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    Alimentao e Crescimento Saudvel em Escolares

    Cleliani de Cassia da Silva

    Especialista em Nutrio, Sade e Qualidade de Vida FEF UNICAMP

    Aidade escolar compreende o perodo da vida que se estende dos7 aos 10 anos de idade. Nessa ase, o crescimento lento, po-rm constante, com uma maior proporo na regio dos membrosineriores do que na regio do tronco. Em relao composio cor-poral, os meninos em geral apresentam maior massa magra que asmeninas. Aps os sete anos de idade, ocorre um aumento do tecidoadiposo em ambos os sexos, sendo um preparo para o estiro pube-ral. Dependendo da maturidade, algumas crianas podem iniciar o

    aparecimento dos caracteres sexuais secundrios (LACERDA; AC-CIOLLY, 2005, In: ACCIOLLY; SAUNDERS; LACERDA, 2005; SO-CIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2006).

    Nessa ase, inicia-se a dentio permanente, sendo de extremaimportncia reorar os bons hbitos de sade, como alimentao ehigiene, a m de prevenir a ocorrncia de cries dentrias e outrosproblemas de sade (LACERDA; ACCIOLLY, 2005, In: ACCIOLLY;SAUNDERS; LACERDA, 2005).

    Nesse perodo, h um aumento do apetite e melhor aceitao daalimentao, porm, se a criana j tiver hbitos alimentares inade-quados, h grande chance dessa inadequao se acentuar e algunsdistrbios alimentares podem persistir, principalmente quando noorem corrigidos (GAGLIONE, 2003, In: LOPES; BRASIL, 2003).

    Isso acontece porque a criana em idade escolar comea a desen-volver autonomia para decidir o que quer comer, o que deve ser es-timulado em um ambiente saudvel, evitando assim, o aumento decasos de obesidade inantil, anemia, constipao intestinal e outrosproblemas (IRALA & FERNANDEZ, 2001).

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    A obesidade por ter incio nessa aixa etria, devido ao maiorinteresse que as crianas passam a ter por alguns alimentos mui-to calricos (como salgadinhos, fast-food, rerigerantes, doces, etc.),cuja ingesto de dicil controle, bem como pelo sedentarismo, pois

    a prtica de atividade sica substituda pelo uso do computador,videogame, televiso, pela alta de espao e segurana.

    Nessa aixa etria, tambm h um aumento da infuncia do gru-po social (turma) na escolha de alimentos. A alimentao bastanteinfuenciada pelo tempo que a criana permanece na escola e peloscontatos sociais. Portanto, colegas, proessores, treinadores, dolosdo esporte e outras amizades infuenciam muito nos hbitos alimen-tares (LUCAS, 2002, In: MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002).

    Alimentao da criana em idade escolar

    Vrios atores infuenciam o crescimento e a sade da criana,entre esses, a alimentao se destaca como um dos mais importantespara garantir o adequado crescimento e prevenir carncias nutricio-nais (DEVINCENZI et al., 2004).

    O principal problema quanto alimentao da criana em ida-

    de escolar a qualidade dos alimentos ingeridos, devido ao maioracesso e preerncia a alimentos ricos em energia, gorduras e car-boidratos tais como: rituras, salgadinhos, rerigerantes e doces emdetrimento dos alimentos ricos em micronutrientes, como as rutase hortalias. Esse ato contribui para o aumento de problemas nu-tricionais, sendo assim, importante estimular a ormao e a adoode hbitos alimentares saudveis durante a inncia e a adolescncia(IRALA & FERNANDEZ, 2001; FERNANDES, 2006).

    O acesso a uma alimentao saudvel nesse perodo , portanto,

    essencial, pois em virtude do crescimento e desenvolvimento dosossos, dentes, msculos e sangue, as crianas precisam de alimentosmais nutritivos, em proporo ao seu peso, do que os adultos (LU-CAS, 2002, In: MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002).

    A alimentao do escolar deve ornecer energia adequada parasustentar um timo crescimento e desenvolvimento sem excessode gordura. A ingesto de carboidratos simples (rerigerantes, balas,doces, chocolates, pirulitos, etc.) deve ser controlada para uma boa

    sade, e as bras devem estar presentes para auxiliar no bom un-cionamento do intestino. Alm disso, a alimentao deve ser rica emvitaminas e minerais, pois a ingesto insuciente desses nutrientes

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    pode prejudicar o crescimento e resultar em doenas (LUCAS, 2002,In: MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002).

    Um dos atores para determinar uma alimentao balanceada estabelecer diretrizes na alimentao diria, isto , rotinas alimen-

    tares bem-denidas, pois no s a qualidade e a quantidade daalimentao oerecida criana que importante. Os horrios paraas reeies ca da manh, almoo e jantar so importantes, masos horrios para lanches intermedirios tambm devem ser estabe-lecidos, evitando-se o consumo de qualquer tipo de alimentos nosintervalos das reeies programadas. A alta de disciplina alimentarcostuma ser a maior causa dos distrbios alimentares, comprome-tendo a qualidade e a quantidade da alimentao consumida (GA-GLIONE, 2003, In: LOPES; BRASIL, 2003).

    Hbitos alimentares e amlia

    A amlia responsvel pela transmisso da cultura alimentar. Comela a criana aprende sobre a sensao de ome e saciedade, e desen-volve a percepo para os sabores e as suas preerncias, iniciando aormao do seu comportamento alimentar (RAMOS; STEIN, 2000).

    O comportamento dos pais contribui para o hbito alimentar deseus lhos, assim, os pais devem adotar hbitos que gostariam dever em seus lhos (GAGLIONE, 2003, In: LOPES; BRASIL, 2003).

    O estabelecimento do hbito alimentar tambm est relacionado maneira como as compras de alimentos so realizadas pela am-lia, uma vez que a criana dicilmente aprender a gostar de ru-tas e verduras se em sua casa a oerta desses alimentos or escassa,mais ainda, se or arta em alimentos industrializados. Dessa orma, importante ressaltar que a ormao de hbitos alimentares sau-

    dveis na criana comea pela conscientizao e envolvimento dasamlias, sendo importante limitar o consumo de alimentos indus-trializados de baixo valor nutritivo e/ou ricos em gorduras, acar esdio, como rerigerantes, doces e salgadinhos (GAGLIONE, 2003,In: LOPES; BRASIL, 2003).

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    Hbitos alimentares e escola

    Alm da amlia, a escola exerce infuncia decisiva na ormaodos hbitos e consumo alimentar das crianas. Para isso, durante o

    planejamento da merenda escolar, os alimentos selecionados paraintegrarem o cardpio devem estar adequados para a necessidadedas crianas, contendo rutas, vegetais, sucos de rutas naturais, pese biscoitos integrais, etc. O programa de alimentao escolar deveensinar a optar pelo melhor, instruindo sobre os eeitos que cadatipo de alimento pode causar ao organismo. A merenda hipercal-rica emontona presente na maioria das escolas, e a existncia decantinas em que as crianas tm acesso a alimentos pouco adequa-

    dos, contribuem para a aquisio de hbitos alimentares deletrios.Portanto, alimentos de baixo ou nenhum valor nutritivo no de-vem ser oerecidos no ambiente escolar, quer seja durante a meren-da, pelas cantinas ou em estas e eventos realizados na escola.

    Os proessores e uncionrios, enquanto modelos para os alunos,devem evitar o consumo de alimentos de baixo ou nenhum valornutritivo na escola, j que possuem um papel undamental para aormao de hbitos saudveis.

    O ambiente escolar um local ideal para estimular o consumo dealimentos saudveis por meio da implementao de programas vol-tados educao para a sade, com nase nos aspectos alimentarese nutricionais.

    Recomendaes para a alimentao do escolar

    Para garantir o crescimento e desenvolvimento saudveis (LUCAS,2002, In: MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002) e a Sociedade Brasileira dePediatria (2006) sugerem a adoo das seguintes recomendaes:

    O esquema alimentar deve ser composto por cinco ou seisreeies dirias, com horrios regulares: ca da manh; lan-che da manh; almoo; lanche da tarde; jantar e algumasvezes lanche antes de dormir;

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    A criana no deve permanecer em jejum por longos pero-dos, pois est em ase de crescimento e necessita de energiae de nutrientes. Portanto, todas as reeies so undamen-tais para o desenvolvimento das atividades sicas (ir escola,

    brincar, correr, pular) e das atividades intelectuais (capacida-de de concentrao);

    Controlar a oerta de lquidos (suco, gua e principalmente re-rigerantes) nos horrios das reeies, pois eles distendem o es-tmago, o que pode dar o estmulo de saciedade precocemente,diminuindo a ingesto de alimentos mais nutritivos. Oerec-losaps a reeio, de preerncia gua ou sucos naturais. No proi-bir rerigerantes, oerecer apenas em ocasies especiais;

    Proibir alimentos (salgadinhos, balas, doces, rerigerantes,etc) pode torn-los ainda mais atraentes; deve-se limitar oconsumo e oerec-los em horrios adequados e em quan-tidades sucientes para no atrapalhar o apetite da prximareeio. Ensinar a criana quais so os alimentos mais sau-dveis e que devem ser consumidos com reqncia, e limitaro consumo de outros menos saudveis;

    Envolver a criana nas tareas de realizao da alimentao

    como participar do preparo de lanches, como por exemplo:gelatina com rutas, salada de rutas, barrinhas de cereais,sorvete de suco de rutas, iogurte batido com rutas e cereais,sanduches de queijo branco com hortalias;

    Limitar a ingesto de alimentos com excesso de gordurastrans e saturadas, sal e acar, pois so atores de risco paraas doenas crnicas no adulto;

    A criana em idade escolar no gosta de levar lanche para aescola, preerindo comprar a seu gosto, mas isso pode levar criao de hbitos alimentares incorretos, portanto, impor-tante limitar os dias da semana em que a criana vai compraro lanche e os dias em que ela o levar de casa;

    O ambiente na hora da reeio deve ser calmo e tranqilo,sem a televiso ligada ou quaisquer outras distraes como brincadeiras e jogos. importante tambm evitar atitudesnegativas como, por exemplo: Se voc comer rpido ou co-mer tudo, ter sorvete; Se voc no comer tudo no vai

    tomar suco.

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    Algumas atitudes positivas podem estimular a criana a comercomo: Quem sabe voc gostaria de comer salada hoje?; Euno vou lhe dizer que comer verduras importante para o seucrescimento, porque voc muito inteligente e j sabe disso;

    Um dos atores que pode tirar o apetite e o interesse da crian-a pelo alimento a monotonia alimentar, sem variaes dotipo de alimento e de preparaes, portanto, oerecer umareeio com grande variedade de cores e texturas, pois acriana se xa nas cores, na orma e no visual, condiesimportantes para a aceitao dos alimentos;

    Dar nase ingesto de rutas e vegetais, produtos de grosintegrais, produtos de laticnios com baixo teor de gordura,

    leguminosas e carne magra, peixes e aves;As sobremesas e alimentos doces devem ser oerecidos compouca reqncia e incorporados nas reeies para reduzirsua cariogenicidade;

    As reeies em amlia ajudam a criana a reorar os bonshbitos alimentares, portanto, procure azer pelo menos umareeio com toda a amlia reunida;

    Evite oerecer criana bolachas recheadas ou amanteiga-

    das, pois elas contm muita gordura. Prera biscoitos semrecheio, ricos em bras, como os biscoitos de aveia, torradasintegrais, entre outros;

    Evite adicionar acar aos achocolatados, pois eles j soadoados o suciente;

    Evite substituir reeies por lanches, mas quando or neces-srio, prera alimentos saudveis, que no sejam ricos emgorduras e acar;

    Quando as bolachas ou salgadinhos de pacote orem oerecidos,especialmente dos pacotes grandes, coloque uma pequena por-o em uma tigela ou prato, nunca oerecer direto do pacote.

    Por conseguinte, ao se pensar uma merenda adequada situa-o nutricional e ao hbito alimentar dos escolares de hoje, deve-seprogram-la mais como um lanche do que como substituio a umareeio.

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    Reerncias Bibliogrfcas

    DEVINCENZI, M. U. et al. Nutrio e Alimentao nos Dois Primeiros Anosde Vida. Compacta Nutrio. Vol. V - n 1 - xxxxx/2004.

    FERNANDES, F. M. Alimentao e nutrio entre escolares: caso dosalunos de uma escola do municpio, Vitria ES. 2006. 49 . Monograa(Especializao em Nutrio Clnica) - Curso de Ps-Graduao em Nu-trio Clnica, Universidade Veiga de Almeida, Vitria, 2006. Disponvelem: .Acesso em: 10 de dezembro de 2007.

    GAGLIONE, C. P. Alimentao no segundo ano de vida, pr-escolar e esco-lar. In: Lopes, F. A.; BRASIL, A. L. D. Nutrio e Diettica em ClnicaPediatria. So Paulo: Atheneu, 2003. p. 61-62.

    IRALA, C. H.; FERNANDEZ, P. M. Peso Saudvel. Manual para Escolas.A Escola promovendo hbitos alimentares saudveis. 2001. Fa-culdade de Cincias da Sade, Universidade de Braslia. Disponvel em:.Acesso em: 10 dez. 2007.

    LACERDA, E.M.A.; ACCIOLLY, E. Alimentao do Pr-Escolar e Escolar.In: ACCIOLLY, E.; SAUNDERS, C.; LACERDA, E.M.A. Nutrio emObstetrcia e Pediatria. Rio de Janeiro: Cultura Mdica, 2005. 3reimpresso. Cap. 19 p. 369-382.

    LUCAS, B. Nutrio na Inncia. In: MAHAN, L. K; ESCOTT-STUMP, S.Krause:Alimentos, Nutrio & Dietoterapia. 10 ed. So Paulo:Roca, 2002. Captulo 10. 229-246.

    RAMOS, MAUREM; STEIN, LILIAN M. Desenvolvimento do comporta-mento alimentar inantil. Jornal de Pediatria, Vol. 76, Supl.3, S229-S237, 2000.

    SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento de Nutrologia.Manual de orientao: alimentao do lactente, alimentao do pr-escolar, alimentao do escolar, alimentao do adolescente, alimen-tao na escola. So Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departa-mento de Nutrologia, 2006. 64 p.