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Universidade de São Paulo 2012 Estado nutricional e consumo alimentar de pacientes com psoríase dos tipos sistêmica e artropática sistêmica associada Einstein (São Paulo),v.10,n.1,p.44-52,2012 http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/40204 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI Departamento Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano - EEFE/EFB Artigos e Materiais de Revistas Científicas - EEFE/EFB

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  • Universidade de So Paulo

    2012

    Estado nutricional e consumo alimentar depacientes com psorase dos tipos sistmica eartroptica sistmica associada

    Einstein (So Paulo),v.10,n.1,p.44-52,2012http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/40204

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    ARTIGO ORIGINAL

    Estado nutricional e consumo alimentar de pacientes com psorase dos tipos sistmica e

    artroptica sistmica associadaNutritional status and food intake of patients with systemic psoriasis

    and psoriatic arthritis associated Marina Yazigi Solis1, Nathalia Stefani de Melo2, Maria Elisa Moschetti Macedo2, Fabiana Prata Carneiro2,

    Cid Yazigi Sabbag3, Antonio Hebert Lancha Junior4, Vera Silvia Frangella5

    Trabalho realizado no Centro Brasileiro de Estudos em Psorase CBEP, So Paulo (SP), Brasil.1 Laboratrio de Nutrio e Metabolismo Aplicados Atividade Motora So Paulo (SP), Brasil; Escola de Educao Fsica e Esporte, Universidade de So Paulo USP, So Paulo (SP), Brasil; Centro Brasileiro de Estudos em Psorase CBEP, So Paulo (SP), Brasil.2 Centro Universitrio So Camilo So Paulo (SP), Brasil.3 Centro Brasileiro de Estudos em Psorase CBEP, So Paulo (SP), Brasil; Hospital Ipiranga So Paulo (SP), Brasil.4 Escola de Educao Fsica e Esporte, Universidade de So Paulo USP, So Paulo (SP), Brasil; Laboratrio de Nutrio e Metabolismo Aplicados Atividade Motora So Paulo (SP), Brasil.5 Centro Universitrio So Camilo So Paulo (SP), Brasil; Instituto de Metabolismo e Nutrio IMeN, So Paulo (SP), Brasil.

    Autor correspondente: Marina Yazigi Solis Praa Amadeu Amaral, 47 - 4 andar - Conjunto 47 Paraso Jardins CEP: 01327-010 So Paulo (SP), Brasil Tel.: (11) 3285-1273 E-mail: [email protected]

    Data de submisso: 22/6/2011 Data de aceite: 20/1/2012

    Conflito de interesse: No h

    RESUMO Objetivo: Identificar o estado nutricional e o consumo alimentar de indivduos com psorase sistmica e artroptica associada. Mtodos: Pesquisa exploratria e transversal, na qual avaliaram-se 34 homens, de 19 a 60 anos, atendidos em um Centro de Psorase, separando-os em Grupo PS (com psorase sistmica) e Grupo PAS (com sistmica mais artroptica). A avaliao nutricional deu-se pelo emprego da antropometria; bioimpedncia e plestimografia de corpo inteiro. Aspectos clnicos e nutricionais foram investigados pela anamnese clnica, nutricional e recordatrio de 24 horas. Empregou-se o teste General Linear Model (p < 0,05) para avaliao estatstica. Resultados: Segundo ndice de Massa Corporal, 29,4% (n = 10) apresentaram-se eutrficos; 41,2% (n = 14) com sobrepeso e 29% (n = 10) com obesidade. A maioria dos avaliados (60%; n = 21) apresentou valor da porcentagem de gordura (avaliada pela antropometria, bioimpedncia e plestimografia de corpo inteiro) acima da normalidade (> 25%) e com risco alto para complicaes metablicas segundo CC e ndice de obesidade, sem diferena estatstica significativa entre os grupos. O consumo alimentar mdio de lipdio, calorias e protena apresentou-se acima do recomendado, sendo 58,8% para os lpides (319,17 241,02 mg de colesterol e 17,42 11,4 g de cidos graxos saturados); 29,4% para as calorias e 67,6% para as protenas. Assim, independentemente do tipo de psorase, encontrou-se consumo excessivo de calorias, lpides, colesterol e cidos graxos, alm de maior ocorrncia de excesso de peso. Concluso: A amostra apresentou estado nutricional

    comprometido, aumento do risco para doenas crnicas relacionadas obesidade, agravamento das leses e m qualidade de vida.

    Descritores: Psorase/complicaes; Obesidade/complicaes; Alimentao; Consumo alimentar; Estado nutricional; Fatores de risco

    ABSTRACT Objective: To identify the nutritional status and food intake of individuals with systemic psoriasis and psoriatic arthritis associated. Methods: This is an exploratory and cross-sectional study with 34 men aged between 19 and 60 years seen at a Psoriasis Center. Participants were divided into systemic psoriasis group and arthritic-systemic psoriasis associated group. For nutritional assessment we used anthropometry, bioelectrical impedance analysis and whole-body plethysmography. Clinical and nutritional information were assessed using the clinical and nutritional history-taking, and the 24-hour dietary recall. For statistics the general linear model test (p < 0.05) was used. Results: According to the body mass index 29.4% patients (n = 10) were eutrophic, 41.2% (n = 14) overweight and 29% (n = 10) obese. Almost all individuals (60%; n = 21) had body fat percentage above normal levels (> 25%) and a high risk for metabolic complications according to the waist circumference and the obesity index, however, there were no statistically significant differences between groups. The mean food intake, total fat, calories and protein were above recommended levels, being 58.8% for lipids

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    (319.17 241.02 mg of cholesterol and 17.42 11.4 g saturated fatty acids); 29.4% for calories and 67.6% for proteins. Thus, regardless of the psoriasis type, an excessive consumption of calories, lipids, fatty acids, cholesterol and a higher incidence of overweight were found. Conclusion: The sample showed an abnormal nutritional condition, an increased risk for chronic diseases related to obesity, worsening of the psoriatic lesions, and poor quality of life.

    Keywords: Psoriasis/complications; Obesity/complications; Feeding; Food consumption; Nutritional status; Risk factors

    INTRODUO A psorase uma dermatose que atinge cerca de 2 a 3% da populao mundial, sendo igualmente distribuda em ambos os sexos. Ela pode se iniciar em qualquer ida-de, porm estudos indicam que sua maior prevalncia ocorre entre os 20 a 30 anos e entre os 50 e 60 anos. Sua incidncia maior em pases como Finlndia, Islndia, Noruega e Alemanha, sendo menos frequente em povos sem mistura de raas como os negros da frica oriental, ndios e esquims. Nos Estados Unidos, estima-se que 8 milhes de pessoas tenham psorase e, no Brasil, que cerca de 2% de seus habitantes sejam acometidos pela doena(1).

    Essa enfermidade pode desenvolver-se em toda a derme, mas acomete preferencialmente a superfcie extensora dos membros, couro cabeludo, unhas, regio sacral e palmo-plantares. Ela classificada de acordo com a especificidade e a localidade de suas leses. Assim, quando aparece de maneira crnica e em forma de placas, conhecida como psorase vulgar. J quando seu surgimento possui formas de gotas, pode ser classi-ficada como psorase gutata, muito comum nos jovens. H ainda a psorase invertida, localizada em regies de dobras; a palmo-plantar, que acomete a regio das pal-mas das mos e plantas dos ps; e a eritrodrmica, que se espalha por todo o corpo(2,3).

    A psorase tambm pode ser considerada uma doen-a autoimune mediada pelas clulas de defesa conheci-das como linfcitos T (CD4 e CD8) que, por sua vez, provocariam a superproliferao de citocinas pr- infla-matrias, como interferon-, interleucinas (IL) 1 e 6 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-), incrementando as leses cutneas e, ainda, gerando um estado inflama-trio crnico(4).

    Em 1818, Alibert verificou que pacientes com pso-rase que apresentavam leses cutneas tambm pode-riam desenvolver um acometimento das articulaes, denominando-a psorase artroptica (PsA)(5). Estudo epidemiolgico desenvolvido por Zachariae et al.(6), em 2002, observou que, dentre os 5.000 pacientes da Dinamarca, Finlndia, Noruega e Sucia, que foram

    avaliados e apresentavam psorase de diferentes classi-ficaes, 30% apresentaram concomitantemente com-prometimento articular. A PsA caracteriza-se pela in-filtrao das clulas T e B, gerando um aumento das concentraes das IL-1, IL-6, IL-12, IL-15, IL-17, IL-18, interferon- e do TNF- nos tecidos que reves-tem a parte interior das articulaes, conhecidos como tecido sinovial.

    Devido inflamao crnica provocada pela pr-pria doena de pele e articular, acredita-se que os in-divduos com psorase esto sujeitos a alteraes sis-tmicas no organismo, como resistncia insulinmica, modificaes no perfil lipdico, obesidade e aumento do risco cardiovascular(7). Diversos estudos apontam uma larga relao entre a psorase e o desenvolvimento de doenas crnicas associadas, como hipertenso ar-terial, dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2 e esteatose heptica no alcolica, alm de maior suscetibilidade para as doenas coronarianas e para sndrome metab-lica. Indivduos com PsA e drmica apresentam maior tendncia para desenvolver sndrome metablica quan-do comparados populao sem psorase, segundo Raychaudhuri et al.(8) e Cohen et al.(9).

    A literatura refere que o tratamento nutricional aplicado em pacientes com psorase (associado ao con-trole das variveis bioqumicas e antropomtricas) lhes garante maior estabilidade clnica, prevenindo doenas crnicas no transmissveis (DCNT) associadas a ela e lhes propiciando longevidade com qualidade, ou seja, o controle do excesso de peso melhora o prognstico da psorase(2). Por outro lado, estudos tambm indicam que o padro alimentar estabelecido, associado ao esti-lo de vida, pode desempenhar o papel de gatilho para o desenvolvimento da psorase. Assim, a alimentao pode influenciar a psorase de duas maneiras diferen-tes: como causa das desordens metablicas, ou como tratamento e preveno.

    Contudo, embora a nutrio seja considerada uma ferramenta no tratamento para a psorase, no h ne-nhuma diretriz, nacional ou internacional, que estabe-lea uma alimentao adequada a esses pacientes. Al-guns autores sugerem que diversos compostos ativos da nossa alimentao desempenham papis importantes na fisiopatogenia da psorase, com a mesma magnitude que o controle do aporte energtico da dieta e o con-sumo de gorduras totais e saturadas contribuem para o controle das DCNT.

    Dentre esses nutrientes, citam-se algumas vitami-nas e minerais (vitamina A, E, C e D, e cido flico), cidos graxos poliinsaturados (mega 3), alm de die-tas com baixa densidade calrica(10). Acredita-se que algumas vitaminas (A, E e C), os carotenoides e os mi-

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    nerais (ferro, cobre, mangans, zinco e selnio) pos-suem capacidade antioxidante, diminuindo o estresse oxidativo e a produo de espcies reativas de oxig-nio, principalmente na presena de inflamao sist-mica, como o caso da psorase(10). Adicionalmente, as fibras alimentares tambm possuem um papel impor-tante na inflamao sistmica, diminuindo o estresse oxidativo gerado por altas cargas de aucares, alm de contribuir para melhor controle glicmico, insulinmi-co e lipidmico.

    OBJETIVOCaracterizar, identificar e relacionar o estado nutricio-nal e o consumo alimentar de pacientes com psorase sistmica e psorase artroptica associada, atendidos em um Centro de Psorase.

    MTODOSTipo e local da pesquisa Trata-se de estudo transversal, quantitativo e analtico, com cunho exploratrio. Sua durao foi de aproxima-damente 1 ano e 5 meses, sendo iniciada no ms de de-zembro de 2009. As coletas dos dados foram realizadas no Centro Brasileiro de Estudos em Psorase do muni-cpio de So Paulo.

    Populao, amostra, critrios de incluso e exclusoO local onde se desenvolveu a pesquisa atende de 30 a 60 novos casos de psorase por ms, de ambos os gne-ros e com idades entre 20 e 65 anos.

    A amostra deste estudo contemplou indivduos do gnero masculino, com psorase sistmica e artropti-ca associada, selecionados mediante os critrios que se seguem.

    Critrios de incluso: indivduos com idade entre 19 e 60 anos de idade, e do gnero masculino (para se avaliar o ciclo natural da psorase sem alterao do pro-cesso de envelhecimento, dos hormnios da gestao e dos do ciclo menstrual); histrico de diagnstico de psorase de, no mnimo, 3 anos, para que o quadro clni-co da doena estivesse suficientemente delineado; uso de terapias a laser e uso tpico de medicao; uso de farmacoterapia via oral, como metotrexato, ciclospori-na e medicamentos biolgicos; diagnstico de psorase sistmica e artroptica associada.

    Critrios de excluso: Indivduos do gnero femi-nino; idade inferior a 19 e maior que 60 anos; psorase grau leve; sem a classificao de psorase determinada no estudo.

    Aspectos ticosO estudo teve a aprovao da Comisso de tica em Pesquisa do Centro Universitrio So Camilo, sob o n-mero 193/09, atendendo ao estipulado pela Resoluo 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Sade, que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos.

    Os participantes foram indagados sobre a dispo-nibilidade em participar voluntariamente do estudo aps serem informados dos objetivos do trabalho; dos procedimentos a serem adotados e da ausncia de ris-cos sua sade, da garantia do anonimato e sigilo das informaes pessoais; da possibilidade de desistir do estudo a qualquer momento, sem apresentar motivos e sem sofrer qualquer constrangimento ou penalida-des; bem como de que sua participao era isenta de despesas e no remunerada, podendo retirar seu con-sentimento a qualquer momento, antes ou durante o estudo, sem prejuzo ou perda de seu atendimento ou de qualquer benefcio que possa ter adquirido. Assim, os participantes deste estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) perante o compromisso de que os resultados fossem transmi-tidos e divulgados oportunamente em congressos e/ou revistas cientficas.

    ProcedimentosA descrio e a classificao da doena foram definidas pelo mdico responsvel, por meio do emprego do ndi-ce de rea de gravidade da psorase (PASI). Calculou-se a pontuao global do PASI com base na avaliao de quatro regies da superfcie corporal (cabea, tronco, membros inferiores e membros superiores) utilizando--se a frmula descrita por Harari et al.(11). A amostra selecionada foi composta apenas por indivduos que apresentaram PASI 18 pontos, classificados como de maior gravidade. Aps a seleo, as pesquisadoras aplicaram aos pacientes, por meio de entrevista direta, anamnese clnica e nutricional composta pelos seguin-tes dados: - histrico socioeconmico e cultural: nome, idade,

    naturalidade e nacionalidade, endereo, atividade ocupacional, estado civil, uso de medicamentos e prtica de atividade fsica;

    - histrico familiar: condies de sade de pais, avs e tios;

    - histrico clnico (doenas pregressas e atuais): acon -tecimentos pregressos da sade do paciente, com datas; alergias; medicamentos utilizados atualmen-te; resultados de exames; tratamento clnico ou ci-rrgico realizado;

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    - histrico nutricional (alimentar ou diettico): per -da ou ganho de peso e medidas antropomtricas como peso, estatura, circunferncias e dobras cu -tneas;

    - recordatrio alimentar de 24 horas: permitiu definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridos no perodo anterior entrevista, que corresponde s 24 horas precedentes. Para tal, os voluntrios ti-veram o auxlio de uma cartilha com ilustraes de utenslios e pores.

    Ainda avaliaram-se a ausncia ou o uso de frmacos com sua posologia, e o tempo e o horrio de administra-o, anteriores consulta no centro.

    Para avaliao da composio corporal, emprega-ram-se trs diferentes mtodos de avaliao nutricio-nal, acessveis aos sujeitos em diferentes momentos, e que no apresentavam nenhum risco ou perigo no controlvel aos participantes.- Antropometria: os voluntrios foram pesados em

    balana digital da marca Plenna, capacidade de 150 kg e divises de 100 g, nivelada com o cho. J a estatura (m) foi verificada por meio de esta-dimetro (Sanny milimetrado, com comprimento de 150 cm) afixado devidamente na parede. Essas medidas foram aplicadas no clculo do ndice de massa corporal (IMC), dado por peso/estatura, sendo o resultado classificado segundo a Organiza-o Mundial da Sade (OMS)(12). Empregando-se as tcnicas descritas na literatura, mensuraram-se, no hemi corpo direito dos pacientes, as circunfe -rncias de brao (CB), cintura (CC) e quadril (CQ), utilizando-se, para tanto, a fita inelstica modelo Sanny(13). Aps a coleta dessas medidas, efetuou--se o clculo da relao cintura-quadril (RCQ), que a razo das medidas da CC pela CQ, sendo seus valores classificados segundo a OMS(14). Para avaliao da gordura corporal regional, ou avalia-o topogrfica, empregou-se o mtodo proposto por Lohmann et al.(15) para mensurao das dobras cutneas, utilizando-se, para tanto, o compasso da marca Lange, com preciso de 1,0 mm e amplitu-de mxima de 65 mm. A padronizao dos locais de medio seguiu o proposto pela literatura, sen-do a medida realizada por um nico e experiente avaliador. Cada dobra foi mensurada trs vezes no consecutivas, sendo o resultado final determinado pela mdia dos valores das medidas efetuadas. As dobras avaliadas foram: bceps (DP), trceps (DT), subescapular (DSe) e suprailaca (DSi). Com o re-sultado obtido, calculou-se o percentual de gordura, aplicando-se a equao proposta por Durnin et al.(16).

    Calculou-se tambm o ndice de conicidade, tam-bm conhecido como ndice C, para avaliao da obesi-dade e da distribuio da gordura corporal e avaliao de risco relacionado s doenas associadas ao excesso de peso, utilizando-se a seguinte equao matemtica proposta por Valdez et al.(17):

    ndice C = circunferncia da cintura (m)

    0,109 peso corporal (kg) estatura (m)Tambm calculou-se o ndice de obesidade central

    (ICO), novo parmetro empregado para avaliao da obesidade. Estudos tm considerado que somente a CC no suficiente para quantificar a proporo da gor dura corporal total, pois deve ser considerada a di-ferena de estatura entre raa e sexo. Assim, o ICO considerado o melhor parmetro para avaliar a obe-sidade central, sendo seu clculo obtido pelo emprego da seguinte frmula: ICO = circunferncia da cintura (m)/estatura (cm)

    O ponto de corte estipulado no estudo considerou a mdia do peso para vrios pases e CC, sugeridos pelo consenso da International Diabetes Federation (IDF) para sndrome metablica(18), sendo elas 1,18 para o g-nero feminino e 1,25 para o masculino;- Bioimpedncia (BIA): o emprego desse mtodo

    possibilitou a obteno da composio de gua corporal e da gordura do indivduo avaliado. Para tanto, utilizou-se o Biodynamics modelo 310. Essa anlise foi efetuada uma nica vez, com o sujeito da pesquisa posicionado em decbito dorsal, em uma maca, sem portar relgio ou qualquer outro objeto metlico. Antes da colocao dos eletrodos na pele, realizou-se a limpeza dos pontos de contato com algodo embebido em lcool 70GL. O avaliado repousou durante 3 minutos antes das tomadas de medidas. O relatrio desse equipamento forneceu: (1) massa gorda (porcentagem de gordura e gor-dura corporal em kg); (2) Massa Magra (msculos, ossos e vsceras); (3) gua corporal total (litros e porcentagem de gua na massa magra);

    - pletismografia do corpo inteiro (Air Displacement Plethysmography, BOD POD, body composition system; Life Measurement Instruments, Concord, CA): a avaliao foi realizada observando-se os cri-trios descritos pelo manual do equipamento e os de Fields et al.(19). Aps a calibrao do aparelho, os participantes foram avaliados utilizando o mni-mo de roupa possvel, uma touca de natao para prender os cabelos, sem portarem nenhum objeto metlico, como brincos, anis, correntes etc. Medi-ram-se as variaes entre a presso e o volume para se determinar a densidade corporal de cada sujeito,

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    a qual permitiu a mensurao da composio ba-seada na equao de Siri(20). Durante todo o teste, o avaliado permaneceu sentado dentro do equipa-mento. No caso do teste realizado apresentar dados inconsistentes, o prprio software do equipamen-to recusava os valores obtidos, exigindo, portanto, nova avaliao, at que a mesma fosse considerada adequada.

    Anlise estatsticaA anlise estatstica foi realizada por meio do teste General Linear Model (GLM) para anlise univariada e desbalanceada, comparando o Grupo PS (com psorase sistmica) ao Grupo PAS (com sistmica mais artrop-tica). Adotou-se como nvel de significncia p < 0,05. Ainda, para se verificar a normalidade da distribuio da amostra, utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk.

    RESULTADOS A amostra comps-se de 34 pacientes, divididos em dois grupos: Grupo PS, com 25 (73,5%) pacientes com psorase sistmica e Grupo PAS com 9 (26,5%) pacien-tes com psorase sistmica e artroptica associada. A m-dia de idade dos indivduos que compuseram a amostra foi de 40,94 11,19 anos, sendo de 38,84 10,57 anos no Grupo PS e de 46,78 10,77 anos no PAS. No se observou diferena significativa em relao ida-de (p > 0,05), entre os grupos. Dentre os 34 pacientes avaliados, 73,5% (n = 25) eram sedentrios e 26,5% (n = 9) praticavam algum tipo de atividade fsica, sen-do que essa maioria de indivduos sedentrios se man-teve tanto no Grupo PS como no PAS (76% e 66,7%, respectivamente). O sedentarismo, portanto, foi uma caracterstica dos pacientes com psorase que partici-param desse estudo (73,5% da amostra).

    De acordo com a anamnese clnica, 32,4% (n = 12) utilizam medicamentos da classe dos biolgicos (Stela-ra, Humira, Enbrel), sendo 26,5% (n = 8) da classe dos imunossupressores (metotrexato). Dos avaliados, 41,2% (n = 14) no utilizam nenhum medicamento via oral. Dentre os pacientes do Grupo PS, 28% (n = 7) fa-ziam uso do biolgico; 32% (n = 8) dos imunossupres-sores e 40% (n = 10) no utilizavam medicamento. J dentre os pacientes do Grupo PAS, 44,4% (n = 4) utili-zavam o biolgico; 11,1% (n = 1) os imunossu pressores e 44,4% (n = 4) no utilizavam medicamento.

    Dentre o total de pacientes, 38,2% (n = 13) apre-sentavam uma ou mais doenas associadas, como hiper-tenso arterial, diabetes mellitus, dislipidemia, doena

    coronariana e cncer, sendo 36% (n = 9) no Grupo PS e de 44,4% (n = 4) no Grupo PAS (Tabela 1).

    A amostra apresentou um tempo mdio de acome-timento da psorase de 15,41 7,93 anos. Os indiv-duos do Grupo PS e PAS apresentaram tempo mdio de 14,96 7,24 anos e 16,75 9,59 anos, respectiva-mente. Ao se comparar o tempo de doena entre am-bos os grupos e a incidncia de doenas associadas, verificou-se que no houve diferena estatstica sig-nificativa entre eles (p > 0,05).

    A amostra ainda foi estratificada em outras duas ca-tegorias, considerando o tempo de doena, sendo elas indivduos com at 20 anos de psorase e os com mais de 20 anos da doena. Assim, observou-se que, dentre os 24 indivduos que possuam at 20 anos de psorase, 33,3% (n = 11) apresentaram uma ou mais doenas associadas; e dentre os 10 pacientes que apresentaram mais de 20 anos de psorase, 50% (n = 5) apresentaram uma ou mais doenas associadas (Figura 1), ou seja, houve maior ocorrncia das comorbidades associadas psorase no grupo com maior tempo de instalao da psorase.

    A mdia encontrada na amostra pela avaliao do IMC foi de 28,01 4,42 kg/m, sendo que, no Grupo

    Tabela 1. Relao entre o tempo de psorase e as doenas associadas

    Grupos Tempo de psorase (anos)Presena de doenas

    associadas (%)

    Grupo PS 14,96 7,24 36 sim64 no

    Grupo PAS 16,75 9,59 44,4 sim55,6 no

    Total 15,41 7,93 38,2 sim61,8 no

    PS: psorase sistmica; PAS: psorase artroptica e sistmica associadas.

    Figura 1. Distribuio de pacientes por tempo de psorase e doenas associadas

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    PS, correspondeu a 27,86 4,55 kg/m e, no Grupo PAS, a 28,42 3,99 kg/m, sem diferena significativa entre os grupos com relao ao IMC (p > 0,05). De acordo com a classificao da OMS 20, 29,4% (n = 10) dos pacientes apresentaram IMC de eutrofia; 41,2% de sobrepeso (n = 14); 20,6% (n = 7) de obesidade classe I; 5,9% (n = 2) de obesidade classe II e 2,9% (n = 1) de obesidade classe III. Tais resultados apontam que 24 pacientes (70,6% da amostra total) apresentaram exces-so de peso. No Grupo PS, 28% (n = 7) dos indiv duos apresentaram eutrofia; 48% (n = 12) apresentaram so-brepeso; 16% (n = 4) obesidade classe I; 4% (n = 1) obesidade classe II e 4% (n = 1) obesidade classe III. J no Grupo PAS, 33,3% (n = 3) apresentaram eutrofia; 22,2% (n = 2) apresentaram sobrepeso; 33,3% (n = 3) obesidade classe I e 11,1% (n = 1) obesidade classe II (Tabela 2).

    Alm do IMC, analisaram-se algumas medidas cen-trais para que fossem verificados os possveis riscos re-lativos doena. Assim, a mdia da medida da CC da amostra resultou em 95 13,45 cm (94,6 14,45 cm no Grupo PS e 95,9 10,27 cm no PAS). Dessa for-ma, segundo a classificao do Consenso de Sndrome Metablica(18), do total de indivduos avaliados, 23,5% apresentaram risco muito alto para o desenvolvimento de complicaes metablicas, 32,4% apresentaram ris-co alto e 41,2% no apresentaram risco, sem diferena significativa entre os grupos (p > 0,05).

    Os valores da RCQ foram de 0,91 0,07; 0,90 0,08 e 0,92 0,06, para a populao total, Grupo PS e PAS, respectivamente. Assim, dentre todos os pacientes ava-liados, 70,6% (n = 24) no apresentaram risco para o desenvolvimento de doenas cardiovasculares e 29,4% (n = 10) apresentaram risco, segundo a OMS(14). A mes-ma proporo de risco de desenvolvimento de doen as cardiovasculares foi encontrada no Grupo PS. J no Grupo PAS, nenhum paciente apresentou risco para o desenvolvimento de doenas cardiovasculares, segundo esse parmetro.

    De acordo com o ndice de obesidade central, a mdia geral da amostra foi de 0,55 0,08 (0,54 0,08 no Grupo PS e 0,57 0,07 no Grupo PAS). Assim, ambos os grupos no apresentam risco para a sndro-me metablica segundo a classificao do ndice de obesidade proposta pelo IDF(18). No houve diferena estatstica entre os grupos (p > 0,05). J a mdia geral

    Tabela 2. Classificao da composio corporal, segundo IMC, associado ao tipo de psorase

    Diagnstico para IMC

    Grupo PS Grupo PAS Total

    n % n % n %

    Eutrofia 7 28 3 33,3 10 29,4

    Sobrepeso 12 48 2 22,2 14 41,2

    Obesidade classe I 4 16 3 33,3 7 20,6

    Obesidade classe II 1 4 1 11,1 2 5,9

    Obesidade classe III 1 4 0 0 1 2,9

    IMC: ndice de massa corprea; PS: psorase sistmica; PAS: psorase artroptica e sistmica associadas.

    Tabela 3. Comparao da composio corporal de pacientes com psorase por diferentes mtodos

    Mtodos Diagnstico (%)Grupo PS Grupo PAS Total

    n % n % n %

    Antropometria Obesidade mrbida (> 40) 2 8 3 33,3 5 14,7

    Obesidade elevada (35-40) 4 16 1 11,1 5 14,7

    Obesidade moderada (30-35) 7 28 1 11,1 8 23,5

    Obesidade leve (25-30) 5 20 3 33,3 8 23,5

    Acima da mdia (16-24) 4 16 0 0 4 11,8

    Mdia (15) 0 0 0 0 0 0

    Bioimpedncia Risco (> 30) 4 16 2 22,2 6 17,6

    Excesso de adiposidade (20-30) 12 48 5 55,6 17 50

    Moderada massa magra (12-20) 7 28 2 22,2 9 26,5

    Adequado (8-12) 0 0 0 0 0 0

    Muito magro (5-8) 0 0 0 0 0 0

    Plestimografia de corpo inteiro Risco (> 30) 10 40 4 44,4 14 41,2

    Excesso de adiposidade (20-30) 7 28 3 33,3 10 29,4

    Moderada massa magra (12-20) 4 16 2 22,2 6 17,6

    Adequado (8-12) 2 8 0 0 2 5,9

    Muito magro (5-8) 0 0 0 0 0 0

    PS: psorase sistmica; PAS: psorase artroptica e sistmica associadas.

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    50 Solis MY, Melo NS, Macedo ME, Carneiro FP, Sabbag CY, Lancha Junior AH, Frangella VS

    do ndice C obtida foi de 1,25 0,08, 1,24 0,09 e 1,28 0,07 para a amostra, Grupo PS e PAS, respec-tivamente, sem diferena estatstica entre os grupos (p > 0,05).

    Ao se empregar a tcnica da antropometria, por meio da soma das dobras do bceps, trceps, subesca-pular e supra-ilacas, encontrou-se 32,07 6,52% de gordura corporal, sendo que mais de 2/3 (n = 25) da amostra apresentaram porcentagem de gordura acima da normalidade e com risco de doenas associadas. Ao se discriminar a porcentagem de gordura pela antropo-metria entre os grupos, o Grupo PS apresentou uma m dia de 30,85 5,96% e o Grupo PAS de 35,44 6,81%. Dentre os pacientes, 68% (n = 17) do Grupo PS e todos os nove indivduos do Grupo PAS apresentaram por-centagem de gordura com risco para doenas associa-das obesidade. De acordo com as analises estatsticas, no houve diferena significativa entre os grupos com relao porcentagem de gordura obtida pela soma das dobras aqui citadas (p > 0,05).

    Ao se utilizar a tcnica de BIA, a porcentagem mdia de gordura corporal foi de 24,14 5,91% (23,68 6,2% no Grupo PS e de 25,32 4,86% no PAS). Dentre os 34 pacientes, 67% encontravam-se acima da normali-dade, com risco para doenas associadas, sendo que 16 indivduos faziam parte do Grupo PS e 7 do PAS. Ao se comparar a porcentagem de gordura pela BIA entre os grupos, no houve diferena significativa nas anlises estatsticas (p > 0,05). E, por fim, ao se men-surar o percentual de gordura corporal pelo mtodo de pletis mografia (BOD POD), os valores mdios foram de 27,43 8,99% na amostra (27,02 9,49% no Grupo PS e de 28,49 7,48% no PAS). Ainda, do total dos indivduos, 24 apresentaram porcentagem de gordura acima da normalidade, sendo que 17 deles faziam parte do Grupo PS. Em relao s anlises estatsticas, tam-bm no houve diferena significativa entre os grupos com relao porcentagem de gordura obtida pelo m-todo de pletismografia (p > 0,05).

    De maneira geral, verificou-se que os valores ob-tidos de porcentagem de gordura estavam acima da normalidade pelos mtodos da antropometria nos Gru-pos PS (72%) e PAS (88%). Pela BIA, nos Grupos PS (64%) e PAS (78%), e pelo BOD POD, tambm nos Grupos PS (68%) e PAS (78%), no apresentaram di-ferena significativa. Ainda, pde-se observar que, em ambos os grupos, a porcentagem de gordura acima da normalidade esteve presente em mais de 64% dos indi-vduos (n = 21) (Tabela 3).

    O consumo alimentar dos pacientes foi distribudo em calorias e macronutrientes. O consumo calrico m-dio foi de 2.031,87 728,96 Kcal (2.196,62 565,28 Kcal

    no Grupo PS e de 1.578,81 913,27 Kcal no PAS). No Grupo PAS, 44,4% (n = 4) dos indivduos apresenta-ram consumo calrico abaixo do recomendado. Verifi-cou-se que houve diferena significativa entre os grupos com relao ao consumo calrico (p < 0,05). A amostra apresentou consumo de 43,3 12,24% de carboidratos; 19,4 5,43% de protenas; e 35,8 10,02% de lipdios. O consumo mdio do Grupo PS foi de 42,8 12,53% de carboidratos; 20,1 5,78% de protenas; e 35,4 9,6% de lipdios. J o Grupo PAS apresentou consumo de 44,8 11,28% de carboidratos; 17,8 3,83% de pro -tenas; e 36,8 11,02% de lipdios. No houve di -ferena significativa no consumo de carboidratos e li pdios (p > 0,05) entre os grupos, mas o consumo proteico do Grupo PS foi significativamente maior (p = 0,006).

    Ao se analisar a qualidade dos lipdios ingeridos, constatou-se que 40% da amostra (n = 14) apresentou consumo inadequado de colesterol (319,17 241,02 mg), cidos graxos saturados (17,42 11,4 g), mono (22,12 15,11 g) e poliinsaturados (14,71 10,71 g). Alm disso, os indivduos avaliados apresentaram baixos valores de ingesto de fibras (13,47 8,91 g), sendo que se constatou o baixo consumo de frutas e hortalias, o que favoreceu a ingesto de quantidades reduzidas de vitaminas (A, B, C, D e do complexo B) e minerais (mangans e selnio) em quase 50% para todos os micronutrientes, em ambos os grupos.

    DISCUSSOO nmero encontrado de pacientes com o comprometi-mento articular assemelha-se ao observado em um estudo epidemiolgico desenvolvido por Zachariae et al.(6) com pacientes da Dinamarca, Finlndia, Noruega e Sucia.

    As ocorrncias encontradas para a obesidade se-guida pela hipertenso e diabetes mellitus tipo 2 se aproximam das obtidas no estudo de Cohen et al.(9), no qual se avaliaram 340 pacientes israelenses com pso-rase vulgar. Altobelli et al.(21) tambm verificaram a frequncia de DCNT em mais de 1.300 pacientes com psorase de 21 Departamentos de Dermatologia na Itlia. Esses autores afirmaram ainda que o risco para DCNT aumenta conforme a idade, especificamente entre os 35 e 50 anos, sendo mais expostos a poluente qumico e maus hbitos de vida como alimentao e inatividade fsica.

    O estudo de coorte realizado em 1996 por Naldi et al.(22), com cerca de 78.000 enfermeiras registradas no Nurses Health Study II, entre 1991 e 2005, avaliou a relao entre a psorase e o IMC, CC, CQ e RCQ, e revelou que quanto maior o IMC maior o risco rela-

  • 51Estado nutricional e consumo alimentar de pacientes com psorase

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    tivo (RR) de desenvolver psorase. Pacientes com IMC entre 23,0 e 24,9 kg/m apresentavam RR de 1,19; os com 25,0 a 29,9 kg/m RR de 1,40; pacientes com 30,0 a 34,9 kg/m RR de 1,48; e os com 35,0 kg/m RR de 2,69. Tambm se encontrou relao tendenciosa ao au-mento de CC e CQ e o surgimento de psorase. Assim, esses resultados corroboram os achados do presente trabalho quanto aos valores aumentados de CC e do IMC, que demonstrou que a maioria da amostra ava-liada apresentou excesso de peso, ou seja, algum grau de sobrepeso e obesidade. Alm disso, a ocorrncia da obesidade se apresentou duas vezes maior quando comparada estimada para a populao geral.

    Os trs mtodos de composio corporal emprega-dos apontaram excesso de adiposidade, sem diferena estatstica significativa entre eles, indicando a eficcia dos trs mtodos em avaliar o percentual de gordura dos pacientes com psorase.

    O excesso de peso, assim, foi o diagnstico nutricio-nal que mais ocorreu em ambos os grupos estudados, sendo a obesidade mais frequente no grupo PAS. Isso poderia ser explicado pela possibilidade de os indiv-duos do Grupo PAS apresentarem inflamao sist mica adicionada inflamao localizada nas articulaes. Contudo, essa justificativa no pode ser sustentada pela literatura, sendo que mais estudos precisam ser realiza-dos para tentar responder a tal achado.

    Assim, as evidncias encontradas na literatura, juntamente dos achados deste trabalho, confirmam a relao positiva entre a psorase e a obesidade. Cabe lembrar que a primeira tambm considerada uma doena inflamatria e que a obesidade apresenta ele-vada produo de citocinas pr-inflamatrias como TNF-, IL-1, IL-6 e IL-8 pelo tecido adiposo. Dessa forma, ambas podem gerar quadros de hiperglicemia, diminuio da sensibilidade insulina e hipertenso, favorecendo o surgimento da sndrome metablica quando o indivduo apresenta adiposidade central(1,7), o que tambm se pde constatar no presente estudo.

    Alm do estado inflamatrio crnico caractersti-co da psorase, a inadequao do padro alimentar e a inatividade fsica podem desempenhar papel de gatilho para o desenvolvimento da psorase e DCNT associa-das, bem como incrementar o processo inflamatrio. Contudo, cabe lembrar que, interessantemente, a nu-trio pode influenciar a psorase de duas maneiras diferentes: como causa das desordens metablicas ou como tratamento e preveno. A literatura menciona que o tratamento nutricional em pacientes com pso-rase (associado ao controle das variveis bioqumicas e antropomtricas) garante maior estabilidade clni-ca a esses indivduos, prevenindo DCNT associadas pso rase e propiciando maior longevidade com quali-

    dade(23). Desse modo, o tratamento nutricional em pa-cientes com psorase, juntamente os controle das va-riveis bioqumicas e antropomtricas, garante maior estabilidade clnica a indivduos com psorase, preve-nindo as DCNT comumente associadas a ela e propi-ciando maior longevidade com qualidade(24).

    Os resultados do consumo alimentar demonstraram um consumo heterogneo entre os grupos, porm no estatisticamente diferentes. Cabe ressaltar a possibilida-de de sub-relato nessa populao. Segundo Scagliusi et al.(25), a populao com sobrepeso e obesidade apresenta maior sub-relato ao descrever o consumo alimentar.

    Como valores da distribuio percentual de macro-nutrientes, a OMS(26) recomenda protenas (10 a 15%) e lipdios (15 a 30%). Contudo, as mdias de consumo de protena e de gordura se encontraram aumentadas nos indivduos avaliados. J a mdia do consumo de carboi-dratos foi inferior ao recomendado, que de 50 a 60%. Os achados corroboram os encontrados no estudo de Willet(27), no qual foi concludo que h relao direta entre o consumo de dietas hiperlipdicas e o agravo das doenas crnicas, como obesidade e dislipidemia.

    Acredita-se que o alto consumo de lipdios, coles-terol e cidos graxos saturados deveu-se alta ingesto de alimentos proteicos de origem animal, conforme re-latado pelos avaliados. Alm disso, os indivduos avalia-dos apresentaram baixos valores de ingesto de fibras, observando-se baixo consumo de frutas e hortalias, o que tambm contribuiu para o resultado de quantida-des reduzidas na ingesto de vitaminas (A, C, D e do complexo B) e minerais (mangans, zinco e selnio), em ambos os grupos. Naldi et al.(22) , ao avaliarem o consu-mo alimentar de 316 pacientes com psorase, por meio de questionrio semiquantitativo, tambm observaram reduo do consumo de vitaminas e minerais em todos os participantes. Os mesmos autores sugerem que o au-mento da ingesto de alimentos fonte de carotenoides, flavonoides, selnio, vitamina A, C e E so de grande relevncia ao indivduo com psorase, por possuir ca-pacidade de reduzir a produo das EROS e a inflama-o tecidual, favorecendo a estabilidade da membrana celular e a reparao das leses da epiderme. As ina-dequaes alimentares encontradas, segundo Mobbs et al.(28), podem ser justificadas pelo aumento do processo de industrializao e urbanizao no Brasil e no mundo, levando a um incremento do consumo de dietas ricas em gorduras, acares, bebidas adocicadas e alimentos refinados, alm de uma reduo do consumo de carboi-dratos complexos e fibras.

    Com os resultados aqui descritos, foi possvel tra-ar o perfil nutricional dos participantes da pesqui-sa, identificando-se a maior ocorrncia do excesso de peso, independentemente do tipo de psorase. Assim,

  • einstein. 2012;10(1):44-52

    52 Solis MY, Melo NS, Macedo ME, Carneiro FP, Sabbag CY, Lancha Junior AH, Frangella VS

    os achados deste estudo confirmam os resultados j de-monstrados na literatura quanto relao entre a pso-rase e a obesidade, alm do risco de desenvolvimento de outras comorbidades, como hipertenso arterial, dia betes mellitus, dislipidemia e doenas coronarianas.

    Alm disso, ao se analisar o tipo de psorase estabe-lecido, na tentativa de compreender as diferenas meta-blicas entre eles, verificou-se que ambos apresentaram o mesmo comportamento no que diz respeito a altera-es metablicas e aumento de fatores de riscos para o desenvolvimento de doenas associadas.

    Este estudo tambm indica diferentes mtodos e ferramentas que podem ser utilizados, na prtica cl-nica, para avaliao e acompanhamento de indivduos com psorase.

    Os resultados do presente estudo assinalam que o nutricionista deve ficar atento quantidade e quali-dade do consumo alimentar, especialmente no que se refere ingesto calrica, lipdica, de vitaminas (A, C, E e do complexo B) e dos minerais (mangans, zinco e selnio), realizando interveno alimentar, com o ob-jetivo de manter o peso ideal, atenuar a produo de radicais livres e inflamao tecidual, favorecendo esta-bilidade da membrana celular e reparao das leses cutneas. Adicionalmente, o consumo de alimentos ri-cos em substncias antioxidantes, como vegetais e fru-tas frescas, deve ser estimulado, recomendando-se in-gesto diria desses alimentos conforme prope o Guia Alimentar Brasileiro(29).

    CONCLUSOOs pacientes com psorase mostraram um estado nutri-cional comprometido, aumento do risco para doenas crnicas relacionadas obesidade, agravamento das leses e m qualidade de vida. No houve diferenas significativas entre os grupos quanto dieta ingerida.

    AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos os voluntrios da pesquisa, por par-ticiparem das anlises e dos questionamentos, bem como ao Centro Brasileiro de Psorase e ao Instituto Vita, por cederem o espao para a realizao desta pesquisa.

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