Escritos Lençoenses 2014
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EscritosLençoenses
2014
Organização:Diretoria de Cultura de Lençóis PaulistaEspaço Cultural “Cidade do Livro” Biblioteca Municipal Orígenes Lessa
Lençóis Paulista-SP
EscritosLençoenses
2014
Organização:Diretoria de Cultura de Lençóis PaulistaEspaço Cultural “Cidade do Livro” Biblioteca Municipal Orígenes Lessa
Lugares, momentos, sonhos, sentimentos, a cidade...Tudo isso transparece nessas páginas escritas por lençoenses. Lençóis, a “Cidade do Livro” vai, cada dia mais, fazendo jus ao seu título. Valorizando e incentivando a leitura, dando oportunidade para novos talentos e apoiando seus escritores, a cidade colhe os bons frutos do seu trabalho. Parabéns aos escritores lençoenses!
Prefeita Bel Lorenzetti
Esta edição de “Escritos Lençoenses” é um marco na forma-ção do GEL - Grupo de Escritores Lençoenses. Grupo este, que com reuniões sistemáticas no ano de 2013, definiram várias ações em prol da escrita, dos escritores e da cultura desta nossa querida Lençóis Paulista - “Cidade do Livro”, que através de seus leitores, tornaram a Biblioteca Orígenes Lessa uma das melhores e mais atualizadas do país, pois com a procura de novos títulos, livros em lançamento, a atualização com doações e novas aquisições se faz quase que automaticamente, contrário seria se não tivéssemos a procura dos leitores. Entre esses leitores, nossos escritores, que se inspiram tanto na leitura como na vivência diária desta comuni-dade, deste cotidiano, e em forma de poesias, crônicas, contos,... mostram com sensibilidade, sentimentos, emoções, fatos e críticas à nossa vivência, seja ela social, cultural, amorosa... As reticências é mostra de que aqui muito se diz, mas muito ainda há que se dizer através desta arte da escrita, nesta cidade em que pulula o desejo de criação e desenvolvimento em todos os sentidos e aqui em nos-so caso, a literária. Apesar do miolo do livro em preto e branco, muitas cores são apresentadas na produção destes lençoenses!!! Parabéns a esses artistas, e a todos boa leitura!
Nilceu BernardoDiretor de Cultura
Sumário
Alfa Silva de Medeiros Gotas... 14 Aos Poetas 15 Saudade 16
Alvaro Antonio Valvassore Imagem Esculpida 18 Propagar 20
Anderson Prado de Lima A Pessoa Mais Bonita que Conheço 22 Quando eu Partir 24
Aparecida Fátima Máximo dos Santos Por Onde For Quero Ser Seu Par 28 Órion Eu Te Amo! 30
Ariane Harbekon Nogueira Sonhos Baldios 34 Horizonte 36 Morada Pulsante 37
Benedito Antonio Carlos Blanco Devaneio 40 A Feia e o Sonambulismo 42
Camila Simões Saudade 46 Violino e Violoncelo 47 Espírito 49
César Antônio Nelli Faillace Amor Suicida 52 Saudade 53 Encontros 55
Conceição Carlis Arruda Pai João e Seu Fiel Amigo 58 Pensamento 60 Ventania 61
Diusaléia Oliver A Dona da Casa e o Dono do Mundo 64
Edinei Barbosa Alves Bidimensional 68 Inevitável Traição 69 Mundo Celeste 71
Elaine Cristina Bacili Ramos de Oliveira Rosas Brancas no Jardim 74 Abelhinha 74 Grande Amiga 75
Enio Romani Bem-Te-Vi 78 Escritores Lençoenses 81
Fanny Christine de Medeiros Hora de Rodeio 84 A Cultura Pocotó 86 Poetando 88
Florindo Paccola Tempos de Estiagem 90 Transformação Pessoal 92 À Serviço do Senhor 94
Larissa de Souza Chorar Sem Derramar Nenhuma Lágrima 96 A Estrada da Vida 97
Marcos Norabele O Agressor 100 O Bicho Orgulhoso 103
Mariana Prado Zillo Chega 106 Preocupe-se em Sorrir 107
Michel Ramalho da Silva 25 de Setembro 110 O Preço do Erro 112 Sem Razão 113
Milton Moretto Uma Luz no Fim do Túnel 116 Saudades da Roça 117 Nossa Cidade 118
Nelson Faillace Reflexos Sobre “A Saga de Lençóis” 120
Paulo Jacon Guiné 126
Usana Buranelli A Abelha e o Tubarão 130 O Gato 131 O Girassol 133
Wanderley Pires de Camargo Meio Ambiente 142
Valentina do Carmo Bonalume Te Amei 136 É Difícil 137 Nostalgia 138
Índice de Imagens 143
Alfa Silva de Medeiros
Assina suas obras com pseudônimo de Clara Elis.
Nasceu em 28/07/1946.
GOTAS...
Manchas que ficaram
Na parede branca,
Foi de uma chuva que passou.
No decurso desta vida
O último pensamento vem
Talvez é uma gota
Como força de expressão
Talvez pedindo perdão
Gotas: que formam um todo
Para alguém sobreviver
E lágrimas para agradecer
São tantas nesta vida
Cheia de caminhos difíceis
De muitos e muitos anos
De chuva e lembranças quantas
Ao que guardamos em nós
As gotas também formaram
Como o orvalho quase caindo
Das folhas pela manhã
Quando abro a janela
E faço comparação
Que doem como espinhos
Pisados secos no chão
14
De Vinícius eu gosto
E de Drumond também
De Cora e de Raquel
Cecília ... os tamanquinhos
Da minha infãncia lidos... relidos
Foram ficando nos meus caminhos
Gosto de versos e poesias
Longe de mim a pretensão
Procuro tempo... arranjo espaço
Tenho tão pouco... mas faço
Entre meu tanque e o fogão
Gosto de flores e passarinhos
Que vêm voando no meu quintal
Onde já teve tantos
Hoje são poucos
Pousando no muro ou no varal
AOS POETAS
15
Na praça vazia Os pássaros dormem A noite já vem Na praça vazia Silêncio... só sombras Os risos se foram De dia... só pombos E transeuntes também E lá no passado Crianças brincavam Na praça vazia Ficou só a fonte De água fresquinha Alguns passam e tomam Depois vão-se embora Deixando de novo A praça vazia Na solidão das flores Que por todo lado Dá-se um triste cenário De folhas secas no chão O inverno acabando Primavera chegando Na praça vazia O vento soprando No rosto... sentido O peito apertar Saudade... tocar Da praça de outrora Lembrança somente Eu tenho agora.
SAUDADE(Uma homenagem à Praça da Biquinha)
16
Alvaro Antonio Valvassore
Participou de diversas antologias na região.
Nasceu em 24/02/1965.
Significante foi meu sonho
Que em detalhes vou relatar.
Caminhava numa floresta
Com suavidade peculiar
Na vibração de paz
Que a natureza emitia
Provocava curiosidade
Que algo fascinante havia
Entre a mata um leve barulho
Qual o vento sopra a cortina,
Procurei e encontrei...
Uma cascata cristalina.
Vez por outra um jato d’agua
Que ao se olhar sob medida
Esguichava numa pedra
Que parecia esculpida
IMAGEM ESCULPIDA
18
E lentamente escorria
Figurando com perfeição
A imagem de uma face:
A do Cristo, nosso irmão!
Fiquei ali horas a fio
Magnetizado com a emoção
Num súbito, esposa e filho,
Seguiram em minha direção!
E admiramos aquele encanto
A se formar e dissolver...
A mente registrou, no entanto,
A repetição nos esclarecer
Quando a linguagem Divina
Envolver-te na visão do amor
Inicie partilhar essa alegria
Por quem te tem mais valor!
19
Vai...Raio veloz!Desbrava esse caminho intricado.Com a força que teu coração entoa.Com a serenidade que teu olhar contempla.Com o encanto que teu sorriso reluz.Com o carinho que tua amizade propaga.Com o respeito que tua atenção traduz!
Vai...Sol escaldante!Ilumina o teu sonho de vida.Com a pureza que tua bondade aclara.Com a certeza de que buscando, acharás.Com a vontade que você sempre faz.Com a humildade na sua conduta,Agregando valores a cada luta.Da paz tornando um mensageiro,Eficaz e leal companheiro!
Vai...Espalha teu brilho,Meu amado filho.Que o Pai Maior te iluminePor onde passar,Onde por ventura estar,Contagie teu amorCom quem se comunicar.
PROPAGAR
20
Anderson Prado de Lima
Colunista do Jornal Tribuna, Diretor da Revista O Comércio, formado em Letras e Marketing de Varejo.
A pessoa mais bonita que conheço não é gorda e nem magra! É alguém
que cuida do próprio corpo em busca de uma vida mais saudável, sem neuras,
sem máscaras, sem mágoas por não ter sido eleita a mais bela do planeta, tam-
pouco, chateada por não ter passado mil vezes pela fila da beleza. É feliz por-
que acorda, diz bom dia e estampa na face um sorriso gratuito. Veste a calça
jeans, uma camisa lisa ou um vestido florido. Bota um chinelo, um salto alto
ou um sapato fino e desfila – cheia de amor próprio – pelas ruas e avenidas.
A pessoa mais bonita que conheço não é velha e nem nova! Tem idade
suficiente para ser educada, dócil e gentil com quem cruza o seu caminho, seja
um mero desconhecido, um colega lá de longe ou um amigo de outros tempos.
É alguém que não tem rabugice pela vasta experiência que o tempo trouxe ou
é insolente pela imaturidade que a juventude insiste em carregar nos ombros.
É uma alma que gosta de ensinar, porém, também sempre está ávida pelo
conhecimento e disposta a compartilhar um bom papo ou uma boa história.
A pessoa mais bonita que eu conheço não é pobre e nem rica! Ela
tem entendimento capaz de distinguir entre o que é esmola e o que é do-
ação. É alguém que sabe dividir o pouco que tem ou retribuir o muito
que conquistou. Está disposta a estender a mão, ofertar o pão, dar um
ombro para chorar ou para fazer sorrir. Também sabe que, muitas ve-
zes, só os ouvidos bastam para aliviar uma dor, uma angústia, um so-
frimento. Está além da pobreza e da riqueza por causa dos seus olhos do-
ces e do seu coração quente que, por vezes, até derrete de emoção.
A PESSOA MAIS BONITA QUE CONHEÇO
22
A pessoa mais bonita que conheço não é negra, nem branca ou amare-la! É alguém que sabe que tudo o quanto se vê da raça humana é resultado da mistura entre os povos e que também é fruto de amores etéreos e de danações transcendentais. Sabe que ninguém é melhor que ninguém porque temos o mesmo valor perante a vilã e salvadora da humanidade que iguala a todos: a dona morte. Não dá valor ao homem ou à mulher pela moeda que carrega no bolso ou pela cor que está na pele, mas pelo caráter e pela vergonha que tem na cara.
A pessoa mais bonita que conheço não é gay e nem heterossexual! É al-guém que respeita as pessoas como elas são ou como elas querem ser, porque sabe que cada um leva a vida do seu jeito: repleta de amores possíveis e imper-feitos, perfeitos e impossíveis. Ela também abriga no peito um coração livre de fobias fúteis que só alimentam a discórdia, promovem o rancor, geram o re-morso. Não é incorrigível e nem tem a pretensão de ser, todavia, não aponta, tampouco, julga com seu dedo em riste ou com a navalha que tem na língua.
A pessoa mais bonita que conheço não é evangélica, nem católica ou de religião alguma! É alguém que tem fé e acredita, que ora para elevar o pensamen-to e não futrica entre véus, bocas, dentes, ouvidos e joelhos. Está tão interessada nas questões do céu que não amaldiçoa seus desafetos, pelo contrário, vai pe-dindo a Deus em favor deles. É alguém a quem interessa tão somente fazer o bem e que, por isso, salva um bocado de gente mesquinha e, outro tanto, compensa.
Pensamento da semana: A pessoa mais bonita que conheço está bem longe de ser perfeita! Entretanto, não fala mal dos outros pelos cantos e não se esforça para transformar mentiras em verdades. É alguém que não está acima do bem ou do mal, está apenas vivendo sem queixas e humilhações, com respeito e dignidade.
23
Quando eu partir dessa para a outra vida, não espero por lágrimas
correntes, tampouco, por infindáveis soluçares. Depois do lampejo da última
quimera que acender meu derradeiro pensamento – seja lá para onde a minha
alma for – talvez não me seja permitido olhar nos olhos mais uma vez ou dizer
adeus como gostaria. Por isso, quero apenas que poucos ou muitos guardem
no coração uma daquelas gargalhadas quase sem fim, aquele sorriso que só se
entende através da cumplicidade que há entre amigos verdadeiros, os beijos
doces que meus lábios encerraram na face ou na boca de quem amei na vida.
Quando eu partir dessa para a outra vida, não pretendo ser merece-
dor de aplausos estrondosos ou desoláveis críticas. Quero tão somente ter
conquistado amizades inestimáveis e inesquecíveis que transcenderão o es-
paço e o tempo para – quem sabe um dia? – um reencontro inusitado em
outro plano. Que nas lutas que travei não tenha conquistado inimigos, mas
sim, adversários que respeitam o meu nome porque combati o bom combate
como um homem justo que batalhou, que foi derrotado e que também ven-
ceu. Desejo não ter feito mal a quem quer que seja e que, se por falta de cui-
dado ou zelo, tenha o feito, que tal alguém possa me perdoar sinceramente.
Quando eu partir dessa para a outra vida, não quero que cei-
fem flores graciosas e registrem presença nas páginas de um livro pós-
tumo que jamais poderei ler. Tenho o sonho de me transformar em cin-
zas para renascer como a mitológica Fênix em um campo florido, sob a
proteção divina, ‘em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu pro-
fundo’ como canta o hino glorioso que cresci ouvindo. Que minha mor-
talha não seja de madeira nobre ou tecido fino, quero somente que es-
QUANDO EU PARTIR...
24
teja estampando no meu rosto sereno a lembrança da trajetória de um
pecador confesso que fez o melhor que pôde com as ferramentas que havia.
Quando eu partir dessa para a outra vida, não serão as velas que irão
iluminar a passagem que irei realizar. Entretanto, espero ter conquistado a
dignidade para receber orações e pensamentos bons de pessoas que deixei
para trás com saudade, alegria e amor. Se não conseguir ter guardado ne-
nhum dinheiro, que meu testamento seja uma história que meus familiares
sintam honra em preservar ou, pelo menos, que não se envergonhem em di-
zer que fui seu irmão, seu tio, seu sobrinho, seu primo, seu amigo. Peço a Deus
que me leve lúcido e bem velhinho para ter comigo infinitas venturas e des-
venturas desse mundo e dessa gente que tanto amo e que nem sempre digo.
Quando eu partir dessa para a outra vida, – nesse trajeto inevitável que
iremos todos percorrer – não será preciso homenagens e discursos que não
poderei ouvir, mas, que a minha família ouça com orgulho se vier a acontecer.
Quando o último arfar do meu peito chegar e obrigar que meus olhos já não con-
templem a luz do sol ou o reluzir das estrelas na escuridão da noite, pretendo ter
vivido bem, amado muito, sofrido demais, escrito um livro e mil poesias, cons-
truído castelos e não ruínas e pontes sobre os abismos. Quero antes da minha
hora final, ter a consciência que meus acertos foram maiores que os erros que
cometi e que, se errei, muitas vezes, foi na tentativa de acertar, de fazer o bem.
Pensamento da semana: Quando eu partir dessa para outra vida,
não espero ter vivido duzentos anos, mas sim, sentido por cem vidas.
25
Aparecida Fátima Máximo dos Santos
Assina suas obras com psudônimo de Cidinha Máximo, participou da primeira edição do Escritos Lençoenses.
A felicidade fazia com que meu coração batesse rápido e descompassado.
No céu, o sol brilhava radiante.
As árvores balançavam delicadamente suas folhas.
Os cabelos voavam junto do vento invisível,
que tantas vezes me acompanhavam nas caminhadas...
Mas este dia era demasiadamente especial...
Mesmo no azul do céu limpo, podiam-se ver ao fundo as estrelas brilhando.
Nem me lembro exatamente quanto tempo andei, nem por onde andei...
Impossível não me lembrar da linda música:
“por onde for quero ser seu par...”.
E fui... Correndo até onde você estava.
Porque a felicidade não é clandestina.
A felicidade não bate a porta uma única vez.
Basta abrir o coração, que a felicidade chega.
Mas para isso, o passado tem que ser apagado.
O futuro, só planejado por alto,
Mas o que vale mesmo é o presente.
O dia de hoje!
No dia de hoje, quero ser seu par...
Sem guerras, sem discussões, sem nada.
Melhor... com tudo!
Com muito amor!
Sem amor nada podemos nada fazemos, e nada somos...
POR ONDE FOR QUERO SER SEU PAR
28
29
“Não fiz a guerra por não saber”
Na verdade não fiz a guerra por não querer...
Devaneios se foram ao te ver do outro lado da rua,
sem entender o que acontecia você sorria.
Bastou um gesto...
“coloquei a mão na barriga”
Você entendeu...
Porque a felicidade fazia com que meu coração batesse rápido e descompas-
sado, por um ainda ‘minúsculo’ motivo...
Por onde for quero ser seu par.
Mas agora seremos três!
30
Para quem visse, olhava o nada.
Para quem conhecesse, pensava em algo especial.
Mas para mim, apenas procurava respostas.
Respostas que as estrelas podiam dar sempre.
Cada uma delas dizia uma coisa.
A constelação de Órion era ainda mais destacada,
naquela noite em que o céu estava sem uma única nuvem.
“As Três Marias”, sempre foram as minhas preferidas.
Lembrei-me da história mitológica da constelação.
Órion era um grande caçador, apaixonado e correspondido por Ártemis.
Mas o irmão dela, Apolo, não aprovava o romance de maneira alguma.
Então, por vingança, manda um escorpião para matá-lo.
No mesmo instante Apolo desafia Ártemis, excelente caçadora.
Porém Ártemis atinge seu amado que fugia do escorpião.
Quando percebeu o ocorrido, em meio às lágrimas,
Ártemis pede a Zeus, para que coloque Órion e o escorpião entre as estrelas...”
Órion, uma maravilhosa constelação que pode ser perfeitamente visualizada a
olho nu, nos dois hemisférios da Terra.
Estrelas, estrelas e mais estrelas...
Como pode uma luzinha a milhões de anos luz daqui, me dar tanta paz...
ÓRION EU TE AMO!
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Mas é olhando as estrelas, no silêncio do meu coração que encontro paz.
Lá no infinito, encontro paz, pois sei que tudo aquilo,
que mal posso visualizar,
tem uma força muito mais forte que tudo que já vi e senti...
Essa força tem um nome: “DEUS”.
E olhando as estrelas, vejo Deus e nas estrelas encontro a paz...
Mas nunca, ninguém saberá exatamente o que estou pensando.
Pois é muito fácil pensar em algo,
e por um motivo que só cabe a mim,
não conto pra ninguém,
a resposta?
A resposta vem das estrelas no céu...
Ariane Harbekon Nogueira
Cursando Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) na UFMG, também atua como redatora na empresa Cria
UFMG Jr.
Encadernei algumas ideias, botei-as debaixo do braço e fui pra
rua brincar de sonhar. Sai caminhando pelos quarteirões da vida e an-
corei em uma rua distante. Nela encontrei repouso e por lá releio mi-
nhas ideias, e permaneço a tentar libertá-las do papel. Algumas vivem
alheias a mim, em escritas apagadas. Outras se personificaram e toma-
ram conta do eu, e hoje me constroem de forma a me moldar a todo ins-
tante. Sou agora construído por minhas construções que desconstro-
em o que me impede de evoluir. Assim, reinventando-me a todo instante
aprendo que não é glória afirmar que jamais mudarei quem sou. Inverto
a óptica: sou quem mudarei. Desvios de rota nos abrem os olhos pra ca-
minhos livres do peso do planejar. Afinal, estou brincando de sonhar.
Perdi a hora nesse desvio de rota que me trouxe até o presente e hoje
o desvio é que me aponta a direção, e me permito ser guiada pelo incerto.
Talvez o incerto seja o certo pra corrigir meu incorreto. Movida pelo que
é sentido, busco menos tempo equacionando o que está cá dentro estacan-
do e mais tempo permitindo só sentir. E nesse movimento de lutar contra
o que está estacado aqui dentro, resolvi doar meu desacostume ao vento.
Aprendi que sentir é acalento dos que não se guiam unicamente pela razão
e veem razão em emoção. Agora busco o desacostume do sentir, fugir da
rotina que generaliza e engessa as emoções. Estaca aqui. Esta cá. Estou cá
seguindo. Seguindo sentindo o desvio de rota imperar caminhos que me
SONHOS BALDIOS
34
modificam. Hoje, ao ver mudado meu reflexo nas frestas de espelho dos
olhos alheios, percebo que brincar de sonhar me trouxe até a rua certa. E
por ela sigo com as ideias encadernadas que se libertam a desencaderna-
rem novos eus. Enquanto isso, continuo a brincar de sonhar na rua distante
dos medos, na esquina entre o fui e o serei, onde me permito diariamente
amanhecer ideia, entardecer ação e anoitecer em sonho. Realizado ou idea-
lizado, mesmo que não haja sucesso, houve tentativas. E nisso consiste meu
sonho: sonhar. Sigo encadernando ideias, a me criar. Debaixo do braço, as
ideias e a vontade formam o processo criativo do meu caminho. Fui pra rua
brincar de sonhar. Fui pros sonhos brincar de viver. Fui pelo caminho brin-
car de sentir. Parei. Ancorei no sentir. Sigo sentindo, mudo seguindo, sinto
mudando. Fui pra rua brincar de sonhar, volto pra casa antes do anoitecer.
35
Confesso ser-me difícil encontrar definição para a palavra até então
vivida em outra língua. Ausente de meu vocabulário, distante de letrar meus
caminhos. Hoje a repito com frequência e ela, escreve por onde devo seguir.
Derruba suas letras por onde passa, deixando indícios do que busca significar.
Talvez sejam Asas. Asas que me decolam, que me descolam de onde não devo
permanecer. Asas que degolam minha vontade de ficar. Asas que me movem,
guiadas por onde os ventos dizem que devo viajar. Voam, abençoam o maldi-
to desejo de estagnar. Me levam por onde os ventos desejam soprar e, assim,
sopram caminhos que me guiam ao que a nuvem seguinte me impede de ver.
Nessas Asas vou. Voo. Voo por onde a sombra de asas alheias me faz querer ir:
seu bater de asas causam o vento que sopra meu destino, as asas que me fazem
partir e me indicam a hora do pouso. O momento exato de pousar no amar.
Pousar a mar, velejando pelo que derrubei enquanto voava. Aí em repouso
ouso olhar para baixo. Abaixo, no azul mar que ama o reflexo das nuvens
existentes em mim. Minha própria turbulência: o que sinto quanto te percebo
em ausência. Balança, descansa em mim o desejo de voltar. A mar. Amando
o caminho de volta. Mas, a palavra, essa continua alada, ao lado da determi-
nação. Terminação verbal não exata do sujeito meu. Mas sigo em voo e hoje,
voo longe pelo Horizonte chamado Belo. E várias outras asas me mantém no
caminho quando acredito não ser possível permanecer no ar. Chorando pelo
distante que voa em direção ao passado, chorando a alegria por realizar o
voo sonhado. Horizonte distante onde me espero e que hoje, chamo por Belo.
HORIZONTE
36
Coração grande não pode ser preso. O meu talvez não tenha a riqueza
da coragem para ser nomeado grande, mas tem a fragilidade do desejo de ser
livre. E dessa forma é também indomável, inapreensível. E livre. Livre do
peso das certezas, livre das imposições alheias. Ele caminha por si próprio,
rumando sem rumo, remando sem prumo num mar baldio de sentimentos.
Caminha livre procurando livrar-se de quem se prendeu a ele, deixando pra
trás os débitos dos antigos habitantes que nele, um dia, encontraram mora-
da. Moraram. Marejaram pelas águas vermelhas que por ele correm. Hoje,
deságuam pelas quedas que despencam do olhar. Quedas d’água. Quedas má-
goas. Quedas tréguas que permitem escorrer quem não mais mareja aqui. E
aí, deságuam. Desabam dos olhos o que minha morada pulsante não permite
mais habitar. Fechou-se. Estancou-se dos sangramentos. Saturou-se dos cor-
tes e hoje busca a sutura capaz de fechar os portões de casa. Venderemos a
propriedade, vamos morar de aluguel. E quando algo impedir-me de pagar a
estadia em suas águas, seguirá também eu sem morada, até que sua maré me
leve pra longe encontrar a praia. Sairei por olhos marejados. Seguirei tam-
bém desabando pelos olhos alheios, ou caindo de sorrisos felizes por me ve-
rem partindo. Não importa. Essa morada em hipertensão só quer se ver leve
pra seguir, e segue com a fragilidade do desejo de ser livre, reformando a casa
em que muitos não souberam habitar. Dele saem marcas em barcas carrega-
das dos que sairão pelo olhar em deságue. Partem dos olhos marejados que os
vê marejar oceano a fora encontrando outras marés. Que a brisa o leve para
onde deseja. Eu? Eu sigo remando por um coração amando ser livre. Não mais
farei dele morada. A cura foi demorada, fizemos a escolha errada e agora é
preciso ir. Segue pulsando e livrando, remando seu amado para longe daqui.
MORADA PULSANTE
37
Benedito Antonio Carlos Blanco
Jornalista, há mais de 50 anos em atividade, trabalhou em todos os jornais de Lençóis Paulista, Folha de São Paulo,
entre outros.
Perambulando pelas alamedas da saudade, numa esquina do passa-
do deparei-me com um dilema. Nele eu vislumbrei o futuro. Vi que pela es-
trada que eu teria de trafegar havia uma bifurcação, e apenas uma trilha
deveria ser escolhida. A terrível indecisão fez com que eu me embrenhasse
no âmago da incerteza e depois de muito meditar, naveguei pelo oceano
da esperança, ancorando o meu barco em um porto seguro de uma terra
paradisíaca, onde o amor impera, ódio não prospera e todo mundo é feliz.
Nos meus devaneios, observei gente sorrindo, dançando, saltitando.... Vi
pássaros voando, anjos cítaras tocando e arroios mansos e límpidos entre
as colinas floridas deslizado. Vi gestos carinhosos, afagos, ternura, vê gen-
te amando. Estarreci-me com cenário tão esplendoroso. Embriaguei-me de
tanto júbilo que a cada instante saciava a minha sede de ver um mundo mais
feliz. Centenas de milhares de flores, cada qual com seu perfume, impreg-
navam o ar. O sol, com seus raios cintilantes, derretiam as gotas de orvalho
que à noite pousavam no tapete de relva verde dos amplos prados. Um so-
nho... um verdadeiro sonho, que lamentavelmente despareceu da minha a
mente assim que eu retornei à realidade. Volto para a minha vidinha paca-
ta e vejo noticiários mostrando crianças morrendo de fome, pais definhan-
do por falta de tratamento adequando para seus males, muitas vezes abso-
lutamente curáveis. Rios secando, peixes morrendo em virtude do descaso
dos humanos. Matas desaparecendo do planeta por causa da ganância, da
agricultura predatória e da irresponsabilidade dos poderes constituídos.
Vejo nos jornais a corrupção que assola o mundo, sobretudo em países
onde a educação fica em segundo plano. Noto que nem mesmo Deus está
DEVANEIO
40
sendo levado a sério. Em nome da fé, espertalhões acumulam fortunas,
explorando a ingenuidade de pessoas simples, de pouca ou quase nenhuma
instrução. Também em nome da religião, comunidades fundamentalistas
matam, saqueiam, estupram e aniquilam seus povos. Tudo em nome da fé.
O mundo que eu vi no meu sonho não era esse, com certeza. Gostaria de ter
continuado no meu devaneio, pois lá naquela terra, todo mundo era feliz.
41
A calmaria chega a incomodar os ouvidos. Tira o sono a falta de um
ruidinho, por insignificante que seja. A noite alta e fria, o silêncio ensurdece-
dor faz com que a penumbra fique com um ar fantasmagórico. Apenas o ruído
das sopradas de vento, próprias do mês de agosto, se faz ouvir quando bate
na cumeeira do sombrio casarão. O cenário que se vislumbra é assustador.
Entremeio às rajadas brandas de vento, os ouvidos mais aguçados identifi-
cam o som do canto de uma corujinha preta, aquela que quando canta é pre-
núncio de maus agouros. A cerração que embaça a vidraça, forma desenhos
abstratos que ora têm jeito de santo, ora se parecem com demônios. Na altura
do décimo terceiro degrau da cinzenta escadaria, dorme alguém que vez ou
outra tem crise de sonambulismo. Deve ter pouco mais de dezessete anos,
um metro e sessenta de altura e deve pesar uns 55 quilos, bem distribuídos.
Seria de extrema beleza física não fossem os maltratados cabelos ouriçados,
roupas puídas e esfarrapadas e dentes escuros por causa do indiscriminado
uso de tabaco e drogas mais fortes. Nunca, em nenhum momento, alguém
reparou nela, o olhar insinuante e travesso, a inteligência e principalmente
a voz encantadora que possui. Nas noites quentes de verão, quando o per-
fume das Damas da Noite impregna o ar, é comum ouvir-se uma voz macia
que se faz acompanhar por um piano que ninguém sabe onde está. Pouca
gente sabe que a dona daquela voz é a pequena feinha que mora no andar
de cima do casarão em ruínas. Ninguém imagina que aquele rascunho de
mulher seja tão talentoso. O velho relógio que fica no alto da porta principal
do salão mor da residência, marca meia noite e meia. No topo da escadaria
surge ela – a menina - com uma lamparina à altura do rosto e com passos
lentos porém decididos, desce lentamente e vai até a cozinha onde enche
A FEIA E O SONAMBULISMO
42
uma travessa de fubá, adiciona duas ou três colheres de açúcar, fermento e
leite, despeja tudo em uma assadeira já devidamente untada e leva ao forno.
Senta-se na única cadeira que há próxima à grande mesa de centro, tira do
sutiã um cigarro de cor escura, estica o braço para alcançar uma caixa de
fósforos e ali dá tremendas baforadas. Êxtase, prazer, viagem.... Parece que
está em outro mundo. Pouco mais tarde, lá fora tudo volta ao normal. Já se
escuta o barulho das sirenes, buzinas, ronco de motores e frenagens de ve-
ículos mais apressados. O alarme do fogão agora apita, sinal que o bolo de
fubá está pronto. É hora de saborear aquela delícia. O bule de café fumega.
Os bolinhos de mandioca, douradinhos pela gema de ovo mexido, espera por
bocas ávidas por uma alimentação saudável e original. A pequena feia, po-
rém, não participa dessa ceia. Ela volta para o seu quarto, deita-se e, como
se nada estivesse acontecido, continua dormindo. Fizera tudo sob o efeito
do sonambulismo e das drogas consumidas no dia anterior à sua internação.
A rotina naquele hospital para recuperação de drogados volta ao normal.
43
Camila Simões
Artista plástica, artesã, criadora e escritora do blog Melo-dias Noturnas e co-criadora da série Estranha Melodia.
Ó dor que me mata
Sua presença é tão marcante
Que meus braços em deleito esmaecem no chão em meu peito
Sua voz ainda ecoa em meus sonhos noturnos
Já a sinto como parte de mim que se foi
Estou dançando com sua curva nos braços do vento
Sinto que eles o levam pra longe
Sinto que minhas mãos acariciam seu doce rosto no nevoeiro
É somente a dor que me consome
É somente lembranças que somem
Sinto-a nos trilhos sob meus pés
E o pássaro em abandono bate suas asas pela ultima vez em desespero
No fim todos se vão
No fim nunca estão
Posso sentir a prova de sua presença, que escorre em forma rubra por minha alma
E a nova luz do dia ilumina o filme de nossos sorrisos
O filme sempre acaba
E a estrada que reside no bico do corvo o leva pra longe
Tão longe que as linguas do vento sussurram em tempestade
Saudade...
Saudade.
SAUDADE
46
Ó meu belo amante
Deslize em meus lábios
Cante em minha alma dançante
Tuas notas soam como palavras dos sábios
Ó sim deslize
Por favor toque
Sou a fada má que de mim bem dizem
Mas não quero que em mim se foque
Posso vê-lo deitado em chão coberto de penas
Seu reflexo se faz em meio a luzes
Suas mãos flutuam em teatro de cenas
Posso ver o chão repleto de cruzes
Ó sim você caminha
Por meu corpo
Por minha terra
Sobre minhas asas, minha espinha
Deite-se comigo
A eletricidade é contagiante
Sou seu abrigo
O som hipnotizante
VIOLINO E VIOLONCELO
47
O vento rege tua orquestra
É mais que a lua em ritual
É corpo que plana em festa
Olhe para mim, não estou em pele usual
Sim deslize
Posso ver-me sobre tua alma
Corte-me antes que minhas mãos enraízem
Em seu doce sorriso, em sua alegria calma
Você ilumina meu sombrio castelo
Então deite-se meu amor
Serás hoje meu violino
E eu seu violoncelo.
48
Por dias e noites a mão amputada tentou escrever
Seu fantasma delineava cada palavra com tinta inexistente
Sua alma chorava, mas seus olhos nada refletiam
Seu ectoplasma escorria pela mesa de cirurgia e nada ninguém via
A dança das mãos os envolviam
Sobre as costas dos pássaros revolviam
Ao desprovido do som gritou
Para o nada seu mudo desespero deitou
Que chacina de sina distinta
Ouvidos deleitam-se ao som do piano
E mãos imaginárias a envolvem
É a suave pele da noite a tocando
Mas o degrado é insistente em deixá-lo manchado
Tão pobre alma nobre, desprovida de sentidos
Abraça com os lábios
E ama pelo sopro
Ao fim somos fios
Ao fim somos grãos
Criança maldita que habita
Tão grande e pequeno coração
Dilacerada carcaça doentia
Seu corpo jogado aos céus
Acompanhada pela água da guia
Grande corpo branco embalado
ESPÍRITO
49
Bela dama de sangue sentia
Sua flor a minha boca atrai
Desabrocha minha ínfima alegria
Que aos poucos se fecha e contrai
Mas alma que liberta é
Não necessita de corpo para compor
És pura por si só, sei que é
Seus olhos brilham o estupor
A fim de que mais será tido
Antes sangrar em desarmonia
De forma que tenha vivido
Do que caminhar apenas pela cova fria.
50
César Antônio Nelli Faillace
Escreve poesias em jornais locais e participou da primeira edição do Escritos Lençoenses.
Na pele o coração de tinta
Uma gota de lágrima com meu nome
Na casa só se ouvia ódio gritando em mim
“De que vale o par se não o amor pára dar
De que vale o amor se não há par para dar
Melhor um só!
Um ser só
Na lágrima minha própria figura
O amor sufoca se não há para quem dar
Uma dor doente
Um inferno no jardim
Nas pétalas nasceu o espinho
Na rosa que não me toca rasguei meu peito
Meu sangue que jorra em punhos e dentes
Chorei sobre as feridas do amor
Marquei seu corpo com meu ódio
Melhor um só
Chorei sobre as cicatrizes
Do amor que me sufoca por perder o meu amor
Na lágrima minha própria mágoa
Com lágrimas feri o pulso
Esvaziei-me da tristeza em sangue
AMOR SUICIDA
52
Seu olhar de rosa
Seu ser de flor
Pétalas sedentas
Pingando orvalho
Vestindo-me em anjo
A beijarei
Como a beijei em sonhos
Estranho os sons
Desejos de meus lábios
Haste faminta
Abraçando nua
Por suas pétalas
Por sua flor
Sua flor
Do amor
Não está protegida
Na beleza
SAUDADE
53
Pede o vencer da dor
Seus espinhos
Evitam o toque
Seu olhar de rosa
Seu ser em flor
Pétalas sedentas
Pingando orvalho
Haste faminta
Abraçando nua
O ar
Em suas folhas
54
Encontro você
E em meu corpo
A mim
Um lar
Uma mansão
Um porto
Uma pequena você
Um pequeno eu
Um beijo e Deus
Usando meus pés de novo
Matando o tempo
Esperando o riso
Risco
Rabisco
Liberdade em vôo
ENCONTROS
55
Um mundo
Um ser lindo
Esta noite sinto
Um corpo
Um sangue
Um ser bonito
O riso
A palavra
O pedido
O gozo
O gemido
O grito
Obriga-me
A briga
Ou abriga-me
No albergue
Da tua vida
56
Conceição Carlis Arruda
Autora do livro Ternura, contendo poesias de Lençóis Pau-lista. Participou de antologias e concursos literários por todo o estado de São Paulo, inclusive na capital. Assina
suas obras com o psudônimo de Liscar.
Lençóis Paulista, “Cidade do Livro”, há muito vem recheando seu acervo
com histórias interessantes. Lembro-me em 1962, quando fui matriculada na
escola Esperança de Oliveira, eu residia na Vila Contente ao lado da Destilaria
Central, que na época estava em atividade.
A entrada de Lençóis Paulista era onde hoje está localizada a Avenida
José Antônio Lorenzetti, quando então não passava de uma estrada empoeirada
ou lamacenta.
Em minha primeira semana de aula, papai me acompanhou para me en-
sinar a atravessar as ruas e a linha férrea, os trens da Sorocabana transitavam
dia e noite tanto que o Senhor Antonio, guarda ferroviário fechava a porteira a
cada trem que cruzava a Rua Coronel Joaquim Anselmo Martins.
Hoje sinto saudade do Senhor Antonio, uma pessoa preocupada com
seus semelhantes, principalmente as crianças. Quando o trem resolvia fazer
suas manobras formava uma fila de carros de ambos os lados e as buzinas eram
de ensurdecer. Sem contar quando coincidia em horários que a criançada saia
da escola. As meninas aguardavam pacientes, mas os meninos atravessavam
entre os vagões para o desespero do Senhor Antonio.
A partir da segunda semana de aula, eu ia para a escola com os colegas
da vila, ora brincando, ora brigando, coisas de criança. Certo dia ao passarmos
em frente à Estação Ferroviária, para então seguirmos pela Rua Floriano Pei-
xoto, hoje Dr. Antonio Tedesco, a qual nos levava à Escola, um dos colegas do
quarto ano nos avisou que íamos passar por Pai João e, apesar de sua aparência,
era uma ótima pessoa.
“Pai João” já de longe gritou. “Bom dia meus fio, vai estudá pra se dotô”?
Foi assim que conheci “Pai João”, lembro-me perfeitamente dele, era um Se-
nhor já mostrando idade avançada, usava roupas desbotadas, pés descalços e
um enorme chapéu.
PAI JOÃO E SEU FIEL AMIGO
58
Os lugares preferidos de Pai João eram a Estação Ferroviária e o Bar Gua-
rany, que ficava na esquina da rua: XV DE Novembro com a hoje Dr. Antonio
Tedesco, onde era parada de ônibus. A Rodoviária estava no futuro. Eu entrava
no Bar para comprar balas Toffe e Pipper e várias vezes eu via Pai João pedindo
humildemente uma xícara de café ao proprietário: “Meu fio serve um cafezinho
pro preto veio”! E gentilmente o café chegava acompanhado de pão com man-
teiga e um alegre sorriso. Algo que deixava “Pai João” à vontade entre amigos,
lá no canto do Bar ele dividia seu pão com seu fiel amigo cão chamado Trovão.
Em uma tarde de Domingo fui com meu avô Miguel tomar sorvete no
Bar do Natal, o mesmo ficava na esquina da Rua Sete de Setembro ao lado da
Matriz Nossa Senhora da Piedade e, “Pai João” lhe perguntou. “Quando a gente
compra um carro ele já vem com as rodas”? Eu com apenas sete anos de idade
compreendi tamanha simplicidade daquele bondoso Senhor.
De certa forma, “Pai João” fez parte de minha vida. Por um bom tempo
eu o encontrava todos os dias no caminho da escola, até que em 1965, minha
família resolveu se aventurar no estado do Paraná e retornando a Lençóis em
1971. Eu nunca mais vi “Pai João”. O que teria acontecido com ele?
Passado muitos anos me surpreendi lendo o jornal O Eco de 12/01/2002,
onde encontrei dados importantes sobre “Pai João”. Eu que sempre achei que
ele morava na rua, soube que o mesmo havia falecido em seu pobre casebre
situado onde hoje é o jardim Itamaraty e, tendo como única companhia seu
cachorro Trovão, “Pai João” não deixou nada a não ser sua própria história. A
prefeitura providenciou um lugar no cemitério para que seu corpo repousas-
se em paz. Porém, deixou seu fiel amigo cão, ele tinha a certeza que a vida do
amigo continuava e, sobre a cova permaneceu vigilante aguardando seu dono
se levantar para buscar comida para ambos.
Exemplo de amor, amizade sincera, fidelidade de cão.
59
Pássaro que vive a voar
Voa alto tentando alcançar
Seu sonho, no entanto
Ele se desfaz
Pássaro, eu tento te imitar
Sem voar vivo aguardar
Quando dela me aproximo
Vejo o sonho desmoronar
Amor que chega feito furacão
Vem com força e alegra o coração
Quando vai é só desilusão
Assim vivo na solidão
Pássaro que do alto me espia
Fiel amigo me vigia
Eu do chão lhe aprecio
Sonhando vencer este vazio.
PENSAMENTO
60
Vento que vai e vem
Balança as árvores
E meu coração também
Vivo sonhando contigo meu bem
Ventania brisa fulgurante
Age imitando o amor desolado
Varre o que vê na frente
Não deixa nada ao seu lado
Vento em dia de calmaria
Transmite alegria
Estou apaixonado por você guria
Cobrir-te de beijos eu queria
Vento bondoso trabalha sem cessar
Assim sou eu não me canso de te amar
Meu coração repete venha comigo ficar
Em teus braços desejo viver e sonhar
Vento sopre ao meu favor
Diga ao meu bem que morro de amor
Traga a pertinho de mim
Para que eu viva feliz enfim.
VENTANIA
61
Diusaléia Oliver
Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Cabo Frio-RJ, publicação do livro Contos de Qualquer Canto, em
2008, participação em concursos literários na região.
Essa vida de mulher prendada é mesmo muito difícil: lavar, passar, cozi-nhar, arrumar, ariar, criar, educar, lustrar, comprar, varrer, desencardir... Ufa! Hoje é assim, amanhã tudo de novo, ninguém para me dar uma mão, e pagamento que é bom...nem um tostão! Atéquemeucaçulaapareceu,mefalandoummontão,fiqueiacabrunhadaescutando seu sermão. -Mãe, sabe que Deus parece contigo? -Sei sim, oh se sei, tanto eu como Ele temos paciência de caldeirão! -Não, não é isso não, você e Deus não recebem um vintém, mas também não devem a ninguém. “Deus lhe pague” é o que mais lhe convém. -Sabequevocêtemrazão!Masprefirofazerparaosoutrosdoqueterqueaturar humilhação. Meu serviço é duro demais, menino... -Minha mãe, não ligue não! Enquanto você faz uma panela de comida, Deus cuida de toda a plantação. Faz semente virar árvore e adubo alimentar o chão. -Pois nunca tinha pensado nisso. Vivo só a trabalhar, faço tudo direitinho para o seu pai não reclamar. -Saiba que Deus também passa por isso, nossa enorme ingratidão, Ele pôs tudo na natureza, e a gente o que fez? Essa grande destruição! -Ora, não pense que me engane, me pegando pela emoção, depois dessa nossa conversinha, você vai varrer o chão!!! (É serviço seu, menino, não me en-role não!) -Deixa comigo, mamãe querida, eu não me importo não, porque enquanto eu varro o quintal, Deus tem que limpar esse mundão! -Então me ensina, como Deus faz essa faxina?-Faz o ar se agitar, rapidinho vira vento, Ele é capaz de transformar aquilo que era lento. -Nossa, que poder fenomenal! E eu aqui achando ruim de tirar a roupa do varal! Descongelar a geladeira também é a maior chateação, eu detesto esse ser-
A DONA DE CASA E O DONO DO MUNDO
64
viço, queria acabar logo com isso! -A geladeira de Deus é muito maior que a sua, e Ele não quer descongelar, está até com medo que a geleira vire mar. -Esse Deus é mesmo esperto, sabe tudo que faz, mas duvido que Ele con-siga, trocar botijão de gás? -Vou provar que Deus é um gênio, pois Ele troca dia e noite gás carbônico por oxigênio. -Eu tenho tanto serviço, tem dia que eu acho que morro, além de tudo que faço ainda tenho que tratar o cachorro! -Esse trabalho Deus também faz, Ele cuida dos bichinhos do céu, da terra e do mar, ou você sabe como vivem a andorinha, o urubu e o tubarão...o tatu, a joa-ninha e o camarão? Eles nunca serão adotados, nunca terão quem lhes dê ração. -Moleque,assimficadifícil!Hojevocêtáafiadodemais,ficafalandodeDeus, mas esquece do que a gente faz! -Sei que você trabalha muito, seu dia é todo tomado, mas já imaginou se Deusresolvessetambémficardeferiado? -É nunca tinha pensado nisso, comparado com o meu, Deus tem muito mais serviço! -Agora gostei de ver, agora vamos nos entender, quero que você acredi-te... cada um faz o que quer merecer. Nunca reclame do seu trabalho, porque igual a você ninguém mais vai fazer. -Masqueinteligênciameufilho!Nãosabiaqueerasassim;enquantoeutrabalho tanto, Deus ainda cuida de mim! -Agora minha mãe falou tudo, parece que entendeu a lição, você e Deus são parecidos, não pelo trabalho, mas sim pela missão... -Essa não compreendi, trate logo de me explicar... -Nãoficabravaqueeuvoutecontar,assimcomoEle,asmãestêmano-bre tarefa de cuidar. Enquanto Deus toma conta do Universo, cada mãe organiza o seu lar.
65
Edinei Barbosa Alves
Escreve poesias com temas diversos, tem como inspiração poetas como Vinícius de Moraes, Luiz Vaz de Camões, Car-
los Drummond de Andrade e Mário Quintana.
Eu não vivo de certezas confusas
Ou de retratos mal pintados
Da minha forma de ser
Eu vivo a beleza da emoção.
Sou conduzido por vontades intrusas
Pelos sonhos que vivem em mim atrelados
Pela forma que moldo meu saber
E pelo belo enigma da paixão
Sou feito d’um otimismo que dúvida
D’uma crença incrédula de mudança
Que envolta vive sobre resquícios de esperança
Porém em mim vive um espírito gladiador
Que não se abate ou se isola, desta vida.
Luta, briga e vive sem pudor.
BIDIMENSIONAL
68
Um dia te conheci
Mesmo sem querer
Mas logo percebi
Que isto ia render
Você me levou a lugares
Que eu nunca sonhava chegar
Me fez respirar novos ares
Como foi bom te encontrar
Hoje sou melhor, que admiração...
Eu devo isso a ti
Por tudo que aprendi
Nesta bela relação
Relação que durou muitos anos
Que me transformou,
Que me trouxe sonhos
E que tanto me marcou
Agora vou embora, que incrível...
Quem mandou me ensinar
Que um sonho é possível
Que um rio forma um mar
INEVITÁVEL TRAIÇÃO
69
Que interessante, E sempre ir adiante
Que a escolha do caminho
E que te faz pequenino
Ou te faz ser um gigante
Eu estou te traindo
Quem mandou me apresentar
Aquela tua amiga, rindo,
Louca a me chamar
Mas foi inevitável
Contigo não posso mais ficar
Um amor inegável
Veio a me extasiar
Minha amada escola, Isto me degola
Mas tua amiga faculdade
Deu-me aquela bola
E nem o medo da saudade
Me fez livrar dessa paixão
Porém, por onde eu for
Levar-te-ei meu querido amor
No ponto mais fundo deste meu coração...
70
Um dia me vi á voar
Por um mundo de maravilhas
Nele vi pessoas a cantar
Músicas em redondinhas
E a voar por esse mundo
Vi muro feito de rubi
E tantas estrelas brilhando
Que quase me perdi
Nesse mundo vi castelos
Todos feitos de cristal
Que atavam todos os elos
E baniam todo o mal
Vi muitas crianças brincando
Com os raios de luz
Uma me chamando
E mostrou-me uma cruz
Disse essa cruz marca um destino
Que mudou a realidade
Pra uns pode ser desatino
Mas isto é a mais pura verdade
MUNDO CELESTE
71
E logo ela me mostrou
Sem sombra de erro
Que esta Cruz era de um negro
E disse que ele nos salvou
E logo este negro eu vendo
Envolto por muita luz
Acabei compreendendo
Que ele era Jesus
E a luz que nos olhos meus
Formava um belo véu
Era a luz de Deus
E eu estava no céu.
72
Elaine Cristina Bacili Ramos de Oliveira
Assina suas obras com psudônimo de ECBJ, escreve desde os 10 anos, participou das antologias lençoenses, além de
escrever para jornais e participação de eventos em escolas.
Rosas Brancas são assim...
Balançam no ar
Saltam em alturas
Rosas Brancas são assim...
Brincam de amarelinha
Pulam cordas
Rosas Brancas são assim...
Graciosas, Risonhas
Rosas Brancas no jardim
ROSAS BRANCAS NO JARDIM
ABELHINHA
A bela rainha
Meiga e afável
De flor em flor
Seu voo chega
Ao céu.
Operária faceira
De colmeia em colmeia
Seu zumbido num
Luppeng caracol
Traz alegria ao amigo
Girassol... zzz ...zzz...zzz...
74
Às vezes penso que você é uma flor...
Violeta, Rosa, Margarida.
Às vezes penso que você é o tempo...
Amanhecer, Entardecer, Anoitecer.
Às vezes penso que você é o sentimento...
Amor, Alegria, Amizade.
Às vezes penso que nome dar a você?
Você é, e sempre será minha
Grande amiga!
GRANDE AMIGA
75
Enio Romani
Poeta, escritor, escultor, radialista, autor do livro Coisas do Meu Setão (2005), participou de oito antologias, tem tra-
balhos divulgados em revistas, jornais, rádios, televisão e vários festivais.
De manhã logo cedinho
Da minha cama ouvi
o canto de um passarinho
Bem-te-vi, Bem-te-vi
Abri devagar a janela
Para poder espreitar
O lindo pássaro amarelo
E seu alegre cantar
Seu canto eram notas
Repletas de alegria
Enquanto eu o espreitava
Pareceu-me que assim dizia
Derrubaram minha floresta
Vim na cidade morá
A vida aqui não é festa
Mas continuo a cantá
Canto bem de manhãzinha
Para saudar o sol nascente
E rogo a DEUS para que seu dia
Seja feliz, contente,
BEM-TE-VI
78
Meu canto também leva
Minha eterna gratidão
Ao nosso Sinhô Poderoso
Pai de toda criação
Por me dá esse trabaio,
Num pense você qui é bom!
Pois as vezes canto
Com um ispinho no coração
Canto mesmo no dia,
Que o gato astuto, esguiu,
Com modos bem sorrateiro
Deixa meu ninho vaziu
Canto quando um veio careca
Enrrugado e cara de mal
Bota meu ninho fora
Pra limpá o seu beiral
Mesmo que um vento do sul
O meu ninho levá
Eu me mantenho acordado
Pró seu dia alegrá
79
É assim que um passarinho
Vive aqui na cidade
Cantando prá disfarçá
a sua grande saudade
Saudade da linda mata
Que o homem derubô
Saudades dos meus amigos
Que prisioneiro acabô
Preso em uma gaiola
Em imenso sofrimento
Mal sabe o homem que seu canto
Não é canto, é um lamento
Agora peço licença
Amanhã estarei aqui
Para alegrá o seu dia
Bem-te-vi, Bem-te-vi, Te-vi, Te-vi.
80
A nossa mente nos conduz a viagens maravilhosas
Basta para isso fecharmos os olhos,
Darmos asas à imaginação, viajar, e ver.
Em um belo dia, fechei os olhos imaginei e ví.
Ví o Origenes Lessa, a São Pedro dizer,
Viajei por terras distantes, terras de São Saruê,
Lá tudo se dá em árvores, só quem foi lá para crer,
Doce, sorvete, lanche, bolo, é só apanhar e comer!
Você que é amigão de DEUS, interceda junto dele por mim,
Veja se ele faz a minha Lençois, ser uma terra assim.
Ví o Horacio Moretto, bem próximo da lua dizer,
“Ho lua que eu tanto queria”! Quando eu ia visita-la,
Esperava fizesses sala, só quartos você fazia.
Sua presença é um tesouro, sua ausência que me mata,
Você faz luar de prata, e no entanto... Vale ouro”
Faço-lhe agora um pedido, atenda-me por caridade,
Continue prateando, minha querida cidade.
Ví a Arleia a DEUS orar
“DEUS é o sol que aquece, a lua quando anoitece,
É o poente é a vida, é o caminho de volta,
O guia de nossa ida, DEUS é a candura,
A ternura do dia, a poesia constante,
ESCRITORES LENÇOENSES
81
A natureza, beleza, o cântico arpante,
De grande alma, nobreza,
É o “sorriso criança, do futuro esperança”
“Ho DEUS espero, me atenda em que quero,
Pois bondoso tu é, desperte nos Lençoenses,
A força da fé.
Ao Alexandre Chitto, ví São Pedro falar,
Eu vou lhe premiar, com mil anos de gloria,
Pois lutastes sem cessar, para poder resgatar,
Da sua Lençois a historia.
Ví muitos escritores Lençoenses,
Que viveram no anonimato,
Por tudo de belo que escreveram,
Somos-lhes eternamente gratos,
A todos os escritores Lençoenses,
Que junto de DEUS estão,
Lembro-vos que a suas presenças,
Por aqui não foram em vão,
Dá-lhes a grande certeza,
Esta frase bela e rica,
Passam por essa terra os escritores,
Mas... Seus escritos aqui ficam.
82
Fanny Christine de Medeiros
Possui publicações nos jornais Tribuna Lençoense, Gazeta Paulista e Jornal UNESP, concorreu ao Mapa Cultural Paulista (2002-2003). Assina suas obras com pseudônimo de Yara
Moraes.
É
Vinte e oito
Aniversário
Clima de festa
Entra no ar
Adrenalina
E lá na arena
O locutor
A narrativa
Deixa rodar
Já entra em cena
Provas em touro
Cowboys e cavalos
Desafiam o tambor
Então vamos nós...
Sai do armário
Chapéus e botas
Da country-moda
O cheiro é ocre
Churrasco à vista
Cachorro quente
Que num repente
De muita gente
HORA DE RODEIO(Homenagem ao aniversário da cidade)
84
Na madrugada
Eles
Encontram elas
E vice e versa
Do som caipira
Canto da gente
Velha viola
Paqueras muitas
Uma semana
Histórias tantas
Fica a saudade
Outra FACILPA
85
“A tua piscina está cheia de ratos
Tuas idéias não corresponde aos fatos...
O tempo não pára.”
(Cazuza)
Filosofia, arte, literatura é para um grupo seleto? Talvez! Hoje, com a
globalização, resultado da indústria cultural, é assim.
Há alguns anos, quando ouvíamos falar nessa palavrinha, o assunto
nos era apresentado da seguinte maneira, como atrativo: informação, inter-
câmbio cultural com outras nações em rápido alcance, política, religião e eco-
nomia sempre seriam atualizados pelos meios de comunicação, pois através
das TVs, rádios com o advento da internet estaríamos sempre “antenados”
com o mundo, sempre com a oportunidade de escrever uma página na histó-
ria. Pois, bem sempre numa transformação imediata de conceitos culturais
pois qualquer assalariado dispõe do minúsculo... Éh! Aquela coisinha que pa-
rece tão insignificante... carregada nas mãos e que tem um poder de distorção
enoooooooooorme! O famigerado celular! HI-FI, HI-POD... é tanto HI que... HI!
Esqueci.. Bom esquecemos então de nossa formação... nossa identidade cul-
tural. Alegando que todos poderia ter esse poder aquisitivo, o celular passa
de um minúsculo objeto à protagonista de nossa realidade, pois todos podiam
ter sem se constranger perante os outros. A tecnologia “de ponta” não seria
de alcance de uma elite apenas, pois estaria à disposição, em suaves presta-
ções. Rápidez e eficiencia na comunicação.Uau!!!
A CULTURA POCOTÓ
86
Porém, nos dias atuais, esta tão almejada globalização se transformou
numa industria marqueteira, que dispensa valores, gerando desumanização,
poistransmiteaoreceptorumaculturapobre...coisificaçãomesmo;vejaare-
forma da língua portuguesa, de passagem, e.... comercial, na qual a informa-
ção perde a essência de seu papel por competições de quem alcança o maior
“IBOPE”, com um palavreado o qual se tornou hilário... aliás? O Hilário já
perdeu o acento ou não? Depende do quanto ficou sentado digitando... kkkk!
Bom! Voltando ao Hilário, esse é que faz com que as pessoas memo-
rizem uma cultura descartável, obsoleta, que chamamos de “Pocotó”, sendo
substituída por constantes vícios linguísticos – “ninguém merece!” “toda tra-
balhada na desordem gramatical!”
O quadro que hoje nos é apresentado, engloba por exemplo, músicas
eletrasrepetitivas,nasquaiso“mano”érei;aMPBétrocadapor“eguinhas
pocotós”;Numalistadosmaisvendidos,o“DiáriodaTati”torna-seumclás-
sico e .... “Prepara! Que agora é o show das poderosas... pois meu amigo, um
grande número de alucinados se dedica em aplicar a mais uma edição do “BIG
BROTHER BRASIL”
Se joga... se joga.... joga.
87
Escrevo
Garatujas e garranchos
Risco e modifico
Palavras e rimas
Às vezes,
Por vezes,
Vem o dom
Inteiro
Muito raro
Do avesso
Que eu encaixo
Instrumento de escrita
Que precisa de musa
Do objeto
À inspiração
Para dar sentido
Vida!
Procuro detalhes
Jogo em palavras
Brincando com as letras
Faço do lúdico
Minha fantasia
Pesco nos sonhos
A poesia.
POETANDO
88
93
Florindo Paccola
Possui publicações em diversos jornais, além de já ter pu-blicado 15 livros.
Na TV fomos vendo, assistindo,
Acompanhamos o cenário.
Ouvindo, o assunto chama atenção,
Falam em calendário.
Como foco principal o nordeste.
É longa a estiagem.
São cenas que impressionam
A cada lance da filmagem.
Assim é o drama do sertanejo,
Forte e corajoso.
Não desanima, espera valente,
Roga a Deus pelo chuvoso.
As imagens agora estão na cozinha,
Maria ao pé do fogão,
Desolada, mostra a panela,
Vazia, sem o feijão.
TEMPOS DE ESTIAGEM
90
Mas “quá, ta muito difícil,
Hoje nada tenho,
A seca acabou co´a lavoura,
Nem a cabra eu ordenho.
Temos falta de comida,
O barreiro ta secando.
A falta d água é pior,
“Até sede tamo passando”.
Não bastassem estas palavras,
Maria, sofrida, enfatizou.
Emocionada, disse mais essa frase
Que tanto nos sensibilizou.
“A coisa que mais entristece
Nossa gente da região,
É o pote estar seco
“E apagado o fogão”.
91
Chegaram os cabelos brancos,
Os primeiros desapareceram.
O tempo de vida, (a idade)
É a causa dessa transformação.
Brilhe como brilhe
Não importa a loção,
Em qualquer via que trilhe
Chega-se a tal situação.
A panturrilha sente fisgada,
Os músculos vão se enfraquecendo.
O tempo de vida, (a idade)
É a causa dessa transformação.
Calma, nada de pressa,
Observar toda orientação,
A ruga facial aparece
Espelhando a emoção.
TRANSFORMAÇÃO PESSOAL
92
Vez está presente a amnésia,
A fala fica mais lenta.
O tempo de vida, (a idade)
É a causa dessa transformação.
Agir com carinho, tolerar,
Paciência e dedicação.
Quem entende e sabe amar
Compartilha com o coração.
O desfecho? É sempre expectativa,
Muitas vezes até angustiada.
O tempo de vida, (a idade)
É a causa dessa transformação.
Numa série de pensamentos
Que só a pessoa assim imagina,
É crer nos ensinamentos
De uma eternidade divina.
93
O que mais sei fazer?
Ensinar a religião!
Sou um missionário,
Estudei em seminário,
Para isso tenho vocação.
Fã de São Francisco,
Da natureza o padroeiro,
Prego paz e amor,
Como ensina o Senhor,
Abdico ganhar dinheiro.
Momentos de solidão?
Nossa opinião é forte!
Pelos caminhos do mundo
Levo fé ao moribundo,
Ensino o sentido da morte.
Tal como o Franciscano
Falando à humanidade:
Faça sempre o bem,
Não importa a quem
Para se chegar à eternidade.
À SERVIÇO DO SENHOR
94
Larissa de Souza
Orientadora, criadora e escritora do blog Escritora de Gaveta e membro do Grupo de Escritores Lençoenses.
Escrever é uma forma, que eu encontrei de chorar, sem derramar ne-
nhuma lágrima. Coloco uma música alta no fone e começo digitando tudo
que se passa em minha cabeça e no meu coração. Aprendi a ouvir cada batida
silenciosa de um coração jovem, que é confuso e não gosta de tomar decisões.
Aprendi que erros são necessários quando se trata de viver. Aprendi que os
caminhos possuem uma estrada longa e que vamos nos perder ao longo deles.
Aprendi que nem sempre um sorriso é sincero, e não é sempre que as pessoas
dizem a verdade para você. Aprendi, que escrevendo consigo ver uma parte
de mim que ninguém consegue. Aprendi, que escrevendo posso ir muito mais
além, de tudo que imaginei. Posso sorrir chorando e ninguém saberá, que
meu coração não está bem. Não preciso fingir um sorriso, não preciso for-
çar uma conversa. Sou eu e eu, somente nós. Meu coração e minha vontade
de digitar tudo rapidamente, para não perder nenhuma palavra, que passar
despercebida por meus pensamentos. Penso tudo muito rápido e qualquer
detalhe é resposta, quando se trata de um coração confuso. Escrevo para eter-
nizar esses momentos e pensamentos que são detalhadamente importantes.
Escrever é uma forma, que encontrei para realizar todos os meus medos em
um mundo, que eu sei que não serei julgada, onde não serei só mais uma pes-
soa no meio de um bilhão delas.
CHORAR SEM DERRAMAR NENHUMA LÁGRIMA
96
Por mais que as pessoas tenham medo, elas devem se arriscar, pois
aprendemos que é errando, que vamos tirar algum aprendizado desta nossa
vida. Se nunca tentarmos, como saberíamos que daria certo? A vida nos pre-
para grandes surpresas, algumas boas e outras ruins. Guarde o bom e se livre
do ruim. Acredito, que tudo acontece por uma razão. A estrada segue com
caminhos diferentes e névoas que nos atrapalham. As árvores estão ali para
nos dar uma sombra de proteção. Os pássaros cantam para nos distrair, mas
a estrada está ali, imóvel. Temos que seguir um caminho, uma direção. Olhar
as placas nos ajuda se soubermos o destino para onde estamos indo. Não
adianta de nada uma placa sem a informação que queremos. A placa da vida
só nos apresenta as informações que buscamos. Se escolhermos a direção, as
placas irão nos guiar. E os pássaros? Sempre estarão cantando. Eles não se
calam, este é o som do coração, que nos distrai quando não precisamos. E a
mente? Essa é a névoa que nos atrapalha. E agora? Seguir os pássaros ou a
névoa? Só um conselho: a névoa nos faz parar e esperar que tudo fique mais
limpo para seguir em frente. Pense nisso. Enquanto os pássaros ainda estão
cantando. As árvores chamamos de família, amigos e pessoas que nos amam.
Sempre estarão conosco, para nos dar a sombra necessária para nossa prote-
ção. A árvore mãe é a raiz de nossas vidas. Cuida bem de nós, para que o sol
não fique tão brilhante e nos faça perder o caminho da estrada. A árvore ami-
ga, que nos serve de apoio quando estamos cansados e precisamos descansar
antes de seguir em frente. E vamos assim dirigindo nesta estrada sem fim,
levando nosso coração e nossa mente para longe. E se o caminho acabar? Um
caminho nunca se acaba, ele sempre vai nos dar uma alternativa diferente,
A ESTRADA DA VIDA
97
uma nova rota. Tente seguir em frente, não importa o caminho, só tome cui-
dado, eu tomarei também. Se precisar pare um pouco e se encoste às árvores,
tome um ar, um pouco da brisa leve tocando o rosto faz bem. Não fique muito
tempo encostado, talvez você se acostume com a sombra, busque o sol. Sem
medo, siga em frente, vá seguindo, até onde você quiser parar e quando pa-
rar, pare por pouco tempo. Ainda irá ter muito caminho pela frente e quanto
mais você perde tempo parado, menos tempo você terá de aproveitar todo
o caminho. Vá seguindo. Por mais que as pessoas tenham medo, elas devem
se arriscar, aliás, se nunca seguirmos em frente, como saberemos o nosso
caminho? Como saberemos onde vamos parar? É o seguinte: vá seguindo, até
onde a estrada da vida te levar.
98
Marcos Norabele
Servidor público, psicólogo e escritor, autor do livro O Mistério das Asas de Ápis e outras histórias, é colaborador da imprensa local e responsável pelo jornal Servidor em Ação,
da Prefeitura de Lençóis Paulista.
O fato mais inesperado e terrível da minha vida aconteceu hoje. Eu me
tornei um agressor. O dia traz surpresas amargas até mesmo para aqueles
de natureza pacífica que, infelizmente, num momento, podem ser arrastados
pela agressividade. Uma prova que sou da paz é que tenho um irmão gêmeo,
mas não somos idênticos, apesar de muito parecidos. Nossa grande diferença
é que eu sou destro e ele é canhoto. Quem tem irmãos há de concordar que
digo a verdade sobre a minha natureza pacata. Quem nunca brigou com um
irmão? Pois então, eu e ele nunca brigamos.
Mas o que está doendo bem aqui dentro é culpa ou remorso, eu sei.
Fui forçado a agredir meu grande amigo, o Pedro. Que isto fique bem claro:
fui forçado a agredi-lo e talvez, para minha desgraça, ele não entenda e não
me perdoe. Vi isso nos olhos dele. Agora estou aqui, aflito, com isso me cor-
roendo por dentro. Ele é um amigo de verdade e fazemos quase tudo juntos.
Quando nos conhecemos, gostei tanto dele que até à Missa eu fui com ele, e
eu nem batizado sou. Olha só como somos grandes amigos. Naquele dia, fui
avisado que isto podia acontecer, mas não acreditei.
Espero que o leitor entenda meu alerta do perigo de nos tornarmos
agressivos mesmo sem querermos. Isso é muito verdadeiro no meu caso. Eu
jamais quis bater no meu amigo. Sempre que estivemos juntos fiz de tudo
para ser um bom e prestativo companheiro. Aliás, sempre o protegi. Sou as-
sim, meio protetor. Mas isso não impediu que em questão de segundos eu o
agredisse. Não por minha vontade, que fique claro outra vez, mas usado por
outra pessoa eu fiz isso. Eu fiz...
Essa culpa agora não me deixa. E se ele não me perdoar? E se ele não
quiser mais ser meu amigo? O que farei? Devo entendê-lo. No lugar dele eu
O AGRESSOR
100
também talvez não perdoasse. Meu irmão, o gêmeo, viu tudo. Ele fica calado.
Por certo está também me condenando. Melhor mesmo que ele não diga nada,
não preciso de mais ninguém para me acusar. Já estou fazendo isso comigo.
Talvez, meu irmão, que viu tudo, esteja pensando que o agressor poderia ter
sido ele e por isso esteja calado, após perceber como podemos nos tornar
violentos em questão de segundos. Ele também viu como Pedro, o meu amigo,
chorou aos berros depois da agressão inesperada. Eu também vi. Nunca vou
esquecer a imagem. E como isso dói em mim. Eu não queria que nada disso ti-
vesse acontecido. Juro! Eu até estava quieto no meu canto, pacífico como sou.
Foi tudo culpa daquela mulher. Ela me usou contra o Pedro. Foi ela.
Estou com medo. O que poderá acontecer comigo agora? E se depois des-
ta primeira vez eu me tornar um agressor contumaz? Se minha natureza pacífi-
ca se desvirtuar e eu me tornar o oposto do que sou? Violento? Não posso! Devo
lutar contra isso, porque, confesso, senti uma pitadinha de prazer enquanto
batia no Pedro. Estou com vergonha de admitir, mas sei que senti, não posso
esconder de mim mesmo, e isso é o que mais me dói. Jamais deveria ter desco-
berto isso em mim. Essa parte escura e vergonhosa do meu ser nunca deveria
ter sido revelada. Eu não a quero. Olhe o que aquela mulher fez comigo. Quando
fui a Missa com Pedro, o Padre disse que uma mulher fez um tal Adão cometer
um crime terrível. Naquele dia não acreditei. Ainda não havia descoberto como
elas são de verdade. Agora eu acredito, porque uma mulher também me fez
agredir meu amigo Pedro e meu irmão viu tudo sem poder me impedir. Ele é
testemunha que falo a verdade. Foi ela que me usou. Pobre de mim...
Não aguento mais, vou contar como foi. Isto está me destruindo desde
que aconteceu. Foi tão rápido. Eu estava no meu canto, pacífico como sou. De
repente, ouviu-se um barulho e algo se despedaçou no chão com frutas rolan-
101
do para todo lado. Foi ai que ela, a mulher furiosa, apareceu e me pegou com
violência e, usando-me, sem que eu pudesse resistir, aplicou três ou quatro
golpes na..., no bumbum do Pedro, enquanto gritava:
- Já falei mil vezes para você não subir na mesa, Pedro! Já falei! Tei-
moso! Agora vai pro seu quarto até eu te chamar para almoçar! E não ande
descalço porque tem pedaços de louça no chão! Teimoso!
Ele me olhou, antes de ir pro quarto, daquele jeito, com a carinha cheia
de lágrimas escorrendo dos olhinhos tristes, e não me colocou em seu pezi-
nho direito como sempre faz. Deixou-me no chão onde a mulher me atirou,
após me desvirtuar daquele jeito. Neste momento eu soube que ele não me
perdoaria.
Sei o que está pensando, leitor. Que ele mereceu por ser teimoso. Con-
cordo. Quer dizer não concordo. Tem coisa muito errada aqui. Meu irmão, o
Esquerdo, pensa do mesmo jeito. E de toda essa tragédia decidimos produzir
algo de bom. Vou iniciar um movimento para que seja aprovada uma lei proi-
bindo, em qualquer circunstância, que pacatos chinelinhos com estampa do
Ursinho Pooh, sejam desvirtuados, contra a vontade, em agressores de náde-
gas infantis.
102
Todos os bichos viviam em harmonia na floresta, mas entre eles havia
um que sempre causava problemas. Ele era inteligente e determinado, porém
muito orgulhoso. Gabava-se de sua inteligência e se dizia professor disso e
daquilo, não suportava que alguém soubesse mais do que ele. Sempre queria
ter a última palavra e se alguém discordava, era briga na certa. E os bichos
diziam entre si: “Com tanta inteligência ele poderia fazer muito bem para
todos, mas o orgulho estraga tudo, ele só pensa em si próprio.”
Ignorando a opinião dos outros a seu respeito o bicho orgulhoso con-
tava vantagem de tudo e suas coisas tinham que ser melhores que dos outros.
Gabava-se de sua toca, que segundo ele era a melhor da floresta. Seus pelos
eram os mais sedosos, sua comida era melhor.
Porém os bichos não suportavam mais a convivência com alguém as-
sim, e Mãe Natureza, que tudo vê, decidiu intervir. Queria de algum modo que
o bicho mudasse sua maneira de ser. Mandou-lhe então, um aviso: “Deixe de
ser orgulhoso, ou poderá sofrer muito.” Mas o bicho nem se importou, porque
ele tão bonito, inteligente, bem sucedido deveria ouvir a Mãe Natureza. Ela
que cuidasse dos pobres coitados que ele estava muito bem
O bicho não deixou alternativa e Mãe Natureza, ditou a sentença: “Seu
orgulho é imenso. Pois bem, tão grande quanto seu orgulho será o fedor que
exalará.” A partir daquele dia, o bicho se tornou fedorento, e nenhum outro
animal podia se aproximar dele sem vomitar. Mas nem isso o fez mudar. Ele
andavapelaflorestadizendoaosoutros;“Omeufedorémaiorqueoseu.”ou
“eu sou mais fedido que você.” A partir daí ele ficou ainda mais só, afinal o
orgulho fede e espanta os outros. Foi assim, que surgiu o Gambá.
O BICHO ORGULHOSO
103
Mariana Prado Zillo
Criadora e escritora do blog Primeiros Espaços, ainda não possui livros publicadas.
Sei de um homem que desaprendeu a viver.Tudo culpa dessa vida,Aperta tanto nosso tempo Que passa pela fechadura.Vida estranha essa,Amargura.
Sei de um homem que pagaria [ para ser de novo criança,Voar mais alto como aquela pipaE deixar de ser pião.Gira sem sair do lugar,Decepção.
Sei de um homem que estava cego,Cego de tanto ver.Sem enxergar um palmo diante dos olhos,Cego e morto também.Preso na rotina,Refém.
O homem que eu seiDecidiu: chega!Quis voar alto como a pipaE foi saindo dessa vida.SaindoIndoFoi-se. Poetizou-se.
CHEGA
106
Heloísa tem o cabelo curto, usa óculos grandes e vai para a faculdade
usando galochas. Sabe como é, sempre chove em São Paulo. Ela sacode a água da
sua maleta cheia de livros e um estojo e sobe as escadas para a primeira aula.
Como sempre, as meninas de Moda olham dos pés à cabeça. Principal-
mente os pés. Galochas amarelas? Heloísa finge que não vê e nem ouve os sus-
surros. Sorridente, continua andando. É a única da faculdade que fala “boa
noite” ao faxineiro, que esboça o único sorriso do dia exclusivamente para ela.
Andando pelo corredor gelado da faculdade, Heloísa percebeu que a
maioria dos alunos usava fones de ouvido e não conversava com ninguém. Cla-
ro que ela mesma gostava de música, mas preferia cantar com seus amigos da
sua cidade natal. De dia, enquanto enfrentava o trânsito até o estágio na biblio-
teca, tentava ouvir se, no meio de tantos carros, existia algum passarinho.
Faltavam alguns minutos para a aula começar, então Heloísa sentou-se
na carteira de sempre: a segunda da terceira fileira. Tirou da sua maleta seu
livro favorito e começou a ler, sentindo que as palavras a protegiam a cada
frase lida. Aquele livro era o seu favorito de sempre, tipo aquele sapato que
você quer usar sempre e de qualquer jeito, que já foi com você para todos os
cantos. O livro estava um pouquinho amassado na capa, mas Heloísa sempre
cuidava dele com muito carinho.
Seus colegas de sala foram entrando. Alguns a viam e diziam “boa noi-
te” (alguns, tipo, quatro em uma sala de quarenta), alguns passavam reto e
alguns olhavam para o livro dela e riam.
- De novo esse livro, Menina da Galocha? Cresce logo! Vai ler alguma
coisa diferente, alguma coisa mais culta!
Não é que Heloísa não lia outros livros. Na verdade, ela tinha uma infi-
nidade deles espalhados pelo seu apartamento. Mas ela gostava mais daquele.
PREOCUPE-SE EM SORRIR
107
Gostava tanto que queria lê-lo todo dia.
- Você já leu esse livro? - Heloísa sorriu e perguntou, ignorando a fra-
se dita - É ótimo, acho que você ia adorar.
- Esse seu livro babaca? Qual é, nunca perdi meu tempo nem lendo a
sinopse! O dia que você ler um dos que leio, merecerá algum respeito.
Enquanto a pessoa ia embora rindo, Heloísa se sentiu confusa. Para
ela, ler era como trocar figurinhas: um indica um livro para o outro e troca
ideias. Mas não se faz troca com uma só pessoa. Preferiu se calar. Mais tarde,
naquela quarta feira, metade da faculdade seguiu para a balada que tinha por
ali, mas Heloísa preferiu ir para casa, dormir cedo para ir de bicicleta ao tra-
balho no dia seguinte. Quem sabe não ouvia um pássaro cantar...
O tempo voa. Heloísa terminou sua faculdade de Biblioteconomia na
Inglaterra e ficou morando por lá. Enquanto isso, outros ficaram para trás,
mais preocupados em cuidar da vida dos outros do que sorrir.
108
Michel Ramalho da Silva
Ilustrador, designer, diagramador, escritor, co-criador das obras do Estranha Melodia, criador das tiras do Estranha Noite,
escritor da obra Pergaminho dos Sonhos e ilustrador desta obra.
De repente
O mundo adormeceuE era belo.Era o som da morte que trazia a vida.Nostálgica é hoje, a terraE feliz, teu interior.
Tempo...Não houve tempo.Tiveram uma vida todaMas de repente percebeu-se que não houve tempo
É o ultimo dia de folego e vida,Mas de repente não se pode mais cansar-se dela.Não há mais tempo de abraçar,De beijar,De amar,De odiarOu matar.
Logo não haverá carne para sangrar.Logo não haverão olhos para chorar.Logo não haverá mãos para alcançar e nem corações para magoar.Logo o homem não será nada,E o nada será tudo,Como se esses velhos ou novos temposJamais tivessem existido.
Deus morreu,E, para sua maior tristeza,Não haverá inferno ou paraíso.
25 DE SETEMBRO
110
Para sua rápida insanidade,Depois não haverá nada,E agora tudo o que você pode fazer é nada.Arrepender-se do que não fez será o mesmo que atirar para o espaço,Provavelmente menos.Chorar pelas lembranças que você jamais teveÉ todo o sentimento que poderá tomar conta por completo de ti,Pois nesse momento, pode ser o único sentimento capaz de preenche-lo.
A vida passouE você realmente fez muitas coisas:,Brigou demaisGritou demais, mas de ódio,Matou demais,Trabalhou demais,Se irritou demaisE entende agoraQue sorriu de menos,Que abraçou menos,Que amou menosE que tem pouquíssimas lembranças que se fazem valer a pena agora,No fim.
Agora você vê uma luz,E não haverá som, cor, sabor ou cheiro.Não haverá grande ou pequeno,Forte ou fraco.Não haverá bem ou mau,Não haverá mais tristezas,Não haverá mais alegrias,Não haverá mais nada para lamentarEm 3, 2, 1...
111
Há horas em que não se pensa,
O proibido de fato é um encanto.
Melhor um momento ou uma vida?
O preço do erro é o pranto.
Talvez alguém julgue covarde,
Mas partir não é desistir.
Apenas fugir da tristeza,
Somente voltar a sorrir.
Não sou hoje a sobra do ontem,
Tão pouco a visão do depois.
Sou desejo de um hoje divino,
Sedento que seja a dois.
Então venha a mim bela musa!
Já provamos o amargo do fel!
Provemos de novo da vida,
Sem roupas, sem pelos, sem véu!
Sejamos agora amantes,
Do tipo que sabe o quer.
Que eu seja hoje o teu homem,
E tu senhorita, minha mulher.
O PREÇO DO ERRO
112
Onde estão as mãos
Que ao final de cada dia permanecem estendidas?
A parte do tempo onde mora o momento
Em que pode chamar-se o leito e encontrar o paraíso?
É realmente preciso chegar e partir,
E encontrar a saudade logo depois de sorrir?
Nostálgico é o cheiro das flores invisíveis,
Do abraço solitário,
Das noites em que não se fazia necessário
O “sim” ou o “não”.
É a maldição do poeta
Que alimenta sua triste alegria
Com ilusões,
Insistente em crer no que não existe no aqui.
O pranto se torna em ponta,
Daquelas de felicidade,
Um dia sonhada, não solitária,
E logo mais vivida.
SEM RAZÃO
113
A estrada viu o brilho de cada lágrima.
E doeu no corpo o batismo noturno da chuva,
Dessas de verão,
Em que o fim se fez inicio,
E logo um eterno adeus.
Enfim.
Ditamos um preço,
E de fato pagamos.
Proclamávamos o certo,
Mas ao todo erramos.
Falamos de morte,
Mas terminarmos por ter nossas próprias vidas.
Ao menos nos restam belas palavras.
Obrigado tempo,
Por fazer de cada um,
Um escravo da intuição irracional,
E razão que, infelizmente, não é nada emocional.
114
Milton Moretto
Possui publicações em jornais de Lençóis Paulista e Bauru, participou da coletânea Poemas da Minha Terra (2002) e do
concurso em comemoração aos 150 anos da cidade.
Olhar perdido
no espaço vazio,
Escuro da noite,
aquele arrepio.
No fim do túnel,
uma pequena luz
mostrando o caminho
que a vida conduz.
É a luz do farol
do trem que carrega
problemas, angústias,
que vem e atropela,
Ou tudo não passa
de uma miragem,
Ou é um vaga-lume
só de passagem?
Será uma visão?
Ou é mesmo a saída
Pra minha salvação,
A luz da minha vida.
UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL
116
Vejo aquela paineira na beira da estrada,Embaixo, uma velha carroça toda empoeirada,Que serve de abrigo pros bichos e pra passarada,Que se desfaz com o tempo, é o fim da jornada.
Logo me vem as lembranças dos tempos de outrora,Quando o papai, sorridente, me levava à escola,Ia me dando conselhos, contando histórias,É como um filme gravado em minha memória.
Ao abrir a porteira, ouço o barulho do rio,Bem ao longe, o latido de um cão vadio.Naquela velha palhoça de barro e de sapé,Uma velha senhora fazendo café.
Vejo um forno de lenha pra fazer o pão,O chiqueiro com porcos e o mangueirão,Um bem formado canteiro, verduras fresquinhas,Ciscando todo o chão, se reúnem as galinhas.
Eu me vejo correndo, descalço, com o estilingue na mão,Fazendo mil travessuras, chamando atenção.Passagens de uma infância, que vivi por aqui,Onde papai e mamãe foram muito felizes.
Só penso agora em comprar estas terras de novo.Quero fugir da cidade, daquele alvoroço.Quero curtir a natureza, quero a paz para mim,Quero viver com a família neste recanto feliz.
Saudades da roça, da vida singela,Suor do caboclo lavrando a terra.O sol tem mais brilho, a lua é mais bela,Océuémaislindo;Nãovivosemela.
SAUDADES DA ROÇA
117
Quem não a conhece, não imaginaComo ela é rica e hospitaleira,Em cada quadra, em cada esquina,Ela mostra a sua grandeza.
Tem um progresso tão grandioso,É uma cidade que tem um povoTão incansável e otimista,De seu passado, é orgulhoso.
Futuro risonho com seu crescimento,Há gente chegando a todo momento,E ela os acolhe com todo carinho,Como se fossem seus filhos queridos.
Lavoura, indústria e comércio crescentes,Garantem o emprego de tanta gente,“Cidade do Livro” com sua biblioteca,Acervo famoso de Origenes Lessa.
A cana de açúcar, o aguardente afamado,A videira, o vinho, o café e o gado.Na cultura, as artes e também os esportes,Sua orquestra sinfônica dita os acordes.
Esse é o dia-a-dia de uma grande cidade,Cidade importante que a todos cativa,Onde se encontra a felicidade,Essa cidade é Lençóis Paulista.
NOSSA CIDADE
118
Nelson Faillace
Jornalista da Tribuna Lençoense com a coluna de crônicas e a coluna Recordando, com fotos antigas, publicação de três livros (A Saga de Lençóis, Santuário Arquidiocesano Nossa Se-nhora da Piedade: 150 anos e Crônicas e Histórias Lençoenses).
TEMPOS PRIMEIROS
“Os primitivos exploradores ao alcançarem esta regiãoFaziam dos rios sua via de penetração”!
Assim Alexandre Chitto inicia seus estupendos relatos,Da conquista desta amplidão desenhando autênticos retratos.
Acampavam às margens dos rios, entradas dos campos e das matas,Realizando incursões primeiras àquelas regiões intactas.
Companheirosarranchadosnaretaguardaoapoionecessáriofixando,Arriscados a embates com os índios, sabedores de suas vidas perigando!Jamaispossuíramessesselvagensdessasterrasescriturascartoriais;
Partindo dos remotos tempos primeiros eram suas dês os primos ancestrais!A eles solenemente outorgadas as escrituras reais e mais sagradas,Desde os primórdios solenemente pelas Mãos Divinas abençoadas!
Após séculos ultrapassados o civilizado reconheceria,Que melhor e mais digno destino aquela simplória gente merecia!
Conta-nos com detalhes o historiador:“Em campo aberto aos brancos eles temiam
E os silvícolas somente na certeza da plena superioridade é que agiam”,Mormente quando amanhando o solo lidavam os novos colonizadores:“O silvícola teria sido sempre um grave problema aos exploradores”.
De Felíssimo Antônio de Souza, um fato conhecido, bem relatado,No ano oitocentos e cinquenta e oito, por um forte grupo de índios atacado,Na sua fazenda, ele junto à sua família, por milagre verdadeiro escapando!
Terras essas distantes de Lençóis na região Bauru hoje se localizando.
Nos idos de oitocentos e sessenta e sete um pesadelo em vasta região,Em desespero combatiam para conter de suas terras a inexorável invasão!
Mas contra trabucos e possantes carabinas, de pouco valeriam seus tacapes,Suasflechas,suaslançasebordunaseasingênuastáticasdecombates!
REFLEXÕES SOBRE “A SAGA DE LENÇÓIS”
120
Pela civilização um destino já traçado: a conquista, a vitória a qualquer preço,O índio fatalmente dominado não importando serem deles dês o berço!
Seu espaço conquistado, suas terras ocupadasE sua gente, suas tribos implacavelmente dizimadas!
BOCA DO SERTÃO
“Deinícioaquilotudoerasertão,“Aosíndiososconfinsdaimensidão”!Entre eles, raro confronto constante, na disputa à caça mais abundante,
Ou, no “romantismo civilizado”, arrebatando a bela donzelaDesnuda na mata, lépida gazela!
E o homem branco do nada surgindo, tudo conquistando, Como entender o índio esse processo, como saber o sentido do progresso?
Se há mil anos tranqüilos ali vivendo, a caça e a pesca seu próprio sustento.Como entender o senso da ambição? Jamais em tempo algum tal sentimento,
Brotou em suas almas junto aos seus, seres feitos à imagem de Deus!O espírito aventureiro ao derredor, a busca de riquezas, quinhão maior.
Estender caminhos alargar fronteiras, ponto de partida empunhando bandeiras!Último reduto da civilização justamente chamado “Boca do Sertão”,
Dali zarpando novas expedições conquista dos rios, serras e banhadosRasgando o serrado, a foices e machados!
Dos silvícolas inúteis as reações, como impedir à força as invasões?Morada secular dês o primo albor, sucumbiam ao indômito invasor
E a obsedante vontade de conquista marcava a história do desbravador.
A CONQUISTA
Todos cantam a sua terra, o poeta recitava,Assim também cantarei, mesmo sendo alienígena!Nossa terra tem histórias o passado uma legenda.
121
Tem labuta, muita luta, vitórias e traição,É história verdadeira e não uma simples lenda,
Tem bravatas e conquistas, glórias e muita ação!Cantemos loas a esses bravos, desvendando sertões maravilhosos,
Aventureiros em uma saga verdadeira, investida de pioneirosDesbravando matas, buscando riquezas nesses anos primeiros.
Idos de setecentos quão ingentes sacrifícios vencendo corredeiras,Serras vales e veredas: à frente a selva inóspita, para trás seus amores,
Barcos singrando as águas ou terrenos pantanosos,Adentravam o continente, sem receio, sem temores
Em busca das terras ricas ou tesouros fabulosos!Da virgem mata segredos desvendados frente a própria natureza.
Dois séculos passados após mil e quinhentos, daqueles herdaram as valentiasEm odisséia de embates violentos, vera epopéia demarcando as sesmarias.D. João VI imperava e sua a decisão, a quem seriam dadas as “sesmarias”.Foi Antônio Alves Cardia na região, o felizardo a um pedaço desse chão:
“Uma légua de testada com duas léguas de Sertão”,
E SURGE O NOME – LENÇÓIS !
Mas a história não para e logo um aventureiroVindodedistantesterrasaonossorincãoaportou;
Francisco Alves Pereira pelo Tietê navegandoEm busca de novas terras, a sua caravana largouLevadopelaambição,atodosatormentando;Umgrupodecompanheirosaoseuladoficou,Deixando o rio maior em busca de paradeiro,
Pelo rio menor se aventurou: “Capricho de um momento”.
Assim se fazia a história, sangue de aventureiro,Arrojo, muita coragem, grande desprendimento!
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Lutando contra intempéries, abrindo novas picadas,Subiam o pequeno rio e suas cem corredeiras.
Francisco Alves Pereira lidando contra barreirasNa dura lida com a mata, jornadas extenuantes,
Corriam por entre as pedras as águas sempre espumantes.Mas dentro dessa rudeza, dias e dias lutando,Sobraraalgumapoesiaumsentimentoficara;
Olhando atentamente as águas nas pedras rolantes,Teveprofundainspiraçãonasespumasflutuantes:“Companheiros para nós este é o rio dos lençóis”!
Fazendo de tais “lençóis” permanente discussão:Seriado“favorito”suaorigemfinalmente,
Aquele mato abundante balouçando sob o ventoOcupando o chapadão, verde vivo, reluzente,Um formidável tapete, inquieto, imanente?
Ouseriaagabirobanumgrandelençoldeflores,Sob a brisa das manhãs um quadro resplandecente?
Esclareçam esses fatos futuros historiadores!
Francisco Alves Pereira destemido Cortando a mata, do vento um suave aulido,
Do rio pequeno às margens vicejantes,Embeveceu-osuasondasespumantes;Enamoradoaocursod’águarutilante;
“Poéticos lençóis do rio”, eternos em sua menteEsplêndida visão de Francisco Alves Pereira!
Como olvidaria a sua impressão primeira:“Rio dos lençóis”, poesia verdadeira!
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Paulo Jacon
Jornalista, sócio proprietário do Jornal Opinião, que circulou em Lençóis Paulista e região entre 2007 e 2009, publicou
seu livro Alguns Contos e Outras Crônica em 2012.
Aquela caixinha estava lá desde sempre. Vermelha, pequena, com uma pe-queninapedra colorida coladanaparte superior eumafita , tambémcolorida,mantendo a caixinha fechada com um lacinho. Provavelmente ninguém se lembrava de onde e nem quando ela apareceu. Primeiroficounomóveldatelevisão.Depois,naprateleiradevidroqueguardavaospratosetalheresmaisfinosdacasa,depoisfoipararnaestantedelivros no fundo do corredor que dava para os quartos. De vez em quando alguém passava um pano nela para tirar a poeira, mas nunca tiveram a curiosidade de abri-la. Houve duas mudanças de casa e a caixinha continuava sendo levada para láeparacáeacomodadaemalgumcanto.Porvezesnemàvistaficava. DonaRosa,viúva,játinhaseus82anosemoravacomafilhaAméliaeseugenro Rubens. Os netos já tinham casado e moravam em cidades vizinhas. A rotina da Dona Rosa era sempre a mesma : arrumar a casa, fazer comida (embora só ela almoçasse em casa), lavar a louça e as roupas e ainda preparar o jantarparaafilhaeogenro. Embora limpasse cuidadosamente os móveis da casa nunca prestou muita atenção àquela caixa. Mas,umbelodia,semnenhumarazãoespecífica,DonaRosaquaseabriuacaixinha ao fazer a limpeza. Sabe-se lá porque uma inesperada curiosidade foi despertada nela. Mas no momento em que ela decidia se abriria ou não a caixinha, o telefo-ne tocou. ErasuaamigaClaricequegostavadeumaconversaeasduasficaramali,papeando ao telefone, por quase uma hora. Claro que Dona Rosa se esqueceu de sua repentina curiosidade.... Novamenteacaixinhaficoualisemsernotadapormuitotempo. Eassimosanossepassaram,DonaRosaveioafalecer,bemcomosuafilhaMaria Eugenia. Desta vez a casa foi vendida e a caixinha não foi com a mudança. O genro Rubens estava apressado em se desfazer da casa para pagar as dí-vidas acumuladas e nem se preocupou em resgatar todos os móveis e utensílios da
GUINÉ
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velha residência. Levou apenas o que achou que usaria com mais urgência. Aliás somos todos assim. Vivemos da urgência. Quando os novos proprietários assumiram a casa também não cuidaram de verificardetalhesdoquesobrounacasa. Só um cuidadoso observador poderia se incomodar com a velha caixinha vermelha e sua pedra colorida que desta vez estava perdida no meio de velhos porta-retratos vazios espalhados pela sala da casa. Portanto ela foi encaminhada ao sótão junto com as coisas que os novos proprietários haviam trazido e que também não se sabe por que tinham trazidos. Não usavam mais e nem usariam. Velha mania de guardar coisas que não usamos mais... Acaixinhaficoualiaoladodeumvelhopianinhodebrinquedoquedeve-ria ter servido de presente para alguma criança e que depois de usado também foi abandonado. O sótão era pequeno e o teto mais baixo, o que fazia com que pessoas mais altas tivessem que se abaixar para entrar nele. Tinha ainda uma gaiola grande que deve ter sido abrigo de alguma ave faceira e alguns colchões, rasgados e maltratados pelo tempo, além de um velho guarda-roupa de pinho. Coisas esquecidas. O mesmo com a vida. Pessoas usadas e esquecidas na longa jornada desta nossa existência. Um belo dia um garotinho de 6 ou 7 anos, neto da nova proprietária da casa, entrou naquele sótão a procura de algum brinquedo e acabou derrubando a velha caixinha vermelha. Não se sabeomotivo,maso fato éque ele aopegá-laficouobservandocurioso e resolveu abri-la. Desfezolacinhodafitacoloridaeabriudelicadamenteacaixinha. Dentro dela encontrou uma chave pequena e bem trabalhada e também um bilhete. Como ele ainda não sabia ler resolveu mostrar à sua avó.Leticia era uma mulher jovem, perto dos 50 anos. Casada com o Paulo havia quase
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30anosequelherendeuumafilha,Marina,eseuneto. Ela leu o bilhete que dizia : “Cuidem bem do Guiné”. Leticiaintrigadavoltouaolharachaveeficouimaginandodoquesetratava. Claro que aquela caixinha não pertencia à eles, deduziu ela, portanto de-veria ser dos antigos proprietários da casa. De qualquer forma, como sempre fazemos, ela não deu muita atenção ao detalhe e nem se interessou pelo assunto. Deixou a chave e o bilhete num canto qualquer, que provavelmente teria comodestinofinalalgumlixodacasa,evoltouaosseusafazeres. Por causa disso nunca saberemos quem ou o quê era o Guiné. Poderia ser um livro, ou um quadro, quem sabe um animal de estimação! Quem sabe....
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Usana Buranelli
Gosta de escrever por hobbie, principalmente após sua aposentadoria como professora. Já publicou dois livros:
Diana, uma história que a vida escreveu e Caracol.
A abelha laboriosa, atraída pelo perfume,
Voa em busca do néctar de flor em flor.
O tubarão faminto, para dominar o cardume,
Emite ondas eletromagnéticas, causando pavor.
A abelha amiga usa os seus talentos
Para oferecer para toda a população,
O mais precioso dos alimentos
E contribui para as flores na sua fecundação.
O tubarão inimigo usa a força de sua natureza,
Exclusivamente para conseguir a sua alimentação.
Com a ferocidade assombrosa, domina a presa,
Devorando a cria, ameaça a sua própria extinção.
O homem atraído por Deus de amor,
Oferece seus dons a favor da humanidade.
O homem dominado pelo maligno é pecador
Carrega na sua alma o preço das suas maldades.
“Ninguém procura por Deus se
Deus já não o tenha procurado.
Deus que atrai.”
A ABELHA E O TUBARÃO
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Thomas é um gato
Não gato gato
Gato que vai à escola
Gato que bebe coca-cola.
Thomas é um gato
Não fica como gato
Dormindo na poltrona
Ele é fã da Madonna.
Thomas é um gato
Não gato-do-mato
Gato que masca chiclete
Gato via internet.
Thomas é um gato
Não tem focinho de gato
Quando beija na boca
Deixa a gata meio louca.
O GATO
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Thomas é um gato
Não faz como gato
Serenata no telhado
Quando está apaixonado.
Thomas é um gato
Não arranha como gato
Gato que sabe o que faz
Ele não pula para trás
Thomas é um gato
Mais gato dos gatos
Gato sem preguiça
Gato que vai à MISSA.
Miau...
“A missa é a oração mais poderosa da terra, uma missa bem rezada pode salvar o
mundo”
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De manhã
Abro a janela para ver o sol.
Ele simboliza Jesus
Com o calor de seu amor
Ele me aquece.
Com brilho de sua luz
Ele me conduz.
Quero ser um girassol humano,
Tendo Jesus sempre em minha direção.
Outros caminhos são meros enganos
Que só atrapalham a nossa razão.
As sementes do girassol têm valor.
Servem de alimentos aos passarinhos.
As sementes de Jesus são palavras de amor,
Mostrando que Ele é o verdadeiro caminho.
“Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida.”
O GIRASSOL
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Valentina do Carmo Bonalume
Participou de várias Antologias, entre elas, a primeira edi-ção do livro Escritos Lençoenses, além de concursos literário
por toda a região.
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Te amei...
Como o sol ama com intensidade
A beleza do amanhecer
A cada novo dia!
Como a lua ama com liberdade
A escuridão da noite vazia
Como a brisa ama a natureza
Que as vezes toca com rebeldia
Como a flor ama o caule
Que a sustenta trazendo energia
Como as águas amam o oceano
E tua maresia
Como o arco-íris ama o prisma
Que lhe serve de guia
Como as chuvas amam as nuvens
E toda a sua magia
Como a natureza ama a terra
Que lhe doa a vida com sabedoria
Como o amante ama aquele,
que lhe transforma
E todo o teu ser logo irradia
Mas esse meu amor
Vasto, imenso
Que só me envolvia
Não aguentou a dor
E a covardia desta tua alma vazia...
TE AMEI
Como é difícil... Desviar meu olhar
Deste teu olhar Encarar o vazio Pra não te notar Sufocando a dor
Que só quer me matar Como é difícil...
Te ver sorrir Sem me encontrar
Olhar teu semblante Tão séria ficar
Te sentir bem pertinho E me controlar Como é difícil...
Desejar teus lábios Sem me maltratar
Cobiçar o teu corpo Sem por dentro chorar
Te amar por inteiro E me enganar
Como é difícil... Me fechar no silêncio
Pra te alegrar Corroendo o meu ser
Por tanto te amarDestruindo o meu mundo
Onde é o teu lugar!!!
Ah! Como é difícil!!!
É DIFÍCIL
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Fez-se então a noite
E a escuridão
Sentei na janela
E vi surgi a bela
A lua divina
Com o teu clarão
Viajei pelo tempo
Naquele momento
Só sentindo a brisa
Suave a tocar-me
Com as tuas mãos
Sobre este meu corpo
Que veloz flutuava
Sem destino e sem pressa
Pela vasta imensidão
Ganhando cosmos
Vencendo a galáxia
Em meio as luzes
Que ofuscava a escuridão
Estava distante
Porém ansiava
Teu sembrante divino
Me fazendo um menino
A vencer a imensidão
De repente então,
NOSTALGIA
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Algo eu senti
Um perfume suave
Que real e marcante
Ganhou toda dimensão
Me levando a vagar
Sem destino e sem pressa
Pela vasta imensidão
Cheguei até
A sentir os céus então
Quando duas mãos
Tocou minha face
E teus lábios divinos
Saciou minha sede
De amor e ilusão
Acordei aos prantos
Em frente a janela
Com uma luz tão bela
Da lua suprema
Que invadia a noite
Com o teu clarão!!!
139
Wanderley Pires de Andrade
Possui publicações nos jornais Tribuna Lençoense e Jornal dos Aposentados e na Rádio Difusora.
Olho e vejo coisas acontecendo
que jamais imaginaria, um dia
mas está acontecendo frequentemente...
Chuvas fortes e ventos, levando destruição
a todas os lugares no passado.
O homem está mais preocupado com a economia mundial
Esquecendo, que se não existir um meio ambiente, não haverá progresso.
Com a destruição do meio ambiente não tem como progredir.
Só restará miséria e destruição.
Está na hora de alguma coisa ser feita, enquanto há tempo.
Vamos lutar contra esta situação,
progredir com o crescimento sustentável.
Em plena harmonia, só assim deixaremos para
nossos dependentes, um meio ambiente favorável à vida,
Sem danificar o meio de se viver.
MEIO AMBIENTE
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Índice de Imagens
Página
4(sup)
4(inf)
12
26
32
38
44
Descrição
Escritores amigos pessoais de Orígenes
Lessa, em frente à BMOL, durante a Ca-
ravana de Escritores de 1986.
Escritores lençoenses durante encon-
tro realizado dia 24/09/2013, na Biblio-
teca Ramal II, na Cecap.
Orígenes Lessa em sua residência, no
Rio de Janeiro.
Orígenes Lessa em uma de suas visitas à
BMOL.
Fachada da BMOL, antes da ampliação
realizada entre os anos de 2013 e 2014.
Espaço Cultural “Cidade do Livro”.
José Antônio Marise e Ézio Paccola na
posse de Orígenes Lessa na Academia
Brasileira de Letras, em 1981.
Imagens do acervo da Biblioteca Municipal Orígenes Lessa
Índice de Imagens
Página
62/66
76
104
124
134
140
Descrição
Estantes de livros na BMOL.
Estantes de livros na Biblioteca Infan-
til Monteiro Lobato.
Estantes de livros na Biblioteca Ramal III,
no distrito de Alfredo Guedes.
Estante de livros em Braille, na BMOL.
Inauguração da BMOL em 1961, em uma
sala no UTC (Ubirama Tênis Clube).
Os escritores Pedro Bloch (e esposa),
Guimarães Rosa (representado pela vi-
úva), Rachel de Queiroz e Francisco de
Assis Barbosa, em visita às ruas com seus
respectivos nomes na Cecap, Bairro dos
Escritores.
Imagens do acervo da Biblioteca Municipal Orígenes Lessa