Espaço2

9
Cristiano Henrique | Técnico gestão de equipamentos informáticos | 7 de julho de 2015 Felizmente há Luar TRABALHO DE PORTUGUES

Transcript of Espaço2

Page 1: Espaço2

 |   | 

Felizmente há Luar

Page 2: Espaço2

ÍndiceIntrodução2

Espaço..........................................................................................................3

Tempo........................................................................................................4-5

Personagens..............................................................................................6-7

Conclusão.....................................................................................................8

PÁGINA 1

Page 3: Espaço2

IntroduçãoLuís de Sttau Monteiro publicou a sua obra Felizmente há Luar em [1961], porém a censura não deixou subir à cena, o que só viria a acontecer em 1978, no Teatro Nacional, numa encenação do próprio autor. Trata-se de um drama narrativo, na linha do teatro brechtiano, o seu protagonista, o General Gomes Freire de Andrade, nunca aparece em cena, mas o seu calvário, da prisão à figueira, é retraçado através da perseguição que lhe movem os governadores do reino, da forçada resignação de um povo dominado pela "miséria, o medo e a ignorância", da revolta desesperada e impotente da mulher.

PÁGINA 2

Page 4: Espaço2

EspaçoEspaço Físico:

O espaço reproduzido em cena é muito sóbrio/simples, pelo que os poucos elementos em cena têm um papel altamente simbólico;Trata-se da cidade de Lisboa: Forte S. Julião da Barra, campo de Sant’ Ana (que passará a ser designado Campo dos Mártires da Pátria por causa de Gomes Freire);Referem-se também as fogueiras (que fazem lembrar os autos de fé, ou seja, julgamentos e respetivas execuções públicas de pessoas consideradas, muitas vezes sem provas factuais, inimigas da Fé Católica e do Rei).

Espaço Social:

As ruas estão recheadas de populares muito pobres, doentes ou incapacitados, mas que se movimentam com muito medo do Poder;Do lado do Poder, vemos a polícia (que surge sempre precedida de tambores).

Espaço Psicológico:

Este tipo de espaço encontra-se sobretudo nos discursos da personagem Matilde, quando esta reflete sobre a sua casa e os tempos de profundo amor vividos na companhia de Gomes Freire. A casa nunca é vista em cena, mas torna-se muito presente pelas referências de Matilde.

PÁGINA 3

Page 5: Espaço2

TempoTempo Histórico:

Diz respeito a 1817, ano em que a revolta do Povo de Pernambuco (Brasil) chegou também a Portugal, tendo culminado na conspiração portuguesa da qual resultou o envolvimento e assassinato de Gomes Freire; o Ato I remete para a madrugada/a alvorada de um dia e o Ato II começa na manhã do dia em que prenderam Gomes Freire, isto é, 18 de Outro 1817;Existem ainda referências ao período das Invasões Francesas (1807/1811), momento histórico que confirmou a aproximação entre Portugal e a Inglaterra, a qual viria a enviar um Regente e exércitos para o nosso país, no sentido de evitar a permanência e as vitórias dos franceses;São referidos ainda: o regime absolutista (em que o Rei é escolhido por Deus), alguns pormenores sobre a miséria do povo português, bem como a corrupção constante por parte das classes sociais dominantes.Tempo da Escrita: O tempo da escrita corresponde a um momento específico da época em que viveu (e escreveu) Sttau Monteiro, ou seja, os anos 50 e 60 do século XX (período do domínio salazarista/fascista);

As críticas sociais e políticas que transparecem dos dois Atos da peça estão arquitetadas de modo a atingir os dois momentos históricos: séculos XIX e XX, daí a sua ambiguidade. De facto, Sttau Monteiro consegue descrever o poder, o povo, a miséria e a corrupção, sendo que essa discrição tanto se aplica ao contexto oitocentista como ao salazarista, pois em ambos o povo saía sempre “a perder” com o favoritismo, o conservadorismo, a repressão e a corrupção económica, social e política de quem governava o país.

PÁGINA 4

Page 6: Espaço2

PersonagensPÁGINA 5

SÉCULO XIX – 1817 SÉCULO XX – ANOS 60Agitação social que levou à revolta de 1820

Agitação social: conspirações internas; principal erupção da guerra colonial

Regime absolutista e tirano Regime ditatorial salazarista

Classes hierarquizadas, dominantes, com medo de perder privilégios

Classes exploradas; desigualdade entre abastados e pobres

Povo oprimido e resignado Povo reprimido e explorado

Miséria, medo, ignorância, obscurantismo mas “felizmente há luar”

Miséria, medo, analfabetismo, obscurantismo mas crença nas mudanças

Luta contra a opressão do regime Luta contra o regime totalitário e ditatorial

Perseguições dos agentes de Beresford

Perseguições da PIDE

Denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento

Denuncias dos “bufos”

Censura à imprensa Censura total

Repressão dos conspiradores; execução sumaria e pena de morte

Prisão; duras medidas de repressão e tortura; condenação sem provas

Execução de Gomes Freire Execução de Humberto Delgado

Revolução de 1820 Revolução do 25 de Abril de 1974

Page 7: Espaço2

Gomes Freire:  homem instruído, letrado ("um estrangeirado"), um

militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É também o

símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e,

por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder instituído. Assim,

quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma situação de

revolta que se adivinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o

símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a

sua presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas

também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte,

duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e depois queimado,

quando a sentença para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a

todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa

forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe

(16.000$00 anuais, uma fortuna para a época!) e que se arriscaria a perder

se Gomes Freire chegasse ao poder.

Matilde de Sousa:  companheira de todas as horas de Gomes Freire, é

ela que dá voz à injustiça sofrida pelo seu homem. As suas falas, imbuídas

de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e da

hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas as tiradas de Matilde revelam uma

clara lucidez e uma verdadeira coragem na análise que faz de toda a teia

que envolve a prisão e condenação de Gomes Freire. No entanto, a

consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem (e daí o carácter

épico da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delírio final em

que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris

(símbolo de esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes

Freire vivendo momentos de alucinação intensa e dramática. Estes

momentos finais, pelo carácter surreal que transmitem, são também a

denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência dos homens

conduzem.

Sousa Falcão:  é o amigo de todas as horas, é o amigo fiel em quem se

pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e

amizade. No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes,

não atuou de forma consentânea com os seus ideais, faltando-lhe coragem

para passar à Acão.

Andrade Corvo   e   Morais Sarmento :  são os delatores por

excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para

servirem obscuros "propósitos patrióticos".

Vicente, o traidor:  elemento do povo, trai os seus iguais, chegando

mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua ascensão político-

PÁGINA 6

Page 8: Espaço2

social. Apesar da repulsa/antipatia que as atitudes de Vicente possam

provocar ao público/leitor, o que é facto é que não se lhe pode negar nem

lucidez nem acuidade na análise que faz da sua situação de origem e da

força corruptora do poder. Vicente é uma personagem incómoda, talvez

porque nos faça olhar para dentro de nós próprios, acordando más

consciências adormecidas.

Manuel, Rita:  símbolos do povo oprimido e esmagado, têm consciência

da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes nas mãos dos

poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. Veem em

Gomes Freire uma espécie de Messias e daí, talvez, a sua agressividade em

relação a Matilde, após a prisão do general, quando ela lhes pede que se

revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem. A prisão de Gomes Freire

é uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava. Podem

também simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma

legião de miseráveis face à quase impossibilidade de mudança da situação

opressiva em que vivem.

Beresford:  personagem cínica e controversa, aparece como alguém

que, desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, não como

um imperativo nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses

individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual. A sua posição

face a toda a trama que envolve Gomes Freire é nitidamente de

distanciamento crítico e irónico, acabando por revelar a sua antipatia face

ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder, que marcam a

realidade portuguesa.

D. Miguel:  é o protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente,

avesso ao progresso, insensível à injustiça e à miséria. Todo o seu discurso

gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades

falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor

patriótico", da construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo

simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os

olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político dos anos 60. D.

Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais execráveis

de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.

Principal Sousa:  para além da hipocrisia e da falta de valores éticos

que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza também o

conluio entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da

primeira em relação à denúncia das verdadeiras injustiças. Nas palavras do

Principal Sousa é igualmente possível detetar os fundamentos da política do

"orgulhosamente sós" dos anos 60.

PÁGINA 7

Page 9: Espaço2

Conclusão“Felizmente há luar” foi escrito numa época de tirania, ditadura e opressão, com o objetivo de levar o publico leitor a refletir sobre as circunstancias da situação política que se vivia no momento (1961). O texto de Sttau Monteiro desenvolve uma serie de aspetos/temas que são universais e atemporais: a luta por um ideal (liberdade); a denúncia das injustiças sociais; a questão da religião: o ser e o parecer; a coragem; a lealdade; a condenação da opressão e da delação; a dimensão do verdadeiro patriotismo; a amizade; a condição feminina: a mulher com um papel ativo na sociedade; as diversas vertentes do amor: amor à pátria, amor à liberdade, amor – paixão.

PÁGINA 8