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Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 o l - nº An l n no Esperança Igreja Católica, guardiã dos Direitos Humanos O risco da dispersão no anonimato Scalabrinianas en Colombia: una luz de esperanza para los desplazados

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Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009 Ano l - nº 2 - julho/dezembro de 2009

Esperança

Igreja Católica, guardiã dos

Direitos Humanos

O risco da dispersão no anonimato

Scalabrinianas en Colombia:

una luz de esperanza para los desplazados

“Migram as sementes nas asas

dos ventos, migram as plantas de

continente a continente, levadas

pelas correntes das águas, migram

os pássaros e os animais e, mais que

todos, migra o homem, ora em

forma coletiva, ora em forma isolada,

mas sempre instrumento daquela

Providência que preside e guia os

destinos humanos, também através

de catástrofes, para a meta, que é o

aperfeiçoamento do homem sobre a

terra e a glória de Deus nos céus”.

(Scalabrini 1879)

Quem são esses? Pe. Alfredo José Gonçalves, cs

Quem são essesque chegam de fora e de longe, de outros lugares e nações,de todas partes do planeta?

Quem são essesnegros da África, brancos da Europa, índios das Américas, amarelos da Ásia, que fundiram vidas e caminhos, criaram um novo povo chamado Brasil?

Quem são essesque falam outra língua, reconhecem outra bandeira, usam outras roupas e costumes, acreditam em outro Deus?

Quem são esses diferentes e perigosos, filhos de outras terras e pátrias,estranhos e estrangeiros entre nósque despertam racismos, preconceitos e violências?

Quem são essesque invadem nossas ruas e praças,desfiguram nossas cidades e jardins,perturbam nossos lares e famílias,sujeitos a condições desumanas de trabalho e moradia?

Quem são essesde passos titubeantes e mãos vazias,rostos curiosos mas destemidos,coração e olhar fixos no horizonte,que aos milhares cruzam nossas fronteiras?

Quem são essesàs vezes sujos, feios, esfarrapados, outras vezes solitários, refugiados ou clandestinos, sem identidade, e não se cansam de lutar por chão e pão?

Quem são essesque pouco trazem além da dor e da fome,pouco querem além de sobreviver,pouco sonham além de tornar-se alguémdispostos sempre a conquistar a liberdade?

Quem são essesFirmes na resistência, fortes na esperança,teimosos na travessia, arquitetos do amanhã recriado?São migrantes, são peregrinos, em busca de um mundosem muros, sem barreiras.Lembram nossa condição de cidadãos da estrada,forasteiros da terra, a caminho da casa do Pai.

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Eu, o Senhor, te chamei para a justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

La misión Scalabriniana y la exigilibilidad

de derechos en el Ecuador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4Missionárias em Honduras - na defesa dos retornados . . . . . . . . . . . . . . 6Scalabrinianas en Colombia:

una luz de esperanza para los desplazados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

O direito dos migrantes nas sagradas escrituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Uma jovem missionária além fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14O direito de ser cidadão do mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Direitos Humanos, imigração e anistia:

uma questão de dignidade humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Educação e Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Igreja Católica, guardiã dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Amar e servir sem discriminação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

O risco da dispersão no anonimato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Você sabia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Sumário

ação Missionária

EspiritualidadE

dEcifrando as Escrituras

igrEja

forMação

juvEntudE

história dE vida

Educação

curiosidadE

capa: mundo e mãos solidárias

Revista Esperança

Publicação semestral das Irmãs Missionárias de

São Carlos Borromeo, Scalabrinianas —

Província Nossa Senhora Aparecida Outubro de 2009

Diretora ir. neusa de fátima Mariano, mscs

Superiora Provincial

Coordenação Geral ir. sandra Maria pinheiro, mscs Conselheira e Secretária Provincial

Direção de redação ir. Elizangela chaves dias, mscs

ir. Maria lélis da silva, mscs ir. rosa Maria Martins silva, mscs.

Colaboradoras ir. cristina de souza santos, mscs; ir. daugna

Maria soares, mscs; ir. Erta lemos, mscs; ir. inês facioli, mscs; ir. janete aparecida ferreira, mscs;

ir. lídia Mara silva de souza, mscs; ir. Maria isabel Montenegro Ballesteros, mscs; ir. neuza Botelho dos santos, mscs; ir. rosita Milesi, mscs; ir. sônia

delforno, mscs; ir. valdete Wilemann, mscs.

Jornalista responsável ir. Maria lélis da silva, mscs

Revisão Geral ir. sandra Maria pinheiro, mscs

ir. Blandina felippelli, mscs

Fotografias autores dos artigos — arquivo fotográfico

da província nossa senhora aparecida

Projeto Gráfico e diagramação viviane Bueno jeronimo

Impressão e acabamento Edições loyola

rua 1822, nº 347 04216-000, são paulo, sp

t 55 11 2914 1922 f 55 11 2063 4275

Tiragem 1000 exemplares

Contato província nossa senhora aparecida

praça nami jafet, 96 04205-050 - ipiranga são paulo - sp - Brasil

tel (11) 2066 2900 www.mscs.org.br

e-mail: [email protected]

Que a Declaração Universal dos Direitos Huma-nos foi uma das grandes iniciativas das Organi-zações das Nações Unidas, a ONU?

Que a ONU foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945 em São Francisco, Califórnia, por 51 países , entre eles, o Brasil, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial?

Que a Declaração dos Direitos Humanos foi chamada de “Carta Magna Universal”?

Que dentre os objetivos e princípios da ONU, estão os da manutenção da paz internacional; a defesa dos direitos humanos; o estabelecimento de relações amistosas entre as nações, com base no princípio de autodeterminação dos povos; a cooperação dos países na solução de problemas internacionais de ordem econômica, social, cultural e humanitária; e constituir-se em centro de convergência das ações dos estados na luta pelos objetivos comuns?

Que ACNUR significa Alto Comissariado das Na-ções Unidas para Refugiados, e tem sede em Gene-bra, Suíça? Que foi criado em 1950 pela Assembléia Geral das Nações Unidas com o intuito de prote-ger os refugiados e promover soluções duradouras para sanar os problemas que os rodeiam?

Que um dos objetivos da Constituição Federal Brasileira é promover o bem de todos, sem precon-ceito de raça, cor, sexo, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação e que ele rege nas suas relações internacionais por alguns princípios e dentre eles o princípio da defesa da paz, do re-púdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e da prevalência dos Direitos Humanos?

Que o Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva concedeu em 02 de julho de 2009 a anistia aos estrangeiros irregulares no Brasil e que; pode-rão requerer residência provisória os estrangeiros que, tendo ingressado no território nacional até 1º de fevereiro de 2009, nele se encontrem em si-tuação migratória irregular?

Que a Cáritas é uma organização sem fins lucra-tivos da Igreja Católica com atuação mundial em diversos projetos sociais e que atua internacio-nalmente junto a ONU, e é grande defensora dos direitos dos Refugiados?

Que o Instituto de Migrações e Direitos Hu-manos (IMDH), com sede em Brasília, DF, é uma associação sem fins lucrativos, fundado em 1999, e tem por missão atuar no reconhe-cimento da cidadania, na assistência social e jurídica, na defesa de direitos, buscando a pro-moção e integração dos migrantes e refugiados na sociedade?

Que a Associação Internacional Scalabriniana a serviço dos Migrantes (AISSMI), com sede so-cial em Bruxelas, Bélgica, nasceu do resultado de um intenso trabalho das Irmãs Missionárias Scalabrinianas, que sentiram a necessidade de criar uma organização não Governamental – ONG; e esta tem como principal objetivo a promoção e organização de iniciativas a favor dos migrantes e dos refugiados, com particular atenção às ações ligadas à defesa dos direitos humanos e da justiça social, em situações e em regiões de escassos recursos econômicos e de desenvolvimento?

Você sabia?

curiosidadE

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Ir. Neusa de Fátima Mariano, mscsSuperiora Provincial

Caros LeitoresMais uma vez a Revista Esperança está em suas mãos! Tenho a alegria de apresentar-

lhes esta segunda edição que aborda o tema Direitos Humanos e Migração, tema este de grande abrangência e interesse de todos que valorizam e lutam em prol da vida e da dignidade humana, e na certeza de que “nossa missão, para que os povos tenham vida nEle, manifesta nossa convicção de que o sentido, a fecundidade e a dignidade da vida humana se encon-tra no Deus vivo revelado em Jesus” (DA 389).

Falar em Direitos Humanos e Migração significa abordar a questão dos excluídos da nossa sociedade. Vivemos numa sociedade global onde as pessoas, cada vez mais, se deslocam por se sentirem excluídas dos benefícios e recursos disponíveis que, em princípio, deveriam ser accessíveis a todos. A vulnerabilidade dos migrantes determina a necessidade de proteção e assistência às pessoas que migram como resultado direto desse complexo de causas.

Nesta edição, você encontrará uma riqueza de elementos e oportunas indicações, motivadas por ricas reflexões à luz da fé e do atual contexto social, que visam contribuir no processo de reflexão e aprofundamento do tema em questão. Os artigos, relatos, en-trevistas e testemunhos contidos neste número da revista, demonstram a ação missio-nária e evangelizadora das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas, procurando incidir, proteger, salvar a vida e a dignidade do migrante ameaçado pela corrupção, engano e injustiças. Ao mesmo tempo, também revelam a possibilidade de uma história de vida a ser conquistada nas vias da migração, anunciando que Deus caminha com o seu povo migrante, não o abandona, mas renova a promessa de paz, vida e salvação.

Desejo-lhes que ao lerem estas páginas, sintam-se motivados a colaborarem na cons-trução de uma nova sociedade, marcada pela solidariedade, justiça e o respeito aos di-reitos humanos; e a consolidar a percepção segundo a qual os Direitos Humanos se realizam na coletividade, nos relacionamentos sociais, no estabelecimento de vínculos que respeitam e valorizam a diversidade, em favor de uma cultura universal dos Direi-tos Humanos, na perspectiva daquela “civilização do amor”, cuja semente Deus colocou em todo o povo e cultura.

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Uma experiência diferenciada.A migração é um fenômeno permanente na histó-

ria humana. Desde a formação do povo de Deus, no Antigo Testamento, ela foi vivida como uma expe-riência de fé e entendida como uma convocação de Deus, pois é Ele quem chama Abrão e pede: “sai da tua terra...” (Gn 12,1).

Confiante na palavra do Senhor, “Abrão partiu...” (Gn 12,4). Toda sua vida foi um contínuo peregrinar vivi-do na esperança e com-paixão.

Seu testemunho é um convite a com-preender esta experiência, não como fatalidade, mas como vocação para a construção de um mundo novo.

Este modo de entender a migração advém do fato de que Deus mesmo estabelece uma Aliança com o seu povo e é ela que diferencia o povo de Israel dos demais povos. A presença constante de Deus, sob diferentes formas, em meio ao povo de Israel, denota o forte vínculo que caracterizava esta Aliança, de ambas as partes.

Como conseqüência, o pensar e o agir do povo, co-

erente com esta experiência, refletia os verdadeiros

valores humanos e revelava a dignidade com a qual

era revestido.

Esta forma de viver a vida era fonte de unidade e

paz, mesmo diante dos conflitos pro-

vocados pela vida em sociedade e em

relação a outros povos. A referência

à Aliança e a Deus como o justo (Dt

32,4), oferecia inspiração, visão e hori-

zontes amplos, permitindo permanen-

te discernimento sobre a concepção do

ser humano e sobre a vida em socieda-

de, já que todos, diante de Deus são su-

jeitos de direito e como tal devem ser

considerados e respeitados.

O distanciamento desta visão da pessoa como ser cria-

do por Deus à sua “imagem e semelhança” (Gn 1,27) en-

fraqueceu também a relação entre as pessoas e os povos

trazendo, como conseqüência, a necessidade da criação

de normas que regulassem estas mesmas relações, tanto

a nível interno, quanto a nível internacional.

Confiante na palavra do Senhor, “Abrão partiu...” (Gn 12,4).

Toda sua vida foi um contínuo

peregrinar vivido na esperança e com-paixão.

“Eu, o Senhor, te chamei para a justiça” (Is 42,6) ©

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espiritualidade

A Igreja e os Direitos humanosA Igreja, como mãe e mestra, sempre promoveu, con-

tribuiu e contribui para que os direitos humanos sejam promovidos e respeitados por todos os povos, em todo o mundo.

A respeito do tema em foco, descobrimos que “Direito” é entendido não apenas como “normas e tratados”, mas como uma realidade viva inte-gral, que serve de parâmetro e marco nas relações sociais, que se fundamentam no mesmo princípio da Aliança com Deus, ratificado pela Sua Palavra: “Portanto, já não sois estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e moradores da casa de Deus; casa que tem como alicerce os apóstolos e os profetas e como pedra angular, o próprio Jesus Cristo” (Ef 2, 19-20).

Para ela, todos os seres humanos devem ser reco-nhecidos como pessoa, em sua dignidade e direitos, promovidos e respeitados em toda parte, inclusive o direito à inserção em uma pátria ou, em uma co-munidade política.

Mesmo quando estes direitos não sejam respeita-dos em determinada nação, eles existem, por serem “inalienáveis” à própria condição humana: “Deve-se respeitar integralmente também o direito de cada pessoa de conservar ou mudar sua residência dentro dos limites do próprio país, ainda mais, é necessário que seja lícito, quando justos motivos o aconselham, migrar a outros pa-íses e nele fixar seu domicilio. O fato de pertencer, como cidadão, a uma determinada comunidade política não impede, de modo algum, ser membro da família humana e cidadão da sociedade e convivência universal, comum a todos os seres humanos” (PT, 25).

Além disso, no seu “Direito próprio”, a Igreja, como fiel depositária da sabedoria divina, conserva e promove o patrimônio espiritual e ritual de todos os povos. Ela sempre tem demonstrado a observân-cia desta norma em sua atividade missionária, con-siderando-a como a estrela polar do seu apostolado universal. Além da compreensão e respeito pelos valores espirituais e rituais de cada povo, é propos-to aos agentes de pastoral da Mobilidade Humana, torná-los fecundos através do vivo e vital anúncio do Evangelho de Cristo.

Carisma Scalabriniano e Direito dos MigrantesMovido pela força do Espírito Santo, o Bispo Scalabri-

ni buscou garantir a presença da Igreja no acompanha-mento aos Migrantes através dos agentes de pastoral, mas também insistia em palavras e solicitações, legisla-ção e proteção aos migrantes. Pedia tanto uma lei em fa-vor dos emigrantes quanto uma instituição que pudesse prover “as necessidades espirituais e materiais de todas aquelas pessoas forçadas a abandonar seu lugar de ori-gem e atravessar o Oceano”. Acompanhava com muita atenção a atividade legislativa, convicto de que todo es-forço e iniciativa seriam inúteis se não houvesse leis que preservassem os emigrantes de toda forma de especula-ção e garantisse o direito a uma emigração tutelada.

Sempre enraizado na doutrina da Igreja afirma-va: impedir a migração é transgredir “um sagrado direito humano”.

O mesmo zelo apostólico levou seus missionários, particularmente o Pe. José Marchetti a buscar junto ao cônsul e aos governos locais tal reconhecimento da pessoa do migrante, como cidadão de uma “nova pá-tria”, para que seus direitos fossem respeitados.

Hoje, a luta de quem procura manter vivo na histó-ria o “carisma scalabriniano” é para que os migrantes tenham direito à livre mobilidade, ao trabalho digno, à segurança, melhores condições de vida e seja pro-tagonista do seu próprio crescimento, com direito à educação, saúde, moradia digna, possa expressar sua fé, conviver com sua família e comunidade.

No acompanhamento aos movimentos migratórios atuais, verifica-se que na fidelidade aos princípios pas-torais e sociais da Igreja e da família Scalabriniana, os direitos dos migrantes são promovidos e tutelados. Esta ação pastoral encontra respaldo na recente encíclica do papa Bento XVI “Caritas in veritate”, onde os direitos humanos são concebidos como caridade que exige jus-tiça: “A caridade exige a justiça: o reconhecimento e o respeito dos legítimos direitos dos indivíduos e dos povos, pois a ‘cidade do homem’ não se move apenas por relações feitas de direitos e deveres, mas antes e, sobretudo, por relações de gratuidade, mi-sericórdia e comunhão. A caridade manifesta sempre, mesmo nas relações humanas, o amor de Deus; dá valor teologal salví-fico a todo o empenho de justiça no mundo” (CinV, 6).

Ir. Sônia Delforno, mscs Centro Scalabriniano de Espiritualidade, Jundiaí - SP

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Con la tarea de animar la Pastoral de la Movilidad Humana (PMH) en la Iglesia Ecuatoriana, las Her-manas Scalabrinianas, desde 1992, promueven la vi-vencia de los valores evangélicos de la solidaridad y la justicia a través de la acogida y la hospitalidad con los migrantes y refugiados, trabajando por su integración a la vida eclesial y social en el respeto de su identidad cultural y religiosa, incidiendo en todos los espacios para un cambio de actitudes y estructuras que hagan presente el reino de Dios.

Es éste el espíritu que mueve y que hace que la práctica sea integral, teniendo en cuenta los diferentes servicios que demandan las necesidades de los migran-tes y refugiados, y facilitan la coordinación y el dialogo con las organizaciones de la sociedad civil y gobierno.

En un mundo donde crecen las barreras para la li-bre circulación de los seres humanos, la intolerancia y la xenofobia, los servicios de acogida en el Ecuador contemplan la información sobre los derechos de los migrantes y refugiados, promueven una autentica so-lidaridad nacional y defienden sus derechos de todo atropello con acciones concretas, denuncian las viola-ciones e implementan acciones de incidencia política

a nivel local y nacional. Todo ello, bajo el enfoque de la hospitalidad ecuménica que haga de la casa-mun-do una casa para todos.

Las Hermanas Scalabrinianas han optado por acompañar a estos hombres y mujeres con la dispo-sición de caminar junto a ellos en la escucha, respe-tando su identidad, facilitando herramientas para su integración y su desarrollo como personas.

La misión Scalabriniana ha logrado incluir la Pasto-ral de la Movilidad Humana en 19 de las 23 Jurisdic-ciones Eclesiásticas, a nivel nacional, con equipos mul-tidisciplinarios que dan respuesta a las necesidades sociales y espirituales de las personas que se encuen-tran en movilidad, a través de una intervención inte-gral y sistémica que incluye a las personas en movili-dad, su familias y el entorno social. Sin contar con los

procesos de aten-ción pastoral bi-nacional promo-vidos y abiertos con Colombia y Perú, respectiva-mente.

La misión Scalabriniana y la exigilibilidad de derechos en el Ecuador

…He tenido hambre y me habéis dado

de comer, he tenido sed y me habéis

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ação missionária

En el último año, 16.330 personas fue-ron atendidas directa-mente en lo jurídico, psicológico y acompa-ñamiento social, dan-do respuestas claras en contra de las violacio-nes de derechos huma-nos por la condición migratoria de las per-sonas. Esas se traducen en detenciones arbitra-rias, prohibición de ac-

ceso al trabajo, educación y salud, secuelas psicoló-gicas de persecuciones, discriminación y xenofobia, falta de acceso a servicios básicos e inclusive, la falta de reconocimiento a un nombre y nacionalidad.

Una de las iniciativas de la Pastoral de la Movili-dad Humana, para contribuir a la integración so-cial sin discriminación, es apoyar a varios planteles educativos en la construcción de los denominados “códigos de conviven-cia”, basada en la impor-tancia de favorecer una cultura de paz entre ni-ños, niñas y adolescen-tes y toda la comunidad educativa, sin importar nacionalidad o con-dición migratoria. En este marco más de 6.000 personas han in-gresado a este proceso y 5.405 personas capa-citadas en derechos de los migrantes y refugiados (comunidad, población en movilidad y autoridades).

La propuesta para políticas públicas, es otro ele-mento relevante en este caminar. A través de redes sociales y sus propuestas, se ha conseguido incluir 58 artículos que hablan de movilidad humana en la nueva Constitución Política, Ordenanzas Municipa-

les de protección al migrante y refugiado y mejora-miento de la educación, Acuerdos Ministeriales para el acceso y permanencia a la educación, inserción del Ministerio de Inclusión Social y del Instituto Na-cional de la Familia en la temática, adopción de la Semana de la Movilidad Humana en las instancias gubernamentales y no gubernamentales, planes de acción sociedad civil-gobierno con influencia local y nacional, redes regionales de sociedad civil para debate y propuesta, entre otras.

La misión Scalabriniana en el Ecuador, es un fac-tor importante para ayudar a la Iglesia a descubrir los rostros de aquellos con los que Cristo ha querido identificarse: «He tenido hambre y me habéis dado de comer, he tenido sed y me habéis dado de beber; fui forastero y me habéis hospedado; desnudo y me habéis vestido, enfermo y me habéis visitado, encar-celado y habéis venido a verme» (MT 25,35-36).

El proceso de confluir la interculturalidad y la co-munión es largo, lento y doloroso, pues no está exen-to de conflictos y de cruz. Este proceso, no se puede pensar y menos vivir desde la afirmación de supe-

rioridad de la propia cultura o desde los criterios heredados. Exige culti-var la apertura, la escu-cha, el reconocimiento, la aceptación mutua, la conversión, la purifi-cación y, también -¿por qué no?-, la celebración de los valores del otro. Es preciso individualizar las heridas causadas por fac-tores históricos, raciales, sociales, económicos,… y, eventualmente, por expe-riencias personales para

poderlas sanar y establecer unas relaciones positi-vas. Ese es el carisma, siempre presente en la comu-nidad Scalabriniana en el Ecuador y el mundo.

Hna Janete Aparecida Ferreira, mscsQuito, Equador

“códigos de conviven-cia”, basada en la impor-tancia de favorecer una

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los migrantes y refugiados (comunidad, población

rioridad de la propia cultura o desde los criterios heredados. Exige cultivar la apertura, la escucha, el reconocimiento, la aceptación mutua, la conversión, la purificación y, también -¿por qué no?-, la celebración de los valores del otro. Es preciso individualizar las heridas causadas por factores históricos, raciales, sociales, económicos,… y, eventualmente, por experiencias personales para

Es éste el espíritu que mueve y que

hace que la práctica sea integral, teniendo

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Missionárias em Honduras – na defesa

dos retornados

“Felizes os que respeitam o direito e praticam a justiça em todo tempo” (Sl 105,3)

O antigo ditado já nos dá uma lição moral valiosa para os dias de hoje: “o pior cego é aquele que não quer ver”, no sentido de que não dá para não enxer-gar que talvez nunca na história da humanidade, como hoje, o ser humano sentiu tamanha necessi-dade de deixar o seu habitat, desfazer os laços que o ajudaram a construir uma vida em sociedade e a civilizar-se, tudo por um único e necessário sonho: a sobrevivência.

E não dá para negar também as causas e as conseqüências dessa saí-da. Pode-se trazer aqui como exem-plo o país de Honduras onde as Ir-mãs Missionárias Scalabrianianas realizam um trabalho profético em prol dos expatriados, dos deporta-dos, dos excluídos. O que tem cau-sado a saída dos hondurenhos do seu país são fatores que vem de tem-pos longínquos, mas pode-se acenar

entre eles a situação de pobreza crônica na qual vivem 40% dos sete milhões de habitantes daquela cidade; e o desmatamento em prol da agricultura que veio a degradar terrívelmente o meio ambiente. Como con-seqüências pode-se ver de perto a discriminação pela qual passam os milhares de emigrantes que vão aos EUA, a deportação dos mesmos, a baixo auto-estima, a depressão, a humilhação, o desânimo, as vidas ceifa-das no trajeto das viagens, a exploração sexual e tan-tas outras tragédias.

Presença das Irmãs MSCS em HondurasPorque as Irmãs Missionárias Sca-

labrinianas realizam este trabalho, ora dito profético, na cidade de Hon-duras? Em primeiro lugar porque ouviram o chamado de Deus para levar a Boa Nova da salvação a todos os povos, de todas as nações, raças e línguas e deram uma resposta gene-rosa deixando, também, elas as suas raízes, para anunciar a esperança de um novo mundo, proposto por Jesus.

A Irmã Scalabriniana, ao se colocar ao lado dos retornados, dos

desplazados, já descobriu e

entendeu que o rosto de Jesus

se concretiza no rosto

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ação missionária

Mas não é só por isso. A Irmã Scalabrinia-na, ao se colocar ao lado dos retornados, dos desplazados, já descobriu e entendeu que o rosto de Jesus se concretiza no rosto do estrangeiro, e o encontro com Ele se dá através desse encontro de solidarieda-de, de luta pela dignidade da pessoa.

Jesus mesmo afirmou: “Bendito é você, porque eu era estrangeiro, migrante e você me acolheu”. Aliás, a responsabili-dade ética passa por essa transversal: o caminho ético não pode ser outro senão o da capacidade de abertura ao diferente, para formar uma verdadeira sociedade; não é outro senão o caminho do encon-tro, do respeito e da admiração por aquele que nos provoca e ajuda a entender que a identidade só se afirma e cresce na aceita-ção e no respeito ético pelo rosto do outro.

Na certeza de que é essa responsabilidade ética que nos leva à salvação e à estruturação de uma sociedade de iguais na diferença, é que as Irmãs abraçam tantas missões onde o fluxo de migrações, tanto quanto o fluxo da indiferença, da invisibilidade se fazem imenso, como no caso de Honduras.

De maneira concreta, elas atendem os re-tornados hondurenhos com um carinho es-pecial, - no Centro de Atenção ao Migrante Retornado (CAMR) - pois todo ser humano e cada um em particular, merecem um espe-cial carinho e atenção. Com afinco as Irmãs lutam dia-a-dia, gastam seu tempo e suas energias, se consomem em defesa dos direi-tos humanos com programas destinados a oferecer assistência humanitária, a forma-ção e a promoção de todos os hondurenhos que são deportados dos Estados Unidos, com o objetivo de apoiá-los no processo de reinserção sócio-econômico em Honduras.

Ir. Valdete Wilemann, mscsTegucigalpa, Honduras

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desde 1948; época desde la cual, se ha venido agu-dizando el conflicto armado y el uso de estrategias de guerras, violatorias del Derecho Internacional Humanitario. Estas, continúan siendo el factor nu-mero uno, en las causas del desplazamiento forzado de la población civil. El desplazamiento trae con-sigo la violación sistemática de todos los derechos fundamentales de las personas, sin importar su condición social, cultural y religiosa. Niños, niñas, adolescentes, adultos, ancianos son relegados a un estado de vulnerabilidad, lesionando sus derechos, complicando su presente y haciendo más incierto su futuro.

Una luz de esperanza para un pueblo su-mergido en la desesperanza.La Iglesia particular de Colombia, atenta a los sig-

nos de los tiempos, acoge la invitación del Papa Juan XXIII, en la Encíclica “Pacem in terris”; de concretizar la ardua labor de una acción pastoral con un enfoque en Derechos Humanos. Concretamente en 1987 invita a la Congregación de las Hermanas Misioneras de San Carlos Borromeo, Scalabrinianas para impulsar una

La encíclica “Pacem in terris”, del papa Giovanni XXIII en la introducción recuerda que: “La paz en la tierra,

anhelo profundo de todo ser humano y de todos los tiempos, sólo

será instaurada y consolidada en el pleno respeto de sus derechos

fundamentales como Orden establecido por Dios”.La ONU entiende por desplazado “toda persona o gru-

po de personas que se han visto forzadas a huir de su lugar de

residencia habitual, como resultado de efectos de un conflicto

armado, de situaciones de violencia generalizada, de violaciones

de los derechos humanos, de catástrofes naturales, y que no han

cruzado una frontera estatal internacionalmente reconocida».La realidad de desplazamiento en Colombia data

Scalabrinianas en Colombia:

una luz de esperanza para los desplazados

“Un día, sin quererlo, todo tuve que dejarlo para defender la vida que Dios me ha regalado. Junto con mi familia,

llegamos sin pensarlo a una enorme ciudad, que hermosa la miramos. Penetramos

en ella y fuimos confirmando que había mucha gente, pero solos estábamos”

(Testimonio de Ligia Londoño, desplazada que se capacita en el CEPCA).

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ação missionária

labor misericordiosa en favor de las personas y familias en movilidad, espe-cialmente los migrantes en situación de desplazamiento forzado, con el fin de contribuir a su dignificación, resti-tución de sus derechos fundamentales y la reconstrucción del tejido social.

La integralidad de la labor pastoral, se concreta en el diseño de una planeación institucional funda-mentada en la perspectiva del goce efectivo de los derechos fundamentales de las personas en situa-ción de desplazamiento forzado. Desde ésta óptica, se han desarrollado estrategias de intervención con las que se pretende crear las condiciones necesarias para que se hagan efectivos sus derechos. Funda-mentadas en la espiritualidad del Buen Samaritano, se les brinda acogida, orientación psicosocial y es-piritual, ayuda humanitaria y capacitación técnica para la vida productiva.

Frutos de una acción misericordiosa a favor de los más pequeñosAtentas al clamor de Dios a través de las personas

desplazadas y con el afán de dar respuestas concre-tas, las Hermanas Misioneras Sca-labrinianas, han venido dirigiendo y coordinando ac-ciones con la Igle-sia particular; sien-do luz de esperanza para el pueblo co-lombiano.

Fruto de la acción Pastoral de la Mo-vilidad Humana en la Arquidiócesis, es la creación en el año de 2002 de la Fundación de Atención al Migrante – FAMIG. Actualmente, la organización cuenta con cinco centros de aten-ción en Bogotá: el Centro de Atención al Migrante – CAMIG; el Centro de Pastoral y de Capacitación

– CEPCA; la Oficina de Atención al Migrante en la Terminal de Trans-portes; la Capilla del Aeropuerto y la Central de Abastecimiento Alimen-tar de Bogotá, llamada “Corabastos”. Los objetivos de estos centros se di-rigen al ofrecimiento de procesos

integrales que van desde el apoyo humanitario de emergencia hasta la búsqueda de la estabilización socio-económico, emocional y espiritual de la po-blación en movilidad.

Los dos primeros centros: CAMIG y CEPCA, concen-tran la mayor parte de los programas con el enfoque de la restitución de los derechos humanos básicos.

El Centro de Atención al Migrante – CAMIG - lidera los programas de asistencia y ayuda humanitaria de emergencia (albergue, alimentos, ropa) y acompaña-miento psicosocial para población desplazada, recién llegada a la ciudad.

El Centro de Pastoral y de Capacitación - CEPCA, lidera los programas de capacitación laboral, generación de ingresos, acompañamiento psicosocial y espiritual. El objetivo del proyecto es que, las familias logren la re-

construcción de su plan de vida en los aspectos económicos, sociales y espirituales. La estra-tegia central es el ofrecimiento de procesos de capacitación técnica laboral a personas en situación de desplazamiento, para que aprendan un arte u oficio que les permitan vincu-larse a la vida productiva en la ciudad.

desplazadas y con el afán de dar respuestas concre

Fruto de la acción -

vilidad Humana en la Arquidiócesis, es

construcción de su plan de vida en los aspectos económicos, sociales y espirituales. La estra-tegia central es el ofrecimiento de procesos de capacitación técnica laboral a personas en situación de desplazamiento, para que aprendan un arte u oficio que les permitan vincu-larse a la vida productiva en la ciudad. ciudad. ciudad.

La iniciativa de atención, comprende

el goce de derechos que son transversales

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La iniciativa de atención, comprende el goce de derechos que son transversales en todas las etapas de acompañamiento de la pobla-ción; como el derecho a la infor-mación, a la educación, al trabajo, a servicios de seguridad alimenta-ría, atención psicológica, orienta-ción social y asesoría espiritual, y por consiguiente a una vida digna, que les permitan la recuperación de su estabilidad emocional y su capacidad de reconocerse como se-res trascendentales.

En lo concerniente al goce efectivo de los derechos, el CEPCA dentro de la estrategia psico-social planteada, comprende el desarrollo de un taller de formación en ciudadanía, cuyo objetivo es informar y orientar a los beneficia-rios en el conocimiento de la legislación que los ampara, así como en la adquisición de he-rramientas prácticas y mecanismos de exigi-bilidad. Igualmente, contempla la realiza-ción de un taller de formación en la re-construcción del plan de vida en la ciudad.

A través del acompañamiento psicosocial se da la for-mación para la defensa de sus derechos, el ofrecimien-to de oportunidades de capacitación laboral y el fo-mento de proyectos productivos que propendan por el logro de su auto sostenimiento.

La educación en situación de emergencia es consi-derada como uno de los pilares de la asistencia huma-nitaria, junto a la provisión de alimentos, acogida y tratamiento médico. Esta mantiene viva la esperanza de los desplazados de que es posible un futuro para ellos y para sus hijos, contribuye también en el fo-mento de la paz, de la justicia y de la reconciliación. Es una fuerza de integración que no solo da estabilidad social, sino que también les ayuda a aprender, a hacer y a desarrollarse personal y comunitariamente.

No obstante, la labor del FAMIG sea centrada en la perspectiva de la restitución de los derechos, también tiene hoy en día, el reto de generar cierta incidencia en las propuestas de política públi-ca ya existentes, que permitan la ge-neración de cambios sustanciales en materia de estabilidad social, laboral y económica, facilitando el mejora-miento significativo de la calidad de vida de estas familias.

Toda esta labor desarrollada por las Hermanas Misioneras Scalabrinianas, en Colombia, cuenta con la colaboración directa de un amplio gru-po de voluntariado, de los Laicos Misioneros Scalabri-nianos - LMS, y un excelente equipo de profesionales

y personas de buena vo-luntad que, sensibles a la realidad y con una mi-rada de fe, trabajan en el rescate de la dignidad de las personas que doloro-samente, han tenido que dejarlo todo por salvar sus vidas.

Ir. Maria Isabel Montenegro Ballesteros, mscs

Bogotá, Colombia

y orientar a los beneficia-rios en el conocimiento de la legislación que los ampara, así como en

-rramientas prácticas y

nianos - LMS, y un excelente equipo de profesionalesy personas de buena vo-luntad que, sensibles a la realidad y con una mi-rada de fe, trabajan en el rescate de la dignidad de las personas que doloro-samente, han tenido que dejarlo todo por salvar sus vidas.

Montenegro Ballesteros, mscs

La iniciativa de atención, comprende el goce de

Es una fuerza de integración que no solo da

estabilidad social, sino que también les ayuda a aprender, a

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decifrando as escrituras

O direito dos migrantes nas sagradas escrituras

A experiência da migração e do contato com os es-trangeiros é tema central na história dos filhos de Is-rael. Na Bíblia, o estrangeiro e também o “inimigo”

podem chegar a ser considerados como ir-mãos, mas nunca como iguais, pois, as diferen-ças devem ser respeita-das e acolhidas visando a fraternidade.

As experiências de semi-nomadismo dos patriar-cas, da relação com os povos limítrofes, de exílio, de deportação e de dominação por potências estrangei-ras, confirmam que Israel viveu como estrangeiro em meio a outros povos, sendo muitas vezes, levado a viver a fé arriscando sua própria identidade cultural. Neste contexto encontramos no Antigo Testamento um estatuto do migrante, o qual traz à luz elementos indicativos da relação entre direitos humanos e mi-gração em perspectiva teológica, pois, “a terra perten-ce a Deus e sobre ela todos somos hóspedes e peregri-nos” (Lv 25,23).

A legislação bíblica se exprime numa pluralidade de

normas distribuídas em três códigos principais: Êxodo 20 – 23; Levítico 17 – 26; Deuteronômio 12 – 26. Estes códigos se diferenciam entre si pela época de redação e pela singularidade com que formulam e organizam cada prescrição. As leis que emanaram da experiência quotidiana de Israel, exprimem uma atenção especial à situação do estrangeiro. É surpreendente encontrar no espírito da lei, a ousadia de falar de “amor pelo forasteiro”, e mais ainda, é surpreendente o fato de que, em todo o Antigo Testamento, somente uma vez encontramos o mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18), onde o próximo é iden-tificado como “os filhos do teu povo”. Por outro lado, o mandamento do amor ao estrangeiro é atestado em duas passagens diferentes que, por sua excelência, me-recem ser citadas:

“Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temí-vel, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno; que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes. Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito” (Dt 10,17-19).

“A terra pertence a Deus e sobre ela todos somos hóspedes e peregrinos”

(Lv 25,23).

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bênção divina. A lei hebraica recomenda que uma parte da colheita seja deixada, como que esquecida no próprio campo, à disposição dos pobres e especial-mente dos imigrantes (Dt 24,19-22; Lv 19,10; 32,22). Isto significa que, a bênção concedida por Deus ao proprietário deve estender-se também aos pobres.

As regras do ano sabático da terra: esta medida de providência prescreve que, a cada sete anos a ter-ra repouse, produzindo frutos espontaneamente, os quais devem estar à disposição de todos, do pro-prietário e do pobre, do cidadão e do forasteiro (Ex 23,10-11; Lv 25,1-7).

Regras de distribuição das rendas: no livro do Deu-teronômio, o legislador, em nome do Deus dos po-bres, intervém com sucessivas pistas de partilha. A lei das primícias (Dt 26,1-11) no fim do código diz que os primeiros frutos da terra devem ser colocados em uma cesta e levados ao sacerdote, para que o sacerdo-te partilhe com os estrangeiros os melhores produtos da terra. Deste ponto de vista, o pobre e o imigrante não são aqueles que devem se contentar com os restos deixados nos campos, mas são servidos com os me-lhores frutos. A lei da décima, que é uma redução do produto final, recomenda que, de tudo o que for co-lhido, uma parte deve ser destinada aos pobres. Anu-almente a décima é dada aos levitas (Dt 14,22-27) e, a cada três anos, se recolhe uma décima especial desti-nada aos levitas, aos forasteiros, aos órfãos, e às viúvas (Dt 14,28-29; 26,12-13 e Tb 1,8).

A tutela Jurídica Entre as normas jurídicas em favor do imi-

grante, duas são mais relevantes: a norma sobre o trabalho e o direito do forasteiro

de ser tutelado pelo juiz (2Cr 2,18-18 e 1Re 8,41-43).

No livro do Deuteronômio, a Lei de Israel não diz nada sobre a oferta de

trabalho para os imigrantes, po-rém, este é protegido pela garan-

tia do salário: “Não oprimirás o assalariado pobre e necessitado,

seja ele teu irmão ou estrangeiro

“Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis. Como natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mes-mos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR vosso Deus.” (Lv 19,33-34)

Nestes textos o estrangeiro e migrante é equipa-rado ao cidadão. Ele é a medida com a qual se deve tratar qualquer um que se encontre em dificuldade: “Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustenta-lo-ás. Como estrangeiro e peregrino ele viverá contigo. Não receberás dele juros nem ga-nho; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão viva contigo” (Lv 25,35).

Na lei de Israel o imigrante é considerado entre as categorias de pessoas economicamente desfavore-cidas, mesmo que tenha a possibilidade de enrique-cer (Lv 25,47). A condição habitual do forasteiro é a de uma pessoa forçada a trabalhos miseravelmente remunerados.

Incluindo o imigrante entre as pessoas menos fa-vorecidas do povo hebreu, o legislador lhe dá os mes-mos direitos subjetivos, sendo assim, ele se torna um de casa. O amor ao imigrante se efetiva em um sis-tema legal brevemente tratado sob três rubricas, as quais incluem os campos econômicos, jurídicos (di-reitos do imigrado) e sociais (integração na comuni-dade civil e religiosa).

Provisão no campo econômico A lei de Israel não recomenda a esmola, pelo con-

trário, o Pentateuco pede a compaixão pelos pobres e mais necessitados, assim são três os modos com o qual o rico é convocado a ajudar o imigrante:

As regras de colheita: o pro-duto do campo é a principal e fundament al fonte de rique-za, tudo o que se colhe deve ser apreciado como

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que está na tua ter-ra e na tua cidade. No seu dia, lhe darás o seu salário, antes do pôr-do-sol, porquanto é pobre, e disso depen-de a sua vida” (Dt 24,14-15).

Com referência ao descanso, o imigrante é incluí-do na tradição do sábado, sancionado no decálogo (Ex 20,10; Dt 5,14) e recordado no código da Aliança (Ex 23,12), onde na fórmula “como você” contempla a idéia de igualdade entre pai e filho, patrão e servo, cidadão e estrangeiro, na memória do Deus criador de todos, Senhor, libertador e peregrino.

Para incluir a conduta respeitosa no relacionamen-to com os forasteiros residentes no país, o legislador apela à memória da experiência de imigrante (Ex 22,21; 23,9). Estes textos se encontram na conclusão de um parágrafo ordenado para ilustrar os princípios do correto funcionamento da instituição judiciária. Deste modo, o respeito pelos imigrantes equivale a render-lhes justiça em tribunal. Também o Deutero-nômio defende os direitos dos imigrantes (Dt 1,16-17; 24,17; 27,19). Em Levítico 19,33-34, mais uma vez é contemplado o tema da não opressão ao foras-teiro. É possível observar que as leis não apelam tanto aos sentimentos, mas aos gestos de justiça e de respeito ao forastei-ro, do mesmo modo que são exigências para o resi-dente autóctone.

A acolhida religiosaReferente à questão religiosa, em alguns

textos se encontra certa abertura e acolhida ao estrangeiro, o qual alcança a integração quando consegue inculturar-se, incorporan-do-se à comunidade, aprendendo a língua e os costumes do povo que os acolhe. Nestas condições o estrangeiro participa das festas de colheita e do sábado, adaptando-se aos ritmos de produção e de repouso, típicos de Israel (Dt 5,14; 16,11; 16,14; 29,10; 31,12; Js 8,33.35).

Desta breve passagem pela vida de Israel é possível constatar que, o migrante é memória

viva do Deus misericordioso e justo, o qual sentiu o grito do oprimido quando este ainda era forasteiro no Egito, e Deus interveio para a salvação do mesmo. Nes-tes textos, o estrangeiro é contemplado em perspectiva salvífica. A presença do estrangeiro ativa no povo de Deus a memória do evento fundamental de sua iden-tidade cultural e religiosa, convocando-o, deste modo a assumir a prática da solidariedade. Os vários povos são guardiões da terra, hóspedes da própria terra. Esta afirmação contém o sentido ontológico do ser peregri-no, pois, assim diz o Senhor: “A terra é minha; e vós sois para mim estrangeiros e peregrinos” (Lv 25, 23). Assim como os migrantes caminham sobre a terra, nós caminhamos para a plenitude da salvação.

E é visando a salvação integral do ser humano, que as Irmãs missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabri-nianas, através de sua opção preferencial pelos migran-tes mais pobres e abandonados, se colocam em cami-nho para defender os direitos humanos desta parcela do

povo de Deus disperso pelo mundo. Os migrantes são herdeiros do povo escolhido e, também prota-gonistas de uma nova história, pois eles têm a cora-gem de ultrapassar fronteiras, lutar contra sistemas opressores e negligenciadores dos direitos básicos da pessoa, marchando movidos pela sua fé, rumo a uma sociedade mais justa e fraterna, onde todos não são iguais, mas, valorizados nas suas diferenças.

Ir. Elizangela Chaves Dias, mscsSão Paulo, SP

decifrando as escrituras

… o migrante é memória viva do

Deus misericordioso e justo, o qual sentiu o grito do oprimido quando este ainda

era forasteiro no Egito, e Deus interveio para a

salvação do mesmo.

que está na tua ter-

A acolhida religiosa

textos se encontra certa abertura e acolhida ao estrangeiro, o qual alcança a integração quando consegue inculturar-se, incorporan-do-se à comunidade, aprendendo a língua e os costumes do povo que os acolhe. Nestas condições o estrangeiro participa das festas de colheita e do sábado, adaptando-se aos ritmos de produção e de repouso, típicos de Israel (Dt 5,14; 16,11; 16,14; 29,10; 31,12; Js 8,33.35).

Desta breve passagem pela vida de Israel é

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Uma jovem missionária além fronteira

É uma alegria partilhar com vocês minha experiên-cia como Religiosa e Missionária Scalabriniana. De começo, posso afirmar que desde o ventre de minha mãe, Deus me chamou e escolheu, elegeu-me para ser uma missionária Scalabriniana, a serviço dos irmãos e irmãs migrantes e refugiados.

Nasci em uma família de tradição católica pratican-te. Meus pais? Um casal alimentado e fortalecido pelo amor a Deus, que sempre sustentou suas próprias vi-das, a vida dos filhos e a relação com o próximo. Com eles aprendi que, amar é também renunciar a si mesmo, é colocar-se a serviço e, estar permanen-temente em movimento em direção de quem necessita. Foi nesse ambiente de amor e de generosidade que cresceu em meu coração o desejo de ajudar aos mais pobres.

Outro alimento para esse meu desejo foi ouvir as ex-periências missionárias de minha tia religiosa da con-gregação do Divino Salvador. Aos seis ou sete anos de idade, me escondia atrás da porta para escutar o que contava minha tia missionária quando visitava

minha família. Era sempre histórias sobre como dava catequese, socorria os doentes, cuidava das crianças e fazia campanhas para ajudar aquela gente da favela onde realizava seu apostolado. Sempre pensei: “Que bonita a vida de minha tia! Eu também gostaria de poder ajudar os pobres”.

Passados os anos, com a mesma inquietude, porém, querendo viver normalmente como as outras adoles-centes, eu continuei minha vida de estudo, trabalho,

amigos e diversão até que, numa noite inesquecível o Senhor, muito criativo, tocou o meu coração. Quando passa-va pela praça central de minha cidade, dois meninos de rua me pediram algo para comer e, por alguns minutos, parei pensativa, pois só tinha dez reais para passar toda a semana. Decidida levei-os

a uma lanchonete e lhes comprei um bom pedaço de “nega maluca”. O funcionário que nos atendeu não que-ria que os meninos ficassem dentro do estabelecimento, mas eu, muito indignada, lhe disse que os meninos fica-riam ali sim, pois, eram clientes como todos os outros e, permaneceriam ali para comer, sentados e tranqüilos.

Foi nesse ambiente de amor e de generosidade

que cresceu em meu coração o desejo de

ajudar os mais pobres.

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juventude

Confesso que durante essa noite não consegui dor-mir e fiquei pensando nos milhares e milhares de pes-soas que passavam fome e, pior, eram rejeitadas por serem pobres. Meu coração sofria essa inquietude e por um ano tentei fingir que não era nada, mas quan-do já não podia enganar-me, escrevi às Irmãs Missio-nárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas. Não sabia quase nada sobre elas, mas o mais importante eu sabia: elas trabalhavam com os pobres na favela de Santo André, em São Paulo.

Depois de várias comunicações, e um ano de acom-panhamento, ingressei na Congregação. Que experi-ência maravilhosa! Descobri que minha vocação não era só de serviço aos pobres mas, como Scalabriniana, seria de servir aos migrantes mais pobres e abandona-dos. Concluída minha formação inicial, professei os votos pela primeira vez e fui transferida para Curiti-ba. Foram três anos riquíssimos de serviço pastoral na educação cristã e colaborando para a integração dos alunos de nossa escola junto com os filhos de migrantes catadores de papel. Sim, queria que todos entendessem que, independente de onde nascemos, como falamos, quanto dinheiro temos, somos irmãos e irmãs, filhos e filhas de um único Deus que é Pai.

No final desses três anos, Deus deu-me a oportunida-de de estudar em Roma, Itália. Além dos estudos teo-lógicos, prestei serviço missionário na Comunidade de Santo Egídio atendendo a muitos irmãos e irmãs prove-nientes de todas as partes do mundo. Eram os migran-tes mais pobres e abandonados vindos da África, Ásia, América Latina e de países da antiga União Soviética. Senti muito forte em meu coração, a alegria do caris-ma Scalabriniano e de poder ser missionária para e com os migrantes. Nesta ocasião, agradeci a Deus por chamar-me e confirmar-me como Missionária de São Carlos Borromeo, Scalabriniana. Termina-da minha missão em Itália, regressei ao Brasil, fiz minha profissão perpétua consagrando-me para sempre a Deus no serviço missionário e evangélico aos irmãos e irmãs migrantes.

Fui enviada à minha nova e atual missão, como coordenadora da Pastoral da Mobilidade Humana na Arquidiocese de Tegucigalpa, Honduras. Aqui,

a cada dia sinto viva e gritante, a necessidade de estar e vi-ver com e pelos migrantes, deportados e seus familiares. Centenas de pessoas, a maioria jovens, saem todos os dias do seu país em direção aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor, na conquista “do sonho americano” e, na maioria das vezes, esse sonho termina em frustração, traumas, enfermidades e até na perda da própria vida.

Posso afirmar e testemunhar que, a mesma inquie-tude daquela noite quando encontrei os dois meninos de rua, continua viva em mim, mas agora não digo que são “clientes como todos os outros” mais sim, porque são filhos amados de Deus, como todos nós!

Deus é amor, é Pai e, por isso, temos a dignidade de filhos. Não somos qualquer coisa, somos filhos ama-dos de Deus. Mais que defender os direitos humanos que foram declarados como universais, embora mui-tos países não assinaram ou não ratificaram, creio que é necessário anunciar a todos os povos que estes são filhos amados de Deus, com uma dignidade que não necessita de mais uma declaração universal, porque o próprio dom da vida é o selo eterno, o registro da pa-ternidade divina gravada no coração humano. O direi-to à vida, e vida em abundância, é um dom divino que devemos fazer acontecer neste mundo da mobilidade humana, para que haja mais justiça e fraternidade en-tre os povos.

Que Deus nos dê a graça da convicção de seu imen-so amor e que ao transmiti-lo possamos construir, entre as fronteiras, pontes de solidariedade em vez de muros de separação.

Ir. Lídia Mara Silva de Souza, mscsTegucigalpa, Honduras

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O direito de ser cidadão do mundo

O advento da Declaração Universal dos Direitos Hu-manos -1948 - considerado o marco jurídico contempo-râneo dos direitos humanos, eleva e sustenta a dignidade da pessoa humana em âmbito individual e coletivo. Em muitos países, a lei contempla os direitos intransferíveis de todos de forma meramente jurídica, pois não assegura a toda a população uma vida justa e digna.

A atual dinâmica do capitalismo vem aprofundando o fosso das desigualdades sociais sustentadas num mode-lo econômico neoliberal e tecnológico que não leva em consideração a primazia da pessoa humana. Todos os espaços da vida humana passam a ser determinados pela força do dinheiro e pelas leis do mercado. Desta forma tornam-se invisíveis os valores intrínsecos do ser huma-no e sua dignidade.

Cada vez mais as pessoas se deslocam por estarem ex-cluídas de benefícios e recursos disponíveis que, em prin-cípio deveriam ser acessíveis a todos. O fenômeno das mi-grações torna-se visível mais e mais como fluxo de mão de obra a serviço dos interesses e exigências do mercado.

No caso dos migrantes temporários rurais, que vivem na dependência das condições de vida e trabalho nos lo-cais de origem e de destino, seus direitos são ameaçados

ou negados, pela concentração da propriedade fundiária, expansão e produção de monocultivos (cana, soja, ma-deira) com formas de trabalho degradante e exaustivo.

Colhendo testemunhosComo Irmã Missionária Scalabriniana, a serviço dos

migrantes, tive a oportunidade de vivenciar algumas ex-periências no campo das migrações junto a barrageiros em Foz de Areia - PR (1977-1978); a migrantes tempo-rários rurais no corte de cana na região de Ribeirão Pre-to - SP (1983-1995); em Botuporã, no sudoeste baiano, região de origem de migrantes temporários (1996-1999); a imigrantes brasileiros na Arquidiocese de Boston, EUA (2000-2002); a refugiados colombianos em Quito, Equa-dor (2003-2004) e, desde 2005, em Guariba – SP, com os migrantes no corte de cana.

Em todas estas experiências pastorais, pude testemu-nhar que eles vivem em situação de fragilidade, medo, insegurança e vulnerabilidade, sem o devido reconheci-mento e respeito às suas diferenças sociais e culturais. Tais situações são marcadas por sofrimentos e incertezas, mas solidificadas na coragem de poder vencer, e de avan-çar para além de suas próprias forças.

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juventude

VozeS qUe ClAMAM Por DIreItoS

Direito de permanecer “Gostaria de não ter precisão de sair de minha terra e

poder ficar sempre junto à minha família. Só venho fazer a safra porque preciso de dinheiro para o tratamento de minha filha.”

A luta pela sobrevivência “Não me pergunte de direitos e sim de necessidades,

pois de tudo o pobre tem precisão.”

Partir e viver livre de ameaças.“Antes de contar minha história, tenho

que chorar e sentir-me amparado por cau-sa desses cinco filhos pequenos que me acompanham. Minha esposa se foi com um grupo de guerrilheiros”.

resguardar a família além das fronteiras“Tenho que fazer mais uma dívida

em dólares, pagar a um coiote para tra-zer minha filha de dois anos que ficou no Brasil”.

Ampliação dos direitos“A greve dos cortadores de cana em Guariba - SP (1984)

resultou em duas conquistas significativas: o primeiro contrato coletivo de trabalho para a categoria e o fim do corte de cana de sete ruas.”

Denúncias e parcerias“Após a denúncia encaminhada pela Pastoral do Mi-

grante ao Ministério Público do Trabalho e a Platafor-ma DHESCA Brasil, sobre casos de mortes súbitas de cortadores de cana ocorridas a partir de 2004, houve intensa fiscalização no ambiente de trabalho e imple-mentação de melhorias visando a saúde e segurança dos trabalhadores.”

No Evangelho de Mateus cap. 25,31-46, Jesus se co-loca no lugar dos que têm seus direitos negados, ao di-zer: tive fome, tive sede, estava nu, era estrangeiro... A vida é digna de pequenos e grandes cuidados. O reco-nhecimento e compromisso com os direitos da pessoa

perpassam pelos fundamentos da prática da justiça que deve atingir a todos. O direito e o dever de acolher o migrante cidadão em qualquer região ou nação, superando exclu-sões, preconceitos e discriminações, ainda não estão inscritos nos fun-damentos de uma nova agenda, na qual os migrantes são considerados portadores de universalidade.

A afirmação secular do Beato João Batista Scalabrini de que “a migra-ção alarga o conceito de pátria para

além das fronteiras geográficas e políticas, fazendo do mundo a pátria de todos” confere aos migrantes e aos agentes sociais o protagonismo de novas transforma-ções nos caminhos da humanidade.

Ir. Inês Facioli, mscsGuariba, SP

juventude

Cada vez mais as pessoas se

deslocam por estarem excluídas

de benefícios e recursos disponíveis

que, em princípio deveriam ser

acessíveis a todos.

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A Política Nacional de Direitos Humanos foi esta-belecida pelo Governo brasileiro, desde a resistência ao regime autoritário nos anos 70. Esta tem se desen-volvido desde 1985, quando do retorno do governo civil e de maneira mais definida, a partir de 1995. Foi a partir de um sério aprofundamento da concepção de Direitos Humanos que estes passaram a ser política oficial do governo.

Embora não haja luta pelos direitos humanos sem contradições, revoltas e resistências o que não se pode negar é o esforço que o país vem fazendo desde o início do Brasil República para fazer valer tais direitos. Por exemplo, para que se cumprisse o Programa Nacional de Direitos Humanos, o Con-gresso aprovou medidas que protegem os direitos proclamados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU: ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado (art. 9), ninguém será sub-metido à tortura, nem a castigo cruel, desumano ou degradante (art. 5), toda pessoa tem o direito à vida, à liberdade, à segurança (art. 3).

Ao assumir esta responsabilidade, o governo brasi-leiro reconhece que é obrigação do Estado promover

e proteger os direitos humanos e os princípios da in-divisibilidade e universalidade. Segundo o Programa Nacional de Direitos Humanos:

“os direitos humanos não são, porém apenas um conjunto de

princípios morais que devem informar a organização da socieda-

de e a criação do direito. Enumerados em diversos tratados, inter-

nacionais e constituições, eles asseguram direitos aos indivíduos e

coletividades e estabelecem obrigações jurídicas concretas aos Esta-

dos. Se compõem de uma série de normas jurídicas claras e preci-

sas, voltadas a proteger os interesses mais fundamentais da pessoa

humana”. Por isso, os Direitos Humanos são os direitos de todos

e devem ser protegidos em todos os Estados e nações. “Por isso, os

assassinatos, as chacinas, o extermínio, os seqüestros, o crime or-

ganizado, o tráfico de drogas e as mortes no trânsito não podem

ser consideradas normais, especialmente em um Estado e em uma

sociedade que se desejam modernos e democráticos”.

Ou seja, em uma nação que se diz democrática e mo-derna, deverá ser incansável a luta para que todo in-divíduo, tenha o direito de viver como cidadão e seja, de fato, considerado um nativo, pois muitos homens, mulheres, jovens e crianças são marcados pelas conse-qüências da imigração e se vêem obrigados a abrigar-se em outro país.

Direitos Humanos, imigração e anistia: uma questão de dignidade humana ©

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juventude

Ao falar de Direitos Humanos no Brasil não se pode deixar de dizer que tem sido uma constante preocu-pação do governo brasileiro a situação na qual vivem os estrangeiros que aqui entram irregulares e dos bra-sileiros no exterior. Sempre, ou quase sempre seus direitos não são respeitados. São sujeitos a trabalhos escravos, sofrem sérias sanções por estarem irregula-res, são humilhados e discriminados.

Em consonância com os programas nacionais de Di-reitos Humanos, o atual Presidente do Brasil, Luís Iná-cio Lula da Silva, sancionou em 02 de julho de 2009, a lei de anistia para os estrangeiros e afirmou que não quer ser superior a ninguém, mas espera que os outros países tratem aos brasileiros no exterior, assim como os estrangeiros são acolhidos no Brasil. E acrescentou:

“Nós não estamos pedindo mais ou menos para os brasileiros que vivem no estrangeiro. Queremos apenas que sejam tratados da mesma forma como tratamos os estrangeiros aqui no Brasil: como irmãos e parceiros. A tradição brasileira de ser um país acolhedor vem de lon-ga data e a nossa cultura foi forjada nesta mistura e o Brasil gosta de ser este país misturado”

Fazendo valer a máxima constitucional do direito de ser acolhido e do cuidado com a segurança nacio-nal, o Presidente ainda afirmou que o narcotráfico e o contrabando serão combatidos, mas que os seres humanos precisam ser tratados como tais. E disse ainda: “Ninguém muda da sua terra natal porque quer. Quem decide mudar, muda para dar melhores condições de vida para si e sua família. A repressão e a intolerância contra imigrantes não resolverão os pro-blemas causados pela crise econômica mundial”.

Por isso, a anistia concedida aos 200 mil imigrantes irregulares no Brasil, lhes possibilitará gozar dos di-reitos constitucionais, exceto o de votar e ser votado. Romeo Tuma, corregedor geral do Senado, estima que os principais grupos de imigrantes presentes no país, sejam de chineses, bolivianos, paraguaios e peruanos.

O que se exalta nessa atitude do Presidente é a sua sensibilidade diante a realidade dos imigrantes, pre-missa evangélica expressa por Jesus no Evangelho de Mateus: “Eu era peregrino e você me acolheu”.

O mesmo se pode traduzir como: Eu era peregrino e você me acolheu, compreendeu e percebeu que para além da minha condição de migrante que mendiga trabalho e espaço para viver, eu sou gente, preciso ser reconhecido como gente e me basta a sua capacidade de me acolher, colocando-me sob a proteção da lei do seu país, o que significa tudo para a minha dignidade.

Para fazer valer os direitos das pessoas, é fundamental que se passe pela experiência de ter os próprios negados, para, a partir do coração e da experiência, ter a força moto-ra que leva a concretizar o bem. É o que disse o Presidente na solenidade de sanção da lei: “Sei o que é ser migrante. Nordestino, tive que me mudar para São Paulo em busca de trabalho, educação e melhor condição de vida. Nin-guém deixa a sua terra simplesmente porque quer”.

E para completar o pensamento de como o sonho de cidadania se tornou realidade para todos indiscri-minadamente, Grover Calderón, presidente da Asso-ciação Nacional de Estrangeiros e Imigrantes no Bra-sil, afirmou:

“A anistia significa ter documento de identidade, carteira de trabalho, direitos trabalhistas - trabalho de oito horas, hora extra, férias e salário maior que o mínimo vital. E, caso isso não seja cumprido, signifi-ca poder ir à Justiça. Significa também acesso a escola pública, carteira de motorista, conta bancária, CPF. Significa poder abrir uma empresa. Significa se sentir uma pessoa dentro do Brasil e, isso é tudo”!

Ou seja, lutar pelos direitos humanos é realizar o sonho do ser humano: sentir-se pessoa em qualquer parte do mundo. Repito: e isso é tudo!

Ir. Cristina de Souza Santos, mscsAparecida, SP

de oito horas, hora extra, férias e salário maior que o mínimo vital. E, caso isso não seja cumprido, signifi-ca poder ir à Justiça. Significa também acesso a escola pública, carteira de motorista, conta bancária, CPF. Significa poder abrir uma empresa. Significa se sentir uma pessoa dentro do Brasil e, isso é tudo”!

sonho do ser humano: sentir-se pessoa em qualquer parte do mundo. Repito: e isso é tudo!

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Esperança | 2º semestre de 2009 19

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Educação e Direitos Humanos

Para ilustrar a reflexão sobre o tema dos “Direitos Humanos e Educação” vou recorrer a um clássico da literatura: Frankstein. É claro que não vou ater-me nos inúmeros detalhes da obra, vou apenas extrair uns dois ou três elementos de maior importância para o momento. Só para recordar, o livro nos con-ta a trajetória de um estudante universitário, que influenciado por um de seus professores, estabelece para si o grande desafio de criar um ser com vida. A coragem, determinação e obsessão eram as prin-cipais características desse estudante, que o fez su-portar as maiores intempéries para conseguir seu ob-jetivo. O que esse jovem, durante o seu processo de criação e descobertas não percebeu, porém, é que a criatura re-sultaria num verdadeiro monstro – um humano deformado. A criatura de tão terrível que ficou, não conseguiu esta-belecer relações de convivência e, muito menos ainda, de amizade com alguma outra criatura – não digo semelhante porque não havia nada que lhe fosse semelhante. Ao sentir-se extremamente

só, a criatura reivindica de seu criador, uma compa-nhia, ameaçando-lhe importuná-lo até os últimos dias de sua existência, caso esse não atendesse ao seu pedido. A criatura se sente no direito de exigir o/a companheiro/a, porque afinal de contas, não pediu para ser criada. Resumindo, o criador, o suposto ‘se-nhor’, passa a ser o servo de sua própria criatura; não por uma decisão própria, mas como resultado da sua própria invenção.

Transpondo essa história à nossa realidade huma-na, encontro entre elas muitas semelhanças, particu-larmente, quando nos damos conta das ‘criaturas’ que

‘inventamos’ com nosso esmerado sis-tema de ensino e educação. O resultado das nossas invenções não ocupa espaço em nossos planos. E essa é a primeira pergunta que faço: porque será que nos queixamos tanto da falta de responsa-bilidade, compromisso e ética dos nos-sos jovens profissionais? Que escola eles freqüentaram? Não fomos nós os seus mestres?! Não são eles o resultado da educação que lhes oferecemos?!

… cada vez mais se busca uma

educação voltada para os direitos humanos, isto é, educar, formar

o aluno para zelar da comunidade

humana universal.

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educação

Outro dado que me marcou muito na história é o fato de a criatura não suportar ser só – ela exige uma companhia. Às vezes, ao observar o comportamento das crianças e adolescentes, tenho a impressão de que esse é também o grande drama de suas vidas – sentir-se só - até porque é anti-social ficar só publicamente. Com o recor-rente discurso de que devemos respeitar a individualida-de de cada um, estou mais propensa a crer que estamos reforçando o isolamento, que promovendo a convivên-cia e a interdependência que requer a coletividade.

Feita esta premissa, penso que já temos elementos suficientes para uma abordagem mais direta ao tema da ‘Educação e Direitos Humanos’. Inicio com uma ex-pressão do professor Antônio Carlos Fester, da USP, que afirma: “O educador em direitos humanos é aquele que,

com sua presença, desafia o outro a ser mais humano”. Antes, porém, quero compartilhar outra questão que me in-triga: a natureza do homem e da mulher não é huma-na? Porque precisamos de educação para nos tornar humanos? Pelo que me consta a ameba não recebe ne-nhum tipo de instrução para tornar-se ameba. Bom, isso talvez seja irrelevante...

Deixando de lado as interrogações, o fato é que, cada vez mais se busca uma educação voltada para os direi-tos humanos, isto é, educar, formar o aluno para ze-lar da comunidade humana universal. São muitos os decretos e leis que normatizam a forma de conviver, visando o respeito e a dignidade do ser humano, cons-tituindo assim, a fraternidade universal. Diria que essa é a dimensão política da Educação: promover a liberda-de, a igualdade e fraternidade entre os diferentes povos e culturas. O texto da Declaração Universal dos Direi-tos Humanos traduz muito bem esse pensamento. O seu artigo 13, resume as liberdades fundamentais do ser humano em “liberdade de consciência e de religião, livre

expressão de pensamentos políticos e ideológicos”. Cito esse arti-go para introduzir a proposta de educação da Rede ESI que contempla visivelmente a formação da pessoa para a cidadania universal e que ilustra a relação da educa-ção e dos direitos humanos. Tem como ponto de parti-da sua missão que consiste em “promover uma educação de

excelência na sua diversidade, formando pessoas comprometidas

com a cidadania universal, fundamentada nos valores cristãos”.

Educação de excelência traz presente a finalidade da educação no país conforme explicita a lei de Diretri-zes e Bases da Educação Nacional 9394/96, Título II art. 2º que nos recorda: “A Educação, dever da família e do

Estado, inspirado nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-

dariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento

do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho”.

Cidadania universal remonta ao grande sonho do Fundador da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas, o bem-aventu-rado João Batista Scalabrini, que idealizou o mundo como a ‘Pátria do Homem’, onde todos sejam amados, respeitados e vivam como irmãos, sem discriminação de raça, cultura e religião.

Nesta perspectiva, a acolhida, a solidariedade, a to-lerância e o respeito às diferenças, são valores que permeiam o trabalho pedagógico nas unida-des da Rede ESI, dando cumprimento as-sim aos ensinamen-tos de Jesus Cristo.

Concluindo, é desmedido o desafio que se nos impõe. A formação para a ci-dadania universal, entendida como fru-to de uma educação para os direitos hu-manos, não é ape-nas uma escolha preferencial nossa, mas uma condição imposta pela história da qual somos partícipes.

Ir. Daugna Maria Soares, mscsSanto André, SP

Nesta perspectiva, a acolhida, a solidariedade, a to-lerância e o respeito às diferenças, são valores que permeiam o trabalho pedagógico nas unida-des da Rede ESI, dando cumprimento as-sim aos ensinamen-tos de Jesus Cristo.

Concluindo, é desmedido o desafio que se nos impõe. A formação para a ci-dadania universal, entendida como fru-to de uma educação para os direitos hu-manos, não é ape-nas uma escolha preferencial nossa, mas uma condição imposta pela história da qual somos partícipes.

Ir. Daugna Maria Soares, mscsSanto André, SP

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Page 24: Esperança - Congregação MSCS · de grande abrangência e interesse de todos que valorizam e lutam em prol da vida e da dignidade humana, e na certeza de que “nossa missão, para

para doar minha vida no seguimento de jesus cristo, e acompanhar os passos do povo de deus rumo à terra prometida, como jesus que se fez peregrino nesta terra. (Erivalda de Lima Miranda, Noviça 1º ano)

para seguir a jesus cristo peregrino presente nos diversos rostos e diferentes culturas, e para fazer caminho junto do povo peregrino, porque deus continua caminhando com seu povo! (Andri Renata Vilas Bôas, Noviça 2º ano) CEntrO VOCaCIOnaL SãO CarLOS

Rua Vereador Oswaldo Elache, 71Aparecida - São PauloTel: (012) 3105 1008

e-mail: [email protected]

porque a missionária scalabriniana tem algo

de diferente, uma alegria contagiante e um

carisma sempre atual! (Lúcia A. Ferreira da Silva,

Noviça 1º ano)porque jesus me escolheu para amá-lo em cada migrante, deslocado, refugiado e em toda pessoa que encontre em meu caminho. (Jenie Patricia Acosta Pereira, Noviça 1º ano)

para doar minha vida no seguimento de jesus cristo, e acompanhar os passos do povo de deus rumo à terra prometida, como jesus que se fez peregrino nesta terra.(Erivalda de Lima Miranda, Noviça 1º ano)

para seguir a ara seguir a ara seguir a ara seguir a ara seguir a jjesus esus ccristo risto risto risto pperegrino presente eregrino presente eregrino presente eregrino presente eregrino presente eregrino presente eregrino presente eregrino presente nos diversos rostos nos diversos rostos nos diversos rostos nos diversos rostos nos diversos rostos nos diversos rostos nos diversos rostos nos diversos rostos e diferentes culturas, e diferentes culturas, e diferentes culturas, e diferentes culturas, e diferentes culturas, e diferentes culturas, e diferentes culturas, e diferentes culturas, e para fazer caminho e para fazer caminho e para fazer caminho e para fazer caminho e para fazer caminho e para fazer caminho e para fazer caminho junto do povo peregrino, junto do povo peregrino, junto do povo peregrino, junto do povo peregrino, junto do povo peregrino, porque porque porque deus continua eus continua eus continua

porque orque orque jesus esus esus me escolheu para amá-lo me escolheu para amá-lo me escolheu para amá-lo me escolheu para amá-lo me escolheu para amá-lo

Um mundo sem fronteiras !

Um mundo sem

fronteiras!

Por que abraç

ar esse so

nho…

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para doar minha vida no seguimento de jesus cristo, e acompanhar os passos do povo de deus rumo à terra prometida, como jesus que se fez peregrino nesta terra. (Erivalda de Lima Miranda, Noviça 1º ano)

porque vi na realidade dos migrantes cortadores

de cana a presença de jesus que chama para

fazer algo por esta causa (Juliana Roberta Rodrigues,

Noviça 1º ano)

Abrace esse s nho!

porque a missionária scalabriniana tem algo

de diferente, uma alegria contagiante e um

carisma sempre atual! (Lúcia A. Ferreira da Silva,

Noviça 1º ano)

este foi o sonho de jesus: um mundo sem fronteiras onde o ser humano possa ser respeitado em seus direitos, e onde a sua dignidade possa ser preservada. mundo sem fronteiras é o mesmo que um mundo onde todos possam ir e vir livremente, como cidadãos do mundo, de uma única pátria, sem preconceito, sem discriminação, sem a violação dos seus direitos. foi ele quem disse: “vinde a mim, pois eu era migrante e você me acolheu” (mt25, 35). as irmãs missionárias de são carlos Borromeo-scalabrinianas lhe convida a abraçar esse sonho de jesus, de reconhecê-lo na pessoa do migrante, do refugiado, do sofredor, do estrangeiro em busca de uma vida digna. abrace esse sonho... seja feliz e faça o mundo mais humano!

AAbbbbbAbAAbAbrbbrbbrbbrb aaaab abb abb abbrb abrbbrb abrbbrb abrb ccccacaacaaca eeececceccec eeeeessssseseeseese sssssssssssss ee ss nnnhhhhhnhnnhnhohhohhohhoh !!h !hh !hh !hh !hhoh !hohhoh !hohhoh !hohhoh !hoh

porque a missionária issionária scalabriniana tem algo calabriniana tem algo

de diferente, uma alegria de diferente, uma alegria contagiante e um contagiante e um

carisma sempre atual! carisma sempre atual! (Lúcia A. Ferreira da Silva, (Lúcia A. Ferreira da Silva,

Noviça 1º ano)Noviça 1º ano) porque vi na realidade

Um mundo sem fronteiras !

para estar próxima dos migrantes, sendo uma

presença amiga e fazendo-os sentir que eles são tão

importantes e possuidores dos mesmos valores e direitos

como todas pessoas. (Mariza Roberta Ruas,

Noviça 1º ano)

Um mundo sem

fronteiras!

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A Igreja é guardiã dos Direitos Humanos, pois se alimenta da Sagrada Escritura que diz: “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele os criou, homem e mulher ele os criou” (Gn 1,27). E ain-da: “E o fizeste pouco menos do que um deus...” (Sl 8,6). Por isso acompanha, defende, promulga, ensina e exorta a todo o povo de Deus a lembrar sempre que todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai, chamados a amarmos uns aos outros, como Cristo nos amou, respeitando cada um o direito do outro.

A Igreja e a História dos Direitos HumanosA Igreja, Mãe e Mestra de humanidade,

sempre ensinou o respeito à vida, pois en-tende que este é o grande e principal direi-to humano. No seu esforço de encarnar o jeito de Jesus sempre esteve atenta aos si-nais dos tempos para, com sua doutrina, iluminar os caminhos do homem na bus-ca de sua plenitude. Com suas reflexões e ensinamentos ajudou as Nações, pouco a pouco, a se organizarem e promoverem o bem comum, especialmente dos mais ne-

cessitados (cf. CA 44-48). A Igreja colaborou também na organização dos direitos e deveres do cidadão (cf. PT 9).

Na evolução histórica dos direitos humanos, primei-ro se falou de direitos naturais, posteriormente de di-reitos humanos a partir da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e finalmente de direitos fundamentais desde o processo constitucionalista, isto é, desde quando estes direitos vão se incorporando às constituições dos Estados, especialmente na segunda metade do século XX. A Declaração Universal dos di-reitos humanos de 1948 é eclética, e utiliza indistinta-mente os termos direitos naturais e direitos humanos.

Algumas teorias iusnaturalistas afir-mam que os direitos humanos funda-mentam-se na ordem moral natural, tal e como deriva de determinados preceitos religiosos. Consideram que a conduta moral é um conjunto de pres-crições objetivamente válidas e apelam a textos como a Bíblia ou Alcorão. A Doutrina Social da Igreja Católica, na idade contemporânea, retomou as idéias dos Padres da Igreja e Tomás de

Igreja

a Igreja, Mãe e Mestra de

humanidade, sempre ensinou o respeito à vida,

pois entende que este é o

grande e pincipal direito humano.

Católica, guardiã dos Direitos Humanos

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igreja

Aquino e proclamou os direitos humanos de acordo com a visão cristã. Chegar ao realmente humano é uma das críticas principais de João Paulo II em sua encíclica Humanae vitae.

João Batista Scalabrini, Fundador e Pai dos Migran-tes, iniciou o trabalho específico de cuidado com os direitos das pessoas em situação de migração mais ou menos a meados do século XVIII, trabalhando junto com o Papa Leão XIII na custódia dos direitos dos trabalhadores menos favorecidos. Com o passar dos anos a Igreja foi entendendo cada vez mais a necessi-dade de trabalhar para que os direitos dos seres hu-manos fossem respeitados, defendidos e reconhecidos por todas as nações. No dia 10 de dezembro de 1948, as Nações Unidas aprovaram a eclética “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e, em 1990, a Con-venção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias cujo objetivo principal é proteger os trabalhadores migrantes da exploração e da violação dos seus direitos. Os primeiros países a ratificarem esta Convenção foram os países expulsores, países de emigração que até o momento são trinta e sete.

Alguns elementos que alicerçam a defesa dos direi-tos humanos

O Catecismo da Igreja Católica utilizando os textos da Constituição apostólica Gaudium et spes 29, da Ins-trução Donum vitae 22 e da Encíclica Centesimus annus

49, coloca as bases que sustentam todo o trabalho que vem realizando na formação de cristãos cada vez mais conscientes de que a ética e a moral cristã têm mui-to que contribuir na defesa dos direitos do homem e no esforço de fazer respeitar os Direitos Humanos. A igualdade entre os homens deriva-se essencialmente de sua dignidade pessoal e dos direitos que dela ema-nam (CIC n. 1935). Tem-se que superar e eliminar, como contrária ao plano de Deus, toda forma de dis-criminação nos diretos fundamentais da Pessoa, seja social ou cultural, por motivos de sexo, raça, cor, con-dição social, língua ou religião (GS 29,2).

“A vida humana é sagrada, porque desde seu início comporta a ação criadora de Deus e permanece sempre numa especial relação com o Criador, seu único fim”

(DV 22). “Cristo está presente desde sempre com suas obras que oferecem ao homem necessitado um apoio material que não o humilhe nem o reduza a ser unicamente obje-to de assistência... promovendo a dignidade da pessoa” (CA 49).

O Papa João XXIII, em sua encíclica Pacem in ter-ris ensina que os direitos e e deveres do homem precedem os di-reitos do Estado que por sua vez deve reconhecê-los e tutelá-los. Ensina tam-bém que “Todo homem é pessoa, isto é, natu-reza dotada de inteligência e liberdade, e que, por-tanto, o homem tem, por si mesmo, direitos e deveres...” (PT 9). “O racismo é um obstáculo à colaboração... com menosprezo dos direitos imprescindíveis da pessoa hu-mana, indivíduos e famílias” (PT 63).

A Igreja é incansável na defesa da vida plena

A Igreja Católica marca presença permanente na As-sembléia das Nações Unidas para garantir, no que de-pende dela, o respeito aos direitos fundamentais do ser humano, filho de Deus por participação e pelos méritos de Jesus Cristo. Este compromisso contemporâneo da Igreja com o reconhecimento cultural e moral, pré-po-lítico, dos direitos humanos, teórico e prático, e de sua resposta filosófico-teológica à grande e atual questão de seus fundamentos doutrinais tem encontrado no Ma-gistério e nas orientações pastorais do Papa Bento XVI um novo e extraordinário momento de iluminação inte-lectual e de sua compreensão e práxis nas atuais e críticas circunstâncias do momento presente da humanidade.

Podemos concluir que desde sempre a Igreja esteve do lado da pessoa humana por reconhecê-la de filiação di-vina. Mesmo em temas delicados como bioética, bioge-nética e planejamento familiar entre outros, ela se man-tém firme no propósito de defender a vida e de trabalhar para que toda vida alcance a plenitude, porque assim entende a Vontade de Deus a respeito da humanidade.

Ir. Erta Lemos, mscsBogotá, Colômbia

(DV 22). “Cristo está presente desde sempre com suas obras que oferecem ao homem necessitado um apoio

deveres do homem precedem os direitos do Estado que por sua vez deve reconhecê-los e tutelá-los. Ensina também que “Todo homem é pessoa, isto é, natu

(DV 22). “Cristo está presente desde sempre com suas obras que oferecem ao homem necessitado um apoio

e deveres do homem precedem os di-reitos do Estado que por sua vez deve reconhecê-los e tutelá-los. Ensina tam-bém que “Todo homem é pessoa, isto é, natu- © arquivo PNSA

Esperança | 2º semestre de 2009 25

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ção de Bispos, de Religiosos, de magistrados, dos pobres, de prisioneiros, de crianças, de mulheres indefesas, atu-ando em Seminários em âmbito nacional e internacio-nal, escrevendo documentos e mais documentos sobre migrações e direitos humanos, e ainda encontra tempo para visitar suas co-irmãs de Congregação de maneira fra-terna e solidária? Que força que a leva a trabalhar horas a fio, “varando a noite” preocupada em responder, não aos problemas conseqüentes da migração, mas a cada ser humano migrante em particular que se lhe achega, a fim de dar-lhe respostas eficientes e eficazes que o recobra ao menos, por algum momento a dignidade de ser gente?

Pergunto: o que fundamenta sua ação tão humana e comprometida ?

Talvez, na escuta atenta da Palavra de Deus, e pala-vra especificamente dita do Evangelho às Missionárias e Missionários Scalabrinianos: “Eu era migrante e você me acolheu”. A partir da descoberta que Deus não está lá encima, mas aqui embaixo em meio às alegrias e às mazelas humanas. Talvez porque tenha descoberto que, quanto mais humana se torne, mais se diviniza, e o céu se torna realidade tanto para si quanto para aqueles que Deus lhe concedeu a graça e a oportunidade de encon-trá-los em seu caminho.

Gosto da Editoria “Testemunho” a qual se encaixa muito bem no final da revista. Talvez não tenha sido proposital, mas providencial pela força de atração que tem um testemunho; longe de ser pura elucubração mental de quem o escreve, ele é um fato, porque com-provável, constatável e constatado na vida cotidiana do sujeito em questão.

Do artigo sobre Ir. Romilda ressoou, a partir da fala de leitores, a eficácia do testemunho de uma vida vivi-da no exercício de amar gratuitamente. Deo gratias!

São vários os testemunhos que enobrecem a vida da Congregação. Ir. Rosita é um deles. Eu a conheci assim: cabelos branquíssimos, lindos; jovem, estatura pequena, mas de um coração extenso. A largueza da sua capacidade de servir, a disponibilidade em atender pronta e rapida-mente a qualquer pessoa, de qualquer classe, raça ou reli-gião, a bondade expressa na acolhida a quem a procura e a pressa em resolver os problemas de quem a ela se ache-ga para buscar qualquer ajuda, é algo indescritível.

Quando as pessoas dizem que a admiram, ela, tão se-nhora de si, responde com um sorriso apenas, como que a dizer que a autenticidade de vida se adquire com muito esforço e resposta que se dá positivamente a cada dia com um ato de fé e de gratidão a quem lhe concedeu o dom de amar e servir incondicional e indiscriminadamente.

Às vezes, me pego perguntando junto aos meus botões: Que força é essa que recebe Ir. Rosita para estar à disposi-

amar e servir sem discriminação

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Esperança: Por que ser missionária scalabriniana hoje, a serviço dos migrantes?

Ir. Rosita: O chamado é de Deus. A resposta é nossa. Podemos não aceitá-lo, mas seguindo-o a felicidade é maior, a vida fica plena de sentido, a alegria interior se torna uma energia. Vivo-o assim. É nesta dimensão que encontro sentido em ser missionária scalabrinia-na para os migrantes. Creio que Mons. Scalabrini, Pe. Marchetti e Madre Assunta, além de responderem ao clamor que se erguia do sofrimento dos migrantes do século XIX, previam a continuidade das migrações ao longo dos tempos e deixaram aberto, para quem qui-sesse abraçar esta causa, um espaço precioso de missão. Sinto-me feliz por ser uma minúscula presença a servir nesta imensa seara do mundo da mobilidade humana.

É com alegria também que lhes digo, amigo e ami-ga, que não se privem de ter a oportunidade de dedicar algo de si para esta causa humanitária e social – são 200 milhões de migrantes no mundo, dos quais mais de 30 milhões de refugiados, deslocados, retornados ou apá-tridas. Sua e nossa colaboração se dá em pequenas ati-tudes em favor desta população que se move no mundo em busca de algo que sua terra de origem não lhes as-segura. E como contribuir nesta missão é simples: dar emprego ou trabalho a um migrante ou refugiado, aco-lher uma criança na Escola, acompanhar um/a doente, defender uma causa, acompanhar um processo admi-nistrativo para que o migrante consiga seus documen-tos, oferecer aulas de português, acolher uma família na comunidade, indicar-lhe o acesso à escola, à igreja, aos serviços comunitários, ajudá-la no conhecimento dos costumes culturais e sociais, introduzi-la na comuni-dade local, defender um projeto de lei ou a adoção de uma política pública que contemple os migrantes em sua especificidade, possibilitar-lhes capacitação profis-sional e introduzi-los no mercado de trabalho. Gostei muito da frase que se tornou praticamente o lema do 12º Encontro Intereclesial de Porto Velho, em julho de 2009: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lu-gares pouco importantes consegue mudanças extraor-dinárias” (Dom Moacir Grecchi).

Esperança: O que mais te encanta no serviço de defesa dos direitos dos migrantes?

história de vida

Ir.Rosita: Ver pessoas ressurgindo das cinzas; ver mu-lheres e homens acreditando que, mesmo após perde-rem tudo, serem perseguidos, expatriados, violados, é possível reconstruir o caminho; estar com refugiados e refugiadas que, forçados a deixar uma vida abastada e tranqüila em seus países, são capazes de recomeçar a construção de um “ranchinho” com as próprias mãos, tijolo após tijolo, trabalhando nos finais de semana, até recompor o lar familiar; ajudar a quem deseja sair da clandestinidade, apoiar e defender o processo de quem espera confiante, há anos, a decisão do seu pe-dido de documentos; responder à confiança de quem entrega sua causa, acreditando que Deus age por meio de nós; aprender com a fé de quem, convictamente, me diz “Deus vai me ajudar”, “sei que Deus não me aban-dona”, “recomeço com fé porque Jesus está comigo”. Encanta-me também ver as conquistas que a união das nossas forças sociais consagra: a constituição da Rede Solidária para Migrantes e Refugiados, hoje presente em quase todos os Estados da Federação; a assistência pastoral que tantas Irmãs e voluntários/as dispensam aos migrantes e refugiados; o resultado positivo em per-centual superior a 85% dos mais de 20 mil processos que já defendemos em nossa ação; a aprovação de leis – Lei de Refugiados, Lei de Anistia, ratificação da Convenção contra a Apatrídia, Emenda Constitucional 54/07, Re-soluções e Decretos – para as quais tivemos a oportuni-dade de contribuir; motivar e orientar estudantes – são dezenas - a assumirem esta causa e por ela lutarem.

Esperança: O que significa para você lutar pelos direitos hu-manos e especificamente pelos direitos dos migrantes?

Ir. Rosita: O ser humano deve ser o centro e o protago-nista de própria história. Embora isto possa parecer uma frase de efeito, quando reflito sobre o seu significado pro-fundo e intrínseco, encontro, sempre com novos matizes e encantos, a razão de lutar pelos direitos humanos. De nada adianta eu dar ao outro algo de meu, se antes não lhe dou aquilo que lhe compete por justiça e caridade. Bento XVI nos ensina que a caridade não existe sem justi-ça, conceituando, neste sentido, justiça como “o reconhe-cimento e o respeito dos legítimos direitos dos indivíduos e dos povos” (6). Neste contexto, ao lutar pelos direitos humanos dos migrantes e dos refugiados, vejo-me como

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alguém que deseja, modestamente, mas com toda a alma e coração, expressar com atos e atitudes o amor que Jesus nos ensinou pelos últimos, os excluídos, os que so-frem, entre os quais o Documento de Aparecida situa os migrantes, os refugiados, os encarcerados, as viti-mas do tráfico de pessoas.

São tantos os sofrimentos, tama-nha é a angústia pela qual passam, principalmente, os indocumenta-

dos, os “estrangeiros”, aqueles que são sempre os primeiros prejudicados

ante qualquer momento de crise, que lutar por eles e por leis e práticas mais justas em seu favor, é, para mim, viver o amor de verdade, embora só con-siga fazê-lo tão precariamente, no limite de minhas fraquezas e debilidades.

Esperança: Neste trabalho, como defensora dos direitos dos migrantes e dos refugiados, que fato mais a comoveu?

Ir. Rosita: Confesso que tenho dificuldade de citar um fato, pois muitos me impressionaram, fizeram-me chorar, deram-me alegrias, marcaram minha vida. Cuidar de uma criança – Gabriel - nascida e criada por trás das grades de uma cadeia... Socorrer e aju-dar a recuperar a esperança a alguém – Johan - que se cortou os pulsos porque já não encontrava forças para suportar o peso da “solitária” da cadeia e não via um sinal de luz para seu futuro... Ver uma imigrante – Izabel – com lágrimas nos olhos, dizendo, emocio-nada, “Irmã, estou feliz”, “Irmã, tenho documentos”, “Agora posso ir visitar minhas crianças que não vejo há 5 anos”... São alguns milhares de casos e processos que mudaram a história de vida de imigrantes e refu-giados, processos que Deus, a Polícia e os amigos, a quem agradeço, colocaram em minhas mãos.

Mas, deste universo, desejo destacar uma família refu-giada: Gerardo (39), Estela (37) e Gisela (17). Perseguidos em seu país, atormentados por terrorismo emocional de seus perseguidores, deixaram o país, caminhando pela selva, andando de barco, pedindo carona... 17 dias de ca-minho, levando apenas alguns pertences. Exaustos, che-gam à periferia de Brasília e o pai começa logo a trabalhar,

evidentemente, sem documentos. Após um mês de duro trabalho, auxiliar de pedreiro (profissão que nunca havia exercido, pois era professor em seu país) quando espera finalmente receber o parco, mas merecido pagamento, é simplesmente enxotado, “porque és um clandestino” foi a única explicação. Já sem forças físicas por falta de comi-da, dormindo sob marquises, e por vergonha de “pedir”, o pai praticamente se entrega ao esgotamento físico e emo-cional. A filha toma a iniciativa de buscar algum apoio e chega ao IMDH. Pedi que chamasse o pai. Resistente, pois sentia vergonha das condições em que se encontrava, veio e simplesmente chorou, pediu desculpas e desmaiou. Foi socorrido, alimentado, animado a “recomeçar”. O apoio do convênio do ACNUR, as campanhas junto às pessoas amigas, o esforço da filha que passou a treinar crianças na patinação no parque da cidade, a obtenção da Carteira de Trabalho e, finalmente, a inclusão na política de emprego mereceu-lhe uma vaga como educador em artes para jo-vens em conflito com a lei... Tudo contribuiu e a família reelaborou sua trajetória, construiu a própria casa (traba-lhando em fins de semana), a filha fundou, com nosso apoio jurídico, emocional e material, a ‘Associação Ja-guar’, uma escola de patinação para crianças e jovens, que hoje faz sucesso nacional (Obs.: os nomes são sempre fictícios).

Esperança: Para você, que direitos os migrantes tem e precisam ser destacados em nossa sociedade e nosso fazer missionário?

Ir. Rosita: Partimos do princípio de que todo migrante e refugiado são membros da família humana e como tal devem ter protegidos e respeitados os direitos que lhe as-segurem a vida e os correspondentes direitos humanos, sociais, econômicos e culturais. Para maior precisão, es-pecifico, sinteticamente, alguns: - os direitos e liberdades proclamados na Declaração Universal de Direitos Hu-manos, sem distinção de etnia, cor, sexo, idioma, religião, opinião política, ou de qualquer outra natureza. - não ser discriminado devido à condição política ou jurídica do país ou território do qual o migrante ou refugiado sejam nacionais. – direito de mover-se e eleger livremente o lugar onde viver no país que os acolhe; - solicitar informações das autoridades e receber resposta sobre os trâmites relati-vos a documentos e outras questões pertinentes; - buscar e receber informações e apoio dos Consulados e Embai-xadas de seu país; - Trabalhar em qualquer atividade legal, de acordo com a legislação vigente no país em que vive;

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É comum encontrar elencos e mesmo convenções e leis que indicam formalmente os direitos dos mi-grantes e dos refugiados. O desafio maior, contudo, é traduzi-los, respeitá-los e vivê-los na prática do dia a dia: no gesto concreto de acolher o pedinte de sotaque estrangeiro que bate à nossa porta; na generosidade de “gastar” horas a escutar uma história dramática que um refugiado insiste em repetir; no balcão de atendi-mento para mudar o conceito do funcionário que rea-ge dizendo que “estrangeiro pobre deveria voltar para casa”; na paciência de explicar tantas vezes quanto necessário para que o imigrante consiga compreender nossa linguagem; na luta persistente contra a burocra-cia para conseguir a inclusão do migrante em políticas públicas que o discriminam porque é estrangeiro; na criatividade e abertura necessárias para ajudar migran-tes, refugiados e nacionais a construírem um patamar de convivência entre culturas diferentes; no desafio de acolher na fé e na diversidade aqueles e aquelas que professam diferentes crenças ou confissões religiosas; no exercício comum de acolher e acompanhar uma criança na sala de aula que não sabe que o Brasil é um país ou que no Brasil fala-se português;

Esperança: Os comentários a seu respeito são de que você é uma mulher religiosa batalhadora, acolhedora, feliz, disponí-vel, aberta aos pobres, aos ricos, a todas as classes e nações, to-dos os migrantes, os pobres, os magistrados, os desfavorecidos se achegam a você com muita facilidade e encontram em você uma casa sempre aberta. Minha pergunta: qual é o segredo para ser assim? Qual a chave que se usa para se abrir de ma-neira tão natural e espontânea aos seres humanos para dar-

lhes um pouco de dignidade? Que dicas você daria?Ir. Rosita: Ficamos fortes diante das si-

tuações quando não as negamos. Assim, aceitar uma crítica e refletir sobre ela, re-nunciar a um trabalho porque outros o exigem mesmo que tal serviço seja parte

de nossa convicção missionária, ouvir po-sição discordante e incorporá-la para

mudar nosso con-vencimento, persis-

tir na missão mes-mo quando quem

nos circunda ainda

não a compreendeu, começar, dar o primeiro passo num caminho que ainda precisa ser construído... tantas opor-tunidades a Vida Religiosa nos oferece, tantas sementes lançamos, terrenos de fé e vigor as acolheram, e quan-do olhamos para trás, as flores da beira do caminho apontam a generosidade da graça, a misericórdia do Se-nhor, a bondade dos irmãos e irmãs, a fertilidade que brota, gratuitamente, do seio da missão.

É preciso ter firmes pontos de referência – tanto espi-rituais quanto humanos. Deus é o primeiro e central. Mas, enquanto humanos, frágeis e limitados, o exemplo e a mão amiga de Irmãs, de orientadores, de familiares, de pessoas que sofrem, fazem muita diferença. Seria um tanto simplista dizer que só a oração é garantia de fideli-dade, de correspondência à vocação, de realização plena e feliz. Igualmente, não me vejo capaz de ser testemunho e de perseverar na opção que fiz há mais de 45 anos, sem a conjugação da oração e dos apoios humanos, tão ge-nerosos em minha vida. Muitos temporais me haveriam derrubado se em tais circunstâncias se eu não conseguis-se rezar, reafirmar a fé... acreditar na força que Deus sem-pre faz chegar, através de generosas intervenções e me-diações humanas. Pensar no amanhã e nas pessoas que esperam nosso apoio e nossa ação para superar a dor ou a injustiça que as esmaga, dá-nos uma força imensurá-vel, capaz de superar qualquer “pedra no caminho”, e de compreender quanto são passageiros os efeitos das con-tradições humanas...

Tenho profunda convicção de que manter a simpli-cidade, a imparcialidade e a caridade, não obstante falharmos inúmeras vezes, no tratamento de cada um e cada uma, grandes e pequenos, é caminho que nos ajuda a acolher com o mesmo amor e as mesmas ati-tudes, homens e mulheres, crianças e adultos, súditos e senhores, com especial atenção “aos abandonados, aos órfãos, (...) aos explorados em terra estrangeira”, para usar as palavras do Mártir da Caridade – Pe. José Marchetti - que viveu, muito antes de nós, a missão de acompanhar os milhares de migrantes, para amenizar-lhes o sofrimento e os contratempos da incômoda tra-vessia, prestar-lhes assistência espiritual e libertá-los das ‘garras’ dos agenciadores no local de destino.

Ir. Rosa Maria Martins Silva, mscs e Ir. Rosita Milesi, mscsBrasília, DF

Ir. Rosita: Ficamos fortes diante das situações quando não as negamos. Assim, aceitar uma crítica e refletir sobre ela, renunciar a um trabalho porque outros o exigem mesmo que tal serviço seja parte

de nossa convicção missionária, ouvir posição discordante e incorporá-la para

mudar nosso convencimento, persis

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Nos versos acima, inspirados pelas sábias palavras de Jesus no “sermão da montanha” (Mt 5,1-10), o au-tor toma o texto das bem-aventuranças na perspectiva do caminhante, introduzindo-nos assim, na dinâmi-ca surpreendente do Reino de Deus que vai sendo edificado a partir das experiências vividas pelo povo peregrino que caminha alimentados pela fé e a espe-rança, confiantes na presença de um Deus também peregrino, que caminha à sua frente.

O texto escrito numa linguagem poética, poesia sa-piencial, usada com freqüência nos salmos, “são enun-ciados de valor, não mandamentos (como o decálogo do Sinai), revela uma ‘felicidade’ humana paradoxal, que vincula promessa de bens excelentes a exigências extraordinárias” (Bíblia do Peregrino, Mt 5,12), nos oferecendo uma bela narrativa da experiência huma-na, mescla de realidade e utopia, carregada de belezas e desafios expressos nas pegadas do caminhante que cruza as fronteiras em busca de trabalho e vida digna.

Ao tratar do desenvolvimento integral do ser hu-mano, o papa Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritas, no número 62 destacou o fenômeno das migrações, como um fenômeno impressionante pela quantidade de pessoas envolvidas, pelas pro-blemáticas sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas que levanta, pelos desafios dramáticos que coloca à comunidade nacional e internacional. A esse elenco podemos acrescentar os efeitos psicoló-gicos que frequentemente comprometem a saúde fí-sica e mental dos imigrantes, perguntando-nos sobre as nefastas conseqüências sofridas por eles, de modo especial quando não são respeitados nos seus direitos humanos, sociais e religiosos.

O risco da dispersão no anonimato

“Bem-aventurados os caminhantes de todos os caminhos, porque com lágrimas,

suor e trabalho de suas mãos, preparam um amanhã

recriado pela justiça e o direito.Bem-aventurados os que abrem a porta

aos peregrinos, fazendo da solidariedade o passaporte da Pátria universal,

porque estão construindo uma nova cidadania”

(Gonçalves, A., Bem Aventuranças do migrante).©

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Muitas vezes simplesmente pelo fato de cruzar a fronteira de sua pátria sem os documentos exigidos pelo país de chegada, os mi-grantes são alvo de maus tratos, re-jeição e perseguição, explorações e abusos de toda natureza. O primeiro verso do poema acima ilustra bem essa realidade quan-do proclama bem-aventurados “os caminhantes de todos os ca-minhos”, porque “com lágrimas, suor e trabalho de suas mãos, prepa-ram um amanhã recriado pela justiça e o direito”.

Sabemos que cada fronteira tem suas próprias características e estão plenas de riscos e perigos para quem decide enfrentá-las. Estes são feitos de desertos, selvas, oceanos e mares, poli-ciais armados e outros... Porém uma das experiên cias que parece ser mais ameaçadora para os migrantes é aquela de perder a saúde física ou mental, pois quando se enferma já não se pode trabalhar e isto, seria o fracasso do projeto migratório.

O psiquiatra Joseba Achotegui, fundador e diretor do Serviço de Atenção Psicopatológica e Psicossocial a Imigrantes e Refugiados do Hospital São Pedro Claver de Barcelona, Espanha, delimitou os estres-sores e lutos dos migrantes em situação extrema. O autor afirma: “a pessoa começa a ter uma série de sintomas e as forças para seguir lutando começam a falhar. O migrante padece neste caso uma série de sintomas que têm efeito incapacitante. Se vê assim imerso em um círculo vicioso. Como ressalta Z. Do-minic (2004) para estas

pessoas, a saúde é um de seus recursos básicos e, neste momento, começam a perdê-la”.

O papa João Paulo II também fala da experiência de solidão vivida

pelo migrante e suas possíveis conseqüências. Recorda que “a mobilidade comporta sempre um desenraizamento do am-biente originário, que se traduz mesmo numa experiência de

acentuada solidão, com o risco de uma dispersão no anonimato”.

Na sua teoria, Achotegui evidencia os aspectos acima ressaltados pelo

Papa João Paulo II e para entender me-lhor o sofrimento do migrante em situ-

ação extrema, o relaciona com a vivência do “luto”. Ele considera que estes lutos acontecem em maior ou menor grau em todos os processos migratórios, porém observou que não é a mesma coisa vivê-los em boas condições que em situações extremas. Por isso fez uma diferenciação desde a perspectiva da dificuldade do migrante na elaboração do luto, e, portanto na sua poten-cialidade psicopatógena. Achotegui destaca três tipos de luto:

Um luto simples: en-tendido como aquele que se dá em boas condições e que pode ser elabora-do. Por exemplo, quando emigra um adulto jovem que não deixa atrás nem filhos pequenos, nem pai enfermos e pode visitar os familiares.

Um luto complicado: quando existem sérias di-ficuldades para serem elaboradas. Neste caso um exemplo sería uma pessoa que emigra deixando fi-lhos pequenos e pais enfermos, porém, é possível regressar, trazê-los...

Sabemos que cada fronteira

tem suas próprias características e

estão plenas de riscos e perigos para quem decide enfrentá-las. Estes são feitos de

desertos, selvas, oceanos e mares, policiais armados

e outros...

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minic (2004) para estas do. Por exemplo, quando emigra um adulto jovem que não deixa atrás nem filhos pequenos, nem pai enfermos e pode visitar os familiares.

ficuldades para serem elaboradas. Neste caso um exemplo sería uma pessoa que emigra deixando filhos pequenos e pais enfermos, porém, é possível regressar, trazê-los...

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formação

Um luto extremo: é tão problemático que não é elaborável, dado que supera as capa-cidades de adapta-ção do sujeito. Este sería o luto próprio da Síndrome do Mi-grante com Estresse Crônico e Múltiplo, denominado por Eduardo Martínez como Síndrome de Ulisses. Este se dá quando se emigra

deixando para trás a família, es-pecialmente quando ficam no país de origem filhos pequenos e pais enfermos, porém não há possibilida-de de trazê-los nem de regressar para estar com eles, nem de ajudá-los. Nesse caso a dor que o imigrante sente é imensa e seu dilema não tem solução.

Para González Calvo, o processo de luto começa a transmutar a dor quando se integram as perdas atra-vés de mecanismos de reorganização interna. Este processo de reorganização interna não se resolveria somente com um bom emprego e uma situação legal estável, mas sim quando o indivíduo começa a exami-nar sua experiência e reduz seus sofrimentos confron-tando-se com as próprias conquistas, de uma maneira realista e resiliente.

Estes estudos nos ajudam a entender melhor o so-frimento do migrante, e a partir desta compreensão,

podemos buscar novas

Um luto extremo:

problemático que não é elaborável, dado que supera as capa-cidades de adapta-ção do sujeito. Este sería o luto próprio da Síndrome do Mi-grante com Estresse Crônico e Múltiplo, denominado por Eduardo Martínez

deixando para trás a família, es-

formas de incidir politicamente nas comunidades ou países de acolhida a fim de gerar leis e políticas migratórias mais humanas e justas, onde o migrante possa gozar de seus direitos e assumir com respon-sabilidade seus deveres, sendo reconhecido na sua dignidade de filho e filha de Deus, pois Cristo conti-nua a nos repetir ainda hoje: “Bem-aventurados os que abrem a porta aos peregrinos, fazendo da soli-dariedade o passaporte da Pátria universal, porque estão construindo uma nova cidadania”.

Como vimos, a elaboração do luto é um processo exigente e complicado. Tomar consciência dessa reali-dade faz uma grande diferença para nós, Irmãs Missio-nárias Scalabrinianas que recebemos de Deus o dom de um carisma de acolhida, solidariedade e compaixão

para com o migran-te. Com nosso fun-dador, o bem aven-turado Scalabrini e nossos co-fundado-res Madre Assunta e Pe. José Marchetti aprendemos que no migrante está o Se-nhor. Por isso, bus-camos através do serviço evangélico e missionário oferecer-lhe nossa acolhida e apreço, somando

forças com a Igreja e a sociedade a fim de assegurar-lhe o atendimento de suas necessidades mais vitais.

Penso ainda que diante dos “lutos” vividos pelo mi-grante seria oportuno perguntarmo-nos: o que nós, como cristãos e cristãs, podemos fazer pelo migrante que passa por tais experiências, de modo a ajudá-lo na superação do estresse, amenizando assim sua dor e seu sofrimento? Como podemos ser presença amorosa de um Deus Peregrino que ama, acolhe e acompanha seus filhos e filhas nas encruzilhadas da história?

Ir. Neuza Botelho dos Santos, mscsSão Paulo, SP

… simplesmente pelo fato de cruzar

a fronteira de sua pátria sem os

documentos exigidos pelo país de chegada, os migrantes são alvo

de maus tratos, rejeição e perseguição, explorações e abusos

de toda natureza

podemos buscar novas

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Eu, o Senhor, te chamei para a justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

La misión Scalabriniana y la exigilibilidad

de derechos en el Ecuador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4Missionárias em Honduras - na defesa dos retornados . . . . . . . . . . . . . . 6Scalabrinianas en Colombia:

una luz de esperanza para los desplazados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

O direito dos migrantes nas sagradas escrituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Uma jovem missionária além fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14O direito de ser cidadão do mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Direitos Humanos, imigração e anistia:

uma questão de dignidade humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Educação e Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Igreja Católica, guardiã dos Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Amar e servir sem discriminação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

O risco da dispersão no anonimato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Você sabia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Sumário

ação Missionária

EspiritualidadE

dEcifrando as Escrituras

igrEja

forMação

juvEntudE

história dE vida

Educação

curiosidadE

capa: mundo e mãos solidárias

Revista Esperança

Publicação semestral das Irmãs Missionárias de

São Carlos Borromeo, Scalabrinianas —

Província Nossa Senhora Aparecida Outubro de 2009

Diretora ir. neusa de fátima Mariano, mscs

Superiora Provincial

Coordenação Geral ir. sandra Maria pinheiro, mscs Conselheira e Secretária Provincial

Direção de redação ir. Elizangela chaves dias, mscs

ir. Maria lélis da silva, mscs ir. rosa Maria Martins silva, mscs.

Colaboradoras ir. cristina de souza santos, mscs; ir. daugna

Maria soares, mscs; ir. Erta lemos, mscs; ir. inês facioli, mscs; ir. janete aparecida ferreira, mscs;

ir. lídia Mara silva de souza, mscs; ir. Maria isabel Montenegro Ballesteros, mscs; ir. neuza Botelho dos santos, mscs; ir. rosita Milesi, mscs; ir. sônia

delforno, mscs; ir. valdete Wilemann, mscs.

Jornalista responsável ir. Maria lélis da silva, mscs

Revisão Geral ir. sandra Maria pinheiro, mscs

ir. Blandina felippelli, mscs

Fotografias autores dos artigos — arquivo fotográfico

da província nossa senhora aparecida

Projeto Gráfico e diagramação viviane Bueno jeronimo

Impressão e acabamento Edições loyola

rua 1822, nº 347 04216-000, são paulo, sp

t 55 11 2914 1922 f 55 11 2063 4275

Tiragem 1000 exemplares

Contato província nossa senhora aparecida

praça nami jafet, 96 04205-050 - ipiranga são paulo - sp - Brasil

tel (11) 2066 2900 www.mscs.org.br

e-mail: [email protected]

Que a Declaração Universal dos Direitos Huma-nos foi uma das grandes iniciativas das Organi-zações das Nações Unidas, a ONU?

Que a ONU foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945 em São Francisco, Califórnia, por 51 países , entre eles, o Brasil, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial?

Que a Declaração dos Direitos Humanos foi chamada de “Carta Magna Universal”?

Que dentre os objetivos e princípios da ONU, estão os da manutenção da paz internacional; a defesa dos direitos humanos; o estabelecimento de relações amistosas entre as nações, com base no princípio de autodeterminação dos povos; a cooperação dos países na solução de problemas internacionais de ordem econômica, social, cultural e humanitária; e constituir-se em centro de convergência das ações dos estados na luta pelos objetivos comuns?

Que ACNUR significa Alto Comissariado das Na-ções Unidas para Refugiados, e tem sede em Gene-bra, Suíça? Que foi criado em 1950 pela Assembléia Geral das Nações Unidas com o intuito de prote-ger os refugiados e promover soluções duradouras para sanar os problemas que os rodeiam?

Que um dos objetivos da Constituição Federal Brasileira é promover o bem de todos, sem precon-ceito de raça, cor, sexo, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação e que ele rege nas suas relações internacionais por alguns princípios e dentre eles o princípio da defesa da paz, do re-púdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e da prevalência dos Direitos Humanos?

Que o Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva concedeu em 02 de julho de 2009 a anistia aos estrangeiros irregulares no Brasil e que; pode-rão requerer residência provisória os estrangeiros que, tendo ingressado no território nacional até 1º de fevereiro de 2009, nele se encontrem em si-tuação migratória irregular?

Que a Cáritas é uma organização sem fins lucra-tivos da Igreja Católica com atuação mundial em diversos projetos sociais e que atua internacio-nalmente junto a ONU, e é grande defensora dos direitos dos Refugiados?

Que o Instituto de Migrações e Direitos Hu-manos (IMDH), com sede em Brasília, DF, é uma associação sem fins lucrativos, fundado em 1999, e tem por missão atuar no reconhe-cimento da cidadania, na assistência social e jurídica, na defesa de direitos, buscando a pro-moção e integração dos migrantes e refugiados na sociedade?

Que a Associação Internacional Scalabriniana a serviço dos Migrantes (AISSMI), com sede so-cial em Bruxelas, Bélgica, nasceu do resultado de um intenso trabalho das Irmãs Missionárias Scalabrinianas, que sentiram a necessidade de criar uma organização não Governamental – ONG; e esta tem como principal objetivo a promoção e organização de iniciativas a favor dos migrantes e dos refugiados, com particular atenção às ações ligadas à defesa dos direitos humanos e da justiça social, em situações e em regiões de escassos recursos econômicos e de desenvolvimento?

Você sabia?

Que a ONU foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945 em São Francisco, Califórnia, por 51 países , entre eles, o Brasil, logo após o fim

Que o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com sede em Brasília, DF, é uma associação sem fins lucrativos, fundado em 1999, e tem por missão atuar no reconhe

atenção às ações ligadas à defesa dos direitos humanos e da justiça social, em situações e em regiões de escassos recursos econômicos e de

Que dentre os objetivos e princípios da ONU, estão os da manutenção da paz internacional; a defesa dos direitos humanos; o estabelecimento de relações amistosas entre as nações, com base no princípio

suas relações internacionais por alguns princípios e dentre eles o princípio da defesa da paz, do repúdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e

outras formas de discriminação e que ele rege nas suas relações internacionais por alguns princípios e dentre eles o princípio da defesa da paz, do repúdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e

Que o Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva concedeu em 02 de julho de 2009 a anistia

Que o Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva concedeu em 02 de julho de 2009 a anistia aos estrangeiros irregulares no Brasil e que; pode-rão requerer residência provisória os estrangeiros que, tendo ingressado no território nacional até 1º de fevereiro de 2009, nele se encontrem em si-

curiosidadE

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Esperança

Igreja Católica, guardiã dos

Direitos Humanos

O risco da dispersão no anonimato

Scalabrinianas en Colombia:

una luz de esperanza para los desplazados

“Migram as sementes nas asas

dos ventos, migram as plantas de

continente a continente, levadas

pelas correntes das águas, migram

os pássaros e os animais e, mais que

todos, migra o homem, ora em

forma coletiva, ora em forma isolada,

mas sempre instrumento daquela

Providência que preside e guia os

destinos humanos, também através

de catástrofes, para a meta, que é o

aperfeiçoamento do homem sobre a

terra e a glória de Deus nos céus”.

(Scalabrini 1879)

“Migram as sementes nas asas

dos ventos, migram as plantas de

continente a continente, levadas

pelas correntes das águas, migram

os pássaros e os animais e, mais que

todos, migra o homem, ora em

forma coletiva, ora em forma isolada,

mas sempre instrumento daquela

Providência que preside e guia os

destinos humanos, também através

de catástrofes, para a meta, que é o

aperfeiçoamento do homem sobre a

terra e a glória de Deus nos céus”.

(Scalabrini 1879)

Quem são esses? Pe. Alfredo José Gonçalves, cs

Quem são essesque chegam de fora e de longe, de outros lugares e nações,de todas partes do planeta?

Quem são essesnegros da África, brancos da Europa, índios das Américas, amarelos da Ásia, que fundiram vidas e caminhos, criaram um novo povo chamado Brasil?

Quem são essesque falam outra língua, reconhecem outra bandeira, usam outras roupas e costumes, acreditam em outro Deus?

Quem são esses diferentes e perigosos, filhos de outras terras e pátrias,estranhos e estrangeiros entre nósque despertam racismos, preconceitos e violências?

Quem são essesque invadem nossas ruas e praças,desfiguram nossas cidades e jardins,perturbam nossos lares e famílias,sujeitos a condições desumanas de trabalho e moradia?

Quem são essesde passos titubeantes e mãos vazias,rostos curiosos mas destemidos,coração e olhar fixos no horizonte,que aos milhares cruzam nossas fronteiras?

Quem são essesàs vezes sujos, feios, esfarrapados, outras vezes solitários, refugiados ou clandestinos, sem identidade, e não se cansam de lutar por chão e pão?

Quem são essesque pouco trazem além da dor e da fome,pouco querem além de sobreviver,pouco sonham além de tornar-se alguémdispostos sempre a conquistar a liberdade?

Quem são essesFirmes na resistência, fortes na esperança,teimosos na travessia, arquitetos do amanhã recriado?São migrantes, são peregrinos, em busca de um mundosem muros, sem barreiras.Lembram nossa condição de cidadãos da estrada,forasteiros da terra, a caminho da casa do Pai.