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1 Estruturação de Pesquisas Acadêmicas: a Perspectiva Multi-Paradigmática Autoria: Iratan Lira Feitosa, Silvio Popadiuk, Hubert Drouvot Resumo O delineamento de uma pesquisa acadêmica apoiada em escolhas filosóficas, suportadas por argumentações consistentes, constitui-se um desafio para os pesquisadores. O processo deve ser precedido de uma reflexão a respeito do conjunto de pressupostos (ontológicos, paradigmáticos e epistemológicos) sobre os quais a pesquisa se apóia, seu detalhamento e implicações, de modo a permitir a avaliação do andamento do trabalho e do conhecimento produzido e a oferecer possibilidades para o debate, elementos indispensáveis à produção de conhecimentos científicos cumulativos. Entretanto, uma análise, mesmo superficial, do tópico relativo à metodologia em artigos, teses e dissertações leva à constatação de enganos e confusões, talvez pela compreensão equivocada da vasta literatura sobre o assunto ou pela adoção de alternativas incoerentes. Estas dificuldades, comuns, prejudicam a compreensão do método utilizado para chegar aos resultados que são apresentados, constituindo-se, por conseqüência, trabalhos ineficazes, enquanto material para consulta em pesquisas posteriores. Neste artigo, apresenta-se um processo de design de uma pesquisa acadêmica, seguido de quadros sinópticos das fases e passos do processo de construção de teorias, conforme o paradigma adotado e na perspectiva multi-paradigmática, que se destaca como um posicionamento científico válido e enriquecedor. Exemplifica-se esta postura com a descrição do processo efetivo de realização de uma pesquisa, detalhando-se as escolhas efetuadas e declinando-se a respectiva argumentação teórica de suporte, esperando que possa servir de referencial e material de consulta para pesquisadores, na busca de um padrão de coerência em suas idéias e de realização pessoal, com o trabalho que desenvolve. Introdução A elaboração de um projeto de pesquisa, seja ele uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado, é um exercício difícil e demorado. Está condicionado à capacidade do pesquisador de sintetizar a extensa literatura existente, muitas vezes contraditória, para, a partir daí, e tendo por base as inquietações que esta lhe gerou, elaborar sua própria questão de pesquisa, dando inicio, assim, ao seu trabalho. O design de uma pesquisa acadêmica envolve a tomada de uma série de decisões seqüenciais, indo das primeiras, de natureza filosófica, às decisões de natureza prática, na parte empírica do trabalho. Após o processo de pensar as diversas etapas, o pesquisador precisa realizá-las a contento e comunicar seus resultados. Embora assim descrito, este processo não ocorre, necessariamente, de forma ordenada, conforme alerta de Jones (2000, p.12), quando afirma que, em muitos casos, a pesquisa “progride de maneira confusa e desordenada”. Mas, como desenvolver este trabalho de forma coerente e válida? Quais processos e etapas devem ser incluídos? Como estruturá-lo de forma adequada? Não existe consenso, sobre este assunto, entre os teóricos. Os autores são pródigos em gerar classificações, às vezes confusas ou incompletas, e que nem sempre seguem os mesmos referenciais: palavras como paradigmas, ontologia, epistemologia, natureza, estratégia, método, técnica, entre outras, misturam-se e por vezes repetem-se, em diferentes níveis, dimensões e sentidos, em livros e artigos sobre metodologia de pesquisa. Ademais, observa-se, em geral, pouca preocupação dos pesquisadores com o estabelecimento de um quadro filosófico e operacional consistente, que indique claramente seu posicionamento em relação às escolhas feitas ao longo de seu trabalho, talvez pela dificuldade de compreensão dos conceitos envolvidos. Muitas vezes, mesmo existindo esta preocupação, verificam-se situações equivocadas,

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Estruturação de Pesquisas Acadêmicas: a Perspectiva Multi-Paradigmática

Autoria: Iratan Lira Feitosa, Silvio Popadiuk, Hubert Drouvot

Resumo O delineamento de uma pesquisa acadêmica apoiada em escolhas filosóficas, suportadas por argumentações consistentes, constitui-se um desafio para os pesquisadores. O processo deve ser precedido de uma reflexão a respeito do conjunto de pressupostos (ontológicos, paradigmáticos e epistemológicos) sobre os quais a pesquisa se apóia, seu detalhamento e implicações, de modo a permitir a avaliação do andamento do trabalho e do conhecimento produzido e a oferecer possibilidades para o debate, elementos indispensáveis à produção de conhecimentos científicos cumulativos. Entretanto, uma análise, mesmo superficial, do tópico relativo à metodologia em artigos, teses e dissertações leva à constatação de enganos e confusões, talvez pela compreensão equivocada da vasta literatura sobre o assunto ou pela adoção de alternativas incoerentes. Estas dificuldades, comuns, prejudicam a compreensão do método utilizado para chegar aos resultados que são apresentados, constituindo-se, por conseqüência, trabalhos ineficazes, enquanto material para consulta em pesquisas posteriores. Neste artigo, apresenta-se um processo de design de uma pesquisa acadêmica, seguido de quadros sinópticos das fases e passos do processo de construção de teorias, conforme o paradigma adotado e na perspectiva multi-paradigmática, que se destaca como um posicionamento científico válido e enriquecedor. Exemplifica-se esta postura com a descrição do processo efetivo de realização de uma pesquisa, detalhando-se as escolhas efetuadas e declinando-se a respectiva argumentação teórica de suporte, esperando que possa servir de referencial e material de consulta para pesquisadores, na busca de um padrão de coerência em suas idéias e de realização pessoal, com o trabalho que desenvolve.

Introdução A elaboração de um projeto de pesquisa, seja ele uma dissertação de mestrado ou uma

tese de doutorado, é um exercício difícil e demorado. Está condicionado à capacidade do pesquisador de sintetizar a extensa literatura existente, muitas vezes contraditória, para, a partir daí, e tendo por base as inquietações que esta lhe gerou, elaborar sua própria questão de pesquisa, dando inicio, assim, ao seu trabalho.

O design de uma pesquisa acadêmica envolve a tomada de uma série de decisões seqüenciais, indo das primeiras, de natureza filosófica, às decisões de natureza prática, na parte empírica do trabalho. Após o processo de pensar as diversas etapas, o pesquisador precisa realizá-las a contento e comunicar seus resultados. Embora assim descrito, este processo não ocorre, necessariamente, de forma ordenada, conforme alerta de Jones (2000, p.12), quando afirma que, em muitos casos, a pesquisa “progride de maneira confusa e desordenada”.

Mas, como desenvolver este trabalho de forma coerente e válida? Quais processos e etapas devem ser incluídos? Como estruturá-lo de forma adequada? Não existe consenso, sobre este assunto, entre os teóricos. Os autores são pródigos em gerar classificações, às vezes confusas ou incompletas, e que nem sempre seguem os mesmos referenciais: palavras como paradigmas, ontologia, epistemologia, natureza, estratégia, método, técnica, entre outras, misturam-se e por vezes repetem-se, em diferentes níveis, dimensões e sentidos, em livros e artigos sobre metodologia de pesquisa.

Ademais, observa-se, em geral, pouca preocupação dos pesquisadores com o estabelecimento de um quadro filosófico e operacional consistente, que indique claramente seu posicionamento em relação às escolhas feitas ao longo de seu trabalho, talvez pela dificuldade de compreensão dos conceitos envolvidos.

Muitas vezes, mesmo existindo esta preocupação, verificam-se situações equivocadas,

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como o enquadramento do projeto em um modelo pré-concebido, nem sempre adequado, levando o pesquisador a realizar mecanicamente os passos recomendados em função de sua opção filosófica e/ou metodológica.

Outra situação que se observa é a existência de incoerências entre as diversas etapas do trabalho, quando se pretende adotar uma visão filosófica única. Nota-se, assim, a falta de rigor no enquadramento de pesquisas e também incompatibilidade entre as suas etapas ou fases.

O presente artigo representa uma tentativa de explicitação de um quadro referencial mais completo para o design, a classificação e a realização de maneira coerente de trabalhos acadêmicos, englobando as etapas de tomada de decisões filosóficas e operacionais, para a geração de uma resposta-tentativa às inquietações do pesquisador. São também detalhadas as fases e os respectivos passos do processo de construção de teorias, de acordo com as escolhas filosóficas feitas pelo pesquisador e, também é proposto um roteiro de desenvolvimento de pesquisas na perspectiva multi-paradigmática.

Numa tentativa de facilitar a compreensão da sistemática proposta, ilustra-se o presente trabalho, com o enquadramento de um projeto de pesquisa, realizado sob uma perspectiva multi-paradigmática.

Aspectos filosóficos da pesquisa O delineamento de uma pesquisa envolve uma série de decisões. A idéia de “estruturar a

pesquisa”, segundo Eco (1972, p. 321) já está relacionada e inserida em uma “corrente de pensamento”, ou mesmo em uma “visão de mundo”. O autor prossegue: ainda que haja “uma recusa em fundear ‘filosoficamente’ o conceito de estrutura, o simples fato de utilizá-lo já se situa no interior de uma filosofia”. Afirma também que já há uma escolha epistemológica: “é, então, necessário enfrentar o problema a partir de uma base epistemológica do método”.

Blaikie (2007, p.2) enumera cinco questões-chave que sintetizam os principais dilemas enfrentados por um investigador social, no desenvolvimento do conhecimento novo. Segundo o autor, eles necessitam fazer escolhas seqüenciais e coerentes, relativas a: “tipos de questão de pesquisa, estratégias de pesquisa, paradigmas de pesquisa, pressupostos ontológicos e pressupostos epistemológicos”. As possíveis escolhas estão resumidas no Quadro 1.

Quadro 1 – Escolhas no processo de delineamento da pesquisa social

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Blaikie (2007)

De acordo com Avenier e Gavard-Perret (2008, p.13), “um paradigma cientifico é um sistema de crenças relativas a: o que é uma ciência, o que ela estuda e de que maneira ela estuda”.

QUESTÕES-CHAVE

DESCRITORES

Questão de

pesquisa

Fornece o foco, direção e limites da pesquisa, permitindo definir seus objetivos: se a indagação for O que - visa descrever; Por que - visa entender e explicar; e Como - visa intervir e resolver problemas

Estratégias de

pesquisa

Indica a lógica do processo de pesquisa. Especifica o ponto de partida, uma série de passos e o ponto final no caminho a seguir na pesquisa. Pode seguir a lógica indutiva, dedutiva, retrodedutiva ou abdutiva.

Paradigmas de

pesquisa

Tradições filosóficas e teóricas que propiciam uma visão de mundo, modos diferentes de se fazer conexões entre idéias sobre o mundo e experiências sociais, tais como: positivismo, racionalismo crítico, hermenêutica, interpretativismo, teoria crítica, etnografia, realismo social, teoria estruturalista.

Pressupostos ontológicos

Oferece diferentes maneiras de resposta à questão sobre a natureza da realidade social, envolvendo o que existe, o que parece, quais unidades componentes e como interagem umas com as outras.

Pressupostos epistemológicos

Define a natureza e o escopo do conhecimento humano sobre a realidade social, em relação aos tipos de conhecimento e critérios de cientificidade.

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Para Burrel e Morgan (1979), os paradigmas são como lentes, através das quais o pesquisador organizacional vê o mundo e conduz sua pesquisa, acatando todos os seus fundamentos filosóficos, de modo explícito ou implícito, ou seja: respeita a sua própria ontologia (crença sobre a natureza do fenômeno estudado) e epistemologia (pressupostos sobre a natureza do conhecimento sobre o fenômeno pesquisado) na escolha de sua metodologia (forma de estudar o fenômeno), conforme definem Gioia e Pitre (1990).

A relação entre os diversos elementos envolvidos em uma pesquisa, tem sido alvo de outros estudos, entre os quais Tashakkorie e Teddlie (2003). Uma sinopse pode ser vista na Figura 1.

Figura 1 – Processo de design e realização de pesquisas acadêmicas

Fonte: Elaborada pelos autores, com base em Gioia e Pitre (1990) e Tashakkorie e Teddlie (2003).

A discussão sobre os pressupostos do conhecimento e sua subjetividade remete à classificação de Burrel e Morgan (1979), a respeito dos pressupostos dos estudos sociais até os anos 1970. Os autores destacam o positivismo como paradigma dominante nas ciências naturais, que, para eles, busca analisar os fenômenos da realidade social pela relação causal entre os seus elementos constituintes.

Os autores mapearam o campo da teoria organizacional de acordo com duas dimensões ou eixos: a epistemologia, abrangendo um continuum da maneira pela qual o conhecimento do mundo social é concebido, indo do mais objetivo ao subjetivo; e a pressão das relações sociais, em termos de ordem e conflito, onde as teorias de regulação pressupõem que as sociedades são caracterizadas mais pela ordem e continuidade, enquanto as teorias de mudanças radicais supõem que existam mais pressões para transformações.

No objetivismo, a realidade social só será descoberta se o pesquisador a examinar com o menor envolvimento possível, olhando para fora de si mesmo, com o máximo de isenção. Já no subjetivismo, o pesquisador inclui a si próprio na visão de mundo, pois crê que o ser humano, em suas relações intersubjetivas, estabelecidas de forma não determinista (voluntarista), é o agente criador dos processos socioculturais.

Esta análise resulta no modelo reproduzido na Figura 2, constando de quatro grandes paradigmas de pesquisas, segmentados e incomensuráveis, como o eram para Kuhn (1970).

O paradigma humanista radical, para o qual a realidade e a ordem social são construídas e mantidas como fruto de coerção e não de consentimento, resulta de uma postura subjetiva e adepta de mudanças radicais. O principal modelo teórico neste paradigma é a teoria crítica, cuja visão do mundo social fundamenta-se numa perspectiva anti-positivista.

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Os adeptos do paradigma estruturalista radical defendem as teorias de mudança radical, em uma perspectiva objetivista, baseada na visão materialista – marxista - do mundo social, na qual existem contradições estruturais, conflitos e tensões sociais no seio das organizações e na sociedade, que levam às mudanças radicais.

O paradigma funcionalista reflete uma posição objetiva e visão de regulação social, entendendo a análise social como geradora do conhecimento empírico. Conforme Burrel e Morgan (1979) é o pensamento dominante nas ciências sociais e busca padrões e relações que possam conduzir a generalizações e leis universais, em uma postura positivista. Ao positivismo se contrapõem várias outras vertentes paradigmáticas, agrupadas por Guba e Lincoln (1994) como fenomenológicas e por vezes nomeadas interpretativistas ou construtivistas, para as quais o mundo deve ser visto e compreendido sob a ótica individual.

A adoção do paradigma interpretativista traz uma postura subjetiva e de regulação social; toma por base a visão de que a atividade social humana é ordenada e integrada, a partir da qual o homem constrói e mantém sua realidade social e organizacional, segundo suas próprias vivências e perspectivas. Valoriza, portanto, a ótica humanística no contexto social, entendendo o mundo como resultante da consciência do indivíduo, não podendo estar dele desvinculado. Assim, nas pesquisas realizadas sob esta égide paradigmática, a subjetividade é integrante do conhecimento do pesquisador.

Figura 2 - Espectro paradigmático dos estudos organizacionais

Fonte: Burrel e Morgan (1979)

O princípio de incomensurabilidade dos paradigmas, adotado por Burrel e Morgan (1979), despertou diversos embates acadêmicos. Para Guba e Lincoln (1994), coexistem, ao final do século XX, quatro paradigmas, caracterizados como se segue: - Positivismo: lógica dedutiva, visão objetiva, fronteiras rígidas (incomensurável); - Teoria crítica: lógica indutiva, visão subjetiva, fronteiras permeáveis (comensurável); - Construtivismo: lógica indutiva, visão subjetiva, fronteiras permeáveis (incomensurável); - Realismo: lógica indutiva, visão objetiva, fronteiras permeáveis (comensurável).

Diante da existência de mais de um paradigma, os pesquisadores, segundo Scherer (1998), podem adotar três posicionamentos distintos: a) o isolacionismo, ao escolher um dos paradigmas e segui-lo fielmente; b) a integração, quando os esforços são para usar o que houver de padrão comum aos diversos paradigmas, ao longo da pesquisa; e c) a abordagem multi-paradigmática, onde é promovido um diálogo entre os paradigmas, sendo a pluralidade desejável e uma oportunidade para o estudioso apreender e compreender diferentes aspectos da realidade social complexa.

Os estudos de Gioia e Pitre (1990), Guba e Lincoln (1994), Lincoln e Guba (2000), entre outros, compartilham o pensamento de Scherer (1998) e também ressaltam a

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possibilidade de adoção de uma perspectiva multi-paradigmática e de pluralismo epistemológico, que permita que o pesquisador, em busca do conhecimento científico, use diversas formas de vislumbrar o fenômeno a ser estudado.

Scherer (1998, p.147), analisando essa questão na teoria organizacional e na administração estratégica, afirma que “apesar deste problema vir sendo discutido há cerca de 20 anos, nenhuma solução aceitável foi encontrada” e que,

a perspectiva multi-paradigmática ou do pluralismo é avaliada por mais e mais acadêmicos na teoria da organização (Evered e Louis, 1981; Gioia e Pitre, 1990; Grimes e Rood, 1995; Hassard, 1991; Morgan, 1986, 1990; Schultz e Portal, 1996) e também na administração estratégica (Foss, 1996; Rumelt, Schendel, e Teece, 1994; Spender, 1992). Embora os adeptos da visão multi-paradigmática aceitem freqüentemente a tese da incomensurabilidade (Gioia e Pitre, 1990), eles discutem ao mesmo tempo que um diálogo contínuo entre os paradigmas é possível, porque os paradigmas não são inteiramente isolados uns dos outros (Gioia e Pitre, 1990; Parker e McHugh,1991). Tal diálogo é visto como necessário para avançar o conhecimento.

O autor propõe um passo inicial na busca de uma solução construtiva para os debates acadêmicos. Compartilhando idéia semelhante, Lincoln e Guba (2000) revisitam sua discussão e se propõem a mostrar as controvérsias, contradições e possibilidade de confluências entre os paradigmas de pesquisa acadêmica, sobretudo nas ciências sociais, em termos da ontologia, da epistemologia, da metodologia, dos valores do pesquisador, da natureza do conhecimento, entre outros aspectos.

Lincoln e Guba (2000, p. 179) afirmam que todos os paradigmas pós-modernos compartilham noções essenciais, como a idéia de que a realidade social é fruto das experiências e vivências humanas, mediante interação, de onde o conhecimento é socialmente construído. Para estes autores, a pesquisa científica é uma “experiência única”, sendo, pois, interpretativista. Em função de mudanças ocorridas no âmbito da pesquisa científica, “novos paradigmas” surgem; assim, Lincoln e Guba (2000, p. 164) estabelecem a legitimidade dos paradigmas pós-modernos.

No mesmo sentido, Gioia e Pitre (1990, p. 593), partindo da classificação de Burrel e Morgan (1979), para discorrerem a respeito das repercussões da adoção de cada um dos principais paradigmas sobre as etapas do processo da pesquisa e de construção de uma teoria, detalham os passos a serem dados para que um projeto de pesquisa seja capaz de gerar teorias, segundo os diferentes paradigmas.

Entretanto, a existência de “zonas de transição” ao longo das fronteiras entre os pares de paradigmas, discutidas por Gioia e Pitre (1990, p.591-595), leva os autores à idéia de “construção de pontes” e à defesa da postura multi-paradigmática.

Para eles, a possibilidade da adoção desta visão conduz a entendimentos e explicações mais abrangentes do fenômeno social, “porque partem de diferentes pressupostos ontológicos e epistemológicos” e, assim, podem acessar “diferentes facetas do fenômeno organizacional e podem produzir visões teóricas informativas marcadamente diferentes e únicas do evento sob estudo” (GIOIA e PITRE, 1990, p. 591).

Weaver e Gioia (1994, p. 577) também defendem a idéia das “zonas de transição”, como meio de possibilitar o estabelecimento de conceitos e teorias relativos a mais de um paradigma. No entendimento dos autores, ajudaria os teóricos a compreenderem “como o fenômeno em questão pode legitimamente ser sujeito de várias estratégias de pesquisa”, enquanto ainda permanece relacionado a uma dada classe de fenômenos.

A adoção destas premissas permite ao pesquisador erigir uma teoria substantiva, fundada na realidade, que demonstra como seus elementos ajustam-se em conjunto, esclarecem Gioia e Pitre (1990, p. 593). Complementam ainda que, com os processos guiados exclusivamente pelas premissas do funcionalismo, chega-se a uma construção teórica que

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relata os resultados da pesquisa efetuada, mostrando “como a teoria é refinada, suportada ou desconfirmada” e o que ela tem a dizer para a comunidade científica e seus membros.

Aspectos operacionais da pesquisa Realizadas as escolhas de natureza filosófica, o foco do planejamento da pesquisa

desvia-se para os aspectos de natureza prática, sem, contudo, ferir a coerência das decisões já tomadas para o delineamento da pesquisa nem os objetivos do projeto de pesquisa. Godoi e Balsini (2006, p. 90) comentam: “os pressupostos ontológicos, epistemológicos e teóricos do pesquisador determinam a coerência entre a noção de sujeito e as relações de objeto, e acabam por definir a ‘escolha’ metodológica da investigação”.

Ainda na dimensão de planejamento, complementando o design de um projeto de pesquisa, deve-se examinar sob qual lógica o estudo será realizado, tomando-se decisões relativas à própria implementação do projeto, referentes à estratégia e ao método de pesquisa a serem usados, à natureza dos dados e às técnicas para sua coleta e análise.

A respeito da abordagem lógica da estratégia de pesquisa a ser utilizada, examinando os conceitos e exemplos oferecidos por Cooper e Schindler (2003), por Aliseda (2004), por Bandeira-de-Mello e Cunha (2006) e por Blaikie (2007), foi formatado o Quadro 2, que resume o conceito, o objetivo e o processo de pesquisa, segundo as quatro principais linhas de pensamento: dedução, indução, retrodução e abdução.

Quadro 2 – As lógicas de estratégias de pesquisa e marcos de seus processos INDUÇÃO DEDUÇÃO RETRODUÇÃO ABDUÇÃO CONCEITO Concluir a partir de um

ou mais fatos ou determinada prova

Concluir a partir das razões dadas, supondo-as válidas

Explicar as regularidades observadas a partir de suas estruturas e mecanismos

Pensar da evidência para a explanação, descobrir e validar as causas a partir dos efeitos observados

OBJETIVO Estabelecer generalizações (“leis universais) que possam ser usadas como explicações padrão

Testar teoria, para eliminar as falsas e corroborar as demais

Descobrir mecanismos subjacentes para explicar regularidades observadas

Descrever e entender a vida social em temos dos motivos e conceitos dos agentes

INÍCIO DO PROCESSO

Acumular observações ou dados

Identificar uma regularidade a ser explicada

Documentar e modelar uma regularidade

Indução de princípios gerais, a partir de conceitos, significados e motivos existentes no cotidiano ou coletados empiricamente

MEIO DO PROCESSO

Produzir generalizações Construir uma teoria e deduzir hipóteses

Construir um modelo hipotético de um mecanismo

Produzir uma descrição técnica para descrições existentes

FINAL DO PROCESSO

Usar as “leis” produzidas como padrão explicativo para futuras observações

Testar as hipóteses, checando-as com os dados

Descobrir o mecanismo real, por observação e/ou experimento

Desenvolver uma teoria e testá-la iterativamente

NOTAS

Um argumento indutivo começa com premissas e conclui com uma generalização que excede o que está contido nas premissas

Para a dedução ser correta deve ser verdadeira (suas premissas devem compatíveis com o mundo real) e válida (concluída desde as premissas)

É usada para descobrir as premissas de uma argumentação, a partir de suas conclusões

Incorpora os significados, interpretações e intenções, diferente-mente das lógicas dedutiva e indutiva. Permite gerar e validar a teoria substantiva.

Fonte: Elaborada pelos autores, com base em Cooper e Schindler (2003), Aliseda (2004), Bandeira-de-Mello e Cunha (2006) e Blaikie (2007).

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As estratégias de inferência pela lógica indutiva e pela dedutiva são lineares, enquanto que o raciocínio que usa a lógica retrodutiva e abdutiva é baseado em processos cíclicos ou em espiral, esclarece Blaikie (2007, p.105), o que permite maior flexibilidade.

Patton e Appelbaum (2003) estabelecem que a dimensão metodológica representa uma importante trilha de pesquisa na ciência organizacional, sendo essencial para a geração de hipóteses ou pressupostos para estudos posteriores e também para gerar e testar teorias, por si própria. Em relação à escolha do método ou métodos a serem utilizados na pesquisa, bem como das técnicas para coleta e análise de dados, são diversas as possibilidades e estas devem respeitar a natureza e objetivo do estudo pretendido.

Usinier, Easterby-Smith e Thorpe (1993, p.38) afirmam que em se adotando um paradigma positivista, “os métodos recomendados compreendem a operacionalização dos conceitos, de tal sorte que eles possam ser mensurados”, enquanto, segundo o paradigma interpretativista devem-se utilizar “métodos múltiplos para estabelecer diferentes visões do mesmo fenômeno”. Dada a imensa variedade de métodos e técnicas disponíveis, resta impraticável detalhá-los todos neste artigo, onde serão tratados apenas os escolhidos, na aplicação da pesquisa ilustrativa.

A prevalência dos paradigmas positivista e interpretativista na condução de pesquisas, forçou uma falsa dicotomia (SILVA, 1998), em relação à abordagem de investigação entre pesquisas quantitativas e qualitativas, respectivamente, embora Vallés (1997) aponte que coexistem vários paradigmas nas pesquisas que se afirmam qualitativos ou quantitativos.

Minayo, Deslandes, Cruz Neto e Gomes (2002) esclarecem tratar-se apenas da própria natureza dos dados, reforçando a afirmativa de Demo (2001, p.8). Esse autor defende a complementaridade destas duas formas de perceber informações, pois não existe dicotomia entre quantidade e qualidade, sendo “faces diferenciadas do mesmo fenômeno”.

Este ponto de vista é compartilhado por vários outros estudiosos: Bryman (1988), Weinreich (1996), Myers (1997), Sanghera (2002), Flick (2004), Mangan, Lalwani e Gardner (2004) e Morgan (2007), dentre outros. Bryman (1988) oferece duas significativas justificativas metodológicas para o uso combinado de métodos quantitativos e qualitativos: primeiro, capitalizar e potencializar os pontos fortes das duas abordagens e compensar as fragilidades cada uma delas; segundo, considerar os aspectos e contexto práticos da pesquisa.

Sanghera (2002, p.2) resume os benefícios desta dupla visão, apontando que as vantagens da combinação dos métodos incluem: 1. vantagens no desenvolvimento da pesquisa (uma abordagem é usada para dar informações à outra, como usar a pesquisa qualitativa para construir e validar questionários quantitativos, por exemplo); 2. incrementar a validade (confirmação de resultados através de significados de diferentes fontes de dados); 3. complementaridade (adição de informações, isto é, das palavras para os números e vice-versa); e criação de novas linhas de pensamento, pela emergência de perspectivas e contradições frescas.

Morgan (2007, p.70), por sua vez, defende o que nomeou “abordagem pragmática”, como um novo guia para pesquisas nas ciências sociais, fornecendo uma base de trabalho que combina métodos quantitativos e qualitativos. Oferece um resumo dos pontos principais para abordagens de pesquisa, onde se percebe as vantagens de sua proposta, conforme Quadro 3.

Quadro 3 – Uma alternativa pragmática para questões-chave em métodos de pesquisa Abordagem

Qualitativa Abordagem Quantitativa

Abordagem Pragmática

Conexão entre teoria e dados Relacionamento do processo de pesquisa Inferência dos dados

Indução Subjetividade Contexto

Dedução Objetividade Generalidade

Abdução Interpretativismo Transferibilidade

Fonte: Morgan (2007.p.71)

Reunindo os passos aqui discutidos, Gioia e Pietri (1990, p. 593) formulam e estabelecem os passos a serem seguidos para a construção de teoria em cada um dos quatro

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principais paradigmas, sempre em um processo de quatro fases, descritas no Quadro 4, em relação aos paradigmas interpretativista e funcionalista.

Quadro 4 – O processo de construção de teorias, conforme o paradigma adotado P A S S O S F A S E S

Paradigma Interpretativista Paradigma Funcionalista 1.1. Seleção de um tema

1.1. Seleção de um tema 1.2. Revisão da literatura 1.2. Planejamento da pesquisa 1.3. Descoberta de uma lacuna

1.4. Elaboração de um modelo 1. TRABALHOS INICIAIS

1.5. Planejamento da pesquisa 2.1. Identificação de casos específicos 2. COLETA DE DADOS 2.2. Questionamento de informantes

2.1. Sondagem de amostras representativas dos objetos

2.3. Codificação 2.4. Formulação de Conjecturas 2.5. Avaliação das conjecturas 2.6. Formulação da Teoria

3. ANÁLISE

2.7. Revisão da literatura

3.1. Teste de hipóteses

4. TEORIZAÇÃO 4.1.Redação de teoria substantiva 4.1. Redação dos resultados

Fonte: Adaptado de Gioia e Pitre (1990, p.593)

Para refletir a postura pluralística, aqui defendida com base em Gioia e Pitre (1990), Scherer (1998), Perry (1998), Lincoln e Guba (2000), Patton e Applebaum (2003), Tashakkorie e Teddlie (2003) e Mangan, Lalwani e Gardner (2004), os autores deste artigo elaboraram uma proposta de processo de uma pesquisa acadêmica, sintetizada no Quadro 5. O roteiro contém as fases e os passos que guiam o seu desenvolvimento, sob a ótica multi-paradigmática, privilegiando as zonas de transição e o uso de dados qualitativos e quantitativos.

Quadro 5 – O processo de construção de teorias, na perspectiva multi-paradigmática F A S E S P A S S O S

1. TRABALHOS INICIAIS

1.1. Seleção de um tema 1.2. Revisão preliminar da literatura 1.3. Descoberta de uma lacuna 1.4. Formulação de conjecturas 1.5. Elaboração de um modelo - tentativo 1.6. Planejamento da pesquisa de campo

2. COLETA DE DADOS

2.1. Sondagem de amostras representativas dos sujeitos e objetos 2.2. Identificação de casos específicos 2.3. Questionamento de informantes e coleta de outros dados qualitativos 2.4. Revisão e reformulação de conjecturas 2.5. Formulação de hipóteses 2.6. Revisão do modelo a ser testado 2.7. Levantamento de dados quantitativos

3. ANÁLISE

1.1. Codificação 1.2. Confronto dos dados qualitativos e quantitativos (triangulação) 1.3. Avaliação das conjecturas 1.4. Teste de hipóteses 1.5. Revisão da literatura 1.6. Formulação da teoria

4. TEORIZAÇÃO 4.1. Redação dos resultados 4.2. Redação de teoria substantiva

Fonte: Elaborada pelos autores, com base em Gioia e Pitre (1990), Scherer (1998), Perry (1998), Lincoln e Guba (2000), Patton e Applebaum (2003), Tashakkorie e Teddlie (2003) e Mangan, Lalwani e Gardner (2004).

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Enquadramento de um projeto de pesquisa sob uma perspectiva multi-paradigmática Nesta seção, exemplifica-se o processo de caracterização e design de uma pesquisa, sob

uma perspectiva multi-paradigmática, com a descrição do processo efetivo de realização, detalhando-se as escolhas efetuadas e declinando-se a respectiva argumentação teórica de suporte, esperando que possa servir de referencial e material de consulta para pesquisadores, na busca de um padrão de coerência em suas idéias. Trata-se do enquadramento de uma pesquisa para o desenvolvimento de uma tese de doutorado em Administração de Empresas, versando sobre transferência e absorção de conhecimentos em rede de franquias.

Decisões filosóficas Pressuposto ontológico - O pressuposto ontológico subjacente à pesquisa é que a

realidade social é dinâmica e intersubjetiva. Esta linha de pensamento insere-se no interpretativismo e respalda-se na idéia de Lincoln e Guba (2000), segundo a qual a realidade social é fruto das experiências e vivências humanas, mediante interação, de onde o conhecimento é socialmente construído.

Paradigma adotado - A postura paradigmática aceita para o desenvolvimento da pesquisa segue a perspectiva pluralística, isto é, multi-paradigmática. Para refletir esta postura, são seguidas as fases e os passos do processo esboçado no Quadro 5, privilegiando o uso de dados qualitativos e quantitativos.

Pressuposto epistemológico - situa-se na zona de transição entre as linhas de pensamento funcionalista e interpretativista. Concentra-se, simultaneamente, sobre os fatos (objetivos) e sobre os significados (subjetivos), para apreender os detalhes elementares (funcionalismo) sem perder de vista o todo (interpretativismo), na busca de compreender o fenômeno que se produz e desenvolver idéias a partir dos dados, considerando, porém, as teorias pré-existentes.

Decisões operacionais A etapa operacional do delineamento do estudo atende à função de definir as linhas

que guiam os procedimentos na realização da investigação, principalmente em relação à abordagem de pesquisa e definição do seu método, instrumentos e técnicas de coleta de dados ou observação dos sujeitos da pesquisa, natureza dos dados buscados, análise e interpretação dos dados, entre outros aspectos.

Estratégia da Pesquisa - adota-se a lógica abdutiva por julgar-se ser a mais apropriada à análise de dados e à geração de uma nova teoria no âmbito da absorção de conhecimento em franquias. Bandeira-de-Mello e Cunha (2006, p. 251), citando Haig (1996) e Wirth (1998), destacam que a lógica de inferência abdutiva “é um processo de idas e vindas do nível conceitual, abstrato, ao nível dos dados”; “a coleta de dados, a análise, a formulação e a validação da teoria são reciprocamente relacionadas, em um processo indutivo de interpretação e em um processo de dedução e validação das proposições”.

Métodos de Pesquisa - a escolha do método seguiu a orientação de Godoy (2006). Para a autora a melhor metodologia a ser utilizada em uma pesquisa é aquela que permite ao pesquisador uma melhor compreensão da realidade estudada sob a ótica do objeto e tendo em vista o que se pretende alcançar, visão semelhante à de Flick (2004). Adota-se, na pesquisa, o método do estudo de caso, por ser bastante flexível, mostrando-se apropriado para lidar com teorias emergentes (Hartley, 2004), prestando-se às pesquisas qualitativas, quantitativas ou pluralísticas, com caso único ou múltiplo.

Perry (1998), em adição, recomenda a adoção do estudo de caso para pesquisas em nível de pós-graduação, inclusive mestrado e doutorado. No caso de doutorado recomenda

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que se respeitem as questões paradigmáticas, justifique-se a escolha do método e observem-se outras questões metodológicas que confiram confiabilidade e validade ao estudo.

A pesquisa ora descrita é um estudo de casos múltiplos, que analisa os tipos, as origens, a utilização e a transferência de conhecimentos inerentes às atividades de criação e desenvolvimento de produtos, processos e serviços nas empresas que compõem a amostra. Assim, dois tipos de empresas são pesquisados: as franqueadoras e as franqueadas. Para efeito deste estudo e tendo em vista facilitar a diferenciação entre os dois tipos de objetos de pesquisa, a empresa franqueadora foi denominada Unidade piloto.

Caracteriza-se como um estudo de campo de relação causal - “como uma variável afeta ou é responsável por mudanças em outra variável” (COOPER e SCHINDLER, 2003. p. 139), em corte transversal – “realizado uma única vez (...) representa um instantâneo de um determinado momento” (COOPER e SCHINDLER, 2003. p. 129), que satisfaz às condições de “seqüência temporal – a causa deve ocorrer antes do efeito; co-variação - uma mudança na causa está associada com uma mudança no efeito; e sustentação teórica – há uma explicação lógica para o porquê da existência de relação entre a causa e o efeito”, conforme classificam Hair et al. (2006. p. 89).

Tipos de dados e constructos - o estudo compreende dados qualitativos e quantitativos. São utilizados dados primários, coletados por meio de entrevistas, questionários e observação pessoal. O detalhamento da análise, a justificativa das escolhas, e outros aspectos levantados são esclarecidos no tópico específico sobre a coleta dos dados da pesquisa.

Ressalte-se que aspectos como clima e cultura organizacional, relevantes no estudo dos processos de absorção e transferência de conhecimento, não são abordados neste estudo. A complexidade e importância que os reveste, justifica e requer um estudo a parte, com a profundidade apropriada, o que se constitui em uma possibilidade de pesquisa futura.

Os constructos analisados são os conhecimentos que, se presume, são transferidos unidade piloto para as empresas franqueadas, a saber: conhecimentos tecnológicos (especificações de produtos e serviços, implantação do processo produtivo, controles de produção e de qualidade, aquisição de matérias-prima), administrativos (controles financeiros, estratégia de atuação da franquia, contratação de recursos humanos, aderência às normas, implantação e adequação da estrutura e de sistemas) e de marketing (desenvolvimento da marca, determinação de preços, novos clientes, qualidade de atendimento).

A partir deles, na primeira etapa da pesquisa, serão levantados os dados que os confirmarão como possuidores das variáveis que servirão de parâmetros para avaliação da capacidade de absorção das empresas franqueadas. Casos estes não se confirmem através dos dados levantados, as entrevistas indicarão os verdadeiros constructos e variáveis.

Etapas da pesquisa - O estudo compreende, assim, duas etapas a seguir descritas: Primeira etapa: caracteriza-se como um estudo qualitativo, exploratório e descritivo, considerando-se a natureza da investigação, haja vista que tanto os objetivos pretendidos, como as questões de pesquisa, compreendem uma situação não quantificável.

Tem como objetivo confirmar a presença de constructos da absorção e transferência de conhecimentos (ou identificar novos indicadores) em empresas franqueadoras e em empresas franqueadas, assim como as relações restritivas e propulsoras que atuam neste processo. Nesta etapa são destacados indicadores e variáveis do fenômeno estudado para servir de métricas para avaliação do grau em que estão presentes.

A preocupação do estudo, nesta etapa, é: a. identificar os tipos (tecnológicos, culturais, habilidades e competências), as origens (de

fontes externas ou de fontes internas) e os usos (criação, manutenção e inovação) que as empresas fazem do conhecimento absorvido, para utilização no processo de implementação e desenvolvimento de uma unidade piloto ou rede de franqueados;

b. analisar como ocorre o processo de transferência de conhecimentos da empresa

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franqueadora para as empresas franqueadas e como se verifica o processo de absorção do conhecimento e;

c. identificar e/ou descobrir indicadores ou variáveis, existentes no processo de transferência e absorção de conhecimentos, que possam ser utilizadas para avaliar a ocorrência da absorção pelas empresas franqueadas.

Segunda etapa: Apresenta características de um estudo quantitativo, descritivo, de relação causal, conforme classificam Cooper e Schindler (2003). Descritivo, no sentido de que é desenvolvida com base em hipóteses e questões investigativas do tipo: “o que” e “como”; para estimar populações que possuam as características buscadas; para descobrir associações entre as variáveis e para descoberta e mensuração de relações de causa e efeito. De relação causal, uma vez que busca descobrir como uma variável afeta ou é responsável pela ocorrência de mudanças em outra.

Nesta etapa, utilizam-se os indicadores de absorção de conhecimento levantados na etapa qualitativa da pesquisa, mensurando-os, a partir de escalas e submetendo-os a tratamento estatístico, com o objetivo de testar as hipóteses construídas.

A Figura 3 possibilita uma melhor visualização e compreensão das abordagens de pesquisa, mediante o duplo enfoque, uma vez que mostra: - as duas etapas da pesquisa e os constructos existentes no fluxo do conhecimento; - o fluxo do conhecimento que perpassa o processo de criação e consolidação de uma rede de franquias; - a transferência e a absorção de conhecimentos para a implantação da unidade piloto da rede de franquia e desta para as empresas franqueadas; - a absorção de conhecimentos nas empresas franqueadas e o seu compartilhamento para consolidação da marca, produtos, serviços, sistemas, normas e padrões; - o feed back do fluxo de conhecimentos que retorna para a unidade piloto; - os efeitos do conhecimento absorvido, pelas franqueadas, em sua capacidade competitiva.

Figura 3 – Fluxo do conhecimento em franquias e etapas da pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores

Os dois primeiros passos dizem respeito à etapa qualitativa da pesquisa. O primeiro corresponde ao levantamento de dados sobre os tipos, as origens e os usos dados ao conhecimento, no processo de criação da unidade piloto. O segundo passo corresponde ao levantamento de dados sobre a criação da unidade piloto, aos conhecimentos que são utilizados e os fins aos quais se destinam.

Os três últimos passos correspondem à etapa quantitativa da pesquisa, que é a fase de consolidação da rede ou da marca. O primeiro corresponde ao levantamento de dados sobre o processo de transferência de conhecimentos das empresas franqueadoras (Unidades Piloto) para as empresas franqueadas. O segundo, sobre como ocorre a absorção de conhecimento nas

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empresas franqueadas. O terceiro, sobre como os conhecimentos transferidos e absorvidos são utilizados como fator de competitividade pelas empresas franqueadas.

Definição da amostra - em função da magnitude do universo estudado procura-se definir uma amostra que contempla tanto um número significativo de empresas, em relação às existentes, como à distribuição geográfica das mesmas.

A mostra compreende 60 empresas, selecionadas entre unidades-piloto e franqueadas, pertencentes a três ramos de atividades, distintos: educação e treinamento; alimentação (fast food) e perfumaria e cosméticos. Faz-se a escolha das empresas e dos ramos de atividade por julgamento e conveniência, escolhendo-se as unidades que desenvolvem atividades cujo processo produtivo depende substancialmente do conhecimento gerado a partir da unidade piloto da franquia e oferece produtos ou serviços com larga dependência das normas e padrões estabelecidos pela empresa franqueadora.

Na escolha das empresas observam-se os critérios de distribuição geográfica, tendo em vista evitar a escolha de empresas de um mesmo ramo, que concorram em uma mesma área de mercado. Busca-se, por outro lado, empiricamente, similaridade entre elas, no que diz respeito ao padrão sócio-econômico dos bairros que contêm as empresas, faixa etária dos consumidores, horários em que o produto/serviço é consumido, tendo em vista reduzir, ao máximo, distorções nos dados levantados.

Coleta de Dados - é realizada de diferentes formas, de forma a adequarem-se às etapas da pesquisa.

Na etapa qualitativa, a coleta dos dados ocorre mediante entrevistas, seguindo-se o que sugerem Hair et al.(2006). Segundo os autores, enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes.

São entrevistas em profundidade, semi-estruturadas, mediante comunicação pessoal do pesquisador com os empresários das unidades piloto e das empresas franqueadas. Também se utilizam entrevistas simples com empregados e com consumidores das unidades piloto. As entrevistas, contendo as respostas aos questionamentos, são gravadas, transcritas e analisadas. As entrevistas com empresários e funcionários são realizadas na própria empresa, durante o horário do expediente e com os consumidores no ato da aquisição dos produtos ou serviços da empresa. Pretende-se, com esta ambientação no campo, reproduzir as condições ambientais reais, de forma a obter o mais baixo grau de interferência possível.

Segue-se o que Gil (2006) considera os aspectos mais importantes a serem considerados em uma entrevista: 1) a preparação do roteiro da entrevista; 2) estabelecimento do contato inicial; 3) formulação das perguntas; 4) estímulo a respostas completas; 5) registro das respostas e; 6) conclusão da entrevista.

Na etapa quantitativa, os dados são levantados utilizando-se questionários com perguntas fechadas e respostas simples, elaboradas tendo em vista levantar dados referentes aos indicadores de desempenho das empresas e a sua competitividade no mercado. Antes da utilização na pesquisa, na fase de pré-teste, o questionário foi aplicado em empresas pré-selecionadas, para verificação, discussão e ajustes.

A aplicação dos questionários ocorre no ambiente da empresa, durante o expediente normal em três momentos distintos, para três diferentes grupos objeto da pesquisa: a) com empresários das empresas; b) com empregados das empresas; e c) com consumidores das empresas.

Na Figura 4 apresenta-se o delineamento da pesquisa proposta, sintetizando o planejamento e as opções feitas para o estudo a ser realizado, ao longo do processo, elaborada a partir da aplicação a esta proposta do contido na Figura 1 e a subseqüente discussão aqui efetuada acerca de suas várias dimensões e aspectos.

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Figura 4 – Síntese do design da pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores

Considerações finais A vasta, por vezes confusa e incompleta, literatura sobre metodologia de pesquisa

aliada a pouca preocupação e importância dada à explicitação dos procedimentos metodológicos adotados têm conduzido a trabalhos de pesquisa, no âmbito acadêmico, que não contemplam, adequadamente, um detalhamento das escolhas filosóficas e operacionais feitas pelo pesquisador, em consonância com seu objeto e objetivo de pesquisa. Falta-lhes, também, o relato e o desenho do processo da pesquisa, que permita uma fácil visualização de sua operacionalização e dos caminhos trilhados para alcançarem-se os resultados apresentados. Em conseqüência, os trabalhos escritos têm sido de pouca validade como material de consulta para novas pesquisas.

Reconhecem-se as dificuldades inerentes ao trabalho e a necessidade de grande capacidade de síntese do pesquisador. Entretanto, entende-se que as inquietações geradas pela questão de pesquisa, a sensação de realização pessoal e de dever cumprido e o reconhecimento da comunidade científica sobre o valor da pesquisa, como contribuição para a teoria sobre o tema e para a prática acadêmica, justificam um esforço e dedicação maior para detalhamento dos trabalhos.

Com este artigo, procurou-se contribuir para sanar o que se considera ser uma lacuna existente nas pesquisas acadêmicas, referente às questões metodológicas. Buscou-se, ao longo do trabalho, construir um quadro referencial para o design, a classificação e a realização, de maneira coerente, de trabalhos acadêmicos, englobando as etapas de tomada de decisões filosóficas e operacionais, para a geração de uma resposta-tentativa às inquietações do pesquisador.

Foram tratadas as escolhas que sintetizam os principais dilemas enfrentados por um estudioso no desenvolvimento do conhecimento novo: tipos de questão de pesquisa, estratégias de pesquisa, paradigmas de pesquisa, pressupostos ontológicos e pressupostos epistemológicos, apresentando-se, então uma proposta para o design de uma pesquisa acadêmica.

O design de uma pesquisa acadêmica, conforme proposto, compreende um extenso

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processo de tomada decisões seqüenciais e inter-relacionadas, de natureza filosófica (envolvendo os pressupostos ontológicos, paradigmáticos e epistemológicos) e de natureza prática (abrangendo a estratégia lógica e o método da pesquisa, os tipos de dados e as técnicas para coleta e análise dos dados). Estas escolhas devem ser feitas de modo coerente e justificadas por um suporte teórico adequado, para que conduzam aos resultados almejados.

Apresentou-se um quadro sinóptico das fases e passos do processo de construção de teorias, conforme o paradigma adotado sob uma perspectiva multi-paradigmática, que se destaca como um posicionamento científico válido e enriquecedor.

Para facilitar a compreensão da sistemática proposta, foi inserido, a título ilustrativo, o enquadramento de um projeto de pesquisa, realizado sob uma perspectiva multi-paradigmática, declinando-se, para cada escolha feita, a respectiva argumentação teórica de suporte.

Espera-se que o modelo aqui utilizado para exemplificação tenha utilidade como suporte metodológico e material de consulta na elaboração de designs de pesquisa e que possa ser corroborado por futuras pesquisas em administração.

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