ESDE Tomo_I

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 Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita Federação Espírita Brasileira

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Federao Esprita BrasileiraEstudo Sistematizado da

Doutrina Esprita

Federao Esprita Brasileira

Estudo Sistematizado da

Doutrina EspritaPrograma FundamentalTomo I

Federao Esprita Brasileira

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Apresentao

A Campanha do Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita ESDE foi lanada, em Braslia-DF, na reunio anual do Conselho Federativo Nacional de novembro de 1983, em atendimento s expectativas do Movimento Esprita. Esta Campanha, efetivada na forma de seis apostilas de estudo, representativas de nveis graduais e seqenciais de aprendizado doutrinrio, utilizou a tcnica do trabalho em grupo como diretriz pedaggica. A sistematizao do estudo esprita buscou, por outro lado, apoio nas seguintes orientaes de Allan Kardec: um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver os princpios da cincia e difundir o gosto pelos estudos srios [...]. (*) Ao avaliar os resultados positivos apresentados pelo Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita, ao longo dos anos, sobretudo em relao ao trabalho de unificao do Movimento Esprita e unio dos espritas, percebemos que a aquisio do conhecimento doutrinrio deve seguir o mtodo indicado pelo prprio Codificador, conforme expressam estas suas palavras: Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Esprita, que nos lana de sbito numa ordem de coisas to nova quo grande, s pode ser feito com utilidade por homens srios, perseverantes, livres de prevenes e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. No sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a priori, levianamente, sem tudo ter visto; que no imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensveis. [...] O que caracteriza um estudo srio a continuidade que se lhe d.

(*) Obras Pstumas: Projeto 1868.

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[...] Quem deseje tornar-se versado numa cincia tem que a estudar metodicamente, comeando pelo princpio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das idias. (**) Mantendo-se fiel no propsito de difundir o Espiritismo em todos os seus aspectos, com base nas obras da Codificao de Allan Kardec e no Evangelho de Jesus Cristo, a Federao Esprita Brasileira disponibiliza ao Movimento Esprita novo programa do Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita. Trata-se de um programa mais compacto, adequado s exigncias da vida atual, cujos assuntos, distribudos objetivamente em dois nveis de aprendizado Programa Fundamental e Programa Complementar , contm 27 mdulos de estudo. Em face do exposto, contamos com uma boa receptividade dos interessados por este tipo de trabalho.

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(**) O Livro dos Espritos: Introduo, item 8.

Explicaes Necessrias

O novo curso do Estudo Sistematizado da Doutrina EspritaESDE oferece uma viso panormica e doutrinria do Espiritismo, fundamentada na ordem dos assuntos existentes em O Livro dos Espritos. O objetivo fundamental deste Curso, como do anterior, propiciar condies para estudar o Espiritismo de forma sria, regular e contnua, tendo como base as obras codificadas por Allan Kardec e o Evangelho de Jesus, conforme os esclarecimentos prestados na apresentao. O seu contedo doutrinrio est distribudo em dois programas, assim especificado: Programa Fundamental subdividido em dois tomos, cada um contendo nove mdulos de estudo. Programa Complementar constitudo de um nico tomo, tambm com nove mdulos de estudo. A formatao pedaggica-doutrinria utiliza, em ambos os programas, o sistema de mdulos para agrupar assuntos semelhantes, os quais so desenvolvidos em unidades bsicas denominadas roteiros de estudo. A durao mnima prevista para a execuo do Curso de dois anos letivos. Cada roteiro de estudo deve, em princpio, ser desenvolvido numa reunio semanal de 1 hora e 30 minutos. Todos os roteiros contm: a) uma pgina de rosto, onde esto definidos o nmero e o nome do mdulo, os objetivos especficos e o contedo bsico, norteador do assunto a ser desenvolvido em cada reunio; b) um formulrio de sugestes didticas que indica como aplicar e avaliar o assunto de forma dinmica e diversificada; c) formulrios de subsdios, existentes em nmero varivel segundo a com-

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plexidade do assunto, redigidos em linguagem didtica de acordo com os objetivos especficos e o contedo bsico do roteiro; d) formulrio de referncias bibliogrficas. Alguns roteiros contam tambm com anexos, glossrios ou notas de rodap, bem como recomendaes de atividades extraclasse. Sugere-se que as reunies semanais enfoquem, na medida do possvel, o trabalho em grupo, evitando a monotonia e o cansao.

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Sumrio

Mdulo I Introduo ao Estudo do Espiritismo ..................... 11Rot. 1 O contexto histrico do sculo XIX na Europa ............. 12 Rot. 2 Espiritismo ou Doutrina Esprita: conceito e objeto ..... 24 Rot. 3 Trplice aspecto da Doutrina Esprita ............................. 29 Rot. 4 Pontos principais da Doutrina Esprita .......................... 36

Mdulo II A Codificao Esprita ................................................. 41Rot. 1 Fenmenos medinicos que antecederam a Codificao: Hydesville e mesas girantes ............................................. 42 Rot. 2 Allan Kardec: o professor e o codificador ....................... 50 Rot. 3 Metodologia e critrios utilizados na Codificao Esprita .............................................................................. 67 Rot. 4 Obras bsicas .................................................................... 79

Mdulo III Deus .................................................................................. 95Rot. 1 Existncia de Deus ........................................................... 96 Rot. 2 Provas da existncia de Deus ......................................... 102 Rot. 3 Atributos da divindade .................................................. 108 Rot. 4 A providncia divina ...................................................... 116

Mdulo IV Existncia e Sobrevivncia do Esprito ............. 123Rot. 1 Perisprito: conceito ....................................................... 124 Rot. 2 Origem e natureza do Esprito ...................................... 130 Rot. 3 Provas da existncia e da sobrevivncia do Esprito .... 145 Rot. 4 Progresso dos Espritos ................................................ 154

Mdulo V Comunicabilidade dos Espritos ............................ 161Rot. 1 Influncia dos Espritos em nossos pensamentos e atos, e nos acontecimentos da vida ........................................ 162 Rot. 2 Mediunidade e mdium ................................................ 168 Rot. 3 Mediunidade com Jesus ................................................. 173

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Mdulo VI Reencarnao ................................................................................. 179Rot. 1 Fundamentos e finalidades da reencarnao .................................. 180 Rot. 2 Provas da reencarnao .................................................................... 190 Rot. 3 Retorno vida corporal: o planejamento reencarnatrio .............. 200 Rot. 4 Retorno vida corporal: unio da alma ao corpo ........................... 212 Rot. 5 Retorno vida corporal: a infncia .................................................. 221 Rot. 6 O esquecimento do passado: justificativas da sua necessidade ....... 228

Mdulo VII Pluralidade dos Mundos Habitados ..................................... 235Rot. 1 O fluido csmico universal ............................................................... 236 Rot. 2 Elementos gerais do universo: esprito e matria ............................ 245 Rot. 3 Formao dos mundos e dos seres vivos ......................................... 256 Rot. 4 Os reinos da natureza: mineral, vegetal, animal e hominal ........... 264 Rot. 5 Diferentes categorias de mundos habitados .................................... 274 Rot. 6 Encarnao nos diferentes mundos ................................................. 281 Rot. 7 A Terra: mundo de expiao e provas ............................................. 287

Mdulo VIII Lei Divina ou Natural .............................................................. 293Rot. 1 Lei natural: definio e caracteres .................................................... 294 Rot. 2 O bem e o mal ................................................................................... 305

Mdulo IX Lei de Adorao ............................................................................. 313Rot. 1 Adorao: significado e objetivo ...................................................... 314 Rot. 2 A prece: importncia, eficcia e ao ............................................... 320 Rot. 3 Evangelho no lar ............................................................................... 328

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PROGRAMA FUNDAMENTALMDULO I

Introduo ao Estudo do EspiritismoOBJETIVO GERAL

Propiciar conhecimentos gerais sobre a Doutrina Esprita

PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

ROTEIRO 1Objetivo especfico

O contexto histrico do sculo XIX na EuropaIdentificar o contexto histrico do sculo XIX na Europa, por ocasio do surgimento da Doutrina Esprita.

Contedo bsico

O sculo XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo, encaminhando todos os pases para reformas teis e preciosas [...]. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 23. Esse sculo, por direito, pode ser chamado o sculo das revolues, porque nenhum at agora foi to frtil em levantes, insurreies, guerras civis, ora vitoriosas, ora esmagadas. Essas revolues tm como ponto comum o fato de serem quase todas dirigidas contra a ordem estabelecida [...], quase todas feitas em favor da liberdade, da democracia poltica ou social, da independncia ou unidade nacionais. Ren Rmond: O sculo 19 Introduo. No sculo XIX as [...] lies sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o po sagrado da esperana e da crena com todos os coraes. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 23.

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Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 1

Sugestes Introduo didticas Iniciar a reunio fazendo uma apresentao geral do tema,por meio da tcnica expositiva, destacando as idias introdutrias dos subsdios deste Roteiro. Utilizar projees ou cartazes.

DesenvolvimentoPedir aos participantes que formem grupos para a realizao das seguintes atividades, tendo como base os subsdios: Grupo 1 Leitura, comentrios e resumo escrito do item 1.1 A Revoluo Francesa e as suas conseqncias. Grupo 2 Leitura, comentrios e resumo escrito do item 1.2 A Revoluo Industrial e as suas repercusses. Grupo 3 Leitura, comentrios e resumo escrito do item 1.3 Manifestaes artsticas e culturais do sculo XIX. Solicitar aos relatores dos grupos que faam a leitura do resumo, em plenria. Destacar pontos fundamentais da apresentao dos relatores, esclarecendo possveis dvidas.

Concluso

Fazer o fechamento do assunto, destacando os principais pontos constantes do item 1.4 dos subsdios (manifestaes filosficas, polticas, religiosas, cientficas e sociais do sculo XIX), os quais tiveram o poder de influenciar as geraes posteriores.

AvaliaoO estudo ser considerado satisfatrio se os participantes demonstrarem interesse e desenvolverem as tarefas com entusiasmo.

Tcnica(s): Exposio; trabalho em pequenos grupos. Recurso(s): Cartazes ou transparncias; subsdios deste Roteiro; lpis, papel.

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Subsdios

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O sculo XIX representou uma dessas pocas em que fomos especialmente abenoados pela bondade superior, a despeito de todas as dificuldades assinaladas nesse perodo. Alm das enormes contribuies culturais recebidas, fomos imensamente distinguidos pelo advento do Espiritismo, materializado no mundo fsico pelo trabalho inestimvel do professor francs Hippolyte Lon Denizard Rivail que, ao codificar a Doutrina Esprita, adotou o pseudnimo de Allan Kardec. Entretanto, o sculo que d incio aos grandes movimentos revolucionrios europeus que derrubaram o absolutismo, implantaram a economia liberal e extinguiram o antigo sistema colonial, movimentos esses apoiados nas idias renovadoras da Filosofia e da Cincia, divulgadas no sculo XVIII por Espritos reformadores, denominados iluministas e enciclopedistas. Tais idias, de acordo com o Esprito Emmanuel, constituram a base para que fossem combatidos, no sculo XIX, os [...] erros da sociedade e da poltica, fazendo soobrar os princpios do direito divino, em nome do qual se cometiam todas as barbaridades. Vamos encontrar nessa pliade de reformadores os vultos venerveis de Voltaire [1694- 1778], Montesquieu [1689-1755], Rousseau [17121778], DAlembert [1717-1783], Diderot [1713-1784], Quesnay [1694-1774]. Suas lies generosas repercutem na Amrica do Norte, como em todo o mundo. Entre cintilaes do sentimento e do gnio, foram eles os instrumentos ativos do mundo espiritual, para regenerao das coletividades terrestres 14. Enfatiza, ainda, Emmanuel que [...] foi dos sacrifcios desses coraes generosos que se fez a fagulha divina do pensamento e da liberdade, substncia de todas as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos 14. Os Estados Unidos foram a primeira nao a absorver efetivamente o pensamento renovador dos iluministas. Assim que, aps alguns incidentes com a metrpole Gr-Bretanha , os americanos proclamam a sua independncia poltica, em 4 de julho de 1776, tendo sido organizada, posteriormente, a Constituio de Filadlfia, modelo dos cdigos democrticos do futuro 15. A independncia americana repercutiu intensamente na Frana, acendendo o [...] mais vivo entusiasmo no nimo dos franceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades, depois do ex-

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travagante reinado de Lus XV 16. Em conseqncia, desencadeou-se um poderoso movimento revolucionrio em 1789 a Revoluo Francesa , considerada o marco que separa a Idade Moderna da atual, a Contempornea. Os sucessivos progressos culturais em todos os campos do saber humano, desencadeados pela Revoluo Francesa, foram to marcantes que o sculo XIX entrou para a histria como sendo o Sculo da Razo, assim como o sculo XVIII denominado o Sculo das Luzes. No contexto da histria da civilizao ocidental europia [...] o sculo XIX, tal como os historiadores o delimitam, ou seja, o perodo compreendido entre o fim das guerras napolenicas e o incio do primeiro conflito mundial [...], um dos sculos mais complexos [...] 7, marcado por um perodo de profundas transformaes poltico-sociais e econmicas, as quais tiveram o poder de influenciar geraes posteriores.

1. O contexto histrico europeu do sculo XIX1.1 A Revoluo Francesa e as suas conseqncias No apagar das luzes do sculo XVIII, a Frana, uma monarquia governada por Luiz XVI, ainda um pas agrrio, com industrializao incipiente. A sociedade francesa est constituda de trs grupos sociais bsicos: o clero, a nobreza e a burguesia. O clero, cognominado de Primeiro Estado, representava 2% da populao total e era isento de impostos. Havia um grande desnvel entre o alto clero, de origem nobre e possuidor de grandes rendimentos originrios das rendas eclesisticas, e o baixo clero, de origem plebia, reduzido prpria subsistncia. A nobreza, conhecida como Segundo Estado, fazia parte dos 2,5% de uma populao de 23 milhes de habitantes. No pagava impostos e tinha acesso aos cargos pblicos. Subdividia-se em alta nobreza, cujos rendimentos provinham dos tributos senhoriais, das penses reais e dos cargos na corte; em nobreza rural, que possua direitos de senhorio e de explorao agrcola, e em nobreza burocrtica, de origem burguesa, que ocupava os altos postos administrativos. Cerca de 95% da populao que incluia desde ricos comerciantes at camponeses formavam o Terceiro Estado, que englobava a burguesia (fabricantes, banqueiros, comerciantes, advogados, mdicos), os artesos, o proletariado industrial e os camponeses. Os burgueses tinham poder econmico, devido, principalmente, s atividades industriais e financeiras. No entanto, igualada ao povo, a burguesia no tinha direito de participao

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poltica nem de ascenso social. Foi essa situao que desencadeou uma srie de conflitos, que culminaram com a Revoluo Francesa, de 14 de julho de 1789 3. A despeito dos inegveis benefcios sociais e polticos produzidos pela Revoluo Francesa, entre eles a clebre Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, seguiram-se anos de terror, que favoreceram o golpe de estado executado por Napoleo Bonaparte, no final do sculo XVIII. Os sublimes ideais da Revoluo Francesa foram desvirtuados, em razo do abuso do poder exercido por aqueles que assumiram o governo do pas. Segundo Emmanuel, naqueles anos de terror, a [...] Frana atraa para si as mais dolorosas provaes coletivas nessa torrente de desatinos. Com a influncia inglesa, organiza-se a primeira coligao europia contra o nobre pas [Frana]. [...] Tambm no mundo espiritual renem-se os gnios da latinidade, sob a bno de Jesus, implorando a sua proteo e misericrdia para a grande nao transviada. Aquela que fora a corajosa e singela filha de Domrmy [Joanna DArc] volta ao ambiente da antiga ptria, frente de grandes exrcitos de Espritos consoladores, confortando as almas aflitas e aclarando novos caminhos. Numerosas caravanas de seres flagelados, fora do crcere material, so por ela conduzidos s plagas da Amrica, para as reencarnaes regeneradoras, de paz e de liberdade 17. Entre o final do sculo XVIII e o incio do sculo XIX (1799 a 1815), a poltica europia est centrada na figura carismtica de Napoleo Bonaparte, um dos grandes chefes militares da Histria, administrador talentoso, que, entre outras reformas civis, promulga uma nova Constituio; reestrutura o aparelho burocrtico; cria o ensino controlado pelo Estado (ensino pblico); declara leigo o Estado, separando-o, assim, da religio; promulga o Cdigo Napolenico que garante a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito propriedade privada, o divrcio e adota o primeiro Cdigo Comercial 3. No que diz respeito s aes deste imperador francs, lembra-nos Emmanuel que [...] as atividades de Napoleo pouco se aproximaram das idias generosas que haviam conduzido o povo francs revoluo. Sua histria est igualmente cheia de traos brilhantes e escuros, demonstrando que a sua personalidade de general manteve-se oscilante entre as foras do mal e do bem. Com as suas vitrias, garantia a integridade do solo francs, mas espalhava a misria e a runa no seio de outros povos. No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Cdigo Civil, estabelecendo as mais belas frmulas do direito, mas difundiam-se a pilhagem e o insulto sagrada emancipao de outros, com o movimento dos seus exrcitos na absoro e anexao de vrios povos. Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de tradies gloriosas, e verdade que ele foi um missionrio do Alto, embora trado em suas prprias foras [...] 18.

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1.2

A Revoluo Industrial e as suas repercusses

Outra revoluo, iniciada na Inglaterra em meados do sculo XVIII, a Revoluo Industrial, acarretou profundas transformaes na sociedade, modificando a feio das relaes humanas dentro e fora dos pases. Serviu de alavanca para o progresso tecnolgico que presenciamos nos dias atuais, pela inveno de mquinas e de equipamentos cada vez mais sofisticados. Propiciou o desenvolvimento das relaes internacionais, em especial nas reas econmicas, comerciais e polticas, transformando o mundo numa aldeia global. Conduziu urbanizao de ajuntamentos humanos e construo de modernos cercamentos (propriedades rurais). Desenvolveu a rede de comunicaes de curta e de longa distncia, principalmente pelo emprego inteligente da energia eltrica e da eletrnica. Ampliou os meios de transportes, em especial o martimo e o areo. Favoreceu as pesquisas mdico-sanitrias voltadas para o controle das doenas epidmicas, resultando no aumento das faixas da sobrevida humana 4. A Revoluo Industrial, no entanto, produziu igualmente vrias distores e malefcios, de certa forma esperados, se se considerar o relativo atraso moral da nossa Humanidade. Os principais desequilbrios produzidos pela Revoluo Industrial so, essencialmente, decorrentes das relaes trabalhistas, infelizmente

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Aps Napoleo, a Frana passa por um novo perodo de transformaes histricas, uma vez que [...] vrios princpios liberais da Revoluo foram adotados, tais como a igualdade dos cidados perante a lei, a liberdade de cultos, estabelecendo-se, a par de todas as conquistas polticas e sociais, um regime de responsabilidade individual no mecanismo de todos os departamentos do Estado. A prpria Igreja, habituada a todas as arbitrariedades na sua feio dogmtica, reconheceu a limitao dos seus poderes junto das massas, resignando-se com a nova situao 19. O movimento democrtico na Frana mistura poltica e literatura. Assim, numerosos escritores se engajam na luta poltica e social, atravs de suas obras e ao. Desse modo, Lamartine e Vctor Hugo so eleitos deputados, tornando-se o prprio Lamartine que muito contribuiu para o advento da Repblica chefe do governo provisrio. Muitos desses escritores, como Zola, militam na causa republicana ou socialista 8. Sob o regime da Restaurao, as questes mais importantes so as de ordem poltica: o partido liberal exige a aplicao da Carta (Constituio) e um alargamento da liberdade que ela garante. Os liberais, como Stendhal e PaulLouis Courier, so anticlericais. Chateaubriand torna-se liberal, e prev o advento da Democracia 9.

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caracterizadas pela explorao do trabalho e pelas deficientes condies de segurana e higiene laborais, ocorridas em gradaes diversas 4. oportuno considerar que os ideais da Revoluo Francesa e os princpios da Revoluo Industrial se espalharam, como um rastilho de plvora, por todo o continente europeu, estimulando revolues liberais, que incitavam a burguesia e os trabalhadores a aes contra o poder constitudo. A Europa do sculo XIX assemelha-se a um caldeiro em constante ebulio, afetando o cotidiano das pessoas, em decorrncia das contnuas mudanas no campo das idias, na organizao das instituies, na definio das formas de governo, e em virtude dos embates poltico-sociais, das conquistas cientficas e tecnolgicas, das planificaes educativas, dos questionamentos religiosos e filosficos. 1.3 Manifestaes artsticas e culturais do sculo XIX

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As atividades artsticas e culturais do sculo XIX revelam uma preferncia predominantemente romntica. O romantismo influencia as idias polticas e sociais abraadas pela burguesia revolucionria da primeira metade do sculo, associando as manifestaes romnticas aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. A inspirao do artista romntico era buscada junto das pessoas simples, numa manifestao antielitista e antiaristocrtica. Pesquisava-se a cultura popular e o folclore para a produo de pinturas, esculturas e peas musicais. As obras romnticas de carter pico destacam o herosmo. O iderio artstico estava diretamente relacionado realidade das lutas polticas e sociais da poca: os sacrifcios da populao, o sangue derramado nas batalhas e at as dificuldades encontradas nas disputas amorosas 5. No que diz respeito produo literria, sobressai, na Alemanha, o poeta Gethe (1749-1832), que, em Fausto uma de suas mais importantes obras , enaltece a liberdade individual, tema repetido em seus demais trabalhos 5. Na Frana, destaca-se a figura de Vctor Hugo, que ocupa lugar excepcional na histria das letras francesas. Grande parte de sua obra popular pelas idias sociais que difunde, e pelos sentimentos humanos, nobres e simples que ela canta. No livro Napoleo, o Pequeno, Vctor Hugo critica o governo de Napoleo III. Em Os Miserveis, denuncia, como ningum at ento fizera, o estado de penria dos pobres 13. As artes plsticas, inspiradas no classicismo greco-romano, tm como exemplos mais importantes o Arco do Triunfo e as colunas existentes em Paris, construdas por ordem de Napoleo Bonaparte. Jacques-Louis David (1746-1828) legou posteridade famoso quadro sobre o assassinato de Jean-Paul Marat, um dos lderes da Revoluo Francesa.

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1.4

Manifestaes filosficas, polticas, religiosas, sociais e cientficas do sculo XIX

Para Emmanuel, o [...] campo da Filosofia no escapou a essa torrente renovadora. Aliando-se s cincias fsicas, no toleraram as cincias da alma o ascen-

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O pintor francs Eugne Delacroix (1798-1863) lder do movimento romntico na pintura francesa retrata no quadro A Liberdade uma mulher que, segurando a bandeira tricolor francesa, guia o povo nas dramticas jornadas revolucionrias 5. No campo das composies musicais ocorre uma reviravolta. O virtuosismo do sculo anterior substitudo por interpretaes musicais de forte colorido emocional. A msica para os romnticos no era s uma obra de arte, mas um meio de comunicao com o estado de alma. Os grandes compositores romnticos captam e executam peas musicais que destacam o momento poltico. Um dos compositores que demonstra de forma notvel essa relao Richard Wagner (1813-1883). A composio musical Lohengrin revela a forte influncia dos socialistas utpicos e dos revolucionrios da poca. Beethoven (1770-1827) homenageia Napoleo Bonaparte em sua Nona Sinfonia. A Rapsdia Hngara, de Liszt (1811-1886), e as Polonaises, de Chopin (1810-1849), so verdadeiros panfletos de manifestaes nacionalistas. O nacionalismo, na produo das peras de Rossini (1792-1868), Bellini (1801-1835) e Verdi (1813-1901), transmite um apelo pungente unificao da Itlia. O surgimento dessa forma de pera determina a passagem da msica de cmara para a msica dos grandes teatros, onde um grande nmero de pessoas poderia ter acesso aos espetculos artsticos 5. Ao idealismo romntico contrape-se o Realismo, que professa o respeito pelos fatos materiais, e estuda o homem segundo o seu comportamento e em seu meio, luz das teorias sociais ou fisiolgicas. Escritores realistas como Stendhal, Balzac, Flaubert, e naturalistas como Zola, escreveram romances com pretenses cientficas. Zola imita o mtodo cientfico experimental do bilogo Claude Bernard 10, 12. Na segunda metade do sculo XIX, a pintura europia passa por uma verdadeira transformao, desencadeada pelo movimento chamado Impressionismo. Os pintores impressionistas procuram captar o cotidiano da vida urbana e do campo, buscando registrar nas telas as impresses dos efeitos da luz sobre a cena desejada. Os pintores mais importantes desse movimento foram douard Manet (1832-1883), Claude Monet (1840-1926), Renoir (1841-1920), Czanne (1839 1906) e Degas (1834-1917) 5.

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dente dos dogmas absurdos da Igreja. As confisses crists, atormentadas e divididas, viviam nos seus templos um combate de morte. Longe de exemplificarem aquela fraternidade do Divino Mestre, entregavam-se a todos os excessos do esprito de seita. A Filosofia recolheu-se, ento, no seu negativismo transcendente, aplicando s suas manifestaes os mesmos princpios da cincia racional e materialista. Schoupenhauer [1788-1860] uma demonstrao eloqente do seu pessimismo e as teorias de Spencer [1820-1903] e de Comte [1798-1857] esclarecem as nossas assertivas, no obstante a sinceridade com que foram lanadas no vasto campo das idias 21. De acordo com o Positivismo de Auguste Comte, a humanidade ultrapassou o estado teolgico e o estado metafsico ao penetrar o estado positivo, caracterizado pelo sucesso dos conhecimentos positivos, fundados numa certeza racional e cientfica. Tais idias conduzem aos exageros do cientificismo, em que a f na Cincia se torna a verdadeira f. Acredita-se que ela v resolver todos os problemas, elucidar todos os mistrios do mundo; tornar inteis a religio e a metafsica. Este entusiasmo revelado na conhecida obra literria de Renan: LAvenir de la Science (O Futuro da Cincia) 12. Em relao s idias anarquistas e s ideologias socialistas da sociedade da poca, essas concepes ainda repercutem nos dias atuais. O Anarquismo, como sabemos, representa um conjunto de doutrinas que preconizam a organizao da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta. Considera o Estado uma fora coercitiva que impede os indivduos de usufruir liberdade plena. A concepo moderna de anarquismo nasce com a Revoluo Industrial e com a Revoluo Francesa. Em fins do sculo XVIII, William Godwin (1756-1836) desenvolve o pensamento anrquico, na obra Enquiry Concerning Political Justice. No sculo XIX surgem duas correntes principais do Anarquismo, de ao marcante na mentalidade dos povos. A primeira encabeada pelo francs PierreJoseph Proudhon (1809-1865), afirma que a sociedade deve estruturar sua produo e seu consumo em pequenas associaes baseadas no auxlio mtuo entre as pessoas. Segundo essa teoria, as mudanas sociais so feitas com base na fraternidade e na cooperao. O russo Mikhail Bakunin (1814-1876) um dos principais pensadores da outra corrente, tambm chamada de Coletivismo. Defende a utilizao de meios mais violentos nos processos de transformao da sociedade, e prope a revoluo universal sustentada pelos camponeses (campesinato). Afirma que as reformas s podem ocorrer depois que o sistema social existente for destrudo. Os trabalhadores espanhis e italianos so bastante influenciados por Bakunin, mas o movimento anarquista nesses pases esmagado pelo surgimento do Fascismo. O russo Peter Kropotkin (1842-1876)

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considerado o sucessor de Bakunin. Sua tese conhecida como anarco-comunista e se fundamenta na abolio de todas as formas de governo, em favor de uma sociedade comunista regulada pela cooperao mtua dos indivduos, em vez da oriunda das instituies governamentais. Essas idias resultaram no surgimento do Marxismo, que, de socialismo cientfico, transforma-se em crtico do regime capitalista, tendo como base o materialismo histrico 8. Assim, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, de autoria dos alemes Karl Marx (18181883) e Friedrich Engels (1820-1895), afirma que o comunismo seria a etapa final da organizao poltico-econmica humana. A sociedade viveria em um coletivismo, sem diviso de classes e sem a presena de um Estado coercitivo. Para chegar ao Comunismo, no entanto, os marxistas prevem um estgio intermedirio de organizao, o Socialismo, que instauraria uma ditadura do proletariado para garantir a transio. Esses movimentos polticos tambm confrontam as prticas religiosas conduzidas pela Igreja Catlica que, desviada dos princpios morais do estabelecimento de um imprio espiritual no corao dos homens, aproxima-se em demasia das necessidades polticas da nobreza reinante na Europa. Essa aproximao com o poder real trouxe conseqncias desastrosas, abrindo espao a discusses sobre o papel desempenhado pela Igreja em particular, e pela religio, considerada como sinnimo de movimento religioso de igreja catlica ou reformada , equvoco que ainda norteia o pensamento religioso da maioria dos europeus dos dias atuais. Nesse contexto, surge o Catolicismo Social, movimento criado por Lamennais, que buscava um ideal de caridade e de justia, conforme os ensinos do Evangelho. Lamennais rompe com a Igreja e se torna abertamente socialista. Lacordaire e MontAlembert se submetem sem abandonar a ao generosa (caridade e justia) 11. A fragilidade demonstrada pela Igreja Catlica, frente aos contumazes ataques que recebia, abriu espao expanso das doutrinas divulgadas pelas igrejas reformadas. Na verdade, a propagao do Protestantismo na Europa e na Amrica da mesma forma que a multiplicidade de interpretaes doutrinrias surgidas ao longo de sua evoluo histrica , estava ocorrendo desde o sculo XVI. Os questionamentos levantados sobre o papel da religio, num perodo em que a sociedade estava submetida a um racionalismo dominante, conduziram telogos e intelectuais protestantes do sculo XIX a um reexame dos textos bblicos, e at a um estudo crtico da razo de ser do Cristianismo. Nasciam, a partir daquele momento histrico, as teorias sobre a salvao pela f, dogma considerado imprescindvel experincia religiosa de cada pessoa e necessidade social que o homem tem de crer em Deus e de senti-lo.

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Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita22

No campo da Cincia, as mudanas foram significativas, fundamentais ao progresso cientfico e tecnolgico dos dias futuros: a descoberta do planeta Netuno por Leverrier; os trabalhos de Louis Pasteur sobre microbiologia; os estudos de Pierre e Marie Curie no campo das energias emitidas pelo rdio, e a teoria da origem e evoluo das espcies, de Charles Darwin. O surgimento da mquina a vapor revoluciona os meios de transportes. O desenvolvimento da indstria e sua concentrao progressiva levam a um aumento considervel do proletariado urbano e da acuidade das questes sociais. O movimento industrial necessita de operaes bancrias e permite a edificao de novas fortunas. A burguesia rica acelera sua ascenso e torna-se a classe dominante, fora poltica e social. O dinheiro tema literrio de primeiro plano, com cuja inspirao os autores pintam a insolncia de seus privilegiados ou a misria de suas vtimas 12. Em [...] confronto com todas as pocas precedentes, o perodo que vai de 1830 a 1914 assinala o apogeu do progresso cientfico. As conquistas desse perodo no s foram mais numerosas mas tambm devassaram mais profundamente os segredos das coisas e revelaram a natureza do mundo e do homem, projetando sobre ela uma luz at ento insuspeitada [...]. O fenomenal progresso cientfico dessa poca resultou de vrios fatores. Deveu-se, at certo ponto, ao estmulo da Revoluo Industrial, elevao do padro de vida e ao desejo de conforto e prazer 6. Todavia, importante assinalar que uma revoluo diferente marcou, tambm, esse perodo. Falamos da revoluo moral proposta pelo Espiritismo nascente: O sculo XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo, encaminhando todos os pases para as reformas teis e preciosas. As lies sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o po sagrado da esperana e da crena com todos os coraes. Allan Kardec, todavia, na sua misso de esclarecimento e consolao, fazia-se acompanhar de uma pliade de companheiros e colaboradores, cuja ao regeneradora no se manifestaria to-somente nos problemas de ordem doutrinria, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do sculo XIX 20.

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Referncia Bibliogrfica

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1. AMORIM, Deolindo. O espiritismo e os problemas humanos. Rio de Janeiro: Mundo Esprita, 1948. Cap. 34, p. 170. 2. ______. Transio inevitvel. O espiritismo e os problemas humanos. So Paulo: USE, 1985, p. 23. 3. AMARAL, Jesus S. F. [et al.]. Enciclopdia mirador internacional. So Paulo: 1995. (Revoluo francesa), vol. 18. Item III, p. 9852-9859. 4. ______. (Revoluo industrial), p. 9877-9881. 5. BURNS, Edward McNall. Histria da civilizao ocidental. 3. ed. Porto Alegre: Globo, 1975. Progresso intelectual e artstico durante a poca da democracia e do nacionalismo, p. 661. 6. ______. p. 792. 7. RMOND, Ren. O sculo XIX. Traduo de Frederico Pessoa de Barros. 12. ed. So Paulo: Cultrix. Os componentes sucessivos, p. 13. 8. LAGARDE, Andr et MICHARD, Laurent. XIXe Sicle. Les grands auteurs franais du programme. Paris: Bordas, 1964. Introduction (Le mouvement dmocratique), vol. 5, p. 7-8. 9. ______. p. 8. 10. ______. (Le ralisme), p. 11. 11. ______. (Le socialisme), p. 8. 12. ______. (Le progrs scientifique et industriel), p. 9. 13. ______. Victor Hugo, p. 153. 14. XAVIER, Francisco Cndido. A caminho da luz. Pelo Esprito Emmanuel. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 21 (poca de transio), item: Os enciclopedistas, p. 185. 15. ______. (A independncia americana), p. 186. 16. ______. Cap. 22 (A revoluo francesa), p. 187. 17. ______. (Contra os excessos da revoluo), p. 189. 18. ______. (Napoleo Bonaparte), p. 192-193. 19. ______. Cap. 23 (Depois da revoluo), p. 196. 20. ______. (Allan Kardec e os seus colaboradores), p. 197. 21. ______. (As cincias sociais), p. 198-199.

PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

ROTEIRO 2Objetivo especfico

Espiritismo ou Doutrina Esprita: conceito e objetoConceituar Doutrina Esprita, destacando o seu objeto.

Contedo bsico

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Diremos [...] que a Doutrina Esprita ou o Espiritismo tem por princpio as relaes do mundo material com os Espritos ou seres do mundo invisvel. Os adeptos do Espiritismo sero os espritas, ou, se quiserem, os espiritistas. Allan Kardec. O livro dos espritos Introduo, item 1. O Espiritismo uma cincia que trata da natureza, origem e destino dos Espritos, bem como de suas relaes com o mundo corporal. Allan Kardec: O que o espiritismo Prembulo. O Espiritismo , ao mesmo tempo, uma cincia de observao e uma doutrina filosfica. Como cincia prtica ele consiste nas relaes que se estabelecem entre ns e os Espritos; como filosofia, compreende todas as conseqncias morais que dimanam dessas mesmas relaes. Allan Kardec: O que o espiritismo Prembulo. Assim como a Cincia propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princpio material, o objeto especial do Espiritismo o conhecimento das leis do princpio espiritual. Allan Kardec: A gnese. Cap. 1, item 16.

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Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

Sugestes Introduo didticas Apresentar, no incio da reunio, os objetivos do tema, reali

zando breves comentrios a respeito. Pedir aos participantes que, individual e silenciosamente, leiam os subsdios deste Roteiro, assinalando com um trao as idias que melhor correspondem ao conceito e objeto da Doutrina Esprita.

Desenvolvimento

Concluso

Aps os comentrios, fazer consideraes sobre o trabalho realizado, destacando pontos relevantes.

AvaliaoO Estudo ser considerado satisfatrio se: a) os participantes selecionarem, acertadamente, as frases das tiras de cartolina que devero ser coladas nos cartazes; b)os comentrios das duplas refletirem entendimento do assunto.

Tcnica(s): leitura; montagem de texto. Recurso(s): subsdios deste Roteiro; cartazes, tiras de cartolinas com frases copiadas dos subsdios; cola ou fita adesiva.

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Enquanto os participantes realizam a leitura recomendada, afixar no mural da sala de aula dois cartazes intitulados, respectivamente: a) Conceito de Espiritismo; b) Objeto do Espiritismo. Em seguida, entregar, aleatoriamente, a cada participante, uma tira de cartolina contendo frases copiadas dos subsdios, referentes ao conceito e ao objeto do Espiritismo. Pedir turma que, sem consulta ao texto lido, faa a montagem do mesmo, colando cada tira de cartolina em um dos cartazes afixados. Explicar tambm que essa montagem deve ser auxiliada por um colega, formando, assim, duplas para a troca de idias e realizao do trabalho. Verificar se a montagem do texto est correta, solicitando s duplas breves comentrios a respeito das frases que lhes couberam.

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

Subsdios 1. Conceito de EspiritismoO termo Espiritismo foi criado por Allan Kardec pelas razes que ele mesmo explica na Introduo de O Livro dos Espritos: Para se designarem coisas novas so precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confuso inerente variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocbulos espiritual, espiritualista, espiritualismo tm acepo bem definida. Dar-lhes outra, para aplic-los doutrina dos Espritos, fora multiplicar as causas j numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matria, espiritualista. No se segue da, porm, que creia na existncia dos Espritos ou em suas comunicaes com o mundo visvel. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crena a que vimos de referir-nos, os termos esprita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligveis, deixando ao vocbulo espiritualismo a acepo que lhe prpria. Diremos, pois, que a doutrina esprita ou o Espiritismo tem por princpio as relaes do mundo material com os Espritos ou seres do mundo invisvel. Os adeptos do Espiritismo sero os espritas, ou, se quiserem, os espiritistas 4. O Espiritismo , ao mesmo tempo, uma cincia de observao e uma doutrin filosfica. Como cincia prtica, ele consiste nas relaes que se estabelecem entre ns e os Espritos; como filosofia, compreende todas as conseqncias morais que dimanam dessas mesmas relaes. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo uma cincia que trata da natureza, origem e destino dos Espritos, bem como de suas relaes com o mundo corporal 5. Em o Evangelho segundo o Espiritismo, assinala, ainda, Kardec: O Espiritismo a cincia nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusveis, a existncia e a natureza do mundo espiritual e as suas relaes com o mundo corpreo. Ele nolo mostra, no mais como coisa sobrenatural, porm, ao contrrio, como uma das foras vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenmenos at hoje incompreendidos

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e, por isso, relegados para o domnio do fantstico e do maravilhoso. a essas relaes que o Cristo alude em muitas circunstncias e da vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligvel ou falsamente interpretado. O Espiritismo a chave com o auxlio da qual tudo se explica de modo fcil 1.

2. Objeto do EspiritismoAssim como a Cincia propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princpio material, o objeto especial do Espiritismo o conhecimento das leis do princpio espiritual. Ora, como este ltimo princpio uma das foras da Natureza, a reagir incessantemente sobre o princpio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um no pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a Cincia se completam reciprocamente; a Cincia, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenmenos s pelas leis da matria; ao Espiritismo, sem a Cincia, faltariam apoio e comprovao. O estudo das leis da matria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matria que primeiro fere o sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas cientficas, teria abortado, com tudo quanto surge antes do tempo 2. Mais adiante, ainda nesta referncia (A gnese), acrescenta Kardec: A Cincia moderna abandonou os quatro elementos primitivos dos antigos e, de observao em observao, chegou concepo de um s elemento gerador de todas as transformaes da matria; mas, a matria, por si s, inerte; carecendo de vida, de pensamento, de sentimento, precisa estar unida ao princpio espiritual. O Espiritismo no descobriu, nem inventou este princpio; mas, foi o primeiro a demonstrar-lhe, por provas inconcussas, a existncia; estudou-o, analisou-o e tornoulhe evidente a ao. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Elemento material e elemento espiritual, esses os dois princpios, as duas foras vivas da Natureza. Pela unio indissolvel deles, facilmente se explica uma multido de fatos at ento inexplicveis. O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forosamente na maior parte das cincias; s podia, portanto, vir depois da elaborao delas; nasceu pela fora mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxlio apenas das leis da matria 3. Em suma, os [...] fatos ou fenmenos espritas, isto , produzidos por Espritos desencarnados, so a substncia mesma da Cincia Esprita, cujo objeto o estudo e conhecimento desses fenmenos, para fixao das leis que os regem [...] 6.

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Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 2

Referncia 1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. Traduo de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. Bibliogrfica

1, item 5, p. 56-57. 2. ______. A gnese. Traduo de Guillon Ribeiro. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 1, item 16, p. 21. 3. ______. Item 18, p. 22. 4. ______. O livro dos espritos. Traduo de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Introduo. Item 1, p. 13. 5. ______. O que o espiritismo. 53. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Prembulo, p. 50. 6. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo bsico. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. (O espiritismo cientfico). Segunda parte, p. 103.

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PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

ROTEIRO 3Objetivo especfico Contedo bsico

Trplice Aspecto da Doutrina Esprita

Identificar os aspectos cientfico, filosfico e religioso do Espiritismo.

O Espiritismo a cincia nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusveis, a existncia e a natureza do mundo espiritual e as suas relaes com o mundo corpreo. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo Cap. 1, item 5. O Espiritismo uma doutrina essencialmente filosfica, embora seus princpios sejam comprovados experimentalmente, o que lhe confere tambm o carter cientfico. [...] O carter filosfico do Espiritismo est, portanto, no estudo que faz do Homem, sobretudo Esprito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinao. Pedro Franco Barbosa: Espiritismo bsico Segunda parte O espiritismo filosfico. O [...] Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religio e respeita todas as crenas; [...] um de seus efeitos incutir sentimentos religiosos nos que os no possuem, fortalec-los nos que os tenham vacilantes. Allan Kardec: O livro dos mdiuns Primeira parte. Cap. 3, item 24. O Espiritismo uma doutrina filosfica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forosamente vai ter s bases fundamentais de todas as religies: Deus, a alma e a vida futura. Mas, no uma religio constituda, visto que no tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o ttulo de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Allan Kardec: Obras pstumas Ligeira resposta aos detratores do espiritismo.

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Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

No sentido filosfico, o Espiritismo uma religio, e ns nos vangloriamos por isto, porque a Doutrina que funda os vnculos da fraternidade e da comunho de pensamentos, no sobre uma simples conveno, mas sobre bases mais slidas: as prprias leis da natureza. Allan Kardec: Revista esprita. Dezembro de 1868 discurso de abertura pelo senhor Allan Kardec.

Sugestes Introduo: didticas Projetar, no incio da reunio, trs imagens (ou cones) que

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

caracterizem, respectivamente, a Cincia, a Filosofia e a Religio, como incentivo inicial. Fazer correlao entre essas imagens e o significado do trplice aspecto da Doutrina Esprita, tendo como base os subsdios do Roteiro.

Desenvolvimento:

Dividir a turma em trs grupos, orientando-os na realizao das seguintes atividades: a) Grupo 1 leitura, troca de idias, e resumo escrito do item 2 dos subsdios (O aspecto cientfico); b) Grupo 2 leitura, troca de idias, e resumo escrito do item 3 dos subsdios (O aspecto filosfico); c) Grupo 3 leitura, troca de idias, e resumo escrito do item 4 dos subsdios (O aspecto religioso).

Observao: Cada grupo deve indicar um participante para resumir as concluses e um relator para apresent-las em plenrio. Ouvir os relatos dos grupos, destacando os pontos mais importantes das concluses.

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Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

Concluso: Concluir o estudo apresentando, em transparncias de retro-

projetor, as caractersticas do trplice aspecto da Doutrina Esprita, segundo a orientao kardequiana (veja referncias bibliogrficas 1 a 7).

Atividade extraclasse para a prxima reunio de estudoSolicitar aos participantes a leitura do item 6, da introduo de O Livro dos Espritos que trata dos pontos principais da Doutrina Esprita , e o resumo por escrito dos pontos assinalados por Allan Kardec.

Avaliao

Tcnica(s): exposio; estudo em pequenos grupos. Recurso(s): subsdios deste roteiro; transparncias; retroprojetor, lpis/ caneta; papel.

Subsdios 1. O trplice aspecto da Doutrina EspritaO trplice aspecto da Doutrina Esprita ressalta da prpria conceituao que lhe d Allan Kardec, conforme citao feita no roteiro anterior, de nmero 2: O Espiritismo , ao mesmo tempo, uma cincia de observao e uma doutrina filosfica. Como cincia prtica, ele consiste nas relaes que se estabelecem entre ns e os Espritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqncias morais que dimanam dessas mesmas relaes 6. O Espiritismo se apresenta sob trs aspectos diferentes: [ ainda Kardec quem afirma] o das manifestaes, o dos princpios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicao desses princpios. Da, trs classes, ou, antes, trs graus de adeptos: 1. Os

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O Estudo ser considerado satisfatrio se os relatos das concluses do trabalho em grupo indicarem que houve entendimento do trplice aspecto do Espiritismo.

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

que crem nas manifestaes e se limitam a comprov-las; para esses, o Espiritismo uma cincia experimental; 2. Os que lhe percebem as conseqncias morais; 3. Os que praticam ou se esforam por praticar essa moral. Qualquer que seja o ponto de vista, cientfico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenmenos, todos compreendem constiturem eles uma ordem, inteiramente nova, de idias que surge e da qual no pode deixar de resultar uma profunda modificao no estado da Humanidade e compreendem igualmente que essa modificao no pode deixar de operar-se no sentido do bem 4. Assim, consoante as palavras de Kardec, podemos identificar o trplice aspecto do Espiritismo: a) cientfico concernente s manifestaes dos Espritos; b)filosfico respeitante aos princpios, inclusive morais, em que se assenta a sua doutrina; c) religioso relativo aplicao desses princpios.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita32

2. O aspecto cientficoNenhuma cincia existe que haja sado prontinha do crebro de um homem. Todas, sem exceo de nenhuma, so fruto de observaes sucessivas, apoiadas em observaes precedentes, como em um ponto conhecido, para chegar ao desconhecido. Foi assim que os Espritos procederam, com relao ao Espiritismo. Da o ser gradativo o ensino que ministram 1. Os fatos ou fenmenos espritas, isto , produzidos por espritos desencarnados, so a substncia mesma da Cincia Esprita, cujo objeto o estudo e conhecimento desses fenmenos, para fixao das leis que os regem. Eles constituem o meio de comunicao entre o nosso mundo fsico e o mundo espiritual, de caractersticas diferentes, mas que no impedem o intercmbio, que sempre houve, entre os vivos e os mortos, segundo a terminologia usual 9. O carter cientfico deflui ainda das seguintes concluses de Allan Kardec: O Espiritismo, pois, no estabelece com o princpio absoluto seno o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observao. [...] Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais ser ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitar 2. Gabriel Delanne, em sua obra O Fenmeno Esprita tambm salienta o papel cientfico do Espiritismo, quando diz: O Espiritismo uma cincia cujo fim a demonstrao experimental da existncia da alma e sua imortalidade, por meio de comunicaes com aqueles aos quais impropriamente tm sido chamados mortos 11.

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

Sendo assim, a [...] Cincia Esprita se classifica [...] entre as cincias positivas ou experimentais e se utiliza do mtodo analtico ou indutivo, porque observa e examina os fenmenos medinicos, faz experincias, comprova-os 10.

3. O aspecto filosficoO aspecto filosfico do Espiritismo vem destacado na folha de rosto de O Livro dos Espritos, a primeira obra do Espiritismo, quando Allan Kardec classifica a nova doutrina de Filosofia Espiritualista. Na concluso dessa mesma obra, Kardec enfatiza: Falsssima idia formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua fora lhe vem da prtica das manifestaes materiais e que, portanto, obstando-se a tais manifestaes, se lhe ter minado a base. Sua fora est na sua filosofia, no apelo que dirige razo, ao bom senso [...] 3. De fato, o [...] Espiritismo uma doutrina essencialmente filosfica, embora seus princpios sejam comprovados experimentalmente, o que lhe confere tambm o carter cientfico. Quando o Homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o como e o porqu das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, nasce a FILOSOFIA, que mostra o que so as coisas e porque so as coisas o que so. Em verdade, o Homem quer justificar-se a si mesmo e ao mundo em que vive, ao qual reage e do qual recebe contnuos impactos, procura compreender como as coisas e os fatos se ordenam, em suma, deseja conhecer sempre mais e mais. O carter filosfico do Espiritismo est, portanto, no estudo que faz do Homem, sobretudo Esprito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinao. Esse estudo leva ao conhecimento do mecanismo das relaes dos Homens que vivem na Terra com aqueles que j se despediram dela, temporariamente, pela morte, estabelecendo as bases desse permanente relacionamento, e demonstra a existncia, inquestionvel, de algo que tudo cria e tudo comanda, inteligentemente DEUS. Definindo as responsabilidades do Esprito quando encarnado (alma) e tambm do desencarnado, o Espiritismo Filosofia, uma regra moral de vida e comportamento para os seres da Criao, dotados de sentimento, razo e conscincia 8.

4. O aspecto religiosoO Espiritismo [diz Allan Kardec] uma doutrina filosfica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forosamente vai ter s bases fundamentais de todas as religies: Deus, a alma e a vida futura. Mas, no uma religio

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constituda, visto que no tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o ttulo de sacerdote ou de sumo sacerdote [...] 5. No discurso de abertura da Sesso Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade de Paris, publicado na Revista Esprita de dezembro de 1968, Allan Kardec, respondendo pergunta O Espiritismo uma Religio?, afirma, a certa altura: O lao estabelecido por uma religio, seja qual for o seu objetivo [...] essencialmente moral, que liga os coraes, que identifica os pensamentos, as aspiraes, e no somente o fato de compromissos materiais, que se rompem vontade, ou da realizao de frmulas que falam mais aos olhos do que ao esprito. O efeito desse lao moral o de estabelecer entre os que ele une, como conseqncia da comunho de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgncia e a benevolncia mtuas. nesse sentido que tambm se diz: a religio da amizade, a religio da famlia. Se assim, perguntaro, ento o Espiritismo uma religio? Ora, sim, sem dvida, senhores! No sentido filosfico, o Espiritismo uma religio, e ns nos vangloriamos por isto, porque a Doutrina que funda os vnculos da fraternidade e da comunho de pensamentos, no sobre uma simples conveno, mas sobre bases mais slidas: as prprias leis da Natureza. Por que, ento, declaramos que o Espiritismo no uma religio? Em razo de no haver seno uma palavra para exprimir duas idias diferentes, e que, na opinio geral, a palavra religio inseparvel da de culto; porque desperta exclusivamente uma idia de forma, que o Espiritismo no tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religio, o pblico no veria a mais que uma nova edio, uma variante, se se quiser, dos princpios absolutos em matria de f; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimnias e de privilgios; no o separaria das idias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinio se levantou. No tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religio, na acepo usual da palavra, no podia nem devia enfeitar-se com um ttulo sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosfica e moral 7. Em suma, concluimos com Emmanuel: Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado [...] como um tringulo de foras espirituais. A Cincia e a Filosofia vinculam Terra essa figura simblica, porm, a Religio o ngulo divino que a liga ao cu. No seu aspecto cientfico e filosfico, a doutrina ser sempre um campo nobre de investigaes humanas, como outros movi-

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 3

mentos coletivos, de natureza intelectual que visam ao aperfeioamento da Humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir a restaurao do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovao definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual 12.

Referncia Bibliogrfica

1. KARDEC, Allan. A gnese. Traduo de Guillon Ribeiro. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 1, item 54, p. 42. 2. ______. Item 55, p. 44. 3. ______. Concluso 6, p. 484. 4. ______. O livro dos espritos. Traduo de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Concluso 7, p. 486-487. 5. ______. Obras pstumas. Traduo de Guillon Ribeiro. 38. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. (Ligeira resposta aos detratores do espiritismo). Primeira parte, p. 260-261. 6. ______. O que o espiritismo. 53. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Prembulo, p. 50. 7. ______. Revista esprita. Jornal de estudos psicolgicos. Ano 1868. Traduo de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Ano 11. Dezembro de 1868. N 12. Item: Discurso de abertura pelo senhor Allan Kardec: O espiritismo uma religio?, p. 490491. 8. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo bsico. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. (O espiritismo filosfico). Segunda parte, p. 101. 9. ______. p. 103. 10. ______. p. 104. 11. DELANNE, Gabriel. O fenmeno esprita. Traduo de Francisco Raymundo Ewerton Quadros. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Prefcio, p. 13. 12. XAVIER, Francisco Cndido. O consolador. Pelo Esprito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Definio, p. 19-20.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita35

PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO I Introduo ao Estudo do Espiritismo

ROTEIRO 4Objetivo especfico

Pontos principais da Doutrina Esprita

Apresentar os pontos principais da Doutrina Esprita, de acordo com o resumo existente na Introduo de O livro dos espritos.

Contedo bsico

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Os pontos principais da Doutrina Esprita so: Deus, criador do Universo; o mundo esprita, habitado pelos Espritos desencarnados; a encarnao e reencarnao dos Espritos na Terra e em outros mundos; o melhoramento progressivo dos Espritos, que passam pelos diversos graus da hierarquia esprita at atingirem a perfeio moral; a relao constante dos Espritos desencarnados com os homens (Espritos encarnados); a existncia do perisprito, como envoltrio semimaterial do Esprito, e os ensinos morais dos Espritos Superiores, que podem ser sintetizados, como os do Cristo, na mxima evanglica fazer aos outros o que quereramos que os outros nos fizessem. Allan Kardec: O livro dos espritos. Introduo item 6.

Sugestes Introduo didticas Introduzir o tema, esclarecendo que uma doutrina (cientfica, filosfica ou religiosa), para ser considerada como tal, deve conter princpios norteadores dos seus ensinamentos. Similarmente, o Espiritismo tambm os possui, identificados por Allan Kardec como pontos principais da Doutrina. Acrescentar que, tendo como base esses pontos principais, Allan Kardec codificou a Doutrina transmitida pelos Espritos Superiores, no sculo XIX.

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Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

Desenvolvimento

Em seguida, solicitar aos participantes que faam leitura silenciosa dos pontos principais do Espiritismo, por eles resumidos na atividade extraclasse. Aproveitar o perodo de tempo da leitura para afixar, no mural da sala de aula, trs folhas de papel pardo. A primeira dessas folhas deve conter o registro de alguns pontos principais da Doutrina Esprita, identificados pelo Codificador do Espiritismo e inseridos na introduo 6 de O Livro dos Espritos. Pedir turma que, individualmente ou em grupo, escreva nas folhas em branco os demais pontos principais da Doutrina que esto faltando no cartaz parcialmente preenchido. Verificar, junto com os participantes, se todos os pontos assinalados por Kardec esto registrados nos demais cartazes, acrescentando os que faltam ou eliminando os repetidos.

Concluso

Fazer o fechamento da reunio indicando, nos registros, os pontos principais da Doutrina Esprita que esto mais relacionados s nossas necessidades de aprendizado no plano fsico.

AvaliaoO Estudo ser considerado satisfatrio se: a) a maioria dos participantes realizar atividade extraclasse; b) os registros nos cartazes indicarem que houve correto entendimento do assunto.

Tcnica(s): exposio; leitura. Recurso(s): O Livro dos Espritos; cartazes; pncis hidrogrficosde cores variadas; folhas de papel pardo; fita adesiva.

Subsdios

Allan Kardec, na Introduo de O Livro dos Espritos, item 6, trata dos pontos principais dos ensinos transmitidos pelos Espritos Superiores. Ressalta, primeiramente, que [...] os prprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espritos

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita37

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

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ou Gnios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que viveram na Terra. Eles compem o mundo espiritual, como ns constitumos o mundo corporal durante a vida terrena1. Passa, em seguida, a resumir esses pontos principais: Deus eterno, imutvel, imaterial, nico, onipotente, soberanamente justo e bom. Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais. Os seres materiais constituem o mundo visvel ou corpreo, e os seres imateriais, o mundo invisvel ou esprita, isto , dos Espritos. O mundo esprita o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O mundo corporal secundrio; poderia deixar de existir, ou no ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essncia do mundo esprita. Os Espritos revestem temporariamente um invlucro material perecvel, cuja destruio pela morte lhes restitui a liberdade. Entre as diferentes espcies de seres corpreos, Deus escolheu a espcie humana para a encarnao dos Espritos [...] 1. A alma um Esprito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltrio. H no homem trs coisas: 1. o corpo ou ser material, anlogo aos animais e animado pelo mesmo princpio vital; 2. a alma ou ser imaterial, Esprito encarnado no corpo; 3, o lao que prende a alma ao corpo, princpio intermedirio entre a matria e o Esprito. [...] O lao ou perisprito, que prende ao corpo o Esprito, uma espcie de envoltrio semimaterial. A morte a destruio do invlucro mais grosseiro. O Esprito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etreo, invisvel para ns no estado normal, porm que pode tornar-se acidentalmente visvel e mesmo tangvel, como sucede no fenmeno das aparies 2. O Esprito no , pois, um ser abstrato, indefinido, s possvel de conceber-se pelo pensamento. um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna aprecivel pela vista, pelo ouvido e pelo tato. Os Espritos pertencem a diferentes classes e no so iguais, nem em poder, nem em inteligncia, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem so os Espritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeio, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: so os anjos ou puros Espritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeio, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixes: o dio, a inveja, o cime, o orgulho, etc 3. Os Espritos no ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram, passando pelos diferentes graus de hierarquia esprita. Esta melhora se efetua por meio da encarnao, que imposta a uns como expiao, a outros como misso. A vida material uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, at que hajam atingido a absoluta perfeio moral 3.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espritos, donde sara, para passar por nova existncia material, aps um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Esprito errante 3. Tendo o Esprito que passar por muitas encarnaes, segue-se que todos ns temos tido muitas existncias e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeioadas, quer na Terra, quer em outros mundos 4. A encarnao dos Espritos se d sempre na espcie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Esprito possa encarnar no corpo de um animal 4. As diferentes existncias corpreas do Esprito so sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforos que faa para chegar perfeio. [...] Os Espritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo. Os no encarnados ou errantes no ocupam uma regio determinada e circunscrita; esto por toda parte no espao e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contnuo. toda uma populao invisvel, a mover-se em torno de ns 4. Os Espritos exercem incessante ao sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo fsico. Atuam sobre a matria e sobre o pensamento e constituem uma das potncias da Natureza, causa eficiente de uma multido de fenmenos at ento inexplicados ou mal explicados e que no encontram explicao racional seno no Espiritismo 4. As relaes dos Espritos com os homens so constantes. Os bons Espritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suport-las com coragem e resignao. Os maus nos impelem para o mal; -lhes um gozo ver-nos sucumbir e assemelhar-nos a eles 5. As comunicaes dos Espritos com os homens so ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influncia boa ou m que exercem sobre ns, nossa revelia. Cabe ao nosso juzo discernir as boas das ms inspiraes. [...] Os Espritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocao. [...] Os Espritos so atrados na razo da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espritos Superiores se comprazem nas reunies srias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compem, de se instrurem e melhorarem. A presena deles afasta os Espritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frvolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos [...] 6. Distinguir os bons dos maus Espritos extremamente fcil. Os Espritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade [...]. A dos Espritos inferiores, ao contrrio, inconseqente, amide, trivial e at grosseira 6.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita39

Programa Fundamental Mdulo I Roteiro 4

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

A moral dos Espritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta mxima evanglica: Fazer aos outros o que quereramos que os outros nos fizessem, isto , fazer o bem e no o mal. Neste princpio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores aes. [...] Ensinam, finalmente que, no mundo dos Espritos, nada podendo estar oculto, o hipcrita ser desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas; que a presena inevitvel, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos esto reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra. Mas, ensinam tambm no haver faltas irremissveis, que a expiao no possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existncias que lhe permitem avanar, conformemente aos seus desejos e esforos, na senda do progresso, para a perfeio, que o seu destino final 7. Eis, assim, os pontos principais da Doutrina Esprita, que sero desenvolvidos no transcorrer deste Curso.

Referncia 1. KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Traduo de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Introduo, Bibliogrficaitem 6, p. 23. 2. ______. p. 23-24. 3. ______. p. 24. 4. ______. p. 25. 5. ______. p. 25-26. 6. ______. p. 26. 7. ______. p. 27.

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PROGRAMA FUNDAMENTALMDULO II

A Codificao EspritaOBJETIVO GERAL

Favorecer a compreenso do surgimento da Doutrina Esprita e da misso de Allan Kardec

PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO II A Codificao Esprita

ROTEIRO 1

Fenmenos medinicos que antecederam a Codificao: Hydesville e mesas girantes

Objetivo especfico

Justificar a importncia dos fenmenos de Hydesville e das mesas girantes para o surgimento do Espiritismo.

Contedo bsico

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Em maro de 1848, no humilde vilarejo de Hydesville, Estado de Nova Iorque, surgiram fenmenos medinicos que abalaram a opinio pblica da poca. Tais fenmenos ocorreram numa tosca cabana, residncia da famlia Fox. Os acontecimentos a partir do primeiro dilogo com o Esprito, em 31 de maro de 1848, empolgaram a populao do vilarejo, surgindo, em novembro de 1849, as primeiras demonstraes pblicas, com as irms Fox, o que resultou na formao do primeiro ncleo de estudantes do espiritualismo moderno. Zus Wantuil: As mesas girantes e o espiritismo. Cap. 1. O acontecimento de Hydesville [...] repercutiria na Europa, despertando as conscincias e, ao lado dos fenmenos das mesas girantes, prepararia o advento do Espiritismo. Pedro Barbosa: O espiritismo bsico. O episdio de Hydesville. Em Paris de 1853, principalmente, a recreao mais palpitante e mais original era a das mesas girantes [...]. Os fenmenos constituam para a generalidade dos assistentes um passatempo como qualquer outro. Quase ningum se aprofundava no estudo da causa de tais manifestaes extraordinrias. s vezes surgia uma que outra pretenciosa explicao, que logo era desprezada, por no poder satisfazer aos fatos observados. Zus Wantuil e Francisco Thiesen: Allan Kardec, vol. 2. A fagulha da renovao. Cap. 1, item 2.

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Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

Os [...] Espritos, aproveitando-se da onda de curiosidade que invadira todas as plagas [as naes europias e alhures], nelas tambm se movimentaram intensamente, no grandioso e abenoado objetivo de despertamento progressivo dos homens para as realidades vivas da vida pstuma. Zus Wantuil: As mesas girantes e o espiritismo. Cap. 10.

Sugestes Introduo didticas Informar turma que o Mdulo II trata da Codificao Esp

DesenvolvimentoEm seqncia, dividir a turma em quatro grupos e solicitarlhes que leiam, silenciosamente, os subsdios deste Roteiro. Terminada a leitura, propor-lhes a realizao das tarefas abaixo descritas: Grupo I: narrar, de forma resumida, os episdios de Hydesville, ou, se o grupo preferir, dramatizar o dilogo de Kate e Margareth Fox com o Esprito batedor. Grupo II: retirar dos subsdios, item 1 (Os fenmenos de Hydesville), os aspectos que o grupo julgar mais importantes, e coment-los de modo sucinto. Grupo III:fazer a sntese do item 2 (As mesas girantes). Aps essa tarefa, pedir aos grupos que apresentem as concluses.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita43

rita as cinco obras bsicas , dos assuntos que giram em torno dela e do seu Codificador, Allan Kardec. Em breve exposio, explicar aos participantes que em meados do sculo XIX houve uma srie de fenmenos considerados extraordinrios, e que causaram forte impacto na opinio pblica, tendo mesmo atingido os intelectuais da poca: os fenmenos de Hydesville e as mesas girantes. (Veja: As Mesas Girantes e o Espiritismo, p. 7 e Allan Kardec, vol. 2, p. 52, por exemplo.) Mostrar, ento, figuras ilustrativas dos dois fenmenos, fazendo breves comentrios sobre cada um deles.

Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

A seguir, afixar em lugar visvel a todos um cartaz contendo a seguinte pergunta: Qual a importncia dos fenmenos de Hydesville e das mesas girantes, para o surgimento do Espiritismo? Com o auxlio da tcnica exploso de idias, pedir aos alunos que respondam pergunta do cartaz, anotando as respostas no quadro-de-giz / quadro branco ou no flip-chart. Fazer breves comentrios sobre as idias emitidas pelos participantes.

Concluso

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Considerando o objetivo da aula, destacar a importncia do papel dos fenmenos que antecederam a Codificao: invaso organizada pela Espiritualidade Superior, com vistas chegada de uma Era Nova para a Humanidade.

AvaliaoO estudo ser considerado satisfatrio se os alunos realizarem, de forma correta, o trabalho em grupo e participarem efetivamente da exploso de idias.

Tcnica(s): exposio; leitura silenciosa; estudo em grupo; exploso de idias.

Recurso(s): subsdios do Roteiro; roteiro para o trabalho emgrupo; cartaz; quadro-de-giz / quadro branco / flip-chart.

Atividade extraclasse para a prxima reunio de estudoInformar turma que o roteiro seguinte Allan Kardec: o professor e o codificador ser estudado por meio de um simpsio. Explicar resumidamente a tcnica, pedindo a colaborao de quatro alunos, que devero preparar os temas (10 minutos para a cada exposio), da seguinte maneira: 1 expositor: o menino Hyppolyte nascimento; primeiros estudos; o Instituto de Yverdon. 2 expositor: o professor Rivail: as obras didticas; o ensino intuitivo; o exerccio das funes diretivas e educativas. 3 expositor: Kardec

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Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

e a misso: os primeiros contatos com os fenmenos medinicos; os primeiros estudos srios de Espiritismo; notcias e desempenho da misso. 4 expositor: Kardec e as obras espritas: o nome Allan Kardec; as obras espritas; a atuao de Kardec na codificao da Doutrina Esprita. Solicitar turma que leia com ateno os subsdios do roteiro 2, para participar com proveito do simpsio. Reunir-se, oportunamente, com os expositores para prestar-lhes esclarecimentos a respeito do trabalho, o que os tornar seguros e motivados para a execuo da tarefa.

Subsdios

1. Os fenmenos de HydesvilleEm 1847, a casa [uma tosca cabana] de um certo John Fox [e sua mulher Margareth], residente em Hydesville, pequena cidade do Estado de New York, foi perturbada por estranhas manifestaes; rudos inexplicveis faziam-se ouvir com tal intensidade que essa famlia no pde mais repousar. Apesar das mais numerosas pesquisas, no se pde encontrar o autor dessa bulha inslita; logo, porm, se notou que a causa produtora parecia ser inteligente 4. As filhas do casal Fox, Margareth e Kate e ainda a mais velha, Lia, casada, eram mdiuns. Kate, de 11 anos, no dia 31 de maro de 1848, quando as pancadas (em ingls chamadas raps) se tornaram mais persistentes e fortes, resolveu desafiar o mistrio, travando-se um dilogo com o que todos julgavam fosse o diabo: Senhor P-rachado, faa o que eu fao, batendo palmas. Imediatamente se ouviram pancadas, em nmero igual ao das palmas. A Sra. Margareth, animada, disse, por sua vez: Agora faa exatamente como eu. Conte um, dois, trs, quatro.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita45

Em meados do sculo XIX, surgiram na Amrica, fenmenos que, pelo carter ostensivo e intencional, causaram forte impacto na opinio pblica, em geral, com ressonncia no mundo intelectual da poca: os fenmenos de Hydesville, que, ao lado das mesas girantes, contribuiriam efetivamente para o surgimento do Espiritismo.

Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita46

Logo se fizeram ouvir as pancadas correspondentes. um esprito? perguntou, em seguida. Se for, d duas batidas. A resposta, afirmativa, no se fez esperar. Se for um esprito assassinado, d duas batidas. Foi assassinado nesta casa? Duas pancadas estrepitosas se fizeram ouvir 3. Chamados os vizinhos, estes foram testemunhas dos mesmos fenmenos. Todos os meios de vigilncia foram postos em ao para a descoberta do invisvel batedor, mas o inqurito da famlia e o de toda a vizinhana foi intil. No se pde descobrir a causa real daquelas singulares manifestaes. As experincias seguiram-se, numerosas e precisas. Os curiosos, atrados por esses fenmenos novos, no se contentaram mais com perguntas e respostas. Um deles, chamado Isaac Post, teve a idia de nomear em voz alta as letras do alfabeto, pedindo ao Esprito para bater uma pancada quando a letra entrasse na composio das palavras que quisesse fazer compreender. Desde esse dia, ficou descoberta a telegrafia espiritual; este processo o que vemos aplicado nas mesas girantes 5. Foi atravs desse processo o uso do alfabeto na telegrafia espiritual que os Espritos enviaram mensagens reveladoras dos desgnios superiores, como esta a seguir: Caros amigos, deveis proclamar ao Mundo estas verdades. a aurora de uma nova era; e no deveis tentar ocult-la por mais tempo. Quando houverdes cumprido o vosso dever, Deus vos proteger; e os bons Espritos velaro por vs 12. Os Fox, vtimas da intolerncia e do fanatismo dos conservadores da f, resolveram, ento, oferecer-se para mostrar publicamente os fenmenos populao reunida no Corynthian-Hall, o maior salo da cidade de Rochester. Essas apresentaes, aps passarem pelo exame rigoroso de trs comisses, foram declaradas verdadeiras, e, como era de se esperar, grande foi o tumulto, com o quase linchamento das jovens Fox. Mas a perseguio traz, como conseqncia, o aumento do nmero de adeptos para as idias que combate. Assim, poucos anos depois, j havia alguns milhares de seguidores do espiritualismo moderno nos Estados Unidos 6.

2. As mesas girantes necessrio dizer-se que o fenmeno tomou, em seguida, outro aspecto. As pancadas, em vez de se produzirem sobre as paredes e sobre o assoalho, faziam-se ouvir na mesa, em torno da qual estavam reunidos os experimentadores. Este modo de proceder fora indicado pelos prprios Espritos 7.

Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

O primeiro fato observado foi o da movimentao de objetos diversos. Designaram-no vulgarmente pelo nome de mesas girantes ou dana das mesas. Este fenmeno, que parece ter sido notado primeiramente na Amrica [...], se produziu rodeado de circunstncias estranhas, tais como rudos inslitos, pancadas sem nenhuma causa ostensiva. Em seguida, propagou-se rapidamente pela Europa e pelas outras partes do mundo 1. As primeiras manifestaes inteligentes se produziram por meio de mesas que se levantavam e, com um dos ps, davam certo nmero de pancadas, respondendo desse modo sim, ou no, conforme fora convencionado, a uma pergunta feita. At a nada de convincente havia para os cpticos, porquanto bem podiam crer que tudo fosse obra do acaso. Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas com o auxlio das letras do alfabeto: dando o mvel um nmero de pancadas correspondente ao nmero de ordem de cada letra, chegava-se a formar palavras e frases que respondiam s questes propostas. A preciso das respostas e a correlao que denotavam com as perguntas causaram espanto. O ser misterioso que assim respondia, interrogado sobre a sua natureza, declarou que era Esprito ou Gnio, declinou um nome e prestou diversas informaes a seu respeito. H aqui uma circunstncia muito importante, que se deve assinalar. que ningumimaginou os Espritos como meio de explicar o fenmeno; foi o prprio fenmeno que revelou a palavra 2. Vale enfatizar que, a propsito dessas manifestaes novas na Amrica, muitos intelectuais, como o juiz John W. Edmonds, o professor James J. Mapes, o clebre professor Roberto Hare, o sbio Robert Dale Owen, dentre outros, aproximaram-se das novas idias com o objetivo de esclarecer as pessoas quanto iluso em que estavam imersas. Mas, em vez disso, eles, os sbios, recuando honestamente em seus propsitos, declararam a veracidade dos fatos, aumentando ainda mais o interesse pelas manifestaes medinicas, portadoras de mensagens vindas do mundo espiritual 8, 11. A notcia dos fenmenos misteriosos que se produziam na Amrica suscitou na Frana viva curiosidade e, em pouco tempo, a experincia das mesas girantes atingiu grau extraordinrio. Nos sales, a moda era interrog-las sobre as mais fteis questes. Era um passatempo de nova espcie e que fez furor 9. Em 1853, a Europa inteira tinha as atenes gerais convergidas para o fenmeno das chamadas mesas girantes e danantes, considerado o maior acontecimento do sculo pelo Rev.mo Padre Ventura de Raulica, ento o mais ilustre representante da teologia e da filosofia catlicas 14. A imprensa informava e tecia largos comentrios acerca das estranhas manifestaes, e, a no ser o grande fsico ingls Faraday, o sbio qumico Chevreul, o

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita47

Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita48

conde de Gasparin, o marqus de Mirville, o abade Moigno, Arago, Babinet e alguns outros eminentes homens de cincia, bem poucos se importavam em descobrir-lhes as causas, em explic-las, a maioria dos acadmicos olhando os fenmenos com superioridade e desdm 15. Voltando aos dias da tumultuosa Frana de meados de 1853, vemos que grupos e mais grupos de experimentadores curiosos se haviam organizado num fechar de olhos. A maravilhosa loucura do sculo XIX j se havia infiltrado no crebro da Humanidade [...]. E Paris inteira assistia, atnita e estarrecida, a este turbilho ferico de fenmenos imprevistos que, para a maioria, s alucinadas imaginaes poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais cpticos e frvolos. A Imprensa francesa, diante da demonstrao irrefragvel dos novos fatos [manifestaes de Espritos], que saltavam aos olhos de todos, franqueou mais amplamente suas colunas ao noticirio a respeito, dessa forma ateando mais fogo nos debates e controvrsias que ento se levantaram entre os observadores menos superficiais 13. Mas as mesas continuaram... Veio o Santo Ofcio e, em 4 de agosto de 1856, condenou os fenmenos em voga, dizendo serem conseqncia de hipnotismo e magnetismo (j que pouca gente acreditava em peripcias do diabo), e tachava de hereges as pessoas por intermdio das quais eles eram produzidos 16. Estava, assim, cumprido o papel dos fenmenos dessa fase inicial invaso organizada, no dizer do escritor ingls Arthur Conan Doyle , programada pelos Espritos Superiores, com vistas chegada de uma nova era de progresso para os homens 10.

Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 1

Referncia Bibliogrfica

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita49

1. KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Traduo de Guillon Ribeiro, 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Introduo, item 3, p. 17. 2. ______. Item 4, p. 20. 3. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo bsico. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Primeira parte. (O episdio de Hydesville), p. 42. 4. DELANNE, Grabriel. O fenmeno esprita. Traduo de Francisco Raymundo Ewerton Quadros. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Parte primeira. Cap. 2 (Na amrica), p. 23. 5. ______. p. 24. 6. ______. p. 25-26. 7. ______. p. 27. 8. ______. p. 29-33. 9. ______. p. 38. 10. DOYLE, Arthur Conan. Histria do espiritismo. Traduo de Jlio Abreu Filho. So Paulo: Pensamento. S/d. Cap. 1, p. 33. 11. ______. Cap. 6, p. 120-128. 12. WANTUIL, Zus. As mesas girantes e o espiritismo. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 1, p. 6-7. 13. ______. Cap. 9, p. 57. 14. WANTUIL, Zus e THIESEN, Francisco. Allan Kardec. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996, vol. 2, cap. 2, p. 56-57. 15. ______. p. 57. 16. ______. p. 59-60.

PROGRAMA FUNDAMENTAL MDULO II A Codificao Esprita

ROTEIRO 2

Allan Kardec: o professor e o codificador

Objetivos Evidenciar os aspectos mais importantes da vida de Allan especficos Kardec e os traos marcantes da sua personalidade.

Destacar a misso de Allan Kardec.

Contedo bsico

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

Nascido em Lio [Frana], a 3 de outubro de 1804, de uma famlia antiga que se distinguiu na magistratura e na advocacia, Allan Kardec (Hippolyte Lon Denizard Rivail) no seguiu essas carreiras. Desde a primeira juventude, sentiu-se inclinado ao estudo das cincias e da filosofia. Allan Kardec: Obras pstumas. Biografia de Allan Kardec. Mais tarde, como professor, tornou-se muito conhecido pelas obras didticas publicadas e pelo trabalho realizado no campo da Educao. Atravs de sua carreira pedaggica, exercitou a pacincia, a abnegao, o trabalho, a observao, a fora de vontade e o amor s boas causas, a fim de melhor poder desempenhar a gloriosa misso que lhe estava reservada. Zus Wantuil: Grandes espritas do Brasil. Homenagem especial a Allan Kardec. Allan Kardec renasceu [...] com a sagrada misso de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador Prometido ao mundo pela misericrdia de Jesus Cristo. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 22.

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Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 2

Sugestes Introduo didticas Iniciar a aula retomando o que foi dito na anterior, isto , que

Desenvolvimento

Em seqncia, passar a palavra ao primeiro expositor, para que ele desenvolva a sua parte, procedendo de igual modo com relao aos demais. Aps isso, convidar o auditrio a formular perguntas, e, de acordo com o seu contedo, encaminh-las aos respectivos expositores para as respostas.

Concluso

Terminadas as perguntas e esgotado o tempo, fazer a exposio final (sntese das idias desenvolvidas pelos simposistas), e encerrar o simpsio.

AvaliaoO estudo ser considerado satisfatrio se as exposies estiverem dentro dos objetivos propostos, e as respostas forem esclarecedoras.

Tcnica(s): simpsio.Recurso(s): subsdios do Roteiro; lpis/ caneta; papel; recursos visuais.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita51

haveria um simpsio sobre o assunto: Allan Kardec - o professor e o codificador. Explicar sucintamente a tcnica, definindo a funo de cada um dos seus participantes, a saber: o coordenador do simpsio (que, no caso, o prprio monitor da turma); os expositores, ou simposistas (os alunos convidados), e os participantes do auditrio (os prprios alunos). Esclarecer, ainda, que, durante as apresentaes, os participantes anotaro suas dvidas, com vistas formulao de perguntas a serem posteriormente encaminhadas aos expositores. (Veja a tcnica de simpsio na apostila Tcnicas Pedaggicas, edio FEB, 2003) Apresentar os quatro simposistas, indicando a parte do tema que cada um deles ir desenvolver, de acordo com o previsto na atividade extraclasse, descrita ao final do roteiro 1.

Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 2

Subsdios

Duas so as fases em que se pode dividir a vida de Allan Kardec: a primeira, como o consagrado professor Rivail; a segunda, como o Codificador do Espiritismo. Destacaremos, a seguir, os aspectos mais importantes de sua luminosa trajetria pela Terra.

1. O menino Hippolyte1.1 Nascimento Allan Kardec, cujo verdadeiro nome Hippolyte Lon Denizard Rivail, nasceu na cidade de Lio (Frana), a 3 de outubro de 1804, no seio de antiga famlia lionesa, de nobres e dignas tradies. Foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail, magistrado ntegro, e Jeanne Louise Duhamel [...]. O futuro codificador do Espiritismo recebeu um nome querido e respeitado e todo um passado de virtudes, de honra e probidade. Grande nmero de seus antepassados se tinham distinguido na advocacia, na magistratura e at mesmo no trato dos problemas educacionais. Bem cedo, o menino se revelou altamente inteligente e agudo observador, denotando franca inclinao para as cincias e para os assuntos filosficos, compenetrado de seus deveres e responsabilidades, como se fora um adulto 12.

Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita

1.2 Primeiros estudos. O Instituto de YverdonConforme nos conta Henri Sausse [bigrafo de Kardec], Rivail realizou seus primeiros estudos em Lio, sua cidade natal, sendo educado dentro de severos princpios de honradez e retido moral. de se presumir que a influncia paterna e materna tenham sido das mais benficas na sua infncia, constituindo-se em fonte de nobres sentimentos. Com a idade de dez anos, seus pais o enviam a Yverdon (ou Yverdun), cidade sua do canto de Vaud, situada na extremidade S. O. do lago Neuchtel e na foz do Thiele, a fim de completar e enriquecer sua bagagem escolar no clebre Instituto de Educao ali instalado em 1805, pelo professor-filantropo Joo Henrique Pestalozzi [...]. Freqentado todos os anos por grande nmero de estrangeiros, citado, descrito, imitado, era, numa palavra, a escola modelo da Europa 15.

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Programa Fundamental Mdulo II Roteiro 2

2. O professor Rivail2.1 As obras didticas Sem dvida, chegando capital da Frana, Den