ESPECIAL LAGO DE FURNAS - EDIÇÃO 29 DE MARÇO 2014

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Arte final: Paulo Henrique Corsini - Foto: Venício Scatolino

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* E a água recua mais uma vez; *Águas da discórdia, da redenção e agora da desesperança; *Pontalete: ligações cortadas;

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Arte fi nal: Paulo Henrique Corsini - Foto: Venício Scatolino

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sábado, 29 de março de 2014

Majô de Souza

Reportagem local

Falta de chuva, uso da água para gerar energia

elétrica e manutenção de outras usinas formam o tripé que tem feito o lago de Furnas ter o nível e o volume útil de água cada dia mais baixo. Apesar das chuvas registradas em fevereiro e agora em março, elas não são su-ficientes para encher o lago.

A isto soma-se a cres-cente demanda por ener-gia elétrica, o que faz com que a água do lago seja usada para a gera-ção em volume muito maior que a quantidade de entra diariamente no reservatório. Há ainda o fato do lago ser um re-servatório regulador de outras usinas que fi cam mais abaixo, de forma que é de Furnas que mui-tas vezes sai a água que mantém o nível de outros reservatórios.

Outros sistemas vi-vem o mesmo drama e em alguns locais já se fala em racionamento de água e energia elétrica,

embora os governantes ainda não admitem esta hipótese. Por outro lado, todos os dias aparecem notícias de locais em que a água está literalmente por um fi o.

No caso de Furnas, o nível baixou a níveis perigosos em dezembro de 2012, chegando à cota 753,18 em relação ao ní-vel do mar no dia 16 de dezembro e volume útil de 11,02%. Na verdade, nível e volume não che-garam a ser recuperado, o que deveria acontecer durante o ano de 2013. A água subiu, mas não tanto quanto o necessá-rio. Assim, chegamos a 2014. Em janeiro e feve-reiro, em que a água de-veria continuar subindo, aconteceu o inverso, algo que muita gente garante nunca ter visto no lago. E continua baixando.

O lago deveria estar se enchendo desde novem-bro do ano passado e só parar em abril. O recuo da água deveria aconte-cer somente a partir de maio e até outubro.

O temor de políticos, lideranças, empreen-

Águas da discórdia, da redendedores, piscicultores, população e visitantes é que estes recuos da água se tornem cada vez mais frequentes e que a recu-peração demore cada vez mais.

Seja como for, agora o nível já está quase 11 me-tros abaixo da cota máxi-ma, que é de 768 metros. O volume útil de água é de apenas 28,15%. Para quem contempla o lago, a visão é triste, ainda que as pedras encontradas em alguns locais pare-çam compor um cenário bonito.

Em outros pontos, dá para ver nitidamente os contornos de cursos d’á-gua, como os rios Muzambo e São Tomé, por exemplo. Por toda a represa, troncos de árvo-res aparecem e causam perigos para navegantes desavisados.

É quase surreal observar bois pastando onde antes havia água. Pesqueiros e palanques de pescas estão em terra firme. Algumas pontes e estradas antigas já apareceram de novo, como fantasmas de uma outra época.

O lago de Furnas está com o nível mais baixo dos últimos 13 anos para esta época do ano. Em 2001, o nível e o volume chegaram a níveis críticos, levando ao racionamento de energia elétrica. Essa crise come-çou antes, por volta de 1999 e só acabou em 2002. Na época, falou-se em esva-ziamento proposital, pois o governo federal estaria ge-rando o máximo de energia para atrair compradores, já que o plano seria privatizar Furnas.

O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, convocou a Polícia Militar e fez um grande ato público em Capitólio. Furnas não foi vendida e a água voltou. A partir de

Nível mais baixo em 13 anosentão, vem acontecendo esvaziamentos sazonais e até considerados normais do lago, mas ele sempre se recuperava.

O reservatório é cha-mado de caixa d´água do sistema elétrico. Ele re-gula o abastecimento das usinas Mascarenhas de Moraes, Estreito, Volta Grande, Porto Colômbia, Marimbondo e Água Ver-melha, que fi cam abaixo, formando o complexo da bacia do Rio Grande, que por sua vez é responsável por 15% da energia gerada no Brasil. Todo o sistema Furnas - com 17 hidrelétri-cas e duas termelétricas em 15 Estados e Distrito Fede-ral - gera 40% da e-nergia consumida no país.

É visível que o nível do lago baixa cada vez mais. Também é visível a escas-sez de chuvas. E se alguém se der ao trabalho de entrar no site do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétri-co) poderá ver não apenas a cota do lago, mas também o volume útil de água e ainda o quanto entra de água no reservatório e o quanto sai.

Sai mais que entraBasta verifi car estes da-

dos de dias aleatórios para perceber que de fato, a defluência - quantidade de água usada para gerar energia elétrica - está quase sempre bem maior que a afl uência, que é o volume de água que entrar todos os dias no lago

(veja quadros nesta

reportagem).

Água no lagoVeja cota, volume útil, afl uência e defl uência de água no lago de Furnas neste início de 2014. Nota-se que o nível vem caindo vários centímetros por dia, reduzindo o volume útil. É possível perceber ainda que na maioria dos dias entra menos água do que sai do reservatório.

Data Cota (m) Volume útil (%) Afl uência (m³/s) Defl uência (m³/s)

01/01/14 761,09 50,14 965 46710/01/14 760,84 48,63 315 66920/01/14 760,62 47,32 463 69930/01/14 760,49 46,32 530 76610/02/14 759,78 42,42 168 28520/02/14 758,92 37,62 537 106928/02/14 758,27 34,14 216 117410/03/14 757,80 31,69 439 84220/03/14 757,17 28,51 154 75825/03/14 757,10 28,15 302 503

25/01/2006 766,7425/02/2006 767,2425/03/2006 767,4425/01/2007’ 764,7025/02/2007 767,7225/03/2007 767,6825/01/2008 762,1925/02/2008 765,2125/03/2008 767,1425/01/2009 767,1225/02/2009 767,5925/03/2009 767,8425/01/2010 767,1425/02/2010 767,1925/03/2010 767,7325/01/2011 765,9325/02/2011 767,3525/03/2011 767,7925/01/2012 767,1325/02/2012 767,4725/03/2012 766,9225/01/2013 756,3325/02/2013 760,7625/03/2013 762,3125/01/2014 760,5625/02/2014 758,9225/03/2014 758,10

Veja abaixo comparativo dos três primeiros meses do ano em relação anos anteriores. Desde 2006, a cota do lago nos meses de janeiro, fevereiro e março é alta, com exceção ape-nas dos anos de 2013 e 2014. Mas em 2013, mes-mo com o nível baixo, ele registrou crescimento. Ao contrário de 2014, em que a curva é descendente.

Data Cota (m)

O secretário executivo

da Alago (Associação dos

Municípios do Lago de Fur-

nas), Fausto Costa, afi rma

que toda a região Sudeste

está sofrendo com o baixo

nível de água dos reserva-

tórios. “E aqui na região

de Furnas não é diferente.

A falta de água traz preju-

ízos econômicos, sociais e

ambientais. É ruim para

todos”, enfatiza.

Para ele, além da falta

de chuva há o uso da água

do lago para gerar mais

PERSPECTIVA D

Fausto Costa: preocu-pação com empreen-dedores do lago de Furnas

Antiga ponte, agora sob a Ponte das Amoras, novamente pode ser vista

Onde havia água, agora o mato cresce viçoso em vários pontos do lago

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sábado, 29 de março de 2014

nção

DESANIMADORAenergia elétrica e abastecer as

usinas mais abaixo. Explica

que esta energia é mais barata

e que há poucos investimentos

em fontes alternativas.

Falando mais especifica-

mente de Alfenas, o secretário

executivo ressalta que em vá-

rios estabelecimentos, como

pousadas e bares, a água está

há mais de um quilômetro de

distância. “Nesta época já era

para o lago estar cheio, a fi m de

suportar bem o período de es-

tiagem que começa em maio.”

Costa também lembra que

o lago de Furnas é chamado

de caixa d´água justamente

porque funciona como um

reservatório, sendo utilizado

sempre que necessário para

abastecer as usinas abaixo

dele. “O lago de Furnas abas-

tece os outros. Se isto não

acontecer, estes lagos não vão

gerar energia elétrica”, explica.

O fato de entender isto, in-

forma, não signifi ca que a Ala-

go se preocupe menos com os

empreendimentos que depen-

dem do lago para funcionar. É

o caso de todos os segmentos

ligados ao turismo. Estes em-

preendimentos, segundo o se-

cretário executivo, demandam

tempo para serem imple-

mentados e consolidados

como destino de visitantes.

“Quando há uma baixa des-

sas no lago, quebra a vinda

de turistas e demanda novo

trabalho para conquistar o

visitante.”

O maior prejuízo social,

em sua opinião, é o desem-

prego. Sem turistas, bares,

restaurantes, pousadas e

empresas de aluguel de em-

barcações despedem. Isto,

sem contar os autônomos,

como os guias de pesca, por

exemplo, e os empregos

indiretos.

Outro problema apon-

tado é a piscicultura em

tanque-rede. Há um gran-

de número de gaiolas no

lago e boa parte delas está

desativada porque a água

recuou e não há profun-

didade sufi ciente para os

tanques. Com isto, a água

não circula bem, fi ca mais

suja e falta oxigênio para

os peixes.

Sobre os prejuízos am-

bientais, Costa demonstra

preocupação com o mato

que cresce onde antes esta-

va a água. Em alguns locais,

a vegetação já está alta.

Quando a água voltar, este

mato vai apodrecer, retirar

oxigênio e prejudicar toda

a vida no lago. Além disso,

o lançamento de esgoto in

natura por vários municí-

pios fica mais evidente e

nocivo, pois o volume de

água é bem menor para

diluir e difundir a carga.

Sobre a expectativa da

Alago em relação à volta de

água, o secretário executivo

não se mostra animado.

Para ele, o quadro não é

animador. “A meteorologia

diz que vai chover, mas não

chove; pelo menos, não no

volume que precisamos.

Isto nos deixa apreensivos

em todos os aspectos, como

por exemplo, sobre o que

será dos empreendimentos

à beira do lago”, afi rma.

Ele explica que em ja-

neiro e fevereiro seria a

época dos turistas virem

para pescar, passear ou

descansar. “Ele não vieram

em números signifi cativos.

Muitos dos que vieram, de-

sanimaram e foram embo-

ra. Isto é muito ruim para

a região.”

José Airton vem para a região uma vez por mês com mais duas pessoas. Acampado nas proximi-dades do local conheci-do como Muzambo, ele afirma que “está difícil a situação. O nível está bem baixo.”

Ele vem para cá há 15 anos e lembra, apontando para o leito do rio Muzam-bo vários metros abaixo da cabana, que pescava “daqui de cima. Agora a gente tem de descer e só pesca lambari”, ressalta.

O pescador disse es-perar que o nível do lago suba até o fim do ano. “Mas não sei não.

Acho que vai subir pou-co.

Os nossos governantes não resolvem nada.”

ESTÁ DIFÍCIL

José Airton, desanimado: “está difícil a situação”

Segundo a revista lançada em comemoração

aos 50 anos de Furnas, em 2007, foi o enge-

nheiro da Cemig Francisco Afonso Noronha o

descobridor das Corredeiras de Furnas, durante

uma pescaria. Ele ficou impressionado com

um canyon e “desenhou barragens, calculou a

profundidade do reservatório e, em Belo Hori-

zonte, apresentou seus estudos ao engenheiro

John Reginald Cotrim, então vice-presidente da

Cemig e futuro presidente de Furnas”.

A empresa Central Elétrica de Furnas foi

criada no dia 28 de fevereiro de 1957, por meio

do Decreto Federal 41.066, assinado pelo pre-

sidente Juscelino Kubistchek. O país vivia uma

grande crise energética e daí surgiu a primeira

grande usina hidrelétrica, construída no Rio

Grande, cuja capacidade é de 1.216 MW.

Após a constituição de diretoria, negociação

de empréstimos e cadastramento de proprieda-

des a serem desapropriadas foram iniciadas as

desapropriações. Eram aproximadamente cinco

mil propriedades, uma área que equivalia ao

tamanho do extinto estado da Guanabara. Entre

1958 e 1963, quatro mil homens trabalharam

na construção da Central Elétrica de Furnas.

Em 1963, entrou em operação experimental a

primeira unidade geradora da usina de Furnas.

Também operaram as linhas de transmissão

para São Paulo. A sede da empresa fi cava em

Passos, depois foi transferida para o Rio de

Janeiro.

Furnas contava com um escritório em Al-

fenas, depois fechado. E novamente aberto em

1975, por causa da crise do petróleo. Segundo

o engenheiro Normando Trindade de Moraes -

Históriamorto recentemente - que trabalhou na empresa,

Furnas havia desapropriado terras até a cota 769

metros em relação ao nível do mar, incluindo

a área para água e faixa de segurança. Quando

o lago fi cou cheio em 1963, a cota máxima de

água era de 766 metros. Ou seja, sobravam três

metros entre o nível da água e o total da terra

desapropriada.

Mas, relatou ele em 2007, o presidente Er-

nesto Geisel estava preocupado com a crise do

petróleo e acreditava que o produto não seria

sufi ciente. Por isso, questionou porque Furnas

não estava aproveitando o máximo do potencial

da represa para gerar energia elétrica, deixando

o país muito dependente do petróleo.

Foi então que, segundo o engenheiro, esta-

beleceu-se uma nova cota máxima, que chegou

a 768,50 metros. Somente este aumento do nível

de água do reservatório aumentou a geração de

energia em cerca de 250.000 kW.h.

Hoje, a empresa possui empreendimentos no

Distrito Federal e nos estados de Minas Gerais,

Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo, Tocantins,

Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ron-

dônia, São Paulo, Rio Grande do Norte e Ceará.

São 16 usinas hidrelétricas e duas termelétri-

cas, além de aproximadamente 23 mil quilôme-

tros de linhas de transmissão e 62 subestações.

A energia que produz abastece uma área em que

estão 63% dos domicílios brasileiros e responsá-

vel por 81% do PIB nacional.

Atualmente, Furnas está construindo novas

hidrelétricas, linhas de transmissão e subesta-

ções, além de investir em algumas fontes alter-

nativas, como os parques eólicos.

Curso do rio São Tomé já pode ser novamente acompanhado

Mesmo sendo uma imagem bonita, realidade da seca se impõe

Fotos: Venício Scatolino

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Placa avisa inutilmente profundidade da água

DesistindoO piscicultor Luiz Car-

los Caribé está deixando a atividade, que exercia no município de Alfenas. O principal motivo, expli-ca, é o vai-e-vem da água do lago. “Estou bastante triste. Eu era um dos mais entusiasmados quando cheguei aqui. Lamento profundamente.”

Segundo Caribé, que foi um dos fundadores da Apmar (Associação dos Piscicultores do Municí-pio de Alfenas e Região), com o baixo nível do lago, além da difi culdade para colocação dos tanques--rede, a água fi ca poluída por esgoto. “O peixe não suporta água suja, não.”

Para ele, falta apoio e investimento dos gover-

nos. “Se tivessem investido em outras fontes de ener-gia, agora não teríamos este problema. Estou dei-xando Alfenas e vou para o Nordeste. Minha intenção era ver a piscicultura da região evoluir.”

e agora da desesperança

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sábado, 29 de março de 2014

Majô de Souza

De Pontalete

A balsa de Pontelete (a 97km de Alfenas, por

terra), município de Três Pontas, está parada desde antes do Carnaval. O pre-feito Paulo Luís Rabelo (PPS) decretou a parali-sação antes do Carnaval, por causa do risco de que a embarcação pudesse en-calhar. “E também havia o risco de, se ela esbarrasse no fundo, se partir, porque é pesada”, informa. Com isto, foram encerradas as travessias para Elói Men-des e Paraguaçu.

Para o prefeito, sem o funcionamento da balsa, o maior prejuízo foi para o turismo. “Muitas pessoas vinham para o distrito de Pontalete pela água. Como somente barcos muito pe-quenos podem navegar, o movimento diminuiu mui-to, prejudicando pousadas e bares.”

Mas a embarcação tam-bém transportava pessoas para outras finalidades, como visita a parentes, compras ou simplesmente para encurtar distâncias. Paulo Rabelo afi rma que a água baixou em Pontalete justamente num momento em que o local está sendo todo revitali-zado.

Ele também comemora a liberação do processo licitatório pelo governo do Estado para o asfaltamen--to da estrada que liga o distrito a Paraguaçu. “Te-remos também ligação de Três Pontas com Carmo da Cachoeira e assim che-garemos à BR 381. O que estamos perdendo com o lago, vamos recuperando aos poucos. Em Carmo da Cachoeira, temos linha férrea que, acredito, é o futuro do país”, afirma, explicando que a ideia da hidrovia “é boa, mas com a água sumindo desse jeito, vai fi car difícil.”

O prefeito afi rma que a falta de chuva vai prejudi-car o município enorme-mente, já que sua principal cultura é o café. Pelas suas previsões, a quebra da safra ficará entre 30% e 50%. “Teremos muito café chocho, porque faltou água para o enchimento dos grãos. E a próxima safra também já está prejudi-cada, porque os galhos e folhas não estão crescen-do como é necessário”, ressalta.

Paulo Rabelo afirma que já viu algumas secas no lago de Furnas e acre-dita que os esvaziamentos estão acontecendo com mais frequência nos últi-mos anos. Para ele, além da falta de chuva, “estão usando muita água para gerar energia. Aí o lago

desce mesmo.”Ele também se mostra

indignado pela sede de Furnas ser no Rio de Ja-neiro. “Eles nem sabem onde fica o chamado Mar de Minas. Não tomam conhecimento dos proble-mas da região”, informa.

Segundo o prefeito, os municípios lindeiros já sofreram muito quando suas terras foram desa-propriadas e inundadas para formar o lago. “Per-demos muita terra para a represa.

Aqui em Três Pontas, perdemos terras culti-váveis e ficamos com os morros. Com o tempo, aprendemos a explorar o turismo e agora ficamos sem isto também, por cau-sa do nível baixo do lago.”

Paulo Luís acredita que “Furnas deveria olhar com bons olhos para as cidades em volta do lago. Eles não dão qualquer assistência. Os royalties pagos não re-solvem os problemas dos municípios causados pela operação do lago”, diz.

Em Pontalete, duas antigas pontes estão total-mente à vista, assim como uma grande variedade de estradas rurais por causa do esvaziamento do lago. Dá para ver também o antigo leito da ferrovia, que terminava em Três Pontas. Uma das pontes ligava Três Pontas a Elói Mendes. A outra ligava Elói Mendes a Paraguaçu.

José Francisco, o Deca do Pontalete, vive no local há 56 anos. Dono de um bar, conta que o lago che-gou ao enchimento total em 3 de janeiro de 1963. Ele já viu algumas secas e afirma que o movimento no distrito sempre cai quando isto ocorre. “Ain-da vem bastante gente, mas diminui sim. O mo-vimento é maior quando a balsa funciona.”

Orgulhoso de ser um dos 83 moradores fixos de Pontalete e conhecedor da história do lago de Fur-nas, ele explica que há 123 casas no distrito, muitas delas de pessoas de fora que buscam sossego nos finais de semana, feriados e férias.

Ele acompanha a re-portagem, mostrando as pontes, mata-burros, campo de futebol, por-to, estradas de terra e a famosa ilha que é o car-tão postal da localidade. Na ponte que ligava Três Pontas a Elói Mendes, ele mostra o aterro feito em 1953 para suportar a es-trutura. “Foi feito tudo de forma manual, com a terra sendo carregada do morro para o lugar em carrinhos de madeira”, explica.

PONTALETE: ligações cortadas

Antigo mata-burro, em boas condições, voltou à tona

Balsa de Pontalete está estacionadasobre o rio, para não encalhar

Ponte ligava os municípios de Elói Mendes e Paraguaçu

Galhos de antigas árvores podem ser vistos em todo o lago

Em Pontalete, terra antes inundada mostra rachaduras

Leito da ferrovia ressurge com suas pedras

Cartão postal de Pontalete, ilha mostra nível baixo da água

Ponte novamente à vista ligava Três Pontas a Elói Mendes

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Fotos: Venício Scatolino

Paulo Luís

Rabelo: “Ficamos

sem terras

e agora estamos

sem água”