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Coleção TerramaRCoordenadoresNina Virgínia de Araújo Leite (Unicamp)J. Guillermo Milán-Ramos (Udelar/Uruguai – Outrarte/Unicamp)Conselho EditorialCláudia de Lemos (Unicamp)Flávia Trócoli (UFRJ)Viviane Veras (Unicamp)Paulo Endo (USP)

Nina Virgínia de Araújo LeiteEdmundo Narracci GaspariniPaulo Sérgio de Souza Jr.(organizadores)

PSICANÁLISE EMAL-ESTARNA UNIVERSIDADE

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Psicanálise e mal-estar na universidade / Nina Virgínia de Araújo Leite, Edmundo Narracci Gasparini, Paulo Sérgio de Souza Jr., (organizadores). -- Campinas, SP : Mercado de Letras, 2013. -- (Coleção TerramaR)

Vários autores.ISBN 978-85-7591-291-1

1. Freud, Sigmund, 1856-1936 2. Lacan, Jacques, 1901-1981 3. Linguagem - Ensaios 4. Psicanálise 5. Psicanálise - Ensaios I. Leite, Nina Virgínia de Araújo. II. Gasparini, Edmundo Narraci. III. Souza Junior, Paulo Sérgio de. IV. Série.

13-09342 CDD-150.195Índices para catálogo sistemático:

1. Ensaios psicanalíticos 150.195 2. Psicanálise : Ensaios 150.195

capa e gerência editorial: Vande Rotta Gomidepreparação dos originais: Editora Mercado de Letras

Obra em acordo com as novas normas da ortografia portuguesa.

DIREITOS RESERVADOS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA:© MERCADO DE LETRAS®

V.R. GOMIDE MERua João da Cruz e Souza, 53

Telefax: (19) 3241-7514 – CEP 13070-116Campinas SP Brasil

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1a ediçãosetembro/2013

IMPRESSÃO DIGITALIMPRESSO NO BRASIL

Esta obra está protegida pela Lei 9610/98.É proibida sua reprodução parcial ou totalsem a autorização prévia do Editor. O infratorestará sujeito às penalidades previstas na Lei.

SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

O MAL-ESTAR PELA TRANSMISSÃO

Psicanálise e Universidade

Intervenção no Fórum de Toulouse, dezembro de 1998 . . . . . . . . . . . 17

Sidi Askofaré

Psicanálise e Universidade entre discurso e enunciação . . . . . . . . . . . 27

Abdelhadi Elfakir

Psicanálise e Universidade: “qual transmissão?” . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Angela Vorcaro

Psicanálise e mal-estar na universidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Nina Virginia de Araujo Leite

Do embaraço: ensino e transmissão da

psicanálise na universidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Suely Aires

Psicanálise na escola e na Universidade: a transmissão

nos espaços de fronteiras e o exercício da tradução . . . . . . . . . . . . . . 81

Ana Hounie

Do ensaio ao aforismo: Lacan e o impossível de dizer . . . . . . . . . . . . 93

Gilson Iannini

A presença da psicanálise na Universidade: um enigma . . . . . . . . . . 105

Glória Maria Monteiro de Carvalho

I.

A resistência para além do dito: a assepsia

relativista e o discurso universitário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

Edmundo Narracci Gasparini

Outrarte, Outrar-se . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

Viviane Veras

O MAL-ESTAR PELOS LITORAIS

OUTRARTE: um lugar onde ancorar uma experiência . . . . . . . . . . . . 133

Cláudia Thereza Guimarães de Lemos

A fala de uma criança em impasse subjetivo

e seu efeito de angústia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

Cirlana Rodrigues de Souza

Mal-estar na universidade: uma homenagem

e proposta de trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

Fabio Akcelrud Durão

Os escritores e a psicanálise: facetas diversas

da resistência. Ou sobre as relações entre literatura,

psicanálise e ciências humanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175

Markus Lasch

O tempo re(des)coberto – diálogo entre

psicanálise e literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

Luciana K. P. Salum

“Para que transpor a cerca?”: a razão e a desrazão

à luz do encontro entre Freud e Machado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199

Camila Backes dos Santos

Un-heim-Lynch: universidade, psicanálise e arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209

Maysa Puccinelli e Daniela Scheinkman Chatelard

Sobre o encontro amoroso: as medianeras

entre o real e o simbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217

Isabela Vieira de Almeida e Olívia Loureiro Viana

Corpo, ensino de línguas e Universidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223

Newton Freire Murce Filho

II.

“Faz sentido?” – da coincidência

ao trabalho inconsciente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239

Carolina Gubert Viola

O mal-estar na narração e suas vicissitudes:

Flaubert, e depois Proust . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251

Flavia Trocoli

O MAL-ESTAR PELA CLÍNICA

Barrado o inconsciente freudiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269

Cristóvão Giovani Burgarelli

As palavras torcidas do xamã e as experiências

produtivas de indeterminação: notas preliminares a uma

releitura da homologia entre xamanismo e psicanálise . . . . . . . . . . . 277

João Felipe G. M. S. Domiciano

A sustentação da análise e o analista instituível . . . . . . . . . . . . . . . . . 289

Maurício Eugênio Maliska

A vida como obra de arte: contribuições da

psicanálise para o campo da saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297

Jaquelina Maria Imbrizi

Da queixa à demanda – o giro dos

discursos na formação clínica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307

Nara Pratta

A linguagem desinventada e a anistia do sujeito:

uma objeção à miopia psicanalítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313

Paulo Sérgio de Souza Jr.

III.

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Apresentação

Em artigo publicado em 2009,1 o autor e psicanalista francês Érik Porge refere-se ao que qualifica como o estado atual de dispersão dos analistas como responsável por faltarem lugares “de confrontação e de debate à altura dos desafios que se lançam hoje à psicanálise”, chegando a afirmar que:

[n]ão existe instância de garantia que possa fazer a partilha entre o que leva adiante a palavra de Freud e o que a faz retroceder. Freud não está mais aqui para escrever a questão da psicanálise leiga, nem Lacan para lançar seu retorno a Freud. No estado atual, só os verdadeiros debates sobre questões cruciais podem ajudar os analistas a não errar tanto. (Porge 2009, p. 145)

Destacam-se, na citação acima, dois momentos da história da psicanálise em que foi preciso, primeiro para Sigmund Freud, depois para Jacques Lacan, posicionar-se contra o que ameaçava reduzi-la, as-similando-a ou à medicina ou a uma psicologia do ego. Porge evoca esses dois momentos – o primeiro, de fundação; o segundo, de retor-no/refundação – para que se reconheçam as questões que desafiam a psicanálise hoje. Impossível negar que essas questões apontam, como sempre, para a necessidade de mantê-la inassimilável.

1. E. Porge, “Um sujeito sem subjetividade”, Literal 12, pp. 145-156, 2009, tradução de Viviane Veras.

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O Centro de Pesquisa OUTRARTE – estudos entre psicanálise e arte, criado em 2008, a partir do grupo de pesquisa SEMASOMa, juntamen-te com outros pesquisadores de diferentes universidades brasileiras – voltados, seja para a psicanálise, seja para a literatura e outras artes –, tem, nesses quatro anos de atividade, de fato, introduzido o debate em seu funcionamento.

Nesse sentido, a coordenação do grupo e alguns de seus mem-bros fundadores optaram por fazer de sua XII Jornada Corpolingua-gem/IV Encontro OUTRARTE2 um foro de debates em torno de uma questão crucial para a psicanálise hoje: as relações com outros saberes que lhe advêm de sua presença na Universidade, quer nos cur-sos de psiquiatria e de psicologia, quer nos de pedagogia, literatura ou estudos linguísticos.

O título do evento foi Psicanálise e mal-estar na Universidade. E a expressão “mal-estar” nele se fez presente para indicar um retorno ao artigo O mal-estar na civilização,3 de Sigmund Freud, em que a psicaná-lise tem seu lugar na cultura vinculado ao reconhecimento do mal-es-tar consequente à repressão, mal-estar constitutivo do humano como submetido à civilização – e que, por isso mesmo, opõe resistência aos saberes reivindicados pela civilização e encarnados nas ciências.

Desde Freud, portanto, a presença da psicanálise na Universida-de provoca mal-estar. Dito isso: por um lado, como conciliar o incons-ciente como desconhecimento, instância de não-saber (Unbewusste), com os saberes constituídos em torno dos quais se erige a Universida-de? Por outro lado, como negar o fato de que a psicanálise afeta esses saberes, ainda que não ofereça solução – não há solução para o mal-es-tar – nem se preste à aplicação?

A questão crucial a ser colocada em debate tem a ver com a tensão que resulta da inescapável resistência que a psicanálise opõe à Universidade e com a resistência que a Universidade opõe à psicanálise para ir adiante na construção de saberes positivos. Para tanto, dos três eixos em torno dos quais se organiza este livro, O mal-estar pela trans-missão traz textos que colaboram no que diz respeito a uma discussão

2. Evento realizado no período de 12 a 14 de setembro do ano de 2012.3. Em Sigmund Freud, Obras Completas, vol. XVIII (1930-1936), tradução de Paulo César

de Souza. São Paulo, Companhia das Letras, pp. 13-122.

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sobre a particularidade em jogo na presença da psicanálise no âmbito universitário, e das resistências e tensões relativas a essa vinculação.

A partir de suas experiências como analistas e como professo-res universitários, os seguintes autores oferecem suas contribuições à discussão, no que se refere ao mal-estar envolvido na transmissão da psicanálise. Através de textos como Psicanálise e Universidade (Sidi Askofaré) e Psicanálise e Universidade entre discurso e enunciação (Abdelhadi Elfakir) vêm à baila a importância dos espaços de discussão entre a co-munidade analítica e as universidades e a possibilidade da conjugação da posição docente à posição analisante. Reflexões sobre a impossi-bilidade inerente à própria transmissão apresentam-se em Psicanálise e Universidade: “qual transmissão?” (Angela Vorcaro), Do embaraço: ensino e transmissão da psicanálise na universidade (Suely Aires), Psicanálise na escola e na Universidade: a transmissão nos espaços de fronteiras e o exercício da tradução (Ana Hounie) e Do ensaio ao aforismo: Lacan e o impossível de dizer (Gil-son Iannini). Os textos de Nina Leite e de Viviane Veras dedicam-se à apresentação do centro de estudos OUTRARTE – estudos entre psica-nálise e arte, fundado no Instituto de Estudos da Linguagem, eviden-ciando certo tipo de presença da psicanálise no contexto institucional, marcando a importância de estar inserido no contexto de estudos da linguagem pela ciência e pela literatura. O trabalho de Glória Maria Monteiro de Carvalho retoma o posicionamento de Michel Plon em uma das jornadas Corpolinguagem anteriormente realizadas, retirando consequências quanto ao que nomeia como enigma da presença da psicanálise na universidade. O texto de Edmundo Gasparini contribui para o debate explorando o campo das resistências à psicanálise a partir do trabalho freudiano sobre o “Mal-estar na cultura” e esclarecendo os diversos impasses implicados no ensino da psicanálise na universidade.

Porém, se essa resistência tem certa efetividade no que toca às ciências exatas, esse não é o caso das humanidades e das artes – cuja existência assenta justamente sobre o mal-estar em questão. Assim, mostra-se necessária também uma discussão a respeito d’O mal-estar pelos litorais constituídos pela psicanálise e campos dessa natureza, a fim de lançar luz sobre a especificidade dos saberes envolvidos em suas práticas e da sua importância específica para a doutrina psicanalítica.

É o caso da linguística e das pesquisas com a fala da criança, como o que se apresenta em OUTRARTE: um lugar onde ancorar uma experiência (Cláudia Lemos) – texto no qual uma trajetória de pesquisa

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em aquisição de linguagem se mostra convocar e ser convocada pela coisa freudiana, encontrando seu lugar justamente no espaço entre arte e psicanálise – e em A fala de uma criança em impasse subjetivo e seu efeito de angústia (Cirlana Rodrigues de Souza), no qual a tensão presente nas relações entre linguística e psicanálise é apresentada a partir do estatuto de dado linguístico.

Por sua vez, no que se refere aos estudos literários e a possi-bilidade de fazer com o seu mal-estar na Universidade, Fabio Durão propõe a recuperação da negatividade da literatura; já Markus Lasch faz uma leitura que retira consequências dos diferentes posicionamentos de escritores com relação à invenção freudiana. Em O tempo re(des)coberto – Diálogo entre psicanálise e literatura, Luciana Salum aventa um encontro com o Real no mais-além do tempo proustiano e Flávia Trocoli, em O mal-estar na narração e suas vicissitudes: o estilo Flaubert, o estilo Proust, elabora sobre o ponto de convergência – entre leitura e engano – da prática da letra e do uso do inconsciente. O alienista e o mal-estar: a razão e a desrazão à luz do encontro entre Freud e Machado (Camila Backes), por fim, reflete sobre a fúria classificatória como recusa ao mal-estar.

No âmbito do cinema, uma reflexão sobre a psicanálise e seus litorais parte da proximidade vislumbrada entre a ética psicanalítica e a experiência estética lyncheana, como vemos em Un-heim-Lynch: universi-dade, psicanálise e arte (Maysa Puccinelli, Daniela Scheinkman Chatelard). Já com Sobre o encontro amoroso: as medianeras entre o real e o simbólico (Isa-bela Vieira de Almeida e Olívia Loureiro Viana), é uma discussão sobre o amor e o real que vem à tona.

No campo do ensino, O imperativo da aplicação na formação de profes-sores e no processo ensino-aprendizagem de línguas: uma discussão sobre Psicanálise e Universidade (Newton Freire Murce Filho) traz o relato de uma expe-riência e a problematização do imperativo da aplicação; enquanto “Faz sentido?” – da coincidência ao trabalho inconsciente (Carolina Gubert Viola) propõe uma discussão sobre o lugar do sentido na prática pedagógica.

Por fim, O mal-estar pela clínica reúne textos cujo intento é trazer uma contribuição a esse debate fundamental em que a psicanálise deve não apenas se posicionar quanto à especificidade de sua prática, mas justamente a partir do qual pode recolher elementos de resposta que contribuam para o esclarecimento do seu lugar na contemporaneida-de, entre outras práticas clínicas e outras orientações. Em Barrado o inconsciente freudiano, Cristóvão Giovani Burgarelli discute a importância

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da noção de desejo para o método analítico, e aponta para a impos-sibilidade de considerar psicanálise e universidade como lugares que manteriam entre si uma relação de complementaridade. O texto As palavras torcidas do xamã e as experiências produtivas de indeterminação: notas preliminares a uma releitura da homologia entre xamanismo e psicanálise (João Felipe G. M. S. Domiciano) busca rearticular os eixos de referência no diálogo entre psicanálise e antropologia através de uma discussão sobre a cura xamânica. Em A vida como obra de arte: contribuições da psicanálise para o campo da saúde, Jaquelina Maria Imbrizi discute a ideia de “vida como obra de arte” no contexto de uma articulação entre arte e psica-nálise, de forma a contribuir com questões presentes na área da saúde. A sustentação da análise e o analista instituível (Maurício Eugênio Maliska) aborda a questão da posição do analista através de uma discussão sobre as instituições psicanalíticas, a universidade e o discurso universitário. O texto Da queixa à demanda – o giro dos discursos na formação clínica (Nara Pratta) propõe uma reflexão acerca dos discursos, assim como pensa-dos por Lacan, a partir de uma experiência de supervisão de estágio em um curso de Psicologia. Por fim, em A linguagem desinventada e a anistia do sujeito: uma objeção à miopia psicanalítica, Paulo Sérgio de Souza Jr. discute a noção de sujeito de forma a marcar sua distinção necessária com o registro da “subjetividade” e do “subjetivo”.