Especifismo e Organização Anarquista

download Especifismo e Organização Anarquista

of 12

Transcript of Especifismo e Organização Anarquista

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    1/12

    M.A. BAKUNIN E A ORGANIZAO REVOLUCIONRIA

    M. A. BAKUNIN foi, do anarquismo histrico, o sujeito que deu organicidade a militncia libertriacom o propsito de direcion-la para o meio dos operrios, os camponeses e os oprimidos de seu tempo. Durante

    toda sua vida dedicada a atividade revolucionria, estiveram presente as idias de uma organizao que pudesseinfluenciar em sentido radical e transformador o processo de lutas reivindicativas da classe trabalhadora. A partirde 1848-1849, em ocasio das revolues de Paris, Praga e Dresden, esse instrumento ganha mais fora. Nesseperodo que se estende at 1863, Bakunin estava empenhado numa causa nacionalista, com a inteno de criaruma federao russa, de federar a todos povos eslavos e derrotar o imprio czarista.

    Em 1864, com sua adeso a ideologia anarquista, a organizao conspirativa das foras revolucionriasse tomou um tema vital para a militncia em uma Europa onde no faltava referentes orgnicos da lutanacionalista ou republicana burguesa, mas que carecia profundamente de um partido de ao direta vinculado aclasse operria.

    A soluo para a necessidade de organizao foi arranjada ento pela constituio de uma sociedadesecreta, inspirada pelo mtodo dos Carbonrios e da franco-maonaria, baseada na concepo de que era precisoagrupar homens seriamente revolucionrios, apaixonados pela destruio, que tenha o diabo no corpo,

    socialistas, federalistas (...), inimigos dos Estados atuais e de toda ditadura nova, para animar com seu sopro asforas latentes e apenas organizadas (Bakunin, M.A. Obras Compleas. Tomo 3 Prlogo de Max Nettlau) domovimento dos trabalhadores.

    Ainda que muitos intelectuais e grupos libertrios faam questo de evitar comentrios ou mesmoomitir informaes sobre o assunto, argumentando que no tem muita significao na fascinante biografia de M.A. Bakunin, toda obra prtica que realizou no seio da Internacional e junto das revoltas e insurreies popularesestaladas na Europa de sua poca teve relao direta ou indireta com a atividade conspirativa da sua sociedadesecreta. Segundo o prprio, os anarquistas revolucionrios deviam agir como (...) pilotos invisveis no meio datempestade popular(...) (Recortes n 1. Bakunin. La Organizacin: su tactica, sua disciplina) atravs de umaorganizao prvia (...) que no se far sozinha, nem por assemblias populares.(Idem ao anterior)

    Tinha claro que a influncia libertria sobre os acontecimentos depende da capacidade de articulaode uma minoria de revolucionrios a partir de critrios poltico-ideolgicos, minoria ativa que deve promover

    uma ao conspirativa que possa resistir as mais duras conjunturas polticas e que animar a organizaoautnoma dos trabalhadores. No h duvidas de que a base terica para a Organizao Anarquista encontra naao bakuninista um firme ponto de apoio.

    A Fraternidade como instrumento de ao polticaAps a priso por longos anos e o exlio na Sibria entre 1849 e 1861, tendo abandonado suas idias

    nacionalistas em favor de um socialismo federalista e revolucionrio, Bakunin tratou de articular seuscompanheiros mais ntimos de militncia para retomar seus planos de ao. Como conta James Guillaume, elehavia concebido o plano de uma organizao internaciomal secreta de revolucionrios, com vistas a propaganda,e quando chegasse o momento, ao, e a partir de 1864 conseguiu agrupar um certo nmero de italianos,franceses, escandinavos e eslavos nesta sociedade secreta que se chamou Fraternidade InternacionalRevolucionria ou Aliana dos Revolucionrios Socialistas.(Bakunin, M.A. Textos Anarquistas. Bakunin por

    James Guillaume.) de Bakunin a responsabilidade pela redao do programa da fraternidade de 1865 que tem uma desuas partes chamada de Catecismo Revolucionrio. Neste so consagrados a base programtica fundamentalda corrente libertria do socialismo: a definio da justia social como a maior liberdade realizada na igualdadede direito e de fato; o federalismo como proposta de reorganizao poltico-social; o direito de secesso; orespeito as nacionalidades livres da poltica de patriotismo; o socialismo como fator de igualdade depossibilidades a gesto direta dos meios de produo pelas associaes de trabalhadores; a igualdade poltica esocial de gnero.

    Este programa do anarquismo revolucionrio afirma ainda a impossibilidade da mudana pacfica dasociedade; a unio dos trabalhadores do campo e da cidade na sua ao direta como sujeito da transformao; ocarter socialista que deve adquirir a revoluo; o internacionalismo revolucionrio, a necessidade de umaaliana de todos os povos por cima das fronteiras para se libertar dos Estados nacionais e suas instituies

    burguesas.

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    2/12

    Aqui o pensamento de Bakunin alcana sua maturidade. Essa definio conquistar aderentes emvrias partes da Europa e no mundo todo por intermdio da circulao conduzida pelos membros dafraternidade. Estava sendo fundada uma tradio militante do anarquismo que fazia de uma organizaoespecifica de revolucionrios seu instrumento de ao poltica, que instrua seus militantes a compreender que

    uma associao, tendo uma finalidade revolucionria, deve necessariamente formar-se como sociedade secreta, eque toda sociedade secreta, no interesse da causa a que serve e da eficcia de sua ao, assim como no interesseda segurana de cada um de seus membros, deve submeter-se a uma forte disciplina, que apenas o resumo e oresultado puro do engajamento recproco dos membros uns em relao aos outros e que (...) submeter-se a umacondio de honra um dever de cada um.(Bakunin M.A. Textos Anarquistas. A Sociedade ou FraternidadeInternacional Revolucionria.)

    A atividade da sociedade secreta ser ainda determinada para a interveno anarquista revolucionriana Internacional. Desde sua fundao em setembro de 1864, K. Marx havia convidado Bakunin e seuscompanheiros a se engajar no trabalho organizado na Itlia, por onde se alojava, sem sua adeso imediata. Aforte influncia das idias patriticas de Mazzini e Garibaldi neste pas criavam resistncias aos propsitos deprtica internacionalista dos trabalhadores. S em 1868 que a organizao de Bakunin adere a Internacional comuma seo em Genebra, aps a dissoluo da Aliana Internacional da Democracia Socialista.

    Segundo o relato do historiador do anarquismo Max Nettlau, (...) Bakunin, sabendo que estavaseparado de Marx por uma opinio sobre autoridade e liberdade absolutas, e por uma averso pessoal muito clarade ambas as partes, no se apressou a entrar nesse meio em que sentia uma fora inimiga poderosa. Mas, quandodepois de um curto tempo, nove meses, lhe pareceu chegada a hora de entrar na Internacional, o fez e seentregou a ela com corpo e alma (julho de 1868). Devia pensar desde o primeiro momento que entraria com seugrupo ntimo ou sociedade secreta fortemente estabelecida e que ento (...) associados por uma solidariedadentima e estreita, seriam bastante fortes para fazer frente as idias pessoais de Marx (...).(Bakunin M.A. ObrasCompletas. Tomo 3. Prlogo de Max Nettlau.)

    A fraternidade se dissolver entre 1868 e 1869 por ocasio de uma crise interna, mas outra sociedadesecreta lhe subsequente contando com novos membros, entre eles suos, espanhis, franceses como o casode Varlin, protagonista da Comuna de Paris em 1871. Se chamou Organizao Secreta Revolucionria dosIrmos Internacionais.

    Mais uma vez, no passava pela cabea de Bakunin a possibilidade de atitudes isoladas, nem mesmo dediluio dos anarquistas na luta reivindicativa dos trabalhadores. Apesar das dificuldades que no eram poucas,durante toda sua atividade militante buscava meios e recursos para obter uma potente ao coletiva organizadaque pudesse provocar o protagonismo popular no combate revolucionrio ao Estado poltico e a exploraocapitalista.

    Um documento dos Irmos Internacionais expe as idias estruturantes desta Organizao apoiando-se na necessidade de que (...) a unidade de pensamento e de ao revolucionria encontre um rgo e para arealizao dessa tarefa o nmero desses indivduos no deve, portanto, ser enorme.(Bakunin M.A. TextosAnarquistas. Programa e objetivo da Organizao secreta Revolucionria dos Irmos Internacionais.)

    A relao da Organizao com o Movimento dos TrabalhadoresAt os dias de hoje muito associado a Bakunin as teses do espontanesmo como elemento principal da

    ao anarquista. Essa distoro no teve outra conseqncia do que o desarme terico e prtico da militncialibertria que fez uma opo pela interveno organizada na luta de classes. Aparte das confuses premeditadasou no, Bakunin distinguia entre espontaneidade popular criativa e minoria consciente e, ao enfatizar a primeiracomo garantia da autonomia e liberdade dos trabalhadores, nunca negou o papel indispensvel de uma minoriaativa que contribusse de ponte entre a teoria revolucionria e os instintos populares.(Bakunin: sangue, suor ebarricadas. Srgio A. Q. Norte)

    No pensem que eu estou advogando em prol da anarquia absoluta nos movimentos populares disseele. Uma anarquia como essa no seria nada mais que a completa ausncia de pensamento, de finalidade e deconduta comum, e necessariamente haveria de desembarcar em uma impotncia geral. Tudo o que vivel seproduz dentro de certa ordem, que lhe inerente e que demonstra o que h em si.( Bakunin, a Aliana e aInternacional. Textos Selecionados)

    Isso no quer dizer que adotava o modelo clssico das vanguardas, algo prximo da noo jacobina ou

    blanquista de um grupo seleto auto-elegido depositrio da conscincia das massas, investido de poderes para

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    3/12

    estruturar-se como centro de decises do povo e futura ditadura revolucionria. Toda precauo se tomou parano incorporar essas idias aristocrticas e totalitrias que mais tarde seriam tomadas emprestadas pela doutrinaconhecida como marxismo-leninismo.

    Bakunin criticou energicamente essa concepo, pois achava que pretender que um grupo de

    indivduos, mesmo os mais inteligentes e mais bem intencionados, sero capazes de tomar-se o pensamento, aalma, a vontade dirigente e unificadora do movimento revolucionrio e da organizao econmica doproletariado de todos os pases, uma heresia to grande contra o senso comum e contra a experincia histrica(...).(Bakunin M.A. Textos Anarquistas. Polemicas com Marx.)

    Em outro extrato conclui que os revolucionrios no podem fazer a revoluo por decreto: no devemimp-la as massas. Devem provoc-la nas massas. No devem impor a essas uma organizao, seja o que for,seno que, promovendo sua organizao autnoma de baixo pra cima, devem trabalhar por enlace, com ajudada influncia individual sobre os indivduos mais inteligentes e influentes de cada localidade, afim de que essaorganizao seja adequada na maior medida a nossos princpios.( Recortes n 1. Bakunin. La Organizacin: suprograma, su tactica, su disciplina.)

    NOTAS HISTRICAS SOBRE A PLATAFORMA

    Em 1926 um grupo de anarquistas russos exilados na Frana, o grupo Dielo Trouda (A Causa dosTrabalhadores), publicou o panfleto Plataforma Organizacional do Comunismo Anarquista. No surgiu dealgum estudo terico, mas de suas experincias na Revoluo Russa de 1917. Eles tomaram parte dadesintegrao da velha classe dirigente, foram parte do florescimento da autogesto dos trabalhadores,compartilharam o otimismo existente acerca de um novo mundo se socialismo e liberdade... e viram tudo isto sedesmanchando pelo Capitalismo Estatal e a ditadura do partido Bolchevique.

    O movimento anarquista russo teve uma participao muito longe do desprezvel, na revoluo. Napoca existiam cerca de 10.000 anarquistas ativos na Rssia, sem incluir o movimento liderado na Ucrnia porNestor Makhno. Haviam ao menos quatro anarquistas no Comit Revolucionrio (dominado pelosbolcheviques), na qual se idealizou a tomada do poder em outubro. E mais importante que isto, os anarquistasestavam inseridos nos comits de fbricas que surgiram logo da revoluo de Fevereiro.

    Estes estavam baseados nos lugares de trabalho, eleitos por assemblias massivas de trabalhadores, etinham a funo de supervisionar a fbrica e coordenar-se com outros lugares de trabalho na mesma indstria ouregio. Os anarquistas foram particularmente influentes entre os mineiros, estivadores, padeiros e tomaram umimportante papel na Conferncia de Comits Fabris de Todas as Rssias, que se uniram em Petrogrado quase aofinal da Revoluo. Eram os comits os quais os anarquistas viam como uma base para uma nova autogestoque se implantaria aps a revoluo.

    No entanto, o esprito revolucionrio e a unidade de Outubro no durou muito. Os bolcheviquesansiavam suprir todas aquelas foras na esquerda que viam como um obstculo para exercer o poder de partidonico. Os anarquistas e alguns outros na esquerda acreditavam que a classe trabalhadora seria capaz de exercero poder atravs de suas prprias comunidades e soviets (conselhos de delegados eleitos). Os bolcheviques no.Disseram que os trabalhadores ainda no podiam tomar controle de seu prprio destino e assim os bolcheviquestomariam o poder como uma medida interina durante o perodo de transio. Esta falta de confiana nas

    habilidades da gente comum e a tomada autoritria do poder conduziu traio dos interesses da classetrabalhadora, e todas as esperanas e sonhos.Em abril de 1918 os centros anarquistas de Moscou foram atacados, 600 anarquistas presos e muitos

    deles acabaram mortos. A desculpa foi que os anarquistas eram incontrolveis. Seja l o que tenham queridodizer, o certo que o motivo era eles terem simplesmente se negado a obedecer os lderes bolcheviques.

    Os anarquistas tiverem que decidir o que fazer. Uma seo trabalhava com os bolcheviques e se unirama eles, ainda quando existia preocupao em relao a eficincia e a unidade contra a reao. Outra seo lutouduramente para defender as conquistas da revoluo contra o que eles corretamente vislumbraram uma novaclasse dominante. O movimento Makhnovista na Ucrnia e o levantamento de Kronstadt foram as ltimasbatalhas importantes. At 1921, a revoluo anti-autoritria estava morta. Sua derrota teria profundas eduradouras conseqncias para o movimento internacional dos trabalhadores.

    Era a esperana dos autores que um desastre no ocorresse novamente. Como contribuio, eles

    escreveram o que tem sido conhecido como A Plataforma. Esta v as lies do movimento anarquista russo,

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    4/12

    seu fracasso em constituir uma presena dentro do movimento da classe operria, suficientemente grande eefetivo para contrapor a tendncia bolchevique e outros grupos polticos para substituir-se a eles mesmos pelaclasse trabalhadora. Constitui um guia que em linhas gerais sugere como os anarquistas devem se organizar, emresumo, como podemos chegar a ser eficazes.

    Colocou verdades bastante simples, tais como o que resulta ridculo ter uma organizao que contenhagrupos com definies contraditrias e mutuamente antagonistas ao que o anarquismo. Assinalou quenecessitamos nos colocar formalmente de acordo por meio de polticas levadas ao papel, atravs de documentos,a necessidade de deveres dos membros e assim por diante; a sorte de estruturas que permitem uma organizaodemocrtica, grande e efetiva.

    Quando foi publicada pela primeira vez recebeu o ataque das mais conhecidas personalidadesanarquistas da poca, tais como Errico Matalesta e Alexander Berkman. Foram acusados de estar a um spasso dos bolcheviques e de querer um anarquismo bolchevique. Esta reao foi exagerada, e foi devida emparte a proposio de criar uma Unio Geral de Anarquistas. Os autores no explicaram claramente como seria arelao entre esta organizao e outros grupos de anarquistas fora dela. Continua sem dizer que no haveriaproblema entre organizaes anarquistas isoladas que trabalhem juntas em publicaes que compartilhem umaposio e estratgia comum.

    No consiste, como tem sido dito tanto por seus detratores como por alguns de seus aderentes nosltimos dias, em um programa para afastar-se do anarquismo em direo ao comunismo libertrio. Os doistermos so completamente intercambiveis. Foi escrito para ressaltar o fracasso dos anarquistas russos em suaconfuso terica; e assim, sua falta de coordenao a nvel nacional, desorganizao e incerteza poltica. Emoutras palavras, carncia de eficcia. Foi escrito para abrir um debate dentro do movimento anarquista. Aponta,no para um compromisso com polticas autoritrias, mas a necessidade vital de criar uma organizao quecombine ativismo revolucionrio efetivo com os princpios fundamentais do anarquismo.

    No um programa perfeito agora, e tampouco era em 1926. Tem debilidades. No explica algumas desuas idias com suficiente profundidade, se pode argumentar que no cobre alguns tpicos importantes. Maslembremos que se trata de um pequeno panfleto e no de uma enciclopdia de 26 volumes, os autores deixambastante claro em sua introduo que no nenhum tipo de Bblia. No uma anlise ou programa completo, uma contribuio ao necessrio debate um bom ponto de partida.

    Workers Solidarity Movement Irlanda, 1984

    TRAJETRIA HISTRICA DA FAU

    Entre 1951 e 1952 ocorreram no Uruguai as chamadas Greves Solidrias, impulsionadas por sindicatosautnomos que ficaram conhecidos como Sindicatos Solidrios, onde atuavam muitos anarquistas. Estesanarquistas no eram os mesmos que participavam da Federao Operria Regional Uruguaia (FORU), deorientao anarco-sindicalista clssica. Uma das consequencias destas greves foi a fundao de vriossindicatos, tal como a Unio de Operrios, Empregados e Supervisores de FUNSA. Gerardo Gatti, um doslderes do movimento e posterior fundador da FAU, da Conveno Nacional dos Trabalhadores e

    desaparecido poltico na Argentina d a seguinte descrio do episdio: A zona de La Teja e o Pantanososser conhecida como a zona do Paralelo 38 (chamado assim por ser onde se separavam as duas Corias emguerra). Se far recuar a represso, se castigar a traio com mtodos de ao direta. Sob bandeira

    vermelho e negra com a inscrio autorizado pelo Comit de Greve Geral circularo pelo paralelo os

    veculos que no quiserem arriscar ser atacados com pedras, bulones ou molotovs.

    Em 1952, como fruto de muitas discusses no meio libertrio e do crescimento das correntes combativasno movimento social, forma-se o Comit pr-FLU (Federao Libertria Uruguaia). Aps a greve geral,ocorrem saques e enfrentamentos com a polcia no bairro do Cerro, antigo bairro de Cosmpolis, de tradicionalinfluncia anarquista desde a poca do anarcosindicalismo, onde estavam os frigorficos, cujos operrios eramos mais ativos do mov. sindical. Todos estes enfrentamentos contribuem para uma maior unidade entre osanarquistas. Depois de 4 anos de trabalhos do Comit pr-FLU as discusses estavam amadurecidas e fundadaa Federao Anarquista Uruguaia (FAU).

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    5/12

    A FAU fundada em outubro de 1956 e nela confluem militantes sindicais, de bairro, setores juvenis eestudantis agrupados nas Juventudes Libertrias, e tambm alguns militantes espanhis refugiados no Uruguai.

    A FAU se desenvolver, fundamentalmente ancorada na tradio revolucionria bakuninista e nasposies organicistas que teve Malatesta (um de seus idelogos mais reconhecidos), de onde se extraiu a base

    terico doutrinria da concepo anarquista especifista. Tambm pesar em sua formao certa influnciaclassista do anarcosindicalismo e da tradio de ao direta dos anarquistas expropriadores da regio do Rio daPrata. Ao mesmo tempo, a Organizao e seus militantes so conscientes de que sua atividade deve sedesenvolver em um continente e em um pas com as caractersticas especficas do que comea a ser chamado deTerceiro Mundo.

    No final de 1958, a Amrica Latina se ver sacudida pelo triunfo da Revoluo Cubana, a que a FAUbrindar com seu apoio crtico como expresso precisamente do apoio e participao na luta antimperialistalatino-americana e resgatando dela a ao revolucionria como mtodo de ruptura do sistema capitalista. A FAU a primeira organizao a dar seu apoio desde o Uruguai, contra a linha de Moscou do Partido ComunistaUruguaio, que s depois, de forma oportunista, ir dar seu apoio incondicional, que nunca se configurou emnada de concreto. Por esse apoio, a FAU foi considerada por boa parte do movimento libertrio internacionalcomo uma herege do anarquismo, anarco-leninista, obviamente acusaes vindas de gente com pouca ou

    nenhuma atuao concreta nas lutas populares.Tambm marcante no ano de 1958 a atuao da militncia estudantil da FAU na jornada pelaconquista da Autonomia Universitria, de onde surgiu a palavra de ordem Obreros y Estudiantes, Unidos yAdelante.

    Fratura da OrganizaoNo incio de 1964, a FAU sofre uma diviso. Mais do que sobre temas tericos (tambm eles sem

    dvida muito presentes), a discusso se centra em questes concretas relativas a ao poltica:1) Apoio aos movimentos armados de libertao que j tinham comeado a atuar na Amrica Latina;2) Participao com maioria de militantes da classe trabalhadora nas atividades da Organizao e

    consequentemente, participao nas tarefas de fundao e integrao dos militantes sindicais da FAU nosdistintos organismos da Central Sindical CNT (Conveno Nacional de Trabalhadores);

    3)

    A adoo de formas organizativas que permitam FAU levar adiante as atividades pblicas e,eventualmente, tambm as clandestinas que a nova situao poltica nacional e internacional vo impondoas organizaes de inteno revolucionria;

    4) Uma estratgia militante de acordo com as urgncias populares, que contemple reivindicaes imediatas nomarco de um projeto de mudana. Reivindicao da ao direta em todos nveis com relao com a tarefamilitante cotidiana.

    A FAU esteve ativa e tomou a iniciativa, atravs de companheiros que estavam na direo de sindicatos(os grmios) grandes, de peso, na formao da Conveno Nacional dos Trabalhadores (CNT). Considerou se que os tempos que corriam e as lutas que estavam no horizonte faziam necessria uma organizao nica dostrabalhadores. Uma organizao sindical no burocrtica, de adequada democracia interna onde se respeitassemas tendncias, e que tivesse clara definio e atitude classista. Tambm se tomou a iniciativa na construo a

    nvel sindical do que se denominou a Tendncia Combativa. Nela se propunha uma ao direta de massascontra o inimigo de classe, promover a participao das pessoas na vida do sindicato e na luta.Um grupo de militantes (quase em sua totalidade de carter estudantil) abandona a FAU, e vai constituir

    a Comunidad del Sur, cujas prticas se resumem preocupaes existenciais e individuais e algumas reflexestericas. J a maioria dos setores operrios (muitos inseridos em atividades sociais de bairros), velhos militantese boa parte do estudantil permanecem nela.

    A Organizao manteve uma atividade regular e foi aumentando sua incidncia poltico-social desde1956 at os primeiros anos da dcada de 70. Desde 1964 em diante sua coerncia e eficcia foi muito maior. Foicriadora e dinamizadora de frentes de trabalho que ganharam presena e peso nacionalmente, em especial nacapital, Montevidu.

    Participao na formao da CNT, ao conjunta com outras foras sociais e polticas

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    6/12

    Outra prioridade da FAU na poca era comear a construir o campo revolucionrio, atravs de umapoltica de alianas muito bem definida. Assim, no ano de 1963 se conforma o que se conheceu pelo nome deCoordenadora dos grupos de esquerda mais radicalizados. Estes grupos estavam unidos por uma comumdefinio de apoio luta armada e a necessidade de comear a desenvolv-la no Uruguai. A tentativa se frustra

    rapidamente devido a diferenas de linha estratgicas. Diferenas surgidas no seio da Coordenadora apropsito da importncia do trabalho de massas faz com que se separem dela o MIR (Movimento de EsquerdaRevolucionria) e a FAU. O resto iria conformar o que seria o Movimento de Libertao Nacional (MNL), osTupamaros.

    Tambm atravs dos grmios onde tinha forte militncia e instituies sociais como o Ateneu Livre doCerro participou ativamente de um evento de grande importncia: o Congresso do Povo. De 12 a 14 de agostode 1965 renem-se neste congresso mais de 1300 delegados de cerca de 700 organizaes. Neste congresso foiaprovado um Programa de solues para a crise.

    No final do ms de setembro chamado um Congresso da CNT. Neste evento a CNT, que at ento erauma coordenao de sindicatos e federaes, passa a ser uma verdadeira central nica, o que constitui umavano no nvel de organicidade. O vnculo orgnico do movimento sindical agora mais firme e isso permitiurespostas mais rpidas por parte da CNT. Tambm neste congresso a CNT assume para si o programa

    construdo no Congresso do Povo.No dia 1 de maro de 1967 entrou em vigor a nova constituio e se iniciou um dos perodos de maisforte perseguio poltica e represso no Uruguai, que ficou conhecido como a Ditadura Constitucional.

    Em diferentes momentos se receberam golpes da represso. A FAU participou, junto a outras foraspolticas, em um dirio de certa relevncia: poca, que expressava a esquerda de tom combativo. Em julho de1967 havia se realizado em Cuba a Conferncia da Organizao Latino-Americana de Solidariedade (OLAS).Na Conferncia da OLAS saem triunfantes as posies chamadas revolucionrias e combativas, contra aschamadas reformistas (linha dos Partidos Comunistas pr-Moscou). com base nas posies triunfantes nessaconferncia que se realiza depois no Uruguai o Acordo de poca. Os grupos que entram no acordo so:Partido Socialista, Movimento Revolucionrio Oriental (que em 1970 dar origem s Foras ArmadasRevolucionrias Orientais), Movimento de Ao Popular Unificado (de origem catlico comunitrio, queposteriormente se unir a Hctor Rodriguez e gente de origem sindical txtil para conformar os Grupos de Ao

    Unificadora), Movimento de Esquerda Revolucionria (que em 1972 passa a autodenominar-se PartidoComunista Revolucionrio de linha pr-China) e Grupos Independentes de poca (grupo atravs do qual oM.L.N. expressava suas posies dentro do dirio) e claro FAU.

    A FAU cumpriu parte ativa na elaborao de um documento que permitiu uma ao conjunta emimportantes zonas estratgicas com estas foras que integravam o dirio. Um documento de consenso quetentava ampliar e aprofundar coordenaes que se vinham realizando no marco do movimento popular. Estedocumento publicado no dirio poca foi o pretexto para declarar ilegal a FAU e as outras foras polticas queassinavam embaixo. Isto ocorreu no ano de 1967.

    De fato o conjunto da esquerda com a nica exceo do Partido Comunista declarada ilegal, fechadassuas sedes e sua imprensa e detidos muitos de seus principais dirigentes.

    A FAU funciona clandestinamente nos fins de 1967 at 1971

    Desde o momento referido e at 1971 a FAU realizou sua atividade na clandestinidade. Neste perodoalguns de seus locais clandestinos caram e alguns de seus militantes tiveram que atuar totalmente naclandestinidade, pois apareciam publicamente como procurados. Por momentos teve mais da metade doscompanheiros com responsabilidades gerais detidos em quartis.

    A FAU que j havia conseguido desenvolver formas organizativas e de atividade clandestinas e semi-clandestinas, consegue manter seu funcionamento, seja nos distintos sindicatos onde seus militantes atuam, nosorganismos de direo da CNT, no movimento estudantil, em tarefas polticas, na luta ideolgica contra a reaoe contra o reformismo e o colaboracionismo operrio, fundamentalmente expressado pelo PC. Consegue fazersair e distribuir sua imprensa, as Cartas de FAU, durante todo o tempo de clandestinidade.

    Tambm em condies de clandestinidade realiza eventos internos consultivos e resolutivos, inclusivede mudana de seu secretariado.

    De no menos importncia a discusso e acordos pontuais com outras foras revolucionrias;

    mantendo sua independncia ideolgica e poltica.

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    7/12

    Neste perodo a FAU tem um importante crescimento.

    Formao da ROEEm 1968, j na clandestinidade, depois de uma deciso orgnica que previamente realiza avaliaes

    estratgicas, a iniciativa de militantes, distintos grupos operrios e estudantis daro vida a ROE (ResistnciaOperria-Estudantil) que atuar como frente externa e de massas da proscrita FAU.Na ROE atuam militantes da FAU com distintos graus de responsabilidade na direo dos sindicatos tais

    como indstria da borracha, grficos, bancrios, gs, porto, indstria metalrgica, txteis, indstria qumica,refinarias de petrleo, transporte, sanidade, indstria alimentcia, ferrovias, etc.

    Os estudantes so fortes fundamentalmente no Instituto de Magistrio, entre os estudantes de EnsinoSecundrio, mas fracos na Universidade onde s esto presentes em poucas faculdades (Humanas e Medicina).

    O peso da Organizao no movimento operrio e popular ganha importncia. Marca uma linha detrabalho combativo e questionador do sistema. Todo este tempo foi feito o trabalho de Tendncia que nucleouaos partidrios de formas de trabalho no burocrticas, participativa e mobilizadora. No descuidou a polmicacom o reformismo, fundamentando permanentemente o porqu de seu acionar poltico distinto.

    O Sindicato de FUNSA atuou nos fatos como centro da atividade da ROE. Muitas foram as

    manifestaes combativas que operrios e estudantes agrupados na ROE levaram adiante em relao a diversosconflitos operrios e outras lutas populares.Seus atos contaram com muita gente e sofreram muita represso. Seu Boletim, mais tarde peridico,

    Companheiro era de importante circulao e influncia.

    Se organiza a OPR 33Paralelamente atividade de massas, a determinada altura, atuar a OPR (Organizao Popular

    Revolucionria), aparato armado da FAU que levar adiante com relativo xito uma srie de aes (sabotagens,expropriaes econmicas, seqestros de dirigentes polticos e patronais particularmente odiados pelo povo,apoio armado as greves e ocupaes de fbricas, etc.). A FAU insere sua ao armada em uma tica poltica eideolgica muito distinta da maioria dos movimentos de libertao latino-americanos, em grande medidainfluenciados pelo castrismo cubano e os tericos do foco guerrilheiro.

    O acionar da FAU atravs da OPR tem antes algum parentesco com o dos grupos armados espanhisvinculados a FAI (Federao Anarquista Ibrica) da dcada de 20-30.Se estabelece para o aparato armado s autonomia ttica, todos os operativos poltico-sociais so

    resolvidos pela instncia poltica global. Seu desenvolvimento e o tipo de violncia devem guardar relao como desenvolvimento da luta global do movimento operrio-popular no pas.

    Se procura evitar nveis de violncia que fiquem fora do contexto e isolados. Ao mesmo tempo setomam uma srie de medidas de funcionamento para prever e evitar deformaes militaristas.

    A OPR se estrutura como Unidades Operativas compostas de 3 equipes de 5 companheiros e umEncarregado geral. H 3 Unidades Operativas e uma Unidade, estruturada de igual maneira mas dedicadasomente a face informativa da ao armada.

    O desenvolvimento da OPR se realiza de acordo com a avaliao que se tem do andamento do processo,igualmente o volume de suas Unidades Operativas. Se estima que para o grau de violncia revolucionria do

    momento no necessrio Unidades de maior volume nem levar a quantidades de Unidades a dimenseshipertrofiantes.O aparato armado composto por uma maioria de companheiros provenientes do meio operrio.A OPR tem sua especificidade de funcionamento em relao com a tarefa que cumpre, a segurana um

    aspecto que se tenta cobrir ao mximo.Se ganha com o tempo um grau muito interessante de experincia de luta armada. Este trabalho,

    integrado ao conjunto do acionar poltico-social, enriquece as noes de toda a organizao, da mesma formaque a ROE em seu acionar a nvel de massas.

    Os meios econmicos para o desenvolvimento do conjunto da FAU so proporcionados em 90% pelaOPR atravs de diversas expropriaes e alguns sequestros.

    Em 1969, a OPR realiza uma operao de carter propagandstico que ter uma imensa repercusso nopas: a expropriao da bandeira dos 33 Orientais do Museu Histrico Nacional, que trazia escrito o lema

    Liberdade ou Morte. Uma das primeiras bandeiras uruguaias, originria do perodo de independncia do

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    8/12

    pas. A independncia uruguaia reveste-se de um teor totalmente diferente da brasileira. Seu carter popular ecombativo fez com que se desenvolvesse uma identidade popular em relao a ela. Os 33 Orientales foram osuruguaios que declararam a independncia do pas aps derrotarem tropas brasileiras quando desembarcaram napraia de Agraciada em 1825.

    Muitos militantes da FAU sofreriam bastante na tortura quando foram presos para revelar o destino dabandeira. No entanto nada se descobriu e ela permanece incgnita at os dias de hoje.

    Ditadura constitucional, pr-golpe de EstadoO pas sofre uma profunda crise econmica e poltica, a classe poltica no d resposta aos problemas

    urgentes que a manuteno do sistema coloca. H no pas j instalada uma ditadura constitucional. Omovimento operrio-popular responde ante a perda de liberdades e direitos. Organizaes de combate marcamcerta presena.

    Em dois ou trs anos a represso praticamente desmantela o MNL (Tupamaros).Nos anos que precedem a ditadura, a FAU recebe alguns golpes: companheiros mortos, presos e

    torturados. Apesar disso sua estrutura fundamental no afetada de forma considervel. O entorno social secomplica. O temor que causa a constante cada de companheiros do MLN fecha portas e espaos. Em alguns

    setores sociais comea a se espalhar o pnico. O reformismo aproveita a oportunidade para aprofundar seusataques a linha revolucionria.No marco inseguro e de diminuio das lutas, com eminente ameaa de ditadura, a Organizao

    considera necessrio recuar parte de sua fora. H nesse momento cerca de trinta companheiros em condiesde clandestinidade. Os companheiros da OPR esto entre os primeiros que a Organizao evacua. Eles seencarregaro no imediato, na Argentina, de obter os meios econmicos para uma luta contra a ditadura que seprev longa. Se estima que a Organizao deve tomar as medidas pertinentes que lhe permitam durar no tempo.Durar fazendo ser uma espcie de lema.

    Chegada da ditadura, participao na Greve GeralEm junho de 1973 com a implantao da ditadura militar, se completa o processo de tiranizao do pas

    em um continente marcado pela presena de ditaduras militares no Brasil, Chile, Bolvia, Paraguai, etc. J nesse

    momento centenas de presos polticos povoam os crceres do Uruguai, a maioria das organizaesrevolucionrias tem sido dizimadas.No incio de 1973 vem a tona a crise que existia entre os militares e o governo. As foras amadas

    exigiam uma nova reforma constitucional que sancionasse suas pretenses de estender o poderio militar. Nobojo desta crise, os militares procuram desgastar o governo e os polticos e emitem vrios comunicados.

    O seu contedo recolhia algumas reivindicaes do movimento popular, encampando um ou outro pontodo Programa de Solues para a Crise.

    O Partido Comunista, fora majoritria na direo da CNT, enxerga nestes comunicados umamanifestao dos militares progressistas e nacionalistas. Isso era perfeitamente cabvel dentro da tese deque seria possvel contar com uma frao nacionalista das foras armadas que impediriam um golpe militar.Tambm se adequava a tese de avano pacfico para o socialismo, onde se poderia contar com estes militares.As crticas procedentes da ROE e da Tendncia Combativa foram classificadas como alarmistas e estas

    organizaes acusadas de no saberem avaliar a conjuntura. Esta crena depositada nos militares foi prejudicialpara o movimento popular. A avaliao de que significativas fraes entre os militares se posicionaria nosentido de impedir um golpe, fez com que a CNT se despreocupasse em planejar uma resposta ao golpe que sedesenhava. A Tendncia Combativa avaliava que: (...) se no se aproveitava a conjuntura propcia, se no seusava uma correlao de foras favorvel para quebrar a poltica do pachequismo, se outorgaria o tempo

    histrico que o inimigo necessitava para acumular foras no aparato militar e dar o timo do processo aosgolpistas.

    Apesar disso, no dia 27 de junho, na hora do golpe, as 6h da manh, cumprindo a resoluo dosCongressos, sem esperar nenhum tipo de comunicao da direo, as fbricas comearam a parar e a greve gerala estender-se de maneira formidvel. Especialmente nos sindicatos onde a presena da Tendncia Combativa eraforte, a greve havia sido bem organizada e mantinha sustentao com forte adeso, como era o caso de FUNSA.A incidncia anarquista ali vinha de longa data e os conflitos sempre adquiriam um alto grau de combatividade.

    O sindicato gozava de grande participao e respeito por parte dos trabalhadores e sempre conseguia grandes

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    9/12

    vitrias. Na greve geral, a FUNSA foi o smbolo de uma das mais tenazes resistncias da classe trabalhadorauruguaia. A ocupao na fbrica foi imediata e com o fim da greve as atenes dos militares se voltaram para osfocos mais fortes de resistncia, objetivando a desocupao e o reinicio do trabalho. Para esta tarefa foichamado o exrcito.

    A FAU gira todos seus esforos para a greve geral que durante quinze dias paralisar o pas. Deveredobrar esforos j que a fora majoritria, o PC, recua grande parte de sua fora militante e procuradeterminado dilogo com os militares. A greve geral sobrevive na memria dos trabalhadores uruguaios comoexemplo de deciso de luta.

    Nestas condies, a FAU ordena agora a evacuao da maioria de seus militantes para Buenos Aires,onde j se encontram os mais queimados (parte da direo e os companheiros da OPR) com a inteno demanter desde a, em coordenao com o que se faz no pas, as tarefas polticas que impe a resistncia contra aditadura.

    Em parte do ano 73 e durante 74 e 75 a Organizao desenvolve um importante trabalho desde aArgentina. Apoiando o trabalho no Uruguai, obtendo os meios materiais necessrios para sustentar uma longaresistncia.

    Golpes repressivos e mudanas de orientaoMilitantes no Uruguai e militantes no exlio vem a Organizao como uma expectativa real. Comeanestes anos um processo interno na FAU para uma abertura poltica que d lugar a muita militncia que no vemdo anarquismo. Um Congresso definir uma posio que aponta a tal objetivo. De qualquer maneira, em ditoCongresso se mantm uma estratgia de inteno revolucionria, anti-eleitoralista e de matriz libertria. Provadisso so a reivindicao de elementos estratgicos anteriores e os episdios de ao direta realizados em Puntadel Este na queima de iates.

    Porm, a situao argentina se deteriora rapidamente. Em setembro de 1976 os militares tomam o podere instauram ali sua ditadura. Encurralados pela represso dos servios especiais do exrcito argentino e douruguaio, cerca de cinquenta companheiros caem assassinados e desaparecidos depois de suportarindescritveis torturas, outros tantos so condenados a longas penas de priso.

    Dentro dos assassinados se encontram velhos companheiros de decisiva gravitao para o acionar do

    conjunto da organizao. Companheiros de formao intelectual e emotiva anarquista. O grande golpe sofridogera disperso, confuso e sensao de derrota. A partir da, a organizao deixa de existir como expressopoltica.

    Um grupo de militantes abandonar suas linhas gerais, realizam um Congresso em Paris ao queconcorrem duas dezenas de ativistas. A se tomaro definies que diferem substancialmente com as histricas ese incorporar mais tarde a coalizo eleitoral de esquerda (Frente Ampla). o incio de uma orientao que emseu desenvolvimento, com contradies em uma primeira etapa, adotar finalmente uma decidida posioreformista: o PVP (Partido da Vitria Popular) que existe ainda hoje. Desde 1970 havia nas discusses internasda FAU uma pauta que buscava suprir a carncia do anarquismo na anlise de temas estruturais e econmicos, echamaram isso de sntese. avaliao de alguns que o referencial anarquista comeou a ser perdido por algunsdesde a, originando a formao do PVP marxista.

    Se inscreve nesse marco referencial uma organizao que seja a continuidade histrica da velha FAU.

    O ano de 85 de encontro, debate e de primeiros passos organizativos. Se realiza um ato pblico, nadata do assassinato de Sacco e Vanzzeti, para fazer um primeiro contato geral com o externo. Este ato no seconvoca em nome de FAU j que est ainda em sua fase inicial de reorganizao. No 1 de maio de 1986 um atopblico com 3 mil pessoas refunda publicamente a FAU.

    Pouco depois j mais situada a militncia, mais avanadas as discusses e a primeira etapa dereorganizao se decide expressamente em forma orgnica seguir o nome de FAU e ser a continuidade histricadaquela fundada em 1956 e que adquirira sua mxima expresso nos anos prvios a ditadura.

    Ressurge a velha FAUAo mesmo tempo que existem companheiros militando no seio da ditadura que tm como referente

    primordial a FAU; no crcere h militantes de indubitvel gravitao que mantm sua definio anarquista desempre e sua identificao com a histria da FAU; no exterior h tambm companheiros que participaram da

    trajetria anterior e que seguem sustentando sua definio anarquista e sua identificao com o passado da FAU.

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    10/12

    Em 1985, com a cada da ditadura, comeam os esforos de reconstituio da FAU. Voltamcompanheiros do exterior e saem companheiros da priso na anistia de presos polticos decretada pelo novogoverno. Os velhos companheiros tomam contato com a nova militncia principalmente gerada no perodo daditadura. Companheiros fundadores da FAU de 56 promovem reunies com toda a militncia libertria: vindos

    do exlio, jovens militantes e sados da priso.

    PRINCPIOS INTERNOS DA ORGANIZAO

    1. Unidade Ideolgica

    bvio que para atuar se necessita um corpo coerente de idias. As contradies e dvidas impedem aconcretizao das idias. Por outra parte a sntese, ou melhor, o conglomerado de idias dspares, que sconcordem naquilo que no de real importncia, s pode causar confuso e no pode evitar a autodestruiopelas diferenas cruciais.

    (...) Existem razes prticas que demandam que uma organizao genuna se baseie na unidadeideolgica.

    A expresso desta ideologia nica e compartilhada pode ser produto de uma sntese, mas s no sentidoda busca de uma expresso nica de idias basicamente similares com um significado essencial comum.A unidade ideolgica se estabelece por um programa o qual vemos de forma breve como: um programa

    comunista libertrio que expresse os desejos gerais das massas exploradas. Devemos novamente esclarecer que aorganizao especfica no uma unio ou contrato compreendido entre indivduos com suas prpriasconvices ideolgicas artificiais. Nasce e se desenvolve de um modo orgnico, natural, porque corresponde auma necessidade real. Seu desenvolvimento descansa em um certo nmero de idias que no so criadas todas deum tiro, descuidando os profundos desejos dos explorados. Assim, a organizao tem uma base de classe pese aque aceite gente que originalmente seja das classes privilegiadas e sejam, de certo modo, rechaados por ela.

    2. Unidade Ttica, Mtodo Coletivo de Ao

    Tomando o programa como base, a organizao trabalha uma direo ttica geral. Isto permite exploraras vantagens da estrutura: continuidade e persistncia no trabalho, as habilidades e fortalezas de unscompletando as debilidades de outros, concentrao de esforos, economia de energias, a faculdade de responderas necessidades e circunstncias com a mxima efetividade em qualquer momento. A unidade ttica previne deque ningum dispare em qualquer direo (...).

    Aqui onde se coloca o problema da determinao da ttica. No que respeita a ideologia, o programafundamental, aos princpios, no h problema: so admitidos por todos na organizao. Se h pontos de vistadivergentes sobre estas questes, h ciso. E um recm chegado a organizao aceita estes princpios bsicos, osquais s podem ser modificados por acordo unnime ou pagando o custo da diviso.

    Mas no que respeita as questes de ttica, o problema diferente. Pode se buscar a unanimidade, mas sat certo limite, se, para conciliar as distintas posies, haja que renunciar a tomada de deciso: os acordosevasivos transformam a organizao em uma casca vazia, sem substncia nem utilidade, j que a organizao

    tem por objetivo a coordenao das foras at uma meta comum. Ento, quando todos os argumentos para asdiferentes propostas tem sido feitos, quando a discusso no pode continuar sendo frutfera, quando as opiniessimilares que concordavam em princpio tem se fusionado e ainda fica uma oposio irredutvel entre as tticaspropostas, ento a organizao deve encontrar uma sada. E para isso, s h quatro possibilidades:a) No decidir nada, rechaar a ao, perdendo a organizao, assim, toda razo para existir .b) Aceitar as diferenas tticas e deixar cada um com sua prpria postura. A organizao pode aceitar isto emcertos casos, em certos pontos que no sejam de crucial importncia.c) Consultar a organizao por um voto que permita determinar uma maioria, a minoria aceitaria calar seu pontode vista na ao pblica, mas poderia seguir o debate no seio da organizao, estimando que com o tempo, se suaposio mais acertada com a realidade, acabar por triunfar. Tem se reprovado as vezes neste mtodo sua faltade objetividade, ao considerar que os nmeros no refletem sempre a verdade, e que as maiorias no tem semprerazo, mas o nico mtodo possvel. Alm do mais, no apresenta tendncias coercitivas, j que s pode ser

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    11/12

    aplicado ao ser aceito por todos os membros da organizao, e ao ser aceito pela minoria como uma necessidade,permitindo assim experimentar as proposies tticas aceitadas.d) Quando nenhum acordo entre a maioria e a minoria se mostre possvel em algum assunto crucial, o qualdemande que a organizao tome posies, h, natural e inevitavelmente, um fracionamento.

    Em todos os casos, a meta a unidade ttica, e se no se tente alcanar isto, ento as discusses no soefetivas e as confrontaes, infrutuosas. por isso que a primeira soluo possvel, no dizer nada, tem de serrechaada em qualquer caso, e a segunda, admitir vrias tticas distintas, s pode ser um fato excepcional.

    Seguramente, s nos encontros, onde toda a organizao est representada (conferencias, congressos,etc...), nos quais podem se decidir a linha ttica a seguir.

    3. Ao Coletiva e Disciplina

    Uma vez que as tticas gerais (ou orientao) tem sido decididas, o problema de sua aplicao irrompe. bvio que se a organizao tem traado uma linha de ao coletiva, as atividades militantes de todo membro ede todo grupo ao interior da organizao devem ser conforme esta linha. Nos casos em que se tem desenhado

    uma maioria e uma minoria, mas que ambas partes tem aceitado continuar o trabalho conjuntamente, ningumpode se considerar prejudicado, pois todos tem acordado esta forma de atuar de antemo, e tiveram um papel nodesenho desta linha. Esta disciplina livremente aceita no tem nada em comum com a disciplina militar e aobedincia passiva a ordens. No h nenhum aparato coercitivo para impor um ponto de vista que no tem sidoaceitado por toda a organizao: h simplesmente respeito com os compromissos livremente assumidos tantopela maioria como pela minoria.

    Por suposto, os militantes e os organismos existentes nos diferentes nveis da organizao podem tomariniciativas, sempre e quando no contradigam os acordos e as medidas adotados pelos organismos apropriados:isto , se estas iniciativas correspondem a linha coletiva, e se os detalhes de sua realizao, ao comprometer aorganizao, so consultados com os organismos representativos. Assim pois, ao coletiva e no atividadedecidida pessoalmente e em separado.

    Cada membro toma parte das atividades da organizao, no mesmo sentido em que a organizao

    responsvel pela atividade revolucionria e poltica de cada um de seus membros, j que estes no atuam noplano poltico sem consultar a organizao.

    4. Federalismo ou Democracia Interna

    Em oposio ao centralismo, que a submisso cega das massas ao centro, o federalismo permite tanto acentralizao necessria, como a livre determinao de cada membro e seu controle sobre o conjunto.S envolveos participantes no que comum.

    Quando o federalismo rene grupos baseados em interesses materiais, descansa sobre o acordo, e asbases para a unidade podem ser as vezes dbeis. Este o caso em certos setores da ao sindical. Mas naorganizao revolucionria anarquista, onde a questo um programa que represente os desejos gerais dasmassas, a base para o agrupamento (os princpios, o programa), mais importante que qualquer diferena e a

    unidade muito forte: mais que um pacto ou contrato, aqui deveramos falar de uma unidade funcional,orgnica, natural.O federalismo no deve ser compreendido como o direito a figurar teus caprichos pessoais sem

    considerar as obrigaes at a organizao de que formas parte.Significa o entendimento alcanado entre membros e grupos com vista a um trabalho comum at um

    objetivo compartilhado, mas uma unio de livre acordo, de adeso refletida.Tal entendimento implica, por uma parte, que quem compartilha, cumpra cabalmente com os deveres

    que tem aceito, e que concorde com as decises coletivas; implica, por outro lado, que os corpos coordenadorese executivos sejam designados e controlados por toda a organizao, em suas assemblias e congressos, e quesuas obrigaes e prerrogativas sejam estabelecidas de forma precisa. por tanto sobre as seguintes bases quepode existir uma organizao anarquista efetiva:

    - Unidade Ideolgica

    - Unidade Ttica

  • 7/28/2019 Especifismo e Organizao Anarquista

    12/12

    - Ao Coletiva e Disciplina- Federalismo

    George Fontenis. Manifesto Comunista Libertrio.1953