ESTÉTICA 1 - adapt. de "Pensar Azul"
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III Dimensões da acção humana e dos valores
2. A dimensão estéticaAnálise e compreensão da experiência estética
Malangatana, Mural, (edifício do Centro de Estudos Africanos)
2.1 A experiência e o juízo
estético
Sumário
Análise da Situação-Problema
Caracterização da experiência estética
Sensibilidade estética
A justificação do juízo estético: subjectivismo e objectivismo estéticos
Problema
O que é a experiência estética?
Nesta unidade vamos estudar a dimensão estética
do ser humano e a natureza da Arte
Para desenvolvermos a nossa sensibilidade
estética e a nossa capacidade de leitura crítica
das imagens vejamos:
>>>
Michelangelo, Pietá
Boticelli
(1445-1510),
Pietá
Van Gogh,
Pietá
PietáJá lívido repousa em seu regaço.
Já não escuta, não vê, não ri, não fala.
Aquele que foi Seu filho, Ela o embala
Morto, alheia a tempo e espaço.
O mistério parou no limiar dos assombros.
Dos irados profetas, das rígidas escrituras
Sobra um Deus morto; e os únicos escombros
São a atónita aflição das criaturas.
Eles choram, vários, como vários são
Sua revolta e sua dor. Absorto,
O olhar da Mãe escorre, inútil, no chão.
Ela, o que chora? O Deus parado - ou o filho morto?
Reinaldo Ferreira
Guião de exploraçãoda Situação-Problema >>>
Observação da escultura
• Qual é o tema?
• Que tipo de sentimentos exprimem as figuras?
• Que elementos da composição justificam esses sentimentos? (dar atenção ao material, à proporcionalidade e expressividade das figuras, à postura, aos pormenores …)
Guião de exploração da Situação-Problema
Análise do poema
Qual é o tema?
Que tipo de sentimentos exprime?
Que questões coloca?
Pietá
Já lívido repousa em seu regaço.Já não escuta, não vê, não ri, não fala.Aquele que foi Seu filho, Ela o embalaMorto, alheia a tempo e espaço.
O mistério parou no limiar dos assombros.Dos irados profetas, das rígidas escriturasSobra um Deus morto; e os únicos escombrosSão a atónita aflição das criaturas.
Eles choram, vários, como vários sãoSua revolta e sua dor. Absorto,O olhar da Mãe escorre, inútil, no chão.Ela, o que chora? O Deus parado - ou o filho morto?
Reinaldo Ferreira
Caracterização da experiência estética >>>
Miguel Ângelo representou a Mãe de Jesus com o corpo do filho mortoA escultura foi encomendada pelo cardeal Jean de Bilheres para aCapela dos Reis de França (Basílica de São Pedro, Vaticano)
Observámos diferentes formas de representação de um drama da existência (escultura, pintura, poesia) Os seus autores usaram meios diferentes para retratar a emoção sentida por Maria, Mãe de Jesus
Van Gogh, Pietá
Caracterização da experiência estética
Apesar de se tratar de uma obra de arte sacra, e de representar a morte de Cristo (um momento importante do Cristianismo), a Pietá pode ser interpretada como uma representação simbólica do sofrimento de todas as mães perante a morte de um filho
A beleza formal da escultura estimula a nossa sensibilidade, provocando um estado afectivo paradoxal: somos ao mesmo tempo tocados pela dor e atraídos pela beleza da obra.
A este tipo de experiência chamamos experiência estética
aos objectos capazes de a suscitar, objectos estéticos
Experiência estética
É um estado afectivo de agrado e de prazer
suscitado pela apropriação subjectiva de um
objecto, seja a contemplação da natureza, seja
a criação ou a contemplação de uma obra de
arte
Objecto estético
O termo usa-se em dois sentidos:
Míron (escultor grego, século V a.C.) -
Discóbolo (cópia)
•em sentido objectivo designa as obras de arte ou elementos da natureza capazes de provocarem uma experiência estética
•em sentido subjectivo (no contexto da linguagem estética), designa as representações mentais dessas obras de arte ou desses objectos naturais
Tipos de Atitudes
Quando nos colocamos perante os objectos podemos assumir:
Uma atitude técnica, quando os “olhamos” como algo útil
Uma atitude teórica, quando procuramos compreender
Uma atitude religiosa quando os “olhamos” como sinais ou símbolos de uma outra realidade
Uma atitude estética, quando os “olhamos” para sentir simplesmente o prazer do acto de observar sem qualquer outra finalidade
Atitude estética Atitude estética
é a atitude desinteressada, fixada apenas no sentimento de prazer proporcionado pela percepção do objecto
Alexander Calder, Lithograph Skybird - 1974
Experiência estética: texto de Kant
Apreender pela sua faculdade de conhecimento (…) um edifício regular e conforme a fins, é algo totalmente diverso do que ser consciente desta representação com a sensação de comprazimento. Aqui a representação é referida inteiramente ao sujeito e na verdade ao seu sentimento de prazer ou desprazer. (…) A cor verde dos prados pertence à sensação objectiva, como percepção de um objecto dos sentidos; o seu agrado, porém, pertence à sensação subjectiva, ao sentimento (…) do comprazimento.
Kant, Crítica da Faculdade de Julgar
Uma experiência estética pode ser suscitada
Pela contemplação da natureza, da sua beleza, do seu poder, grandiosidade e magnificência
Pela contemplação de
objectos estéticos,
especialmente pela
contemplação da arte
A Pietá é um objecto estético
porque a sua contemplação
provoca uma emoção
estética: um sentimento de
prazer que está para além
do dramatismo da situação
retratada na obra
Sensibilidade estética
Se nos colocarmos numa atitude estética, perceberemos os objectos como algo de que se gosta ou não se gosta
Sensibilidade estética é a capacidade de perceber e apreciar as formas, em termos de um sentimento de agrado ou desagrado
Embora seja uma capacidade natural, a sensibilidade estética precisa de ser educada e desenvolvida.
Chopin, por P. Klinge
Ouvir música desenvolve a sensibilidade estética?
Em síntese
1) Se adoptarmos uma atitude estética, olharmos os objectos desinteressadamente, fixando-nos no sentimento de agrado que o objecto nos dá, acedemos a uma experiência afectiva a que chamamos experiência estética
2) Segundo Kant, a experiência estética não se centra no objecto, nas suas características ou utilidade, nem tem qualquer preocupação prática. Refere-se ao sentimento de prazer ou de desprazer vivido pelo sujeito
3) Se educarmos a nossa sensibilidade estética, poderemos aceder a experiências estéticas de grau mais elevado
Uma experiência estética
Juízos estéticos
Ao fazermos apreciações dos objectos em termos de beleza estamos a exprimir um juízo estético
Juízo estético é a expressão da apreciação dos objectos em termos de beleza
Dali, Mulher nua ao espelho
Qual o fundamento do juízo estético?
Em que nos baseamos para dizer «A Vénus de Milo é uma escultura magnífica!», na emoção que sentimos ou nas suas características?
A cada uma destas alternativas corresponde uma concepção acerca da natureza dos juízos estéticos: subjectivismo ou objectivismo estético?Milo, Vénus
Subjectivismo / Objectivismo
Subjectivismo estético
Os juízos estéticos são subjectivos
▼A beleza depende dos sentimentos de prazer
provocados pela contemplação
desinteressada do objecto estético
Objectivismo estético
Os juízos estéticos são objectivos
▼A beleza depende das
propriedades dos objectos
independentemente do que sente o
observador
Subjectivismo estético - Kant
Se alguém me pergunta se acho belo um palácio que vejo ante mim, então posso na verdade dizer: não gosto desta espécie de coisas que são feitas simplesmente para embasbacar, ou, como aquele chefe iroquês, a quem em Paris nada lhe agrada mais do que as tabernas; posso além disso, (…) recriminar a vaidade dos grandes, que se servem do suor do povo para coisas supérfluas. (…) Pode-se conceder-me e aprovar tudo isto; só que agora não se trata disso. Quer-se saber somente se esta simples representação do objecto [palácio] em mim é acompanhada de comprazimento, por indiferente que sempre eu possa ser com respeito à existência do objecto desta representação.
Kant, Crítica da Faculdade de Julgar
Subjectivismo estético
Para Kant o juízo estético
não expressa características do objecto
refere-se ao sentimento de prazer resultante da representação do objecto
Gosto é a capacidade de julgar o sentimento de prazer ou desprazer que acompanha a representação de um objecto (Kant)
Ora, se o gosto é que julga com base no sentimento de prazer ou desprazer, então, o juízo estético é determinado por um sentimento subjectivodesinteressado de belo ou de sublime
Óscar Niemeyer, Congresso Nacional ,Brasília
Segundo Kant,O valor estético dos objectos depende do sentimento de prazer que a sua contemplação provoca(chamamos a isso subjectivismo estético)
Afirmar «A música de Mozart é bela» significa que:
• Ouvi-la produz comprazimento
(sentimento de prazer)
• Esse sentimento não depende
de nenhum interesse prático
no objecto
• A beleza designa o sentimento
de prazer provocado no sujeito
O belo é universal
O belo é o que é representado sem conceitos como objecto de um comprazimento universal. (...) Aquilo a respeito de cujo comprazimento alguém é consciente de que é nele próprio independente de todo o interesse, isso ele não pode ajuizar de outro modo senão que tem de conter um fundamento de comprazimento para qualquer um (…). Consequentemente, tem que se atribuir ao juízo de gosto, com a consciência da separação nele de todo o interesse, uma reivindicação de validade para qualquer um, sem universalidade fundada sobre objectos, isto é, uma reivindicação de universalidade subjectiva tem de estar ligada a esse juízo.
Kant, Crítica da Faculdade de Julgar
Conclusão
Para Kant, o juízo estético é
Singular, pois refere-se apenas ao sujeito que ajuíza
Universalmente subjectivo, pois deve ser válido para todos os sujeitos que julgam desinteressadamente
Tese de Kant: o juízo estético é subjectivamente
universal
Imaginemos dois cenários diferentes
Rochedos audazes e
proeminentes, por
assim dizer
ameaçadores, nuvens
de trovões
acumulando-se no céu,
avançando com
relâmpagos e
estampidos…
Um prado florido,
serpenteado por um
regato de água
cristalina, bordeado
de árvores
frondosas, a música dos
pássaros...
Belo e sublime: diferenças
Estes cenários despertam o mesmo tipo de comprazimento?
Qual dizemos que é belo? Que tipo de comprazimento proporcionará o cenário B?
No juízo estético sobre o belo, o comprazimento é tranquilo; a afirmação “o prado é belo”, traduz um sentimento de agrado positivo que mantém o espírito em serena contemplação.
Ora, a contemplação de uma tempestade, como do cenário B não proporciona o mesmo tipo de comprazimento.
Texto de Kant
O ilimitado oceano revolto, uma alta queda d’água de um rio poderoso, etc., tornam a nossa capacidade de resistência de uma pequenez insignificante em comparação com o seu poder. Mas o seu espectáculo só se torna tanto mais atraente, quanto mais terrível ele é, contanto nos encontremos em segurança; e de bom grado denominaremos esses objectos sublimes porque eles elevam as forças da alma acima da sua mediania, e permitem descobrir em nós uma faculdade de resistência de espécie totalmente diversa, a qual nos encoraja a medir-nos com a omnipotência da natureza.
Kant, Crítica da Faculdade de Juízo
Sublime
Sublime significa elevado, superior, grandioso, e a experiência do sublime refere-se a um “sentir-se superado” por algo que nos ultrapassa ilimitadamente (Kant)
Sublime é aquilo em comparação com o qual tudo o mais é pequeno
O sublime pode ser aquilo que é grande para além de toda a comparação, ou seja, o infinitamente grande (sublime
matemático) ou aquilo que excede infinitamente as nossas próprias forças (sublime dinâmico)
Experiência do sublime
Desprazer
▼obriga-nos
a reconhecer
a nossa
fraqueza
Prazer
▼permite-nos descobrir
a nossa natureza racional
ou supra-sensível
(a capacidade de pensar tamanha grandeza revela a existência em nós de uma natureza que
supera os padrões e medidas finitas e limitadas)
Tamanha grandeza ou tamanha manifestação de poder, atemoriza e atrai, proporcionando um sentimento misto de:
Texto de Kant
Encontramos a nossa própria limitação na incomensurabilidade da natureza e na insuficiência da nossa faculdade para tomar um padrão de medida proporcionado à avaliação estética do seu domínio, e contudo também ao mesmo tempo encontramos na nossa faculdade da razão um outro padrão de medida não sensível que contém em si, como unidade, aquela própria infinitude, e em confronto com a qual tudo na
natureza é pequeno;
>>>
>>>
por conseguinte, encontramos no nosso espírito uma superioridade sobre a própria natureza na sua incomensurabilidade: assim também a irresistibilidade do seu poder nos dá a conhecer, considerados como entes da natureza, a nossa impotência física, mas descobre ao mesmo tempo uma faculdade de ajuizar-nos como independentes dela e uma superioridade sobre a natureza, sobre a qual se funda uma auto conservação de espécie totalmente diversa daquela que pode ser atacada e posta em perigo pela natureza fora de nós (…).
Kant, Crítica da Faculdade de
Juízo
Belo ou sublime?
O belo é o sentimento de comprazimento suscitado pela contemplação da forma do objecto
O sublime é, simultaneamente:
• o sentimento de temor e de respeito suscitado pelo incapacidade da imaginação para compreender aquilo que a excede em poder e grandeza
• o sentimento de atracção e de sedução pelo objecto (da natureza), cuja representação determina o espírito a pensar a própria natureza como totalidade (ideia de Mundo) e a pensar--se a si mesmo como natureza supra-sensível concretizada através da moralidade
Conclusão
O belo é o
sentimento de
comprazimento
suscitado pela
contemplação da
forma do objecto
O sublime é, simultaneamente,
• o sentimento de temor e de respeito suscitado pelo incapacidade da imaginação para compreender aquilo que a excede em poder e grandeza
• o sentimento de atracção e de sedução pelo objecto (da natureza), cuja representação determina o espírito a pensar a própria natureza como totalidade (ideia de Mundo) e a pensar-se a si mesmo como natureza supra-sensível concretizada através da moralidade
Objectivismo estético
O objectivismo faz depender a apreciação estética de um conjunto de características existentes no objecto estético
Matisse, Dance
Segundo o objectivismo, quais são as características do objecto que permitem considerá-lo como objecto estético?Como identificá-las quando materializadas nas diferentes formas de arte?
Na arte contemporânea encontramos uma enorme variedade de correntes estéticas e de estilos.
Os artistas nem sempre estão integrados em movimentos estéticos nem subordinam as suas criações às regras formais (cânones) definidas
O que é valorizado é a criatividade a capacidade de imaginar novas formas para expressar uma emoção, comunicar uma ideia, fazer pensar e até intervir
Cada criação tem as suas próprias regras
A beleza deste quadro depende das suas características ou do sentimento de prazer
do espectador?
Sal
vad
or D
ali,
The
W
eani
ng o
f F
urni
ture
N
utri
tion
Objectivismo estético
Como identificar o que é arte? Como distinguir a boa da má?
O filósofo americano Monroe Beardsley (1915-1985) identificou as qualidades estéticas gerais exigidas para se poder falar de arte (seja qual for a forma de arte e das diferenças de estilo).
Afirmando que a função da arte é produzir experiências estéticas disse:o valor de uma obra de arte depende da sua capacidade
de produzir experiências estéticas
Quais as características formais para que uma obra produza uma experiência estética? Uma obra (de arte) deve ter:Qualidades estéticas gerais:
unidade / intensidade / complexidade
Qualidades regionais específicas de cada forma de arte
APLICAÇÃOSe usarmos a teoria objectivista de Beardsley como critério de avaliação da Pietá, teremos de verificar se ela tem:
• as qualidades estéticas gerais (unidade, complexidade e intensidade)
• as qualidades específicas da escultura (leveza formal, por exemplo), necessárias para provocar uma experiência estética
Que qualidades tornam este quadro uma obra de arte?
Cla
ude
Mon
et,
Impr
essã
o –
Nas
cer
do S
ol
Nesta pintura, e do ponto de vista do objectivismo estético, que características justificam o juízo
“Esta pintura é uma obra de arte”?
Chagall (1887-1985), Eu e a Aldeia
Organograma conceptual >>>
Subjectivismo estéticoA beleza depende dos sentimentos de prazer provocados pela contemplação
desinteressada do objecto estético
Objectivismo estéticoA beleza depende das propriedades do objecto, não do que sente o observador
Juízos estéticosJuízos de apreciação dos objectos estéticos
Objectosestéticos
↓
Experiência estética Estado afectivo de agrado e de prazerprovocado pela contemplação da Natureza,pela criação (artista) e pela contemplaçãoartística observador)
Objectosestéticos
↓
Obras de arte
Atitude estéticaContemplação pura e desinteressada
Objectosnaturais
>>> Organograma conceptual
SublimeO sentimento
de temor/respeito/atracção suscitado pela grandiosidade
ou pela força da Natureza
BeloO sentimento de comprazimentosuscitado pela contemplação
do objecto
KantOs juízos estéticos são juízos de gosto pois referem-se
ao comprazimento do sujeito e não ao objecto estético
O belo depende dos sentimentos prazer provocados pela contemplação desinteressada do objecto estético
Subjectivismo estético
PerguntasNinguém está dispensado de responder ao questionário do Exercício Estética 1
As respostas podem ser dadas:1.On-line (através do “Moodle”)2.Em papel (fornecido pelo professor)
O exercício será feito em sala de aula.