Escola Metódica - Escola Histórica
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Universidade de Pernambuco – UPE
Curso de Licenciatura em Historia
2º Período
Historiografia
Docente: Dr. Bruno Câmara
Discentes: Isabela Ferreira, Luiz Carlos, Manoel Jerônimo
RESENHA
BOURDE. Guy: MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas: da Idade Média aos nossos dias. Lisboa: Publicações Europa-América. 2012 [1983].
No capítulo VI, inserido no livro em questão os autores Bourde e Martin
discutem a Escola Metódica no Séc. XIX e seus respectivos criadores Charles
Seignobos e Victor Langlois, ao mesmo tempo que apresenta A Revista histórica e seu
principal fundador; Gabriel Monod. O texto também discute a transformação da história
em uma ciência e a utilização de métodos científicos para uma aplicação mais fiel da
mesma.
O conteúdo a ser resenhado está distribuído em cinco subcapítulos onde os
autores abordam A Revista Histórica, O discurso do método, Lavisse e a história da
França, Os manuais escolares, e por fim, A objetividade em história.
O subcapitulo inicial trata de nos situar sobre A Revista Histórica, e a sua
relevância para o estudo histórico, suas ideologias inicialmente pretendiam se manter
neutras em questões políticas e religiosas, enquanto a outra revista intitulada A Revista
das Questões Históricas, afastava-se do seu ideal, onde deixa explicita suas crenças nos
artigos publicados. Depois por intermédio do seu principal fundador G.Monod, A
Revista Histórica começou a expressar uma influência política em suas publicações.
Na segunda divisão do conteúdo, vemos a preocupação de Ch. Seignobos e V.
Langlois com a função do historiador no cuidado da preservação da fonte. Ambos
seguem a linha de pensamento de Leopold Van Ranke, onde a subjetividade do
historiador não pode interferir na interpretação do documento histórico e por meio de
vários métodos, eles pretendiam capturar a verdadeira mensagem transmitida pela fonte.
Na terceira parte é nos passado uma breve biografia de Ernest Lavisse, onde é
possível compreender o seu pensamento, que é voltado para a consolidação da França
como uma nação unificada. Por serem muito eficientes, seus manuais serviram para a
educação e formação da juventude francesa, entretanto era notável a sua intenção de
propagar o nacionalismo nas instituições de ensino. Aspectos relativos ao uso de livros
de história com discurso ideológico também são apresentados no quarto subcapitulo.
Em meio a livros destinados ao ensino primário, dotados de ideologias, o mais celebre
foi a obra, Petit Lavisse, considerado um instrumento de educação moral.
Na quinta e última parte do capitulo, é nos mostrado que L. Bourdeau tem um
conceito de história diferente, por ser discípulo de Comte, ele entende a história como
um meio de investigar e compreender o desenvolvimento humano. Houve um conflito
de ideais entre L. Bourdeau e G. Monod, que mais tarde foi mudando com o intuito, da
parte de G. Monod, de tornar a história mais aceita entre as demais ciências. Há também
uma abordagem sobre a influência que a Escola Metódica recebeu da Alemanha,
especificamente de Leopold Van Ranke, que foi um dos fundadores do cientificismo
que possibilitou um caráter empírico a história, ele foi um dos primeiros a se expressar
de uma forma que, o historiador deveria se manter neutro nas suas narrativas não
deixando seus sentimentos pessoais interferirem no relato do documento.
Inicialmente há uma visão geral das principais características da Escola
Metódica, entre elas, a aplicação de técnicas rigorosas na avaliação de documentos
históricos e a verificação de sua autenticidade, um exemplo disso, é a análise feita para
verificar se o dialeto contido no documento está de acordo com a língua nativa utilizada
no espaço onde o documento foi produzido; se a escrita estaria inserida no modo padrão
da época, ou até mesmo se o tipo de papel utilizado na produção do documento serviria
de prova para uma análise mais aprofundada de qualquer fonte para poder provar se a
mesma seria verdadeira ou não.
Essas técnicas rigorosas de verificação de documentos foram elaboradas e
aplicadas por Ch. V. Langlois, um grande historiador que teve seus trabalhos voltados
para a França medieval, e Ch. Seignobos, um medievalista bem sucedido, ambos
colaboradores da revista histórica, também foram os pilares para a formação da histórica
como ciência. As ciências humanas estavam em crise por não possuir nenhum método
de pesquisa funcional como os utilizados nas ciências exatas, diante disso as ciências
humanas foram tidas como “invalidas”. Perante tal situação, Langlois e Seignobos
separaram a filosofia e a literatura da história, pois para eles a história deveria se tornar
uma ciência única.
É na Escola Metódica que surge a crítica aos documentos, onde o historiador
tinha uma função de investigar a verdade nos documentos oficiais, ou seja, ele deveria
verificar e extrair a verdade e nada além disso e não se permitiria o questionamento dos
fatos ou obter posicionamento sobre qualquer documento investigado por ele. O
Historiador tinha um papel de “detetive” pois a verificação dos documentos era baseada
apenas na materialidade do documento e não no conteúdo contido nele.
O texto menciona rapidamente a participação de historiadores franceses na
reforma universitária e na elaboração de grandes enciclopédias e manuais escolares. No
século XIX o sentimento de nação estava em formação, e essa nova coleção histórica foi
usada para formar uma geração de patriotas e fortalecer o estado-nação, decorrente
disso, a história rapidamente ganhou espaço entre as ciências, deixou de ser um
disciplina auxiliar para outros estudos, e foi inserida nas universidades.
Criada com o intuito de publicar investigações oficiais sobre os diferentes ramos
da história, A Revista Histórica tinha como objetivo entender a história com a utilização
de artigos e resumos de leituras. Possuía vários colaboradores, desde os mais veteranos
como também os mais jovens historiadores, em suma, a revista histórica não poderia
adotar qualquer tipo de partido político ou se basear em alguma religião, que são vastas
dentro do grupo de redatores, assim como as diversas nacionalidade dos mesmos,
entretanto isso não interferia na hierarquia interna da Revista, contudo, A Revista
Histórica deveria permanecer neutra diante de qualquer influência externa, todavia, a
revista combatia firmemente de forma perceptível o clero.
Gabriel Monod, um dos principais fundadores de A Revista Histórica e
considerado “pai da história positivista”, foi um dos primeiros a se questionar se França
estaria num progresso suficientemente considerável para um método cientifico, passou
então a considerar na sua revista, apenas trabalhos originais e de primeira mão, que
pudessem fortalecer a ciência, onde as informações trazidas por seus colaboradores
fossem reconhecidas como validas, pois ele acreditava que isso seria um passo para um
avanço num método cientifico. Essas são as principais temáticas abordadas no primeiro
subcapitulo, que mesmo sendo breve, apresenta questões sobre A Revista Histórica de
forma clara e objetiva.
No segundo tópico veremos a aplicação das regras elaboradas por Ch.-V.
Langlois e Ch. Seignobos, que poderiam ser facilmente aplicadas disciplinarmente,
lançando assim Introdução aos Estudos Históricos, que é uma obra constituída por seus
pensamentos em relação a separação do teor filosófico do meio histórico, como também
o posicionamento adequado que um historiador deve ter e o que é realmente
conhecimento histórico. Os autores fazem uma abordagem sobre a ideia de documento
histórico de acordo com Langlois e Seignobos, só poderiam ser tidos como validos, os
documentos materiais, como cartas, manuscritos, decretos, artigos etc. Para eles poucos
são os homens que deixam vestígios visíveis, e quando isso acontece, um acidente é
suficiente para destruí-los. Essa percepção acabou limitando a abrangente
funcionalidade da disciplina.
Nessa linha de pensamento o documento histórico precisaria passar por uma
série de etapas para a averiguação da sua veracidade, essa técnica era constituída de
duas etapas, a crítica externa, que consistia em avaliar a materialidade do documento, e
a sua conservação, também cabe a essa crítica avaliar se o documento está de acordo
com os fatos históricos. A crítica interna tem a função de analisar minuciosamente os
textos para se certificar do que o autor quis transmitir no seu trabalho.
O terceiro tópico, enfatiza a vida e as construções feitas por Ernest Lavisse, de
início há uma breve apresentação de sua biografia, mostrando que o mesmo tornou-se
um grande estudante da história e do passado germânico, e que através do ensino em
faculdades recebeu grande notoriedade e cargos altíssimos como: redator da lei de
Poincaré que reforma o ensino médio e é também responsável por ordenar no curso
superior, o curso de agregação, criando assim o diploma de estudo superior
consolidando a rede de universidades. Seus manuais escolares tomaram grande
conhecimento na França como também na Europa, e foram utilizados na área de ensino
fundamental, mesmo sendo notável a influência ideológica de E. Lavisse em questão do
patriotismo e adoração e fidelidade a França. Entretanto os ideias de E. Lavisse iam
contra os de G. Monod, pois ele não seguia a neutralidade mantida e aconselhada pelo
principal fundador de A Revista Histórica.
O último subcapitulo mostra que L. Bourdeau, como um bom seguidor dos pensamentos
de Comte, acreditava que a história é a ciência responsável pelo desenvolvimento da
razão, caracterizando que a história, tomando modelo sociológico, estuda diversas
atividades humanas em diferentes épocas, ao mesmo tempo a sociologia implantada na
história, poderia apagar momentos únicos e personagens ilustres, para que assim fosse
concebido mais espaço para uma história constituída pelo povo, isso fica explicito nos
primeiros parágrafos desse subcapitulo. Fica evidente que o pensamento de G. Monod e
L. Bourdeau não se conciliam no início, entretanto com o passar do tempo, G. Monod
reviu seus conceitos em relação a L. Bourdeau, pois estava interessado em unificar a
história com outras ciências humanas, para assim expandi-la dentro e fora da Europa,
todavia, Ch.-V. Langlois e Ch. Seignobos não o seguiram em tão decisão, porque eles
eram contra qualquer tipo de filosofia positivista como também foram eles mesmo que
optaram por separar a história das demais ciências.
Diante da leitura realizada fica perceptível que o texto é indicado para pessoas
inseridas nos cursos superiores de História e Sociologia, pois é uma texto que exige um
certo grau de conhecimentos prévios para ser entendido, além de diversas releituras e
pesquisas quanto aos conceitos, autores e contexto apresentados. A obra tem por
objetivo discutir a linha de pensamento de uma das principais escolas históricas, ao
mesmo tempo que oferece sugestões para estudantes universitários e pesquisadores,
afim de que possam realizar suas próprias pesquisar na graduação e ampliar seu
conhecimento, sobre um dos métodos mais importantes do final do séc. XIX e do
começo do séc. XX. Os autores do texto poderiam ter abordado os métodos de uma
forma mais objetiva sem entrar em muitos detalhes bibliográficos sobre seus criadores.
Outras referências:
RODRIGUES, Andre Wagner. Disponível em:
http://www.historiaemperspectiva.com/2012/01/leopold-von-ranke-1795-1886-o-pai-
da.html
Acessado em: 29/09/15
RODRIGUES, Andre Wagner. Disponível em:
http://epigrafeshistoricas.blogspot.com.br/2013/01/ernest-lavisse-o-cidadao-pedagogo-
do.html
Acessado em: 30/09/15