Estado de minas 20 de julho de 2011 - capa chico lobo

1
EM ESTADO DE MINAS QUARTA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2011 EDITOR: João Paulo Cunha EDITORA-ASSISTENTE: Ângela Faria E-MAIL: [email protected] TELEFONE: (31) 3263-5126 NOEL ROSA EM DESTAQUE Gilson Peranzetta e Mauro Senise gravam DVD e CD em homenagem ao poeta da Vila. PÁGINA 4 ANA LUÍSA MARINHO/DIVULGAÇÃO CHICO LOBO BUSCA NOVOS CAMINHOS MUSICAIS NO DISCO CAIPIRA DO MUNDO. ARNALDO ANTUNES, ZECA BALEIRO, VITOR RAMIL, VANDER LEE, FAUSTO NILO E CHICO CÉSAR ESTÃO ENTRE OS PARCEIROS DO VIOLEIRO OUTRA TOADA AILTON MAGIOLI O pequeno Tomaz, de 7 anos, pe- diu o pai de volta ao se deparar com Chico Lobo de cabelos cur- tos. Depois de passar duas déca- das com longas madeixas, o vio- leiro resolveu mudar. O público, no entanto, não deverá estranhar o novo visual do cantor, compo- sitor e instrumentista. E muito menos a guinada de Chico em di- reção aos poetas contemporâ- neos em Caipira do mundo, dis- co que ele vai lançar com show, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em 26 de setembro. Já à venda nas lojas, o CD am- plia o contato da música e da vio- la de Chico com novas frentes na tentativa de romper com a por- ção caipira. Entretanto, ele dialo- ga com letristas nos quais identi- fica certo regionalismo. A pro- posta de Rossana Decelso, em- presária e produtora de Zeca Ba- leiro, levou a criação de Chico em direção a Alice Ruiz (A mais difí- cil opção), Chico César (Tristeza do culto), Ricardo Aleixo (Cantiga de caminho), Sérgio Natureza (Canto a cântaros), Siba (Pássaro de rima), Verônica Sabino (No fio da olhar), Arnaldo Antunes (Eu ando muito cansado), Vander Lee (Quando falta o coração), Fausto Nilo (No fim da rua), Maurício Pe- reira (Pra onde que eu tava in- do?), Vítor Ramil (Cantata) e Zeca Baleiro (Morena de Minas). O projeto inclui Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis: a canção Dois rios foi transformada na vi- nheta que fecha o disco. As mudanças não param por aí. O violeiro acaba de gravar com o clarinetista Paulo Sérgio Santos e o violoncelista Marcio Malard 3 Brasis, o primeiro dis- co exclusivamente instrumen- tal de sua carreira, ainda sem da- ta de lançamento. DISTORÇÃO A aproximação de Chico Lobo dessa turma toda de compositores remonta à época do lançamento do disco No braço dessa viola, quando ele usou pedais de distorção em sua viola para tocar Heavy metal do senhor, de Zeca Baleiro. “Mas o crédito do novo tra- balho deve ser dado para Rossana Decelso, amiga de longa data”, diz Chico, lembrando que ela lhe pediu para ouvir algo novo que havia composto. Imedia- tamente, chegaram a Rossana 25 inéditas, das quais o autor pretendia tirar 13 para gravar um disco. “Pouco tempo depois, Rossana me liga e faz uma provocação. Perguntou se eu aceitaria letras para co- meçar o processo do zero”, revela o violeiro, que ado- ra um desafio. No Rio de Janeiro, apesar do medo, ele musicou as duas primeiras canções de Caipira do mundo, parcerias com Zeca Baleiro e Sérgio Nature- za. “Sempre compus intuitivamente, daí o pânico”, justifica. Em apenas uma noite ele fez as duas melo- dias. A partir de então, a empatia com os novos par- ceiros foi imediata. “Nenhuma canção demorou mais de duas horas para ficar pronta”, revela. E res- salta o caráter filosófico de algumas letras, diferen- temente das que sempre escreveu ou recebeu de ra- ros parceiros, como Jorge Fernando dos Santos. “Chico é um violeiro danado e inquieto, doido pa- ra alargar os limites de seu instrumento e alçar no- vos voos estéticos”, constata Zeca Baleiro, que classi- fica de “música brasileira pro mundo ouvir” a nova incursão do mineiro no mercado fonográfico. “Fiz algo com viés caipira, fui levando a estrofe pa- ra botar algo mais rural, mas a letra é bem paulista- na”, comenta Maurício Pereira. Em Pra onde que eu tava indo?, ele aborda o corre-corre diário da maior cidade brasileira. Convidado para cantar com Chico Lobo No fio do olhar, parceria do mineiro com Verô- nica Sabino, Zé Geraldo lembra que, por ter o pé no mato, sempre se identificou com a música do violei- ro. “Chico é um grande instrumentista, estou honra- do pelo convite”, afirma Zé Geraldo. Para Chico Lobo, a letra da filha de Fernando Sa- bino, quase prosa, representou um desafio para ele musicar. “Fui para um caminho pelo qual jamais ha- via passado, o da balada”, revela. E fez o mesmo nas parcerias com Fausto Nilo e Vander Lee. “Fiquei de- safiada da mesma maneira. A ideia veio, as palavras foram se sucedendo e, quando vi, estava pronta. Mandei o primeiro texto, uma prosa que tem a ver com Bob Dylan, Zé Ramalho. O incrível foi que ele musicou de cara”, elogia Verônica Sabino, feliz pela coragem do parceiro em correr riscos. “O disco dele está lindo”, conclui ela. Com o ex-titã Arnaldo Antunes ocorreu algo in- teressante, relembra o mineiro. “Ele chegou quando já estávamos gravando as guias. O produtor Guilher- me Kastrup mostrou três músicas, dizendo que eram de um violeiro em busca de novos diálogos. Ar- naldo é um poeta muito cuidadoso com a palavra. No estúdio, fomos acertando a sílaba tônica tão ca- racterística das letras dele”. O gaúcho Vitor Ramil pediu a Chico a melodia. “Mandei e ele me enviou a Cantata, o que me levou a optar pela gravação com viola, viola de arco e acor- deom”. De Alice Ruiz chegou letra extremamente fi- losófica, que o violeiro conseguiu levar para o uni- verso de seu instrumento. “Foi incrível dar vida às palavras de outras pes- soas. Parece até que todos eles já me conheciam”, elogia Chico. “O Zeca Baleiro foi muito generoso e ainda brinca com o Menino da porteira, de Sérgio Reis, na letra dele”, antecipa, acrescentando que Sér- gio Natureza foi capaz de trazer para o refrão algo que sempre fez ao retornar de uma viagem: “Bom é voltar para casa”, reconhece. Com Siba, Chico resgatou a cultura nordestina que admirou na juventude, via Banda de Pau & Cor- da (também convidada do disco). Virgínia Rosa e a cantora portuguesa Suzana Travasso também mar- cam presença em Caipira do mundo, que reúne ins- trumentistas como Paulo Sérgio Santos, Lívio Trag- tenberg, Lui Coimbra, Marcelo Jeneci, Tuco Marcon- des, Swami Jr. e Rogério Delayon. MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS De cabelos cortados, Chico Lobo confessa: mudar dá pânico FALA, PARCEIRO MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO Caipira do mundo – 2011. Saravá Discos Encontro de violas – 2007. Independente (com Pedro Mestre) Vozes de viola, Corais Maximus e Promove cantam Chico Lobo – 2006. Independente Viola popular brasileira – 2005. Kuarup (também em DVD) Os bambas da viola – 2004. Kuarup (coletânea) Paixão e fé na canção brasileira, Chico Lobo – Vozes das Gerais – 2003. Kuarup Caipiríssimo – Clássicos e joias da música caipira – 2003. Kuarup (coletânea) O violeiro e a cantora – 2002. Independente (com Déa Trancoso) Cantoria brasileira – 2002. Kuarup (coletânea) Viola caipira, tradição, causos e crenças – 2002. Kuarup Palmeira seca – 2001. Karmim (com convidados) Reinado – 2000. Kuarup Nosso coração caipira – 1998. Atração Fonográfica (com Jackson Antunes) No braço dessa viola – 1996. Kuarup CARREIRA Natural de São João del-Rei, Chico Lobo se mudou para Belo Horizonte em 1983. Na capital mineira, iniciou a carreira profissional em 1991. Lançou sete discos solo. Cantor, compositor e instrumentista, ele lembra que, ao chegar a BH, o grande ícone da viola era Renato Andrade, que havia conhecido em sua cidade natal, aos 14 anos. Ex-integrante do grupo Aruanda (assumia voz, viola, arranjos e direção musical), que considera a sua grande escola, Chico acabou liderando a cena violeira em BH ao lado de Tavinho Moura e Pereira da Viola, entre outros. DISCOGRAFIA Zeca Baleiro Chico é um violeiro danado e inquieto, doido para alçar novos voos estéticos

Transcript of Estado de minas 20 de julho de 2011 - capa chico lobo

Page 1: Estado de minas   20 de julho de 2011 - capa chico lobo

E MESTADO DE MINAS ● Q U A R TA - F E I R A , 2 0 D E J U L H O D E 2 0 1 1 ● E D I T O R : J o ã o P a u l o C u n h a ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : Â n g e l a F a r i a ● E - M A I L : c u l t u r a . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6

★★

NOEL ROSAEM DESTAQUE

Gilson Peranzettae Mauro Senisegravam DVD e CDem homenagemao poeta da Vila.

PÁGINA 4

ANA LUÍSA MARINHO/DIVULGAÇÃO

CHICO LOBO BUSCA NOVOS CAMINHOS MUSICAIS NO DISCO CAIPIRA DO MUNDO. ARNALDO ANTUNES, ZECA

BALEIRO, VITOR RAMIL, VANDER LEE, FAUSTO NILO E CHICO CÉSAR ESTÃO ENTRE OS PARCEIROS DO VIOLEIRO

OUTRATOADA

AILTON MAGIOLI

O pequeno Tomaz, de 7 anos, pe-

diu o pai de volta ao se deparar

com Chico Lobo de cabelos cur-

tos. Depois de passar duas déca-

das com longas madeixas, o vio-

leiro resolveu mudar. O público,

no entanto, não deverá estranhar

o novo visual do cantor, compo-

sitor e instrumentista. E muito

menos a guinada de Chico em di-

reção aos poetas contemporâ-

neos em Caipira do mundo, dis-

co que ele vai lançar com show,

no Grande Teatro do Palácio das

Artes, em 26 de setembro.

Já à venda nas lojas, o CD am-plia o contato da música e da vio-la de Chico com novas frentes natentativa de romper com a por-ção caipira. Entretanto, ele dialo-ga com letristas nos quais identi-fica certo regionalismo. A pro-posta de Rossana Decelso, em-presária e produtora de Zeca Ba-leiro, levou a criação de Chico emdireção a Alice Ruiz (A mais difí-cil opção), Chico César (Tristezado culto), Ricardo Aleixo (Cantigade caminho), Sérgio Natureza(Canto a cântaros), Siba (Pássarode rima), Verônica Sabino (No fioda olhar), Arnaldo Antunes (Euando muito cansado), Vander Lee(Quando falta o coração), FaustoNilo (No fim da rua), Maurício Pe-reira (Pra onde que eu tava in-do?), Vítor Ramil (Cantata) e ZecaBaleiro (Morena de Minas). Oprojeto inclui Samuel Rosa, LôBorges e Nando Reis: a cançãoDois rios foi transformada na vi-nheta que fecha o disco.

As mudanças não param poraí. O violeiro acaba de gravarcom o clarinetista Paulo SérgioSantos e o violoncelista MarcioMalard 3 Brasis, o primeiro dis-co exclusivamente instrumen-tal de sua carreira, ainda sem da-ta de lançamento.

DISTORÇÃOA aproximação de Chico Lobo dessa turma toda

de compositores remonta à época do lançamento dodisco No braço dessa viola, quando ele usou pedaisde distorção em sua viola para tocar Heavy metal dosenhor, de Zeca Baleiro. “Mas o crédito do novo tra-balho deve ser dado para Rossana Decelso, amiga delonga data”, diz Chico, lembrando que ela lhe pediupara ouvir algo novo que havia composto. Imedia-tamente, chegaram a Rossana 25 inéditas, das quaiso autor pretendia tirar 13 para gravar um disco.

“Pouco tempo depois, Rossana me liga e faz umaprovocação. Perguntou se eu aceitaria letras para co-meçar o processo do zero”, revela o violeiro, que ado-ra um desafio. No Rio de Janeiro, apesar do medo, elemusicou as duas primeiras canções de Caipira domundo, parcerias com Zeca Baleiro e Sérgio Nature-za. “Sempre compus intuitivamente, daí o pânico”,justifica. Em apenas uma noite ele fez as duas melo-dias. A partir de então, a empatia com os novos par-ceiros foi imediata. “Nenhuma canção demoroumais de duas horas para ficar pronta”, revela. E res-salta o caráter filosófico de algumas letras, diferen-temente das que sempre escreveu ou recebeu de ra-ros parceiros, como Jorge Fernando dos Santos.

“Chico é um violeiro danado e inquieto, doido pa-ra alargar os limites de seu instrumento e alçar no-vos voos estéticos”, constata Zeca Baleiro, que classi-fica de “música brasileira pro mundo ouvir” a novaincursão do mineiro no mercado fonográfico.

“Fiz algo com viés caipira, fui levando a estrofe pa-ra botar algo mais rural, mas a letra é bem paulista-na”, comenta Maurício Pereira. Em Pra onde que eutava indo?, ele aborda o corre-corre diário da maior

cidade brasileira. Convidado para cantar com ChicoLobo No fio do olhar, parceria do mineiro com Verô-nica Sabino, Zé Geraldo lembra que, por ter o pé nomato, sempre se identificou com a música do violei-ro. “Chico é um grande instrumentista, estou honra-do pelo convite”, afirma Zé Geraldo.

Para Chico Lobo, a letra da filha de Fernando Sa-bino, quase prosa, representou um desafio para elemusicar. “Fui para um caminho pelo qual jamais ha-via passado, o da balada”, revela. E fez o mesmo nas

parcerias com Fausto Nilo e Vander Lee. “Fiquei de-safiada da mesma maneira. A ideia veio, as palavrasforam se sucedendo e, quando vi, estava pronta.Mandei o primeiro texto, uma prosa que tem a vercom Bob Dylan, Zé Ramalho. O incrível foi que elemusicou de cara”, elogia Verônica Sabino, feliz pelacoragem do parceiro em correr riscos. “O disco deleestá lindo”, conclui ela.

Com o ex-titã Arnaldo Antunes ocorreu algo in-teressante, relembra o mineiro. “Ele chegou quandojá estávamos gravando as guias. O produtor Guilher-me Kastrup mostrou três músicas, dizendo queeram de um violeiro em busca de novos diálogos. Ar-naldo é um poeta muito cuidadoso com a palavra.No estúdio, fomos acertando a sílaba tônica tão ca-racterística das letras dele”.

O gaúcho Vitor Ramil pediu a Chico a melodia.“Mandei e ele me enviou a Cantata, o que me levoua optar pela gravação com viola, viola de arco e acor-deom”. De Alice Ruiz chegou letra extremamente fi-losófica, que o violeiro conseguiu levar para o uni-verso de seu instrumento.

“Foi incrível dar vida às palavras de outras pes-soas. Parece até que todos eles já me conheciam”,elogia Chico. “O Zeca Baleiro foi muito generoso eainda brinca com o Menino da porteira, de SérgioReis, na letra dele”, antecipa, acrescentando que Sér-gio Natureza foi capaz de trazer para o refrão algoque sempre fez ao retornar de uma viagem: “Bom évoltar para casa”, reconhece.

Com Siba, Chico resgatou a cultura nordestinaque admirou na juventude, via Banda de Pau & Cor-da (também convidada do disco). Virgínia Rosa e acantora portuguesa Suzana Travasso também mar-cam presença em Caipira do mundo, que reúne ins-trumentistas como Paulo Sérgio Santos, Lívio Trag-tenberg, Lui Coimbra, Marcelo Jeneci, Tuco Marcon-des, Swami Jr. e Rogério Delayon.

MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS

De cabelos cortados, Chico Lobo confessa: mudar dá pânico

FALA, PARCEIRO

MAR

COS

HER

MES

/DIV

ULG

AÇÃO

● Caipira do mundo – 2011. Saravá Discos

● Encontro de violas – 2007.Independente (com Pedro Mestre)

● Vozes de viola, Corais Maximus ePromove cantam Chico Lobo – 2006.Independente

● Viola popular brasileira – 2005.Kuarup (também em DVD)

● Os bambas da viola – 2004. Kuarup(coletânea)

● Paixão e fé na canção brasileira, ChicoLobo – Vozes das Gerais – 2003. Kuarup

● Caipiríssimo – Clássicos e joiasda música caipira – 2003.Kuarup (coletânea)

● O violeiro e a cantora – 2002.Independente (com Déa Trancoso)

● Cantoria brasileira – 2002. Kuarup(coletânea)

● Viola caipira, tradição, causos e crenças– 2002. Kuarup

● Palmeira seca – 2001. Karmim(com convidados)

● Reinado – 2000. Kuarup

● Nosso coração caipira – 1998. AtraçãoFonográfica (com Jackson Antunes)

● No braço dessa viola – 1996. Kuarup

CARREIRA

Natural de São João del-Rei, ChicoLobo se mudou para Belo Horizonteem 1983. Na capital mineira, iniciou

a carreira profissional em 1991.Lançou sete discos solo. Cantor,

compositor e instrumentista, elelembra que, ao chegar a BH, o

grande ícone da viola era RenatoAndrade, que havia conhecido em

sua cidade natal, aos 14 anos.Ex-integrante do grupo Aruanda

(assumia voz, viola, arranjos edireção musical), que considera asua grande escola, Chico acabou

liderando a cena violeira em BH aolado de Tavinho Moura e Pereira da

Viola, entre outros.

❚❚ DISCOGRAFIA

■■ Zeca Baleiro

Chico é um violeirodanado e inquieto,doido para alçarnovos voos estéticos