ESTUDANTES REFLETEM SOBRE O SUS SÃO CARLENSE · Qual o perfil de médico que a UFSCar quer ......

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VISÕES SOBRE O SUS NA CIDADE PÁGINA 4 CHARGE PÁGINA 7 Ombudsman estréia sua coluna. PÁGINA 1 47ª COBEM - Curitiba 2009 PÁGINA 2 Qual o perfil de médico que a UFSCar quer formar? PÁGINA 5 Nova coluna Mascarenhas PÁGINA 7 A Rede Escola de Cuidados à saude:A implantação do curso de Medicina na UFSCar representa a viabilização de uma nova fase no modelo de ensino médico. Tenta-se sair do modelo tradicional de ensino, baseado no Relatório Flexner de 1910, conhecido também como modelo-biomédico, fundamentado no ensino das ciências básicas e hospitalocêntrico, para um modelo no qual a multicausalidade das doenças e a prevenção e a promoção de saúde ficam em destaque. (...) PÁGINA 2 Conferência Municipal de Saúde. Com o tema “A Estratégia de Saúde da Família: O SUS que temos e o SUS que queremos” foi realizada nos dias 27, 28 e 29 de novembro de 2009 a 4ª Conferência Municipal de Saúde de São Carlos(...) PÁGINA 3 Inserção do estudante na rede e o usuário do sistema A inserção de estudantes na Rede de Saúde ainda gera muita polêmica. Até onde isso é usado para o aprendizado dos alunos e até onde traz benefícios aos pacientes? (...) PÁGINA 5 E m uma quinta-feira à tarde, Cláudio Rondon, 57 anos, acolheu-nos em sua residência no bairro Maria Stella Fagá para essa entrevista. Sentados em sua sala, conversamos sobre a visão dos usuários do SUS a respeito da inserção discente na Rede-Escola. Participante ativo das instituições que debatem a saúde(...) PÁGINA 6 TERÇA EM DOBRO NO TREM BÃO AVENIDA!!!! ESTUDANTES REFLETEM SOBRE O SUS SÃO CARLENSE ALUNOS REUNIDOS DURANTE A PARALISAÇÃO DAS ATIVIDADES DE GRADUAÇÃO Foto: César Setoue

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VISÕES SOBRE O SUS NA CIDADE

PÁGINA 4CHARGE

PÁGINA 7

Ombudsman estréia sua coluna.PÁGINA 1

47ª COBEM - Curitiba 2009PÁGINA 2

Qual o perfil de médico que a UFSCar quer formar?PÁGINA 5

Nova coluna MascarenhasPÁGINA 7

A Rede Escola de Cuidados à saude:A implantação do curso de Medicina na UFSCar representa a viabilização de uma nova fase no modelo de ensino médico. Tenta-se sair do modelo tradicional de ensino, baseado no Relatório Flexner de 1910, conhecido também como modelo-biomédico, fundamentado no ensino das ciências básicas e hospitalocêntrico, para um modelo no qual a multicausalidade das doenças e a prevenção e a promoção de saúde ficam em destaque.(...) PÁGINA 2

4ª Conferência Municipal de Saúde. Com o tema “A Estratégia de Saúde da Família: O SUS que temos e o SUS que queremos” foi realizada nos dias 27, 28 e 29 de novembro de 2009 a 4ª Conferência Municipal de Saúde de São Carlos(...) PÁGINA 3

Inserção do estudante na rede e o usuário do sistema A inserção de estudantes na Rede de Saúde ainda gera muita polêmica. Até onde isso é usado para o aprendizado dos alunos e até onde traz benefícios aos pacientes? (...) PÁGINA 5

Em uma quinta-feira à tarde, Cláudio

Rondon, 57 anos, acolheu-nos em sua residência no bairro Maria Stella Fagá para essa entrevista. Sentados em sua sala, conversamos sobre a visão dos usuários do SUS a respeito da inserção discente na Rede-Escola. Participante ativo das instituições que debatem a saúde(...) PÁGINA 6

TERÇA EM DOBRO NO TREM BÃO AVENIDA!!!!

ESTUDANTES REFLETEM

SOBRE O SUS

SÃO CARLENSEALUNOS REUNIDOS DURANTE A PARALISAÇÃO DAS ATIVIDADES DE GRADUAÇÃO

Foto: César Setoue

A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 01

EDITORIAL

“Esse é tempo de partido,tempo de homens partidos.”

Gostaria de poder manter neste editorial o tom de otimismo da edição passada, mas infelizmente isto não será possível, pois vivemos um momento complicado no curso, momento em que tivemos de

adiar uma edição do jornal, a graduação, nossos sonhos, para poder brigar por aquilo que nos é de direito, justo e legítimo.

“Calo-me, espero, decifro.As coisas talvez melhorem.São tão fortes as coisas!Mas eu não sou as coisas e me revolto.”

Tí n h a m o s u m a e d i ç ã o p r o n t a para sair,

que tinha como eixo central a inserção dos estudantes na Rede-Escola de cuidados à saúde, uma discussão pluralista e multidisciplinar, mas que não conseguiria refletir a situação atual vivida pelos estudantes. A questão financeira foi um grande entrave também, o Centro Acadêmico não teria caixa para financiar duas edições em um período de tempo muito curto

e publicar uma versão online fugiria da proposta original do A ESPIRAL. Então, após muita argumentação e reflexão, a coordenação de imprensa do CAMSA decidiu por modificar a edição e publicá-la posteriormente.

Alguns comentários sobre a edição passada diziam que estava pouco crítica, mas não houve qualquer tipo de orientação neste sentido, todos os colaboradores tiveram total liberdade para escrever o

que pensavam, nenhum texto foi editado, sequer os autores dos textos conversaram entre si antes de enviá-los ao jornal. O resultado apenas refletiu aquilo que nos faz hoje se levantar e dizer CHEGA.“Esse é tempo de divisas,tempo de gente cortada.De mãos viajando sem braços,obscenos gestos avulsos.”

Desta maneira, chegamos a esta edição, finalizada após a paralisação das atividades de graduação pelos estudantes da Medicina UFSCar. Foi construída a partir de reflexões que permeavam a

pauta passada e os primeiros textos produzidos após a paralisação dos estudantes, sem pensar em uma ordem cronológica, apenas pensando que um texto complementa o outro.

Hoje o otimismo pode não ser o mesmo da primeira edição, mas a vontade e a força para atuar como atores da transformação da realidade vigente continua para todos aqueles que

participam do A ESPIRAL, como também para todos aqueles que fazem parte da MEDICINA UFSCar.

“E continuamos. É tempo de muletas.Tempo de mortos faladorese velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,mas ainda é tempo de viver e contar.Certas histórias não se perderam.”Carlos Drummond de Andrade, Nosso Tempo.

Uma boa leitura para todos e obrigado.

Rafael Pivovar de Camargo Rosa é editor do A ESPIRAL, Coordenador Científico do

CAMSA e estudante do segundo ano - Turma III. [email protected]

OMBUDSMANPrimeira Edição: “A ESPIRAL”

Hoje – será dessa vez? – é um dia de muita alegria para a Medicina Federal, pois nosso bebê de papel completa um

mês de circulação. “A Espiral”, uma conquista dos estudantes, após muita luta e articulação, enfim, dá as caras à UFSCar apresentando tudo que nos envolve no meio médico e acadêmico.

Questiono se será dessa vez nossa honrosa aparição, não apenas pelas dificuldades já habituais, mas mesmo pela presença

em coluna de nosso “querido” (será tão querido?!) “Ombusdman”, digo ombudsman, na segunda edição do jornal. Enfim, se está lendo essa coluna é porque não me cortaram do jornal, ainda!

É certo que tudo o que fazemos ou construímos dentro do curso apresenta algumas dificuldades e, como já era esperado, aqui na Espiral

não seria diferente. Fascinei-me com as colunas da primeira edição e com a maturidade dos textos, muito bem escritos pelos nossos colunistas. No entanto, os leitores um pouco mais atentos, notaram que havia algo de estranho.

Ao longo do mês, perguntei a opinião de vários colegas leitores, os quais criticaram um aspecto importantíssimo da edição: o formato.

Ao ler o jornal, sofri nas mãos do tema que o circundava, o tema incansável, a nova síntese interminável: a Medicina UFSCar. A solução de nossos editores para uma primeira aparição foi ótima e até esperada, já que esse foi nosso

início, a pedra fundamental que se uniu à chegada dos calouros. Contudo, atar as mãos de nós, colunistas, com uma temática extensa, quase única, dificulta nosso trabalho e o interesse dos leitores.

Acredito fortemente que a primeira edição tomou sua devida proporção e atingiu os leitores

que nos interessavam. No entanto, não há dúvidas de que muitos ficaram menos encorajados em ao menos pincelar nossas páginas devido a uma temática densa, sem maiores alternativas.

Bom, eu estou terminando de ler o jornal e não poderia deixar de apontar a tão sábia homenagem prestada ao Professor Humberto, com a

qual concordo totalmente, assim como

vários de nossos leitores.

Enfim, agora vou parar de puxar a menos nobre das partes orientais de nosso amável professor (sei que o leitor achou isso!) para

resolver outro problema oriental, “o sudoku”. Pelo menos, nesse aspecto, ainda posso desencanar um pouco da Medicina.

Opa! Mas, mas (...) tem alguma coisa errada?! Quantos três (...) Muito amor a todos,

José Luís Teixeira Filho é Ombudsman do Jornal Acadêmico e estudante

do quarto ano - Turma I. [email protected]

Edição Finalizada em: 04/12/09Edição: José Roberto Cordebello Júnior e Rafael Pivovar de Camargo Rosa - Tiragem: 1.000 exemplaresColaboradores: Edson Fagá (TII), Fernanda Paixão (TI), Hugo Tadeu Amareal (TII), José Luís Teixeira Filho (TI), Raíssa Pavone Gomes, Marcos Antônio Francisco (TI), César Setoue (TI), Leandro P. (TII), Vinícius Campos (TII), Montanha(TIII), Raphaela Moreira (TII), Eric Drizlionoks(TIII).

Participe da próxima edição, mande sua coluna para: [email protected]

Centro Acadêmico Medicina Sérgio Arouca - Gestão Florestan

Fernandes 2008/2009

Foto: César Setoue

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A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 02

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O que aconteceu no COBEM 2009?Durante os dias 17 a 20 de outubro aconteceu

o COBEM, o Congresso Brasileiro de Educação Médica, na cidade de Curitiba. Na sua 47ª edição, o tema escolhido foi

“O SUS COMO ESCOLA”, que foi reflexo de uma necessidade crescente de discutir e propor soluções para a inserção do aluno no sistema público de saúde, que ainda encontra-se muito precarizada na maioria das Escolas de Medicina do Brasil.

O ambiente do Congresso é traduzido por uma enorme troca de experiências entre alunos e professores de diferentes regiões do Brasil. Em particular neste ano,

recordes foram quebrados. Houve a presença de 178 escolas médicas, dentre elas a nossa querida UFSCar que foi grandiosamente representada por mim e pelo nosso colega de curso Hugo Tadeu Amaral (TII). A produção científica do congresso contou com a apresentação de 1175 painéis, sendo estes escolhidos de um número inicial de 1640 trabalhos. Outro destaque foi o número de atividades, tais como oficinas, plenárias, cursos, fóruns, grupos de simulação e apresentações orais. Normalmente havia mais de 15 atividades simultâneas. Havia também grande qualidade dos palestrantes, destacando-se entre eles a notável presença de Madalena Patricio, presidente da AMEE (Association for Medical Education in Europe).

Vale destacar também a presença de discentes como palestrantes e o estímulo às discussões de variados temas atuais relacionados ao ensino médico, como a nova Lei dos Estágios.

A DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) marcou presença, em especial no seu ato simbólico contra a privatização da saúde no Brasil – que

consistiu em cobrir a palavra Unimed do teatro positivo, o qual tinha este nome coincidentemente. Houve certa confusão e a situação entre a ABEM (Associação Brasileira de Educação Médica) e a Direção Executiva ficou delicada. Segundo os coordenadores do evento, não existiu patrocínio algum da Unimed ao evento, o teatro apenas tinha este nome. O fato é que estávamos discutindo o SUS num espaço chamado Unimed.

Durante o Conselho da ABEM, onde vários assuntos foram votados e deliberados, não podemos deixar de comentar sobre um ilustre episódio: os coordenadores

da mesa, numa situação desastrosa, tentavam

votar como seria o aumento das anuidades para os sócios da ABEM, recebendo uma série de sugestões da platéia tornando o clima tenso, pois algumas sugestões claramente prejudicavam os alunos. Eis que surge o nosso colega Hugo com sua proposta de organizar a votação, fruto de suas experiências com o maior organizador de discussões do Brasil – o aluno Vinicius de Campos Molla (TII) também da UFSCar. Com sua proposta, recebeu uma salva de palmas da platéia. A proposta foi acatada pelo então 2º vice-presidente da ABEM, que tentou ridicularizá-lo depois.

Concluindo, o congresso é uma experiência obrigatória para qualquer aluno de Medicina. Há a celebre frase “aqueles que deveriam estar aqui não estão”. O COBEM

além de uma ótima oportunidade de integração com outras escolas médicas, atualização, e percepção dos movimentos políticos que envolvem o mundo médico, também é um ótimo espaço para o aprendizado científico.

Eric Drizlionoks é colaborador do A Espiral e estudante do segundo ano - Turma III.

[email protected]

Rede-Escola: entendendo o passado, para entender o presente e fazer o futuroA implantação do Curso de

Medicina da UFSCar representa a viabilização de uma nova fase no modelo de

ensino médico. Tenta-se sair do modelo tradicional de ensino, baseado no Relatório Flexner de 1910, conhecido também como modelo-biomédico, fundamentado no ensino das ciências básicas e hospitalocêntrico, para um modelo no qual a multicausalidade das doenças e a prevenção e a promoção de saúde ficam em destaque.

Com os avanços tecnológicos ao longo de 1910 até a década de 1970, os fatores ambientais, os estilos de

vida e como as pessoas fazem uso do serviço de saúde foram reconhecidos como determinantes importantes no Processo de saúde-doença . A evolução do conhecimento fez com que a saúde do ser humano passasse a ser entendida através da uma visão de integralidade, na qual se busca abordar não só uma perspectiva biológica, mas também o psicossocial. O ponto de inflexão para essas mudanças foi o lançamento do Relatório Lalonde em 1974.

Em uma Conferência Internacional da OMS, em Alma-Ata 1978, que foi reforçada a necessidade

de uma Atenção Primária à Saúde forte, devidamente estruturada e que cuidasse da saúde dos pacientes sob a ótica da integralidade, onde se busca realizar a prevenção e a promoção da saúde. Esse novo modelo de saúde proposto exigia, portanto, que os profissionais formados na área da saúde saíssem devidamente aptos para atuarem nesse novo sistema de saúde.

Surgiu então na década de 1980 a Declaração de Edimburgo, durante uma reunião da Federação Mundial de Educação

Médica, onde foram apontadas as diretivas para que essa nova “formação médica” acontecesse baseada principalmente na articulação Escola e Serviços de saúde. Entenda que quando os estudantes do curso de medicina da UFSCar são inseridos no SUS de São Carlos, certamente essa Declaração teve uma grande contribuição.

Ademais dessa evolução do ensino médico, o próprio sistema de saúde foi se alterando ao longo do tempo.

O SUS é relativamente “jovem”, fruto da

Constituição de 1988 e da Lei Orgânica 8080 de 19 90, e tem como

princípios ideológicos a universalidade , entendida

como a saúde sendo um direito de todos,

a integralidade sendo a saúde uma relação biopsicossocial; e a

equidade , que garante a todas as pessoas o acesso ao sistema de saúde, sem

distinções de qualquer natureza.

Surgiram outros princípios ideológicos, que são pouco lembrados, como o controle Social bem como outro que

está na Constituição Federal: o SUS é o responsável por ordenar a formação dos profissionais da saúde. O SUS

deve ser a nossa escola, porém nós é que temos o compromisso social por aprimorar o seu desenvolvimento científico e tecnológico.

Porém, esse modelo ia de encontro ao modelo de formação que os profissionais estavam recebendo ao longo da

sua formação. Em suma, para usar uma analogia, é a mesma coisa que assarmos um bolo em uma assadeira quadrada para servi-lo em uma bandeja redonda. O profissional estava sendo formado em um modelo quadrado, como fazer para que trabalhasse “redondo” durante a sua vida profissional em um sistema para o qual não foi preparado?

No Brasil, esse passo para facilitar o “encaixe” do profissional na prática após sua formação culminou com a

construção das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Medicina em 2001, após muitas discussões entre diversos órgãos responsáveis por regular e coordenar a formação de recursos humanos em saúde. O curso de medicina da UFSCar nasceu logo após essas novas Diretrizes, sempre objetivando alcançar o que é preconizado nos diversos fóruns, nacionais e mundiais de discussão em educação médica.

Pode-se falar que o curso é moderno , pois busca firmar uma Parceria com o SUS local e nele, e para ele, forma os

seus médicos. Desde cedo, o futuro médico já entra em contato com a realidade do SUS de São Carlos, e por qual motivo não falar também, de parte da sociedade brasileira. (?) Desde o início desse contato, o estudante busca sempre ser ético, crítico, reflexivo, humanista e tenta entender as principais necessidades

do local onde está inserido. Com esse processo de aprendizagem baseado em uma metodologia ativa na busca por novos conhecimentos, o estudante tem autonomia para sempre se manter atualizado mesmo depois após deixar os muros da universidade.

O processo se completa quando o SUS, além de ficar responsável por receber os estudantes dessa parceria,

ou seja, ser escola, é imprescindível que se faça escola e assuma suas responsabilidades como formador de recursos humanos em saúde. Em São Carlos o SUS, no qual somos inseridos é chamado por Rede Escola , ou seja, é Rede de Saúde e ao mesmo tempo é uma escola, onde o estudante aprende e desenvolve o SUS. Os locais onde somos inseridos até o momento são as Unidades Básicas de Saúde (USFs e UBSs) e, com o tempo, espera-se que avancemos também nos outros serviços especializados, chegando até o Hospital Escola.

Outros colegas nessa edição irão escrever sobre o qual motivo de estarmos nesses locais, inclusive a própria população

vai manifestar quais benefícios de ser atendida por nós estudantes quando nos encontra pelas diversas Unidades de Saúde. Espero que aprecie a leitura dessa edição e entenda a ‘revolução” na área da saúde e no ensino médico que está acontecendo em São Carlos.

José Roberto Cordebello Júnior Coordenador de Imprensa do

CAMSA estudante do Terceiro Ano -

Turma [email protected]

A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 03

CONFERÊNCIA MUNICIPAL

Cópias e Encardenações

Rua 9 De Julho, 1059(16) 3371-5071 / Fax: 3413-4147

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O SUS que temos e o SUS que queremos Com o tema “A Estratégia de

Saúde da Família: O SUS que temos e o SUS que queremos” foi realizada nos dias 27,

28 e 29 de novembro de 2009 a 4ª Conferência Municipal de Saúde de São Carlos. Antecederam a realização da conferência, meses de preparação e dedicação por parte da comissão organizadora, as discussões realizadas no Conselho Municipal de Saúde (CMS) e as nove pré-conferências de saúde, que aconteceram nos bairros Cidade Aracy, Vila Isabel, Redenção, Vila Nery, Maria Stela Fagá, Santa Felícia, Parque Delta e nos distritos de Água Vermelha e Santa Eudóxia, além da pré-conferência temática sobre controle social que discutiu a “Participação popular na construção do SUS”.

Com o objetivo de construir os rumos da política de saúde de São Carlos, a conferência tem o papel de construir e

aprovar propostas apresentadas pelos participants. Assim, o CMS poderá, em caráter permanente e deliberativo, atuar na formulação de estratégias e no controle da execução das políticas formuladas pela Secretária Municipal de Saúde, em conformidade com aquelas propostas e diretrizes aprovadas na conferência.

Na noite da quinta-feira, dia 27, ocorreu a solenidade de abertura que contou com expressiva participação

de usuários, trabalhadores da saúde, gestores, membros dos conselhos gestores locais de saúde e do conselho municipal de saúde, além de alguns diretores e secretários de saúde de cidades da região. Para compor a mesa de abertura foram convidados o prefeito Oswaldo Barba, o vice-prefeito Emerson Leal, o presidente da Câmara Municipal, Lineu Navarro, o vereador Normando Lima, o secretário municipal de Saúde Arthur Pereira, Vera Zambom representante do Departamento Regional de Saúde de Araraquara e a consultora técnica do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde Patricia Chueiri, palestrante da noite. Com uma apresentação cativante, a médica Patrícia pode traduzir para os presentes um pouco das discussões mundiais sobre os sistemas de saúde nacionais que mostram um consenso em construir redes fortalecidas de atenção primária à saúde (APS). Também pontuou as vantagens do modelo brasileiro de APS, a estratégia de saúde da família (ESF) e apontou os avanços que ocorreram no na forma de cuidado prestada à

população: deslocamento do cuidado centrado na doença para o cuidado centrado na pessoa, abordagem multidisciplinar, transferência do olhar restrito ao indivíduo para a família e a comunidade, a atuação dos agentes comunitários de saúde (ACS), a responsabilização por um território e a reordenação do sistema de saúde.

No dia seguinte, sexta-feira, dia 28 foi aprovado o regimento da conferência, apresentada as diretrizes

do plano municipal de saúde para os próximos quatro anos e feita uma avaliação do relatório da conferência anterior com a apresentação das propostas que foram realizadas,

realizadas parcialmente ou não realizadas.

Das propostas da 3ª Conferência, realizada

no ano de 2007, 20 foram consideradas realizadas,

48 parcialmente realizadas e 31 consideradas não

realizadas.

Além disso, foi pontuado que as propostas muitas vezes continham diversas ações em um mesmo texto,

o que levou a classificá-las como parcialmente realizada embora muita ações não tenham sido efetivamente concretizadas. Esses números indicam um percentual elevado de propostas que não foram totalmente realizadas durante estes dois anos.

Já no sábado, dia 29, os trabalhos atravessaram o dia e contou-se com a presença de gestores, usuários, trabalhadores,

residentes multiprofissionais e um poucos estudantes de graduação. No período da manhã quatro grupos de trabalho discutiram as temáticas do controle social, do processo de trabalho das equipes e da organização dos serviços de saúde, do fortalecimento da rede escola e da intersetoralidade e de programas de saúde, das políticas e estratégias, e da implantação e reestruturação de unidades de saúde. As discussões tiveram como base as propostas apresentadas durante a realização das pré-conferências de saúde.

Durante o almoço, tive a oportunidade de ter uma agradável conversa com os ACS da Unidade de Saúde

da Família (USF) da Cidade Aracy que me mostraram as dificuldades que estes trabalhadores possuem em desempenhar suas funções, uma vez que as equipes não contam com um funcionário responsável pela recepção e marcação de consultas, entre outros pequenos serviços de administração, o que faz com que, ao invés de realizarem visitas nas casas das pessoas tenham que passar mais de metade do tempo de trabalho realizando funções administrativas dentro da USF.

Pela tarde, foi realizada a plenária da conferência com a leitura das propostas trabalhadas pelos grupos.

Após a apresentação de cada grupo, os destaques foram discutidos pelos presentes num ambiente de respeito e proveitosa discussão que mostraram que os caminhos para a estruturação do SUS que queremos podem e devem passar pela ampla discussão de todas

as representações envolvidas com o sistema único de saúde. Ao final alguns dos participantes parabenizaram a organização e os trabalhos do evento. Destaco as palavras da administradora do ARES Vila Isabel, Fátima, que lembrou e elogiou os trabalhos da Professora Marilda Siriani frente ao antigo departamento de atenção básica que foram fundamentais para as mudanças que estão em curso no SUS de São Carlos.

Tendo sido contabilizado cerca de 250 participantes nos seus três dias de realização, a 4ª Conferência Municipal

de Saúde conseguiu atingir os seus objetivos e é um reflexo das mudanças no SUS de São Carlos que, se ainda não suficientes, mostram-se promissoras. Cabe agora que a sociedade, usuários, gestores, residentes, estudantes e em especial os conselhos gestores e municipal de saúde exerçam seu papel de controle sobre a execução das propostas aprovadas pela prefeitura e secretaria municipal de saúde.

Chamou-me a atenção a pouca participação de docentes da UFSCar. Pude perceber a presença de docentes da

enfermagem, terapia ocupacional e do curso de medicina estava presente apenas um docente. Como a UFSCar quer construir uma Rede Escola, fazer transformações no cuidado prestado à população, qualificar o SUS de São Carlos e formar profissionais através do SUS e para o SUS, se não estiveram presentes durante a conferência? Também pude perceber a baixíssima participação de médicos durante todo o processo.

E por fim, quero enviar uma mensagem aos meus colegas estudantes do curso de medicina, que realizaram

no meio deste ano, um movimento de paralisação que durou 67 dias e pregou a luta pela consolidação da Rede Escola de Cuidados a Saúde de São Carlos e pela estruturação do Sistema Único de Saúde. Vendo que apenas eu e mais um estudante do total de 158 estiveram presentes durante todos os dias da conferência, fica a pergunta se o nosso não foi um movimento de paralisação vazio que se limitou a um momento de dificuldade no processo de implantação do curso.

Hugo Amaral é Coordenador Geral do CAMSA e

estudante do terceiro ano - [email protected]

A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 04

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DE SAÚDE 2009 - SC/SPO SUS São Carlense caminha para concretizar as conquistas de 88O Sistema Único

de Saúde (SUS) é constituído pelo conjunto das ações e serviços de saúde

sob gestão pública.

Está organizado em redes regionalizadas

e hierarquizadas e atua em todo o

território nacional, com direção única em cada esfera de governo, através

de um atendimento integral.

Prioriza atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços em todos os níveis de assistência e com a

participação da comunidade.

O artigo 196 da constituição de 1988 cita que “a saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” . 1

A realidade dos moradores de São Carlos contempla essas propostas?Em nosso município, existe uma preocupação com a hierarquia de serviços e trabalha-se a proposta de promoção e prevenção em saúde e atendimento integral aos pacientes. Entretanto, ainda existem muitas arestas que precisam ser aparadas e o município precisa vivenciar muitas mudanças, como novas contratações, medidas emergenciais e a longo prazo, para alcançar a idéia preconizada pela Constituição de 88.

A proposta adotada no município de São Carlos desde 1998 baseia-se na Estratégia Saúde da Família.

Nesse contexto, pretende-se oferecer à população um atendimento não centrado apenas no médico, mas em uma equipe multidisciplinar, responsável pelo cuidado, sediado nas Unidades de Saúde da Família (USFs), que deveriam representar a principal porta de entrada da população para o serviço de saúde.

No entanto, São Carlos ainda apresenta uma estrutura física e profissional insuficiente para o atendimento integral de toda a

população.

Assim, podemos encontrar usuários sem acesso direto ao serviço, os quais acabam tendo seu primeiro contato com o SUS, nas Unidades de Pronto Atendimento ou no Hospital Escola (HE), em situações de Urgência e Emergência, por não terem recebido o r i e n t a ç õ e s e cuidados p r e v e n t i v o s m i n i s t r a d o s pelas USF´s ou Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de sua região.

Al é m d i s s o , e m muitas

c i r c u n s t â n c i a s , podemos afirmar que o atendimento aos pacientes em nosso serviço de saúde não é integral, nos vários níveis de cuidado. Isso acontece devido à falta de conhecimento de muitos dos trabalhadores empregados no SUS local, que ainda estão centrados na lógica do cuidado da doença em sua dimensão orgânica.

Por parte do profissional em

saúde, não é levada em consideração

a natureza biopsicossocial do paciente, que vive

em um determinado contexto social

e cultural, o qual precisa ser bem

analisado na hora em que se

realiza um cuidado individualizado.

A proposta atual do município visa à ampliação da Atenção Primária à Saúde, baseada

no cuidado multiprofissional, com o objetivo de se prevenir doenças, evitar agravos, curar afecções agudas de menor complexidade e acompanhar o diagnóstico precoce e o cuidado com doenças crônicas.

Prega-se, também, uma maior vigilância

epidemiológica nas unidades de

saúde através da identificação,

tratamento e notificação de

doenças infecciosas, além da abordagem

de contextos específicos, como abuso de álcool e drogas, violência

doméstica e sexual, desemprego, entre

outros.

Todo esse cuidado deve ser iniciado, nas USFs através de um atendimento qualificado que

recebe apoio de especialistas localizados em outros núcleos, como o Centro Municipal de Especialidades (CEME), Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), Núcleo Integrado de Saúde (NIS) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Existe uma preocupação crescente em relação à contrar-referência desses pacientes para que exista diálogo entre os diversos profissionais que lhes dispensam cuidados.

Investimentos cada vez maiores têm sido feitos no Programa Saúde da Família (PSF), como o aumento do número de

Unidades de Saúde da Família (USFs) e contratações de profissionais comprometidos com a nova lógica de cuidado integral. Segundo o acessor de Planejamento da Secretaria Municipal de Saúde, Natanael Alves da Silva, a implantação dos Núcleos de Apoio à Saúde e à Família (NASFs) e a qualificação humana e material das USFs, para o atendimento de emergências também são projetos encaminhados ao Ministério da Saúde.

Assim, podemos perceber que o SUS local está mudando e caminhando para a concretização das

Propostas da Constituição de 88. No entanto, muitas outras transformações ainda precisam acontecer, à custa de muito trabalho,

para que essas propostas se tornem, definitivamente, uma realidade. 1- CONASS: Coleção Pro - gestores para entender a gestão do SUS- Brasília 2007- 1 EdiçãoApoio Assessoria de planejamento SMS: Natanael Alves da Silva

Fernanda Paixão Silveira Bello e Marcos Antônio Francisco são

Colaboradores do Jornal Acadêmico e estudantes

do quarto ano - Turma I. pitanguinhajoanerd@

hotmail.com

Foto: Montanha

Foto: José Roberto Cordebello

A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 05

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Qual o perfil de médico que a UFSCar quer formar?Todos os estudantes

de medicina, em algum grau e em algum momento, i m a g i n a r a m - s e

no futuro, atuando como médicos. É justamente nessa fantasia em que costumam se perguntar: “afinal, que tipo de médico eu vou ser?”

Alguns não têm idéia do que aguardar

para o futuro, enquanto outros

estão determinados, como se fossem predestinados, a seguir uma dada especialidade.

No entanto, c o n f o r m e avançamos pelo curso e vivemos as experiências da

prática Médica, notamos que, a todo o momento, nossas crenças são colocadas à prova. Assim, a área de especialização lato sensu é, para a grande maioria dos estudantes de Medicina, uma incógnita que permeia todo o curso de graduação, podendo ainda existir por vários anos após a formatura.

Podemos pensar em várias teorias que podem explicar essa hesitação por parte dos estudantes,

como, por exemplo, o pouco

contato com as especialidades médicas nos primeiros anos da graduação e a imensa responsabilidade de escolher, com todas as consequências, como seu futuro profissional será traçado. Somado a isso, temos ainda a maior valorização do médico que atua como especialista em relação ao que atua como generalista dentro da cultura e da estrutura de ensino e da prática no Brasil. Dessa forma, uma das poucas certezas que a maioria dos estudantes de Medicina tem, apesar de toda a incerteza que envolve este assunto, é que terá que se especializar ao final do curso de graduação. Levando tudo isso em conta, uma dúvida ainda teima em me perturbar: “a Medicina é feita, portanto, por especialistas?”

Através da observação do dia-a-dia dos serviços de saúde nos quais estou inserido e

da reflexão sobre as minhas experiências práticas, eu pude chegar a uma conclusão a esse respeito: a medicina é feita por médicos. Apesar de sua obviedade, eu notei que, em muitas situações, minha tese não se aplica à realidade, seja por falha na formação acadêmica ou no modelo de atenção à saúde – para exemplificar, posso citar o alarmante índice de 61,4% de reprovação no

Exame do Cremesp de 2008; e o modelo hospital-centrado predominante no país. Assim, através da ação sinérgica desses fatores, senti-me respaldado a pensar que a academia e a prática da medicina induzem à formação de especialistas, ao invés de médicos generalistas competentes.

Em outras palavras, percebi que existem muitos profissionais com conhecimento a l t a m e n t e

especializado que, quando se deparam com patologias de alta prevalência, como diabetes e hipertensão, pecam na formulação de um raciocínio clínico coerente, na abordagem terapêutica e/ou na realização de técnicas básicas de exame clínico, principalmente as que envolvem a relação médico-paciente. Como consequências desse fenômeno, podemos ainda citar a despersonificação do paciente, que passa a ser visto, por exemplo, como um coração, um fígado ou um rim doente, de acordo com o especialista que o atende, ao invés de ser considerado como um todo biopsicossocial; e o “conluio do anonimato”, ou seja, a diminuição da responsabilização do médico em relação ao cuidado do seu paciente quando este cuidado é compartilhado com outros médicos. Devo ressaltar que conto com a

sorte de ter bons preceptores que, apesar de especialistas, são bons generalistas. Isso me permitiu comparar o atendimento dos vários médicos que se envolveram no cuidado dos meus pacientes, principalmente daqueles que trabalham no sistema de referência e contra-referência, e, baseado na literatura e na resolutividade de cada um, pude chegas às minhas conclusões.

A minha tese, por sua vez, fez-me questionar também se não há uma solução para

tal situação, já que minhas expectativas para o futuro não contemplavam trabalhar em um contexto como esse. Então, com um pouco de pesquisa e um mais um tanto de observação, reparei que, apesar de toda a resistência, existe um movimento de reformulação tanto do ensino como da prática da medicina no Brasil, buscando restabelecer o equilíbrio entre especialidade/generalidade e aprimorando o cuidado ao paciente. Apesar de tímidas, as mudanças curriculares dos mais tradicionais cursos de medicina refletem a necessidade em resgatar o objetivo primordial da graduação, que é formar médicos generalistas competentes, através de um contato mais precoce e mais

completo com as três atenções em saúde. Além disso, a implantação do Programa Saúde da Família foi o primeiro passo de uma longa caminhada que pretende tirar o foco da atenção centrada em procedimentos e recolocá-la naquela centrada ao paciente, através de, entre outras coisas, a criação de equipes de referência e apoio matricial especializado, o que visa harmonizar a atuação do médico como especialista e como generalista – para compreender melhor o que quero dizer, sugiro a leitura dos textos do Prof. Dr. Gastão Wagner de Sousa Campos, Professor Titular de Medicina Preventiva da UNICAMP sobre esse assunto.

Levando toda essa reflexão em conta, a dúvida sobre qual especialidade seguirei tornou-se

secundária no contexto de minha formação, pois estou convicto que é principalmente a qualidade da minha graduação que definirá que tipo de médico que serei no futuro: bom ou ruim.

Edison Antonio de Al-meida Prado Fagá é

Colaborador do Jornal Acadêmico e estudante

do terceiro ano - Turma II. edison.apfaga@terra.

com.br

Quais são os benefícios para a população com a inserção dos estudantes?A inserção de estudantes no SUS ainda

gera muita polêmica. Até onde isso é usado para o aprendizado dos estudantes e até onde traz benefícios aos pacientes? A UFSCar vem propondo

mudanças e incluindo novos cenários de aprendizagem na graduação, com o objetivo de integrar os estudantes com a população e modificar a realidade em que se inserem. A interação do aprendiz com a vivência prática da profissão busca incentivar o vínculo e a responsabilidade com a comunidade.

Todo estudante de medicina, em algum momento de sua formação, deve entrar em contato com pacientes para se tornar médico. Entretanto, durante a graduação, toda atividade prática deve

ser supervisionada e, na UFSCar, os acadêmicos ainda realizam treinamentos com atores, bonecos e cadáveres para aprimorar técnicas e garantir maior segurança aos estudantes e pacientes. Nas unidades de saúde, os estudantes desenvolvem treinamento no cuidado às necessidades individuais e coletivas e na organização e gestão do trabalho em saúde.

Em uma avaliação qualitativa feita pelos usuários do serviço de saúde, o padrão de excelência foi maior no atendimento prestado pelo graduando supervisionado quando comparado

ao feito exclusivamente pelo médico. Talvez uma explicação para este fato seja a de que os acadêmicos dispensam maior tempo e atenção e possuem maior motivação para aprender e ser útil a cada paciente. Já os profissionais médicos, em decorrência do desgaste natural, diário, buscam a resolutividade rápida dos problemas e, às vezes, acabam, dessa forma, não atendendo completamente os interesses dos pacientes. Além disso, a baixa remuneração e a carga horária excessiva determinam a procura por múltiplos empregos, agravando ainda mais o atendimento médico do profissional em comparação ao dos acadêmicos.

Até mesmo os procedimentos e o exame físico realizados por acadêmicos são melhores avaliados pelos pacientes. Isso ocorre não só devido ao desgaste do médico e sua falta de tempo, mas por eles

usarem da experiência e já se guiarem para um exame mais específico e direto, ao contrário do acadêmico,

que realiza um exame mais minucioso e completo que pode levar a achados sutis, porém muitas vezes relevantes e que determinam maior confiança do paciente em relação ao profissional da saúde ali presente. O acadêmico ainda costuma ser mais enfático nas orientações ao paciente e usa uma linguagem mais simples, clara e acessível, facilitando o seu entendimento e aumentando sua satisfação com a consulta.

Com o objetivo de formar médicos com esse perfil diferenciado, a graduação médica na UFSCar é voltada para fazer, na vida acadêmica, o que se espera que aconteça fora dela. Assim, pretende-se formar

profissionais que compreendam mais a realidade dos seus pacientes. Os ganhos não são apenas acadêmicos, mas alcançam na população todas as intervenções de prevenção, cura, reabilitação, para a promoção da sua saúde.

Raissa Pavoni Gomes é Colaboradora do Jornal Acadêmico e estu-dante do segundo ano - Turma III. edison.

[email protected]

Veja outros textos online em: www.ufscar.br/camsa

A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 06

ANUNCIE AQUI: [email protected]

Entrevista Cláudio Rondon

Em uma quinta-feira à tarde, Cláudio Rondon, 57 anos, acolheu-nos em

sua residência no bairro Maria Stella Fagá na cidade de São Carlos/SP para essa entrevista.

Sentados em sua sala, conversamos sobre a visão dos usuários do SUS a respeito da inserção dos estudantes na

Rede-Escola.

Participante ativo dos fóruns que debatem a saúde de São Carlos, entre

elas, o Conselho Municipal de Saúde, consideramo-lo importante ator para pensarmos sobre o tema da Rede Escola de Cuidados à Saúde em São Carlos.

Cláudio conta que em sua família sempre estiveram presentes os

movimentos de liderança. Assim, desde cedo ele adquiriu interesse em movimentos sociais. Durante sua graduação em Administração, participou do Diretório Acadêmico. Enquanto um dos

primeiros moradores de

seu bairro, ajudou a fundar a Associação de Moradores, passo fundamental para a construção do Fagá: “foi uma luta danada para fazer a igreja, trazer a linha de ônibus, o asfalto (...)”.

Através dela, ele entrou em contato com as reuniões municipais que

discutiam os assuntos relevantes de São Carlos, entre eles, a Saúde: “o problema é a saúde (rindo)”. Após a Conferência Municipal de Saúde (entidade que pauta as ações futuras na Saúde), tornou-se gestor local do PSF.

Qual foi a reação da população quando o plano da Rede-Escola foi apresentado?

Essa é uma história muito legal. Na pré-conferência, anterior à 3ª

Conferência Municipal de Saúde, o professor Rubens Rebellato, da UFSCar, apresentou a idéia à população. No começo, todo mundo assustou. Pensamos: “SUS tem 20

anos e não toma juízo.

É outro sonho, isso não vai acontecer”. Era uma idéia muito diferente, os ideais de Humanização, a inserção do estudante. Tudo novo. Parecia muito milagre para um santo só.

E hoje, como a população vê a Rede Escola?

A população aceita muito bem. Os a t e n d i m e n t o s m e l h o r a r a m

muito. O PSF sem a Rede-Escola, já era um sistema e tanto. A vinda dela significou uma repetição do sonho do SUS. Se ela for retirada, vai fazer falta. A política do PSF trouxe modificações claras no atendimento. A USF transmite um ambiente acolhedor, de amizade.

Por exemplo, a n t i g a m e n t e na UBS a gente chegava para uma

consulta e o recepcionista logo nos falava: “Qual o seu nome?” (tom ríspido). Dava vontade de dizer: “Calma, eu vim aqui só falar bom dia e já estou de saída”.

Hoje, na USF, temos acesso a toda uma equipe matricial, com psicólogos, nutricionistas,

enfermeiros e outros profissionais.

Como a população vê o estudante na Rede Escola?

Antes existia um certo receio por parte da população. Eles

pensavam: “será que um estudante do segundo ano está apto para me atender?”. Hoje não é mais assim. As pessoas gostam de ser atendidas pelo estudante. Não se importam para a d iferença entre estudante de graduação, residentes e médicos formados. Entendem e respeitam o papel de cada um. Quando os estudantes ficam um tempo sem aparecer, a população sente falta.

Nós, estudantes de medicina, temos receio de os usuários acharem que estão sendo usados como cobaias, o que você percebe em relação a isso?

Percebemos dois m o v i m e n t o s políticos na cidade. Essa idéia de cobaia

surge principalmente nas

épocas eleitorais como um argumento que a oposição instiga na população. Mas como eu disse, eles vêem que os estudantes têm seu papel no atendimento e que ele traz maior atenção ao cuidado da saúde.

Quais críticas você faz para a atual estrutura da saúde em São Carlos?

O modelo de saúde que desejam adotar é excelente, mas

exige investimento. Percebo hoje uma falta de vontade política, o investimento é baixo. A gestão prometeu mais duas USFs para a região e até agora nada; existe uma casa alugada há tempos pela prefeitura para servir de sede a uma USF e até hoje está fechada.

Não há médico, pois os médicos estão preferindo outras

cidades, como Itirapina e Guarulhos, onde os salários são

bem maiores.

Toda verba do HE vem através da UFSCar ou do Ministério, o Estado não contribui e a prefeitura dá apenas uma parte. Acham que a porcentagem para a saúde é alta (atualmente é próxima a 30%), mas não é assim.

Aqui no Fagá, outro problema que percebo é que a USF atende mais

famílias do que a população adscrita no PSF. Isto se deve às mudanças de local que a USF sofreu, sempre precisando continuar a atender os diabéticos e hipertensos da área de cobertura anterior. Isso faz com que se demore um mês para conseguir uma consulta (Claudio referiu que antigamente se conseguia consulta de um dia para outro).

Leandro P. Lizareli e Raphaela Moreira são

Colaboradores do Jornal Acadêmico e

estudantes do terceiro an o - Turma II.

[email protected] e raphammmoreira@

gmail.com

Foto: Montanha

A ESPIRAL São Carlos, NOV/DEZ 09 07

Wizard IdiomasSão Carlos - SP

R. 15 de novembro, n° 1940Fone: 3372 3879Av. Dr. Teixeira de Barros, n° 1273Fone: 3375 7575

Olá, meus caros p r o f i s s i o n a i s da saúde e pretendentes ao posto.

Passaram-se longos meses desde que escrevi a última coluna e muito aconteceu dentro e

fora dos bastidores da saúde de São Carlos. Ah, os ventos de novos muros sopraram no Hospital-Escola e ergueu-se, da terra rossa são-carlense, uma grande estrutura metálica com a aparência certeira de algo que ficará pronto em menos tempo do que um senador precisa para comprar uma passagem aérea, a preço reduzido, para a Esteliolandia.

Claro que permanecerá uma

só pergunta: quanto tempo passará

entre a saída dos profissionais da construção civil e a entrada dos profissionais da

saúde?

Mas antes de tudo, foi-me imposto um tema. Apesar de eu mandar

na minha coluna, os editores da Espiral, na linha amena e argumentativa do governo chinês, entuxaram-me o tema da Rede – Enrola, perdão,

Rede - Escola. Afinal de contas, prevalece a rede ou a escola? A ter de exemplo, novamente, o Hospital - Escola. Após entrar para o Guiness (graças à Rede) como o segundo maior PS da América Latina, quebrando assim o paradigma de atenção terciária que se tentava implantar (graças à Escola) no município, sobressaiu-se a questão: qual será o “acordão” para os próximos módulos? Afinal de contas, se é necessário um encaminhamento para conseguir uma consulta no CEMe, como vai ser com os ambulatórios do HE?

Se houver uma inclinação ao

passado e forem utilizadas tendências

do projeto Pronto Socorro - Escola, os clínicos deitarão e rolarão de alegria,

afinal, haverá gente saindo pelo ladrão

na porta do HE para conseguir uma

chapa de pulmão ou uma dipirona; já os cirurgiões

se remoerão, pelo fato de que nunca houve, na história documentada da Medicina, quem

chegasse à porta de hospital e pedisse, a plenos pulmões, uma laparotomia

exploradora devido a sangue nas fezes.

Você viu as últimas novas do H1N1? Não? Te quiedas tranquillo. Após o número de notícias

aumentar, em quantidade e escabrosidade, mais rápido do que o número de casos confirmados, a H1N1 realizou o sonho de quase toda população brasileira que assiste à atual novela das oito: foi conhecer a Europa. Surpreendente ou não, ainda não houve nenhum notícia bombástica sobre essa nova, pouco fortuita imigrante por lá, há não ser que ela quase cancelou o Campeonato Francês de Futebol, mas até esse ponto, tudo bem, pois desde a aposentadoria de Zidane, questiona-se sobre a existência do futebol francês. Houve rumores de que ela faria uma escala nos EUA, mas, como quase tudo que tem origem na América Latina, ela também foi barrada.

É claro que não passou d e s a p e r c e b i d a a greve dos estudantes de

Medicina da UFSCar e, se você, cidadão sãocarlense, foi uma das pessoas que não sabia se aquilo se tratava de parte do trote e, por consequencia, daria algum dinheiro e incentivar o alcoolismo estudantil, não se preocupe. Aquilo foi mesmo um trote, só que dessa vez, com proporções

municipais: os estudante de Medicina tiveram que parar suas aulas para segurar placas e distribuir panfletos por toda a cidade. Qual foi o motivo? Não se sabe ao certo, pois, entre os usos mais recorrentes do panfleto, constam “construção de aviõezinhos de papel” e “treino de arremeso ao lixo”, sendo listada a opção “leitura” apenas no penúltimo lugar da lista. Ao que se sabe, passou-se um boato, entre muitos outros, de que não havia planos para um Hospital-Escola para os alunos da 1ª Turma, no momento em que estes alcançassem o internato.

Boatos a parte, fato é que alguns alunos da 4ª Turma ainda não viram a cara

de uma USF e, para eles, considerasse a possibilidade de

obterem um diploma duplo em Medicina e Construção Civil.

Que tal isso para um trote?

Venho desculpar-me com um dos estudante que me enviou um e-mail c o m e n t a n d o

sobre os “planinhos” da maternidade. Infelizmente, o fio da conversa morreu em algum dos e-mails e não houve continuação sobre o que seriam os tais “planinhos”. Já ouvi falar de um “acidentezinho”

que nasceu na maternidade e acabou com os “planinhos” de alguém, mas fora isso, nada mais. E por favor, mandem e-mails, pois nos últimos meses os mais interessados na minha caixa de correio eletrônico foram os Srs. “Click here to enlarge your penis” e “You’re the 12974309082 customer to win a prize!”

Vou deixando aqui, por último, a minha dedicatória, para quem fez merecer nos últimos 200

anos ou 2 minutos. Dessa vez, o felizardo a constar nessas linhas é o Prof. Bernardino Souto, atual coordenador do curso de Medicina, por ter assumido o famigerado (e quase abandonado) cargo em questão. Para ele, a dedicatória, por ter assumido aquilo que foi considerado, por especialistas, o maior abacaxi do mundo!

Malaquias Figueirdo Pontes

não é Thiago Lima Taffo. (malaquiasfpontes@

gmail.com)

Mascarenhas

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