estudo 22

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O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 145 Estudo Vinte e Dois: A Segurança da Igreja [ Apocalipse 11.1-14 ] A segunda parte do interlúdio poderia estar, em grande medida, incluso no capítulo 10 como o capítulo 7 tem um interlúdio de duas partes. Esta segunda parte é uma continuação do primeiro segmento com respeito à mensagem do livrinho que é doce ao paladar, porém amarga ao digerir-se. 322 Em íntima conexão com 10.8-11, o capítulo 11 descreve as “acres” experiências que a verdadeira Igreja deve sofrer quando ela prega o “doce” evangelho da salvação. 323 Como vimos no estudo anterior, antes da sétima trombeta soar haverá um interlúdio (10.1-11.14). Este interlúdio incentiva o povo de Deus no meio da fúria do julgamento divino. O interlúdio do capítulo 11 acontece entre a sexta e a sétima trombeta, que trata da medição do templo e da missão das duas testemunhas. 324 Todavia, antes de falar sobre as duas testemunhas fiéis, o apóstolo João registra um incidente fascinante no qual ele próprio participou, um incidente que prepara o terreno para a chegada dos dois pregadores. I. A Medição do Templo 1 Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e também me foi dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele adoram; Ocasionalmente, no livro de Apocalipse, o apóstolo João tem um papel ativo em suas visões (cf. 1.17, 4.1; 5.4-5; 7.13-14; 10.8-10). “Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara...” – Depois de sua chamado para escrever as profecias que ainda estão por vir no Apocalipse (10.11), João novamente se envolveu na visão que estava escrevendo. Ele recebeu um “caniço” – algo semelhante a uma vara, por outro ou o mesmo anjo que falou com ele em 10.8 ou o anjo forte que falou com ele em 10.9-11. a palavra caniço, “Kalamos” (significa, haste de medição) 325 , se refere a uma planta que cresce no vale do Jordão até a altura de quinze a vinte metros. O profeta Ezequiel teve uma visão muito longa da medição de Jerusalém – simbolizando o fato de que Jerusalém ainda viria a ser a verdadeira cidade de Deus (Ez 40-43). 326 322 KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 410. 323 HENDRIKSEN, Willian. Mais que Vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 172. 324 LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 110. 325 1) cana; 2) vara feita de uma cana, vara de cana ou junco; 3) cana ou vara de medição; 4) caniço de escritor, caneta. Strong, J. (2002; 2005). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (H8679). Sociedade Bíblica do Brasil. 326 LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 112.

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Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 145 Ocasionalmente, no livro de Apocalipse, o apóstolo João tem um papel ativo em suas visões (cf. 1.17, 4.1; 5.4-5; 7.13-14; 10.8-10). 1 Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e também me foi dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele adoram; [ Apocalipse 11.1-14 ] O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

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O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 145

Estudo Vinte e Dois:

A Segurança da Igreja [ Apocalipse 11.1-14 ]

A segunda parte do interlúdio poderia estar, em grande medida, incluso no capítulo 10 como o capítulo 7 tem um interlúdio de duas partes. Esta segunda parte é uma continuação do primeiro segmento com respeito à mensagem do livrinho que é doce ao paladar, porém amarga ao digerir-se.322 Em íntima conexão com 10.8-11, o capítulo 11 descreve as “acres” experiências que a verdadeira Igreja deve sofrer quando ela prega o “doce” evangelho da salvação.323 Como vimos no estudo anterior, antes da sétima trombeta soar haverá um interlúdio (10.1-11.14). Este interlúdio incentiva o povo de Deus no meio da fúria do julgamento divino. O interlúdio do capítulo 11 acontece entre a sexta e a sétima trombeta, que trata da medição do templo e da missão das duas testemunhas.324

Todavia, antes de falar sobre as duas testemunhas fiéis, o apóstolo João registra um incidente fascinante no qual ele próprio participou, um incidente que prepara o terreno para a chegada dos dois pregadores.

I. A Medição do Templo

1 Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e também me foi

dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que

naquele adoram;

Ocasionalmente, no livro de Apocalipse, o apóstolo João tem um papel ativo

em suas visões (cf. 1.17, 4.1; 5.4-5; 7.13-14; 10.8-10). “Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara...” – Depois de sua chamado

para escrever as profecias que ainda estão por vir no Apocalipse (10.11), João novamente se envolveu na visão que estava escrevendo. Ele recebeu um “caniço” – algo semelhante a uma vara, por outro ou o mesmo anjo que falou com ele em 10.8 ou o anjo forte que falou com ele em 10.9-11. a palavra caniço, “Kalamos” (significa, haste de medição)325, se refere a uma planta que cresce no vale do Jordão até a altura de quinze a vinte metros. O profeta Ezequiel teve uma visão muito longa da medição de Jerusalém – simbolizando o fato de que Jerusalém ainda viria a ser a verdadeira cidade de Deus (Ez 40-43).326

322

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 410. 323

HENDRIKSEN, Willian. Mais que Vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 172. 324

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 110. 325

1) cana; 2) vara feita de uma cana, vara de cana ou junco; 3) cana ou vara de medição; 4) caniço de escritor, caneta. Strong, J. (2002; 2005). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (H8679). Sociedade Bíblica do Brasil. 326

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 112.

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“... Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele

adoram...” – Certamente, essa ordem para medir o templo indica, como em algumas ocasiões no Antigo Testamento, que Deus às vezes mede as coisas para depois as destruir (por exemplo, 2Sm 8.2, 2Reis 21.13; Is 28.17; Lm 2.8; Amós 7.7-9, 17). Mas aqui, essa medição é melhor entendida como significando a propriedade de Deus, a definição dos parâmetros das coisas que pertencem a Deus (cf. 21.15; Zc 2.1-5).

A tarefa de João é salvaguardar aquilo que Deus separou como santo e protegê-lo de intrusão e profanação. O destruidor não pode entrar no lugar que Deus caracterizou como santo e em cujas fronteiras seu povo está seguro.327

“... o seu altar e os que naquele adoram” – O escritor recebe a ordem de

levantar-se e medir as três partes: o templo de Deus, o altar e o povo adorando ali. Qual é a significação do altar? Este é o altar do santuário celestial (6.9; 8.3 [duas vezes], 5; 9.13; 14.18; 16.7). O incenso oferecido são as orações dos santos (8.3, 5), e medir as dimensões do altar significa que os santos têm acesso a Deus e desfrutam de seu cuidado protetor. No altar eles estão seguros.328

A multidão dos santos, contados no capítulo 7, agora são medidos no capítulo 11. Somente o povo de Deus é medido e contado, não os profanos, que se encontram no átrio externo, fora da igreja, e estão condenados.

“mas deixa de parte o átrio exterior do santuário e não o meças, porque foi

ele dado aos gentios...” – Por que o apóstolo João deve medir o templo? O que essa tarefa signfica? Levando em consideração o contexto imediato, a expressão paralela (21.15) e o pano de fundo do Antigo Testamento (Ex 40.5; 42.20; Zc 2.1), chegamos à conclusão de que a medição do santurário significa apartá-lo `de tudo o que é profano; para que, uma vez separado, esteja perfetaiemnte seguro e protegido de qualquer dano.329

O verdadeiro Israel será protegido e preservado por Deus os problemas que estão à frente, é uma visão de consolo do próprio Deus, em contraste com a condenação ameaçado por seus opressores.330 Carson com inteireza argumenta que, enquanto os adoradores representam a igreja (cf. 1Co 3.16), do mesmo modo, o pátio externo da cidade santa, representa o mundo.331

“... estes, por quarenta e dois meses, calcarão aos pés a cidade santa” – É

relevante ressaltar que esse período de 42 meses e 1.260 dias não pode ser entendido literalmente, pois o tempo dos gentios (Lc 21.24), deveria começar no ano 70 quando Jerusalém foi destruída pelos romanos. Os gentios não são propriamente não-judeus, mas, antes, não-cristãos que pisoteiam tudo o que é santo e o converte em profano. O

327

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 413-414. 328

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 414-415. 329

HENDRIKSEN, Willian. Mais que Vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 173. 330

Summers, R. (1951). Worthy is the Lamb: An interpretation of Revelation. (162). Nashville: Broadman Press. 331

Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Ap 11:1). Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press.

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ato de pisotear a cidade santa se refere a um período de perseguição que os cristãos sofrem ao longo dos séculos. Mas recorda que Deus estabelece limites à sua duração. Aliás, este período marca o tempo da ascensão ao regresso de Jesus. Sendo assim, o tempo cronológico é de importância efêmera neste livro, porque o que governa o Apocalipse não é tempo, mas princípio.332

Logo, esse período simbolizava inquietação, incerteza e turbulência. Ele fala da perseguição do mundo sobre a igreja, da primeira à segunda vinda de Cristo. Obviamente, na medida em que o tempo avança para o fim essa perseguição torna-se mais evidente e implacável.

II. As Duas Testemunhas (Ap. 11.3-14)

A conexão entre esta visão das duas testemunhas e a passagem anterior (v. 1-2) é muito clara. Eles são as testemunhas que vão proclamar a mensagem de juízo. Segundo John MacArthur Jr., é possível identificar sete características da vida e ministério dessas duas testemunhas: o seu dever, atitude, identidade, poder, morte, ressurreição e impacto.

1. O Dever das Duas Testemunhas

3 Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e

sessenta dias, vestidas de pano de saco.

Deus não abandonará o seu povo, mesmo permitindo que a cidade seja pisada

pelas nações por 42 meses. O Senhor lhes enviará duas testemunhas, para que profetizem a Palavra de Deus ao povo em apuros.333

Mais uma vez, a voz que dá autoridade as duas testemunhas não é identificada, mas certamente é o Deus Pai, ou o Senhor Jesus Cristo. A palavra “testemunhas” é o plural de “Martus”, em grego, do qual temos a palavra mártir em português. Mas, Quem são as duas testemunhas? Ao longo dos anos, vários estudiosos têm sugerido muitos nomes extraídos das Sagradas Escrituras. Tertuliano e Irineu mencionaram Enoque e Elias, visto que esses dois não experimentaram a morte (Gn 5.24; 2Rs 2.11). Outros dizem que as testemunhas são Moisés e Elias. Esses dois apareceram com Jesus no Monte da Transfiguração (Mt 17.3). Moisés representava a Lei e Elias, os Profetas. Ainda outros propõem os nomes de Jeremias e Elias, Josué e Calebe, Pedro e Paulo, João Batista e Jesus de Nazaré, João e seu irmão Tiago, Estêvão e Tiago filho de Zebedeu, para não mencionar outros.334

332

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 418. 333

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 114. 334

Referência a Van de Kamp, Israël in Openbaring, pp. 183-86; Josephine Massyngberde Ford, Revelation: Introduction, Translation, and Commentary (Garden City, Nova Iorque: Doubleday, 1975), pp. 177-78.

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No entanto, de acordo com o contexto do capítulo 10, cremos em uma interpretação simbólica,335 a saber, que as duas testemunhas representam a igreja de Cristo que, proclamando o evangelho, conclama o mundo ao arrependimento. A tarefa da igreja universal é proclamar o evangelho, que será realizado mesmo em meio as adversidades. As testemunhas representam o espírito militante dos verdadeiros cristãos e seu testemunho.336

2. A Atitude das Duas Testemunhas

“...vestidas de pano de saco” (v. 3)

O pano de saco era um tipo de tecido áspero, grosseiro e pesado que era usado nos tempos antigos como um símbolo de luto, angústia, sofrimento e humildade.337 Jacó vetiu-se com pano de saco, quando pensava que José estava morto (Gn 37.34). Davi ordenou que as pessoas usam pano de saco após o assassinato de Abner (2Sm 3.31) e o próprio Davi usou pano de saco durante a praga que Deus enviou em resposta ao seu pecado do levantamento do censo (1Cr 21.16). O rei Jorão usou pano de saco durante o cerco de Samaria (2Reis 6.30), como fez o rei Ezequias, quando Jerusalém foi atacada (2Reis 19.1). Além deles, o íntegro Jó (Jó 16.15), os profetas Isaías (Isaías 20.2) e Daniel (Dn 9.3) também usaram panos de saco.

As duas testemunhas usarão pano de saco como uma lição para expressar sua grande tristeza ao mundo descrente, atormentado por juízos e invadido por hordas de demônios, pela opressão de Jerusalém e a ascensão do Anticristo.338

3. A Identidade das Duas Testemunhas

São estas as duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em pé

diante do Senhor da terra.

Ao invés de relacionar o ministério das testemunhas a Moiés e Elias, a voz

associou esse ministério a Zorobabel e Josué, o sumo sacerdote (Zc 4). Esses dois homens ajudaram a restabelecer Israel na Palestina e a reconstruir o templo.339 Ou seja, essas duas oliveiras e esses dois candeeiros são símbolos da Palavra de Deus,

335

Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Ap 11:3). Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press. 336

Summers, R. (1951). Worthy is the Lamb: An interpretation of Revelation. (164). Nashville: Broadman Press. 337

Jamieson, R., Fausset, A. R., Fausset, A. R., Brown, D., & Brown, D. (1997). A commentary, critical and

explanatory, on the Old and New Testaments. On spine: Critical and explanatory commentary. (Ap 11:3). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc. 338

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (299). Chicago: Moody Press. 339

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. São Paulo: Editora Geográfica, Vl: 6, 2006, 762.

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proclamada pela igreja. Da mesma forma, interpretamos as duas testemunhas do Apocalipse como sendo representantes da igreja em sua totalidade.340

4. O Poder das Duas Testemunhas

5 Se alguém pretende causar-lhes dano, sai fogo da sua boca e devora

os inimigos; sim, se alguém pretender causar-lhes dano, certamente,

deve morrer. 6 Elas têm autoridade para fechar o céu, para que não

chova durante os dias em que profetizarem. Têm autoridade também

sobre as águas, para convertê-las em sangue, bem como para ferir a

terra com toda sorte de flagelos, tantas vezes quantas quiserem.

Como Noé antes do dilúvio e Moisés antes as pragas do Egito, as duas

testemunhas vão proclamar com autoridade o juízo de Deus. Por isso, elas serão universalmente odiadas (cf. v. 9-10) e muitos vão desejar a morte delas durante a pregação.

Simon Kistemaker acertadamente disse que, “as palavras de João não podem ser tomadas literalmente, porque nenhum testemunho cristão pode fazer descer fogo do céu a fim de destruir os adversários de Deus. Como o resto deste capítulo, o texto tem um significado figurado: a Palavra de Deus não pode ser detida mesmo quando os mensageiros de Deus sejam perseguidos e até mesmo mortos”.341

5. A Morte das Duas Testemunhas (v. 7-10)

Os pecadores vão tentar desesperadamente e sem sucesso, se livrar das duas

testemunhas. Deus, porém, irá protegê-los até que tenham terminado o seu testemunho.

“Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar...” (v. 70) – É

importante observar que João declara que o martírio somente ocorrerá depois que as duas testemunhas terminarem o seu trabalho (Mt 24.14). Isto é, os servos de Deus são imortais até concluírem o seu trabalho.342

“... a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará”

– O ataque primário da besta é sobre a mensagem, e secundariamente sobre os mensageiros; ele mata os mensageiros para que a mensagem seja silenciada. Em seu discurso sobre o fim dos tempos, Jesus encoraja os crentes, dizendo: “Porque haverá

então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora,

nem jamais haverá. Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria;

mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados” (Mt 24.21, 22). Quando no

340

Ver G. R. Beasley-Murray, The Book of Revelation, NCB (Londres: Oliphants, 1974), p. 184; Alan F. Johnson, Revelation, em The Expositor’s Biblle Commentary, ed. Frank Gaebelein (Grand Rapids: Zondervan, 1981), 121.504; Aune, Revelation 6–16, pp. 602-3; Beale, Revelation, pp. 574-75. 341

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 421-422. 342

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. São Paulo: Editora Geográfica, Vl: 6, 2006, 762.

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fim dos tempos os incrédulos rejeitarem a mensagem, Deus permitirá que o Anticristo mate os santos. “Não é uma predição literal de que todo cristão fiel de fato será morto. Porém, requer que cada cristão fiel esteja preparado para morrer.”343

“e o seu cadáver ficará estirado na praça da grande cidade que,

espiritualmente, se chama Sodoma e Egito...” – Após a morte das testemunhas, os cadáveres apodrecerão nas ruas da grande cidade. No mundo antigo, expor o cadáver de um inimigo era a melhor forma de desonrá-los e profaná-los. Deus proibiu os israelitas de exercer essa prática (Dt 21.22-23).344

Como em todo o livro de Apocalipse, aqui também encontramos um contraste entre aquilo que é santo e aquilo que é profano. Há somente duas cidades: a santa e a profana. É a divisão entre o povo de Deus na cidade santa e seus adversários na grande cidade. O povo de Deus habita a santa cidade, a Jerusalém espiritual dos santos. Seus inimigos vivem na grande cidade, não em um lugar particular, mas em “a estrutura mundial da descrença e rebeldia contra Deus”.345 A grande cidade é identificada com Sodoma, lugar de imoralidade com menos de dez pessoas justas (Gn 18.32), e com Egito, terra que simboliza a escravidão dos israelitas. Os profetas Isaías e Ezequiel falaram ao povo residente de Jerusalém e de Judá, e os comparam aos habitantes de Sodoma (Is 1.9, 10; 3.9; Ez 16.48, 49), porém em parte alguma do Antigo Testamento Jerusalém é identificada com o Egito.346

“Então, muitos dentre os povos, tribos, línguas e nações contemplam os

cadáveres das duas testemunhas, por três dias e meio, e não permitem que esses

cadáveres sejam sepultados” – A morte das duas testemunhas ao invés de gerar tristeza, será celebrada em todo o mundo. Incrivelmente, os que habitam na terra (cf. 6.10; 8.13; 13.8, 12, 14; 14.6; 17.2, 8), regozijarão sobre eles e enviarão presentes uns aos outros, porque esses dois profetas atormentaram os que habitam sobre a terra. Ironicamente, esta é a única menção no Apocalipse de regozijo.347 Os pecadores ficarão felizes porque aqueles que declaravam os julgamentos de Deus estão mortos. Esta atitude demonstra o que se passa no coração dos incrédulos.

6. A Ressurreição das Duas Testemunhas

1 Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte

de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, e àqueles

que os viram sobreveio grande medo; 12

e as duas testemunhas

ouviram grande voz vinda do céu, dizendo-lhes: Subi para aqui. E

subiram ao céu numa nuvem, e os seus inimigos as contemplaram.

343

Richard Bauckham, The Theology of the Book of Revelation, New Testament Theology (Cambridge: Cambridge University Press, 1993), p. 93. 344

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (303). Chicago: Moody Press. 345

Philip Edgcumbe Hughes, The Book of the Revelation: A Commentary (Leicester: Inter-Varsity, Grand Rapids: Eerdmans, 1990), p. 127. Consultar os comentários de Morris, p. 146; Mounce, p. 221. 346

Sodoma e Egito são símbolos da hostilidade contra Deus e seu povo; Sodoma pela maneira com que seus habitantes tentaram tratar os anjos que visitaram Ló (Gn 19.1-11), e Egito por ter escravizado o povo de Deus. LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 116. 347

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (304). Chicago: Moody Press.

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As festas pela morte das testemunhas serão interrompidas por um

acontecimento mais chocante. Depois de três dias e meio as testemunhas mortas receberão o sopro de vida (cf. Gn 2.7). Diante disto, os seus algozes ficarão perplexos e se encherão de medo. Além disso, ouvirão uma grande voz dizendo para as testemunhas: “Subi para aqui”. Esta é provavelmente a voz do Senhor, que convocou João ao céu em 4.1.

Qual é o significado dessa ressurreição? De acordo com Simon Kistemaker, a informação que o apóstolo João apresenta é escassa, de modo que só presumimos o que pode acontecer. Pode ser uma referência à ressurreição geral dos mortos quando do regresso de Jesus (1Ts 4.16, 17), isto é, o grande e glorioso dia que antecede a consumação. Mas é igualmente possível dizer que essa ressurreição deve ser entendida simbolicamente. Ezequiel fala figuradamente sobre a ressurreição dos mortos (37.10-13), assim também aqui o retorno do testemunho de Deus pode ser interpretado metaforicamente.348

7. O Impacto das Duas Testemunhas

13 Naquela hora, houve grande terremoto, e ruiu a décima parte da

cidade, e morreram, nesse terremoto, sete mil pessoas, ao passo que as

outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glória ao Deus do

céu. 14 Passou o segundo ai. Eis que, sem demora, vem o terceiro ai.

Pontuando a ressurreição das duas testemunhas, na mesma hora houve um

grande terremoto, e uma décima parte da cidade ruiu e sete mil pessoas foram mortas no terremoto. Conforme John MacArthur, o termo “pessoas”, no texto grego indica que os sete mil que foram mortos eram pessoas proeminentes, talvez líderes do governo mundial do Anticristo.349

“... ao passo que as outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glória

ao Deus do céu” – As palavras “deram glória a Deus” nos levam à pergunta se esta é uma questão de arrependimento genuíno ou de remorso fictício. Para D. A. Carson, o fato de que os sobreviventes deram glória ao Deus do céu indica que estes acontecimentos demonstram o arrependimento do povo impenitente até então (cf. Js 7.19).350 George Ladd possui a mesma opinião, “alguns intérpretes entendem que a frase significa que eles glorificaram a Deus de medo e terror, sem se arrepender verdadeiramente. Porém, quando estra frase é usada em outras passagens ela significa arrependimento (Js 7.19; Is 42.12; Jr 13.16; 1Pe 2.12; 14.7; 15.4; 16.9; 19.7; 21.24)”.351

Entretanto, o final do último versículo do capítulo 11, verso 18, indica uma descrição do último juízo que é uma reminiscência do versículo 13 e confirma a

348

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 421-422. 349

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 118. 350

Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Ap 11:3). Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press. 351

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 119.

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conclusão de uma cena do juízo final, e não a de arrependimento. Portanto, a conversão genuína já não é mais possível, “visto que teria de ser posta depois do começo do último juízo, o qual é assinalado no versículo 13a.”352 Depois de Deus infligir juízo, o tempo de arrependimento já passou.353

No entanto, os dois primeiros ais, que eram as pragas da quinta e da sexta trombeta, já passaram; o terceiro ai – a sétima trombeta – está por vir. A cena da sétima trombeta “é um ai mais severo do que a quinta e a sexta trombetas, visto que representa o clímax do juízo final”.354 A sétima trombeta nos permite uma visão subseqüente do juízo final, quando os ímpios enfrentam a destruição. Assim, o ai fala da devastação das pessoas que têm sido destrutivas durante seu tempo na terra (v. 18).

Conclusão: Enquanto a igreja proclamar a Palavra, há tempo para salvação. Mas quando as

testemunhas subirem ao céu, sua mensagem não mais será ouvida. Por que sem o poder da Palavra não há conversões.

Assim termina o interlúdio, com uma mensagem do juízo divino. Haverá um forte testemunho do evangelho durante este período de angústia. Mas, apesar da perseguição o povo de Deus será conhecido e protegido por Ele.355 Quem você é? Santuário de Deus ou átrio exterior?

352

Beale, Revelation, p. 607 (ênfase dele). 353

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 433. 354

Ver os comentários de Beale (p. 610), Lenski (p. 360), Hughes (p. 131) e Hoeksema (p. 402). 355

Summers, R. (1951). Worthy is the Lamb: An interpretation of Revelation. (165). Nashville: Broadman Press.