Escravos e Libertos Aula 3 · A grande maioria dos escravos no país eram provenientes da região...

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Escravos e Libertos – Aula 3

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Escravos e Libertos – Aula 3

Literatura brasileira no primeiro período colonial

Barroco

Influência religiosa (contra-reforma) -> Catolicismo

Principais manifestações: Poesia, prosa e epístolas

Uso abundante de figuras de linguagem.

Conflito entre o corpo e a alma: o corpo, em geral, deveria sofrer para purificar a alma.

Padre Antônio Vieira

O negro na obra de Padre Vieira

―Cumpriram-se principalmente depois que os portugueses conquistaram a Etiópia ocidental, e estão se cumprindo hoje, mais e melhor que em nenhuma outra parte do mundo nesta da América, aonde trazidos os mesmos etíopes em tão inumerável número, todos com os joelhos em terra, e com as mãos levantadas ao céu, crêem, confessam e adoram‖.

Recapitulando

A primeira fase da colonização no Brasil: 1500 – 1690

Marcada primeiro pela extração de pau-brasil e mão-de-obra predominantemente indígena no primeiro momento (1500-1580)

Engenhos e produção de açúcar (mascavo) para venda no mercado europeu, mão-de-obra predominantemente negra.

Brasil em 1790

A segunda fase da colonização do Brasil: As minas

Em 1690 começaram a ser descobertas jazidas de ouro de aluvião (ouro de rio) por exploradores saidos de Taubaté.

São Paulo era o principal ponto de exploração das minas de ouro em função de sua posição estratégica e de sua principal fonte de riquezas: o apresamento de índios.

Os paulistas que inicialmente detinham o poder na região foram substituídos por portugueses.

A segunda fase da colonização do Brasil: As minas

A organização das Minas Gerais: em 1707 ocorreu uma guerra entre paulistas e o governo do Brasil em função do direito de exploração das regiões mineiras próximas a Vila Rica (Ouro Preto).

Rapidamente Portugal tentou ocultar as jazidas de ouro. Primeiro com impostos e revistas, depois com o fechamento de algumas cidades chave como Vila Rica e Diamantina.

Já no início de 1700 foi criada a estrada do ouro ligando Minas ao Rio em 14 dias. A viagem por São Paulo durava quase dois meses.

Escravos trabalhando em minas

O trabalho nas minas

Lavra e faiscação: lavras eram grandes formas de extração, geralmente conduzidas por escravos e feitores. A faiscação era o ato de peneirar em beirada de rios, tentando achar alguma pepita que tivesse se perdido na lavra.

Os escravos eram constantemente supervisionados e eram obrigados a trabalharem seminus para diminuir a possibilidade de esconderem ouro. No entanto o contrabando era constante.

O Brasil enviou quase mil toneladas de ouro para Portugal durante todo o século XVIII

A definitiva ocupação territorial

Até meados do século XVIII o Brasil ainda era pouco povoado. A maioria da população era composta por indígenas sem contato com a administração portuguesa. De acordo com Celso Furtado até 1710 o Brasil teria cerca de 300 mil habitantes, entre ―reinóis‖, escravos e filhos da terra.

A ocupação de Minas gerou um movimento de crescimento demográfico por quase todo o país. Como não podia cultivar seus alimentos Minas era, inicialmente, dependente do abastecimento oriundo de outros estados.

Ocupação territorial em 1700

De 300 mil habitantes registrados em 1700 o Brasil passou a mais de 1.5 milhões em 1772 (primeiro censo)

Minas, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco possuíam 68% da população.

No início do século XIX o Brasil contava com cerca de 3 milhões de habitantes, sendo quase 1.9 milhões de escravos entre africanos (maioria) e mulatos.

A primeira grande ocupação territorial do país foi feita por escravos e seus descendentes.

População nas capitais em 1772

Ocupação territorial

É importante ressaltar que nesse período a maior parte dos habitantes registrados do Brasil era composta por negros e mulatos, totalizando quase 70% da população total.

A diversificação territorial e de trabalho proporcionada pela exploração das minas mudou a vida dos escravos aqui residentes. Até então a maior parte dos trabalhos era no campo, com as Minas surgiram o trabalho de garimpo e outros como o de vaqueiro, charqueiro, carpinteiro,

Escravos e libertos

Durante o século XVIII alcançar a liberdade via alforria era quase impossível, cerca de 1% dos escravos

A grande maioria dos escravos no país eram provenientes da região de Angola, escravos Iorubás só chegaram ao Brasil no início do século XIX.

Os escravos que concluiam a viagem (de 30% a 10% faleciam na travessia) eram desembarcados e vendidos na Bahia (Nordeste) e no Rio de Janeiro (Sudeste/Sul).

Escravos e libertos

Mesmo libertos os ex-escravos tinham dificuldades em se inserir socialmente. Haviam leis que impediam o acesso a terra, armas e mesmo a itens de luxo como tecido de seda. Além disso deveriam andar com documentos que indicassem a alforria ou estariam sujeitos a serem re-escravizados.

―invadiram uma venda para desfazer o que chamaram de ―ajuntamento de pretos‖. Ordenado a abandonar a venda, o liberto Manoel José reagiu dizendo que ―era um homem livre e que só iria quando bem quisesse‖. Irritado, o subdelegado ordenou que ―metesse o laço no negro‖, uma expressão bastante usada naquela localidade quando se referia à prisão de escravos. O liberto reagiu à prisão porque achou inaceitável ser tolhido em seu direito de freqüentar livremente os espaços públicos e ser tratado como cativo‖ (p.156)

Navio Negreiro (Rugendas)

Machado de Assis

Nascido em 21 de junho de 1839, falecido em 29 de setembro de 1908 (aos 69).

De família humilde, não chegou a enfrentar grande pobreza pois sua família era agregada da família da viúva de um senador.

Aluno pouco destacado Machado encontrou sua vocação aos 17 anos quando começou a escrever poemas e textos para jornais. Dos jornais foi mudando para cargos públicos nos quais buscou sua ascenção social.

Casou com Carolina Augusta com quem conviveu até sua morte aos 70 anos em 1904. Machado faleceu quatro anos depois.

Machado e a formação da intelectualidade mulata

Machado de Assis faz parte de um período no qual várias barreiras eram impostas a negros e mulatos, que encontravam nas artes um modo de obter um status social mais elevado.

Entre os artistas mulatos do período poderiamos destacar o poeta Gonçalves Dias (I-Jucas Pirama), Cruz e Souza (o ―Dante‖ brasileiro), os escritores Machado de Assis, Lima Barreto, o escultor Aleijadinho, o historiador Capistrano de Abreu.

Negros e Mulatos nas artes: Século XIX

Machado de Assis

Pai Contra Mãe

Conto publicado postumamente no livro ―Relíquias da Casa Velha‖. É uma história curta e que se divide em duas partes. A primeira é uma reflexão do autor acerca do contexto da escravidão em seu tempo. A segunda é a história em si do capitão do mato empobrecido e sua família.

Personagens: Cândido Neves, Clara (esposa), Mônica (tia), Arminda (escrava fugida).

Cenário: Rio de Janeiro início do século XIX

Pai Contra Mãe

Estilo narrativo bastante direto e visceral. O tema da pobreza da fome e a questão familiar permeiam a trama. A angústia de Cândido Neves (nome irônico para um capitão do mato) é a possibilidade de abandonar seu filho na Roda dos Expostos.

A virada da história se dá quando Cândido encontra e captura Arminda, conseguindo bastante dinheiro.

A brutalidade da surra que Arminda grávida recebe, resultando em um aborto, contrasta com a serenidade e o amor ao não ter de se desfazer da criança.

Roda dos expostos

Trechos

―Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou. O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram.‖

―Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.

— Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração‖

Capitão do Mato