Estratégia Do Grupo Nazista

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    Karl Mannheim foi um sociólogo judeu nascido na Hungria, que faleceu em 1947. Em 1944 escreveu um livro chamado "Diagnosis Of Our Time", que foi lançado no Brasil em 1973, com o título Diagnóstico de Nosso Tempo.

    O que você vai ler a seguir é um capítulo chamado Estratégia do Grupo Nazista. Leia eita a respeito do processo criado pelos nazistas. Talvez você encontre similaridades com o que anda acontecendo em alguns países latino americanos.

    Estratégia do Grupo Nazista

    Hitler inventou um novo método a que se pode dar o nome de estratégia do grupo nazista. O ponto capital da estratégia psicológica de Hitler é jamais encarar o individuo como pessoa,mas sempre como membro de um grupo social.O que Hitler faz por instinto está acorde com os descobrimentos da moderna Sociologia, ou seja, de que o homem é mais facilmente influenciado através dos vínculos do grupo; o que é mais importanteainda, as reações dele variam conforme o grupo particular a que pertence. O homem porta-se diferentemente na família, no clube, no exército, em seus negócios, ou como umcidadão em geral.

    O grande Duque de Marlborough era comandante do exército, em seus negócios e, no entanto, em casa vivia controlado pela esposa.

    Cada grupo aparentemente possui suas próprias tradições , proibições e formas de expreseculiares e enquanto se conserva intacto apóia e orienta o comportamento de seus m

    embros.1. Desorganização Sistemática da Sociedade

    Hitler sabia instintivamente que enquanto as pessoas se sentem abrigadas em seus próprios grupos sociais, ficam imunes à influência dele. O artifício oculto da estraté de Hitler, por conseguinte, consiste em romper a resistência do espírito individual por meio da desorganização dos grupos aos quais esses indivíduos pertencem. Ele sabeque um homem sem laços com o grupo é como um caranguejo sem a carapaça. Essa desorganização, tal como sua tática de guerra-relâmpago, tem de ser rápida e violenta simultaneate; mesmo assim, porém, seu efeito só será duradouro se conseguir formar imediatamente novos grupos que fomentem o gênero de comportamento aprovado pelo seu partido.

    Assim, há duas fases principais na estratégia do grupo de Hitler: a decomposição dos grpos tradicionais da sociedade civilizada e uma rápida reconstrução baseada em um padrãode grupos inteiramente novo. No trabalho de desintegração inicial ele pode, está claro, confiar em grande parte na ausência de planificação de nossa vida econômica. Por exemlo, essa ausência é responsável pela condição mais desmoralizante de todas, o desempregrônico. Porém, quando essa desintegração espontânea não avançou o suficiente para atendfins de Hitler, ele aplica seus próprios métodos. São diversos os métodos de que dispõera lidar com a família, a Igreja, os partidos políticos e as nações. Os elementos dessatécnica ele os aprendeu com os comunistas, mas os pormenores foram por ele elaborados durantes sua própria luta na selva política da Alemanha da década de 1920. Aprendeu como dissolver comícios de massa, como desmoralizar adeptos de outros partidos,como fingir que cooperava com grupos rivais para, a seguir, quando o momento era julgado oportuno, provocar sua queda. Tudo o que ele fez ultimamente foi transf

    erir essa estratégia do grupo para o campo da política exterior.

    Considere-se o caso de nações. Nisso, sua primeira regra parece ser de nunca empregar a força antes de haver esgotado as possibilidades de desmoralização. Ele sabe que os grupos, especialmente nações inteiras, com uma sólida vida de grupo e moral intacto,reagem desassombradamente a ameaças ostensivas e a ataques diretos; tornam-se mais unidos do que antes. Essa saudável vida de grupo é o segredo da inquebrantável resistêcia britânica e explica a hesitação de Hitler para atacar este país. Quando ele consegu encontrar traidores e colaboracionistas dentro dos grupos, recorre à técnica de penetração no grupo. Manda emissários como turistas e sob outros disfarces para conquista

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    r para seu lado os adversários do regime existente e os desajustados e fracassados sociais. Tendo organizado os agentes de massa dum movimento subterrâneo, procuraisolar a nação do mundo exterior. Flanqueamento, envolvimento e isolamento total são as principais etapas desse processo. A essa altura, a vitima acha-se inteiramente à sua mercê; Hitler, contudo, ainda evita o ataque direto e prefere o sistema de desmoralização total vinda de dentro. Na tensão que então impera, são difundidos boatos, uflados temores, jogados grupos rivais uns contra os outros e afinal é ministradaa assaz conhecida mistura nazista de ameaças e promessas. Tais são os métodos que eleempregou na Áustria, Tcheco-Eslováquia, Romênia, Bulgária e outros países. Os documentoecretos apreendidos na incursão da Lofoten, na Noruega, mostram claramente como sãosistemáticos esses métodos: as instruções do exército nazista previam toda fonte possív resistência e indicavam as contramedidas.

    2. Efeitos sobre o individuo

    Nessa fase, a desmoralização e a decomposição dos grupos sociais principiam a produzir feitos no individuo. E, o que é pior, em vastos números de indivíduos simultaneamente. A explicação psicológica desse fato é simplesmente a seguinte: o homem entregue a si msmo não pode oferecer resistência. Como os vínculos com seu grupo é que lhe dão apoio, urança e reconhecimento, para nada dizer dos valiosos laços de amizade e confiança, adissolução deles deixa-o inerme. Ele se comporta como uma criança que se extraviou ouque perdeu a pessoa amada; por isso sente-se inseguro, disposto a apegar-se a quem quer que se apresente.

    Além de tudo isso, os métodos modernos de guerra total ou de propaganda total não dão tmpo ao homem para se recobrar nem oportunidade para congregar-se em torno de umchefe e correr o risco de resistir. Particularmente em nações pequenas, surge do dia para a noite um quase completo caos social e anarquia. Isso tem influencia considerável sobre o individuo e seu ulterior comportamento. O fato é que a desintegração d grupo tende a ser seguida dum colapso da consciência moral do individuo. Ele se vêtentado a pensar mais ou menos assim: Afinal de contas, tudo em que eu acreditava até agora talvez estivesse errado. Pode ser que a vida não passe de uma luta pela sobrevivência e pela supremacia. A escolha que tenho é entre tornar-me um mártir ou aderir à nova ordem; quiçá eu possa chegar a ser um membro destacado dela. Ademais, se eu não aderir hoje, amanhã talvez seja demasiado tarde. É nessa disposição de espírito qessoas se permitem engolir afirmações como a feita pelo Ministro da Justiça nazista:

    Antigamente estávamos acostumados a dizer:  Isto está certo ou errado? Hoje devemos ocar a questão nestes termos:  Que diria o Führer?  É para este tipo de raciocínio quico oportunismo de Hitler apela, e ao qual é endereçado o seu evangelho de violência e lei do mais forte.

    Tem sido bastante ressaltado o papel desempenhado pelo medo, pelo ódio, pela insegurança e pela desconfiança no regime nazista. De minha parte, quero acrescentar a este rol o elemento de desespero. No fundo de todas as reações nazistas, encontra-se o desespero. O mundo deles é um em que todos se sentem traídos, isolados e não mais confiam no próximo.

    3. A Nova Ordem 

    Tendo reduzido a comunidade ao pânico e ao desespero, Hitler inicia então o segundomovimento de sua estratégia.

    Procura reconstruir uma nova ordem seguindo duas linhas distintas. Uma destina-se a escravizar as massas, a outra a entrincheirar sua liderança e o terrorismo deseu Partido.

    Para aquela, adota uma organização militar baseada no modelo prussiano: aplica-a a tudo, à organização da juventude, da indústria, dos trabalhadores e da opinião. Uma vez s, explora o medo, o ódio e o terrorismo, pois é muito mais fácil encontrar um escoado

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    uro para o sentimento de hostilidade dos grupos do que mobilizar suas energias construtivas. Daí o uso de  raças e de indivíduos como bodes expiatórios. As supostas ioridade e perversidade dos judeus são transformadas em desculpa para que se lhescuspa nos rostos, bata-se neles ou matem-nos a sangue frio. O sistema do bode expiatório não só ajuda a libertar a comunidade de seu sentimento de culpa, mas impede que a hostilidade se volte contra o chefe quando a insatisfação é despertada.

    Está claro, o bode expiatório não precisa ser forçosamente um produto interno. Os chefe de todos os países que se opõem ao nazismo podem ser apontados como alvo para a hostilidade no lugar de Hitler. E assim o vemos acusando Churchill de todos os pecados de sua própria cartilha.

    4. Formação dos Novos Líderes

    A organização militar e a supressão, todavia, por si sós não bastariam. Hitler sabe quera esse tipo de sociedade sobreviver é mister algo mais dinâmico do que arregimentação;por isso, criou centros de fermentação emocional de que as unidades das tropas de assalto constituem o modelo. Elas provém diretamente dos bandos militares posteriores à I Guerra Mundial, que desde o começo ameaçaram e tentaram dissolver a sociedade civil. Mas sua organização e mentalidade deveram muito também aos primeiros grupos de Juventude Alemã em sua fase Wandervogel.

    O fim secreto desses grupos é perpetuar a atitude psicológica da adolescência; isso explica muito do que aparece peculiar ao Estado nazista. Assim como é possível tornar

    a influência da família tão dominadora que a mentalidade de seus membros permaneça retadada e imatura, também o é utilizar artifícios do grupo para manter e difundir uma infantilidade irrestrita na sociedade em geral. Nas escolas de líderes (Führers) em que eles treinam a liderança, tudo é feito para produzir uma mescla bizarra de emotividade infantil e submissão cega. Os nazistas sabem que seu tipo de líder só pode florescer em grupos do tipo bando. É sobretudo a esses auditórios com um desenvolvimento emocional artificialmente tolhido que atraem os gritos histéricos de Hitler. QuandoChurchill diz:  Nada tenho a oferecer além de sangue, suor, labuta e lágrimas ele estpelando para uma nação de adultos.

    A finalidade capital dessa análise é chamar a atenção para a necessidade da criação de ontra-estratégia. Em remediar os efeitos desintegradores da civilização industrial emnossa família e na vida da comunidade. Mas elas tem de fazer mais do que se proteg

    erem contra o contágio. O que há de verdadeiramente promissor no novo método do grupo éque pode ser empregado com fins construtivos. Hitler apenas malbaratou e deturpou uma potencialidade até então negligenciada: as forças criadoras da existência em grup. A ocasião para a melhor utilização dos métodos coletivos chegará quando nos defrontar com o problema de reorganizar o mundo segundo novos traços e com a tarefa de recondicionar a mentalidade Nazista.