Espécies exóticas são utilizadas para reflorestamento de biomas no Brasil
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5/16/2018 Esp cies ex ticas s o utilizadas para reflorestamento de biomas no Brasil - sli...
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Espécies exóticas sãoutilizadas para
reflorestamento de biomas noBrasilCrescimento acelerado e conhecimento sobre elas são os principaismotivos
Nem todas as espécies exóticas são invasoras, ou seja, nem todas elas perturbam a
harmonia do habitat de forma a diminuir o número de espécies nativas no local ou
ameaçá-las de extinção. Algumas espécies exóticas, por exemplo, fazem parte da nossa
alimentação cotidiana como a batata e o tomate. Outras, como o eucalipto, que éoriginário da Austrália, é hoje um forte aliado na preservação da Mata Atlântica e do
Cerrado brasileiros. Em Minas Gerais, toda a madeira utilizada para a fabricação de
carvão vegetal é oriunda do eucalipto, uma espécie exótica. No entanto, pesquisadores e
especialistas garantem que uma espécie nativa é sempre melhor que uma espécie
exótica para o equilíbrio de um determinado ambiente.
O engenheiro florestal Ciro Moura(Foto: Divulgação)
“É incontestável a colaboração do eucalipto para a preservação de alguns biomas como a
Mata Atlântica, por exemplo. Mas existe uma biodiversidade tão grande em nosso país,
que acho muito estranho não existir uma árvore nativa que possa substituir o eucalipto
como instrumento de reflorestamento. O pau-jacaré é uma espécie que um tem potencial
energético absurdo e poderia ser utilizado no lugar do eucalipto para a produção de
carvão, mas é ignorado. Então, acho que falta estudo e conhecimento sobre as nossas
espécies”, explica Ciro Moura, engenheiro florestal, mestre em Ecologia e Evolução pela
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador de Projetos na Signus Vitae,
empresa de consultoria na área ambiental.
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Muda de camboatá: espécie nativa brasileira(Foto: Divulgação)
Para Ciro, o que leva à utilização de espécies exóticas em processos de reflorestamento –
a Embrapa utiliza um pacote tecnológico com quatros dessas espécies (leucena, acácias,
acácia-manjo, albizia) – é o tempo curto em que elas conseguem “recuperar” as áreas
degradadas. Uma solução rápida que, no entanto, segundo Ciro, não é a mais indicada.
“Este é um processo que funciona rápido porque as espécies exóticas se desenvolvem
mais rápido, então temos a impressão de que aquele espaço antes vazio foi preenchido
com eficácia. O reflorestamento só tem êxito quando a floresta se autodetermina, ou seja,
quando a troca de material genético entre as espécies acontece por si só.”, detalha.
Paineira: espécie nativa (Foto: Divulgação)
Em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica e a Prefeitura do Rio de Janeiro, Ciro e sua
equipe fazem um resgate de conhecimento da essência florestal nativa, coletando
espécies que não se sabe o nome vulgar. Isso acontece porque com a introdução de
espécies exóticas, o distanciamento das espécies nativas se tornou tão grande, que eles
rebatizam essas espécies até achar indícios que permitam encontrar na literatura
botânica o seu nome vulgar já descrito. A equipe coleta, produz a muda, e faz uma
recuperação de áreas degradadas com espécies nativas a fim de restaurar o equilíbrio
ambiental e observar as interações ecológicas estabelecidas entre as espécies. Isso
ocorre nos municípios fluminenses de Mendes, Volta Redonda, Valença, São Gonçalo,
Seropédica e também no estado de São Paulo, em Itu.
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Viveiro de espécies nativas da Signus Vitae(Foto: Divulgação)
Além das espécies exóticas crescerem rapidamente já se sabe como elas vão se expandir
e interagir com as outras espécies, e como lidar com elas em relação à pragas, enfim,
como identificar e solucionar esse tipo de problema. Diferentemente do que ocorre com
as espécies nativas, sobre as quais muitas vezes se tem pouco conhecimento. Para Ciro,
este é o principal fator, e é preciso investir em estudos e educação ambiental para que se
crie um pacote tecnológico de espécies nativas, o que permitirá um resultado a longo
prazo com uma troca eficaz de material genético entre as espécies, equilibrando os
biomas.
“Tudo é uma questão de estudo e conhecimento. A gente observa o padrão de sucessão
ecológica e imita o que a natureza faz. Identificamos o bico-de-pato, a arueira, o araçá, apororoca e o aleluieiro que tem a mesma função de recuperação da Mata Atlântica e são
nativas. Nessa observação, notamos que ao misturar as exóticas com as nativas, as
primeiras têm comportamento agressivo e crescimento acelerado e invasivo tirando o
espaço das nativas. É evidente que a escala de tempo de reflorestamento com espécies
nativas é muito maior, mas só assim teremos diversidade no solo e na fauna”, finaliza.
Dartagnan Emerenciano planta araucárias emMoçambique (Foto: Divulgação)
Dartagnan Emerenciano, professor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e coordenador do convênio entre a UFPR e a Universidade Eduardo
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Mondlane, em Moçambique, atua em um processo de plantio de araucárias no país
africano. Originariamente brasileira, a espécie é exótica naquele país, onde seu plantio
está em fase experimental, na floresta de Inhamacari, pertencente ao Centro
Agroflorestal de Machipanda da Universidade Eduardo Mondlane (Cefloma).
“O desenvolvimento inicial está mostrando resultados excelentes e estamos monitorando
o crescimento analogamente com as do Brasil. Encontrei araucárias aqui com 45 anos de
idade, que foram plantadas pelos portugueses quando Moçambique era colônia
portuguesa. As árvores adultas apresentaram ótimo desenvolvimento e madeira de
altíssima qualidade. Tanto que os pinhões, passaram a fazer parte da alimentação das
populações vizinhas dos plantios. Isso depois de mostrarmos a eles as diversas formas de
aproveitamento do pinhão como alimento. Em uma região em que a alimentação básica é
de farinha de milho e peixe seco, o pinhão passou a ter um valor muito importante”,
conta Dartagnan.
Plantação de araucárias em Moçambique(Foto: Divulgação)
Para ele, os benefícios são maiores do que prejuízos ao habitat pela própria natureza do
desenvolvimento da araucária e da composição de seus povoamentos. “O seu
crescimento, não muito rápido, quando comparado ao pinus e ao eucalipto a torna uma
espécie estável, de fácil controle e que traz benefícios."
Segundo Dartagnan, as espécies nativas em Moçambique também são plantadas com o
objetivo de manutenção e preservação da continuidade das suas existências. Muitas
apresentam o crescimento muito lento e levam anos até atingir a sua maturidade
biológica. E como o país depende de recursos florestais para energia, construções, etc, o
plantio das araucárias pode representar uma solução.
“Isso hoje, por não termos mais abundância de várias espécies, se torna um perigo a
médio prazo pois a população do interior do país, corta as árvores no início do seu
desenvolvimento para produzir carvão, por exemplo, e com rendimentos em média de
apenas 25%, ou seja 75% da madeira cortada vira cinzas. Portanto, temos que pesquisar
continuamente alternativas com espécies de rápido crescimento, devidamente
manejadas para que permaneçam apenas nas suas áreas de plantio e que não se torneminvasoras e sejam comparadas a pragas incontroláveis. O manejo florestal adequado é o
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fundamento para o devido controle. A implantação de qualquer espécie requer análises e
monitoramento contínuo para se comprovar o seu benefício ao ambiente onde está sendo
plantada. Existem razões econômicas que muitas vezes se sobrepõem a esses benefícios,
e tudo dependerá dos órgãos fiscalizadores para que não ocorram a longo prazo danos ao
ambiente e mesmo desastres ecológicos”, finaliza.