoinositídeos a araquidonoil-diacilgliceróis pela
ativação de uma fosfolipase C específica para polifosfoinositídeo
(Bazan et al.,1985). Um outro efeito conhecido do propranolol é inibir a
conversão de ácido fosfatídico (PA) a diacilglicerol pela fosfohidrolase
do ácido fosfatídico (PAPase) (Bazan et al.,1985; Jamal et al.,1991;
Koul e Hauser,1987; Lavie et al.,1990; Lauritzen et al.,1994)
aumentando a concentração de PA, o qual poderia atuar como um
segundo mensageiro. Em neutrófilos, a correlação direta entre a
formação de PA e a produção de superóxido durante a atividade
respiratória explosiva ("burst" respiratório) sugere que o PA pode ser
um segundo mensageiro na ativação da NADPH oxidase (Bauldry et
al.,1991; Rossi et al.,1990). A atividade da proteína quinase C pode
ser regulada pelo PA (Lauritzen et al.,1994; Lee e Bell,1989), e
também existem algumas indicações da existência de uma proteína
quinase dependente de fosfatidato (Bocckino et al.,1991; Lauritzen et
al.,1994). Outros estudos têm implicado o PA na regulação da
secreção de insulina (Lauritzen et al.,1994; Metz e Dunlop,1991), na
ativação da proteína H-ras e inibição da proteína ativadora da GTPase
(GAP) (Lauritzen et al.,1994; Tsai et al.,1990), na modulação da
atividade da fosfolipase C (Knauss et al.,1990; Lauritzen et al.,1994;
Moolenaar et al.,1986; Qian e Drewes,1991;), na proliferação e
diferenciação induzidas pela interleucina-2 (Cano et al.,1992), e na
ativação da quinase do fosfatidilinositol 4-fosfato (Lauritzen et al.,1994;
Moritz et al.,1992). Nesse sentido, Koul e Hauser (1987)
demonstraram que a forma racêmica do propranolol impede a
formação de DAG dependente de IgE a partir de PA em células RBL
2H3 e que isto resulta na inibição da liberação de mediador
dependente de IgE. Lin et al. (1991) referiram que o propranolol inibe a
69 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
liberação de mediadores da inflamação a partir de células RBL 2H3,
de maneira não dependente de sua forma isomérica, provavelmente
pela sua capacidade de inibir a ativação da PAPase. Vários estudos
indicam funções potenciais do PA como segundo mensageiro em
resposta a fatores de crescimento e a alguns mediadores
extracelulares. Também foi encontrado que a inibição da PAPase pelo
propranolol leva à potenciação da produção de O2 em neutrófilos
estimulados com o agonista do receptor putativo FMLP, sugerindo um
papel para o PA como um segundo mensageiro e para a PAPase
como uma enzima regulatória chave na interação entre PLC e PLD na
tradução do sinal (Agwu et al.,1991; Gay e Murray,1991; Svetlov e
Hanahan,1997). E, finalmente, em células de Leydig de rato, Lauritzen
et al. (1994) mostraram que o propranolol aumenta o nível de PA e
inibe a secreção de testosterona induzida pelo LH. Terceiro, em
nossos estudos o propranolol ativou a proteína quinase C putativa a
partir da fração DEAE-A. Entretanto, visto que o citosol das células
intersticiais testiculares utilizado nos nossos experimentos como fonte
de PK-C era parcial e não totalmente purificado e que a histona não é
um substrato específico para a PK-C, não podemos descartar a
participação de outras quinases na fosforilação da histona. Contudo,
os dados já referidos aqui, sugerindo o propranolol como um inibidor
da via do AMPc em células de Leydig (Tinajero et al.,1993;
Wanderley,1986) não indicam a participação da PK-A na fosforilação
da histona. Uma interação direta do propranolol com a PK-C putativa é
inferida a partir destes estudos de atividade enzimática. Foi
encontrado que quando o propranolol, ao invés de fosfatidilserina
(PS), era adicionado diretamente à mistura de reação, a atividade
enzimática era aumentada na mesma proporção que aumentava pela
fosfatidilserina. Foi também observado que o comportamento da
reação de fosforilação resultante da ação do propranolol era similar
70 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
àquele resultante da ação da PS em termos de reversão da
fosforilação pelo H-7 e ausência de fosforilação na ausência de Ca2+
na mistura de reação. A possibilidade de que o aumento na atividade
da PK-C putativa pelo propranolol possa ser devida à interação da
droga com o domínio regulatório (o sítio de interação com lipídios
cofatores) dessa quinase em um sítio diferente do sítio de interação
com o PDBu é sugerida pelo achado de que o propranolol inibiu a
ligação de [3H]PDBu à fração DEAE-A em apenas 5%. Foi também
observado que a concentração de propranolol necessária para a
ativação da proteína quinase C in vitro foi aproximadamente 10.000
vezes menor que aquela requerida para a secreção de testosterona.
Presumivelmente mais propranolol é necessário para intercalar sua
porção hidrofóbica na estrutura da bicamada lipídica das células de
Leydig intactas, levando à ativação da proteína quinase C. Foi descrito
que o propranolol inibe a PK-C ativada por PS e dioleína em
neutrófilos humanos (Sozzani et al.,1992). Os autores demonstraram
que diferentes concentrações de PS superam o efeito inibitório do
propranolol na atividade da PK-C, sugerindo uma inibição competitiva
em relação à PS. Contudo, os dados relatados por estes
investigadores não foram conclusivos. Com a quantidade saturante de
PS (25 μg/mL) usada no presente estudo, nenhuma inibição da
atividade da PK-C foi observada.
Uma vez realizado o estudo do tratamento agudo com o
propranolol sobre a secreção de testosterona, a pergunta proposta a
responder foi se nas condições de tratamento crônico, que são as que
mais se assemelham às do uso clínico do propranolol, seriam
encontrados resultados diferentes daqueles do tratamento agudo com
essa droga. Considerando as referências de disfunção sexual
(impotência e incapacidade erétil) em pacientes hipertensos recebendo
propranolol por período prolongado (Hogan et al.,1980; Knarr,1976), e
71 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
também que o uso prolongado de um fármaco pode levar à tolerância
do organismo ao mesmo (Gilman et al., 1990), além de que a indução
de respostas celulares pela ativação da PK-C é seguida de
dessensibilização (por “down-regulation” da PK-C) (McArdle e
Conn,1989; Niedel e Blackshear,1986; Wanderley e Negro-Villar,
1996), esperava-se encontrar depleção (“down-regulation”) dessa
enzima e diminuição (dessensibilização) da resposta secretória das
células intersticiais testiculares aos agentes estimulatórios que utilizam
a via do DAG/PK-C.
De fato, utilizando uma preparação de células intersticiais
testiculares de animais tratados cronicamente com 30 mg/Kg de
propranolol durante oito dias, não foi observado o efeito estimulatório
do propranolol ou dos ativadores direto e indireto da PK-C, PDBu e
LHRH, respectivamente, sobre a secreção de testosterona, indicando
que o tratamento crônico com propranolol dessensibilizou a via do
DAG/PK-C nessas células. Entretanto, a atividade dessa enzima não
foi modificada pelo propranolol com esse modelo de tratamento. Para
descartar a possibilidade de que o tempo de tratamento utilizado não
tenha sido suficiente para causar depleção da PK-C e, pela maior
semelhança com a aplicação clínica da droga, utilizou-se o modelo de
tratamento crônico descrito por Gay et al.(1990), que consiste no
tratamento dos animais com 500 mg/L propranolol na água de beber
durante cinco a seis semanas. Do mesmo modo que no modelo
anterior, o tratamento durante cinco a seis semanas inibiu o efeito
estimulatório do propranolol e do PDBu (este parcialmente)
adicionados in vitro sobre a secreção de testosterona. Contudo, não
inibiu o efeito estimulatório do LHRH sobre a secreção de testosterona.
Isso sugere que o tratamento por via oral é mais suave que por via
intraperitoneal, o que é suportado pelo fato de que os animais não
morreram. O tratamento com propranolol durante cinco semanas
72 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
diminuiu significativamente a atividade da PK-C, mas isso foi devido a
um aumento na atividade basal e a uma diminuição no pós-estímulo
das células tratadas com propranolol, sem observar-se diferença
significativa nas comparações entre os basais e pós-estímulos entre si
(dos grupos controle e tratado cronicamente com propranolol). Isso
sugere fortemente que a inibição total da produção de testosterona
não foi devida à essa pequena diminuição na atividade da PK-C, ou
que, se houve contribuição foi apenas em parte. Como foi referido
anteriormente, o propranolol pode modificar diferentes efetores
intracelulares. Em termos especulativos é possível inferir a partir dos
dados desse estudo que provavelmente outros efetores sejam
responsáveis pela dessensibilização das células intersticiais
testiculares ao propranolol e aos ativadores da PK-C, e não a PK-C
per se (Figura 17). Existem várias evidências de que a
dessensibilização observada após tratamento crônico com diferentes
drogas resulta da fosforilação de receptores, de proteínas G e vários
efetores relacionados. Dentre as diferentes quinases envolvidas
encontram-se as PK-C, PK-A, CaMKII (proteína quinase II dependente
de Ca2+/calmodulina), GRK (quinases de receptor acoplado à proteína
G) e as MAPKs (proteínas quinases ativadas por mitógenos) (Liu e
Anand, 2001; Naor et al., 2000). De modo importante, o propranolol já
foi referido como ativador da MAPK (Meier et al.,1998).
73 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
RASGRP
Ca2+CaMK
BTK? SRC RAF1
SRC
PYK/FAK
das MAPKcascatas
Transcrição
PIP2
ESPAÇOEXTRACELULAR
MEM
BR
AN
APL
ASM
ÁTI
CA
CITOSOL
quinase-Cativada
IP3
CLIVAGEMGTP
proteína G ativadaq
Y q
receptorativado
PLC
LHRH
PROPRANOLOL (+/-)
(+/-)
Núcleo
(+/-)
DAG/Ca2
DAG
+
Figura 17. Representação esquemática dos possíveis sítios de ação do propranolol
na via que envolve a proteína quinase C para produzir dessensibilização das
células intersticiais testiculares ao propranolol e aos ativadores da PK-C
Em relação à ligação do [3H]PDBu às células intersticiais
testiculares, não houve diferença entre as curvas de competição
correspondentes às células intersticiais testiculares de animais
tratados com propranolol cinco semanas e aquelas obtidas dos
animais controle, indicando a mesma afinidade para o [3H]PDBu e
PDBu em ambas preparações. O tratamento crônico com propranolol
não alterou a inibição, dependente da dose, da ligação de [3H]PDBu
às células intersticiais testiculares resultante da adição do propranolol
in vitro. A concentração de PDBu que dá uma ligação de 50% da
máxima obtida com o PDBu marcado foi de 25 nM. Entretanto, a
concentração de propranolol necessária para obter 50% de ligação do
[3H]PDBu às células, foi aproximadamente 4.000 vezes maior do que
74 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
aquela observada com o PDBu (aproximadamente 100 μM de
propranolol versus 25 nM de PDBu).
Quanto à resposta secretória das células intersticiais testiculares
oriundas de animais tratados com propranolol aos agentes
estimulatórios que utilizam a via do AMPc/PK-A, o tratamento crônico
com propranolol, de forma similar ao tratamento agudo já referido em
literatura, também diminuiu o efeito estimulatório do hCG (ativador
indireto da PK-A) e do dbAMPc (ativador direto da PK-A) sobre a
secreção de testosterona. O fato de que houve inibição do efeito
estimulatório do dbAMPc sobre a secreção de testosterona indica que
o local de ação do propranolol é distal à formação do AMPc.
Resultados similares foram obtidos por Lauritzen et al.(1994)
adicionando o propranolol diretamente a uma preparação de células de
Leydig, esses autores adicionalmente demonstraram que a inibição
pelo propranolol não só situa-se distal à formação de AMPc como
ainda proximal à conversão do colesterol em pregnenolona. Por outro
lado, Tinajero et al.(1993) também adicionando o propranolol
diretamente a uma preparação de células de Leydig referiram que o
propranolol causava inibição da secreção de testosterona, mas por um
mecanismo diferente do observado por nós e Lauritzen et al. (1994),
ou seja, eles observaram que a ação inibitória do propranolol sobre a
esteroidogênese era completamente revertida pela adição de 8-bromo-
AMPc, sugerindo um sítio de ação proximal à formação de AMPc.
Tendo em vista que o tratamento crônico com o propranolol
pode afetar diferentes sistemas de tradução do sinal hormonal,
levando a uma dessensibilização inespecífica das células intersticiais
testiculares, foi realizado um experimento adicional para verificar se a
via do AMPc/PK-A estava dessensibilizada. Para isso foi adicionado
propranolol direta e previamente à adição do hCG e do dbAMPc à
preparação de células intersticiais testiculares oriunda de animais
75 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
cronicamente tratados com propranolol. Os resultados obtidos
mostraram completa inibição do efeito estimulatório do hCG e do
dbAMPc, indicando que o tratamento crônico com propranolol não
dessensibilizou a via do AMPc/PK-A.
76 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
VI. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos nesse estudo mostram que o tratamento
agudo com propranolol estimula a secreção basal de testosterona em
células intersticiais testiculares in vitro e que esse efeito envolve a
ativação de uma PK-C putativa. É possível que essa ativação resulte
de uma interação direta da droga com o domínio regulatório desta
quinase em um sítio diferente do sítio de interação com o PDBu. Isto é
sugerido pelos resultados de atividade biológica da enzima
(fosforilação da HISTONA em baixas doses de ambos os isômeros do
propranolol) e pelo achado de que o propranolol inibiu a ligação de
[3H]PDBu à fração DEAE-A em apenas 5%. A inibição da ligação de
[3H]PDBu às células pelo propranolol pode ser devida a um aumento
no diacilglicerol ou outros mediadores químicos que interagem com o
domínio regulatório da PK-C. A possibilidade de participação de outras
quinases ou cascata de quinases (Ex: cascata das MAPKs, da qual a
PK-C também participa), nessa resposta biológica ao propranolol
também deve ser considerada. O tratamento crônico com o propranolol resulta em
dessensibilização das células intersticiais testiculares aos ativadores
da PK-C sobre a secreção de testosterona. Esse efeito não parece ser
devido à diminuição relativa da atividade da PK-C. É possível
especular que o propranolol esteja modificando outros efetores
intracelulares, como as proteínas quinases ativadas por mitógenos
(MAPKs).
Também conclui-se que o tratamento crônico com propranolol
por via intraperitoneal foi mais eficaz na dessensibilização que o
77 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
tratamento por via oral. Provavelmente por assegurar adequado nível
plasmático de propranolol.
Adicionalmente, mostrou-se que a dessensibilização causada
pelo tratamento crônico com propranolol não foi um fenômeno
inespecífico, já que o sistema de tradução do sinal mediado pelo
AMPc/PK-A não foi dessensibilizado.
78 MARTINS,M.C.C. Ação do propranolol sobre a secreção de testosterona em células intersticiais de rato in vitro
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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