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Estado da Arte Dissertação por Rafaella Gradvohl - A Baixa Pombalina - Reabilitação Sustentável e Novos Usos Funcionais

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    PATRIMNIO E SUSTENTABILIDADE : Novos Programas Funcionais.

    Rafaella Gradvohl MIARQ 7145

    Orientador: Professor Doutor Rui Barreiros Duarte

    1. Introduo

    Caracterizao Histrica do Traado Pombalino e seu Valor Patrimonial

    Embora seja hoje facilmente identificvel, o valor patrimonial da arquitectura pombalina s recebeu mrito e valor muito tardiamente. Apenas a 12 de Setembro de 1978 a cidade baixa foi classificada como Imvel de Interesse

    Pblico (Decreto n. 95/78 do dia citado)1 , tal deciso esteve directamente associada a obra de Jos Augusto Frana em 1965, Lisboa Pombalina e o Iluminismo (onde a primeira edio Francesa tambm datava de 1965). 2 To facilmente marcada, tanto a arquitectura em si quanto a Lisboa pombalina faziam parte de uma marginalidade esttica, caracterizada e imposta por inmeros e renomados historiadores, artistas, escritores, arquitectos, urbanistas e olissipgrafos. Monotonia, pragmatismo, economia de meios, repetitividade, ausncia de fantasias e de pontuaes originais formam um conjunto de poderosos

    antemas que lanam uma vasta sombra sobre a Baixa, to vasta que cobriu

    inicialmente, para alm da arquitectura e do traado urbanstico, a prpria Praa

    do Comrcio.3 Uma vez com o surgimento da primeira edio da Lisboa Antiga de Jlio de Castilho, no diferenciada e impiedosa opinio acerca da Lisboa pombalina surge em questo. Destacava sua opinio quanto ao traado rectilneo da cidade reedificada, de risco uniforme ao qual atribua falta de cultura e de arte advinda do seu criador. Tempos depois, viria a rectificar alguns de seus severos comentrios em posteriores edies, onde sustentava aspectos de que a Baixa representava sim um altssimo progresso, mas sempre a manter a sua posio de que era simtrica e pesada como a ideia policial.

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    J Raul Proena, caracteriza a construo pombalina, atribuindo ao seu plano uniforme ao facto do Marqus de Pombal, tendo de agir rapidamente e de se subordinar a um critrio utilitrio, no ter tido tempo nem recursos para erguer construes solenes ou pomposas. Considerava que a nica cedncia feita a esta caracterstica de eficincia e utilidade, passaria precisamente pela Praa do Comrcio, uma das mais magnficas praas da Europa.4 Aleatoriamente s opinies urbansticas que envolvem especialmente a Praa do Comrcio, todo o restante plano urbanstico e a arquitectura da reconstruo, com particular enfoque para a tipologia predial resultante das propostas de Eugnio dos Santos e de Carlos Mardel, permaneceram, especialmente vinculadas aos estigmas da monotonia, da economia e do pragmatismo, e bem assim, sujeitos a crticas depreciativas ao longo do tempo.

    J Raul Lino, em 1937, atribua ao estilo pombalino o mais relevante passo vers

    lutilitarisme, sugerindo que ele se apresenta, por isso, como nefasto avant got

    de la standardisation.5 Uma situao agravada pelo facto do pragmatismo e da

    uniformidade da arquitectura predial pombalina estarem aliados a uma deficiente

    distribuio e iluminao dos espaos de habitao. 6 Pardal Monteiro, ser entretanto, o crtico mais entusiasta da reedificao de Lisboa. Toda sua leitura e criticidade, confronta-se mais directamente com o edificado da Baixa, do que da ateno ao contedo dos estudos anteriormente produzidos.7 Contrariando todas as ideias e opinies anteriores, Pardal Monteiro converte o peso da monotonia, do ritmo, do utilitarismo, e da padronizao arquitectnica das massas edificadas numa mais-valia. Faz valer ento o princpio de que o arquitecto , antes de tudo um organizador de espaos e um criador de ordem e de que o estudo da verdadeira obra de arquitectura dever ser

    regulado pela lgica e pela razo8 permitiu ainda que se pudesse atribuir sobre a Baixa expectativas de atribuio de valor e coroar dois momentos distintos da histria da arquitectura e do urbanismo: desta simplicidade, desta clara conjugao dos elementos necessrios da repetio, da monotonia, desta rigidez na

    invariabilidade dos partidos, das formas e dos prprios acessrios que resultam,

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    para a arquitectura pombalina, extraordinrias afinidades com a arquitectura que

    se chamou Moderna9 . Concluiu que da reedificao resultou qualquer coisa de to grande, de to perfeito, de to razovel, de to portugus e ao mesmo tempo de to

    universal, que se pode considerar no conjunto, sem receio, como do melhor que a histria da arquitectura regista em Portugal. Tal vantagem arquitectnica debruava-se sobre a aplicao dos mesmos princpios que haviam conduzido o plano urbanstico. Ou seja, mantiveram-se operativas no s a lgica disciplinar de subordinao dos pormenores ideia geral nos edifcios projectados, mas tambm

    as directrizes rgidas para execuo de cada parte, at os mais insignificantes

    pormenores10. Para Pardal Monteiro, o valor atribudo a proposta pombalina provinha, predominantemente, da racionalidade de uma multiplicidade de factores que associavam o partido pela superao do tecido histrico e que ao mesmo tempo ainda garantiam a unidade do bem comum. Os processos de construo adoptados segundo critrios de segurana, salubridade, sistematicidade, celeridade e economia, eram optimizados por uma eficaz coordenao com o aparelho produtivo ao nvel da pr-fabricao dos diversos componentes. Baseado nestes princpios, justificava ento a rigidez das opes arquitectnicas (responsvel pelo corte das asas da fantasia dos arquitectos11), identificando o carcter de uma corajosa simplicidade, onde apresentava-se o padro esttico da reconstruo por uma estreita proximidade com o Movimento Moderno. A persistncia de uma fortssima corrente crtica contra o sistema pombalino seria, inesperadamente testemunhada no prefcio da Lisboa Pombalina e o Iluminismo, assinado por Pierre Francastel.12 O texto do fundador da sociologia da arte13 parte de pressupostos que associam a qualidade artstica a dois valores fundamentais: a monumentalidade, que seria vista apenas reflexa na arquitectura pombalina, e a mtica originalidade, ou novidade. Jos-Augusto Frana, em seus estudos, evidencia a total submisso da arquitectura ao urbanismo na obra da reconstruo e problematiza a questo do

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    estilo pombalino. Os edifcios desornamentados e estandardizados que perfazem o parque residencial da cidade reedificada no podem ser individualiza(dos) esteticamente esquecendo ou pondo de lado a sua razo de

    ser14. Jos-Augusto Frana defende, seguindo a observao feita por Pardal Monteiro, que na realidade no existem prdios, mas blocos, conjuntos de quarteires de prdios15. Tal concepo implica ento que s poderemos analisar o edifcio pombalino nmero um se o entendermos como unidade desses conjuntos16. O estilo pombalino para o historiador, ao nvel do grande edifcio de srie, (...) sobretudo, um fenmeno quantitativo submetido a um ritmo determinado17. Quer isto dizer que, apesar da coerncia morfolgica e sintxica18 que lhes reconhece, os prdios de rendimento entram na mais baixa escala da caracterizao estilstica da arquitectura pombalina, uma escala que desenha portanto uma evoluo da simplicidade para a complexidade19. Podemos, num panorama geral acrescentar que o estilo pombalino pode ser considerado como detentor de um eclectismo especfico porque embora encerre uma proposta protoneoclssica, descende do acordo emprico entre a

    arquitectura de disciplina militar que vinha da tradio ch do maneirismo

    portugus (representada por Manuel da Maia e Eugnio dos Santos) - , e o barroco,

    quer na via ludoviciana (desenvolvida em algumas propostas j rocailletano), quer

    mardeliana.20

    Com base em todas estas contradies histricas e opinies que circundam a Lisboa Pombalina e efectivamente sua importncia ao longo dos anos, que se desenvolve este trabalho. A busca de Novos Programas Funcionais diante deste stio polarizador de cultura e histria tido como desafio arquitectnico e programtico. Entretanto, j tido como necessidade imediata que algo seja feito em favor do patrimnio lisboeta, uma vez que se observe as actuais condies em que se encontra a qualidade do quadro edificado da Baixa Pombalina.

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    2. Metodologia da Investigao

    2.1 - Cenrio Actual Actual Baixa Pombalina A Baixa Pombalina considerada, apesar de todas as suas contradies histricas, como um stio cultural e monumental por excelncia, revelador de uma sucesso de sobreposies de pocas e dos mais diversificados usos dos espaos por ela fornecidos. Constata-se que seus espaos, por muitas vezes j diferem drasticamente dos seus antigos modelos iniciais de concepo. Entretanto, o estado de degradao de sua massa edificada torna-se notria, grande parte de seu parque habitacional, como se pode verificar em muitos estudos e anlises de seus dados, so agentes provocadores de uma activa diminuio da qualidade de vida dos seus utentes e, consequentemente, de uma massiva deteriorao do patrimnio edificado. Faz-se notria a diminuio da memria colectiva. Assim sendo, tambm se faz presente a importncia patrimonial no sentido de que a preservao da herana um meio de transmisso da valorizao arquitectnica para as futuras geraes, bem como valor crucial de identidade social. A massa edificada da Baixa Pombalina apresenta-se em ocupao caracterstica, muitas vezes a nvel do rs de cho, onde se desenvolve comrcio, os demais pavimentos destinam-se a escritrios ou habitaes, muitos deles remodelados recentemente e j com caractersticas de raiz completamente dissipadas, ou como na maioria dos casos quase que completamente em estado de runa. Vale ressaltar que nos edifcios pombalinos, deve-se verificar o tipo de ocupao e o tipo de uso numa perspectiva comum, no associando uma anlise das tipologias isoladamente, uma vez que os edificados comportam-se como uma unidade baseada no quarteiro.

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    2.2 Dos Objectivos do Trabalho Proposto Intervir na Actual Baixa Pombalina de modo a reabilitar o edificado inserindo no contexto Urbano-Arquitectnico actividades de excepo (gastronomia, enologia e mbito cultural) de modo a introduzir uma mais-valia na estrutura urbana e no contexto social que a circunda. Promover a interveno nos edificados histricos de modo a reabilitar e reatribuir identidade, vislumbrando promover suas caracterizaes construtivas bem como suas devidas articulaes de acordo com as suas necessidades programticas. Vale entretanto destacar a preocupao na manuteno sempre que possvel das propriedades originais dos edifcios com base na malha ortogonal de raiz, proveniente do sistema de organizao Pombalino ao qual pertencem originalmente. 2.3- Caracterizao dos Edifcios Originais Definio do estado actual Rua do Crucifixo - 69 a 77 Rua Nova do Almada 92 a 100 Observa-se nos edifcios analisados e sob proposta de interveno (Rua do Crucifixo e Rua Nova do Almada, respectivamente ) o sistema estrutural adoptado, mais conhecido por gaioleiro que apoia-se basicamente nos artifcios da tecnologia Pombalina. So essencialmente constitudos por paredes exteriores em alvenaria de pedra e possuem por sua vez seus pavimentos e divisrias em estrutura de madeira. Os pisos trreos destinam-se em sua maioria s instalaes comerciais, ao estilo comrcio de bairro onde, com o passar dos anos adquirem caractersticas e propores mais influentes sob a movimentao local.

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    Abaixo, segue anlise feita consoante verificao in loco , bem como de levantamento documental do estado dos edificados na actualidade: Dos Elementos Fundamentais: Cobertura a) constituio O Sistema de cobertura pombalino possui um importante espao na arquitectura da Baixa. Alguns adquirem caractersticas tipicamente francesas, estabelecidas por cobertura tipo mansarda21. Entretanto, ao contrrio dos pases do Norte da Europa, em que a cobertura de mansarda tinha a funo de suportar a neve, nos edifcios pombalinos a funo deste tipo de cobertura passa a ser a de suportar a estrutura de mais um piso, de modo a ampliar o nmero de utentes em cada um dos edifcios. Os telhados pombalinos seguem a tradio das duas guas, remetendo assim s tradies romnicas e gticas de telhados em estrutura de madeira recobertos por telhas de barro. As estruturas de cobertura descritas e desenhadas nos processos de Licenciamento so de madeira. So encontradas poucas referencias relativamente ao tipo de madeira utilizada, bem como o tipo de telha para o recobrimento das superfcies. Entretanto, a partir de documentao da direco dos servios municipais, restringe-se a telha a aplicar ao tipo tradicional portuguesa, sendo portanto apenas permitida a aplicao de telhas tipo S, de escama ou canudo. b) dimenses O dimensionamento das estruturas encontra-se devidamente documentado, embora em escassez. Aparecem em cortes construtivos os seus dimensionamentos essenciais ao longo do edificado e alguns detalhes de mansarda com poucas cotas. O mesmo ocorre na identificao e especificao das abbadas presentes no edifcio da Rua do Crucifixo 69 a 77, onde aparecem corte transversais e longitudinais sem cotas.

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    Varandas e Marquises a)constituio As pequenas varandas que surgem nos edifcios analisados so em estrutura metlica, caracterstica comum aos edifcios pombalinos. Tais varandas, so em geral constitudas por estruturas em perfis metlicos tipo I, que apoiam vigas de bordadura s quais so ligados perfis perpendiculares parede (I,T ou U). Dos Elementos Secundrios: Escadas de incndio Tanto para o edifcio da Rua do Crucifixo como para o edificado da Rua Nova do Almada, observa-se a presena de escadas de incndio nos projectos e processos de licenciamentos fornecidos pela Cmara Municipal. Em algumas documentaes, pode ser constatada a ligao das duas estruturas de escadas, por uma espcie de plataforma, executada em ferro fundido, de modo que as duas unidades edificadas pudessem estar interligadas. Entretanto, o que se pode verificar na actualidade a ausncia das estruturas de escadas de incndio em ambos os edifcios. Dos Revestimentos e Estados das Materialidades: Dos Revestimentos e Materialidades Exteriores Das Tipologias de Fachadas em anlise, podemos verificar o reconhecimento dos critrios estticos pr-estabelecidos no que se refere s Fachadas Pombalinas, tanto no edificado da Rua do Crucifixo, como no edifcio da Rua Nova do Almada. Tais informaes so tambm confirmadas atravs do Plano de Salvaguarda da cidade de Lisboa, publicado em Junho de 2005.

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    Ao abordarmos o critrio do estado de conservao dos edifcios, constatamos que o edificado existente na Rua Nova do Almada, para alm de estar em funcionalidade no somente a nvel do pavimento trreo, como tambm nos demais pavimentos que se estendem por todo o corpo do edificado, encontra-se em melhor estado de conservao quando comparado ao edifcio da Rua do Crucifixo. Isto ocorre uma vez que nos processos de licenciamentos fornecidos pelo acervo da CML, a ltima alterao aprovada pela Cmara Municipal no edifcio da Rua Nova do Almada data do ano de 2009 e abriga no somente o pavimento de rs de - cho e sobreloja, mas tambm os nveis superiores, abordando uma temtica de interveno de novos pavimentos abaixo da cota da rua, inexistentes at a presente data. O edificado da Rua Nova do Almada 92 a 100 abriga portanto, fachadas de caractersticas Pombalinas, devidamente documentadas e datadas da segunda metade do sculo XVIII. Por se tratar de um edificado com caractersticas do perodo pombalino, apresenta alvenaria exterior em pedra, acabamento estucado e pintado em todos os pavimentos e acabamento em pedra calcria a nvel do rs do- cho, observa-se portanto atravs da documentao obtida, as sucessivas substituies de materiais de fachada realizadas ao longo do tempo, bem como elementos de caixilharia, azulejaria e cobertura. O edifcio da Rua do Crucifixo 69 a 77, por sua vez, apresenta (como a maioria dos edificados Pombalinos ainda reminiscentes na zona do Chiado) uma fachada preservada que abrange apenas a zona frontal do edificado. Sua azulejaria encontra-se relativamente conservada a nvel do rs-do-cho e feitos os devidos reparos e substituies ao longo do tempo como consta em documentao de processos de licenciamentos obtidos pela Cmara Municipal (sendo mantidos os aspectos originais primordiais, mas nem sempre os materiais de raiz). As materialidades dos pavimentos superiores, bem como as laterais e traseiras do edificado apresentam-se basicamente sob forma de alvenaria estucada e pintada, as aberturas de janelas e portais encontram-se vedados por alvenaria e em estado de notria degradao. Observa-se entretanto no alado lateral, contenes em vigas metlicas, supostamente a nvel de sustentao estrutural

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    dos pavimentos superiores. O alado tardoz apresenta-se em visvel estado de degradao. Vigas metlicas unem a fachada oposta de modo a proporcionar uma estabilizao da mesma. Vidros dos varandins encontram-se partidos, bem como ferros e metais corrodos. A alvenaria em pedra e tijolos em CUTELO encontra-se exposta, proporcionando risco tanto ao edificado em estado de degradao quando ao edifcio em uso presente na Rua Nova do Almada, onde hoje funciona um estabelecimento comercial que possui uma marquise com vista para o alado tardoz do edifcio da Rua do Crucifixo. Das acessibilidades caixas de escadas e elevadores: No Edifcio da Rua do Crucifixo, encontramos uma Tipologia de Caixa de Escada de classificao Pombalina. J no Edifcio da Rua Nova do Almada, encontramos a acessibilidade via caixa de escadas devidamente alterada, no mais correspondendo aos critrios originais de uma caixa de escadas de um edifcio Pombalino. (Tipologias Caixa de escadas CML Plano de Salvaguarda Pag.114 Planta3)

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    2.4 Exemplos de Interveno Construtiva na Baixa Pombalina em Circunstncias

    Idnticas. Apresenta-se abaixo dois exemplos construtivos de reabilitao e reconverso de edifcios em pocas distintas localizados da Baixa Pombalina, que atendem aos requisitos programticos desde sua concepo at a actualidade. 2.4.1 Arq. Eduardo Souto de Moura Armazns do Chiado - Rua do Carmo, 2 Teve a sua fundao no ano de 1279 como Convento do Santo Esprito da Pedreira. Com a consequente extino das ordens religiosas, passou a Palcio Barcelinhos, onde nesta mesma altura sofreu inmeras obras de adaptao. Foi com a ocorrncia de sucessivos arrendamentos e com o recebimento de inmeros espaos comerciais que surgiu a instalao dos Grandes Armazns do Chiado em 1894. Com o incndio na madrugada de 25 de Agosto de 1988, nos vizinhos Armazns Grandella, 18 edifcios so destrudos completamente. Com ele, desapareceram completamente os interiores dos Armazns. Apenas 11 anos depois reabre, com projecto de autoria do Arq. Eduardo Souto de Moura. Respeitando a mtrica e a volumetria da antiga fachada, mas reconstruindo por completo o interior do antigo edifcio e mantendo a memria dos dois ptios interiores. Actualmente adapta-se facilmente s necessidades do contexto ao qual est inserido, contando com o servio de um Hotel em seu ltimo piso, bem como livrarias, comrcio e outros servios.

    Img 1 Fachada Principal Img 2 Vista Interior Img 3 Vista Interior

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    2.4.2 Arq. lvaro Siza Vieira Terraos de Bragana Rua do Alecrim / Rua Antnio Maria Cardoso Fora considerado como um marco na arquitectura no Chiado no sc. XXI. Assinado pelo arquitecto lvaro Siza Vieira, o grupo constitudo por cinco edifcios separado por um logradouro para onde se direccionam as fachadas mais dinamizadas de todo o conjunto. As fachadas que por sua vez interagem com a rua destacam-se pela sua sobriedade de modo a melhor integrarem-se na lgica Pombalina circundante. O logradouro preserva tanto os declives topogrficos quanto os vestgios urbansticos do sc. XIV, representados neste caso pela cerca Fernandina que se faz presente.

    Img 4 Vista Rua do Alecrim

    Img 5 Vista Interior

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    2.5 Anlise SWOT A Baixa Pombalina Rua do Crucifixo 69 a 77 Rua Nova do Almada 92 a 100

    Uma vez realizada a anlise SWOT para a proposta de reabilitao e a levar em conta os critrios tericos e a documentao que fora disponibilizada pela Cmara Municipal de Lisboa (CML), passamos ento s fases conseguintes, que constituem a exponenciao dos conceitos e a elaborao das hipteses de interveno, que nos direccionaro a uma consequente proposta final.

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    2.6 A Carta de Cracvia 2000 Com base nos princpios da carta de Cracvia, seus objectivos, gesto e definies, procura-se neste trabalho adequar os valores de proposta aos argumentos patrimoniais vigentes. Vislumbra-se portanto uma maior viabilidade conceptual, geratriz de uma proposta de projecto funcional e sustentvel. Faz-se ento necessria uma leitura e captao dos pontos de partida base que possam ser aqui retratados como linhas mestras do desenvolvimento e do planeamento das propostas que sero futuramente apresentadas. Destacam-se portanto, pontos de partida fundamentais da Carta de Cracvia 2000 relativas s intervenes ao patrimnio e reabilitao do mesmo: 2.6.1 Do Prembulo. A Europa actual caracteriza-se pela diversidade cultural e, assim pela pluralidade

    de valores fundamentais associados ao patrimnio mvel, imvel e intelectual, o

    que implica diferentes significados que originam conflitos de interesse. Esta

    situao requer de todos os responsveis pela salvaguarda do patrimnio cultural

    uma maior ateno aos problemas e s decises a serem tomadas na prossecuo

    dos seus objectivos. Defende-se que a partir do processo de mudana de valores, que ocorre natural e inevitavelmente em qualquer sociedade, cada comunidade desenvolve uma conscincia prpria e uma necessidade nica de preservar os seus bens culturais construdos. H uma intrnseca vontade de preservao dos bens patrimoniais comuns que cada um carrega dentro de si. Neste sentido, os mtodos e os instrumentos de preservao do patrimnio adaptam-se a situaes sujeitas a evolues, concretas por si mesmas e sujeitas a processos de mudanas contnuas.

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    2.6.2 Dos Objectivos Destacamos abaixo, dos objectos propostos pela Carta de Cracvia 2000 os objectivos que melhor se adequam aos princpios do trabalho proposto, so eles: Art.1- (...)Qualquer interveno implica decises, escolhas e

    responsabilidades relacionadas com o patrimnio, entendido no seu

    conjunto, incluindo os elementos que embora hoje possam no ter um

    significado especfico, podero, contudo, ter no futuro. Art.2- Manuteno e Reparao Parte fundamental do processo de conservao do patrimnio. Deve-se prever os riscos de degradao do patrimnio em relatrios eficientes de modo a efectivar a adopo de medidas de preveno o mais rapidamente possvel. Art.3- (...)Um projecto de restauro dever ser baseado num conjunto de

    opes tcnicas apropriadas e ser elaborado segundo um processo cognitivo

    que integra a recolha de informaes e a compreenso do edifcio ou stio. Art.4- As reconstrues de partes significativas de um edificado, baseadas em seu verdadeiro estilo devem ser veementemente evitadas. A reconstruo total de um edifcio, que tenha sido destrudo por um

    conflito armado ou por uma catstrofe natural, s aceitvel se existirem

    motivos sociais ou culturais excepcionais, que estejam relacionados com a

    prpria identidade da comunidade local. 2.6.3 Diferentes Tipos de Patrimnio Construdo O patrimnio aqui manifesta-se indissocivel da comunidade que o abriga. Apresenta-se mutvel em seus valores e directamente interligado com a paisagem envolvente ( no caso do trabalho proposto com a Baixa Pombalina). Os edificados que por alguma razo no pertenam a relaes de especialidades histricas, entretanto, no perdem sua componente de continuidade urbana e importncia espacial indispensveis na componente orgnica da cidade. Art.8 Qualquer interveno deve envolver todos os sectores da populao e requer um processo de planeamento integrado, cobrindo uma ampla gama de

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    actividades. Em meio urbano, a conservao tem por objectivo, quer os conjuntos

    edificados, quer os espaos livres (...) Neste contexto, a interveno na cidade

    histrica deve ter presente a morfologia, as funes e as estruturas urbanas, na sua

    interligao com o territrio e a paisagem envolventes. O edifcio que constituem

    as zonas histricas podendo no se destacar pelo seu valor arquitectnico especial,

    devem ser salvaguardados como elementos de continuidade urbana, devido as suas

    caractersticas dimensionais, tcnicas, espaciais, decorativas e cromticas,

    elementos de unio insubstituveis para a unidade orgnica da cidade. Chegamos tambm a concluso, de que os imveis pertencentes malha urbana desempenham uma dupla funo: So em parte elementos definidores da forma urbana (o que ocorre por exemplo, no caso de todo o conjunto da Baixa Pombalina), como tambm podem assumir uma espacialidade interna caracterstica, individualizada, que constitui um dos seus valores essenciais (a exemplo do interior dos quarteires Pombalinos que adquirem caractersticas de ptios com especificidades singulares).

    Img 6 Traado da Baixa Pombalina. Img 7 Interior do quarteiro em anlise.

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    Art.10- As tcnicas de conservao devem estar intimamente ligadas investigao pluridisciplinar sobre materiais e tecnologias usadas na construo,

    reparao e no restauro do patrimnio edificado. A interveno escolhida deve

    respeitar a funo original e assegurar a compatibilidade com os materiais, as

    estruturas e os valores arquitectnicos existentes. Consta-se tambm de suma importncia, a percia e parcimnia no uso dos materiais uma vez que se considere uma eventual possibilidade de reversibilidade das funcional. 2.6.4 Da Gesto do Patrimnio Art.11 (...)A conservao do patrimnio cultural deve constituir uma parte integrante dos processos de planeamento econmico e gesto das

    comunidades, pois pode contribuir para o desenvolvimento sustentvel, qualitativo,

    econmico e social dessas comunidades. Das definies determinadas pelo comit de redaco da Carta de Cracvia 2000, temos os seguintes termos e terminologias abrangidos: a)Patrimnio: o conjunto das obras do homem nas quais uma comunidade reconhece os seus valores especficos e particulares e com os quais se identifica. A identificao e valorizao destas obras como patrimnio , assim , um processo que implica a seleco de valores. b)Monumento: uma entidade identificada como portadora de valor e que constitui um suporte da memria. Nele, a maioria reconhece aspectos relevantes relacionados com actos e pensamentos humanos, associados ao curso da histria e, todavia acessveis a todos. c)Autenticidade: o somatrio das caractersticas substanciais, historicamente provadas, desde o estado original at a situao actual, como resultado das vrias transformaes que ocorreram no tempo.

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    d)Identidade: Entende-se como a referencia colectiva englobando, quer os valores actuais que emanam de uma comunidade, quer os valores autnticos do passado. e)Conservao: o conjunto das atitudes de uma comunidade que contribuem para perpetuar o seu patrimnio e os seus monumentos. A conservao do patrimnio construdo realizada, quer no respeito pelo significado da sua identidade, quer no reconhecimento dos valores que lhe esto associados. f)Restauro: uma interveno dirigida sobre um bem patrimonial, cujo objectivo a conservao, da sua autenticidade e a sua posterior apropriao pela comunidade. g)Projecto de Restauro: O projecto, resultante das opes de conservao, o processo especfico atravs do qual a conservao do patrimnio construdo e da paisagem so realizados com sucesso. 2.7 A Memria Colectiva: O estabelecimento das relaes de religio (re

    ligao) com a arquitectura.

    Seria de uma maneira lgica que plausvel que inicissemos por defender o estabelecimento das religaes com a arquitectura a partir das alteraes mundanas identificadas ao longo de um percurso histrico. Tais relaes poderiam ser entretanto marcadas por factores de relevante dramaticidade ou no, simplesmente porque alteraes ao longo do percurso no significariam substancialmente marcos imponentes ou de dramaticidade extraordinria. No entanto, faz-se aqui uma abordagem diferenciada quando salientamos o processo do restabelecimento das ligaes com a componente arquitectnica. Baseamo-nos maioritariamente nos conceitos de Aldo Rossi22 e em sua Teoria da permanncia e os monumentos.23 Nela, o autor defende precisamente o facto de que o passado experimentado no tempo presente (...)e que, sob o ponto de vista

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    da cincia urbana, pode ser este o significado a dar s permanncias; estas so um

    passado que ainda experimentamos.24 Estaramos ento religados e comprometidos com a arquitectura das nossas cidades, do nosso patrimnio de maneira a re-experimentar o nosso passado, reafirmar as nossas origens e reestabelecer as nossas actuais relaes com a cidade que nos rodeia atravs da permanncia? Se questes como esta tornam-se vlidas sob o ponto de vista da formao de uma nova sociedade que evolui, cresce com ela uma nova noo de patrimnio e salvaguarda que ao adaptar-se a questionamentos de uma nova sociedade, integra-se a estes novos conceitos e melhor preserva-se ao longo do tempo, sacraliza-se. (...)As permanncias podem, portanto, tornar-se relativamente ao estado das

    cidades, factos isolantes e aberrantes; no podem caracterizar um sistema, excepto

    sob a forma de um passado que ainda experimentamos. Acerca deste ponto o

    problema das permanncias apresenta duas frentes: por um lado, os elementos

    permanentes podem ser considerados como elementos patolgicos; por outro,

    como elementos propulsores. Ou nos servimos destes factos para procurar

    compreender a cidade na sua totalidade ou acabamos por ficar ligados a uma srie

    de factos que no poderemos relacionar ulteriormente com um sistema urbano.25 a partir da que podemos passar a pensar que uma forma ou arquitectura do passado pode, quando necessria, assumir uma diferente funo, de modo a preservar-se como elemento propulsor da cidade, uma vez que sua funo continue completamente inserida dentro do seu contexto e dentro de uma componente social utilizvel. As funes modificam-se e vlido que possamos entender que continuaro a modificar-se, uma vez que a sociedade e as cidades so mutveis. Esta persistncia e permanncia dada pelo valor constituitivo; pela histria e

    pela arte, pelo ser e pela memria.26

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    2.7.1 O Significado e a Identidade Colectiva: A Reafirmao do Urbano atravs da evoluo dos usos e dos costumes sociais . Nada seria mais natural que afirmar que o processo de evoluo e dinmica das cidades tendenciosamente evolutivo. Tende a pender menos para a conservao uma vez que, no processo de evoluo os monumentos arquitectnicos ou at mesmo os edificados histricos em si naturalmente se conservam e tornam-se a representao viva do desenvolvimento. J dizia Aldo Rossi: (...)uma funo est sempre caracterizada no tempo e na sociedade, aquilo que

    dela intimamente depende no pode estar seno ligada ao seu desenvolvimento.27 Basta olharmos atentamente para a evoluo das cidades e das sociedades para percebermos que o tempo anda intimamente ligado evoluo da sociedade e forma como ele atua. Seus costumes, suas maneiras, seu sistema de distribuio ao longo do espao so apenas algumas entre as mltiplas variveis as quais devemos levar em considerao como caractersticas que comprovam que tal como a forma das nossas cidades, como sociedade tambm encontramo-nos em constante processo de acrescento. Aldo Rossi refere-se por exemplo a um mapa qualquer de uma cidade em observao. A maneira como uma cidade cresce ao longo do tempo e a sua forma de ocupao garantem, para alm de uma cidade maior em totalidade, um conjunto de pequenas cidades inseridas num grande contexto de tempos completamente distintos. A forma da cidade sempre a forma de um tempo na cidade; e existem muitos

    tempos na forma da cidade. 28 Tal afirmao vem mais uma vez a salientar que vivemos em constante processo de evoluo de usos e costumes, no apenas atravs da arquitectura e do urbanismo e da maneira pelas quais construmos cidade, mas pela apropriao

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    do existente. O patrimnio, a cidade e a sociedade exigem integridade e coeso na hora da mudana, de modo a evitar a disparidade de desejos e o mau uso dos espaos construdos e vividos. 2.7.2 - Os novos programas funcionais pertinente que se afirme que a mudana de usos e dos costumes sociais ao longo do tempo contribuem junto ao processo de degradao da Baixa Pombalina, principalmente quando falamos a respeito dos edifcios que a constituem. Apesar de algumas verificaes documentais, ainda assim, as actuaes passivas dos utentes quanto s alteraes dos edificados principalmente no que se refere aos elementos que traduzem sistemas reguladores de conforto interior no somente descaracterizam a construo de raiz, mas tambm comprometem o sistema estrutural dos edifcios. Questes aliadas ventilao natural dos edifcios pombalinos, passaram hoje a ser de uma total inexistncia, a escassez e o abandono de sistemas de preservao e manuteno de muitos edificados notrio quando muito, passam desapercebidos nas fachadas principais, mas ficam completamente evidentes nos alados tardozes consequncia esta, de uma alterao de costumes de ocupao que vem progredindo ao longo de geraes e que pode ser identificado em base documental junto Cmara Municipal de Lisboa, uma vez que se consulte cada uma das alteraes homologada junto a cada edifcio. Nos deparamos com a evoluo dos sistemas e a alterao das necessidades de uma sociedade de cresce em ritmo desordenado e corre o risco de perder noes de valores patrimoniais para as geraes futuras. diante deste panorama de massa edificada degradada e mal reabilitada que se pretende preconizar a atribuio de novos e eficientes usos funcionais tanto para o edifcio da Rua do Crucifixo, quanto para o da Rua Nova do Almada, onde a predominncia do esprito pblico possa agregar valor comunidade ao mesmo tempo em que a qualidade interior possa funcionar como a nova mquina sustentvel inserida

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    na antiga mquina de habitar pombalina adequando o edificado aos usos e costumes da actualidade atravs de novos e eficientes programas funcionais. 2.8 - Problemticas associadas ao campo de interveno. 2.8.1 - Os fluxos Ao falarmos de fluxos sob o ponto de vista da Baixa Pombalina tornamo-nos um tanto quanto vagos. H inmeros fluxos a ocorrer num mesmo lugar, num mesmo espao de tempo. So estes econmicos, de trfego sendo este mesmo tanto sob o ponto de vista do trnsito das auto estradas, como sob os domnios do metropolitano, ou at mesmo por entre as ruas ortogonais do percurso pombalino; o que evidente que so muitos e, como muitos que os so, tornam-se de difcil gesto. Os acessos pedonais encontram-se muitas vezes interrompidos abruptamente, sem meios intermdios, ou conflituam com os ligeiros e pesados. So escassos ou muito distantes os parques de estacionamento presentes na freguesia de So Nicolau. H notadamente um excesso de trfego automvel suportado pela Baixa Pombalina, que no lhe permite fluidez necessria e a condiciona perante os acessos pedonais. A partir da implementao do sistema circular das colinas pertencente reviso do PDM de Lisboa - onde define sentido nico para muitas ruas da Baixa Pombalina, com excepo dos transportes pblicos, observou-se uma desacelerao do amontoamento de trfego. Este ainda garante o acesso aos parques de estacionamento e a grande maioria das residncias pertencentes ao sistema. Ainda so previstas outras medidas a serem implantadas no campo da resoluo desta problemtica, a circular das colinas j se encontra em vigncia.

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    2.8.2 Os vazios Das problemticas em questo os vazios internos aos quarteires pombalinos oferecem configuraes singulares que diferenciam-se conforme a componente de cada edificado individualizado. Formam portanto ptios internos exclusivos, que nunca se repetem em forma, mas que entretanto possuam a mesma funo de ligao tardoz. Muitas vezes, edifcios completamente distintos uniam-se entre si a partir de passarelas metlicas, em ferro fundido como por exemplo ocorre com o edifcio da Rua do Crucifixo n.79 que ligava-se ao edificado da Rua Nova do Almada n.90. Com o tempo, a banalizao e o subsequente esquecimento das construes e dos edificados da Baixa Pombalina (entre os quais j muitas vezes foram citados os motivos) geraram no somente a marginalizao destes ptios, como vazios urbanos clandestinos no interior dos quarteires da malha ortogonal pombalina. A problemtica maior se faz presente quando nos deparamos com situaes de reabilitao de edificados sob o ponto de vista da unidade, permitindo mais uma vez que esta componente marcante na formao do quarteiro seja transformada em um grande vazio arquitectnico, oco e sem utilidade. O quarteiro pombalino expressa um sentido de unidade entre os edificados, de modo a tornarem-se uma componente viva, integrante e de uso comum. 2.8.3 As zonas de acessos, cargas e descargas No sentido de expor uma componente de critrios educacionais e comerciais e atribuir ao que dantes constitua-se por edifcios de habitao com caractersticas comerciais apenas a nvel de rs de cho, tipicamente pombalinas, passamos a lidar com a problemtica notria dos acessos e zonas de cargas e descargas.

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    Voltaremos a ter de lidar com a problemtica dos fluxos, uma vez que a zona de cargas e descargas volta-se para a Rua do Crucifixo, que subdivide-se em acessos pedonais, trnsito virio local, sada/entrada de metropolitano e acesso aos demais transportes pblicos da zona. Ao mesmo tempo, opta-se sempre pela multiplicidade de opes que oferece. a Rua do Crucifixo notoriamente um exerccio de passagem, mais que um exerccio de permanncia, ao contrrio da Rua Nova do Almada, onde j nos deparamos com a problemtica do estar e do permanecer. A Rua Nova do Almada oferece-nos apesar da sua frente maioritariamente acedida por ligeiros, a possibilidade de entrada a partir das escadinhas de So Sebastio da Pedreira. Tambm a partir da Rua Nova do Almada que temos a zona pedonal dos armazns do Chiado. a partir destas caractersticas que voltamos a Escola de Culinria do Chiado para esta rua, bem como seus principais acessos. um espao de entrada e sada marcado por unanimidade. 2.8.4 As articulaes entre edificados. Devem conter cautela e percia. So datados de pocas diferenciadas, apesar de possurem ambos caractersticas pombalinas. Sendo o Edificado da Rua Nova do Almada 92 a 100 j recentemente remodelado. A partir do momento em que encontramos uma recente remodelao em uma das instalaes e seguindo por referncia a Carta de Cracvia 2000, busca-se entretanto no recriar os ambiente de modo a remeter a um perodo, mas sim, destacar os vestgios por l deixados e exaltar os pontos mais fortes e marcantes de sua arquitectura. Articulam-se os dois edifcios a partir da cota 16.39, onde atravs de passagens e plataformas interligam-se exterior-interior de maneira suave e vanguardista, sem que para isso seja atribudo um perodo especfico a um ou outro. Faz-se por estas ligaes uma arquitectura do nosso tempo, reversvel e de conexo.

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    2.8.5 O novo face ao existente e suas articulaes com o contexto Urbano. Na proposta em questo, o novo vem a sugerir, no a impor. Sustenta-se como uma componente de reabilitao do patrimnio que no interfere nas fachadas originais, apenas cria ligaes entre dois edificados. Vem a alterar a componente interior do edificado de modo a lhe expor a novos e diferenciados usos, dantes no experimentados. Vale ressaltar que, ao longo do percurso e do tempo de vida til destes edifcios, constatamos sob existncia documental a comprovao de que j lhes fora atribudas as mais diferenciadas funes e reformas com o passar dos anos. O que a nova proposta de reabilitao aqui demostra apenas a sugesto de continuidade desde processo de constante mudana como constatao de que para alm da sociedade, o patrimnio tambm evolui e assim afirma-se utilitariamente no contexto urbano e social. Articula-se na medida que preserva para alm das caractersticas arquitectnicas e pombalinas (sejam elas os conceitos de ortogonalidade das suas paredes interiores ou at mesmo a manuteno de sua estrutura de gaiola) a noo de abertura para a cidade, como forma de provar que o patrimnio mais que um edificado em si abriga mais valias sociais. sustentvel a partir do pressuposto que movimenta a economia e no apenas existe por si mesmo, tem uma lgica e uma funo, agrega valor comunidade. No se trata de uma proposta pretensiosa, simplesmente por no possuir em sua constituio um marco histrico maior que os armazns Grandella, possui apenas em seu carcter a importncia da continuidade do traado, da cor, da importncia da regularidade. A partir destes princpios torna-se uma proposta marcante e naturalmente articulada ao contexto ao qual se insere.

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    3. Hipteses de Interveno

    Para a possibilidade da gerao de propostas de interveno, aponta-se para alm de bases documentais, as leis e regras vigentes no seguimento do regimento do patrimnio arquitectnico local. Primeiramente opta-se pela busca da classificao da zona junto Cmara Municipal de Lisboa, bem como o contexto urbanstico ao qual encontra-se regido e inserido. Atravs destes modelos de referncia contamos com as seguintes informaes: Rua do Crucifixo 69 77 Rua Nova do Almada 92 100 Ambos so classificados como imveis de interesse pblico, encontram-se em rea crtica de recuperao e reconverso urbanstica da Baixa Chiado. Os imveis no se encontram inseridos numa rea de plano de urbanizao.

    Fonte CML - Arquivo Cmara Municipal de Lisboa

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    Fonte CML - Arquivo Cmara Municipal de Lisboa

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    Fonte CML - Arquivo Cmara Municipal de Lisboa

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    3.1 Da Metodologia das Hipteses: No surgimento das hipteses, consolida-se a perspectiva de uma hiptese me, capaz de gerar subtemas. Como por exemplo no edifcio na Rua do Crucifixo:

    Diante destas condicionantes opta-se pela interveno faseada, sujeita a reconverso, uma vez tratando-se de um imvel localizado numa zona de interesse pblico, mas ainda pertencente a uma faixa territorial no abrangida completamente pelo plano de urbanizao da Baixa Chiado.

    3.2 - Dos Programas Funcionais Da interveno assumida, opta-se por dois edifcios de caractersticas pombalinas, localizados respectivamente na Rua do Crucifixo 69-77 e Rua Nova do Almada 92-100. Prope-se portanto, a criao do Restaurante Escola do Chiado, aberto ao pblico, referencia para a formao de chefs e sommeliers, bem como uma Escola de Hotelaria, destinada a mestrados e cursos avanados do sector. Tal programa funcional, para alm de caracterizar e valorizar um sector do mercado em acenso e funcionar como plo gerador de empregabilidade, concentra-se em trazer o pblico para dentro do edificado, uma vez que o programa em questo oferece hipteses de cafs, restaurantes, bares e actividades culturais que se voltam sociedade. Tambm o edificado assume o espao pblico. Opta-se pela manuteno e preservao das fachadas pombalinas (John Ruskin29)que lidam respectivamente

    H1 ADEGA DE PROVA H1a SALA DE CONVENES E EVENTOS PARA JANTARES E SISTEMAS DE REUNIES / CONVENES PARA ENLOGOS E GOURMETS. H1b CONVERSO EM MERCADO / LOJA GOURMET ESPECIALIZADA NO MERCADO E NO COMRCIO DE SUPRIMENTOS DE VINHOS E ENCHIDOS.

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    com as ruas do Crucifixo e Rua Nova do Almada, mas assume-se vanguardista ao gerar novos espaos - dantes recnditos e marginalizados e ao lhes atribuir novas configuraes estticas (Viollet le Duc30). 3.3- Estratgias de Reabilitao Sustentvel

    O plano de Reabilitao dos edifcios, para alm de responder s questes de eficincia energtica, busca pela reduo dos custos de obra e manuteno, bem como a reduo dos impactos construtivos gerados pelos mtodos de reabilitao correntes, adopta solues de operaes de manuteno e inspeco em espaos tcnicos especficos e, preferencialmente, exteriores s paredes, principalmente no que toca s componentes de instalaes de cozinhas e circulaes verticais. Prev o uso de energias renovveis fotovoltaico, trmico, biomassa bem como um melhor aproveitamento da luz natural, atravs do uso de elementos captadores de luz, tais como clarabias ou planos envidraados bem orientados. Tambm previsto que sejam feitos os devidos reforos estruturais de modo a receber os sistemas complementares para uma melhor eficincia energtica do edificado. A captao da ventilao natural, como aliado na criao de amplas condies de conforto e salubridade do edifcio, sendo um meio adequado a economia de energia e de aumento da vida til da massa edificada. 3.4 - Tipo de Ocupao Pretendido Pretende-se alterar a concepo generalizada da ocupao dos edifcios da Baixa comrcio ao nvel dos rs de cho e habitao nos pisos subsequentes. Utiliza-se portanto a Rua Nova do Almada como entrada principal da Escola de Hotelaria do Chiado, e a Rua do Crucifixo como entrada e sada de servios para o funcionamento do Restaurante Escola do Chiado. A entrada principal do edificado passa ento a ser feita a partir das Escadinhas de S. Sebastio da Pedreira, onde, um elemento de entrada marca a nova fachada. Tal escolha foi feita a partir da observao da movimentao local e do tipo de servios que

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    circundam cada rua. A distribuio prvia dos pisos pode ser observada a partir da imagem que segue.

    Imagem 8 Distribuio de funes por pavimento. Em amarelo, pretende-se previamente definir as zonas de acessos e circulaes e servios, ligam-se directamente Rua do Crucifixo (esquerda) e so de acesso directo Escola de Culinria, bem como cozinha do restaurante. Atravs da Rua Nova do Almada (direita), em azul, um Foyer de distribuio d acesso directo Escola Superior de Hotelaria (verde). O Restaurante Escola desenvolve-se em duas dinmicas distintas: Numa interveno mais purista e reservada, e noutra, mais vanguardista na cobertura do edificado, com vista para o Castelo. 3.5 - Da Interveno e dos Materiais em Anlise A soluo construtiva pretendida opta pela conservao dos materiais que encontram-se presentes e em bom estado ao nvel das fachadas pombalinas. Pretende-se zelar pela conservao e adopo de materiais tradicionais originais nas fachadas a serem preservadas. Tanto no interior dos edifcios, quanto nos demais espaos da interveno, opta-se pelas materialidades locais e eco-eficientes. Materiais ecolgicos e reflectores, que respondam adequadamente ao tipo de utilizao pretendido. Tanto a seleco como a forma de aplicao, devero corresponder com as preexistncias

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    numa busca pela interveno de impacto reduzido. Deve ponderar tambm, o ciclo de vida do edificado e recorrer ao uso de materiais locais de elevada eficincia termo-acstica entre eles j devidamente escolhidos o uso da madeira de demolio e da cortia ( tambm utilizado juntamente com a l mineral para efeitos de conforto acstico do edificado). A aplicao de telhas cermicas fotovoltaicas, a base de silcio, responde como uma das solues a contrapor os correntes painis solares e, ao mesmo tempo, mantm a configurao e o traado original dos edifcios pombalinos.

    Loira de Cortia Telha fotovoltaica Madeira de demolio

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    4. Concluso

    De muitas aces arquitectnicas e patrimoniais ainda depende o futuro da Baixa Pombalina. Muito j tem sido feito pelo patrimnio, mas preciso que critrios de funcionalidade e adaptabilidade possam chamar ateno s problemticas que enfrentamos na actualidade. necessrio que o patrimnio interaja com a sociedade, e no apenas seja algo esttico, tombado, impedido ao pblico. O sistema ganha respeito quando passa a mostrar-se para a sociedade e ela a usufruir dele. com novos programas funcionais, com novas propostas que se adeqem a tempos de austeridade, que passaremos a criar uma nova Baixa Pombalina, que levar uma arquitectura preservada para as geraes futuras, com novas noes de respeito pela arquitectura e pela cultura de um povo.

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    1 LEAL Joana Cunha - Legitimao artstica e patrimonial da Baixa Pombalina Um percurso pela crtica e pela histria da arte portuguesas. In: Revista Monumentos No 21 Dossi, Lisboa, 2004, p. 6. 2 FRANA Jos Augusto Lisboa Pombalina e o Iluminismo. 3aed.rev.Lisboa: Bertrand, 1987, p.372, nota 1. 3 LEAL Joana Cunha - Legitimao artstica e patrimonial da Baixa Pombalina Um percurso pela crtica e pela histria da arte portuguesas. In: Revista Monumentos No 21 Dossi, Lisboa, 2004, p. 7. 4 Raul PROENA Impresso Geral. Guia de Portugal: Lisboa e Arredores. 1a ed.1924. Lisboa: Fundao Caloustre Gulbenkian, 1982, p.179 5 LINO Raul Essai sur lvolution de larchitecture domstique au Portugal. Lisboa: Institut Franais au Portugal, 1937, p.3. 6 Idem, ibidem, p.19. 7 O artigo publicado pelo urbanista Etienne De Groer, aps a sua passagem por Lisboa, na revista parisiense La Vie Urbaine, em 1936, intitulado Lisbonne, exemple durbanisation au XVIIIe sicle, poder ter sido uma referencia para o arquitecto portugus. 8 MONTEIRO Pardal Esprito Clssico. Sudoeste, Lisboa, (Nov.) 1935, n.3, pp. 38 e 165. 9 MONTEIRO Pardal Os Portugueses percursores da Arquitectura Moderna e do Urbanismo. Porto: Crculo Dr. Jos de Figueiredo, 1949, p. 21. 10 MONTEIRO Pardal Todas as citaes. Ob. cit., 1949, p.16. 11 Idem, ibidem, p.19. 12 Pierre Francastel (1900 1970) 13 Sobre o quadro terico da sociologia da arte francasteliana, ver FRANCASTEL Pierre Para una sociologa del arte: Mtodo o problemtica?. Sociologia del Arte. 1 ed. 1970, Madrid: Alianza, 1990, pp. 7-34. Ver tambm o prefcio de FRANA Jos Augusto traduo portuguesa da obra de Pierre FRANCASTEL Arte e Tcnica nos Sculos XIX e XX, Lisboa: Livros do Brasil, 1963 e La Sociologie de lArt et sa Vocation Interdisciplinaire: I Colloque International du Centre Pierre Francastel (Lisboa, Fundao Caloustre Gulbenkian, 1974; conjunto de comunicaes publicadas nos nmeros 18 e 19 da revista Colquio Artes, 1974). Entre as publicaes mais recentes sublinhe-se a sntese crtica de Jaime BRIHUEGA Histria de las ideas Estticas y de las Teoras Artsticas Contemporneas , Madrid: Visor, 1996, 2. vol., pp. 264-282. 14 FRANA Jos Augusto Ob. cit., 1987, p.173. 15 Idem, ibidem, p.174. 16 Idem, ibidem.

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    17 Idem, ibidem, p.179. 18 FRANA Jos Augusto Ob. cit., 1980, p.46. 19 FRANA Jos Augusto Ob. cit., 1987, p.174. 20 LEAL Joana Cunha - Legitimao artstica e patrimonial da Baixa Pombalina Um percurso pela crtica e pela histria da arte portuguesas. In: Revista Monumentos No 21 Dossi, Lisboa, 2004, p. 15. 21 criadas pelo arquitecto Franois Mansart (1598 1666). 22 Aldo Rossi (1931-1997) 23ROSSI Aldo Ob.cit., A teoria da permanncia e dos monumentos, 2001, p.75-81. 24 Idem,ibidem, p.75. 25 Idem,ibidem, p.76. 26 Idem,ibidem, p.77. 27 Idem,ibidem, p.79. 28 Idem,ibidem, p.80. 29 John Ruskin (1819 1900) 30 Viollet le Duc (1814 - 1879)

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    Bibliografia APPLETON Joo Guilherme Reabilitao de edifcios gaioleiros, um quarteiro em Lisboa. Ob.cit, Edies Orion, Amadora, 2005. BACHMANN Maria Graa Reabilitao Sustentvel da Baixa Pombalina, Ob. cit., Lisboa. CIAS Victor Reabilitao Estrutural de Edifcios Antigos, alvenaria / madeiras tcnicas pouco intrusivas. Ob.cit., Argumentum, Lisboa, 2007. LEAL Joana Cunha - Legitimao artstica e patrimonial da Baixa Pombalina Um percurso pela crtica e pela histria da arte portuguesas. In: Revista Monumentos No 21 Dossi, Lisboa, 2004, pp. 6 a 17. MAIA Maria Helena - Patrimnio e Restauro em Portugal (1825-1880), Ob.cit., Edies Colibri, Lisboa, 2007. MATEUS Joo Mascarenhas Reabilitao Urbana, Baixa Pombalina: Bases para uma interveno de salvaguarda, Ob.cit., Coleco de Estudos Urbanos Lisboa XXI Vol 6, Cmara Municipal de Lisboa Pelouros do Licenciamento Urbanstico, Reabilitao Urbana, Planeamento Urbano, Planeamento Estratgico e Espaos Verdes, Lisboa, 2005. ROSSI Aldo A Arquitectura da Cidade, Ob.cit., Edies Cosmos, Lisboa, 2001. ZEVI Bruno Saber ver a Arquitetura, Ob.cit., Livraria Martins Fontes Editora Ltda., So Paulo, 2009.

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