Esquema geral da nova objetividade - Hélio Oiticica

download Esquema geral da nova objetividade - Hélio Oiticica

of 11

Transcript of Esquema geral da nova objetividade - Hélio Oiticica

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    1/

    tt : IT1 "Nova Objetividade","" VI8',0 seria a formulacaoOC de urn estado tlpico. . ",a. 3:n da arte brasileira; - )-~ C I de vanguarda atual,",e cu ia s p r lnc ipa isr caracterfsticas sao:0 I. vontade construtiva-

    Z geral, 2. tendencia0~ para 0objeto ao ser0 negado e superado 0C J : I quadro de eavalete,. . . . ,rTI ' 3. participacao do: : : !< espectador (corporal,0)- tatil, visual, semantica0 etc.): 4. abordagern eT I

    tomada de posicao emrelacao a problemas

    politicos, sociais e eticos:5. tendencia para proposicoescole t ivas e consequente

    tipico da arte brasileiraatual, 0e tambem no planointernaeional, diferenclando-se po is das duas grandescorrentes de boje. pop e op, etambem das ligadas a essas:nouueau reali sr ne e p rima rys t ru c t u re s ( ha rd - e dg e) .

    A "Nova Objetividade"sendo urn estado, nao e poisurn movimento dogmatico,estericista (como por exemploo foi 0cubismo, e tambernoutros ismos constituidoscomo uma "unidade depensamento"), mas uma"chegada", constituidade miiltiplas tendencias,onde a "falta de unidadede pensamento" e umacaractenstica importante,

    ITEM 1: VONTADE CONSTRU-TIVA GERAL

    No Brasil as movimentasinovadores apresentam, emgeral, esta ca ra c te rf s ti ca i in ic a ,de modo bern especffico, ouseia, uma vontade construtivamarcante. Ate mesmo nomovimento de 22 poder-se-iaverificar isto, sendo, a nossover, a motive que levou Osvaldo(Oswald] de Andrade a celebreconclusao de Que seria nossacultura antropofagica, auseia.redueao imediata detodas as infiuencias externasa modelos nacionais. Isto naoaconteceria nao houvesse,latente na nossa maneira deapreender tais infiuencias,

    abolicao dos "ismos"caracterfsticos da primeirametade do seculo na arte dehoje (tendencia esta Que podeser englobada no conceito de"arte pos-moderna' ' de MariaPedrosa); 6. ressurgirnento enovas formulacees do conceitode antiarte.A "Nova Objetividade"

    sendo, pois, ur n estado

    sendo entretanto a unidadedesse conceito de "NovaObjetividade" uma constatacaogeral dessas tendenciasrmiltiplas agrupadas emtendencias gerais af verificadas.Urn simile, se quisermos,podernos encontrar no dada,guardando as distanciase diferencas,

    HflioOiticica

    algo de especial, caracteristiconosso, que seria essa vontadeconstrutiva geral. DeJa nasceramnossa arquitetura, e maisrecentemente os chamadosmovirnentos concreto. eneoconcreto, que de certomodo. objetivaram de maneiradefinitiva tal comportamentocriador, Alem disso, queremoscrer que a condicao social

    221'

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    2/

    a qu i re in an te , d e c ert o m od oa in da em fo rm ac ao , h ajac ola bo ra do p ara q ue e st e fa to rs e ob je ri va ss e ma is a ind a:so mo s u rn p ov o a p ro cu ra d euma car ac te ri za c ao cu lt u ra l,n o q ue n os diferen ciam os doe uro pe u c om se u p es o c ult ura lm ile na r e ame ric an a d on ort e c oin s ua s s olic it ac oe ss upe rp rod ut iv a s. Ambose xp ort am su as c ult ura s d emodo compu ls iv o , necessitamrn esm o q ue isso se de, p olso peso das m esm as as fazt r ansbordar compuls ivamen te .Aqui , subdesenvolv imentos oc ia l s ig nif ic a c ult ur alm e nt e ap ro cu ra d e uma c ara ct eriz ac aon ac io nal, q ue se tra du z dem o do e sp ed fic o n ess a p rim eirap rem is sa , o u s eja , n es savontade construt iva. Nao queisso aconteca necessariamentea povos subdesenvo lv idos ,m as s eria u rn c aso n os so ,pa rt icu la r . A an t ropofag ias er ia a d ef es a q ue p os su fr no scontra ta l d om f nio e xt er io r, ea p rin cip al a rm a c ria tiv a, e ss avon t ade const ru t iv a , 0 q ue n aoim pediu de to do uma esp ecied e c olo nia lismo c ult ur al, q ued e modo o bje tiv o q ue re rn osho je abo li r, absorvendo-od e fi ni ti vament e numas up er an tro po fa gia . P or is toe p ara is to , su rg e a p rim eiran ec ess id ad e d a "N o va

    Objet iv i dade" : p rocura rpelas ca rac te rf st ica s nossas ,latentes e de certo m odo emdesenvo lv imento , ob je t iv a ru rn e st ad o c ria do r g era l, aq ue se c ham aria de v an gu ard abras il ei ra , numa so li di fi cacaoc ult ura l (m esm o q ue p arais to s ejam u sa do s rn et od osespec if icamen te an t icu lt u ra is );e rg ue r o bje tiv am e nt e d ose sf or co s c ri ad o re s i nd iv id uai s o sitens principals d es se s m e smo se sfo rc os, n um a t en ta tiv a d eagrupa-los cu lt u ra lmen te . Ne st at are fa a pa re ce e st a v on ta dec on st ru tiv a g er al c omo it emp ri nc ip a l, m6v e l e sp ir it u al d el a.ITEM 2: TENDENCIA PARAo OBJETO AO SER NEGADOE SUPERADD 0 QUADRO DECAVALETE

    o fenomeno da demolicao doq ua dro , o u d a sim p le s negacaodo q ua dro de cav alete , eoc on se qu en te p ro ce ss o, q ua l se ja ,o d a c ria ca o su ce ssiv a d e re le vo s,a nt iq ua dr os , a te a s e st ru tu ra se sp ac ia is o u a rn bie nt ais, ea fo rm ulacao de o bjeto s, o um e lh or, a c he ga da a o o bje to ,data de 1954 em diante, e sev e ri fi ca d e v a ria s manei ra s,num a linha continua, ate ae clo sa o a ru al. D e 1 95 4 (e po ca d aa rt e " co nc re ta ") em d ia nt e, d at aa exp erien cia lo nga e p en osa de

    L yg ia C l ark n a d esin te gra ea o d oq ua dr o t ra dic io n al, m a is t ar ded o p la no , d o e sp a~ o p ic t6 ric oe tc . N o m o vim en to n eo co ne re tod a- se e ss a f ormu la ~a o p elaprimeira vez e tam bern ap ro po sic ao d e p oe rn as o bje to s(Gu lla r, I ar dim , P ap e), q uecu lm in am n a te oria do "n ao -o bje to " d e P erre ira G ulla r. H ae nt ao , c ro no lo gic ar ne nt e, um asuce ss iv a e v a ri ad a f ormul ac aodo problem a, que nasce com ou rna ne ce ss id ad e f und amen ta ldesses artistas, obedecendo aose gu in te p ro ce ss o: d a demarched e L y gia C l ark em diante, hacom o que 0estabelecimentode hand i c ap s s uc es siv os , e 0processo que em C lark se deude m odo lento, abordando ase st ru tu ra s p rim aria s d a " ob ra "(co mo e sp ac o, tem po e tc .)p ara a su a re so lu ca o, a pa re cena obra de outros art istas dem odo cad a ve z r nai s r ap idoe e clo siv o. A ss irn , n a m in haex pe ri en c ia ( a pa rt ir d e 1 95 9)se da de m odo m ais im ediato ,m as a in da n a a bo rd ag erne d is so lu c ao pu rament ee st ru tu ra is , e a o s e v er if ic arm ais ta rde n a o bra de A nto nioD ia s e R ub en s G erc hm ans e d a r na is v io le n tament e,d e modo rn ais d ram at ic o,e nvo lv endo v a ri es p ro c es so ssimultaneamente, ja n ao m aisn o c am p o p urame nt e e st ru tu ra l,

    222

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    3/

    mas tambem envolvendo urnprocesso dialerlco a que MarioSchenberg formulou comorealista. Nos artistas que sepoderiam chamar=estruturais",esse. proeesso dialetico viriat am bem a se p ro cessa r, masde outremodo, lentamente.D ia s e Gerc hma n como que sedefrontam com as necessidadesest ru tu ra is e as dlaleticas deurn so lance. Cabe notar aquiq ue esse processo " re alist s" ..caraeterizado por Schenberg jase havia m anifestado n o campopoetieo, onde Gullar, quena epoca neoconereta estavaabsorvido em problemas deordern estrutural e na procurade urn "lugar para a palavra",area formulacao do "nao-obi et o" , q uebr a repentinamentecom toda prernissa de ardemtranscendental para propor umapoesia participante e teorizarsobre um problema maisample, qual seja, 0da cria~aode uma cultura participantedos problemas brasileiros quena epoca aflo rav am . S urg iu a fentao 0seu trabalho te6rico"Cultura posta em questao" ..De certo modo a proposicaorealista que viria com Dias eGerchman, e de outra formacom Pedro Bscosteguy (emcujos objetos a pa lav ra encerrasernpre alguma mensagems oc ia l) , f oi uma consequencla

    dessas premissaslevanradaspor Gullar e seu grupo, etambem de outro m odo pelomevimento do cinema novoque estava entao no seu auge.Considero entao 0turningpoint decisivo desse processono campo pictcrico-plastico-estrum ral a obra de AntonioDias, Nota. sobre a morteim prev ist a, n a q ual a firm a ell',de supetao, problemas rnuitoprofundos de ordem etico-social e de ordem pictorico-estrutural, indicando uma novaabordagem do problema doobjeto (na verdade esta obraeurn antiquadro, e tam bern afuma reviravolta no conceito dequadro, da "passagem" parao objeto e da significa~ao doproprio objeto). Daf em diantesurge, no Brasil, urn verdadeiroprocesso de "passagens" parao objeto e para proposicoesdlaletico-plctoricas, processoeste que notamos e delineamosvagarnente, pais que nao cabe,aqui, uma analise mais profunda,apenas ur n esquema g er al. N aoe outra a razao da tremendainfluencia de Dias sobre amaioria dos artistas surgidosposteriormente. Uma analiseprofunda de sua obra pretendorealizar em outra parte emdetalhe, mas q uero an ot ar aq uineste esquema que sua obra e nav erd ad e u rn p on te d ec is iv e na

    formulaeao do proprio eonceitode "Nova Objetividade" queviria elJmals tarde a concre t izar- a profundidade e a seriedadede su as d emarc hes aln da n aoesgotaram suss conseqnencias.estao apenas ern botao.

    Paralelamente a sexperiencias de Dia s, n as cemas de Gerchman, que de suaorigem expressionista plasmatambem de supetao problemasde ordem social, e 0dramada luta entre plano e objet:ose da aqui livremente, numaseqiiencia impressionante deproposicoes. Seria tambem aquidernasiado e Impossfvel analisa-Ia , mas quero crer seja suaexpe r iencia t ambern decisivanessatransformacao dialetica ena cria~ao do conceito "realista"de Schenberg, A preocupacaoprincipal de Gerchrnancentra-se no conteudo social(quase sempre de constataeao-ou de protesto) e no de procurarnovas ordens estruturaisde manifestacao de modoprofundo e radical (no quese aproxima das minhas, ernc er to s en tid o) : a c al xa -ma rm lt a,o elevador, o altar onde 0espectador se ajoelha sao, cadauma delas, ao mesmo tempoque manifestacoes estmturaisespecfficas, elementos onde seafirmam conceitos dialeticos,como 0quer se u autor. Daf

    Helio ohlelca

    22~

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    4/

    surgiu a possibilidade da criaIJaodo Parangole social (obras emque me propus a dar sentidosocial a minha descoberta doParangole, se bern que este ja 0possufsse lateme desde 0infcio,e que foram criadas por mime Gerchman em 66, portantomais tarde). Sua experienciatambem propagou-se oestecurto periodo numa avalanchede influencias,

    A terceira experienciadecisiva para a afirmacaodo conceito realistaschenberguiano e a de PedroBscosteguy, poeta ha longo

    objeto de Gullar e Iardim, e asde Lygia Pape (Livroda cria~iio),onde a proposicao poetica semanifestava a par da hidica.Pedro, dialetico ferrenho, querque suas rnanifestacoes deprotesto se deem de modohidico e ate ingenue, como sefora num parque de divers6es(para 0qual pas sui urn projeto).E ele uma especie de anjoborn da "Nova Objetividade"-pelo sentido sadio desuas proposicoes. Na suaexperiencia, pelas conotacoesque encerra, pelo livre uso dapalavra, da "mensagern", do

    proposicao na qual 0ladoestrutural (0 objetojjunde-seao semantico. Para ele adesintegracao do objeto flsicoe tambem desintegracaosemantics, para a construcaode urn novo significado. Suaexperiencia DaO e fusao depop com concretismo comoo querem mulros, mas urnatransformacao decisiva dasproposicoes puramenteestrururais para outras deordem semantico-estrurural,de cerro modo tam bernparticipantes. A forma comque se da essa transforraacao

    tempo, que se revelou em obrassurpreendentes pela clareza dasintencoes e da espontaneidadecrladora. Pedro propde-se aoobjeto logo de safda, mas aoobjeto semantico, onde imperaa lei da palavra, palavra-chave,palavra-protesto, palavra ondeo lade poetico encerra sempreuma mensagem social, quepode ser ou nao impregnadade ingenuidade. 0 lado hidicotam bern conta como fatordecisive nas suas proposicoese nisso desenvolve de maneiraversatil certas proposicoes quena epoca neoconcreta surgiramaqui, tais como as dos poemas-

    224

    objeto construfdo, querernosver a . recolocacao emtermos especfficos seus doproblema da antiarte, queaflui simultaneamente emexperiencias paralelas, se bernque diferentes e quase queopostas, quais sejam as de LygiaClark dessa epoca (Ccminhundo)que anotaremos a seguir, asde Dias (proposicoes de fundoetico-social), as de Gerchman(estruturas tarnbem sernanticas)e as minhas (Parangole),

    Em Sao Paulo, em outrostermos nessa mesrna epoca(1964-65), surge WaldemarCordeiro com 0Popcreto,

    e tam bern espedfica dele,Cordeiro, bern diferenteda do grupocarioca, comcarater universalista, qualseja, ada tomada deconsciencia de uma civilizacaoindustrial etc. Segundoele, aspira a objetividadepara rnanter-se longe deelucubracoes intimistas enaturalisrnos inconseqiientes.Cordeiro com 0Popoeto prevede cerro modo 0aparecimentodo conceito de "apropriaeao"que formularia eu dois anosdepois (1966) ao me prop or auma volta a "coisa", ao objetodiario apropriado como obra,

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    5/

    Nesse periodo 1964-65se processaram essastransformacoes gerais, deurn conceito puramenteestrutural (se bern quecomplexo, abarcando ordensdiversas e que ja se introduzirano campo tatil-sensorial emcontraposicao ao puramentevisual, nos meus Bolides vidrose ea ixas, a partir de 1963),para a introdu!?o dialeticarea list a, e a aproximacaoparticipante ..Isto nao so seprocessou com Cordeiro emSao Paulo, como de maneirafulminante nas obras de Lygia

    uma dbnarche impregnada doconceito novo de antiarte (0iilrimo item descrito nesteesquema), que culminanuma forte estruturacao etico-individual. E-nos irnpossfveldescrever aqui em profundidaderodo 0processo dialetico destedesenvolvimento de LygiaClark - assinalamos apenasa reviravolta dialetiea domesmo, da maior imponanclana nossa arte. Paralelamente,intensificando esse processo,nascem as formulacoes te6ricasde Frederico Morais sobreuma"arte dos sent idos", com a

    ludica (jogos, amblentacoes,apropriacoes) e 0principalmotor: 0da proposicao de uma"volta ao rnito". Nao descrevoaqui tambem esse processo(ver em breve publicacao daTeoria do Parangole).

    Outraetapa, ligada ernraiz e que incluo ao ladodos !:resprimeiros realistascariocas segundo Schenberg,seria caracterizada pelasexperiencias ja conhecidase admiradas de RobertoMagalhlies, Carlos Vergara,Glauco Rodrigues e Zilio, Qualo principal fator que se poderia

    Clark e nas minhas aqui no Rio.Na de Clark, com a demarchemais crftica de sua obra: a dadescoberta por ela de que 0p ro c es so c ria ti vo se daria nosentido de uma imanenclaem oposicaoao antigobaseado na transcendencia,surgindo daf 0Caminhando,descoberta fundamentalde onde se desenvolveutodo 0atual processo daartista que culminou numa"descoberta do corpo", parauma "reconstituicao do corpo",atraves deestruturas supra einfra-sensoriais, e do ate naparticipacao coletiva - e esta

    consciencia, e claro, dos perigosmetafisicos que a amea~am.

    Pinalmente, quero assinalara minha tomada de consciencia,chocante para muitos, dacrisedas estruturas puras, com adescoberta do Parangole em1964 e a formulacao teoricadai decorrente (ver escritosde 1965). Ponto principalque nos interessa dtar: 0sentido que nasceu com 0Parangole de uma participacaocoietiva (vestir capas e dancar),participacao dialetico-sociale poetica (Parangole poeticoe social de protesto, comGerchman), participacao

    Gilbertl.lGfl

    atribuir a essas experienciasque as diferenciariam numaetapa? Seria este: slio elascaracterizadas, no conflitoentre a representacaopict6rica e a proposicao doobjeto, na abordagem doproblema, por uma ausencia dedrarnaticidade, fator positivono processo, que confirmaa aquisicao de handicaps emrelacao as anteriores, Essesartistas enfrentam 0quadro,o desenho, daf passam aoobjeto (sendo que quadro edesenho slio ja tratados comotal), de voltaao plano, comuma liberdade e uma ausencia

    225

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    6/

    de drama im pres slo nan tes , Eporque neles 0confiito ja seapresenta rnais maduro noprocesso dialetico geraL Sejanos desenhos e nos macro emicro objetos de Magalhaes,surpreendentemente sensfveis esarcasticos, ou nas experienciasrmiltiplas de Vergara, desdeos quadros iniciais para 0relevo ou para os antidesenhosencerrados em plastico, ou paraa participacao "participante" doseu happening (na G 4 em 66), aunas de Glauco Rodrigues comsuas manifestacoes arnbientais(baloes e formas em plasticosemelhantes a brinquedosgigantes), s6lidos geometricoscom colagens e antiquadros,e ainda nas estruturas"participantes" de Zilio, emtodos des esta presente essaausencia exemplar de drama

    - a f as intencces sao definidascom urna clareza matisseana,hedonista e nova nesteprocesso. Sao artistas que aindaestao no comeco, brilhanre semduvida, e que nos reconfortarncom seu otimismo.

    Se aqui a ptocesso setorna veloz, imediato nassuas lntencoes, 0que dizerentao dos novissimos e dosoutros ainda total mentedesconhecidos que abordam,criam ja 0objeto semmais toda essa dialetica da

    226

    "passagem", do t u r n ing pointetc. Esta mostra, primeirada "Nova Objetividade", visadar oportunidade para queapare~am esses [ovens, paraque se manifestem inclusiveas expenenciasccletlvasanonimas que interessarnao processo (experienciasque dererminararn inclusivea minha formulacao doParangole). Nao adiantacomentar, mas apenas anotaralguns desses novfssirnos,abertos a urn desenvolvimento:Hans Haudenschild com seusmanequins de cor (seria anosso primeiro "totemista''),Mona Gorovitz e as seusu n d e r w e a . r s , Solange Escosteguycom suas anticaixas au supra-relevos para a cor, EduardoClark (fotografias, multiddese anticaixas), Roberto Landim(relevos e caixas), Sami Mattar(objetos), Roberto Lanari, abaiano Srnetak com seusinstrumentos de cor (musicals).

    Lygia Pape, que noneoconcretismo criou 0celebreLiuro do cTio~i io ,onde a i rnagemda forma-cor substitula in tatuma palavra, cria a par de suaexperiencia com cinema caixasde humor negro, manuseaveis,que sao ainda desconhecidas,e abre novo campo a explorar,au seja, este do humorcomo tal e nao apllcado em

    representacoes externas ao seucontexte, em ourras palavras:estruturas para humor.Ivan Serpa, que passara

    das experiencias concretasa dissolucao estruturaJ dasmesmas, depoisainda pelafase critic a realista, retomouosentido construtivo.daepoca concreta num novosentido, de imediato no objeto,predominando 0sentido hidico,sem drama, entrando com aparticipacao do espectador. Saoproposicoes sadias que aindaserao por certo desenvolvidas,que tarnbern nos evocarncertas premissas do conceitode antiarte, que as tornam deimediato importantes.Em Sao Paulo querernos

    ainda anotar a experienciaimportante deWillys deCastro, que desde a epocaneoconcreta criara 0"objetoativo" e desenvolveucoerentemente esse processoate hoje, aproximando-se desolucoes que se afinam como que as americanos definemcomo primary s truc tures , 0que alias acontece com asde Serpa e muitas obras daepoca neoconcreta como as deCarvao (tijolo de cor) e as deAmilcar de Castro, que tam bernmostraremos aqui nestaexposicao. Sao experienciasmuito amais, que tendern a

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    7/

    uma busea de estruturas basicaspara 0. objeto, fugindo a seumodo dos concei tos veIhos deescultura ou pintnra, Isto seaplicaria tarnbem a experienciascomo as de Hercules Barsotti ede .Al iber ti , do gru po visual deSao Paulo" e em outro sentidoa s de Mauricio Nogueira Lima ..

    Urn desenvolvimentoindependente, masfundamental, e ' 0do grupodo realismo magico deWesley Duke Lee, centrado naOale ria R ex . P ar in crfv elq uepare~a, apesar de sabermosda sua importancia (quenesse proeesso descrito teriapapel semelhante ao do gruporeajista do Rio), pouco deleeonhecemos. E urn grupofechado, extremamente solido,mas do qualnao podemosavaliar todas as conseqnenciaspor desconhecermos suatotalidade, Apenas vamosanotar aqui, alern do de WesleyDuke Lee (nome ja conhecidofora do Brasil plenamente,e cuja experiencla abarcavarias ordens estruturais,desde as pictoricas a sambientais), os nomes deNelso n L eim er, R ez en de ,Fajardo e Geraldo Barros, cujodesenvolvimento infeiizmentedesconhecemos mas quesabernos interessantfssimo.Bsta mostra servira tambern

    para nos confinnar a queprevfamos. as premissasteorlcas do r ea li smo magi cocomo uma das constituintesprincipals nesse processoque me levou a formu!ar;aoda"Nova Objetividade",Apesar de na o pertencer aesse grupo junto aqui 0nomede Tomoshige K usuno, q uea . meu ver possui algo queseria urn realismo magicon as su as 6timas proposlcces.Bis, por fim, a esquema gem!da "Nova Obje ti vi dade ", d asprincipals correntes, gruposou individualidades quecolaboraram no se u processoconstitutive, aqui descritoneste item fundamental,ou seja, 0 da "passagem"e "chegada" a s estruturasobjetivas, considerandoperifericas as mais gerais deordern cultural, que interessama qu i c omo p ro ce sso destaordem e que, de urn mcdoe deoutre, influenciaram a eclosaodo processo:

    GrupeNeoconcreto

    Poesia partieipante(Gullar)Grupo Opiniao(teatro)Cinema novo

    ITE.M 3: PARTICIPAC;Ao. DO.ESPECTADo.R

    o problema da participacao doespectador e ma is compl ex o,ja que essa panicipacao, quede inido se opde a puracontemplaeao transcendental,se mani fe s ta de varias maneiras.Ha, porem, dnas maneiras berndefinidas de participacao. umae a que envolve "rnanipulacao"ou "participacao sensorial-corporal.", a outra, a queenvolve uma parrlclpacao"semantica". Esses dois modosde pa rdc ipacao buscarncomo que uma participacaofundamental, total, nao-fracionada envolvendo as doisprocessos, significativa, istoe , nao se reduzem ao puromecanismo de participar, masconcentram-se em significadosnovos, diferenciando-se da puraconternplacao transcendental.Desde as proposicdes"hidicas" a s do "ato", desdeas proposicoes semanticas da

    PER I F ER ICAS

    lygia ClarkR ea lismo C a rio caPopcretoRealismo rnagiccParangole

    NovaObjetividade

    227

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    8/1

    "palavra pura" as da "palavrano objeto", ou as de obras"narrativas" e as de protestopolitico ou social, 0que seprocura e urn modo objetivo departicipacao, Seria a procurainterna fora e dentro do objeto,objetivada pela proposicao daparticipacao ativa do espectadornesse processor 0indivfduo aquem chega a obra e solicitadoa completacao dos significadospropostos na mesrna - estae pois uma obra aberta, Esseprocesso, como surgiu noBrasil, esta intirnamenteligado ao da quebra do quadroe a chegada ao objeto ou ao

    mais abertas no sentido dessaparticipaeio, inclusive as quetendem a dar ao individuo aoportunidade de "criar" a suaobra. A preocupaeao tambernda producao em serie deobras (seria 0sentido ludicoele va do a o maximo) e umadesembocadura importantedesse problema.ITEM 4: TOMADA DE iPOSI;AOEM REtA

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    9/

    e aparecem como urn estfmulopara os que veem no.p rot estoe na complera reformulaeaopolltico-sodal uma necessidadefundamental na nossaarualidade cultural. '0 queGuUar chama de participacaoe no fundoessa necessidadede uma partlclpacao total dopoeta, do artista, do intelectualem geral, nos acontecimentosenos problemas do mundo,conseqiientemente influindoe rnodificando-os, urn naovirar as costas para 0mundopara restringir-se a problemasesteticos, mas a.necessidadede abordar esse munda cam

    construtivo para atingir essattansfo.rma~ao etc. '0 artista,o intelectual em geral, estavafadado a uma Po.si~ao cadavez mais gratuita e alienatoriaao persistir na ve lha posi caoesteticista, para n6s hoje oca,de considerar os produrosda arte como uma segundanatureza. onde se processariamas rransformacoes formalsdecorrentes de conceituacoesnovas de ordem estetica.Definitivamente e esta posicaoesteticista lnsustentavel nonosso panorama cultural: ouse processa essa tornada deconsciencia au se esta fadado

    E pais fundamental a "NovaOb je ti vi da de " a d is cu ss ao , 0.protesto, 0estabelecimentode conotacoes dessa ordemno. seu contexte, para que sejacaracterizada como urn estadouplco brasileiro, coerentecam as outras demarches . Comisso v er if ic ou -s e, a ce le ra nd o oprocesso de chegada ao objetoe a s p ropos ic oe s c ol et iv as ,uma "volta ao mundo", ouseja.urn ressurgirnento de urninteresse pelas coisas, peloambiente, pelos problemashuman os, pela vida, emultima analise. '0 fenomeno davanguarda no.Brasil nao e mais

    uma vontade e um pensamentoreal mente transformadores,nos pIanos etico-polftico-social.'0 ponto crucial dessas ideias,segundo a proprio Gullar:nao compete ao artista tratarde modif ic acoes no campoestetico como se fora este umasegunda natureza, urn objetoem si, mas sim de procurar,pela participacao total,erguer as alicerces de urnatotalidade cultural, operandotransformacees profundasna consciencia do homern,que de espectador passivodos acontecimentos passariaa agir sobre eles usando osmeios que Ihe coubessem: arevolta, a protesto, 0trabalho

    a permanecer numa especiede colonialisrno culturalou na mera especulacao depossibilidades que no.fun dose resumem em pequenasvariacoes de grandes ideiasja mortas.

    No campo das artes ditasplasticas 0problema doobjeto, a u r ne lhor , da chegadaao objeto, ao generalizar-se para a criacao de urnatotalidade, defrontou-secom esse fundamental, auseja, sob 0perigo de voltara urn esteticismo, houve anecessidade desses artistasem fundamentar a vontadeconstrutiva geral no campopolftico-etico-social.

    G la ub er R oc ha

    hoje questao de urn grupoprovindo de uma elite isolada,mas uma questao culturalarnpla, de grande alcada,tendendo as solucoes coletivas.

    A proposicao de Gullar quemais nos interessa e tarnbem aprincipal que 0move: quer eleque nao baste a consciencia doartista como homem atuantesomente 0poder criador e ainteligencia, mas que 0mesmoseja urn ser social, criador naos6 de obras mas modificadortarnbern de consciencias (no.sentido amplo, coletivo), quecolabore ele nessa revolu~aotransforrnadora, longa epenosa, mas que algum diatera atingido 0seu fim - que 0

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    10

    artista "participe" enfim da suaepoca, de se u povo.Vema! a pergunta cntica.

    quantos 0fazem?ITEM 5: TENDENCIA A . UMAARTE COLETIVA

    Hoiduas maneiras de proporuma a rt e c ole tiv a- a primeiraseria a de jogar producoesindividuais em contato como publico das mas (daro queproducdes que se destinem a tal,e nao producoes convencionaisapJicadas desse modo); Dutraa de propor atividades criarivas

    de hoje, para obras abertas eproposicdes varias.atualmentea preocupacao de uma "seria9aode obras" (Vergara e GlaucoRodrigues), 0pIanejamento de"feiras experimentais" de outrogrupo de artistas, proposicoesde ordem coletiva de todas asordens, bern 0indicam,

    Sao porern programasabertos a reaJizar;ao, pols quemuitas dessas proposicdess6 aos poucos vao sendopossibilitadas para tal.Houve algo que, a meu ver,determinou de certo modo essaintensificacao para a proposicao

    unidade autonoma dessasman if es t acoes popul at e s,das quais 0Brasil possuiurn enorme acervo, de umariqueza express iva inigualavel,Bxperiencias tais como a queFrederico Morais realizouna Universidade de MinasGerais, com Dias, Gerchman eVergara, qual seja, a de procurar"criar" obras de minha autoria,--procurando, "achando" napaisagem urbana elementosque correspondessem a taisobras, e realizandocorn issouma especie de happenin8, saoimportantes como modo

    a esse publico, na propriacriacao da obra. No Brasilessa tendencia para uma artecoletiva e a que preocuparealmente nossos artistas devanguarda. Ha como que umafatalidade prograrnatica paraisto. Sua origem esta ligadaintimarnente ao problema daparticipacao do espectador, queseria tratado entao ja comourn programa a seguir, emestruturas mais complexas.Depois de experiencias etentativas esparsas desde 0grupo neoconcreto (Projetos eParangoles meus, Caminhandode Clark, happernnqs de Dias,Gerchman e Vergara, projetopara parque de diversdes deEscosteguy), h a como que umasolicitacao urgente, no dia

    230

    de uma me coletiva total: adescoberta de manifestacoespopulares organizadas (escolasde samba, ranchos, frevos,festas de toda ordem, futebol,feiras) e as espontaneasouos "acasos" ("arre das ruas"au antiarte surgida do acaso),Ferreira GuJlar assinalaraja , certa v ez, a sentido dearte total que possuiriarnas escolas de samba oode adanca, a ritmo e a rmisica vernunidas indissoluvelmente aexuberancia visual da cor, dasvestimentas etc. Nao seriaestranho, entao, se levarmosi5S0 em conta, que as artistasem geral, ao procurar a chegadadesse processo uma solucaocoletiva para suas proposicoes,descobrissem por sua vezessa

    de introduzir 0espectadorIngenue no processo criadorfenomenol6gico da obra, ja ,nao mais como algo fechado,longe dele, mas como umaproposicao aberta a suaparricipacao total.ITEM 6: 0 RESSURGIMENTODO PROBLEMA DA ANTIARTE

    Porfim devemos abordare delinear a razao doressurgimento do problema daantiarte, que a nosso ver assumehoje papel mais importantee sobretudo novo. Seria amesma razao por que de outromodo Mario Pedrosa sentiua necessidade de separar asexperiencias de hoje sob a siglade "arte pos-moderna" -

  • 5/14/2018 Esquema geral da nova objetividade - H lio Oiticica

    11

    e , com e fe it o, o ut ra a a tit ud ecriativa dos artistas ante asexigencias de o rd ern e t ic o -individuals, e as sociais gerais.No Brasil 0papel torna aseguinte configuracao. como,num pais subdesenvolvido,explicar 0aparecimento deuma vanguarda e justifica-la,nao como uma alienacaosintomatica, mas comourn fator decisive no seuprogresso coletivo? Comos it ua r a f a a tiv id ad e do artists?o problema poderia setenfrentado com uma outrapergunta: para quem faz 0

    au "ernpresario", ou mesmo"educador". 0problemaantigo de " fa ze r um a novaarte" ou 0de derrubar culturasja nao se formula assim - aformulacao certa seria a de seperguntan quais as proposicoes,promocfies e medidas a que sedevem recorrer para c ria r um acondicao ampla de participacaopopular nessas proposicoesabertas, no ambito criador aque se elegeram esses artistas.Disso depende sua propriasobrevivencia e a do povonesse sentido.

    seria em suma 0conforrnismocultural, poIftico, etico, social.

    Dos entices brasileirosa tuai s, qua rro in fluenc ia ramcom seus pensarnentos, suaobra, sua atuacao em nossosse to res cu ltu ra i s, de certo modo,a evolu~ao ea eclosao da "NovaObjetividade" que ja vinha eu,ha certo tempo, concluindo depont es o bj et iv o s na minha obrate6rica (Teoria do Parangole)- sao elesi Ferreira Gullar,Frederico Morais, Mario Pedrosae Mario Schenberg.

    Neste esquema sucintoda "Nova Objetividade" nao

    Wlifa ~ III~ Illm lb~ (ff~~~~b r~ IIIUW J~~aIII~ ~~ ,III~ Ii~ ~~ ~ lW ~ (ff~ '(@ )J ow Cc ls o M ar ti nn C or re aartista sua obra? Ve-se poisque sente esse artista umanecessidade maior, nao 56de criar simplesrnente, masde comunicar alga que paraele e fundamental, mas essacomunicacao teria que se darem grande escala, nao numaelite reduzida a e x p e r t s , masate contra essa elite, coma proposicao de obras naoacabadas, "abertas". 1 3 essaa teda fundamental do novoconceito de antiarte: naoapenas martelar contra aarte do passado ou contra osconceitos antigos (como antes,ainda uma atitude baseada natranscendentalidade}, mas criarnovas condicoes experimentais,em que 0artista assume 0papel de "proposicionista",

    CONCLUSAO

    Mario Schenberg, numa den os sa s r eu nio es , in di co u urn faroimportante para nossa posicaocomo grupo atuante: hoje, 0quequer que se faca, qualquer queseja a nossa d e m a r c h e , se forrnosurn grupo atuante, realmenteparticipante, seremos urn grupocontra coisas, argumentos, fatos.Nao pregamos pensamentosabstratos, mas comunicamospensamentos vivos, que para aserem tern que corresponder aositens citados e sumariamentedescritos acima. No Brasil(nisto tambem se assemelhariaao dada), hoje, para se ter umaposicao cultural atuante, queconte, rem-se que ser contra,visceralmentecontra tudo, que

    nos interessa desenvolver afundo todos as pontos, masapenas indica-los. Para finalizar,quem evocar ainda uma fraseque, creio, poderia rnuito, bern representar 0espfrito da"Nova Objetividade", frase estafundamental e que, de certomodo, represents uma sfntesede todos esses pontos e da atualsituacao (condicao para ela)da vanguards brasileira, seriacomo que 0lema, 0grito dealerta da "Nova Objetividade"- ei-Ia: DA ADVERSJDADEVIVEMOS!

    [ Noua Ob j et iu i dade Brasileira( ca ta lo g o) , R io d e J an ei ro : MAM ,1967. Republ icado em He'lio Oiticica(c at alo go ). R io d e J an eir o: C e nt ro d eArte HelioOiticica, '992.]

    7. .31