Espaço

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Cristiano Henrique | Técnico gestão de equipamentos informáticos | 7 de julho de 2015 Felizmente há Luar TRABALHO DE PORTUGUES

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Felizmente h Luar

EspaoEspao Fsico: O espao reproduzido em cena muito sbrio/simples, pelo que os poucos elementos em cena tm um papel altamente simblico; Trata-se da cidade de Lisboa: Forte S. Julio da Barra, campo de Sant Ana (que passar a ser designado Campo dos Mrtires da Ptria por causa de Gomes Freire); Referem-se tambm as fogueiras (que fazem lembrar os autos de f, ou seja, julgamentos e respetivas execues pblicas de pessoas consideradas, muitas vezes sem provas factuais, inimigas da F Catlica e do Rei).

Espao Social: As ruas esto recheadas de populares muito pobres, doentes ou incapacitados, mas que se movimentam com muito medo do Poder; Do lado do Poder, vemos a polcia (que surge sempre precedida de tambores).

Espao Psicolgico: Este tipo de espao encontra-se sobretudo nos discursos da personagem Matilde, quando esta reflete sobre a sua casa e os tempos de profundo amor vividos na companhia de Gomes Freire. A casa nunca vista em cena, mas torna-se muito presente pelas referncias de Matilde.

TempoTempo Histrico: Diz respeito a 1817, ano em que a revolta do Povo de Pernambuco (Brasil) chegou tambm a Portugal, tendo culminado na conspirao portuguesa da qual resultou o envolvimento e assassinato de Gomes Freire; o Ato I remete para a madrugada/a alvorada de um dia e o Ato II comea na manh do dia em que prenderam Gomes Freire, isto , 18 de Outro 1817; Existem ainda referncias ao perodo das Invases Francesas (1807/1811), momento histrico que confirmou a aproximao entre Portugal e a Inglaterra, a qual viria a enviar um Regente e exrcitos para o nosso pas, no sentido de evitar a permanncia e as vitrias dos franceses; So referidos ainda: o regime absolutista (em que o Rei escolhido por Deus), alguns pormenores sobre a misria do povo portugus, bem como a corrupo constante por parte das classes sociais dominantes.Tempo da Escrita: O tempo da escrita corresponde a um momento especfico da poca em que viveu (e escreveu) Sttau Monteiro, ou seja, os anos 50 e 60 do sculo XX (perodo do domnio salazarista/fascista); As crticas sociais e polticas que transparecem dos dois Atos da pea esto arquitetadas de modo a atingir os dois momentos histricos: sculos XIX e XX, da a sua ambiguidade. De facto, Sttau Monteiro consegue descrever o poder, o povo, a misria e a corrupo, sendo que essa discrio tanto se aplica ao contexto oitocentista como ao salazarista, pois em ambos o povo saa sempre a perder com o favoritismo, o conservadorismo, a represso e a corrupo econmica, social e poltica de quem governava o pas.

Sculo XIX 1817Sculo XX anos 60

Agitao social que levou revolta de 1820Agitao social: conspiraes internas; principal erupo da guerra colonial

Regime absolutista e tiranoRegime ditatorial salazarista

Classes hierarquizadas, dominantes, com medo de perder privilgiosClasses exploradas; desigualdade entre abastados e pobres

Povo oprimido e resignadoPovo reprimido e explorado

Misria, medo, ignorncia, obscurantismo mas felizmente h luarMisria, medo, analfabetismo, obscurantismo mas crena nas mudanas

Luta contra a opresso do regimeLuta contra o regime totalitrio e ditatorial

Perseguies dos agentes de BeresfordPerseguies da PIDE

Denncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais SarmentoDenuncias dos bufos

Censura imprensaCensura total

Represso dos conspiradores; execuo sumaria e pena de mortePriso; duras medidas de represso e tortura; condenao sem provas

Execuo de Gomes FreireExecuo de Humberto Delgado

Revoluo de 1820Revoluo do 25 de Abril de 1974

Personagens Gomes Freire:homem instrudo, letrado ("um estrangeirado"), um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justia. tambm o smbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder institudo. Assim, quando necessrio encontrar uma vtima que simbolize uma situao de revolta que se adivinha, Gomes Freire a personagem ideal. Ele o smbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, da que a sua presena se torne incmoda no s para os "reis do Rossio", mas tambm para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte, duplamente aviltante para um militar (ele enforcado e depois queimado, quando a sentena para um militar seria o fuzilamento), servir de lio a todos aqueles que ousem afrontar o poder poltico e tambm, de certa forma, econmico, representado pela tena que Beresford recebe (16.000$00 anuais, uma fortuna para a poca!) e que se arriscaria a perder se Gomes Freire chegasse ao poder. Matilde de Sousa:companheira de todas as horas de Gomes Freire, ela que d voz injustia sofrida pelo seu homem. As suas falas, imbudas de dor e revolta, constituem tambm uma denncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas as tiradas de Matilde revelam uma clara lucidez e uma verdadeira coragem na anlise que faz de toda a teia que envolve a priso e condenao de Gomes Freire. No entanto, a conscincia da inevitabilidade do martrio do seu homem (e da o carcter pico da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delrio final em que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris (smbolo de esperana num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes Freire vivendo momentos de alucinao intensa e dramtica. Estes momentos finais, pelo carcter surreal que transmitem, so tambm a denncia do absurdo a que a intolerncia e a violncia dos homens conduzem. Sousa Falco: o amigo de todas as horas, o amigo fiel em quem se pode confiar e que est sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade. No entanto, ele prprio tem conscincia de que, muitas vezes, no atuou de forma consentnea com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar Aco.

Vicente, o traidor:elemento do povo, trai os seus iguais, chegando mesmo a provoc-los, apenas lhe interessando a sua ascenso poltico-social. Apesar da repulsa/antipatia que as atitudes de Vicente possam provocar ao pblico/leitor, o que facto que no se lhe pode negar nem lucidez nem acuidade na anlise que faz da sua situao de origem e da fora corruptora do poder. Vicente uma personagem incmoda, talvez porque nos faa olhar para dentro de ns prprios, acordando ms conscincias adormecidas. Manuel, Rita:smbolos do povo oprimido e esmagado, tm conscincia da injustia em que vivem, sabem que so simples joguetes nas mos dos poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situao. Veem em Gomes Freire uma espcie de Messias e da, talvez, a sua agressividade em relao a Matilde, aps a priso do general, quando ela lhes pede que se revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem. A priso de Gomes Freire uma espcie de traio esperana que o povo nele depositava. Podem tambm simbolizar a desesperana, a desiluso, a frustrao de toda uma legio de miserveis face quase impossibilidade de mudana da situao opressiva em que vivem. Beresford:personagem cnica e controversa, aparece como algum que, desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, no como um imperativo nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manuteno do seu posto e da sua tena anual. A sua posio face a toda a trama que envolve Gomes Freire nitidamente de distanciamento crtico e irnico, acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo caduco e ao exerccio incompetente do poder, que marcam a realidade portuguesa. D. Miguel: o prottipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso ao progresso, insensvel injustia e misria. Todo o seu discurso gira em torno de uma lgica oca e demaggica, construindo verdades falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor patritico", da construo de "um Portugal prspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor", so o eco fiel do discurso poltico dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa so talvez as duas personagens mais execrveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam. Principal Sousa:para alm da hipocrisia e da falta de valores ticos que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza tambm o conluio entre a igreja, enquanto instituio, e o poder e a demisso da primeira em relao denncia das verdadeiras injustias. Nas palavras do Principal Sousa igualmente possvel detetar os fundamentos da poltica do "orgulhosamente ss" dos anos 60. Andrade CorvoeMorais Sarmento:so os delatores por excelncia, aqueles a quem no repugna trair ou abdicar dos ideais, para servirem obscuros "propsitos patriticos".

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