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Felizmente há Luar
ÍndiceIntrodução2
Espaço..........................................................................................................3
Tempo........................................................................................................4-5
Personagens..............................................................................................6-7
Conclusão.....................................................................................................8
PÁGINA 1
IntroduçãoLuís de Sttau Monteiro publicou a sua obra Felizmente há Luar em [1961], porém a censura não deixou subir à cena, o que só viria a acontecer em 1978, no Teatro Nacional, numa encenação do próprio autor. Trata-se de um drama narrativo, na linha do teatro brechtiano, o seu protagonista, o General Gomes Freire de Andrade, nunca aparece em cena, mas o seu calvário, da prisão à figueira, é retraçado através da perseguição que lhe movem os governadores do reino, da forçada resignação de um povo dominado pela "miséria, o medo e a ignorância", da revolta desesperada e impotente da mulher.
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EspaçoEspaço Físico:
O espaço reproduzido em cena é muito sóbrio/simples, pelo que os poucos elementos em cena têm um papel altamente simbólico;Trata-se da cidade de Lisboa: Forte S. Julião da Barra, campo de Sant’ Ana (que passará a ser designado Campo dos Mártires da Pátria por causa de Gomes Freire);Referem-se também as fogueiras (que fazem lembrar os autos de fé, ou seja, julgamentos e respetivas execuções públicas de pessoas consideradas, muitas vezes sem provas factuais, inimigas da Fé Católica e do Rei).
Espaço Social:
As ruas estão recheadas de populares muito pobres, doentes ou incapacitados, mas que se movimentam com muito medo do Poder;Do lado do Poder, vemos a polícia (que surge sempre precedida de tambores).
Espaço Psicológico:
Este tipo de espaço encontra-se sobretudo nos discursos da personagem Matilde, quando esta reflete sobre a sua casa e os tempos de profundo amor vividos na companhia de Gomes Freire. A casa nunca é vista em cena, mas torna-se muito presente pelas referências de Matilde.
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TempoTempo Histórico:
Diz respeito a 1817, ano em que a revolta do Povo de Pernambuco (Brasil) chegou também a Portugal, tendo culminado na conspiração portuguesa da qual resultou o envolvimento e assassinato de Gomes Freire; o Ato I remete para a madrugada/a alvorada de um dia e o Ato II começa na manhã do dia em que prenderam Gomes Freire, isto é, 18 de Outro 1817;Existem ainda referências ao período das Invasões Francesas (1807/1811), momento histórico que confirmou a aproximação entre Portugal e a Inglaterra, a qual viria a enviar um Regente e exércitos para o nosso país, no sentido de evitar a permanência e as vitórias dos franceses;São referidos ainda: o regime absolutista (em que o Rei é escolhido por Deus), alguns pormenores sobre a miséria do povo português, bem como a corrupção constante por parte das classes sociais dominantes.Tempo da Escrita: O tempo da escrita corresponde a um momento específico da época em que viveu (e escreveu) Sttau Monteiro, ou seja, os anos 50 e 60 do século XX (período do domínio salazarista/fascista);
As críticas sociais e políticas que transparecem dos dois Atos da peça estão arquitetadas de modo a atingir os dois momentos históricos: séculos XIX e XX, daí a sua ambiguidade. De facto, Sttau Monteiro consegue descrever o poder, o povo, a miséria e a corrupção, sendo que essa discrição tanto se aplica ao contexto oitocentista como ao salazarista, pois em ambos o povo saía sempre “a perder” com o favoritismo, o conservadorismo, a repressão e a corrupção económica, social e política de quem governava o país.
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PersonagensPÁGINA 5
SÉCULO XIX – 1817 SÉCULO XX – ANOS 60Agitação social que levou à revolta de 1820
Agitação social: conspirações internas; principal erupção da guerra colonial
Regime absolutista e tirano Regime ditatorial salazarista
Classes hierarquizadas, dominantes, com medo de perder privilégios
Classes exploradas; desigualdade entre abastados e pobres
Povo oprimido e resignado Povo reprimido e explorado
Miséria, medo, ignorância, obscurantismo mas “felizmente há luar”
Miséria, medo, analfabetismo, obscurantismo mas crença nas mudanças
Luta contra a opressão do regime Luta contra o regime totalitário e ditatorial
Perseguições dos agentes de Beresford
Perseguições da PIDE
Denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento
Denuncias dos “bufos”
Censura à imprensa Censura total
Repressão dos conspiradores; execução sumaria e pena de morte
Prisão; duras medidas de repressão e tortura; condenação sem provas
Execução de Gomes Freire Execução de Humberto Delgado
Revolução de 1820 Revolução do 25 de Abril de 1974
Gomes Freire: homem instruído, letrado ("um estrangeirado"), um
militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É também o
símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e,
por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder instituído. Assim,
quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma situação de
revolta que se adivinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o
símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a
sua presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas
também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte,
duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e depois queimado,
quando a sentença para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a
todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa
forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe
(16.000$00 anuais, uma fortuna para a época!) e que se arriscaria a perder
se Gomes Freire chegasse ao poder.
Matilde de Sousa: companheira de todas as horas de Gomes Freire, é
ela que dá voz à injustiça sofrida pelo seu homem. As suas falas, imbuídas
de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e da
hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas as tiradas de Matilde revelam uma
clara lucidez e uma verdadeira coragem na análise que faz de toda a teia
que envolve a prisão e condenação de Gomes Freire. No entanto, a
consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem (e daí o carácter
épico da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delírio final em
que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris
(símbolo de esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes
Freire vivendo momentos de alucinação intensa e dramática. Estes
momentos finais, pelo carácter surreal que transmitem, são também a
denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência dos homens
conduzem.
Sousa Falcão: é o amigo de todas as horas, é o amigo fiel em quem se
pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e
amizade. No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes,
não atuou de forma consentânea com os seus ideais, faltando-lhe coragem
para passar à Acão.
Andrade Corvo e Morais Sarmento : são os delatores por
excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para
servirem obscuros "propósitos patrióticos".
Vicente, o traidor: elemento do povo, trai os seus iguais, chegando
mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua ascensão político-
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social. Apesar da repulsa/antipatia que as atitudes de Vicente possam
provocar ao público/leitor, o que é facto é que não se lhe pode negar nem
lucidez nem acuidade na análise que faz da sua situação de origem e da
força corruptora do poder. Vicente é uma personagem incómoda, talvez
porque nos faça olhar para dentro de nós próprios, acordando más
consciências adormecidas.
Manuel, Rita: símbolos do povo oprimido e esmagado, têm consciência
da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes nas mãos dos
poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. Veem em
Gomes Freire uma espécie de Messias e daí, talvez, a sua agressividade em
relação a Matilde, após a prisão do general, quando ela lhes pede que se
revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem. A prisão de Gomes Freire
é uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava. Podem
também simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma
legião de miseráveis face à quase impossibilidade de mudança da situação
opressiva em que vivem.
Beresford: personagem cínica e controversa, aparece como alguém
que, desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, não como
um imperativo nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses
individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual. A sua posição
face a toda a trama que envolve Gomes Freire é nitidamente de
distanciamento crítico e irónico, acabando por revelar a sua antipatia face
ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder, que marcam a
realidade portuguesa.
D. Miguel: é o protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente,
avesso ao progresso, insensível à injustiça e à miséria. Todo o seu discurso
gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades
falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor
patriótico", da construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo
simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os
olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político dos anos 60. D.
Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais execráveis
de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.
Principal Sousa: para além da hipocrisia e da falta de valores éticos
que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza também o
conluio entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da
primeira em relação à denúncia das verdadeiras injustiças. Nas palavras do
Principal Sousa é igualmente possível detetar os fundamentos da política do
"orgulhosamente sós" dos anos 60.
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Conclusão“Felizmente há luar” foi escrito numa época de tirania, ditadura e opressão, com o objetivo de levar o publico leitor a refletir sobre as circunstancias da situação política que se vivia no momento (1961). O texto de Sttau Monteiro desenvolve uma serie de aspetos/temas que são universais e atemporais: a luta por um ideal (liberdade); a denúncia das injustiças sociais; a questão da religião: o ser e o parecer; a coragem; a lealdade; a condenação da opressão e da delação; a dimensão do verdadeiro patriotismo; a amizade; a condição feminina: a mulher com um papel ativo na sociedade; as diversas vertentes do amor: amor à pátria, amor à liberdade, amor – paixão.
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