estudo 24

5
O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 159 Estudo Vinte e Quatro: A Mulher e o Dragão [ Apocalipse 12.1-6 ] Embora a sétima trombeta tenha sido tocada em 11.15, as consequências somente serão reveladas no capítulo 16. Assim, os capítulos 12-15 descrevem as profecias do fim dos tempos de uma outra perspectiva e introduzem os grandes personagens que estão envolvidos. 381 Apocalipse 12 começa o que parece ser uma nova seção no livro. Na primeira divisão (1-11) encontramos três seções: os sete candeeiros (1-3), os sete selos (4-7) e as sete trombetas (8-11). Na segunda divisão (12-22), temos quatro seções: o quarteto do mal (12-14), as sete taças, o juízo de Deus sobre os ímpios (15-16), a vitória de Cristo sobre a Grande Babilônia, o Anticristo e o Falso Profeta (17-19) e a vitória final de Cristo sobre o diabo, os ímpios e a morte e os novos céus e nova terra (20-22). Antes de descrever a guerra final, o apóstolo João introduz os principais personagens nela envolvidos: a mulher, o dragão e o filho do homem. I. A Mulher 1 Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, 2 que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz. A primeira coisa que João viu nesta visão foi um “grande sinal”, o primeiro dos sete que aparecem na segunda parte do livro de Apocalipse (cf. v. 3; 13.13, 14; 15.1, 16.14, 19.20). A palavra grande (Mega, em grego), aparece várias vezes nesta visão (cf. v 14.3, 9, 12), João viu que tudo parecia ser enorme, quer em tamanho ou importância. A expressão “sinal” (Sēmeion, em grego), descreve um símbolo que aponta para um realidade. Neste caso, a descrição mostra claramente que a mulher não era uma mulher real. Além disso, a referência ao “resto de seus filhos, aqueles que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (v. 17), mostra que essa mulher é uma mãe simbólica. 382 “... uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça” – O primeiro personagem que aparece nesta visão é uma mulher vestida do sol com a lua dbaixo dos pés. A primeira pergunta que devemos fazer ao texto é sobre a identidade desta mulher. Quem é ela? O que ela representa? No entanto, essa não é uma resposta simples. A igreja Católica Romana entende que essa mulher é um símbolo de Maria. 383 Os Dispensacionalistas crêem que essa mulher é um 381 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1983-c1985). The Bible knowledge commentary : An exposition of the scriptures (2:957). Wheaton, IL: Victor Books. 382 MacArthur, J. (2000). Revelation 12-22 (3). Chicago, Ill.: Moody Press. 383 Alguns estudiosos querem nos fazer crer que se trata de Maria, mãe de nosso Senhor, mas v. 6 e 13- 17 tornam isso impossível. Wiersbe, W. W. (1997, c1992). Wiersbe's expository outlines on the New Testament (830). Wheaton, Ill.: Victor Books.

description

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 159 1 Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, 2 que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz. [ Apocalipse 12.1-6 ] O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Transcript of estudo 24

Page 1: estudo 24

O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 159

Estudo Vinte e Quatro:

A Mulher e o Dragão [ Apocalipse 12.1-6 ]

Embora a sétima trombeta tenha sido tocada em 11.15, as consequências somente serão reveladas no capítulo 16. Assim, os capítulos 12-15 descrevem as profecias do fim dos tempos de uma outra perspectiva e introduzem os grandes personagens que estão envolvidos.381

Apocalipse 12 começa o que parece ser uma nova seção no livro. Na primeira divisão (1-11) encontramos três seções: os sete candeeiros (1-3), os sete selos (4-7) e as sete trombetas (8-11). Na segunda divisão (12-22), temos quatro seções: o quarteto do mal (12-14), as sete taças, o juízo de Deus sobre os ímpios (15-16), a vitória de Cristo sobre a Grande Babilônia, o Anticristo e o Falso Profeta (17-19) e a vitória final de Cristo sobre o diabo, os ímpios e a morte e os novos céus e nova terra (20-22).

Antes de descrever a guerra final, o apóstolo João introduz os principais personagens nela envolvidos: a mulher, o dragão e o filho do homem.

I. A Mulher 1 Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a

lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, 2 que,

achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos

para dar à luz.

A primeira coisa que João viu nesta visão foi um “grande sinal”, o primeiro dos

sete que aparecem na segunda parte do livro de Apocalipse (cf. v. 3; 13.13, 14; 15.1, 16.14, 19.20). A palavra grande (Mega, em grego), aparece várias vezes nesta visão (cf. v 14.3, 9, 12), João viu que tudo parecia ser enorme, quer em tamanho ou importância. A expressão “sinal” (Sēmeion, em grego), descreve um símbolo que aponta para um realidade. Neste caso, a descrição mostra claramente que a mulher não era uma mulher real. Além disso, a referência ao “resto de seus filhos, aqueles que

guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (v. 17), mostra que essa mulher é uma mãe simbólica.382

“... uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze

estrelas na cabeça” – O primeiro personagem que aparece nesta visão é uma mulher vestida do sol com a lua dbaixo dos pés. A primeira pergunta que devemos fazer ao texto é sobre a identidade desta mulher. Quem é ela? O que ela representa? No entanto, essa não é uma resposta simples. A igreja Católica Romana entende que essa mulher é um símbolo de Maria.383 Os Dispensacionalistas crêem que essa mulher é um

381

Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1983-c1985). The Bible knowledge

commentary : An exposition of the scriptures (2:957). Wheaton, IL: Victor Books. 382

MacArthur, J. (2000). Revelation 12-22 (3). Chicago, Ill.: Moody Press. 383

Alguns estudiosos querem nos fazer crer que se trata de Maria, mãe de nosso Senhor, mas v. 6 e 13-17 tornam isso impossível. Wiersbe, W. W. (1997, c1992). Wiersbe's expository outlines on the New

Testament (830). Wheaton, Ill.: Victor Books.

Page 2: estudo 24

O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 160

símbolo da Nação de Israel, mas a interpretação mais coerente é interpretá-la como sendo a Igreja.384 Embora Isaías 66.7 diz que Sião está com dores de parto, para dar a luz ao novo Israel redimido (Is 26.17; Mq 4.10); esta mulher celestial, porém é mãe do Messias e da igreja na terra (sua “descendência”, v. 17). Por isso, é mais fácil, como disse George Ladd, “entender a mulher em um sentido mais amplo como Sião ideal, o representante no céu do povo de Deus (Is 54.1; 66.7-9).385

Willian Hendriksen acertadamente afirma que “A Escritura enfatiza o fato de que a Igreja é uma só entidade em ambas as dispensações. E o povo escolhido em Cristo. E uma casa, uma vinha, uma família - Abraão é o pai de todos os crentes, quer sejam circuncidados quer não, uma oliveira; uma raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade de Deus; uma só noiva maravilhosa; e em sua consumação, uma só Nova Jerusalém cujos portões portam os nomes das doze tribos de Israel e em cujas fundações estão inscritos os nomes dos doze apóstolos (cf. Is 54; Am 9.11; Mt 21.33ss.; Rm 11.15-24; Gl 3.9-16, 29; Ef. 2.11; 1Pe 2.9 [cf. Êx 19.5, 6]; Ap 4.4; 21.12-14)”.386

“... uma mulher vestida do sol...” – João viu que a mulher estava vestida do

sol, e tinha a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Essa descrição fascinante é semelhante ao sonho de José registrado em Gênesis 37.9-11. Mas, o que isso quer dizer? Não há dúvidas de que essa é uma tentativa de descrever a glória de sua aparência.

A igreja reflete a beleza de Cristo e reflete o brilho da glória de Deus. Na terra, essa Igreja pode parecer bem insignificante e suscetível ao escárnio e à ridiculização, mas da perspectiva do céu essa mesma Igreja é gloriosa: tudo que o céu pode oferecer de glória e de esplendor lhe é dado prodigamente.387 Está vestida com o sol, pois é gloriosa e exaltada. Tem a luz sob seus pés, pois exerce domínio. Tem na fronte uma tiara de doze estrelas, pois é vitoriosa. Está grávida, pois sua tarefa é dar à luz o Cristo “segundo a carne” (Rm 9.5).

“... e uma coroa de doze estrelas na cabeça...” – A coroa de doze estrelas

(stephanos; a coroa associada com o triunfo no meio do sofrimento e da luta). Em Apocalipse a coroa faz alusão ao fato de que a igreja participa da realeza de Cristo (cf. 2.10, 3.11, 4.4, 10; 14.14). Neste caso, é possível que a coroa de doze estrelas represente o povo de Deus exemplificado nos doze patriarcas da antiga aliança e nos doze apóstolos dos tempos da nova aliança. O número doze é uma descrição do povo de Deus.388

“... que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos

para dar à luz...” – Tendo descrito o traje da mulher, João percebeu sua condição: ela estava grávida. Ela estava grávida e para dar à luz, o que simboliza a vinda de Jesus na carne. A mulher sofre dores e angústia enquanto está dando à luz (comparar Is 26.17; 384

Aune, D. E. (1998). Vol. 52B: Word Biblical Commentary : Revelation 6-16 (electronic ed.). Logos Library System; Word Biblical Commentary (680). Dallas: Word, Incorporated. 385

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 124. 386

HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 187. 387 Ver A. Pieters, op. cit., p. 161. 388

Henry, M. (1996, c1991). Matthew Henry's commentary on the whole Bible : Complete and

unabridged in one volume (Ap 12:1). Peabody: Hendrickson.

Page 3: estudo 24

O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 161

66.7; Mq 4.10; Gl 4.19). João situa este texto no período do nascimento de Jesus para ressaltar o severo conflito que Satanás fomentou e continua fomentando contra Deus e seu povo.389

Tendo descrito as dores da mulher durante o parto, o apóstolo João descreve a causa do seu sofrimento.

II. O Dragão 3 Viu-se, também, outro sinal no céu, e eis um dragão, grande,

vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas.

4 A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais

lançou para a terra; e o dragão se deteve em frente da mulher que

estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse.

A mulher grávida é o primeiro sinal; o grande dragão vermelho é o segundo

sinal. O inimigo mortal da igreja, Satanás (Ap 12.9). Entranto, é interessante observar que o sinal do dragão não é denominado de

grande; em vez disso, o imperativo “viu-se” (“olhe!”), chama a atenção dos leitores para um dragão horrível. O que é grande não é o sinal, mas o dragão, isto é, de tamanho enorme.390

“... e eis um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas

cabeças, sete diademas” – A cor do dragão é vermelho, o que simboliza a cor da guerra. A palavra grega pyrros (vermelho ardente) é usada tanto aqui quanto para o cavaleiro que monta o cavalo vermelho (6.4).

Sete cabeças - As sete cabeças coroadas referem-se ao seu domínio mundial (cf

Ef 2.2; 6.12). Ele é o pai daqueles que vivem para fazer sua vontade (Jo 8.44). Ele é o sedutor de todo o mundo (12.9). As coroas, entretanto, não são grinaldas de vitória, mas meras coroas de pretensa autoridade.

Dez chifres – Os números não devem ser tomados literalmente, mas

simbolicamente. Sete significa completude, e dez é o número de plenitude na estrutura decimal. Assim, as sete cabeças e os dez chifres se referem à completude em vencer o mundo, o que é evidente na designação aplica a Satanás, príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30; 16.11).

Sete diademas - Simbolizam que seu governo é universal. Sua influência não se

limita a um povo ou nação. Ele possui súditos em toda a terra (Lc 11:20-22). Ele tem um reino (Cl 1.13; At 26.18).

“A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para

a terra...” - Quando Satanás caiu (Is 14.12-15; Ez 28.12-17), ele varreu um terço das

389

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 450. 390

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 451.

Page 4: estudo 24

O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 162

hostes angelicais com ele. Junto com seu líder derrotado, os anjos maus foram expulsos do céu para a terra.391 Ele é o Abadom e o Apolion, o destruidor. Jesus o chama de homicida (Jo 8.44). Ele é o ladrão que veio para matar, roubar e destruir (Jo 10.10).

“... e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim

de lhe devorar o filho quando nascesse” – Ao longo da história, Satanás tem dobrado todos os seus esforços para perseguir o povo de Deus. No livro de Gênesis, Abel era um homem justo e obediente; Satanás levou Caim a matá-lo. Em sua primeira epístola, João escreveu: “... Caim era do maligno e matou seu irmão. E por que razão ele o

matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1João 3.12). No livro de Êxodo, Faraó mandou matar as crianças do sexo masculino dos

hebreus. Com intenção homicida, o rei Saul lançou sua espada contra Davi e Hamã tramou aniquilar o povo judeu que vivia nas províncias da Pérsia. Nos tempos neotestamentários, Herodes o Grande matou em Belém as crianças do sexo masculino até dois anos de idade. Isto é, sempre que algum novo progresso estava para acontecer na história do povo de Deus, neste versículo simbolizado pela mulher, Satanás se prontificava a frustrar os propósitos divinos e tentava eliminar seu Filho. Os ataques de Satanás contra a mulher continuam até o regresso de Cristo. Mesmo a vitória aparente do diabo na cruz foi, na realidade, sua última derrota (Colossenses 2.15, Hb 2.14, 1Pe 3.18-20, 1João 3.8).392

III. O Filho 5 Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações

com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu

trono. 6 A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus

preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e

sessenta dias.

Apesar de todos os incansáveis esforços de Satanás para impedir o nascimento

da criança, a mulher deu à luz um filho. “Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro

de ferro” – Aqui está o cumprimento das profecias messiânicas que predizem a vinda do Cristo (Is 7.14; 66.7). A mulher (igreja) deu à luz seu Filho, o Messias. Essa criança poderosa é o Cristo. Ele é aquele que “há de reger as nações com cetro de ferro”. Essa expressão é, claramente, emprestada do Salmo 2.9, um salmo messiânico, aplicada pelo próprio Cristo em Apocalipse 2.27. A denominação de “o filho” (ou semente) “da mulher” é usada sempre para indicar o Cristo (Gn 3.15; Gl 4.4).393

“E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono...” – Entre a

encarnação de Cristo e Sua coroação veio Sua exaltação, quando Ele foi arrebatado para Deus e para o seu trono em Sua ascensão. A exaltação de Cristo significa a aceitação do Pai, da Sua obra de redenção (Hb 12.3). Em seu sermão no Dia de

391

MacArthur, J. (2000). Revelation 12-22 (8). Chicago, Ill.: Moody Press. 392

MacArthur, J. (2000). Revelation 12-22 (10). Chicago, Ill.: Moody Press. 393

HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 188.

Page 5: estudo 24

O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 163

Pentecostes, Pedro declarou: “ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões

da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (Atos 2.24). “... A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado

lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias” – A mulher representa a igreja de Cristo cujos membros fogem para um lugar que Deus lhes preparou: o deserto.

O deserto era, tradicionalmente considerado como um local de refúgio em tempos de dificuldades (1Rs 17.2-3; 19.3-4).394 A imagem do deserto evoca o relato da permanência de Israel por quarenta anos na península do Sinai (Dt 8.2-4), a fuga de Elias para esse mesmo deserto (1Rs 19.3-8) e a peregrinação de João Batista no deserto da Judéia (Lc 1.80). Paulo também gastou tempo em um deserto, o da Arábia (Gl 1.17, 18). Três fatores emergem do tempo gasto em um deserto: a pessoa é completamente dependente de Deus para a provisão material e espiritual das necessidades da vida; o deserto é sempre um lugar temporário; e, por último, o deserto é um lugar onde Deus treina espiritualmente seu povo e o prepara para o serviço. Assim como o tempo de Israel no deserto do Sinai era temporário, enquanto os israelitas ansiavam permanecer na Terra Prometida, de modo que a igreja hoje, aguardando na terra, anela estar com Cristo para sempre (ver 2Co 5.6-8).395

“... durante mil duzentos e sessenta dias” – Deus prepara um lugar de

proteção e nutrição para a igreja durante 1.260 dias. Ainda que seus membros sofram opressão e perseguição, Deus jamais permite a aniquilação da igreja. O número 1.260 se aplica às duas testemunhas que receberam poder para profetizar durante essa extensão de tempo (11.3). Assim, a referência à mulher no deserto se harmoniza com a tarefa de profetizar das duas testemunhas, o que significa que as testemunhas e a mulher representam a igreja.396

Conclusão:

Todo o esforço dos portões do inferno para destruir a Igreja de Cristo está fadado ao fracasso (Mt 16.18). Mas Satanás não pode aceitar essa verdade. Tendo falhado contra a Igreja no Antigo Testamento, ele continua sua luta contra “o restante

da sua descendência”, os que obedecem aos mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus (12.17). A fonte de energia que permite que a igreja permaneça firme “no dia mau” (Ef 6.18) é o seu relacionamento com Cristo. Quanto mais nos aproximamos do Rei dos reis, mais provavelmente experimentaremos os ataques do inimigo. Porém, maior será a probabilidade de encontrarmos graça e proteção da parte do Pai que está no céu.

Embora, o dragão vermelho seja grande e assustador, ele está derrotado. A vitória está assegurada!

394

Aune, D. E. (1998). Vol. 52B: Word Biblical Commentary : Revelation 6-16 (electronic ed.). Logos Library System; Word Biblical Commentary (690). Dallas: Word, Incorporated. 395

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 456. 396

Henry Barclay Swete, Comentary on Revelation (1911; reimp. em Grand Rapids: Kregel, 1977), p. 152.