Espectrometria de Massa Imaging

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Junho/2015 Espectrometria de massa “Imaging” Trabalho de revisão Joana Cristina Barbosa Loureiro Química Bioanalítica

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Técnica de espectrometria de massa imaging

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  • Junho/2015

    Espectrometria de massa Imaging Trabalho de reviso

    Joana Cristina Barbosa Loureiro Loureiro

    Qumica Bioanaltica

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    ndice 1. Espetrometria de massa Imaging ......................................................................................... 2

    1.1. Mtodos de ionizao para MSI .................................................................................... 3

    1.2. Instrumentao ............................................................................................................. 5

    1.3. Preparao da amostra ................................................................................................. 7

    1.4. Anlise de dados ......................................................................................................... 10

    2. Aplicao biolgica .............................................................................................................. 11

    Bibliografia .................................................................................................................................. 16

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    1. Espetrometria de massa Imaging

    O presente trabalho visa fazer uma abordagem a uma tcnica recente de

    espetrometria de massa, o MSI (Mass spectrometry imaging). Numa segunda seo

    ser apresentada uma das aplicaes biolgicas que esta tcnica j demostrou ter bem

    como o potencial que esta representou ao nvel desse mesmo estudo.

    A tcnica de espetrometria de massa imaging resulta de uma combinao de

    anlise molecular com informao espacial obtida, permitindo a visualizao de

    molculas em superfcies complexas. Assim, esta tcnica vista como tendo potencial

    na caracterizao biomolecular da superfcie de tecidos histolgicos [1].

    A MSI tem sido muito estudada e tem tambm apresentado vrios progressos

    nos ltimos anos [2]. Ela foi desenvolvida, h 35 anos atrs, no ano de 1962 na

    Universidade de Orsay por Georges Slodzian e Raymons Castaing, tendo sido aplicada

    microanlise de amostras de minerais. Os dois foram tambm os primeiros a surgir

    com a ideia de que seria possvel construir um sistema de coleo tica de ies,

    anlogo aos que utilizam nas lentes dos microscpios de luz, de forma a preservar-se a

    relao espacial dos ies desde a amostra at ao detetor [3]. Relativamente

    aplicao da tcnica na rea da Biologia, esta foi usada primeiramente por Pierre Galle,

    mais tarde, no ano de 1970 [4].

    Atualmente, vrias so as potencialidades da tcnica que aumentam o

    interesse de muitos investigadores: a capacidade de registar as distribuies espaciais

    de vrios tomos e molculas como farmacuticos, lpidos, pptidos, protenas

    metabolitos e polmeros; a capacidade de fazer estas anlises tendo as amostras no

    estado nativo, sem recorrer a marcadores; permitir uma correlao cruzada dos

    resultados de MSI com imagens obtidas de outras tcnicas analticas [5]. No entanto,

    ainda se nota uma carncia de informao homognea no que diz respeito

    instrumentao usada bem como aos mtodos de processamento dos dados [2]. O que

    se verifica tambm que a complexidade dos dados obtidos com esta tcnica

    reduzida, uma vez que se obtm a traduo dos dados numa imagem de duas

    dimenses, resultando ento numa perda de informao inevitvel. Como

    consequncia da diferente forma como estas imagens so apresentadas (diferente

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    escala de cor, normalizao, interpolao espacial), torna-se difcil a sua comparao,

    por no se poder afirmar que esteja estandardizada a forma de apresentao de

    resultados. No sentido de ultrapassar este problema foram surgindo projetos que tm

    em vista criar formatos standard dos dados existentes, bem como foram estabelecidos

    repositrios para armazenamentos dos mesmos e consulta pblica [2].

    Tambm na rea da clnica a MSI assume uma grande importncia. Vrias

    tcnicas so usadas nesta rea para localizao de substncias em tecidos. As que so

    baseadas em fluorescncia e marcao com anticorpos so altamente especficas, com

    elevada resoluo espacial. Tcnicas in vivo como MRI e PET marcam uma

    determinada classe de molculas, mas com baixa especificidade dentro dessa classe. A

    MSI permite detetar diferentes classes de molculas, sem recurso de marcadores,

    diretamente na superfcie duma seo de tecido [1].

    1.1. Mtodos de ionizao para MSI Secondary ion mass spectrometry SIMS

    A ionizao por SIMS conseguida quando a superfcie da amostra atingida

    por ies. Normalmente, isto acontece recorrendo elevada energia de ies como Ar+,

    Ga+, In+. Estes ies primrios penetram na superfcie da amostra e induzem uma

    cascata de colises com tomos e molculas dessa regio. Desta forma, verifica-se que

    so libertados ies da superfcie, os ies secundrios.

    Frequentemente, a ionizao por SIMS ocorre para pequenas molculas. O

    mximo de intervalo de massas est limitado aos 1000 m/z, como consequncia da

    extensa fragmentao que ocorre na superfcie do tecido em anlise. Este limite pode,

    no entanto, ser ultrapassado se for usada a metodologia de deposio de matriz ME-

    SIMS (que ser abordada na prxima seco), atravs da qual usada uma matriz

    orgnica MALDI. Desta forma consegue-se melhorar a deteo de espcies de massa

    superior.

    A ionizao por SIMS pode ser distinguida em ionizao em modo esttico e em

    modo dinmico. Cada um destes modos usado para fins distintos e provoca

    diferentes danos ao nvel da superfcie da amostra.

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    Quanto SIMS em modo esttico, usado um fluxo de ies primrios baixo,

    cerca de 1012 ies/cm2. Este fluxo baixo vai permitir que seja minimizada a interao

    dos ies primrios com a monocamada de molculas que se encontra mais

    superfcie. Cada io destes vai atingir uma regio intacta levando a que a interao

    entre o feixe de ies e os tomos seja limitada a menos de 1%.

    Relativamente SIMS em modo dinmico, usado um fluxo de ies primrio

    superior. Consequentemente, verifica-se que ocorrem interaes dos ies primrios

    com tomos e molculas de camadas mais profundas da superfcie da amostra.

    Tendo em conta as diferenas entre estes dois modos, foi j referido ento as

    diferentes formas como eles podem ser aplicados, sendo que o modo esttico

    preferencial para a gerao de imagens de carcter qualitativo (localizao de

    compostos) enquanto que o modo dinmico ser mais indicado, principalmente, para

    imagiologia quantitativa [1].

    Matrix-assisted laser desorption/ionization MALDI

    O mtodo de ionizao por MALDI consiste na adio de um solvente amostra

    e posterior adio de uma soluo de matriz, em excesso, superfcie da amostra. Este

    passo permite a extrao dos analitos da superfcie da amostra com posterior

    formao de cristais, por ocorrer evaporao do solvente da soluo de matriz.

    Contendo ento a seo de tecidos j com a matriz, colocadas numa placa de MALDI,

    segue-se uma fase que requer a incidncia de um laser nesses cristais (normalmente

    um laser de nitrognio a um comprimento de onda de 337nm), para provocar a

    ionizao das molculas a analisar [1] [6].

    De forma a que a deposio de matriz ocorra de forma reprodutvel e

    homognea, so referidas duas metodologias para a deposio: por alta densidade ou

    baixa densidade, como se pode verificar na figura seguinte, dependendo da resoluo

    espacial que se pretende obter [7].

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    Figura 2 Comparao de duas metodologias de deposio da matriz: Por alta e baixa densidade de deposio [7].

    Figura 1 Comparao de duas metodologias de deposio de matriz: por alta e baixa densidade de deposio. Adaptado de [7].

    Desorption electrospray ionization DESI

    A DESI um mtodo que proporciona a interao entre um electrospray com

    gotculas com carga e a superfcie da amostra. Esta interao provoca a produo de

    gotculas carregadas de segunda gerao contendo molculas da superfcie da amostra

    dissolvidas. Estas gotculas vo depois transformar-se em ies gasosos tambm pela

    formao de um electrospray, sendo ento depois analisadas no espectrmetro de

    massa. Tanto o ngulo como ocorre a electropulverizao secundria, bem como o

    ngulo da entrada destes ies gasosos no espectrmetro so de grande relevncia,

    pois devem ser otimizados de modo a permitir um volume mximo de ies que

    entram. A classe de molculas que predominantemente detetada na superfcie de

    amostras por DESI so lpidos. Esta metodologia de ionizao permite ainda que a

    anlise seja feita sem que seja necessrio pr-tratamento da amostra. No entanto, em

    comparao com MALDI e SIMS apresenta uma menor resoluo espacial [1].

    1.2. Instrumentao

    Relativamente instrumentao necessria para executar a tcnica MSI, tm-

    se verificado inmeros desenvolvimentos ao nvel do equipamento usado de forma a

    aumentar o rendimento da anlise, o poder resolvente, a exatido na determinao de

    massas, ou ainda a resoluo espacial. Verifica-se que a introduo automtica de

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    Figura 2 Comparao entre a tecnologia em modo microssonda e modo microscpio. Adaptado de [5].

    cortes de tecido no espectrmetro torna o processo mais rpido, e ainda novas

    tecnologias tm sido implementadas como ion-mobility based mass spectrometry

    imaging, MALDI FT-ICR MS (Fourier transform ion cyclotron resonance mass

    spectrometry) e MALDI FT-Orbitrap, de forma a proporcionarem uma informao

    espacial de melhor qualidade. Quanto primeira, a sua combinao com MS imaging

    tem vindo a proporcionar o mapeamento de frmacos anti-cancro como a Vimblastina.

    Mtodos como FT-ICR MS e FT-Orbitrap oferecem grande poder de resoluo e grande

    exatido na determinao de massas.

    referido tambm que o aumento da resoluo espacial em MSI conseguido

    por diminuio do tamanho do spot onde ocorre a incidncia do laser que provoca a

    ionizao ou do feixe de ies. No entanto, ainda existem algumas limitaes quanto a

    esta abordagem [1]. Em MSI so utilizadas duas tecnologias de imagiologia, o modo de

    microssonda ou o modo microscpio (figura 2). Uma abordagem alternativa para

    aumento da resoluo espacial o uso de uma tecnologia em modo microscpio. A

    diferena entre estes dois modos reflete-se na forma como obtida a informao

    espacial. A tecnologia por microssonda a mais utilizada em MSI e a mais simples

    concetualmente. Um laser de ionizao focado numa regio pequena a analisar da

    amostra. O espectro de massa resultante armazenado em conjunto com as

    coordenadas espaciais dessa regio onde incidiu o laser. Uma nova regio analisada e

    outro espectro gerado, repetindo-se o processo at toda a rea de amostra ter sido

    analisada. Com esta tecnologia, toda a informao espacial obtida a partir de cada foco

    de ionizao perdida.

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    Pela tecnologia em modo microscpio, a informao obtida independente do

    tamanho do spot onde incide o laser ionizante. Atravs do uso deste modo de

    espectrometria de massa, considerando o analisador TOF, os ies produzidos pelo

    laser passam pelo TOF formando uma imagem a partir desses ies, ao nvel de um

    detetor sensvel posio. So ento separadas sries moleculares pelas diferentes

    razes m/z, gerando diferentes imagens que permitem obter detalhes espaciais a

    partir do spot de incidncia do laser. A juno dessas diferentes sries de imagens

    permite obter a imagem total. A informao gerada determinada pelo poder de

    ampliao do microscpio, pela qualidade tica dos ies, e pela resoluo do detetor.

    Esta metodologia permite analisar uma rea muito maior sem ter que se mover a

    amostra ou o laser [5] [8].

    1.3. Preparao da amostra

    Para a preparao da amostra que se pretender analisar vrios fatores devem

    ser tidos em conta, desde a colheita da amostra at ao tratamento feito superfcie

    onde queremos localizar o nosso composto. Caso a anlise em questo implique o uso

    de tecido obtido de interveno cirrgica o mesmo deve ser tratado de imediato de

    forma a impedir a sua degradao bem como a reorganizao espacial de molculas.

    Para a anlise em MSI necessrio ter como ponto de partida superfcies finas

    e lisas. Para tal, o corte de tecidos efetuado atravs de micrtomos. O tecido

    seccionado pode ser aplicado diretamente numa placa de MALDI metal MALDI

    target. No entanto, anteriormente a este passo devem ser executados passos como

    lavagem, digesto enzimtica, deposio de matriz. Contudo, a execuo destes

    ltimos vai tambm depender da molcula em anlise, do analisador e do mtodo de

    ionizao [1].

    Tratamento da superfcie para SIMS

    O limite mximo do intervalo de massas que se pode obter com SIMS deve-se

    muito ao tratamento da superfcie a analisar. Normalmente, numa vertente mais

    biomdica, so utilizadas duas abordagens para preparao do tecido: MetA-SIMS

    (metal-assisted SIMS) e ME-SIMS (matrix-enhanced SIMS).

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    Na primeira, uma camada muito fina (1-5 nm) de metal, normalmente ouro,

    colocada a revestir a amostra. Esta camada de metal pode ser rpida e

    reprodutivamente aplicada por pulverizao catdica. A utilizao de uma fonte

    alternada de frequncia elevada, permite a pulverizao de quase todo o tipo de

    materiais. A polarizao alternada do alvo faz com que durante a alternncia negativa,

    o ctodo atraia ies do plasma, pulverizando o alvo.

    A segunda abordagem usa uma matriz orgnica MALDI depositada na superfcie

    do tecido alvo. Esta tcnica permite aumentar o intervalo de massa para 2000 m/z de

    forma a que pptidos que no eram detetados, nas preparaes normais para SIMS,

    sejam agora observados. Tal como a utilizao de uma matriz uma semelhana entre

    o MALDI e o ME-SIMS, tambm os espectros gerados por estes dois mtodos so

    muito semelhantes [1].

    Seleo da matriz e deposio no MALDI e no ME-SIMS

    O passo da deposio de matriz deve ser reprodutvel, homogneo, permitir

    obteno de suficiente sensibilidade no mtodo e deve ser um procedimento de

    simples execuo. A deposio de matriz o passo crtico j que o tamanho do cristal

    que se forma vai determinar a resoluo espacial deste mtodo. Dada a importncia

    deste passo, sero discutidos alguns pontos a considerar sobre a deposio de matriz

    no contexto do MSI.

    Quanto escolha da matriz, esta no deve reagir com os analitos no tecido e

    deve ainda ter uma taxa de sublimao baixa, o que importante dado que muitas das

    anlises MSI so conduzidas em condies UHV (ultra-high vacum). Para a escolha da

    matriz deve ainda ter-se em conta o tipo e tamanho molecular dos analitos de

    interesse.

    Outro aspeto que deve ter-se em considerao ainda o mtodo como se

    processa a deposio de matriz. Deve garantir-se que haja uma distribuio

    homognea da mesma de forma a evitar variaes locais ao nvel da dessoro e

    ionizao. Tambm as condies do ambiente, como humidade e presena de

    oxignio, so importantes nesta fase, porque as mesmas podem condicionar a

    interao entre a matriz e os analitos. Existem ento diferentes metodologias descritas

    que se usam para deposio de matriz na espetrometria de massa imaging [1].

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    Dried-droplet method:

    A soluo de matriz aplicada na amostra de forma manual, com recurso a uma

    pipeta. Este mtodo rpido e simples, no entanto no est recomendado quando o

    propsito o MSI. A difuso pode ocorrer no interior do spot da matriz, sendo que o

    tamanho desse spot tipicamente grande e pode, por isso, ocorrer distribuio

    irregular dos cristais da matriz.

    Pneumatic nebulization:

    Neste a soluo de matriz pulverizada na amostra por meio de um spray. Esta

    pulverizao feita de forma suave permitindo a formao de uma camada de cristal

    homognea na superfcie da amostra. Como o spray tem que ser otimizado para cada

    aplicao o que se verifica que surgem, consequentemente, problemas de

    reprodutibilidade.

    Chemical inkjet printer:

    Pequenas gotas da soluo de matriz so aplicadas com recurso a um

    dispositivo piezoeltrico de impresso de gotculas. Com esta tcnica obtm-se a

    deposio de pequenos volumes por spot (100pL), por cada ciclo. A deposio de

    matriz feita de um modo muito preciso, altamente reprodutvel, sendo as gotas

    aplicadas de tamanho uniforme. Dado o tamanho das gotas, esta metodologia est

    mais indicada para MSI de baixa resoluo espacial.

    Automated vibrational spray coater:

    Este dispositivo especialmente usado para MALDI imaging MS e produz uma

    camada de matriz homognea com pequenos cristais, operando num sistema fechado.

    O controlo do tamanho das gotas limita a difuso da superfcie e o tempo de interao

    entre o analito e a matriz pode ser otimizado para uma co-cristalizao mxima.

    Matrix sublimation:

    Uma matriz colocada numa seco especfica de um condensador e a amostra

    ligada ao condensador com uma cassete de face dupla condutiva termicamente

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    voltada para a matriz slida. A sublimao ocorre sob presses baixas e temperaturas

    altas (125C) que permitem matriz condensar na superfcie fria da amostra. Com este

    mtodo consegue-se obter uma maior pureza relativamente matriz que aplicada na

    amostra, bem como cristais pequenos desta e ainda uma deposio uniforme.

    Dry-coating:

    Neste mtodo a matriz em estado slido (pequenos gros) filtrada para o

    tecido diretamente, passando apenas as partculas de menor dimenso. Esta

    metodologia til para uma rpida e reprodutvel aplicao da matriz no que diz

    respeito anlise de lpidos. Tal como no mtodo de sublimao, a difuso na

    superfcie limitada devido ausncia de solventes na matriz.

    De um modo geral mtodos automatizados representam a melhor escolha de

    tcnica de deposio de matriz quando se trata de um estudo que envolva grande

    nmero de amostras e quando se pretende obter rendimentos maiores neste passo. J

    os mtodos manuais so os eleitos quando se esto a testar novos protocolos. Cada

    vez mais se tm estudado metodologias para a deposio de matriz, uma vez que se

    acredita que este passo seja limitante no rendimento obtido em MSI [1].

    1.4. Anlise de dados

    Inmeros softwares so usados para a gerao de imagens. Estes incluem o

    Novartis BioMap, o Brukers Flex e o AMOLFs datacube generator and viewer.

    O PCA (principal component analysis) permite a anlise de dados e aplicado a MSI.

    Este usado para identificar grupos de variveis fortemente correlacionadas e

    identificar coordenadas espaciais. PCA combinado com anlise cannica de correlao

    (ACC) pode ser usado para correlacionar dados de MSI obtidos de diferentes tcnicas,

    pois permite relacionar os componentes espaciais e espectrais de um conjunto de

    resultados, melhorando esses mesmos individualmente [1].

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    2. Aplicao biolgica

    Com o intuito de demonstrar o potencial em reas biolgicas da tcnica

    abordada, ser descrito nesta seco um estudo [9] onde se recorre espectrometria

    de massa imaging para a localizao de um frmaco a nvel celular.

    O cancro do colo retal (CCR) um dos cancros com maior mortalidade no

    mundo. A quimioterapia por si s pode permitir perodos de sobrevivncia mdia at

    20 meses, sendo o frmaco mais utilizado o fluorouracil. No entanto, tm surgido

    novos frmacos como o cetuximab, o irinotecan ou o oxaliplatin, entre outros. Estes

    frmacos atuam por bloqueio da angiognese atravs da inibio do fator de

    vascularizao endotelial (VEGF) ou por inibio de fatores de crescimento derivados

    de plaquetas (PDGF), de forma a impedir a vascularizao do tumor bem como levar

    sua regresso.

    O sunitinib um frmaco de administrao oral com ao anti-angiognica, por

    inibio de recetores de tirosina cinase, como recetores de PDGF e VEGF. Para alm da

    sua utilizao nesta neoplasia ele tem sido testado noutras como meningioma,

    carcinoma das clulas renais, cancro da mama metasttico, entre outras.

    No desenvolvimento de um frmaco torna-se muito relevante toda a sua

    farmacocintica, farmacodinmica bem como a interao deste ao alvo especfico da

    via onde se pretende atuar. Esta afinidade ao alvo vai ditar a localizao espacial do

    frmaco em estudo. A MALDI-MSI uma tecnologia que permite o mapeamento de

    molculas em seces finas de tecido com uma resoluo de 30-50 m. Tem ainda a

    vantagem, como j referido na seo anterior, de permitir identificar a massa absoluta

    de compostos intactos, dos seus fragmentos moleculares e dos metabolitos

    (informao que no se obtm com outras tcnicas de imaging).

    A distribuio da droga revela os seus stios de acumulao e d informao

    sobre onde esta efetiva ou txica. Como estudos in vivo obrigam a ter um grande

    nmero de animais e so mais demorados, o estudo introduz a abordagem in vitro

    para comparao com experincias feitas in vivo, de forma a verificar se o mtodo in

    vitro permite tirar concluses acerca do que acontece efetivamente em modelos

    animais.

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    Relativamente metodologia, os tumores foram obtidos de ratos BAlb/C

    sujeitos a tratamento com sunitinib durante 10 dias sendo que estes foram

    posteriormente sacrificados. Os tumores obtidos foram seccionados em cortes de 10

    m de espessura. Quanto ao modelo in vitro, a administrao de sunitinib foi feita

    direitamente em seces obtidas de tumor de ratos controlo.

    No que diz respeito preparao das amostras, foi inicialmente preparada uma

    matriz cido -ciano-4-hidroxicinamico (CHCA) em acetonitrilo a 50% (para posterior

    LC-MS) e cido trifluorocetico (TFA) a 0,1%. Um mililitro da soluo da matriz foi

    adicionado a um pulverizador Aztek A470 de forma a que as seces de tecidos foram

    cobertas com a matriz (mantendo uma distncia de 10-12 cm entre a superfcie de

    tecido e o spray), por pulverizao recorrendo a nitrognio comprimido. A ionizao

    ocorreu ento tendo uma soluo pura (1mg de sunitinib em MEOH 50%) misturados

    com 3mg/mL CHCA colocados numa placa de MALDI. Aps a deposio de matriz esta

    secou, permitindo a formao de cristais.

    A anlise MALDI-MS foi feita num espectrmetro MALDI LTQ Orbitrap XL,

    usando um mtodo que emprega a incidncia de um laser a 10 J, promovendo a

    ionizao do analito. Primeiramente foi feita uma anlise considerando intervalos de

    massa de 200 m/z a 500, utilizando-se um analisador Orbitrap de resoluo 60 000. A

    segunda anlise foi feita por espectrometria tandem (MS/MS) com fragmentao por

    dissociao induzida por coliso (CID) para a qual se considera o intervalo de massa de

    105 a 500 m/z, utilizando um analisador Ion Trap em modo linear.

    Os ficheiros gerados foram executados com o software ImageQuest e as

    massas do io precursor ou fragmentados de sunitinib foram identificadas mostrando

    a sua localizao nos tecidos em estudo. A distribuio do io precursor do sunitinib

    (m/z 399,218) foi normalizada relativamente contagem total de ies e aos seus ies

    filho (m/z 326,1) ao mximo de resoluo de imagem permitido. Para estimar a

    concentrao de sunitinib nas seces do tecido foi usado o io precursor normalizado.

    Para proceder colorao histolgica foi efetuada a remoo da matriz e

    recorreu-se colorao com Hematoxicilina-Eosina (H&E). Foi utilizado o software

    Aperio ImageScope Viewer para obteno de fotografias das zonas coradas

    selecionadas.

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    Figura 3 Trs rplicas de tecidos aps colorao com H&E, e observao da localizao do frmaco nos tecidos a partir das intensidade de io precursor m/z 399,218 e do io produto extrado m/z 326,1 [9].

    A utilizao desta tcnica permitiu obter vrios resultados. Verificou-se pelas

    imagens obtidas que a distribuio do frmaco semelhante em trs seces

    analisadas do tumor e que os maiores nveis obtidos se encontram nas zonas

    perifricas do mesmo (figura 3), como foi demonstrado pelos cromatogramas de io

    extrado (XIC) do precursor de m/z 399,218 (Estes cromatogramas so criados pelo

    registro da intensidade do sinal observado para um determinado valor ou conjunto de

    valores de m/z numa srie de espectros de massas registados em funo do tempo de

    reteno). A verificao desta localizao foi feita posteriormente por MS/MS. Os

    nveis de frmaco obtidos indicam que este pode ser absorvido pelo tecido do tecido

    tumoral.

    A distribuio de sunitinib no modelo in vivo, ao longo do tempo, foi tambm

    investigada. O contnuo tratamento com o frmaco demonstrou acumulao deste em

    todo o tumor, como comprovam os altos nveis de composto ativo detetados aps

    quatro dias de administrao. Os nveis de frmaco foram ainda estimados atravs de

    uma intensidade mdia de sinal obtido do io precursor normalizado em cada seco

    de tecido tumoral ao longo de diferentes dias (figura 4). Assim verificou-se uma

    acumulao crescente de sunitinib, com mxima acumulao ao dia 7.

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    Figura 4 Nveis estimados de sunitinib nos tecidos aos dias 1,4,7 e 10, aps administrao de frmaco, por anlise da mdia de intensidade de sinal do io precursor 399,218 [9].

    Figura 5 Seces de tecido analisadas por abordagem in vitro. Observao da localizao do frmaco nos tecidos a partir da intensidade de io precursor m/z 399,218 [9].

    Este aumento pode dever-se ao facto da entrada do frmaco nas clulas ser

    mais rpida do que a velocidade com que estas conseguem metaboliza-la e excreta-la.

    Relativamente metodologia in vitro, foram aplicadas diferentes

    concentraes superfcie das seces de tecido de forma a obter a concentrao de

    sunitinib que corresponda a intensidades de sinal semelhantes aos obtidos no modelo

    in vivo. Os modelos in vivo e in vitro mostraram nveis de sunitinib semelhantes com

    homogeneidade de distribuio entre dois tumores tratados in vitro que foram

    analisados (Figura 5).

    Por comparao de ambos os modelos, foi observada uma distribuio de

    frmaco semelhante. Diferenas biolgicas em tumores podem contribuir para a

    localizao especficas dos frmacos administrados bem como da intensidade do seu

    sinal. Ainda variaes individuais podem explicar fenmenos de supresso de sinal ou

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    amplificao, que no surgem em todos os tumores de forma igual. Fenmenos de

    supresso inica podem ainda ocorrer causados por diversos fatores como sais, ion-

    pairing agents, metabolitos ou ainda protenas, bem como o prprio tipo de tecido

    em anlise. Com este trabalho percebeu-se que a forma de atuao do frmaco contra

    o seu alvo bem como a sua distribuio ocorrem de forma semelhante entre os dois

    modelos utilizados de tal forma que o estudo do potencial de um composto possa

    inicialmente ser feito em seces de tecido para prever o que ocorre em animais e,

    como objetivo primordial, em humanos.

    Assim, como concluso, tanto in vitro como in vivo uma nica dose de sunitinib

    permitiu a sua localizao nos tumores atravs da tcnica MALDI-MSI. Verificou-se um

    aumento de frmaco detetado perante tratamento continuado. Os dados obtidos

    permitiram ainda suspeitar que vrios fatores biolgicos do crescimento do tumor

    possam influenciar os nveis de sunitinib detetados. Uma vez que a aplicao deste

    modelo experimental em tumores de animais no tratados permitiu reproduzir os

    nveis de frmaco obtidos pelos estudos in vivo dos tumores de animais tratados,

    pode-se acreditar que este procedimento experimental tenha potencial para ser

    aplicado no estudo da distribuio de drogas em diferentes tecidos. O facto de se

    poder obter este tipo de resultados pode levar ao surgimento de um melhor

    conhecimento da atuao de frmacos em tumores especficos e, portanto, alcanar

    teraputicas mais personalizadas.

    Fica ento aqui evidenciado o papel promissor que a tcnica de espectrometria

    de massa imaging assume perante reas como a biologia e a bioqumica, onde permite

    identificar e quantificar relativamente compostos em sees histolgicas.

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