Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

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Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio André Eduardo Martins Rua Pinto Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Professor Pedro Guilherme Sampaio Viola Parreira Orientador: Professor Nuno Miguel Rosa Pereira Silvestre Vogal: Professor Pedro Manuel de Castro Borges Dinis Outubro 2010

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Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio

André Eduardo Martins Rua Pinto

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil

Júri Presidente: Professor Pedro Guilherme Sampaio Viola Parreira Orientador: Professor Nuno Miguel Rosa Pereira Silvestre Vogal: Professor Pedro Manuel de Castro Borges Dinis

Outubro 2010

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A G R A D E C I M E N T O S

Aos meus pais, por todo o apoio que me deram ao longo destes anos.

Ao Professor Nuno Silvestre pela disponibilidade e sobretudo pela paciência durante

esta longa jornada.

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R E S U M O

As estruturas laminares têm uma elevada reserva de resistência de pós-encurvadura

local. Os perfis de aço enformados a frio podem ser tomados como um conjunto de placas

esbeltas ligadas entre si. Torna-se necessário, por isso, dimensionar este tipo de perfis tendo

em consideração essa reserva de resistência de pós-encurvadura local. O método

habitualmente usado para dimensionar estruturas deste tipo é baseado no conceito de

largura efectiva.

O Método das Larguras Efectivas, além do carácter eminentemente empírico que

pouco contribui para a compreensão dos fenómenos que afectam a estabilidade, leva á

aplicação de um conjunto de cálculos relativamente complexos onde a presença de erros por

parte do projectista nem sempre é facilmente detectável.

Com vista a melhorar a celeridade e eficiência do dimensionamento de perfis

enformados a frio, foi desenvolvido o Método da Resistência Directa (MRD). Este método usa

as cargas críticas de instabilidade (instabilidade local, distorcional e global) determinadas

com base numa análise computacional, para, com base em curvas de resistência calibradas

experimentalmente, prever a resistência do perfil.

Com base em catálogos comerciais de perfis, foram criadas tabelas com as cargas

(tensões) críticas dos modos locais, usando para isso o software CUFSM que faz a aplicação

do (i) Método das Faixas Finitas (MFF) e do (ii) Método das Faixas Finitas Restringido

(MFFr). Com estas tabelas pretendeu-se criar uma ferramenta para tornar mais rápido o

dimensionamento de perfis pelo MRD. Programou-se, em ambiente Matlab, a aplicação

automática do MRD a perfis em “C”. A aplicação, baseada no CUFSM, identifica os modos

local e distorcional de perfis sujeitos a (i) compressão axial e (ii) flexão em torno do eixo de

maior inércia. A determinação das cargas críticas no modo global foi feita com base numa

análise pelo MFFr. A aplicação permite ainda aplicar as expressões de interacção M-N da

norma geral da AISI.

Por fim, apresentam-se as disposições do EC3 que dizem respeito a perfis

enformados a frio (parte 1-3), bem como de um exemplo da aplicação do EC3 à

determinação da resistência de um perfil em C sujeito a compressão. Por fim, usa-se o

software Coldform para determinar a resistência à encurvadura de um conjunto de perfis pelo

EC3, fazendo-se a comparação dos resultados com o dimensionamento pelo MRD.

Palavras-Chave: Estabilidade Local e Distorcional; Perfis de Aço Enformados a Frio; Método

da Resistência Directa; MRD; EC3.

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A B S T R A C T

Laminar structures have a high post-buckling strength reserve. Cold-formed steel

profiles can be taken as a set of thin plate elements. Therefore it is necessary to design this

type of profiles taking into account that reserve of strength in post-local buckling modes . The

method normally used to design this type of structures is based on the Effective Width

concept.

The Effective Width method, in addition to being highly empirical (giving little

contribution to the understanding of the phenomena affecting the stability), leads to the

application of a set of relatively complex calculations, where the presence of human errors is

not always easy to detect. The Direct Strength Method was developed in order to improve the

speed and efficiency of the design of cold-formed profiles. This design method uses the

buckling loads (for the local, distortional and global modes) gathered from a computer-based

analysis and experimentally calibrated resistance curves to predict the strength of the profile.

Using the CUFSM software, a set of tables was created detailing the elastic buckling

results (local and distortional) for a wide sample of commercially available profiles. Both Finite

Strip Method (FSM) and Constrained Finite Strip Method (cFSM) were used. The objective of

those tables was to create a tool to expedite the design of thin-walled members using the

Direct-Strength Method (DSM).

The automatic application of the DSM in “C” members was programmed using

Matlab. This application was based on CUFSM source code and identifies the local and

distortional modes on members subjected to (i) axial compression and (ii) bending. The

constrained Finite Strip Method was used in order to find the global buckling loads. The

created software uses these critical loads to calculate the resistance of the profile using AISI’s

DSM-based specification.

In the last chapter the cold-formed related EC3 provisions are presented (EC3 – Part

1-3) as well as an example of its application on a “C” profile subject to axial compression.

Finally, the EC3-based software Coldform was used to determine the buckling resistance for

a set of profiles. Those results were compared with the ones resulting from a DSM analysis.

Key Words: Local and Distortional Modes, Direct Strength Method, DSM, EC3, Cold-

Formed Steel Profiles

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Í N D I C E

ABSTRACT ..................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO................................................................................................. 1

1. Considerações Gerais ..................................................................................................................... 1

2. Organização da Dissertação ......................................................................................................... 8

CONCEITOS TEÓRICOS ................................................................................ 9

1. Estabilidade Estrutural ................................................................................................................... 9

2. O Método das Faixas Finitas....................................................................................................... 18

ESTABILADADE LOCAL E DISTORCIONAL DE PERFIS COMERCIAIS .. 21

1. Introdução ......................................................................................................................................... 21

2. Determinação de cargas críticas ............................................................................................... 21

3. Exemplo de identificação dos modos críticos ..................................................................... 23

4. Identificação dos modos local e distorcional nas secções estudadas ....................... 26

5. Discretização das secções .......................................................................................................... 28

6. Breve apresentação dos perfis comerciais analisados .................................................... 31

MÉTODO DA RESISTÊNCIA DIRECTA ....................................................... 32

1. Introdução ......................................................................................................................................... 32

2. O MRD aplicado ao cálculo da resistência de colunas ..................................................... 34

3. O MRD aplicado ao cálculo da resistência de vigas........................................................... 36

4. Interacção M-N (viga-coluna) ...................................................................................................... 39

5. Exemplo de aplicação ................................................................................................................... 40

5.1 Cálculo da resistência teórica da coluna................................................................................ 40 5.2 Cálculo da resistência nominal da viga .................................................................................. 43

5.3 Flexão composta............................................................................................................................. 46

6 Programação em Matlab da aplicação do MRD.................................................................... 47

COMPARAÇÃO ENTRE O MRD E O EC3 ................................................... 53

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1. Introdução ......................................................................................................................................... 53

2. Dimensionamento e verificação da segurança de acordo com o EC3 ........................ 58

3. Exemplo de aplicação: perfil SSMA 600S200-43 sujeito a compressão simples ..... 62

3.1 Determinação da secção efectiva (para compressão) ....................................................... 63

3.2 Análise da estabilidade do perfil à compressão (Cálculo de ,)............................ 67 4. Utilização do programa Coldform para o dimensionamento de perfis de aço enformados a frio ..................................................................................................................................... 70

CONCLUSÃO ................................................................................................ 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 75

ANEXO A – FUNCIONAMENTO DO SOFTWARE CUFSM ......................... 77

ANEXO B – TABELAS DE PERFIS COMERCIAIS ANALISADOS ............. 81

ANEXO C – FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA CUFSM COM APLICAÇÃO AUTOMÁTICA DO MRD ....................................................... 102

ANEXO D – EXPLICAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DO SOFTWARE “COLDFORM”............................................................................................. 108

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L I S TA D E F I G U R A S

Figura 1 - Processo de enformagem a frio (Retirado de A. Ghersi et al. (2001)) _________________ 2

Figura 2 – Perfis estruturais de aço enformados a frio e painéis de chapa ______________________ 3

Figura 3 - Máquina enformadora e desenrolador [http://www.nuconsteel.com] _________________ 4

Figura 4 – Secções de perfis (a) convencionais e (b) optimizadas____________________________ 7

Figura 5- Equilíbrio estável, instável e neutro. (Adaptado de Reis e Camotim,(2000)) ____________ 9

Figura 6 - Instabilidade Bifurcacional. (Retirado de Reis e Camotim (2000)) __________________ 10

Figura 7 – Coluna de Euler. (A) Configuração da trajectória fundamental (B) Configuração na trajectória de pós-encurvadura. (Adaptado de Reis (2000)) ___________________________ 11

Figura 8 – Comportamento da coluna de Euler (Reis, (2000)) _____________________________ 12

Figura 9 – Placa comprimida. Trajectórias de equilíbrio. _________________________________ 12

Figura 10 – Placa simplesmente apoiada sujeita a compressão _____________________________ 13

Figura 11 – Comportamento de instabilidade por “Snap-through) __________________________ 14

Figura 12 – Modos de instabilidade. Barra curta, intermédia e longa. ________________________ 15

Figura 13 – Modos de instabilidade de um perfil em C sujeito a compressão simples ____________ 16

Figura 14 – Modelo estrutural para estudar a instabilidade no MLP. ________________________ 17

Figura 15 – Semi-comprimentos de onda no Modo Local de Placa (Reis, 2000) _______________ 17

Figura 16 – Configuração no modo distorcional de um perfil em C com reforços sujeito a (a) compressão uniforme e (b) flexão uniforme. ______________________________________ 18

Figura 17 – Discretização do domínio em (a) elementos finitos (b) faixas finitas _______________ 19

Figura 18 – Discretização de uma faixa finita. [Schafer e Ádany, (2006)] ____________________ 20

Figura 19 – Secção C ___________________________________________________________ 23

Figura 20- Exemplo da aplicação do CUFSM _________________________________________ 24

Figura 21 – Ausência de MD numa cantoneira (100x100mm, 1mm de espessura) ______________ 25

Figura 22 – Secção em C com h/b>3. Ausência de modo distorcional. _______________________ 25

Figura 23 – Parâmetros de carga para uma secção em C com um reforço na alma. ______________ 26

Figura 24 – Configuração do modo _________________________________________________ 26

Figura 25 – Modos locais de instabilidade de uma secção C sem reforços. a) Compressão b) Flexão 27

Figura 26 – Configuração dos Modos de Instabilidade de secções em “C” com reforços. a) Modo Local na Compressão b) Modo Local na Flexão c) Modo Distorcional para Compressão d) Modo Distorcional na Flexão.______________________________________________________ 27

Figura 27 - Configuração dos Modos de Instabilidade de secções em “Z” com reforços. a) Modo Local na Compressão b) Modo Local na Flexão c) Modo Distorcional para Compressão d) Modo Distorcional na Flexão.______________________________________________________ 28

Figura 28 – Influência dos cantos arredondados. _______________________________________ 28

Figura 29 – Discretização das dobragens na chapa. _____________________________________ 29

Figura 30 – Discretização de uma secção em “C” em 5, 10, 20 e 40 faixas finitas. ______________ 29

Figura 31– Resultados para as várias discretizações. ____________________________________ 30

Figura 32 – Curvas de resistência local e distorcional para uma coluna impedida de encurvar lateralmente [Schafer, 2003]. _________________________________________________ 34

Figura 33 - Curvas de resistência local e distorcional para uma viga impedida de encurvar lateralmente [Schafer, 2003]. ___________________________________________________________ 37

Figura 34 – Dimensões e propriedades da secção SSMA 600S200-43. _______________________ 40

Figura 35 – Resultados CUFSM: Perfil SSMA 600S200-43 sujeito a compressão. ______________ 40

Figura 36 – AISI, 2004: Parâmetros de escolha dos coeficientes para uma secção sujeita a compressão simples. _________________________________________________________________ 41

Figura 37 - Resultados CUFSM: Perfil SSMA 600S200-43 sujeito a flexão sobre o eixo de maior inércia. __________________________________________________________________ 43

Figura 38 - AISI, 2004: Parâmetros de escolha dos coeficientes para uma secção em C sujeita a flexão. _______________________________________________________________________ 44

Figura 39 – Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 1/4. ________________________ 49

Figura 40 Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 2/4. __________________________ 50

Figura 41 Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 3/4. __________________________ 51

Figura 42 - Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 4/4. ________________________ 52

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Figura 43 – Medição de larguras de elementos ________________________________________ 54

Figura 44 – Tipos de reforços considerados pelo EC3 parte 1-3. ___________________________ 55

Figura 45 – Modelos estruturais para secções em C e Z. _________________________________ 56

Figura 46 – Fluxograma de verificação da segurança ao ELU de estabilidade _________________ 59

Figura 47 – Fluxograma para a verificação da segurança de colunas (elementos sujeitos a compressão) _______________________________________________________________________ 60

Figura 48 – Fluxograma para a verificação da segurança de vigas (elementos submetidos flexão) __ 61

Figura 49 - Diagrama para a verificação da segurança de viga-coluna (elementos submetidos a combinação de compressão e flexão) ___________________________________________ 62

Figura 50 – Secção SSMA 600S200-43: definição e propriedades __________________________ 62

Figura 51 – Dimensões dos elementos pelo EC3 _______________________________________ 63

Figura 52 – Coordenadas do centro de gravidade do reforço ______________________________ 65

Figura 53 – Secção efectiva da secção à compressão. ___________________________________ 66

Figura 54 – Secção em C usada no estudo paramétrico __________________________________ 71

Figura 55 – Comparação entre os métodos EC3 e MRD. _________________________________ 71

Figura 56 – Comparação entre os dois métodos (MRD em LRFD). _________________________ 72

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L I S TA D E A B R E V I AT U R A S

MLP Modo Local de Placa MD Modo Distorcional MGF Modo Global de Flexão MGFT Modo Global de Flexão-Torção MRD Método da Resistência Directa DSM “Direct Strength Method” MFF Método das Faixas Finitas MEF Método dos Elementos Finitos MLE Método das Larguras Efectivas ASD “Allowable Strength Design” LRFD “Load and Resistance Factor Design” AISI American Iron and Steel Institute

L I S TA D E S Í M B O L O S

Símbolo Descrição Código __________________________________________________________________________ Área da secção transversal Carga de cedência de uma coluna AISI Momento de cedência de uma coluna AISI Tensão de cedência do material (aço) Tensão crítica Carga crítica de encurvadura elástica de uma coluna AISI Carga crítica de encurvadura no modo local de uma coluna AISI Carga crítica de encurvadura no modo distorcional de uma

coluna AISI Carga crítica de Euler ou de encurvadura global de uma coluna AISI Resistência nominal de uma coluna considerando instabilidade AISI local Resistência nominal de uma coluna considerando instabilidade AISI distorcional Resistência nominal de uma coluna considerando instabilidade AISI por flexão, torção ou flexão-torção. Resistência nominal de uma coluna (considerando os vários AISI modos de instabilidade). Resistência nominal de uma coluna impedida de instabilizar AISI lateralmente (continuamente contraventada) Momento flector crítico AISI

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Momento flector crítico no modo local de instabilidade AISI Momento flector crítico no modo de instabilidade distorcional AISI Momento flector crítico na instabilidade por flexão-torção AISI Resistência nominal à flexão para a encurvadura local AISI Resistência nominal à flexão para a encurvadura distorcional AISI Resistência nominal à flexão para a encurvadura por flexão-torção AISI Resistência nominal à flexão considerando os vários modos AISI de instabilidade. Módulo de flexão elástico AISI Esbelteza de uma coluna AISI Esbelteza no modo local (pode referir-se a uma coluna ou viga) AISI Esbelteza no modo distorcional (pode referir-se a uma coluna AISI ou viga).

Ω Coeficiente de ponderação das acções de compressão. AISI Ω Coeficiente de ponderação dos momentos flectores. AISI Coeficiente de ponderação da resistência à compressão. AISI Coeficiente de ponderação da resistência à flexão. AISI Factor do gradiente de momentos AISI Factor de amplificação. AISI Curva de encurvadura EC3 Curva de encurvadura EC3 Curva de encurvadura EC3 Área efectiva da secção EC3 Área efectiva do reforço EC3 , Área efectiva reduzida do reforço EC3 Largura EC3 Porção plana da largura EC3 Porção plana da largura EC3 Porção da largura efectiva EC3 Porção da largura efectiva EC3 Largura efectiva EC3 Largura da parte plana do elemento EC3 , Porção da largura da parte plana do elemento EC3 , Porção da largura da parte plana do elemento EC3 , Largura da parte plana do reforço EC3 Rigidez rotacional da mola EC3 , Rigidez rotacional da mola EC3 , Rigidez rotacional da mola EC3 !", Excentricidade y do centro de gravidade da secção efectiva EC3 !",# Excentricidade z do centro de gravidade da secção efectiva EC3 $ Módulo de elasticidade EC3 Tensão na extremidade do elemento EC3 Tensão na extremidade do elemento EC3 % Tensão de cedência médio EC3 Tensão de cedência base EC3 ℎ Altura da secção EC3 ℎ' Altura da alma EC3 ( Raio de giração da secção bruta EC3 ) Momento de inércia da secção EC3 ) Momento de inércia da secção efectiva EC3 ) Momento de inércia da secção efectiva do reforço EC3 )* Momento de inércia da secção em torno do eixo x EC3 ) Momento de inércia da secção em torno do eixo y EC3 + Coeficiente que depende do tipo de enformagem a frio EC3 + Coeficiente EC3 +# Coeficiente EC3 +, Coeficiente de encurvadura local EC3

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- Rigidez da mola EC3 ., Comprimento de encurvadura global em torno de y EC3 .,# Comprimento de encurvadura global em torno de z EC3 Momento flector EC3 Momento crítico de encurvadura lateral EC3 ,/ Momento flector resistente da secção EC3 ,/ Momento flector resistente da secção em torno de y EC3 #,/ Momento flector resistente da secção em torno de z EC3 Momento flector solicitante EC3 , Momento flector solicitante em torno de y EC3 #, Momento flector solicitante em torno de z EC3 0,/ Resistência à encurvadura de uma coluna EC3 0,/ Resistência à compressão de uma secção EC3 0 Esforço axial EC3 01,/ Resistência à tracção de uma secção EC3 0 Carga de cedência de uma secção EC3 2 Raio interno EC3 3 Espessura EC3 3 Espessura reduzida EC3 4 Carga unitária EC3 Módulo de flexão efectivo EC3 , Módulo de flexão efectivo em torno de y EC3 ,# Módulo de flexão efectivo em torno de z EC3 Módulo de flexão em torno de y EC3 # Módulo de flexão em torno de z EC3 5 Eixos coordenados EC3 6 Eixos coordenados EC3 7 Eixos coordenados EC3 Factor de imperfeição EC3 89 Factor de imperfeição na encurvadura por flexão-torção EC3 : Factor de redução para a encurvadura EC3 ; Deslocamento (flecha) do reforço EC3 ∆, Momento flector em torno de y adicional devido à excentricidade EC3

do centro de gravidade da secção efectiva. ∆#, Momento flector em torno de z adicional devido à excentricidade EC3

do centro de gravidade da secção efectiva. <0 Factor de segurança EC3 <1 Factor de segurança para a encurvadura EC3 Esbelteza EC3 ? Esbelteza relativa EC3 89 Esbelteza na encurvadura lateral EC3 ? Esbelteza relativa de placa EC3 ?, Esbelteza relativa de placa, reduzida EC3 @ Factor de redução EC3 A Tensão EC3 A Tensão crítica EC3 A, Tensão crítica de encurvadura do reforço EC3 B Razão das tensões nos extremos do elemento EC3

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1

CAPÍTULO 1

I N T R O D U Ç Ã O

1. Considerações Gerais

Os perfis de aço usados na construção podem ser divididos em 3 grupos: (i) perfis

laminados a quente, (ii) perfis soldados e (iii) perfis enformados a frio. Do ponto de vista do

dimensionamento, os perfis enformados a frio, obtidos a partir da dobragem de chapas de

aço de espessuras reduzidas, são chamados perfis leves. Os perfis laminados a quente e os

constituídos por chapas soldadas constituem o grupo dos perfis pesados.

Os perfis de aço enformados a frio são obtidos através de: (i) quinagem1 ou (ii)

laminagem a frio2 de chapas de aço. Estes processos de fabrico tiram partido da ductilidade

do aço e permitem a obtenção de elementos de parede muito fina, quando comparados com

os obtidos por laminagem a quente. Acresce a isto o facto se poder criar uma grande

variedade de formas e dimensões adaptadas à aplicação que se pretende, sem que isso

resulte num aumento significativo do custo de fabrico.

O processo de laminagem a frio é o mais utilizado no fabrico de perfis leves, quando o

objectivo é obter um perfil rectilíneo e de secção constante. A secção pretendida é obtida a

partir de uma faixa de chapa plana que vai ganhando forma gradual e continua enquanto

atravessa um ou vários pares de rolos que a comprime e dobra. O número de pares de rolos

sucessivos depende da complexidade da forma da secção que se pretende obter. Além

disso, no caso da laminagem de chapas com espessuras relativamente elevadas, pode ser

necessário efectuar a dobragem da chapa em várias fases (vários rolos sucessivos vão

fechando o ângulo entre duas paredes do perfil).

A Figura 1 ilustra o processo da laminagem a frio:

1 “Press braking”, na nomenclatura anglo-saxónica

2 “Cold Rolling”, na designação anglo-saxónica

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2

Figura 1 - Processo de enformagem a frio (Retirado de A. Ghersi et al. (2001))

O fabrico de perfis pelo processo de quinagem consiste na dobragem de uma porção de

chapa, de comprimento limitado (no caso da laminagem o comprimento da peça está apenas

limitado pelo comprimento do rolo de chapa), através da prensagem3 contra um negativo

com a forma pretendida ou dobragem4 da chapa.

Cada um dos processos tem um âmbito de aplicação diferente e cada um deles tem

associado vantagens e desvantagens. A laminagem é normalmente automatizada, o que a

torna mais rápida e barata. É também o processo normalmente utilizado na fabricação de

perfis de aço enformados a frio.

O uso de perfis estruturais de aço enformados a frio na construção é motivado por um

conjunto de vantagens das quais se destacam: (i) a elevada eficiência estrutural destes

perfis, com uma elevada relação resistência estrutural/peso; (ii) a possibilidade de criação

rápida de perfis de formas variadas e adaptadas às necessidades; (iii) a rapidez de execução

da obra e economia no transporte, já que o baixo peso dos elementos torna a montagem

expedita e pouco dependente de equipamentos de elevação (iv) a possibilidade e facilidade

de pré-fabrico de vários componentes (e.g. painéis de parede).

Na indústria (embalagens, automóvel, aeronáutica, etc.) a enformagem a frio e mesmo o

uso de elementos estruturais de aço enformados a frio é muito comum e usada praticamente

desde o seu início. A utilização de perfis de aço enformados a frio na construção civil (como

elemento estrutural) é relativamente recente, pelo menos a sua utilização com carácter

regular.

Os elementos estruturais de aço enformados a frio mais utilizados actualmente na

construção podem dividir-se em duas categorias:

3 “Press-braking”, na designação anglo-saxónica.

4 “Hydraulic folding” , na designação anglo-saxónica.

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3

(i) Perfis, de eixo rectilíneo e secção uniforme. Feitos a partir de chapas com

espessuras entre 1.2 e 6.4mm [Prola (2002)]. Embora possam existir perfis com

geometrias variadas e adaptadas aos requisitos específicos de uma determinada

aplicação, os perfis mais comummente usados em estruturas de edifícios têm

secção em C, Z e “rack”5.

(ii) Painéis de chapa e chapas perfiladas fabricados a partir de chapas de aço com

espessuras entre 0.9 e 1.9mm.

A Figura 2, retirada de Ghersi et al. (2001) mostra várias configurações utilizadas em

aplicações correntes.

Figura 2 – Perfis estruturais de aço enformados a frio e painéis de chapa

O uso de perfis de aço enformados a frio (PAEF) na construção de pequenos edifícios

residenciais está perfeitamente banalizado nos EUA. Empresas como a “Dietrich Metal

Framing”6 ou a “CEMCO”7, entre muitas outras, fornecem soluções completas para a

construção com perfis enformados a frio de edifícios de habitação ou pequeno comércio.

Fornecem não só os perfis estruturais – (“framing”8), como também todo um conjunto de

soluções pré-fabricadas baseadas em perfis de aço enformados a frio: (i) estrutura, (ii)

treliças para suporte do piso e (iii) treliças para a cobertura. A Norte Americana

NUCONSTEEL9 chega mesmo a disponibilizar uma solução integrada para criação da malha

estrutural e treliças de perfis de aço enformado a frio. A solução consiste nos softwares

“NUFRAME” e “NUTRUSS” de modelação das componentes estruturais, numa máquina

semi-portátil de laminagem a frio, rolo de chapa e desenrolador. A laminadora cria os perfis

necessários de acordo com a estrutura modelada e faz as furações necessárias a partir do

5 Perfis “ómega”.

6 http://www.dietrichindustries.com/

7 http://www.cemcosteel.com/

8 “Framing” refere-se à estrutura de um edifício construído com perfis de aço enformados a frio. Os termos “framing”, “roofing”, “flooring”, “cladding”, entre outros, surgem da tradição da construção em madeira nos EUA. Passaram a ser usados também na construção de edifícios de habitação com perfis leves de aço.

9 http://www.nuconsteel.com

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4

software, sem nova intervenção humana. Este tipo de solução poderá contribuir para a

massificação do uso de perfis enformados a frio como solução estrutural.

Figura 3 - Máquina enformadora e desenrolador [http://www.nuconsteel.com]

Além dos EUA, países como Inglaterra e Austrália têm alguma tradição no uso de perfis

de aço enformados a frio. Em Portugal, o uso deste tipo de perfis de aço enformado a frio

como solução estrutural é ainda pouco comum. No entanto, dadas as vantagens que este

tipo de solução estrutural apresenta, é de esperar que a utilização de perfis de aço de parede

fina se venha a vulgarizar na construção de edifícios de pequeno porte.

No caso das chapas perfiladas, o uso é mais comum, nomeadamente na construção

mista aço/betão (lajes mistas).

A grande eficiência estrutural dos perfis de aço enformado a frio é uma grande mais-valia

deste tipo de solução estrutural. No entanto, a espessura reduzida da chapa de aço que lhes

deu origem acarreta algumas dificuldades que limitam a utilização mais frequente desta

solução estrutural.

Em Prola (2002) encontra-se um levantamento dos aspectos que influenciam a análise e

o dimensionamento de perfis de aço enformados a frio com secção aberta, e que se

apresenta em seguida (de forma resumida):

(i) Fenómenos de instabilidade local e/ou global, devidos, sobretudo à elevada

esbelteza das chapas que constituem o perfil e à baixa rigidez de torção das

secções.

(ii) Grande deformabilidade à torção, associada à baixa rigidez de torção das

secções de parede fina aberta e ao facto de, para um grande número de secções

correntes, o centro de corte não coincidir com o centro de gravidade.

(iii) Empenamento das secções sujeitas a momento torsor, associado às

características geométricas da secção e às condições de fronteira (dificuldade de

impedir o empenamento).

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5

(iv) Reforços de extremidade que melhoram o comportamento estrutural das paredes

comprimidas do perfil.

(v) Endurecimento do aço na zona dos bordos do perfil (zona da chapa de aço que

foi dobrada) e a sua influência no aumento da tensão de cedência e diminuição

da ductilidade.

(vi) Colapso da alma devido à aplicação de forças concentradas.

(vii) Especificidade das ligações, já que os modos de colapso, tanto para ligações

soldadas como para ligações aparafusadas, são diferentes dos observados em

estruturas de perfis de aço laminados a quente.

Os problemas de estabilidade local, associados à flexão das paredes do perfil, surgem

como a principal condicionante no dimensionamento de estruturas de perfis de parede fina

enformados a frio. Embora a estabilidade local possa ser condicionante também em perfis

“pesados”, o que se verifica é que, no caso dos enformados a frio, devido à reduzida

espessura das chapas de aço usadas no fabrico dos perfis, os fenómenos de instabilidade

local ocorrem para carregamentos relativamente baixos. Torna-se necessário “explorar” o

comportamento de pós-encurvadura local do perfil, para se aproveitar as vantagens desta

solução estrutural.

O estudo da estabilidade local de perfis de aço enformados a frio e a contribuição da

instabilidade local para a degradação da capacidade resistente do perfil têm sido objecto de

estudo há várias décadas.

O “American Iron and Steel Institute” em 1946 publicou a primeira regulamentação:

“Specification for the Design of Light Gage Steel Structural Members”. Esta foi baseada no

trabalho de investigação desenvolvido sob alçada de George Winter na Universidade de

Cornell desde 1939, com o patrocínio da AISI.

Actualmente, vários grupos de pesquisa se dedicam à investigação em PAEF,

nomeadamente:

- Nos EUA, o grupo de pesquisa do professor Benjamin W. Schafer na “The John

Hopkins University”, cujo trabalho serve de base a esta dissertação.

- Wei-Wen Yu, da “University of Missouri-Rolla”, EUA.

- na Austrália, o grupo da “The University of Sidney”, liderado pelo professor G. Hancock.

Regulamentos

A grande maioria dos regulamentos de dimensionamento aplicáveis aos perfis de aço

enformados a frio (de parede fina) actualmente em vigor são baseados no conceito de

largura efectiva. Para se considerar a encurvadura local de barras comprimidas é necessário

determinar a largura efectiva dos diversos elementos (paredes) do perfil.

O método das larguras efectivas (MLE) é um método aproximado que analisa cada

elemento que forma a secção transversal isoladamente, embora tendo em consideração as

Page 18: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

6

condições de fronteira (outras chapas do perfil). O MLE consiste em diminuir as larguras dos

elementos (chapas) do perfil e calcular, com as novas propriedades da secção, a resistência

teórica da barra. Com isto, considera-se indirectamente a resistência de pós-encurvadura da

barra e a interacção entre os modos de instabilidade local e global.

O MLE foi originalmente proposto por von Kárman em 1932 e posteriormente ajustado

experimentalmente por G. Winter (1968).

Como exemplos de códigos de dimensionamento para perfis de aço enformados a frio

que aplicam o MLE, tem-se : (i) na Europa o EC3, (ii) no Brasil a NBR 14762, (iii) na

Austrália: AS/NZS 4673:2001 e (iv) nos EUA, Canadá e México, a “North American

Specification for the Design of Cold-Formed Steel Structural Members”.

O Método de Resistência Directa (MRD)

O Método de Resistência Directa10 é um método alternativo de dimensionamento de

perfis de aço enformados a frio. Foi introduzido no conjunto da regulamentação da AISI11 no

ano de 2004, como alternativa, para este tipo de perfis estruturais, à metodologia

apresentada na norma geral: “North American Specification for the Design of Cold-Formed

Steel Structural Members” [AISI (2001)]. O MRD não recorre ao cálculo de larguras efectivas

nem necessita de processos iterativos para o cálculo das propriedades efectivas das

secções. O MRD baseia-se nas tensões críticas associadas a três modos de instabilidade: (i)

modo local de placa, (ii) modo distorcional e (iii) modos globais.

A aplicação do método é muito expedita, residindo a principal dificuldade na

determinação das cargas (tensões) críticas locais, distorcionais e globais. Para isso, é

necessário recorrer a programas computacionais (existem algumas fórmulas calibradas para

secções correntes) como o CUFSM12, desenvolvido na John Hopkins University, e o Thin-

Wall, desenvolvido na Universidade de Sydney, entre outros13.

Uma vez que se usa um programa computacional para efectuar o cálculo de estabilidade

do perfil, a dificuldade de cálculo para secções complexas, com múltiplos reforços, não

implica um grande acréscimo de dificuldade. Pelo contrário, o cálculo de secções efectivas

para secções complexas torna-se difícil e demorado e, em alguns casos, impossível.

10 “Direct Strength Method” ou “DSM” na designação anglo-saxónica

11 “American Iron & Steel Institute”

12 http://www.ce.jhu.edu/bschafer/cufsm/

13 Thin-Wall (www.civil.usyd.edu.au/case/thinwall.php) ALESA ALESP SSS

Page 19: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

7

Figura 4 – Secções de perfis (a) convencionais e (b) optimizadas

O método de resistência directa implementado na norma Norte-Americana tem ainda

várias limitações [Schafer, (2006)]. O método foi desenvolvido apenas para a determinação

da resistência axial () e de flexão (), não tendo em consideração os efeitos do esforço

transverso, colapso da alma, a existência de furações no perfil e aumento de resistência

devido ao endurecimento do aço durante o processo de enformagem.

Page 20: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

8

2. Organização da Dissertação

No primeiro capítulo desta dissertação é feita uma exposição acerca dos perfis de aço

enformados a frio, abordando nomeadamente o modo como são fabricados, as aplicações

mais habituais na construção e destacam-se as principais vantagens de desvantagens da

sua utilização como solução estrutural. Aborda-se também a regulamentação actual no que

toca ao dimensionamento de estruturas em perfis de parede fina de aço, com particular

ênfase no Método de Resistência Directa.

O capítulo 2 compila, de forma muito resumida, os principais conceitos teóricos usados

na determinação das cargas críticas de perfis de aço enformados a frio. É feita uma revisão à

estabilidade de barras e aborda-se o Método das Faixas Finitas, assim como a sua

implementação computacional na forma do programa de cálculo CUFSM.

No Capítulo 3 é feito um levantamento de alguns perfis estruturais de aço enformados a

frio disponíveis no mercado. Com recurso ao software CUFSM calcularam-se as tensões

críticas de instabilidade nos modos (i) local e (ii) distorcional.

No quarto capítulo é apresentado o Método da Resistência Directa é feito um exemplo do

cálculo da resistência de um perfil “C” sujeito a uma combinação de esforços de compressão

e momento flector. Faz-se a programação em Matlab da aplicação do MRD, usando como

base o software CUFSM. Apresenta-se um exemplo da aplicação automática do MRD.

No quinto capítulo são apresentadas as disposições regulamentares constantes do EC3

para o cálculo da resistência de perfis de aço enformados a frio. Apresentam-se exemplos de

cálculo da resistência de perfis pelo EC3. Explica-se o funcionamento do programa Coldform,

que faz o cálculo da resistência de perfis de aço enformados a frio através da aplicação do

Eurocódigo 3. Faz-se a comparação entre os resultados obtidos pelo MRD e pelo EC3 para

um conjunto de secções.

No sexto e último capítulo retiram-se as conclusões mais importantes do trabalho.

Page 21: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

9

CAPÍTULO 2

C O N C E I T O S T E Ó R I C O S

1. Estabilidade Estrutural

O conceito de estabilidade estrutural está intimamente relacionado com a capacidade de

uma estrutura conseguir estabelecer uma posição de equilíbrio após a introdução de uma

perturbação externa (força ou deslocamento). Após cessar essa perturbação, a estrutura

pode:

(i) Retornar à configuração inicial, caso em que se diz que a estrutura apresenta equilíbrio

estável;

(ii) Não retornar à configuração inicial, pelo que se diz que a estrutura apresenta equilíbrio

instável.

Estes conceitos podem ser explicados [Reis e Camotim, (2000)] pela analogia com o

problema de uma “esfera rígida, submetida à acção do seu peso próprio e em repouso sobre

(i) uma superfície côncava (equilíbrio estável) (ii) uma superfície convexa (equilíbrio instável)

e (iii) uma superfície horizontal (equilíbrio neutro)”.

Figura 5- Equilíbrio estável, instável e neutro. (Adaptado de Reis e Camotim,(2000))

O estudo da estabilidade aplica-se às situações em que há tensões de compressão.

Analisam-se quer os fenómenos associados à estabilidade dos elementos, considerados

isoladamente, quer de toda a estrutura, analisada no seu conjunto. Genericamente estes

fenómenos designam-se por “fenómenos de instabilidade estrutural”, muito embora a

designação “encurvadura” seja usada habitualmente com o mesmo significado.

Page 22: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

10

1.1. Tipos de instabilidade estrutural

A instabilidade de uma estrutura que vai sendo progressivamente carregada,

corresponde à transição entre as configurações de equilíbrio estável e instável. Ao ser

carregada, a estrutura vai inicialmente evoluir ao longo de uma trajectória de equilíbrio

(relação carga-deslocamento) até atingir uma determinada carga – “carga crítica”, a partir da

qual passa a uma configuração de equilíbrio instável.

Os problemas de instabilidade podem ser divididos em 2 grupos:

(i) Instabilidade bifurcacional.

(ii) Ocorrência de um ponto-limite, ou instabilidade por “snap-trough”.

Instabilidade bifurcacional

A figura 6 mostra, para um caso genérico, um diagrama carga-deslocamento que ilustra

o fenómeno da instabilidade bifurcacional.

Figura 6 - Instabilidade Bifurcacional. (Retirado de Reis e Camotim (2000))

Uma peça “perfeita”, ao ser submetida a uma carga de compressão crescente, apresenta

uma configuração inicial de deformação, a trajectória fundamental (modo de deformação pré-

encurvadura). A trajectória fundamental inicia-se na origem do diagrama carga-deslocamento

e pode ter um comportamento linear ou não linear (dependendo do caso concreto).

Quando se atinge a carga crítica, a deformação (a relação carga-deslocamento) passa

subitamente para um padrão diferente. A essa relação carga-deslocamento chama-se “ponto

de bifurcação”, já que o modo de encurvadura (pós crítico) apresenta uma bifurcação,

passando a existir duas trajectórias possíveis no diagrama carga-deslocamento pós crítico.

Uma Análise Linear de Estabilidade (ALE) de um problema deste tipo envolve a

determinação (i) das coordenadas do ponto de bifurcação (a ordenada é a carga crítica) e (ii)

da configuração da deformada no momento da bifurcação (modo de instabilidade). As

propriedades da trajectória de pós encurvadura obtêm-se através de uma Análise Não Linear

de Estabilidade (ANLE).

Page 23: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

11

Como exemplos de problemas de instabilidade bifurcacional, têm-se os conhecidos

casos da coluna de Euler e das placas comprimidas axialmente, cujas conclusões principais

se apresentam em seguida.

Coluna de Euler

Considerando a coluna elástica simplesmente apoiada de comprimento l , submetida a

uma carga axial P e onde q é o valor do deslocamento transversal a meia altura (

( )2lwq = ):

Figura 7 – Coluna de Euler. (A) Configuração da trajectória fundamental (B) Configuração na trajectória de pós-encurvadura. (Adaptado de Reis (2000))

A instabilidade desta coluna é o problema mais conhecido de instabilidade e foi o

primeiro a ser estudado (Euler, 1778).

A carga crítica de Euler, no caso da coluna bi-articulada, vale:

2

2

l

EIPE

π= (2.1)

Nesta expressão, I é a inércia (mínimo) da secção, considerada constante ao longo da

coluna, E o módulo de elasticidade e l o comprimento da coluna.

A carga crítica da expressão 2.1 está associada ao modo de instabilidade descrito por:

( )l

xsenqxw

π= (2.2)

O comportamento de instabilidade é semelhante ao apresentado na figura 6, com a

diferença do comportamento na fase de carregamento pré-instabilidade ser linear.

Page 24: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

12

Figura 8 – Comportamento da coluna de Euler (Reis, (2000))

Placa comprimida

As placas axialmente comprimidas são o outro de elementos estruturais que exibem

instabilidade bifurcacional. Ao serem carregadas, inicialmente, sofrem um encurtamento

devido à compressão axial (trajectória carga-deslocamento de pré-encurvadura) e, ao atingir

a carga crítica, subitamente sofrem translações normais ao seu plano médio, passando então

a uma trajectória de pós-encurvadura estável.

Figura 9 – Placa comprimida. Trajectórias de equilíbrio.

À medida que a placa evolui na trajectória de pós-encurvadura, as deformações fazem

surgir tensões de tracção de membrana que aumentam a rigidez da placa. Isto leva a que a

placa resista ao aumento de carga para além da carga crítica.

Como a trajectórias de pós-encurvadura são relativamente inclinadas, em alguns casos a

carga de colapso chega a ser três a quatro vezes superior à carga crítica (desde que a

tensão de cedência do material seja suficientemente elevada).

Considere-se o problema de uma placa rectangular, simplesmente apoiada, com

dimensões axb (Figura 10):

Page 25: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

13

Figura 10 – Placa simplesmente apoiada sujeita a compressão

Saint-Venan, em 1883, estabeleceu a equação diferencial que traduz a superfície

elástica de encurvadura de uma placa comprimida uniaxialmente:

2

2

4

4

22

4

4

44 2

x

w

D

t

y

w

yx

w

x

ww

∂∂

−=∂∂

+∂∂

∂+

∂∂

≡∇σ

(2.3)

onde

=D rigidez da placa ( )23

112 ν−=

Et

=E módulo de elasticidade

=ν Coeficiente de Poisson

( ) =yxw , deslocamento transversal do plano média da placa

=σ Tensão de compressão aplicada

=t espessura da placa

Existem várias resoluções propostas para a equação 2.3, cuja apresentação se

considera fora do âmbito deste trabalho, e que resultam na conhecida fórmula para o cálculo

da tensão crítica de encurvadura da placa:

( )

( )2

2

2

112

−=

b

tEKmn

mn

b νπ

σ (2.4)

com mnK dado por

22

+=

b

a

m

n

a

bmK

mn (2.5)

onde

a - comprimento do bordo longitudinal não carregado da placa.

b - comprimento do bordo transversal carregado.

m - número de semi-comprimentos de onda na instabilidade na direcção longitudinal.

Page 26: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

14

n - número de semi-comprimentos de onda na instabilidade na direcção transversal.

Para se obter a tensão crítica, é necessário determinar a combinação de valores de m e

n que minimiza o valor de b

σ . Verifica-se que, independentemente do valor de m o mínimo

de K se dá para 1=n [Reis e Camotim, (2000)]. Para o caso de placas longas, ou seja

com ba 4> , 4=mK , o que significa que a placa encurva com semi-comprimentos de onda

longitudinais iguais à largura da placa. Assim, para placas longas, vem:

( )

( ) ( )2

2

22

2

2

13112

−=

−=

b

tE

b

tEK

mn

b νπ

νπ

σ (2.6)

Instabilidade por ponto limite ou “snap-through”

Este segundo tipo de instabilidade, com menos relevância para este trabalho, é ilustrado

pelo diagrama carga-deslocamento da Figura 11.

Figura 11 – Comportamento de instabilidade por “Snap-through)

Ao contrário do que sucede no caso da instabilidade bifurcacional, neste caso a estrutura

passa “dinamicamente” para uma configuração de equilíbrio afastada e novamente estável.

Os casos de estruturas que exibem instabilidade por ponto limite que aparecem

habitualmente na literatura são (i) as calotes esféricas e (ii) os arcos abatidos [Reis e

Camotim, (2000), Cook et al. (1989)].

1.2. Estabilidade de barras de parede fina aberta

A resistência última de barras com secção de parede fina aberta é afectada por um

conjunto diverso de fenómenos de instabilidade. Como já se referiu, este tipo de perfis é

Page 27: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

15

particularmente susceptível à ocorrência de fenómenos de instabilidade locais, i.e.,

fenómenos de instabilidade associados à flexão da parede mais susceptível da barra.

A previsão do comportamento geometricamente não linear (de estabilidade) de barras de

parede fina tem de ser feita usando métodos de análise que englobem a influência de cada

um dos fenómenos de instabilidade relevantes.

Os fenómenos de instabilidade global são caracterizados pela deformação do eixo

longitudinal da barra, sendo que as secções transversais que contituem o perfil sofrem

apenas deslocamentos de corpo rígido (de rotação e/ou translação). São exemplos de

fenómenos de instabilidade global a instabilidade de colunas por flexão (“varejamento”) e a

instabilidade de vigas-colunas por flexão-torção (bambeamento)

Os fenómenos de instabilidade local envolvem deformações das paredes da barra,

enquanto o seu eixo longitudinal permanece na configuração indeformada. Distinguem-se

ainda, entre os fenómenos de instabilidade local, a instabilidade associada a (i) apenas aos

deslocamentos de flexão das paredes do perfil e (ii) aos deslocamentos de membrana, ou

seja, que provocam deformações dos bordos longitudinais. Como se verá de seguida, estes

modos de instabilidade correspondem ao Modo Local de Placa e Modo Distorcional,

respectivamente.

A influência de cada tipo de fenómeno de instabilidade no comportamento estrutural de

uma barra de parede fina aberta irá depender da sua geometria (comprimento da barra, tipo

de apoio, características da secção transversal). Além disso, uma determinada barra pode

estar sujeita a apenas uma ou a vários tipos de instabilidade estrutural. Deste modo uma

barra poderá ser classificada [Prola, (2002)] como (i) “barra curta”, quando a instabilidade

ocorrer num modo local; (ii) “barra longa”, quando predominam os fenómenos de

instabilidade global ou (iii) “barra intermédia” quando a instabilidade ocorre com a interacção

entre fenómenos locais e globais. A figura seguinte, obtida com o programa CUFSM, permite

ilustrar este conceito:

Figura 12 – Modos de instabilidade. Barra curta, intermédia e longa.

Page 28: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

16

A elevada esbelteza dos perfis de aço enformados a frio (de parede fina) leva a que os

fenómenos de instabilidade condicionantes ocorram, em geral, em regime elástico. Deste

modo é dada mais importância, para este tipo de perfis, à determinação do valor da tensão

crítica de bifurcação e à identificação do modo de instabilidade respectivo do que ao estudo

do comportamento de pós-encurvadura (que ocorre com grandes deformações).

Na Figura 13 identificam-se os modos de instabilidade que um perfil de parede fina

aberta pode exibir. Considerando como exemplo um perfil em C sujeito a compressão

simples, tem-se (i) modo mocal de placa (MLP), (ii) modo distorcional (MD), (iii) modo global

de flexão-torção (MGFT) e (iv) modo global de flexão (MGF):

Figura 13 – Modos de instabilidade de um perfil em C sujeito a compressão simples

A classificação de cada um destes modos como modo de instabilidade local ou global

varia de autor para autor. É habitual os MLP e MD como modos locais e o MGF e o MGFT

como modos globais. Alguns autores colocam o modo distorcional numa categoria própria,

considerando apenas (i) modo local, (ii) modo distorcional, e (iii) modos globais ou de Euler.

Esta classificação deve-se ao facto de o modo distorcional apresentar algumas

características da instabilidade local e outras da instabilidade global. Uma vez que o eixo da

barra permanece inalterado no modo distorcional, é legítimo considerá-lo como um dos

modos locais. Apresenta-se, de seguida, uma descrição de cada um dos modos de

instabilidade “puros”, e das situações em que são críticos.

Modo local de placa

Neste modo de instabilidade, como se disse atrás, os bordos longitudinais da barra

permanecem indeformados. A deformação da secção, como se pode ver na Figura 13, deve-

se à flexão das paredes internas. As paredes externas, que têm um bordo livre, sofrem

essencialmente deslocamentos de corpo rígido. A instabilidade da barra é condicionada pela

encurvadura da chapa do perfil mais susceptível de instabilizar por flexão (o que também

depende do carregamento, condições de apoio, etc.).

MLP MD MGFT MGF

Page 29: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

17

Em termos simplificados, o comportamento de uma barra “curta”, ou seja, que instabiliza

no modo local de placa, pode ser visto como o problema da estabilidade de uma placa

comprimida cujos bordos longitudinais estão na situação de encastramento elástico.

Para uma barra de secção em C, sujeita a compressão uniforme e cujo elemento

condicionante se considera ser a alma,

Figura 14 – Modelo estrutural para estudar a instabilidade no MLP.

A imagem ilustra o modelo estrutural usado para a previsão (através de expressões

analíticas) da tensão crítica no modo local. Este tipo de aproximação ao estudo da

estabilidade local de perfis, baseada na estabilidade da placa isolada, é designada por

“element approach”.

Como se referiu no caso da estabilidade da placa isolada, quando o comprimento da

placa é (sensivelmente) mais de quatro vezes a sua largura, o modo de instabilidade local

exibe semi-comprimentos de onda longitudinais curtos, da mesma ordem de grandeza da

largura da placa.

Modo distorcional

Figura 15 – Semi-comprimentos de onda no Modo Local de Placa (Reis, 2000)

Page 30: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

18

A instabilidade distorcional é um fenómeno cujo estudo e documentação é ainda

relativamente recente. Os primeiros trabalhos sobre estabilidade distorcional são atribuídos a

Douty (1962), Desmond et. al. (1981), Peköz (1982) e Hanckock (1987). Os estudos,

baseados em modelos analíticos, serviram de base às primeiras regulamentações que

consideram a instabilidade no modo distorcional.

A instabilidade distorcional aparece associada à presença de reforços. Um perfil em U

(secção sem reforços) apresenta, em geral, apenas um modo de instabilidade local – o

modo local de placa. A presença dos reforços de extremidade melhora a “performance” do

elemento estrutural, mas leva à ocorrência deste segundo modo de instabilidade.

Ao contrário daquilo que acontece no MLP, no MD há deformação dos bordos internos

da barra, como mostra a Figura 16:

Figura 16 – Configuração no modo distorcional de um perfil em C com reforços sujeito a (a) compressão uniforme e (b) flexão uniforme.

A secção sofre distorção bem como deslocamentos quase de corpo rígido (no caso das

secções adjacentes aos reforços). O modo distorcional caracteriza-se por apresentar semi-

comprimentos de onda da ordem de cinco a dez vezes superiores aos que ocorrem para o

modo local de placa. Por este motivo, a sua classificação como modo local levanta alguma

discórdia.

Prola (2001), descreve o modo distorcional com a seguinte frase:

“A instabilidade da barra é precipitada pela encurvadura, por torção em torno de um

bordo interno, de uma “sub-barra” (conjunto de chapas) e as restantes chapas exibem, por

compatibilidade, deformação de flexão”.

2. O Método das Faixas Finitas

O Método das Faixas Finitas (MFF) pode ser encarado como uma modificação do

Método dos Elementos Finitos (MEF), adaptada à resolução de problemas em que a

estrutura tenha uma configuração geométrica regular. No caso dos perfis de aço enformados

a frio, a secção transversal mantém-se constante (fruto do processo de fabrico) e, como tal, a

discretização do domínio pode ser feita através de faixas de largura constante e com o

comprimento da barra:

Page 31: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

19

Figura 17 – Discretização do domínio em (a) elementos finitos (b) faixas finitas

O MFF tem a vantagem de ser mais “leve” em termos de esforço computacional, já que o

número de graus de liberdade da estrutura é menor. No entanto, Schafer [Schafer e Ádany,

(2006)] adverte que a qualidade dos resultados das análises baseadas no MFF está

dependente “de uma escolha judiciosa da função de forma que aproxima o campo de

deslocamentos longitudinal”.

O programa CUFSM aplica (i) o Método das Faixas Finitas convencional, também

chamado MFF semi-analítico14 [Prola (2001)] e (ii) O MFF restringido15. A introdução do MFFr

nas versões mais recentes do CUFSM teve como objectivo fornecer uma ferramenta de

decomposição e identificação modal. Os modos de instabilidade identificados através da

aplicação do MFF convencional são normalmente modos mistos, em que intervêm mais do

que um dos modos “puros” de instabilidade (e.g. modo local e modo distorcional). Em alguns

casos, nomeadamente em secção complexas, com múltiplos reforços, a identificação dos

modos de instabilidade é difícil ou mesmo impossível. O MFFr permite identificar os modos

de instabilidade que concorrem na instabilidade de uma determinada barra.

Existem diversas abordagens para a escolha das funções de forma usadas para

aproximar o campo de deformações da faixa finita. Prola(2001), por exemplo, baseou a sua

análise em funções de forma “ 3B - spline” (polinómios de grau cúbico) com vantagens na

redução do número de incógnitas do modelo.

A figura seguinte mostra uma faixa finita e a orientação dos deslocamentos, usada no

CUFSM.

14 “Conventional Finite Strip Method”

15 “Constrained Finite Strip Method” ou MFFr

Page 32: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

20

Figura 18 – Discretização de uma faixa finita. [Schafer e Ádany, (2006)]

O MFF convencional, adoptado por Schafer no CUFSM, usa uma combinação de

funções lineares (na direcção transversal e para os deslocamentos no plano da faixa) e de

funções periódicas.

Apesar das vantagens em relação ao MEF, o MFF tem associadas limitações,

identificadas por Prola (2001) que tornam difícil ou mesmo impossível tratar alguns

problemas, como:

(i) Ocorrência de modos de instabilidade não periódicos, devidos a diferentes

condições de fronteira ou à presença de apoios intermédios.

(ii) Dificuldade em compatibilizar os deslocamentos de membrana e flexão em duas

faixas adjacentes e contidas em planos diferentes, nomeadamente nas situações

associadas ao modo distorcional.

De facto, o CUFSM está limitado à análise de problemas de barras simplesmente

apoiadas e, como foi dito, é apenas aplicável a casos em que a secção se mantém

constante. Ainda assim Schafer (2003) afirma que o MFF é um modo rápido e fácil de obter

soluções de estabilidade de perfis de aço enformados a frio.

Page 33: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

21

CAPÍTULO 3

E S TA B I L A D A D E L O C A L E D I S T O R C I O N A L D E P E R F I S

C O M E R C I A I S

1. Introdução

O conhecimento das tensões críticas de um perfil (bem como das suas características

geométricas e materiais) permite de forma expedita o cálculo da sua resistência à

instabilidade, pelo método da resistência directa (MRD). A existência de valores tabelados

para as referidas tensões em perfis comerciais tem grande utilidade do ponto de vista prático,

facilitando o projecto deste tipo de elementos estruturais.

Neste capítulo determinam-se as tensões críticas nos modos local e distorcional para um

conjunto de perfis correntemente usados na construção de estruturas em aço “leve”. Os

perfis estudados têm secções em “C” (com reforços de extremidade), em “U”, também

chamados de “C sem reforços”, e em “Z” com reforços nas extremidades dos banzos. A

razão para a escolha destas geometrias prende-se com o facto de estes serem os perfis

mais usados em termos estruturais.

Optou-se por usar a terminologia constante da norma Norte-Americana para a

designação das cargas e tensões críticas e das resistencias nominais, sendo que a

designação das características materiais e geométricas coincide com a usada pelo EC3. A

motivação para manter as nomenclaturas originais prende-se com o facto de se tornar mais

fácil distinguir os cálculos baseados no MRD sem criar confusão com o cálculo de resistência

baseado no MLE constante do EC3.

2. Determinação de cargas críticas

O MRD, como implementado no Anexo 1 [AISI, 2004] deixa em aberto o método para a

obtenção das cargas críticas no MLP, MD, e no modo global, sendo os métodos numéricos

os mais adequados para o efeito. Existem numerosos métodos de análise de barras, entre os

quais se destacam o método dos elementos finitos (MEF), a teoria generalizada de vigas

(GBT) e o método das diferenças finitas. Schafer (2003) recomenda o uso do software

CUFSM (apresentado no capítulo 2), que recorre ao MFF e é disponibilizado gratuitamente

em www.ce.jhu.edu/bschafer/cufsm. Este programa foi desenvolvido pelo autor com o apoio

Page 34: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

22

da AISI, com vista ao desenvolvimento da norma de dimensionamento baseada no MRD. No

Anexo 1 encontra-se uma explicação simples do funcionamento deste software (do ponto de

vista do utilizador), com recurso a imagens.

Na determinação de cargas críticas com o referido software, as barras são carregadas

com (i) uma tensão de referência de compressão pura para a determinação das cargas

críticas na compressão ( , , ) ou (ii) um momento de referência para a

determinação dos momentos críticos ( , , ).

A tensão de referência escolhida foi de 1MPa, ou seja, considera-se MPafy

1= . Os

produtores de perfis habitualmente produzem perfis de secções iguais e com aços de

diferentes qualidades (diferentes tensões de cedência). Ao escolher MPafy

1= , os

parâmetros de carga (“Load Factor”) determinados pelo CUFSM vêm na forma:

AP

PFactorLoad

y

cr

=="_" .

Deste modo,

AFactorLoadPcr

×= "_" .

Os resultados são, usando a tensão de referência unitária, independentes da tensão de

cedência. Por outro lado,

cr

y

cr fAP

PFactorLoad =

=="_" ,

o que permite comparar directamente os resultados da análise pelo MFF (expressos em

termos de tensões críticas) com a tensão de cedência do material.

No caso do primeiro modo de instabilidade (o MLP) a carga crítica ocorre para semi-

comprimentos de onda, como já foi abordado, da ordem da largura da chapa que inicia a

encurvadura. Para um perfil em C, por exemplo, isto corresponde a dizer que o semi-

comprimento de onda no MLP será inferior à maior dimensão da secção – no caso da secção

representada na Figura 19, a altura h da alma.

Page 35: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

23

Figura 19 – Secção C

Assim, mínimos na curva tensão crítica – semi-comprimento de onda (como se pode ver

na Figura 20) superiores a h corresponderão (i) ao modo distorcional ou (ii) aos modos

globais. Schafer (2003) refere ainda que, embora as placas isoladas encurvem no modo local

com semi-comprimentos de onda aproximadamente iguais à largura da placa (para placas

longas), para uma chapa constituinte de um perfil, em que os elementos adjacentes

contribuem para o comportamento de instabilidade, os semi-comprimentos de onda no MLP

serão sempre menores do que a largura do elemento e nunca maiores. Pelo exposto, é

necessário ter uma atenção especial quando se escolhem os comprimentos da barra que o

CUFSM irá analisar, refinando a selecção em torno do valor de h, por forma a obter o valor

mínimo do parâmetro de carga associado à instabilidade local de placa.

O modo distorcional ocorre para semi-comprimentos intermédios, entre o MLP e os

modos globais. Tipicamente, o semi-comprimento de onda no modo distorcional é várias

vezes superior à largura da chapa que instabiliza no MLP.

Os modos de encurvadura globais incluem o modo global de flexão (MGF), modo global

de flexão-torção (MGFT) e modo global de torção (MGT). Os modos globais interagem com o

modo distorcional para semi-comprimentos de onda relativamente longos. Torna-se, por isso,

difícil identificar os modos globais em colunas com comprimentos intermédios a longos.

3. Exemplo de identificação dos modos críticos

Como exemplo de identificação e classificação de modos de instabilidade pelo MFF,

considere-se o perfil em C, com dimensões exteriores de 150x70mm (A=634,62mm2),

espessura de 2mm e sujeito a compressão, como indicado na Figura 20.

Page 36: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

24

Figura 20- Exemplo da aplicação do CUFSM

Considerando para a tensão de cedência do aço MPafy

320= (S320GD+Z), da leitura do

gráfico da figura 20, obtém-se:

Modo Local

Semi-comprimento de onda: 119,9mm

Tensão crítica no modo local: MPaFactorLoadfcr

5,191"_" ==l

.

Ou, de forma a tornar claro a relação tensão de instabilidade/tensão de cedência,

y

y

crlf

ff ×=

== 598,0

320

50,191.

Carga Crítica no modo local:

kAPcr

53,12162,6345,1915,191 =×=×=l

Modo Distorcional

Semi-comprimento de onda: 611,7mm

Tensão crítica no modo distorcional: MPaFactorLoadfcrd

78,314"_" == .

Ou, de forma a tornar claro a relação tensão de instabilidade/tensão de cedência,

y

y

crlf

ff ×=

== 984,0

320

50,191.

Carga Crítica no modo distorcional:

kAPcr

77.19962,63478,31478,314 =×=×=l

O procedimento para o cálculo dos momentos críticos é análogo ao descrito anteriormente,

substituindo a área pelo valor do módulo de flexão elástico, y

W .

Page 37: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

25

Contudo, importa também referir que nem sempre é fácil identificar os referidos valores

mínomos nos modos local e distorcional. De seguida apresentam-se alguns casos em que

surgem dificuldades nessa determinação.

Ausência de modo distorcional

No caso de cantoneiras, ou de perfis em U, o perfil exibe apenas um modo local quando

sujeito a um momento flector. Schafer (2003) afirma que se podem encontrar fenómenos de

instabilidade em semi-comprimentos de onda mais curtos, mas apenas em perfis que tenham

reforços ou cuja secção transversal esteja sujeita a uma combinação de esforços de tracção

e momento flector.

Figura 21 – Ausência de MD numa cantoneira (100x100mm, 1mm de espessura)

Modo distorcional indistinguível – Secção C

Embora o modo distorcional possa existir, nem sempre é possível identificar um mínimo

distorcional na curva, como se pode observar na curva representada na Figura 22, referente

a uma secção em C.

Figura 22 – Secção em C com h/b>3. Ausência de modo distorcional.

Page 38: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

26

A ausência de um mínimo para o modo distorcional deve-se à elevada relação h/b. A

elevada altura da alma em relação aos conjuntos banzo-reforço leva a que seja prevalente o

modo local, associado à flexão da alma.

Múltiplos modos locais

O aumento da complexidade da secção (reforços) pode levar ao aparecimento de vários

mínimos, tornando difícil a identificação dos modos de instabilidade relevantes para a

aplicação do MRD. De facto, no caso de uma secção em C com um reforço na alma (ver

Fgura 24) e sujeita a compressão uniforme, a análise pelo MFF apresenta 3 mínimos na

curva das tensões (factores de carga) críticas, como se pode observar na Figura 23.

Figura 23 – Parâmetros de carga para uma secção em C com um reforço na alma.

O primeiro modo identificado corresponde ao “clássico” modo local de placa, associado à

deformação da maior chapa da alma. O segundo mínimo identificado na curva da Figura 23

está associado à deformação dos banzos, envolvendo a rotação dos reforços, como se pode

ver na Figura 24. Este mínimo não corresponde a nenhum dos modos “puros” de

instabilidade.

Figura 24 – Configuração do modo

4. Identificação dos modos local e distorcional nas secções estudadas

Perfis com secção em “C” sem reforços de extremidade

Page 39: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

27

Nestas secções (Figura 25), tal como no caso das cantoneiras, o modo distorcional é

inexistente, já que os banzos estão apoiados apenas numa das suas extremidades. Não há

translação das linhas de união entre elementos, ocorrendo apenas flexão das chapas que

constituem a secção.

Figura 25 – Modos locais de instabilidade de uma secção C sem reforços. a) Compressão b) Flexão

Perfis “C” com reforços de extremidade

Em geral, para perfis em “C” cujos reforços garantam rigidez em relação à translação

dos banzos, são identificáveis os mínimos correspondentes ao modo local e ao modo

distorcional. Na Figura 26 são apresentadas as configurações típicas dos modos de

instabilidade de barras com secção em “C”, sujeitas aos carregamentos usados na análise

das secções.

Figura 26 – Configuração dos Modos de Instabilidade de secções em “C” com reforços. a) Modo Local na Compressão b) Modo Local na Flexão c) Modo Distorcional para Compressão d) Modo Distorcional na Flexão.

Page 40: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

28

Perfis “Z” com reforços de extremidade

Entre os perfis com secção em “Z” estudados, existem perfis cujo reforço é perpendicular ao

banzo e perfis cujo ângulo do reforço em relação ao banzo é inferior a 90º. A configuração

dos modos críticos não se altera significativamente. Na figura seguinte são apresentadas as

configurações nos modos local e distorcional para secções em que o ângulo do reforço em

relação ao banzo é de 90º.

Figura 27 - Configuração dos Modos de Instabilidade de secções em “Z” com reforços. a) Modo Local na Compressão b) Modo Local na Flexão c) Modo Distorcional para Compressão d) Modo Distorcional na Flexão.

5. Discretização das secções

Na análise dos perfis pelo MFF a discretização da secção tem, naturalmente, impacto na

qualidade dos resultados. Por esta razão, optou-se por investigar a sensibilidade dos

resultados fornecidos pelo programa em relação ao número de faixas finitas com que se

discretiza a secção. No Anexo B apresentam-se os resultados da análise de uma secção em

“C”. A partir desses resultados infere-se que o MFF convencional fornece resultados bons

desde que cada elemento da secção seja discretizado com pelo menos duas faixas finitas.

Também no Anexo B são mostradas as discretizações feitas às secções estudadas.

Num perfil enformado a frio os cantos da secção são arredondados, fruto do seu

processo de fabrico, como se pode ver na Figura 28.

Figura 28 – Influência dos cantos arredondados.

B

ri

B'

Page 41: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

29

Fazendo uma discretização ignorando a presença do raio de curvatura dos cantos, o

aumento da largura dos elementos que constituem a secção levaria a que os resultados

obtidos fossem mais conservativos. A Figura 29 mostra a discretização de cada curva

(dobragem) da secção. O espaçamento entre os nós é constante (rotação de 22,5º). Cada

dobra foi descrita com 4 elementos, como se mostra na figura. No caso dos perfis “Z” em que

os reforços fazem ângulos inferiores a 90º com os banzos, a discretização continuou a ser

feita com 4 elementos e com os nós espaçados regularmente.

Figura 29 – Discretização das dobragens na chapa.

Como forma de avaliar a sensibilidade dos resultados do CUFSM em relação à

discretização escolhida, estudou-se uma secção em “C”, começando por se discretizar cada

elemento (cada chapa) da secção com apenas uma faixa finita. De seguida, foi-se duplicando

o número de faixas finitas da secção, por forma a que cada uma das cinco chapas da secção

foi discretizada com 1, 2, 4 e 8 faixas finitas. Para cada uma das discretizações fez-se uma

análise de estabilidade do perfil quando submetido a compressão.

Figura 30 – Discretização de uma secção em “C” em 5, 10, 20 e 40 faixas finitas.

Page 42: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

30

Os resultados das análises encontram-se sumarizados na tabela da Figura 31:

Efectuou-se também um estudo para analisar o efeito da modelação dos cantos dos perfis,

apresentando-se em seguida as discretizações das secções estudadas.

As secções foram discretizadas de forma semelhante no que concerne à descrição

da curva que constitui cada uma das dobras das secções. Os perfis em “C” foram

discretizados com 34 nós e 33 elementos. Os pefis em “Z” foram discretizados com 37 nós

(36 elementos). Os perfis em “U” necessitaram apenas de 16 nós para serem descritos (com

qualidade semelhante à dos perfis “C”).

Número de faixas por elemento

Factores de carga Variação (%)

Modo local (ML) Modo distorcional

(MD)

MLi/MLn MDi/MDn

1 22,50 28,02 +27,5% +3,7%

2 17,84 27,23 +1,1% +0,7%

4 17,66 27,07 +0,1% +0,1%

8 17,64 27,04 0% 0%

n 17,64 27,03

Figura 31– Resultados para as várias discretizações.

Figura 32– Discretização das secções estudadas.

Page 43: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

31

6. Breve apresentação dos perfis comerciais analisados

Foram modelados e analisados perfis comerciais com secção em “C”, em “U” e em “Z”. A

escolha dos perfis a analisar foi feita com base nos seguintes critérios:

(i) Vocação dos perfis para uso estrutural.

(ii) Disponibilidade no mercado nacional.

(iii) Disponibilidade (visibilidade da metalomecânica) nos mercados internacionais.

Com base nestes critérios, os fornecedores escolhidos foram:

Em Portugal:

• Perfisa

• Arcelor (toda a Europa)

Nos EUA a tarefa de encontrar os perfis comerciais de uso corrente é mais fácil já que a

indústria se associou para criar um standard de medidas e materiais para os perfis de aço

enformados a frio para uso na construção. Apesar disso há várias empresas cujos catálogos

de perfis incluem medidas diferentes das do standard. Foram analisados os seguintes perfis:

• Cemco Steel

• SSMA (Steel Stud Manufacturers Association)

Foram ainda analisados perfis de metalomecânicas da América do Sul e Europa:

• Acesco (Colômbia, com distribuução para todas as Américas)

• Skylight (Brasil)

• Sadef (Bélgica)

Os resultados da análise dos perfis com o software CUFSM foram compilados nas

tabelas do Anexo B.

Page 44: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

32

CAPÍTULO 4

M É T O D O D A R E S I S T Ê N C I A D I R E C TA

1. Introdução

Como já foi referido no capítulo 1, o método da resistência directa (MRD), como

implementado pela norma Norte-Americana [AISI, 2004], é um procedimento alternativo ao

da norma geral [AISI, 2001] para determinar a resistência de perfis de aço enformados a frio.

As normas actuais incluem a influência dos modos locais de instabilidade através do

cálculo de secções efectivas. O MRD usa as propriedades da secção completa em conjunto

com curvas de resistência apropriadas para obter, de forma “directa”, isto é, sem recurso ao

conceito de largura efectiva, a resistência de um perfil.

O MRD foi inicialmente aplicado por Hanckock et al. (1994) para a consideração da

instabilidade distorcional em perfis de parede fina sujeitos a compressão e a flexão.

Schafer e Peköz (1999) aplicaram a técnica para a flexão de vigas impedidas de

empenar, considerando os modos de instabilidade local de placa e distorcional.

Schafer (2002) estendeu a aplicação do MRD a colunas bi-rotuladas, considerando o

MLP, MD, e MGFT na degradação da capacidade resistente da barra. Schafer (2006) aponta

as vantagens da aplicação do MRD em comparação com a norma geral. Entre outras, indica:

• Inclusão, de forma explícita, da instabilidade no modo distorcional, o que poderá

contribuir para uma melhor compreensão dos fenómenos que causam a

instabilidade da barra, já que as normas correntes usam um método empírico, o

MLE, para incluir de forma indirecta os efeitos dos modos locais de instabilidade;

• A aplicação do MRD pode ser feita em relação a um vasto conjunto de secções

(forma das secções), enquanto que o MLE é de difícil aplicação a casos de

secções com múltiplos reforços, chegando mesmo a ser impossível de aplicar.

• O MRD, por ser baseado em resultados de uma ALE pelo MFF, inclui a

interacção entre elementos (chapas) do perfil, enquanto que o MLE considera a

secção transversal como um conjunto de chapas isoladas (ainda que as

condições de apoio de cada placa simulem a interacção com os elementos

contíguos).

Page 45: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

33

Existe também, naturalmente, um conjunto de desvantagens na abordagem ao

dimensionamento pelo DSM:

• Apenas é aplicável (até à data) à determinação da resistência de barras sujeitas

a compressão (nP ) e a momento flector (

nM ); Não considera o efeito do esforço

transverso. Nest caso pode recorrer-se à norma geral.

• Não inclui a resistência da alma ao colapso devido à aplicação de forças

concentradas;

• Não inclui a presença de furações nos perfis (recorre-se à norma geral);

• Não considera os efeitos do endurecimento do aço devido ao processo de

dobragem;

• Os coeficientes de segurança e de resistência foram calibrados para um conjunto

relativamente restrito de secções transversais.

Além destas limitações, Schafer (2006) adverte ainda para a possibilidade de, no caso

de uma secção ter uma das chapas muito esbelta (em relação às outras) a resistência do

elemento ser subestimada. O MRD analisa a secção como um todo e, se a chapa mais

esbelta atinge a tensão crítica, o método vai usar essa tensão como a tensão crítica da barra,

embora as restantes chapas possam ainda estar “folgadas”.

Tal com no MLE, as expressões que determinam a resistência da barra (expressões de

interacção entre modos de instabilidade) são empíricas, e baseadas nas mesmas suposições

do MLE, nomeadamente que a resistência é função das cargas críticas e da tensão de

cedência do material.

O MRD foi calibrado por um conjunto vasto de resultados experimentais para colunas

[Schafer, 2000 e 2002] e vigas [Schafer e Peköz, 1999], embora, como foi dito, a diversidade

das secções estudadas seja limitada. O MRD pode ser aplicado a secções para além das

estudadas, embora de forma mais conservativa, através da majoração do coeficiente de

ponderação das acções ou minorando o coeficiente de ponderação das resistências.

O MRD foi implementado como norma de dimensionamento nos EUA através do Anexo1

[AISI, 2004] à norma geral, por Schafer. Schafer (2006b) criou ainda o “Direct Strength

Method Design Guide”, com exemplos de aplicação do método, e esclarecendo o modo de

abordagem a problemas que surgem da análise da barra pelo MFF, como sejam, entre

outros,

• Modo local de placa não identificável;

• Modo distorcional não identificável;

• Múltiplos modos locais;

• Elementos com furações.

Page 46: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

34

2. O MRD aplicado ao cálculo da resistência de colunas

As fórmulas para a obtenção da resistência de colunas de aço enformado a frio pelo

MRD são baseadas nas curvas de resistência para colunas compactas ou com secção

totalmente efectiva usadas pela norma norte-americana AISI (2001). A aplicação dessas

curvas pelo MRD é feita convertendo as tensões para força multiplicando a tensão pela área

da secção (área total da secção), considerando apenas a encurvadura global (neP ), sem

interacção com os modos locais.

Nos códigos de dimensionamento correntes, a resistência de colunas é obtida com base

no MLE, pelo que a resistência da coluna é dada pela multiplicação da tensão pela área da

secção efectiva, considerando desde logo a perda de resistência devido aos fenómenos de

instabilidade locais. No MRD a interacção com os modos locais é feita num segundo passo

após o cálculo de neP (eqs. 4.4 e 4.6).

O MRD utiliza curvas de resistência específicas para o cálculo da resistência no modo

local de placa (cálculo do ln

P ) e modo distorcional (cálculo do ndP ). Estas curvas de

resistência foram calibradas com base num conjunto de secções designadas por pré-

qualificadas (Schafer, 2000, 2002).

As curvas são apresentadas em função das esbeltezas global (cλ ), distorcional (

dλ ) e

local (lλ ).

Figura 33 – Curvas de resistência local e distorcional para uma coluna impedida de

encurvar lateralmente [Schafer, 2003].

A resistência última da coluna é, assim, a menor das resistências calculadas

considerando: (i) apenas a encurvadura global da coluna, (ii) a interacção entre o modo

global e o modo local de placa (ln

P ) e (iii) a interacção entre o modo global e o modo

Page 47: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

35

distorcional (ndP ). Seguidamente apresentam-se as expressões correspondentes às

resistências mencionadas.

Resistência de colunas considerando instabilidade no modo global

O cálculo da resistência nominal de colunas, neP , considerando apenas a encurvadura

nos modos globais de flexão ou flexão-torção, faz-se recorrendo às seguintes expressões

[Schafer, (2002); AISI, (2004)]:

Para 5,1≤cλ

yne PP c

=

2

658,0 λ

(4.1)

Para 5,1>cλ

y

c

ne PP

=

2

877,0

λ (4.2)

creyc PP=λ (4.3)

onde:

cλ - Esbelteza global para compressão simples

yyfAP ×= - Carga de cedência

A - Área da secção

yf - Tensão de cedência do aço

creP - Carga crítica na instabilidade global.

Resistência de colunas considerando interacção entre modo local e global

Cálculo da resistência nominal, nlP , considerando a interacção entre o modo local de

placa e os modos globais, conforme o proposto por Schafer (2002) e adoptado pelo anexo 1

da AISI (2004):

Para 776,0≤lλ

nenlPP =

(4.4)

Para 776,0>lλ

ne

ne

crl

ne

crl

nlP

P

P

P

PP

4,04,0

15,01

−= (4.5)

Page 48: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

36

crlnel PP=λ (4.6)

onde

lλ - Esbelteza local

crlP - Carga crítica de encurvadura no modo local de placa.

Resistência de colunas considerando instabilidade distorcional

O cálculo da resistência de colunas considerando a instabilidade no modo distorcional,

conforme adoptado no anexo 1 do AISI (2004), foi baseado nos dados experimentais (teste

de perfis à compressão) realizados na universidade de Sydney. Neste caso, a resistência da

coluna é limitada pela carga de cedência, yP e não

neP , presumindo que o modo de colapso

por instabilidade distorcional é independente do modo de colapso por instabilidade global.

Para 561,0≤dλ

yndPP = (4.7)

Para 561,0>dλ

y

y

crd

y

crdnd P

P

P

P

PP

4,04,0

25,01

−= (4.8)

crdyd PP=λ (4.9)

Onde

dλ - Esbelteza distorcional

crdP - Carga crítica de instabilidade distorcional.

3. O MRD aplicado ao cálculo da resistência de vigas

A obtenção da resistência nominal de vigas pelo MRD, considerando apenas a

encurvadura por flexão-torção, segue o mesmo procedimento usado na norma AISI (2001),

com a única diferença a residir no facto da resistência deixar de ser expressa em termos de

tensão para passar a ser expressa em termos de momento flector. A conversão de tensão

em momento flector é feita multiplicando a tensão pelo módulo de flexão elástico da secção

transversal (fibra extrema mais comprimida), resultando nas fórmulas para o cálculo de ,

constantes no Anexo 1 da norma AISI [2004], e transcritas seguidamente (eqs. 3.7-3.9).

Page 49: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

37

Figura 34 - Curvas de resistência local e distorcional para uma viga impedida de encurvar lateralmente [Schafer, 2003].

Tal como no caso da coluna, a resistência da viga é dada pelo mínimo das 3 resistências

calculadas: (i) resistência considerando a encurvadura por flexão-torção (instabilidade

global), (ii) resistência considerando a instabilidade global e instabilidade local no MLP, (iii)

resistência considerando a interacção entre os fenómenos de instabilidade globais e a

instabilidade no MD.

Momento flector nominal resistente considerando a instabilidade global

Para ycre

MM 56,0<

creneMM = (4.10)

Para ycrey

MMM 56,078,2 ≥≥

−=

cre

y

yneM

MMM

36

101

9

10 (4.11)

Para ycre

MM 78,2>

yneMM = (4.12)

onde

yeyfWM = - Momento flector de cedência.

eW - Módulo de flexão elástico em torno do eixo relevante;

yf - Tensão de cedência do material;

creM - Momento flector elástico de encurvadura lateral com torção.

Page 50: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

38

Momento flector nominal resistente considerando interacção entre os modos local

de placa e o modo global

Para 776,0≤lλ

nenlMM = (4.13)

Para 776,0>lλ

ne

ne

crl

ne

crlnl

MM

M

M

MM

4,04,0

15,01

−= (4.14)

crlnel MM=λ (4.15)

onde

lλ - esbelteza local na flexão

crlM - momento flector crítico elástico no modo local

Momento flector nominal resistente considerando a instabilidade no modo

distorcional

As expressões para o cálculo de nd

M foram propostas e calibradas por Schafer e Peköz

(1999), com base no trabalho experimental de investigadores da Universidade de Sidney. O

momento resistente é limitado por y

M e não ne

M pelo que o modo de colapso por

encurvadura no modo distorcional se pressupõe independente do modo de colapso global

(MGFT).

Para 673,0≤dλ

yndMM = (4.16)

Para 673,0>dλ

y

y

crd

y

crdnd M

M

M

M

MM

5,05,0

22,01

−= (4.17)

crdyd MM=λ (4.18)

onde

dλ - Esbelteza distorcional.

crdM - Momento flector crítico elástico de encurvadura distorcional.

Page 51: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

39

4. Interacção M-N (viga-coluna)

Como se referiu, o MRD não inclui um método próprio para o cálculo da resistência de

vigas quando submetidas à flexão composta. Para isso, recorre-se às expressões de

interacção da norma geral [AISI, 2001], que se expõem de forma sucinta:

Fórmulas de interacção

0,1≤Ω

yny

ymyb

xnx

xmxb

n

c

M

MC

M

MC

P

P

αα (4.19)

0,10

≤Ω

ny

yb

nx

xb

n

c

M

M

M

M

P

P (4.20)

onde

bcΩΩ , - Coeficientes de ponderação das acções para o caso da compressão e flexão,

respectivamente. Tomam valores menos conservativos nos casos em que a secção se

enquadra no grupo das secções pré-qualificadas.

mymxCC , - “Moment Gradient Factor”, conservativamente pode tomar-se igual à unidade.

yxαα , - Factores de amplificação, dados por

E

c

P

PΩ−=1α .

0nP - Resistência nominal da coluna impedida de encurvar lateralmente (ynePP = ).

Page 52: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

40

5. Exemplo de aplicação

O perfil escolhido para exemplificar a aplicação do Método de Resistência Directa foi

oretirado do catálogo da SSMA16 (SSMA 600S200-43).

Figura 35 – Dimensões e propriedades da secção SSMA 600S200-43.

5.1 Cálculo da resistência teórica da coluna

Aplicou-se uma tensão de compressão de referência de 1MPa à secção, os resultados

da análise pelo CUFSM apresentam-se na Figura 32:

Figura 36 – Resultados CUFSM: Perfil SSMA 600S200-43 sujeito a compressão.

Através do CUFSM obtiveram-se as cargas críticas nos modos relevantes, como se

apresenta de seguida:

281.316 mmA = GpaE 203= 482,1108530 mmI

x= 3,0=ν

458,111374 mmI y = MPaksify

2,37955 ≈=

69,138=J kfAPyy

138,120=×=

66,524575206=wC kM

y57,5=

Page 53: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

41

Modo local:

mmLlocalcr

6,114_ = APy

8092,3161' =×=

kfAPyy

138,120=×= 67,60'=

y

crl

P

P

kPP

Pcrl

y

crl 22,1967,60'

=⇒=

Modo distorcional:

mmLdistcr

1,546_ =

15.147'=

y

crd

P

P

kPP

Pcrd

y

crd 618,4615.147'

=⇒=

Modo global (para um comprimento da barra de 2,0 metros):

mmL 2000=

kPP

Pcre

y

cre 32,6179,161'

=⇒=

A escolha do coeficiente de segurança, c

Ω , e do coeficiente de resistência, c

Φ , são

função da geometria da secção em estudo. Caso as características da secção se enquadrem

nos parâmetros definidos no anexo 1 da norma Norte-Americana [AISI, (2004)], podem ser

escolhidos os coeficientes menos conservativos.

Figura 37 – AISI, 2004: Parâmetros de escolha dos coeficientes para uma secção sujeita a

compressão simples.

Page 54: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

42

133146,11520 ≈=th O perfil enquadra-se no grupo dos perfis

44146,18,500 ≈=tb pré-qualificados. Assim, 80,1=Ωc

e

14146,19,15 ≈=tD 85,0=Φc

.

38,5015200 ≈=bh 3,08,509,150 ≈=bD

º90=θ

53521,379230000 ≈=yfE

Encurvadura por flexão, torção ou flexão-torção

kf

PP

y

ycre 26,5179,161 =×=

531,126,5114,120 === creyc PPλ 5,1>cλ

kPne

01,4514,120531,1

877,02

=⋅

= ( Eq. 4.2)

Encurvadura no Modo Local

530.122,1901,45 ==lλ

776,0>lλ

01,4501,45

22,19

01,45

22,1915,01

4,04,0

−=

lnP (Eq. 4.5)

kPn

61,28=l

Encurvadura no Modo Distorcional

605,162,4614,120 ==dλ (Eq. 3.9)

561,0>dλ

14,12014,120

62,46

14,120

62,4625,01

6,06,0

−=ndP (Eq. 4.8)

kPnd

43,58=

Page 55: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

43

Resistência nominal da coluna

43,58;61,28;01,45min=nP

kPn

61,28=

ASD

kP

c

n 89,1580,1

61,28==

Ω

LRFD

kPnc

32,24=⋅φ

5.2 Cálculo da resistência nominal da viga

Os resultados da análise da secção sujeita a um momento flector em torno do eixo de

maior inércia da secção são mostrados na Figura 34.

Figura 38 - Resultados CUFSM: Perfil SSMA 600S200-43 sujeito a flexão sobre o eixo

de maior inércia.

Modo local

mmLcr

5,85=l

kmMM

Mcr

y

cr 72,422,321'

=⇒=l

l

Page 56: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

44

y

y

yf

MM ='

Modo distorcional

mmLcrd

1,546=

kmMM

Mcrd

y

crd 25,513,357'

=⇒=

Modo global (L=2000mm)

kmMM

Mcre

y

cre 81,351,261'

=⇒=

kMy

57,5=

Figura 39 - AISI, 2004: Parâmetros de escolha dos coeficientes para uma secção em C

sujeita a flexão.

133146,11520 ≈=th O perfil enquadra-se no grupo dos perfis

44146,18,500 ≈=tb pré qualificados. Assim, 67,1=Ω

b e

14146,19,15 ≈=tD 90,0=Φb

.

38,5015200 ≈=bh 3,08,509,150 ≈=bD

º90=θ

53521,379230000 ≈=yfE

Page 57: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

45

Encurvadura por flexão-torção

68,057,5

81,3==

y

cre

M

M

ycreyMMM 56,078,2 >≥

××

−⋅=81,336

57,510157,5

9

10ne

M

kmMne

68,3=

Encurvadura no modo local

883,072,468,3 ==lλ

776,0>lλ

68,368,3

72,4

68,3

72,415,01

4,04,0

−=

lnM

kmMn

39,3=l

Encurvadura no modo distorcional

03,125,557,5 ==dλ

673,0>dλ

57,557,5

25,5

57,5

25,522,01

5,05,0

−=ndM

kmMnd

25,4=

Resistência nominal de flexão

25,4;39,3;68,3min=n

M

kmMn

39,3=

ASD

Page 58: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

46

kmM

b

n 03,267,1

39,3==

Ω

LRFD

kmMnb

051,339,39,0 =×=⋅φ

5.3 Flexão composta

Como foi abordado anteriormente, o MRD considerado na norma AISI não inclui um

método próprio para a abordagem do caso da flexão composta. Para calcular a resistência

da peça são usadas as fórmulas de interacção constantes da norma geral [AISI (2001)].

Das alíneas anteriores, vem:

kPn

61,28= kmMn

39,3=

80,1=Ωc

67,1=Ωb

Para a aplicação das equações de interacção (Eq. 3.19 e 3.20) é necessário calcular a

capacidade resistente da coluna impedida de instabilizar no modo global16, 0nP . O valor de

0nP é obtido pelo mesmo processo usado no ponto 5.1, mas considerando ynePP = .

Cálculo de 0nP :

Encurvadura no modo local de placa

5,222,1914,120 ====ll cryne PPPλ

776,0>lλ

14,12014,120

22,19

14,120

22,1915,01

4,04,0

0 ⋅

−=

lnP

kmPn

56,530 =l

Encurvadura no modo distorcional

16 “Fully Braced”

Page 59: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

47

605,1=d

λ (como anteriormente)

kPPndnd

43,580 ==

Resistência nominal “fully braced”

kPPPPPndnynen

56,53;;min 000 ===l

Consideração dos efeitos de 2ª ordem

1=mC (“moment gradient factor”)

kPPcreE

26,51==

8244,026,51

58,111 =

×−=

Ω−=

E

c

P

Pα (“amplification factor”)

Equações de interacção

Considere-se como cargas solicitantes * = 1,0+0D e = 5+0. A verificação da coluna-

viga faz-se através das equações de interacção (eqs. 3.19 e 3.20) seguintes:

0,1≤Ω

yny

ymyb

xnx

xmxb

n

c

M

MC

M

MC

P

P

αα

0,1908,008244,039,3

0,1167,1

6,28

58,1<=+

×

××+

×

0,10

≤Ω

ny

yb

nx

xb

n

c

M

M

M

M

P

P

0,1661,0039,3

0,167,1

56,53

58,1≤=+

×+

×

6 Programação em Matlab da aplicação do MRD

Como se viu, a aplicação do Anexo 1 da “North American Specification for the Design of

Cold-Formed Steel Structural Members” é bastante simples comparativamente aos métodos

habituais baseados no cálculo de secções efectivas. Obtidas as cargas críticas nos modos

de instabilidade, a obtenção da resistência nominal de um perfil é directa, bastando para isso

aplicar as expressões do MRD.

Page 60: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

48

Uma vez que o programa CUFSM fornece os valores das cargas críticas nos modos de

instabilidade, optou-se por acrescentar ao programa a funcionalidade de aplicar o MRD,

usando a mesma interface, e tornando ainda mais expedita a aplicação deste método.

Para além disso, foram também incluídas as expressões de interacção P-M incluídas na

norma da AISI (eqs 3.19 e 3.20).

A aplicação do MRD foi criada com base na versão não compilada do CUFSM 3.12,

editável em Matlab. O utilizador apenas tem de definir a secção, a tensão de cedência e o

comprimento da barra. Esta aplicação tem várias limitações (por questões de tempo), entre

elas:

• Apenas se pode aplicar a secções que apresentem ambos os modos de

encurvadura locais (modo local e modo distorcional);

• A aplicação identifica como parâmetro de carga no modo local o primeiro mínimo

da curva e como parâmetro crítico no modo distorcional o segundo mínimo da

curva. Deste modo, qualquer secção que (i) tenha apenas mínimo local ou (ii)

tenha mais do que dois mínimos não poderá ser usada;

• As condições de apoio da barra são apenas as de simplesmente apoiada em

ambas as extremidades;

• Apenas se faz a análise para compressão e flexão em torno do eixo de maior

inércia, excluindo a flexão em torno do eixo de menor inércia;

No MRD [AISI, 2004], chama-se a atenção que a carga crítica no modo global nunca

pode ser superior a qualquer das cargas críticas dos modos locais. Para barras curtas e

intermédias, a leitura directa do parâmetro de carga no modo global leva a que

(normalmente) a carga crítica global seja superior às locais. Tal como prescrito no MRD,

nestes casos deve-se igualar a carga crítica do modo global à menor das cargas dos modos

locais.

No Anexo 3 inclui-se uma explicação da utilização desta aplicação desenvolvida,

descrevendo-se seguidamente a sua aplicação a uma secção em C (Figuras 36, 37, 38 e

39).

Page 61: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

49

Figura 40 – Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 1/4.

Page 62: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

50

Figura 41 Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 2/4.

Page 63: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

51

Figura 42 Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 3/4.

Page 64: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

52

Figura 43 - Aplicação do MRD a uma secção em “C” – Página 4/4.

Page 65: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

53

CAPÍTULO 5

C O M PA R A Ç Ã O E N T R E O M R D E O E C 3

1. Introdução

Como se viu, o dimensionamento de perfis de aço enformados a frio, dada a sua

elevada esbelteza, obriga à consideração dos fenómenos de encurvadura local (MLP e MD)

para além dos fenómenos de encurvadura global. Esta complexidade acrescida, em

particular no que toca à previsão do modo distorcional, levou à criação da parte 1-3 do EC3,

a qual fornece os procedimentos para o dimensionamento de perfis de aço enformados a frio.

O dimensionamento de perfis pelo EC3, considerando a parte 1-3, continua a ser

baseado no Método da Larguras Efectivas. Nesta parte do Eurocódigo esclarece-se o

processo de cálculo de larguras efectivas em perfis cuja secção contém dobras e vincos

como reforços (longitudinais) bem como as reduções nas áreas efectivas para ter em

consideração a instabilidade no modo distorcional.

Efeitos da enformagem a frio

No Capítulo 3 referiu-se, entre as limitações do MRD, a não consideração do

endurecimento do aço devido ao processo de enformagem a frio. Nas zonas em que a chapa

de aço é dobrada, a tensão resistente última e a tensão de cedência do aço são

aumentadas, reduzindo-se contudo a sua ductilidade. O EC3 parte 1-3 permite considerar o

aumento da tensão de cedência de acordo com a cláusula 3.2.2. É definida uma tensão de

cedência média (yaf ), a qual pode ser determinada experimentalmente ou analiticamente

através da expressão:

( )ybu

g

ybya ffA

kntff −+=

2

, mas onde ( )

2ybu

ya

fff

+≤ (5.1)

onde

t - espessura da chapa de aço antes da enformagem

gA - área (bruta) da secção transversal

k - coeficiente que depende do tipo de enformagem n - número de dobras da secção transversal

Page 66: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

54

A resistência da secção pode ser calculada com base na tensão de cedência média

apenas nos casos em que a secção é totalmente efectiva, devendo usar-se a tensão de

cedência nominal nos restantes casos. Ao contrário do que acontece na análise de uma

secção pelo MRD, no EC3 não se considera a secção como uma chapa contínua. Considera-

se o elemento constituído por um conjunto de placas individuais, com condições de apoio

adequadas. O comportamento da secção é, assim, determinado pelo comportamento

individual de cada uma das placas.

Medição das dimensões dos elementos que constituem a secção

No ponto 5 da parte 1-3 esclarece-se o modo de medir as larguras dos elementos

que constituem a secção, levando em consideração a presença dos cantos arredondados. O

EC3 permite ignorar a presença do raio de curvatura das dobras, nos casos em que tr 5≤ e

pbr 10,0≤ .

A largura de um elemento deve ser medida nos pontos médios da secção, como se explica

numa ilustração da parte 1-3 do Eurocódigo e que se apresenta parcialmente na Figura 43:

Figura 44 – Medição de larguras de elementos

São ainda apresentadas expressões que permitem modificar as propriedades da

secção quando estas forem calculadas com base na secção equivalente com cantos rectos,

de modo a ter em consideração as características da secção real. As secções às quais o

EC3 pode ser aplicado directamente têm de cumprir os requisitos geométricos da tabela 5.1

da parte 1-3. Quando uma secção não cumpre esses requisitos, a aplicação desta parte do

EC3 fica dependente de estudos experimentais ou analíticos que justifiquem a aplicabilidade

do referido Eurocódigo.

A análise da encurvadura local de secções pelo EC3 é baseada na expressão 2.4

apresentada no capítulo 2 para o cálculo da tensão de encurvadura de uma placa axialmente

comprimida:

Page 67: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

55

( )

−=

ip

crb

tEK

,2

2

112 υπ

σ σ (5.2)

onde

σK - Coeficiente de encurvadura da placa

υ - Coeficiente de Poisson

ipb , - Largura da placa i

O valor de σK é obtido (i) das tabelas 4.1 e 4.2 do EC3 1-5 para os banzos e almas da

secção e (ii) através de expressões próprias da parte 1-3 para o caso dos reforços. A

tipologia de reforços que o EC3 1-3 considera é apresentada na Figura 44:

Figura 45 – Tipos de reforços considerados pelo EC3 parte 1-3.

Quando um banzo exterior é reforçado com um reforço simples (Figura 41 (a)), o coeficiente

de encurvadura é dado por (EC3 1-3 5.5.3.2):

5,0=σK , caso 35.0, ≤pcpbb

(5.3)

( )3 2

, 35.0/83,05,0 −×+=pcpbbKσ , caso 6,0/35,0 , ≤<

pcpbb

onde

cpb , - Largura do reforço

Page 68: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

56

pb - Largura do banzo

No caso de reforço ser duplo, o coeficiente de encurvadura é calculado considerando

(i) o primeiro reforço como um elemento apoiado em ambas as extremidades e (ii) o segundo

reforço como um elemento de extremidade, não se recorrendo assim às expressões 5.3 para

o cálculo de σK .

Tensão elástica de encurvadura distorcional

O cálculo da tensão elástica de encurvadura distorcional é feito pelo EC3 com base

na encurvadura por flexão do reforço. Na tabela 5.2 da parte 1-3 são apresentados os

modelos estruturais usados para descrever o comportamento das diversas secções na

instabilidade distorcional.

Figura 46 – Modelos estruturais para secções em C e Z.

A tensão de encurvadura distorcional do reforço é dada por:

s

s

scrA

KEI2, =σ (5.4)

onde

Page 69: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

57

sI - Momento de inércia efectivo do reforço, calculado com base na sua área

efectiva e relativamente a um eixo que passe no seu centro de gravidade.

K - Rigidez da mola por unidade de comprimento (Figura 45)

sA - Área efectiva do reforço.

O EC3 apresenta expressões para o cálculo da rigidez da mola para os casos de secções

em C e Z:

( )fww khbbbhb

EtK

2131

21

2

3

15,0

1

14 ++−=

υ (5.5)

onde

0=fk , caso o segundo banzo esteja tracionado.

1

2

eff

eff

fA

Ak = quando o segundo banzo também está a sofrer compressão.

1=fk no caso de uma secção simétrica sujeita a compressão.

wh - altura da alma.

1b - distância medida entre o ponto de junção alma-banzo e o ponto do centro de gravidade

da área efectiva do reforço, incluindo a área efectiva do banzo que se considera integrante

do reforço.

2b - distância medida entre o ponto de junção alma-banzo e o ponto do centro de gravidade

da área efectiva do reforço, incluindo a área efectiva do banzo que se considera integrante

do reforço do segundo banzo.

Para o caso de um reforço intermédio é apresentada uma expressão para o cálculo

da rigidez da mola, onde se considerou 1,θC e 2,θC iguais a zero (despreza-se,

conservativamente, a restrição à rotação fornecida pelos banzos). Obtém-se a expressão:

( )( )

22

21

212

3 3

112 bb

bbEtK

+−

(5.6)

Page 70: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

58

Nos restantes casos, o cálculo da rigidez fica a cargo do utilizador. No caso de um

elemento que contenha um reforço de extremidade e também um reforço intermédio, o EC3

permite que se ignore a presença do reforço intermédio por forma a ser possível usar a

expressão 5.5 para o cálculo da rigidez. Uma vez calculada a tensão crítica elástica de

encurvadura distorcional (inicial), calcula-se o factor de redução da resistência à encurvadura

distorcional, d

χ , dado por:

0,1=dχ caso 65,0≤

(5.7)

ddλχ 723,047,1 −= caso 38,165,0 <≤

d

d λχ

66,0= caso 38,1≤

e onde dλ é dado por

crsybd f σλ /= (5.8)

Nos casos em que 0,1<dχ o coeficiente de redução da área do reforço pode ser refinado

iterativamente. O cálculo das larguras efectivas dos elementos planos (que não sejam

reforços) continua a ser feito pelo mesmo processo usado para as secções de aço de classe

4, nomeadamente com recurso às tabelas 4.1 e 4.2 do EC3 1-5.

As propriedades efectivas de uma secção transversal são calculadas a partir das larguras

efectivas de cada elemento que constitui a secção. No caso dos reforços, a espessura do

reforço efectivo corresponde à espessura reduzida, como se viu.

2. Dimensionamento e verificação da segurança de acordo com o EC3

A análise da segurança em relação aos estados limites últimos de estabilidade de perfis de

aço enformados a frio é feita, pelo EC3, usando a mesma metodologia adaptada para perfis

convencionais. Algumas diferenças prendem-se com a escolha das curvas de encurvadura e

o cuidado de verificar a instabilidade devida à torção, já que em algumas secções de parede

fina aberta, esta pode ser condicionante. Seguidamente apresentam fluxogramas que

descrevem a verificação da estabilidade pelo EC3, baseados nos diagramas propostos por

Gervásio et al. (2005):

Page 71: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

59

Resistência à encurvadura (EC3)

Diagrama 1

Estabilidade de colunas

Diagrama 2

Estabilidade de vigas

Diagrama 3

Estabilidade da viga-coluna

Figura 47 – Fluxograma de verificação da segurança ao ELU de estabilidade

Page 72: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

60

Estabilidade de colunas

= FG$ ⁄

Esbelteza de encurvadura por flexão Esbelteza de encurvadura por torção/flexão-torção

Força crítica elástica de encurvadura por torção

0,9 = 1( IJ)1 + F$)')9 L Força crítica elástica de encurvadura por torção/flexão

0,9M = 0,2O P1 + 0,90, − RI1 − 0,90,L + 4 T6( U 0,90,V

? 9 = R0

0 = 0,9M 0 ≤ 0,9

Com

? = .,(X ⁄ ?# = .,#(#

X ⁄

Relativamente a y Relativamente a z

? = D5Y?, ?#Z

Selecção da curva de encurvadura

Factores de imperfeição

Φ = 0,5\1 + Y? − 0,2Z + ?] : = I 1Φ + XΦ − ?L : = min (:; :#;1,0)

0,/ = :<e

Verificação 0f ≤ 0,/

Figura 48 – Fluxograma para a verificação da segurança de colunas (elementos sujeitos a compressão)

Page 73: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

61

Encurvadura lateral/torção de elementos sujeitos à flexão

Momento resistente ,/ = /<e

Momento crítico elástico de encurvadura lateral/torção

= F$)#(+.) hRiT+#+'U )')# + (+.)J)1F$)# + Y7j − k7lZm − \7j − k7l]n

? 89 = R,/

Φ89 = 0,5\1 + Y?89 − 0,4Z + 0,75?89 ]

:89 = D(pqr 1

Φ89 + GΦ89 − 0,75?89 ; 1,0; 1?89 st

,/ = :89<e Verificação

Considerando a distribuição de momentos entre apoios adjacentes

:89,u = :89

= D(p vT1 − 0,5(1 − +) w1 − 2Y?89 − 0,8ZyU ; 1,0z

f ≤ ,/

A parte1-3 permite que se escolha a curva a ou b

Figura 49 – Fluxograma para a verificação da segurança de vigas (elementos submetidos flexão)

Page 74: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

62

3. Exemplo de aplicação: perfil SSMA 600S200-43 sujeito a compressão

simples

Flexão e compressão axial

Força resistente à encurvadura por flexão

0,/

Momento resistente à flexão ,/

Verificação

I 0f0,/L, + I f,/L, ≤ 1,0

Diagrama 1

Diagrama 2

Fórmulas interacção parte 1-1

Expressão simplificada EC3 1-3

0f:0/|<e+ + ,f + Δ,f:89 ,/|<e

+ +# #,f + Δ#,f#,/|<e≤ 1

0f:#0/|<e+ +# ,f + Δ,f:89 ,/|<e

+ +## #,f + Δ#,f#,/|<e≤ 1

Coeficientes obtidos a partir dos anexos A ou B do EC3 1-1

Figura 50 - Diagrama para a verificação da segurança de viga-coluna (elementos submetidos a combinação de compressão e flexão)

)' = 524575206,66DD )1 = 13 3k = 1358528,17DD

= 55+( ≈ 379,21 = × = 120,14+0 = × = 5,57+0

= 316,81DD $ = 210J )* = 1108530,82DD = 0,3 ) = 111374,58DD = G k, = 0,9174

Figura 51 – Secção SSMA 600S200-43: definição e propriedades

Page 75: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

63

Larguras dos elementos tendo em consideração os cantos arredondados (EC3 1-3)

a = t 2 + (r + t)Y1 − cos(45)Z = 1,27mm b, = 15,9 − 1,27 = 14,63mm

b, = 152 − 2 × 1,27 = 149,26mm b = 50,8 − 2 × 1,27 = 48,26mm

Limites geométricos para a aplicação do EC3 (tabela 5.1 da parte 1-3)

b t ≤ 60 50,8 1,146 = 44,32 < 60

c t ≤ 50 15,9 1,146 = 13,87 < 50

Dimensão dos reforços 0,2 ≤ c b ≤ 0,6

0,2 ≤ 0,313 ≤ 0,6

3.1 Determinação da secção efectiva (para compressão)

Na determinação de secções efectivas com reforços, pela metodologia da parte 1-3 do

Eurocódigo, começa-se por usar o método constante da parte 1-5 (secções de classe 4) para

calcular a secções efectivas nos banzos e na alma.

Secção efectiva dos banzos

Dada a simetria da secção, e sabendo que se trata de compressão uniforme, a secção

efectiva vai ser igual em ambos os banzos.

b = 48,26mm

Compressão uniforme: Ψ = 1,0 . Elemento apoiado em ambas as extremidades: K = 4,0

bp,c

bp

bp,w

Figura 52 – Dimensões dos elementos pelo EC3

Page 76: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

64

λ = b t28,4εXK = 0,8082

λ > 0,673 @ = ¡¢£¤,(k¥¦)¡¢£§ = 0,9001

b¨©© = ρ × b = 43,44mm b¨,b¨, = b¨©© 2⁄ = 21,72mm

Na Figura 50 (a) mostra-se a secção efectiva dos banzos.

Secção efectiva da alma

b, = 149,26mm

Compressão uniforme: Ψ = 1,0 . Elemento apoiado em ambas as extremidades: K = 4,0

λ = b t28,4εXK = 2,499

λ > 0,673 ρ = ¡¢£¤,(k¥¦)¡¢£§ = 0,365

b¨©© = ρ × b = 54,48mm b¨,b¨, = b¨©© 2⁄ = 27,24mm

Na Figura 53 (b) mostra-se a secção efectiva para os banzos e alma da secção.

Cálculo da secção efectiva do reforço (EC3 parte 1-3)

De acordo com o EC3 1-3 considera-se como reforço a secção do reforço propriamente

dito, somando-se também a largura efectiva b¨ a ele adjacente.

Numa primeira abordagem, calcula-se a secção efectiva do elemento saliente do reforço.

O cálculo de -, é feito com recurso a expressões constantes da parte 1-3, que diferem das

habitualmente usadas no cálculo de secções efectivas (pela parte 1-5). , « = 0,303 < 0,35 -, = 0,5

? = 328,4X-, = 0,693

Pelo EC3 1-5, para elementos salientes,

λ ≤ 0,748 ρ = 1,0

Page 77: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

65

Pelo que o reforço (elemento saliente do reforço) é totalmente efectivo.

Cálculo do factor de redução do reforço para encurvadura distorcional

Área do reforço A­ = Yb¨ + b¨©©,­Zt = 41,66mm

Inércia do reforço

Cálculo da tensão crítica de instabilidade distorcional do reforço (EC3 1-3)

A tensão crítica é dada por (Eq. 5.4)

s

s

scrA

KEI2, =σ

Com K dado pela equação 5.5:

( ) MPakhbbbhb

EtK

fww

18465,05,0

1

14 2131

21

2

3

1 =++−

com b = b = 42,05mm h = 149,26mm k© = 1,0

MPaA

KEI

s

s

scr 54,2902

, ==σ

be2

bp,c

CG1

CG

CG2

Figura 53 – Coordenadas do centro de gravidade do reforço

CG = (38,67;151,43) [mm] CG = (50,23;143,42) [mm] CG­ = (43,32;148,21) [mm] Δ´ = 3,22mm Δ´ = 4,79mm

I­ = I + A × ∆´ + I + A × ∆´

(I­¨·â¹º»¼½ = ¾¿À )I­ = 944,53mm

Page 78: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

66

Factor de redução da espessura do reforço (EC3 1-3)

λÁ = R fþσ­,Å = 0.908

0,65 < λÁ < 1,38 χÁ = 1,47 − 0,723λÁ = 0,980

Espessura reduzida do reforço

AÅ,­¨Á = χÁAÅ fþ γM⁄σ½Ê,ËÁ

Onde σ½Ê,ËÁ é a tensão aplicada na linha que passa no CG da secção efectiva do

reforço. Neste caso é igual a fþ. AÅ,­¨Á = 31,71mm

A espessura reduzida do reforço é

t­¨Á = tAÅ,­¨ÁAÅ = 0,872mm

Figura 54 – Secção efectiva da secção à compressão.

be2,w

be1,w

be1 be2be1 be2

be2,w

be1,w

be1 be2

Page 79: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

67

N,ÍÁ = A¨©© fÃγÎ = 36,15kN

3.2 Análise da estabilidade do perfil à compressão (Cálculo de ,)

A análise da estabilidade de uma barra sujeita a compressão é feita pelo EC3 parte

1-1, sendo que na parte 1-3 são indicadas expressões que permitem calcular analiticamente

as cargas críticas associadas aos modos de instabilidade (i) por torção e (ii) por flexão-

torção.

Escolha da curva de encurvadura

Na tabela 6.3 da parte 1-3, escolhe-se a curva de encurvadura apropriada. No caso

de uma secção em “C”, trata-se da curva b, para encurvadura em torno de ambos os eixos x

e y. Deste modo, α = 0,34.

Encurvadura por flexão

λ = L­i GA¨©©Aλ¼

λ¼ = πREfà = 93,8ε = 86,144

ià = RIÃA = 59,15

i´ = RIA = 18,74

Encurvadura em torno do eixo y

λâ = L­,ÃiÃGA¨©©Aλ¼ = 0,251

N­,Ã = πEIÃL­,Ã = 574,32kN

Encurvadura em torno de z

λ¢ = L­,´i´GA¨©©Aλ¼ = 0,783

Page 80: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

68

N­,´ = πEIôL­,´ = 57,69 kN

Uma vez que o coeficiente α é igual em ambas as direcções, a encurvadura por

flexão em torno de z (eixo de menor inércia) é condicionante para o caso da encurvadura por

flexão (global) da barra.

Carga crítica de encurvadura por torção

Na parte 1-3, indica-se que a verificação da encurvadura por torção deve ser

verificada para secções que não sejam simétricas ou que tenham apenas um “ponto” de

simetria (o caso de algumas secções em “Z”). A título exemplificativo, faz-se o cálculo de N­,Ó para a secção “C” em estudo.

N­,Ó = 1i IGI· + πEIlÓ L

N­,Ó = 26552kN

i = ià + i + y + z = 4021,13mm

Carga crítica de flexão-torção

N­,Ó× = N­,Ã2β P1 + N­,ÓN­,Ã − RI1 − N­,ÓN­,Ã L + 4 Tyi U N­,ÓN­,Ã V

N­,Ó× = 572,787kN

onde

β = 1 − wÃÙÚÙ y = 0,879

A carga crítica de instabilidade por torção ou flexão-torção é o mínimo entre N­,Ó e N­,Ó×. N­ = 572,79 kN

Por comparação com os valores de N­,Ã e N­,Ã, e sabendo que o factor de imperfeição α é

igual para a encurvadura por flexão em torno de ambos os eixos e para a encurvadura por

flexão-torção, conclui-se que a resistência da barra comprimida é condicionada pela

encurvadura por flexão em torno do eixo de menor inércia (z)

Page 81: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

69

Encurvadura global em torno de z (EC3 1-1)

Φ = 0,5 v1 + αYλ¢ − 0,2Z + λ´z = 0,906

χ = I 1Φ + XΦ − λL = 0,734

N¾,ÍÁ = χA¨©©fÃγÎ = 26,57kN

O valor obtido para a resistência da coluna está muito próximo da resistência

nominal obtida (para o mesmo perfil) através do dimensionamento pelo MRD, que foi de

28,61kN.

Page 82: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

70

4. Utilização do programa Coldform para o dimensionamento de perfis de aço

enformados a frio

O programa Coldform foi criado na Universidade de Nápoles no final da década de

80 do século XX. Foi concebido para fazer a comparação entre a aplicação das normas

Italiana, Europeia (parte 1-3 do EC3) e Norte-Americana. A versão usada, de 2001, permite

efectuar o cálculo da resistência de secções em aço pelo EC3 1-3 e pela norma AISI, (2001).

Além disso o programa permite também a aplicação do Eurocódigo 9 para perfis de alumínio.

A aplicação que o software Coldform faz do EC3 é baseada na versão de 1996, pelo

que apresenta algumas diferenças em relação à versão mais recente deste Eurocódigo,

nomeadamente no que diz respeito às expressões para o cálculo do factor de redução @

(diferentes das actualmente presentes no EC3 1-5).

No que concerne ao cálculo da resistência à encurvadura, a metodologia é igual à

actualmente em vigor para o caso da compressão axial. No entanto, quando há uma

excentricidade entre o centro de gravidade da secção bruta e o centro de gravidade da

secção efectiva, o EC3 indica que se deve fazer a verificação da resistência à encurvadura

da secção para a combinação de compressão e do momento flector devido à excentricidade

de aplicação da carga na secção efectiva. O Coldform, apesar de indicar a necessidade de

fazer essa consideração, não efectua o cálculo. Outra diferença prende-se com a verificação

da estabilidade de vigas. O software calcula a resistência de secções sujeitas a momentos

flectores, mas no entanto não faz o cálculo da resistência da viga à encurvadura.

A verificação de elementos sujeitos a uma combinação de esforço normal e

momento flector é feita no Coldform através de uma expressão onde consta a resistência da

secção à flexão, sem o cálculo da resistência à encurvadura, como acontece com a versão

actual do EC3 (expressões de interacção da Figura 42).

No anexo 4 é fornecida uma explicação do modo de funcionamento do software Coldform.

Como forma de comparar o desempenho do MRD com o Eurocódigo 3, foi realizado um

estudo paramétrico para uma secção em “C”, fazendo variar a espessura entre 0,4 e 4,6mm.

Considerou-se (i) a tensão de cedência do aço de 280 MPa e (ii) o elemento simplesmente

apoiado em ambas as extremidades e com um comprimento livre de 4,0m. Na Figura 54

mostram-se as dimensões da secção estudada.

Page 83: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

71

Figura 55 – Secção em C usada no estudo paramétrico

Considerou-se apenas o caso da encurvadura da coluna, uma vez que o software

Coldform não calcula a resistência à encurvadura de vigas. As diferenças no cálculo de

secções efectivas em relação à versão mais recente do EC3 são pequenas, pelo que se

considerou apropriado fazer uma comparação de resultados com o método da resistência

directa usando os valores obtidos pelo Coldform.

No caso da aplicação do EC3 considerou-se o coeficiente <e = 1,0. O gráfico da

Figura 55 compara a relação entre a resistência última da viga () com a carga de cedência

() para os dois métodos. No caso do MRD, as resistências são resistências nominais,

pelo que devem ainda ser afectadas dos coeficientes de ponderação (de segurança).

Figura 56 – Comparação entre os métodos EC3 e MRD.

Nas normas de verificação da segurança da AISI, existem dois métodos de

dimensionamento possíveis: “Load and Resistance Factor Design (LRFD)” e “Allowable

Strength Design (ASD)”.

85 mm

200

mm

25 mmr=t

t

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0 1 2 3 4 5

Espessura (mm)

Page 84: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

72

Para qualquer um dos métodos a escolha dos factores de ponderação (LRFD) e Ω(ASD)

depende do facto da secção pertencer ao grupo das secções pré-qualificadas do MRD. No

caso concreto, visto que há secções que se qualificam e outras que não, optou-se por usar

os coeficientes mais conservativos, para secções não pré-qualificadas. Nestas condições = 0,8 e Ω = 2,0.

Figura 57 – Comparação entre os dois métodos (MRD em LRFD).

No caso do dimensionamento pelo LRFD, o MRD mostra-se um método mais

conservativo do que o EC3 (para γÎ = 1,0). Para espessuras inferiores a 2mm, a carga

crítica no modo global usada pelo MRD foi limitada pela disposição regulamentar que impõe P­¨ ≤ minÝP­¼; P­ÁÞ. Isto pode explicar o andamento da curva P¹/PÃ para espessuras

inferiores a 2mm, que se afasta do comportamento da curva obtida pelo EC3.

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0 1 2 3 4 5

Espessura (mm)

MRD

EC3

Page 85: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

73

CAPÍTULO 6

C O N C L U S Ã O

Os fenómenos de instabilidade condicionam particularmente o comportamento de

perfis de aço enformados a frio. A elevada resistência do aço, aliada à espessura reduzida

característica deste tipo de perfis, leva a que a instabilidade seja o fenómeno condicionante

no dimensionamento das estruturas constituídas por este tipo de perfis.

Nos actuais códigos de dimensionamento, a previsão da resistência dos perfis

considerando os diversos fenómenos de instabilidade faz-se com base no método das

larguras efectivas (MLE) as quais têm em conta a redução da resistência devido à ocorrência

dos fenómenos de instabilidade local – modo local de placa e modo distorcional. O EC3

aplica esta abordagem no dimensionamento de perfis metálicos susceptíveis de instabilizar

localmente (perfis “classe 4” e perfis enformados a frio), sendo a previsão da resistência

obtida através da redução da área da secção dos perfis. Este método é particularmente difícil

de aplicar em secções complexas (com vários reforços), o que motivou o desenvolvimento de

um método alternativo de determinação da resistência de perfis enformados a frio: o método

da resistência directa (MRD).

O MRD usa uma análise linear de estabilidade para identificar modos de

instabilidade e as respectivas cargas críticas. Os valores dessas cargas são posteriormente

usados em curvas de resistência (calibradas com base em ensaios numéricos e

experimentais), por forma a prever a resistência última do perfil. No decurso deste trabalho

foram aplicados ambos os métodos (MLE e MRD), tendo sido encontradas vantagens e

inconvenientes nas suas utilizações.

O MRD mostrou ser um método rápido de prever a resistência de perfis enformados

a frio. A aplicação do método é fácil e pouco propensa a erros por parte do utilizador. A

utilização do CUFSM para efectuar a análise linear de estabilidade permite visualizar os

modos de instabilidade, tornando-se por isso fácil o cálculo das cargas críticas e

compreender os fenómenos de instabilidade que afectam determinado perfil. Além disso a

interface gráfica permite identificar eventuais erros que ocorram (e.g. má discretização da

secção).

O MRD permite a análise de secções complexas, com múltiplos reforços

longitudinais (dobras), sem que com isso aumente a dificuldade na aplicação do método.

Isto, associado à representação gráfica da configuração dos modos de instabilidade, permite

compreender o comportamento da secção analisada face aos fenómenos de instabilidade,

incentivando assim o utilizador a optimizar a secção. O EC3, pelo contrário, introduz um

conjunto de restrições à geometria da secção transversal (as geometrias que não se

enquadrem nos limites ficam excluídos da aplicação).

Page 86: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

74

A utilização do MRD, como se mostrou, é facilmente programável tornando ainda

mais rápida a utilização do método. A utilização de tabelas de cargas críticas em perfis

comerciais poderá contribuir para uma utilização mais alargada do método, com vantagens

evidentes no projecto de estruturas de elementos enformados a frio.

O EC3 demonstrou ser muito mais complexo, quer em termos da compreensão dos

fenómenos envolvidos, quer na aplicação propriamente dita. Embora a metodologia cálculo

de secções efectivas seja relativamente transversal ao EC3 e largamente usada em códigos

de dimensionamento, não deixa de ser morosa a obtenção de secções efectivas. No que

toca à previsão do comportamento do perfil no modo de instabilidade distorcional, a

aplicação do EC3 é difícil e demorada. À excepção das secções em “C” e “Z” com reforços

de extremidade, ou secções que tenham apenas um reforço intermédio, a determinação do

factor de redução da espessura do reforço torna-se difícil, por vezes impossível sem o

recurso à análise por métodos numéricos (computacionais). O cálculo de secções efectivas

em perfis de aço enformados a frio, de carácter semi-empírico, torna difícil identificar

possíveis erros e contribui pouco para a compreensão do comportamento de instabilidade de

perfis.

O software Coldform, apesar de estar desactualizado em relação à versão actual do

EC3, continua a ser um boa ferramenta quer para a verificação da segurança de perfis quer

para tornar mais fácil a apreensão das metodologias de cálculo do EC3. Uma ferramenta

deste tipo pode contribuir para obviar algumas das dificuldades de aplicação deste

Eurocódigo.

Para as secções estudadas no capítulo 5, os métodos demonstraram concordância

de resultados, sendo que o MRD aparenta ser mais conservativo.

O MRD aplicado pela AISI é um método alternativo à abordagem convencional pelo

MLE e pode ser usado em conjunto com as disposições do regulamento geral para fazer as

verificações de segurança em que o método é omisso (e.g. esforço transverso). Por este

motivo, a introdução de métodos baseados no MRD no EC3 poderá contribuir para tornar

mais eficiente o dimensionamento de perfis de aço enformados a frio bem como promover a

utilização deste tipo de solução estrutural.

Page 87: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

75

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

AISI, (2001) North American Specification for the Design of Cold-Formed Steel Structural Members. American Iron and Steel Institute, Washington, D.C., AISI/COS/NASPEC.

AISI, (2004) Supplement 2004 to the North American Specification for the Design of Cold-Formed Structural Members, 2001 Edition: Appendix 1, Design of Cold-Formed Steel Structural Members Using Direct Strength Method. American Iron and Steel Institute, Washington, D.C., SG05-1.

Cook, Robert D., Malkus, David S., Plesha, Michael E., (1989), Concepts an Applications of Finite Element Analysis, John Wiley & Sons.

Eurocode 3, EN 1993 1-1, “Part 1-1: General Rules and Rules for Buildings”, European Committee For Standardization, Brussels, 2005.

Eurocode 3, EN 1993 1-3: 2004, “Part 1-3: General Rules.Supplementary rules for cold-formed members and sheeting”, European Committee For Standardization, Brussels, 2004.

Eurocode 3, prEN 1993 1-5: 2004, “Part 1-5: Plated structural elements”, European Committee For Standardization, Brussels, 2004.

Gervásio, H., Silva, Luís Simões, Simão, Pedro, (2003). Dimensionamento de Elementos Metálicos com Perfis Enformados a Frio de Acordo com a Parte 1-3 do Eurocódigo 3, IV Congresso de Construção Metálica e Mista, CMM, Lisboa.

Ghersi, A., Landolfo, R., e Mazzolani, F. M. (2001), Design of Metallic Cold-formed Thin-walled Members, Spon Press, New York, 2001.

International Specialty Conference on Cold-Formed Steel Structures, (2006), October 26-27, Orlando, Florida

Jay W. Larson (2006), P.E., F.ASCE, AISI Standards for Cold-Formed Steel Framing.

Prola, L.C. (2002), Estabilidade Local e Global de Elementos Estruturais de Aço Enformados a Frio, Dissertação para a obtenção do grau de doutor em Engenharia Civil, IST-UTL.

Reis, A. e Camotim, D. (2000), Estabilidade Estrutural, McGraw-Hill, Portugal.

Schafer, B. W., e Peköz, T. (1999), Laterally Braced Cold-Formed Steel Flexural Members With Edge Stiffened Flanges, Journal of Structural Engineering.

Page 88: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

76

Schafer, B. W. (2000), Distortional Buckling of Cold-Formed Steel Columns, Final Report, AISI.

Schafer, B. W. (2002), Local, Distortional, and Euler Buckling of Thin-Walled Columns, Journal of Structural Engineering.

Schafer, B. W., Ádany, S. (2006) Buckling Analysis of cold-formed steel members using CUFSM: conventional and constrained finite strip methods. 18th Schafer, B. W. (2003), Commentary on Appendix 1 Design of Cold-Formed Steel Structural Members Using the Direct Strength Method.

Schafer, Benjamin W., (2006), Designing Cold-Formed Steel Using the Direct Strength Method, 18th International Specialty Conference on Cold-Formed Steel Structures October 26-27, Orlando, Florida.

Page 89: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

77

A N E X O A – F U N C I O N A M E N T O D O

S O F T W A R E C U F S M

Este anexo serve para explicar muito sucintamente o modo de utilização de algumas das funcionalidades básicas do programa CUFSM. Está organizado em forma de “tutorial”, com uma sequência de imagens legendadas. Os balões a verde contêm a descrição das acções a tomar em cada janela do programa.

Figura A. 1 – Janela inicial do programa CUFSM.

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78

Figura A. 3 - Introdução das geometrias e características físicas do perfil.

Figura A. 2 – Introdução das geometrias e características físicas do perfil.

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79

Figura A. 4 – Comando “properties”

Figura A. 5 – Propriedades da secção e definição dos esforços actuantes.

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80

Figura A. 6 – Comando “analyze”

Figura A. 7 – Configuração da deformada da secção e identificação dos modos de instabilidade e respectivas cargas críticas.

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81

A N E X O B – TA B E L A S D E P E R F I S C O M E R C I A I S

A N A L I S A D O S

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85

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101

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A N E X O C – F U N C I O N A M E N T O D O

P R O G R A M A C U F S M C O M A P L I C A Ç Ã O A U T O M Á T I C A

D O M R D

Este anexo serve para explicar muito sucintamente o modo de utilização do

acrescento ao CUFSM, programado no âmbito deste trabalho, o qual está organizado em

forma de “tutorial”, com uma sequência de imagens legendadas.

Figura C. 1 – Comando “DSM”.

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103

Figura C. 2 – Introdução da tensão de cedência do aço e do comprimento do perfil.

Figura C. 3 – Comando “Run CUFSM”.

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104

Note-se a correspondência entre a numeração na Figura C.4 e a legenda que se

segue:

1 – Análise da secção à compressão. É apresentado o carregamento (qualitativamente) e a

curva dos comprimentos analisados. São visíveis os mínimos, que correspondem às cargas

críticas no modo local e no modo distorcional.

2 – Configuração do modo local e cálculo da carga crítica.

3 – Configuração do modo distorcional e respectiva carga crítica.

4 – Configuração para o comprimento da barra. Neste caso, a carga crítica, por imposição do

MRD, tem de ser inferior às cargas críticas nos modos locais. No caso de barras curtas ou

intermédias, isto equivale a dizer que a carga crítica no modo global vai ser igual à menor

das cargas críticas dos modos local e distorcional.

5 - Análise da secção à flexão sobre o eixo de maior inércia.

6 - Configuração do modo local e cálculo da carga crítica.

7 - Configuração do modo distorcional e respectiva carga crítica.

8 - Configuração para o comprimento da barra. Neste caso, a carga crítica, por imposição do

MRD, tem de ser inferior às cargas críticas nos modos locais. No caso de barras curtas ou

intermédias, isto equivale a dizer que a carga crítica no modo global vai ser igual à menor

das cargas críticas dos modos local e distorcional.

Figura C. 4 – Output do commando “Run CUFSM”

Page 117: Estabilidade Local de Perfis de Aço Enformados a Frio Engenharia ...

105

Figura C. 5 – Output do comando “Run DSM (Beam Strength Calculations)”

Note-se a correspondência entre a numeração na Figura C.5 e a legenda que se

segue:

1 – Barra lateral que inclui o nome do ficheiro, propriedades da secção e os resultados da

análise pelo MFF relevantes.

2 – Aplicação do MRD à previsão do momento nominal resistente à encurvadura lateral por

flexão-torção.

3 – Aplicação do MRD à previsão do momento nominal resistente à encurvadura no modo

local.

4 – Aplicação do MRD à previsão do momento nominal resistente à encurvadura no modo

distorcional.

5 – Escolha dos coeficientes de ponderação de cargas e resistências.

6 – Resistência nominal da barra.

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106

Figura C. 6 - Output do comando “Run DSM (Column Strength Calculations)”

Note-se a correspondência entre a numeração na Figura C.6 e a legenda que se

segue:

1 – Barra lateral que inclui o nome do ficheiro, propriedades da secção e os resultados da

análise pelo MFF relevantes.

2 – Aplicação do MRD à previsão do momento nominal resistente à encurvadura lateral por

flexão-torção.

3 – Aplicação do MRD à previsão do momento nominal resistente à encurvadura no modo

local.

4 – Aplicação do MRD à previsão do momento nominal resistente à encurvadura no modo

distorcional.

5 – Escolha dos coeficientes de ponderação de cargas e resistências.

6 – Resistência nominal da barra.

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Figura C. 7 - Output do comando “Run DSM (Beam-Column Strength Calculations)”

Note-se a correspondência entre a numeração na Figura C.7 e a legenda que se

segue:

1 – Cálculo da resistência nominal de uma coluna impedida de instabilizar lateralmente.

2 – Definição dos parâmetros necessários à aplicação das expressões de interacção entre

esforço normal e momentos flectores.

3 – Escolha dos coeficientes de ponderação de cargas e resistências.

4 – Definição dos esforços solicitantes.

5 – Resultados da aplicação das expressões de interacção entre esforço normal e momentos

flectores.

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A N E X O D – E X P L I C A Ç Ã O D O F U N C I O N A M E N T O D O S O F T W A R E “ C O L D F O R M ”

O programa Coldform faz a verificação de segurança de secções e barras

(resistência e resistência à encurvadura) de acordo com (i) o Eurocódigo 3 (incluindo a parte

1-3), (ii) Eurocódigo 9, (iii) Normas da AISI (exceptuando o MRD). A versão do Coldform

usada é do ano de 2001, e, no que concerne ao EC3, faz a aplicação de uma versão agora

desactualizada da norma. Os princípios e processos de cálculo, no entanto, permanecem

inalterados na versão do EC3 actual.

O programa é relativamente simples, e permite fazer muito rapidamente um conjunto

vasto de verificações de segurança.

1. Menu “Setup”

Figura D. 1 – Menu setup.

1.1. “Material and code”

Neste menu faz-se a escolha de qual dos códigos de dimensionamento se vai usar para

fazer as verificações de segurança. Escolhe-se o tipo de aço (características), de entre uma

lista ou definindo as características manualmente. È necessário indicar manualmente se o

perfil é enformado a frio.

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Figura D. 2 – Material and code.

1.2. “Safety Factors”

Uma vez que os coeficientes usados no EC3, EC9 e normas AISI diferem de acordo

com os anexos nacionais (no caso da AISI os coeficientes de segurança são diferentes

para o Canadá) é possível definir os factores manualmente:

Figura D. 3– Safety factors.

2. “Cross-Section”

Neste menu, faz-se a definição da geometria da secção. O programa inclui várias

tipologias de secção incluídas, tornando mais rápida a definição da geometria do perfil que

se pretende analisar. É necessário ter em atenção que os reforços têm de ser acrescentados

à secção posteriormente, caso contrário a análise feita pelo Coldform poderá resultar errada.

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Figura D. 4 – Menu “Cross-section”.

2.1. Definição da geometria

A título de exemplo, mostra-se a página de definição de uma geometria genérica.

Figura D. 5 – Definição da geometria do perfil.

2.2. Definição da geometria dos reforços de extremidade

Existe a possibilidade de definir reforços simples e duplos, tendo de ser indicado o

comprimento de cada uma das partes que constituem o reforço.

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Figura D. 6 – Reforços de extremidade.

2.3. Definição da geometria de reforços intermédios

O programa permite definir 1 ou 2 reforços intermédios em cada um dos troços rectos

(que não sejam reforços de extremidade). Para definir o reforço basta indicar a posição do

seu centro e o diâmetro do reforço.

Figura D. 7– Reforços intermédios.

2.4. Definição da geometria dos reforços da alma

Este tipo de reforço, apesar de ser mais comum na alma do perfil, pode ser aplicado a

cada um dos troços rectos da secção transversal do perfil.

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Figura D. 8 – Reforços na alma.

3. “Member”

Neste menu é feita a definição das quantidades que afectam o comportamento de uma

barra à encurvadura global. Define-se o comprimento da barra e as suas condições de apoio,

os carregamentos a que a barra está sujeita e quais as secções transversais em que deve

ser verificada a segurança.

Figura D. 9 – Menu “Member”.

3.1. “Geometrical characteristics”

Define-se o comprimento da barra e as suas condições de apoio em ambas as

direcções.

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Figura D. 10 – Definição da geometria do problema.

3.2. “Loads”

3.2.1. “Load Plane” – Plano de carregamento

Figura D. 11 – Plano do carregamento.

3.2.2.“Concentrated loads” – Cargas concentradas

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Figura D. 12 – Aplicação de cargas concentradas.

3.2.3. “Distributed Loads” – Cargas distribuídas

Figura D. 13 – Aplicação de cargas distribuídas.

3.2.4.“End actions” – Cargas nas extremidades

O sentido de aplicação das cargas segue a convenção habitual da resistência de

materiais. Caso se indique um esforço axial positivo, trata-se de um esforço de tracção. No

caso do EC3 nem sempre é assim.

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Figura D. 14 – Cargas nas extremidades.

3.3. “Cross-sections for checking” – Secções transversais a analisar

Para efeitos de verificação da resistência da secção e da resistência da barra à

encurvadura, é necessário identificar as secções transversais onde a combinação de

esforços possa ser mais desfavorável.

Figura D. 15 – Secções transversais a analisar.

3.4. “Internal actions” – Esforços internos

Apóa a introdução dos esforços e geometria da barra, é possível verificar os diagramas

de esforços:

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Figura D. 16 – Diagramas de esforços.

4. “Check” - Verificações

4.1. “Cross-section strength” – Resistência da secção transversal

Figura D. 17 – Menu “Check Cross-sections Strength”.

4.1.1.“Axial tension” – Tensão axial

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Figura D. 18 – Resistência da secção à tracção.

4.1.2.“Axial Compression” – Compressão axial

O cálculo da resistência da secção a esforços que envolvam compressão leva ao cálculo

de secções efectivas de acordo com o EC3. O programa apresenta os detalhes do cálculo

das secções efectivas relevantes, uma apresentação gráfica (qualitativa) da secção efectiva

e a resistência da secção calculada com base na secção efectiva e no coeficiente <e

indicado previamente pelo utilizador.

Figura D. 19 – Resistência da secção à compressão.

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4.1.3.“Bending Moment” – Momento flector

Figura D. 20 – Cálculo da resistência à flexão da secção.

4.1.4.Outras verificações

O Coldform faz um conjunto de verificações da resistência/segurança da secção. Além

das verificações já descritas, exite ainda o esforço transverso resistente, e várias situações

de verificação da segurança em casos de combinações de esforços.

4.2. “Cross-section buckling strength”

4.2.1. “Axial Compression”

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Figura D. 21 – Cálculo da resistência à encurvadura na compressão.

4.2.2.“Bending and axial compression” – Flexão e compressão axial

As expressões usadas nesta secção já não constam do EC3. A verificação da segurança

à encurvadura de uma barra sujeita a uma combinação de momentos flectores e esforço

axial de compressão é, no Coldform, feita sem recorrer ao cálculo da resistência à

encurvadura da barra sujeita a (i) momento flector em torno do eixo y e (ii) momento flector

em torno do eixo z. Por este motivo, os resultados dados pela expressão do porgrama são

menos conservativos do que os actualmente em vigor no EC3.

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Figura D. 22 – Cálculo da segurança à encurvadura para a combinação de compressão e momentos flectors.

4.3. “Member” – Verificações das secções que se escolheu analisar

4.3.1.“Strength” – Resistência

Com base nas secções indicadas anteriormente pelo utilizador, o programa verifica a

segurança de cada uma dessas secções, calculando naturalmente os esforços actuantes em

cada uma das secções analisadas, com base nos carregamentos definidos pelo utilizador.

Figura D. 23 – Verificação da resistência das secções escolhidas.

4.3.2.“Buckling Stength” – Resistência à encurvadura

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Figura D. 24 – Resistência à encurvadura das secções escolhidas.

4.3.3.“Deflection”

Para finalizar, o Coldform indica a flecha máxima para a barra, nas condições de apoio e

carregamento definidos.

Figura D. 25 – Flecha da barra.