Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino ......Escola Estadual de Educação...

50

Transcript of Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino ......Escola Estadual de Educação...

  • Governador

    Vice Governador

    Secretária da Educação

    Secretário Adjunto

    Secretário Executivo

    Assessora Institucional do Gabinete da Seduc

    Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC

    Cid Ferreira Gomes

    Domingos Gomes de Aguiar Filho

    Maria Izolda Cela de Arruda Coelho

    Maurício Holanda Maia

    Antônio Idilvan de Lima Alencar

    Cristiane Carvalho Holanda

    Andréa Araújo Rocha

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 1

    PRODUÇÃO DE MUDAS FRUTÍFERAS

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 2

    SUMÁRIO

    I. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3

    II. FORMAS DE PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS ............... 4

    III. PRODUÇÃO DE MUDAS CERTIFICADAS ............................................ 34

    IV. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 42

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 3

    I. INTRODUÇÃO

    O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com 42 milhões de

    toneladas produzidas de um total de 340 milhões de toneladas colhidas em todo o

    mundo, anualmente. Apesar deste lugar de destaque, o país está no 12º lugar nas

    exportações de frutas. Deste volume total de produção, acredita-se que as perdas no

    mercado interno possam chegar a 40%. Contribuem com estes números, o mau uso das

    técnicas de manejo do solo e da planta, falta de estrutura de armazenamento, logística,

    embalagens inadequadas e a própria desinformação do produtor.

    Na América do Sul, o Chile e a Argentina são grandes produtores e exportadores de

    frutas frescas, ao ponto de ser um dos pilares da economia chilena, tradicional

    exportador de frutas de alta qualidade para o Brasil, Europa e EUA.

    Pela diversidade de climas e solos, o Brasil apresenta condições ecológicas

    para produzir frutas de ótima qualidade e com uma variedade de espécies que passam

    pelas frutas tropicais, subtropicais; e temperadas. Apesar desde quadro favorável, ainda

    importamos volumes significativos de frutas frescas e industrializadas, como acontece

    como a pêra, ameixa, uva, maçã, entre outras (CHAVES, 2000).

    Nesse sentido, é incontestável a importância da utilização de mudas de

    qualidade na instalação de pomares frutícolas, para se assegurar o sucesso do

    empreendimento. No Brasil, especialmente na região Nordeste, verifica-se uma enorme

    carência de oferta de mudas produzidas com tecnologia que garanta a qualidade

    genética e fitossanitária e, consequentemente, assegure o fortalecimento econômico da

    exploração, para atender às exigências dos mercados consumidores. Este fato concorre

    para desestimular a consolidação da atividade de produção de mudas, inviabilizando

    iniciativas de implantação de viveiros comerciais.

    A partir de mudas produzidas dentro dos padrões exigidos, os empresários da

    fruticultura terão condições de competitividade nos vários mercados existentes. Assim,

    a produção de mudas de qualidade é o primeiro passo para se obter pomares produtivos,

    longevos e que produzam frutos de qualidade. Para que isso aconteça, há necessidade do

    uso de material propagativo de elevado padrão genético e agronômico. Analisando os

    vários componentes de qualidade das mudas, percebe-se a multidisciplinaridade de

    conhecimentos necessários à sua produção, envolvendo profissionais especializados de

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 4

    várias áreas, como melhoramento vegetal, fitopatologia, entomologia, fitotecnia,

    extensão rural e viveiristas.

    II. FORMAS DE PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS

    A propagação é um conjunto de práticas destinadas a perpetuar as espécies de

    forma controlada. Seu objetivo é aumentar o número de plantas, garantindo a

    manutenção das características agronômicas essenciais das cultivares. (FACHINELLO,

    2000).

    Ainda segundo Fachinello (2000) os métodos de propagação podem ser

    agrupados em dois tipos: propagação sexuada, que se baseia no uso de sementes, e

    propagação assexuada, baseada no uso de estruturas vegetativas. Fundamentalmente, a

    diferença entre as duas formas de propagação é a utilização e a ocorrência da mitose e

    da meiose. Enquanto na propagação assexuada a divisão celular implica na

    multiplicação simples (mitose), mantendo o número de cromossomos inalterado, na

    propagação sexuada a meiose proporciona a redução do número de cromossomos.

    A propagação por sementes ocorre na maioria das plantas cultivadas e pode ser

    utilizada, também, na obtenção de mudas de plantas frutíferas. Esse método é

    responsável pela variação populacional e pelo surgimento de novas variedades, uma vez

    que na natureza, predomina a polinização cruzada, que assegura o maior intercâmbio de

    genes dentro de uma mesma espécie.

    Na produção comercial de mudas, a propagação assexuada é, por vezes, mais

    importante que a propagação sexuada, especialmente em plantas frutíferas, por diversas

    razões, entre as quais:

    - Normalmente, é mais rápida que a propagação por sementes;

    - O período improdutivo é mais curto;

    - Permite a produção de plantas idênticas à planta-mãe, o que é importante na

    preservação das características agronômicas desejáveis. Isso não ocorre na propagação

    sexuada, devido à recombinação dos genes.

    A preferência pela reprodução sexuada ou assexuada é dada conforme:

    - A facilidade de germinação da semente;

    - O número de plantas que podem ser produzidas pelo método de propagação;

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 5

    - A importância da preservação dos caracteres agronômicos das plantas-

    matrizes.

    Os ciclos reprodutivos das plantas podem ser visualizados na Figura 1:

    Fase juvenil ou juvenilidade:

    A fase juvenil, também denominada juvenilidade, é o período em que a planta

    tem pouca resposta aos estímulos indutores do florescimento (fotoperíodo, frio,

    fitohormônios e outros).

    Essa fase é um período de longa duração (2 anos ou mais), marcado pela

    ausência de produção e pela presença de algumas características, tais como espinhos,

    elevado vigor e morfologia diferenciada das folhas.

    Fase de transição

    Segue-se a essa etapa uma fase de transição, na qual há uma resposta parcial

    aos estímulos indutores, resultando na produção de poucas flores.

    Fase adulta

    Figura 1: Ciclo de propagação de plantas

    Fonte: Adaptado de Fachinello

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 6

    Na fase adulta, há uma resposta plena a tais estímulos indutores, resultando em

    elevação da produção de frutas e de material propagativo, para fornecer estacas, gemas

    ou outras estruturas de propagação.

    Assim, plantas propagadas, vegetativamente, apresentarão uma fase

    improdutiva menor, na qual há uma área foliar insuficiente, para a percepção dos

    estímulos indutores do florescimento e para o sustento da produção de frutos. Uma vez

    superado esse estágio, a planta atingirá a fase reprodutiva ou adulta. Entretanto, se

    forem utilizados propágulos de plantas em fase juvenil ou de transição, será necessário

    superar a juvenilidade e alcançar a área foliar adequada, o que representa um período

    improdutivo mais longo.

    Quando uma planta é produzida por outro método de propagação, tal como a

    estaquia, a enxertia, a mergulhia e a micropropagação, em geral, o desenvolvimento

    segue a mesma sequencia daquela planta obtida por semente, descartando-se a etapa da

    germinação, embora a duração do período vegetativo seja menor. Essa menor duração

    da fase vegetativa, quando da reprodução assexuada, deve-se à utilização de material

    colhido em partes da planta-matriz, que já ultrapassaram a fase juvenil.

    2.1. PROPAGAÇÃO SEXUADA

    É o processo onde ocorre a fusão dos gametas masculinos e femininos para

    formar uma só célula, denominada zigoto, no interior do ovário, após a polinização.

    Esses gametas podem ser provenientes de uma mesma flor, ou de flores diferentes de

    uma mesma planta (autopolinização) ou, ainda, de flores pertencentes a plantas

    diferentes (polinização cruzada).

    Do desenvolvimento do zigoto é produzida uma semente que originará uma

    nova planta, com genótipo distinto dos progenitores, devido à troca de informação

    genética na fecundação. Quando as plantas-matrizes são homozigotas e a

    autofecundação é predominante, os descendentes apresentarão características muito

    semelhantes às plantas que os originaram.

    Entretanto, como na natureza predomina a polinização cruzada, a segregação

    genética induzida pela reprodução sexual assume grande importância. Na reprodução

    sexuada, o embrião é, obrigatoriamente, proveniente do zigoto. Entretanto, no caso de

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 7

    sementes apomíticas, há formação de mais de um embrião, que podem ser oriundos,

    além do zigoto, de um conjunto de células do saco embrionário ou da nucela, com a

    mesma constituição genética do progenitor feminino.

    Mesmo que as técnicas de utilização de sementes apomíticas sejam

    semelhantes às da propagação sexuada, o método de propagação de plantas por

    apomixia é considerado por muitos autores como um processo de propagação

    assexuada. Esse processo é muito comum em plantas cítricas, e sua utilização é limitada

    à obtenção de clones novos ou clones nucelares a partir de plantas que produzem

    sementes poliembriônicas (Fig. 2 e 3).

    Figura 2: Estrutura de sementes monoembriônicas (à esquerda) e poliembriônica (à direita)

    Fonte: Adaptado de Fachinello (2000)

    Figura 3: Formação dos embriões numa semente embriônica

    Fonte: Adaptado de Fachinello (2000)

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 8

    Na propagação por sementes, é comum o uso do termo seedling para designar

    plantas jovens propagadas desse modo, que poderão ser utilizadas como porta-enxertos

    ou como pés-francos.

    A reprodução sexuada é o principal mecanismo de multiplicação das plantas

    superiores e de, praticamente, todas as angiospermas. A população proveniente da

    reprodução sexuada apresenta variabilidade genética, devido à segregação e à

    recombinação de genes.

    Em muitas espécies, esse tipo de propagação é o processo natural de

    disseminação. Mesmo que a variação das características entre os descendentes possa ser

    significativa, há casos em que a semente é a única forma de propagação viável.

    Quanto menor a manipulação de uma espécie pelo homem, tanto maior a

    significância desse tipo de reprodução, fato especialmente observado no caso de

    frutíferas nativas, pouco submetidas ao melhoramento genético.

    Em fruticultura, a propagação por sementes tem as seguintes finalidades:

    - Obter porta-enxertos ou cavalos.

    - Criar novas cultivares.

    - Formar mudas de espécies que suportam bem a propagação sexuada,

    conservando suas características.

    - Obtenção de clones nucelares (ou cultivares revigoradas, o que é comum em

    espécies cítricas).

    - Na obtenção de plantas homozigotas.

    - Na propagação de plantas que não podem ser multiplicadas por outro meio.

    A principal desvantagem da propagação por sementes, além da segregação

    genética nas plantas heterozigotas, que provoca dissociação de caracteres, é o longo

    período exigido por algumas plantas para atingir a maturidade. Contudo, existem

    exceções, como é o caso do maracujazeiro, cujo período improdutivo é semelhante entre

    plantas oriundas de propagação sexuada e assexuada.

    Uma das características da propagação por sementes é a variação que pode

    existir dentro de um grupo de plântulas. Na natureza, essa propriedade é importante,

    uma vez que torna possível a adaptação contínua de uma determinada espécie ao meio.

    Em cada geração, os indivíduos que estejam melhor adaptados a esse ambiente tendem a

    sobreviver e a produzir a geração seguinte.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 9

    A propagação por sementes é um método eficiente para produzir plantas livres

    de doenças. Tem sido observado que vírus, nematóides e outros parasitas deletérios

    (nocivos) são comumente expurgados pela linha reprodutiva próxima à meiose ou pela

    meiose, e que, no entanto, são transmitidos e continuam a acumular em indivíduos de

    um gene propagado vegetativamente. As sementes podem ser usadas como um filtro

    para algumas viroses, pois estas não se transmitem pela semente botânica, com algumas

    exceções.

    As vantagens e as desvantagens do uso da propagação sexuada em fruticultura:

    Plantas propagadas por sementes apresentam o fenômeno da juvenilidade, uma

    fase normalmente de longa duração, na qual a planta não responde aos estímulos

    indutores do florescimento. Plantas em estado juvenil tendem a apresentar

    características tais como a presença de espinhos, folhas lobuladas, ramos trepadores,

    fácil enraizamento e menor teor de RNA (ácido ribonucléico).

    Durante a juvenilidade, não há produção de frutos, o que acarreta um

    prolongamento do período improdutivo do pomar.

    O porte mais elevado pode representar uma desvantagem nas práticas de

    manejo do pomar, como na poda, no raleio, na colheita e em tratamentos fitossanitários.

    Além disso, a propagação sexuada pode induzir à desuniformidade das plantas e da

    produção, normalmente indesejadas em pomares comerciais.

    O desenvolvimento vigoroso e a maior longevidade das plantas, propagadas

    por sementes, podem estar associados à formação de um sistema radicular pivotante,

    mais vigoroso e mais profundo do que o sistema fasciculado, encontrado em plantas

    propagadas por estacas.

    Muitos agentes causais de doenças, como vírus, bactérias, fungos e fitoplasmas

    não são transmitidos por meio das sementes, de modo que plantas obtidas por

    propagação sexuada tendem a apresentar melhor condição fitossanitária.

    Mesmo que a longevidade de plantas propagadas por sementes seja maior, um

    inconveniente de sua utilização como porta-enxerto é o condicionamento da vida útil da

    copa a uma baixa longevidade do porta-enxerto. Isso ocorre na enxertia de ameixeira

    sobre pessegueiro, na qual a vida útil da ameixeira, normalmente de 30 anos, fica

    reduzida a 15 anos, que é a vida útil do pessegueiro (porta-enxerto).

    TÉCNICAS DE PROPAGAÇÃO SEXUADA

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 10

    Para o uso adequado da reprodução sexuada, alguns cuidados devem ser

    tomados, desde a escolha das plantas-matrizes até o manejo das mudas:

    - Escolha das plantas-matrizes

    As plantas-matrizes são aquelas destinadas ao fornecimento de sementes.

    Para a escolha de uma planta-matriz, devem-se considerar alguns critérios, tais

    como vigor, sanidade, regularidade de produção, qualidade e quantidade dos frutos,

    idade e representatividade da espécie. Além disso, é necessário que se escolham plantas

    com fenótipo o mais próximo possível de um padrão desejado.

    Características relacionadas ao hábito de ramificação, taxa de crescimento,

    resistência a pragas e doenças, e comportamento fenológico são parâmetros importantes

    na seleção de uma planta-matriz. Tais parâmetros são de suma importância quando se

    quer obter uma população relativamente uniforme, com características adequadas. Para

    tanto, é recomendável que se mantenha um bloco de plantas-matrizes no qual sejam

    registradas informações sobre esses parâmetros.

    No caso específico do pessegueiro, é desejável o uso de sementes provenientes

    de cultivares tardias ou de meia-estação, visto que as cultivares precoces apresentam

    menor período para o desenvolvimento do embrião. O uso de cultivares precoces, como

    matrizes, pode acarretar baixos percentuais de germinação, além da formação de

    plântulas anormais e com acentuada variação no porte.

    - Escolha dos frutos

    A exemplo da escolha das plantas-matrizes, a escolha dos frutos também deve

    obedecer a alguns critérios, como sanidade e maturação. Como regra geral, os frutos

    atacados por doenças, pragas, ou caídos no chão devem ser descartados, a fim de se

    evitar uma possível contaminação das sementes. Os frutos também devem ter atingido a

    maturação fisiológica, de maneira que as sementes encontrem-se completamente

    desenvolvidas.

    - Extração das sementes

    Geralmente, no momento da colheita, as sementes estão envoltas pelos frutos,

    que de acordo com suas características, são divididos em dois grandes grupos: secos e

    carnosos.

    Os frutos secos liberam as sementes por deiscência, ou por decomposição das

    paredes. Quando um fruto carnoso é formado por um ou mais carpelos, contendo uma

    ou mais sementes, como é o caso da uva, da maçã, da pêra, dos citros, do caqui, entre

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 11

    outros, é genericamente chamado de baga. Quando um fruto é formado por um único

    carpelo, que contém no seu interior uma só semente, como o pêssego e a ameixa, é

    chamado de drupa.

    Para extração das sementes de frutos carnosos, esses devem estar maduros, a

    fim de facilitar a separação da polpa e da semente. Deve-se tomar cuidado para não

    deixar restos de polpa aderidos à semente, porque uma vez decompostos e fermentados,

    podem provocar sérios danos ao poder germinativo.

    Caroços com polpa aderida e mantidos amontoados podem ter sua temperatura

    aumentada, em virtude da fermentação, a ponto de prejudicar a viabilidade do embrião,

    reduzindo o poder germinativo das sementes. Por sua vez, em algumas espécies, uma

    ligeira fermentação da polpa pode facilitar a retirada das sementes, como acontece com

    caroços de pêssego.

    O intervalo compreendido entre a coleta das sementes e a semeadura deve ser o

    menor possível, para permitir alto percentual de germinação. Entretanto, se necessário,

    o armazenamento dessas sementes pode ser feito em locais úmidos e com baixas

    temperaturas, para que haja a maturação fisiológica ou a superação da dormência. Essa

    prática é muito utilizada em caroços de pessegueiro e em sementes de macieira e de

    pereira.

    - Escolha das sementes

    Entre outros fatores, devem-se considerar, principalmente, o tamanho e a

    sanidade das sementes. Dentro de uma espécie, geralmente sementes de maior tamanho

    apresentam maior quantidade de substâncias de reserva, com reflexos positivos no vigor

    da planta. Com relação à sanidade, sementes atacadas por pragas ou doenças podem ter

    a germinação comprometida, bem como a sanidade das plântulas.

    - Conservação das sementes

    A finalidade da conservação das sementes é manter sua viabilidade pelo maior

    tempo possível, permitindo a semeadura na época mais adequada/ e garantindo a

    manutenção do germoplasma na forma de semente. A viabilidade após o

    armazenamento é resultante dos seguintes fatores:

    Viabilidade inicial na colheita - Determinada por fatores de produção e

    métodos de manejo. No caso de sementes que não requerem superação de dormência, o

    armazenamento pode, no máximo, manter a qual idade das mesmas.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 12

    Taxa de deterioração das sementes - Também denominada de taxa de trocas

    fisiológicas ou envelhecimento. Essa taxa é determinada pelo potencial genético de

    conservação da espécie e pelas condições de armazenamento, principalmente

    temperatura e umidade.

    A durabilidade da semente é bastante variável com a espécie. Podem ser

    encontradas espécies cujas sementes perdem rapidamente seu poder germinativo em

    condições naturais, como outras que mantêm o poder germinativo por longos períodos.

    As sementes de citros, armazenadas em condições normais, perdem

    rapidamente seu poder germinativo devido à desidratação dos tecidos. Sementes com

    embriões dormentes, como macieira, pereira e videira, possuem maior capacidade de

    conservação, mesmo em ambiente natural.

    É conveniente lembrar que, quanto maior for o período de armazenamento da

    semente, maior será o consumo das substâncias de reserva, resultando assim numa

    redução do vigor do embrião.

    As características das sementes podem determinar seu potencial de

    conservação: sementes amiláceas geralmente apresentam maior longevidade do que

    sementes oleaginosas. Além disso, sementes com embriões dormentes e envoltório

    impermeável apresentam maior tempo de conservação.

    Em se tratando de condições ambientais, a relação umidade/temperatura é

    muito importante na redução da taxa de respiração. Para a maioria das espécies,

    ambientes com baixa umidade e baixas temperaturas oferecem condições adequadas

    para prolongar a conservação das sementes. Além disso, a modificação da atmosfera de

    armazenamento, especialmente na redução do teor de oxigênio, mostra-se favorável à

    manutenção do poder germinativo da semente.

    No que se refere à umidade da semente, acima de 8% a 9% de umidade, insetos

    podem entrar em atividade; acima de 12 % a 14%, fungos podem tornar-se ativos;

    acima de 18% a 20%, pode ocorrer aquecimento devido à fermentação; e acima de 40%

    a 60%, ocorre germinação. Caso a semente seja tolerante à desidratação, é importante

    que seja mantida em baixa umidade. As baixas temperaturas prolongam a vida das

    sementes, sendo que em temperaturas de 0° a 45°C, cada diminuição de 5°C duplica a

    vida de armazenamento dessas sementes.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 13

    - Superação da dormência

    O tratamento para superação da dormência varia de acordo com o tipo de

    dormência que a semente apresenta.

    - Aumento da permeabilidade dos envoltórios

    É utilizado quando a causa da dormência é a impermeabilidade do tegumento

    da semente. A escarificação é o método indicado para tornar os envoltórios da semente

    mais permeáveis à entrada de água e às trocas gasosas, bem como facilitar a emergência

    da radícula ou da plúmula, podendo ser feita por métodos físicos, químicos ou

    mecânicos.

    Método físico - Consiste na imersão da semente em água quente, entre 60º e

    80° C, durante 10 minutos. A temperatura elevada diminui a resistência dos envoltórios

    e facilita a germinação.

    Método químico - Consiste no tratamento das sementes com hidróxido de

    sódio ou de potássio, formol e ácido clorídrico ou sulfúrico, geralmente por um período

    entre 10 minutos até 6 horas, conforme a espécie. Assim, os tegumentos são

    desgastados e a germinação é facilitada. É importante que sejam eliminados todos os

    resíduos de ácido que, aderidos à semente, podem prejudicar a germinação, o que pode

    ser feito por meio de lavagem em água corrente.

    Método mecânico - Esse método consiste no uso de uma superfície abrasiva,

    agitação em areia ou pedra ou na quebra dos envoltórios, como no caso das sementes de

    pessegueiro, que podem ser extraídas quebrando se os caroços com um torno manual,

    deve-se ter cuidado para que o embrião não seja danificado. As sementes escarificadas

    tornam se mais sensíveis ao ataque de patógenos.

    - Maturação do embrião

    Destina-se a superar a dormência da semente, por meio do amadurecimento do

    embrião, ou do estabelecimento de um balanço hormonal favorável à germinação. Isso é

    obtido pelo armazenamento das sementes em ambiente úmido e frio, por um

    determinado período (estratificação).

    Geralmente, o meio adequado para a estratificação é aquele que retém

    adequado teor de umidade e não contém substâncias tóxicas. Como exemplos, podem-se

    citar o solo, a areia lavada, o musgo, a vermiculita e a serragem, ou a mistura desses.

    Camadas de sementes são intercaladas com camadas de substrato à temperatura

    ambiente, ou em câmaras refrigeradas, com temperaturas entre 0°C e 10°C, o período de

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 14

    armazenamento varia conforme a espécie, sendo que para a maioria, esse período é

    compreendido entre 1 e 4 meses.

    Durante a estratificação, deve-se ter cuidado com o teor de umidade do

    substrato e com a eventual germinação das sementes, antes que o período previsto para

    a estratificação das mesmas se expire.

    Em variedades precoces, nas quais o embrião não está completamente

    desenvolvido no período em que ocorre a maturação do fruto, muitas vezes é necessário

    cultivar o embrião em meio de cultura adequado, permitindo que seu desenvolvimento

    seja completado. Esse processo é utilizado em cultivares precoces de pessegueiro que se

    destinam ao melhoramento genético, bem como no melhoramento genético de uvas sem

    sementes.

    - Manejo das sementes e das sementeiras

    Antes da semeadura em viveiro, é importante que se adote um tratamento das

    sementes com fungicida ou hipoclorito de sódio. Assim, é possível minimizar a

    ocorrência de doenças que possam vir a prejudicar as plântulas.

    A sementeira deve estar localizada fora da área de produção, de preferência em

    terreno bem drenado, com pequena declividade, com plena exposição à luz e boa

    disponibilidade de água para irrigação. A má drenagem favorece a ocorrência de uma

    doença denominada dumping off que afeta a germinação e a sobrevivência das plantas

    jovens, provocando queda perece. Na verdade, essa doença é causada por fungos

    pertencentes aos gêneros Pythium, Rhizoctonia e Phytophthora, agentes também

    causadores de outras doenças de sementeiras.

    É recomendável o uso de áreas submetidas a uma prévia rotação de culturas,

    como forma de reduzir o potencial de inóculo de doenças. Não é aconselhável o uso de

    uma mesma área como sementeira, por mais de 2 anos.

    O tratamento do solo é útil para reduzir a incidência de patógenos nas futuras

    plantas, especialmente considerando-se a sensibilidade das mesmas no estágio de

    plântula. Esse tratamento pode ser feito com o uso de solarização (tratamento que

    consiste na cobertura do solo com filme plástico, sob insolação, para aumento da

    temperatura), uso de calor (por aquecimento direto, vapor d'água ou tratamento em

    autoclaves de alta pressão), uso de fungicidas ou de agentes de controle biológico

    (Trichoderma, por exemplo).

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 15

    Em alguns casos, pode ocorrer a esterilização completa do solo, o que pode ser

    inadequado, considerando-se que organismos benéficos também são eliminados pelos

    tratamentos. O tratamento do solo será tanto mais eficiente quanto melhor a qualidade

    sanitária do substrato empregado.

    A semeadura pode ser feita em covas, diretamente na embalagem, a lanço ou

    em linha. A semeadura em linha é a mais utilizada em grandes viveiros de pessegueiro e

    de citros. A quantidade de sementes a ser utilizada deve ser de 3 a 4 vezes o número

    desejado de plantas, para permitir uma seleção rigorosa. Contudo, deve-se evitar uma

    densidade muito elevada de plântulas, para que não ocorra redução do tamanho e do

    vigor, obtendo-se plantas com sistema radicular pouco desenvolvido.

    A cobertura das sementes pode ser feita com solo ou areia, e a cobertura do

    canteiro com uma fina camada de palha. O objetivo da cobertura com palha é impedir o

    crescimento de plantas invasoras e conservar a umidade do solo. A palha deve ser

    removida pouco tempo antes da emergência das plântulas.

    Cuidados especiais devem ser dispensados no que se refere à irrigação,

    considerando-se a exigência de água para o processo da germinação e a sensibilidade

    das plântulas à falta de umidade do solo.

    A irrigação deve ser feita por aspersão, com uso de regadores ou de qualquer

    outro sistema de irrigação, no caso de sementeiras de maior porte. O controle da

    umidade pode ser feito por avaliação visual, uso de trados, tensiômetros ou pela

    estimativa da evapotranspiração.

    O controle de plantas invasoras pode ser feito por métodos químicos' ou

    mecânicos. A distância entre as linhas deve possibilitar a utilização de implementos

    agrícolas, e o uso de herbicidas pode ser feito em pré ou pós-emergência. Para definir a

    forma de controle das plantas invasoras, deve-se considerar a viabilidade econômica de

    cada método, e a sensibilidade das plantas aos herbicidas.

    De acordo com a espécie e o tempo de permanência na sementeira, é

    aconselhável proceder a adubação de correção e de cobertura. Conforme a exigência da

    espécie, é importante que o pH seja corrigido, com o uso de calcário.

    Se a adubação nitrogenada for necessária, deve ser feita com cautela, pois

    aplicações em excesso podem criar um desequilíbrio nutricional, que resulta em excesso

    de crescimento e elevada suscetibilidade a pragas e doenças. Por sua vez, elevadas

    concentrações de sais, produzidas por excesso de fertilizantes, inibem a germinação.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 16

    Dada à sensibilidade das plântulas e a elevada densidade na sementeira, é

    necessário que se adotem medidas eficientes de monitoramento e controle de pragas e

    doenças. A partir da sementeira, assim que as mudas atinjam um crescimento

    satisfatório, são submetidas a uma seleção por tamanho, visando obter-se um padrão

    adequado das plantas destinadas ao viveiro, quando estarão colocadas em maiores

    espaçamentos.

    No viveiro, as plantas poderão ser utilizadas como porta-enxerto ou como

    mudas destinadas à formação de pomares. No caso de mudas, é necessário selecionar as

    plantas próximas a um padrão característico da planta-mãe.

    2.2. PROPAGAÇÃO ASSEXUADA

    A propagação assexuada, vegetativa ou agâmica é o processo de multiplicação

    que ocorre por mecanismos de divisão e diferenciação celular, por meio da regeneração

    de partes da planta-mãe.

    Esse tipo de propagação baseia-se nos seguintes princípios:

    Totipotencialidade

    As células da planta contêm toda a informação genética necessária para a

    perpetuação da espécie (totipotencialidade).

    Regeneração de células

    As células somáticas e os tecidos apresentam a capacidade de regeneração de

    órgãos adventícios.

    A propagação vegetativa consiste no uso de órgãos da planta, sejam eles

    estacas da parte aérea ou da raiz, gemas ou outras estruturas especializadas, ou ainda

    meristemas, ápices caulinares, calos e embriões. Assim, um vegetal é regenerado a

    partir de células somáticas, sem alterar o genótipo, devido à multiplicação mitótica.

    O uso desse tipo de propagação permite a formação de um clone, grupo de

    plantas provenientes de uma matriz em comum, ou seja, com carga genética uniforme e

    com idênticas necessidades edafodimáticas, nutricionais e de manejo.

    Enquanto em fruticultura a propagação sexuada tem importância restrita, a

    propagação assexuada é largamente utilizada na produção de mudas. Isso se deve à

    necessidade de se garantir a manutenção das características varietais, que determinam o

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 17

    valor agronômico do material a ser propagado, em espécies de elevada heterozigose,

    como as frutíferas.

    A utilização da propagação assexuada diz respeito à multiplicação, tanto de

    porta enxertos, quanto da cultivar-copa. A importância e a viabilidade da utilização da

    propagação assexuada são uma função da espécie ou da cultivar, da capacidade de

    regeneração de tecidos (raízes ou parte aérea), do número de plantas produzidas, do

    custo de cada processo e da qualidade da muda formada.

    De modo geral, o uso da propagação assexuada justifica-se nos seguintes casos:

    - Propagação de espécies e cultivares que não produzem sementes viáveis,

    como, por exemplo, limão-tahiti, laranja-de-umbigo e figueira;

    - Perpetuação de clones, pois as frutíferas são altamente heterozigotas e

    perderiam suas características com a propagação sexuada;

    A escolha do método a ser utilizado depende da espécie e do objetivo do

    propagador. Basicamente, um bom método de propagação deve ser de baixo custo, fácil

    execução e proporcionar um elevado percentual de mudas obtidas.

    Dada a sua larga utilização na multiplicação de plantas frutíferas, a propagação

    assexuada apresenta diversas vantagens, que a torna, muitas vezes, mais viável que a

    propagação sexuada.

    São vantagens da propagação assexuada:

    - Permitir a manutenção do valor agronômico de uma cultivar ou clone, pela

    perpetuação de seus caracteres;

    - Possibilitar que se reduza a fase juvenil, uma vez que a propagação vegetativa

    mantém a capacidade de floração pré-existente na planta-mãe. Assim, há redução do

    período improdutivo;

    - Permitir a obtenção de áreas de produção uniformes devido à ausência de

    segregação genética. Assim, plantas obtidas por propagação assexuada apresentam

    maior uniformidade fenológica, bem como resposta idêntica aos fatores ambientais, o

    que permite uma definição mais fácil das práticas de manejo a serem executadas no

    futuro pomar;

    - Permitir a combinação de clones, especialmente quando a enxertia é utilizada;

    Como desvantagens da propagação assexuada, podem ser apontadas:

    -A possibilidade de transmissão de doenças, especialmente as causadas por

    vírus e fitoplasmas;

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 18

    - A possibilidade de contaminação do material utilizado na propagação

    vegetativa (estacas, ramos e gemas) por vetores ou pelo uso de ferramentas;

    - O uso prolongado das mesmas plantas-matrizes aumenta o risco de

    propagação de doenças.

    - Os patógenos associados à propagação vegetativa incluem fungos

    (Phytophthora sp., Pythium sp., Rhizoctonia sp.), bactérias (Erwinia sp., Pseudomonas

    sp. e Agrobacterium tumefasciens), vírus e fitoplasmas.

    Ainda que a manutenção dos caracteres seja citada como uma vantagem, pode

    ocorrer, ao longo do tempo, uma mutação das gemas, podendo ser gerado um clone

    diferenciado e de menor qualidade que a planta-matriz. Entre plantas de um clone,

    podem ocorrer mudanças que resultam em degenerescência e variabilidade do mesmo.

    A exposição a um ambiente continuamente desfavorável pode conduzir à

    deterioração progressiva do clone, manifestada em perda gradual do vigor e da

    produtividade, ainda que o genótipo básico não se altere. A degenerescência do clone é

    causada, principalmente, por doenças de natureza virótica. O uso inadvertido das

    mesmas matrizes, sem que uma prévia indexagem tenha sido realizada, aumenta o risco

    de propagação de doenças e de degenerescência do done.

    Além disso, a replicação do DNA (ácido desoxirribonucléico), durante a

    divisão celular no meristema, pode resultar em alterações no genótipo e originar

    mutações. Na variabilidade de um clone, o efeito da mutação depende da taxa de

    mutação e da extensão que as células oriundas da célula mutante original ocupam dentro

    do meristema. Entretanto, como as células do meristema são relativamente estáveis e

    menos sujeitas a mutações, a significância das mutações, em boas condições

    fitossanitárias, é reduzida.

    A ausência de variabilidade gerada no clone pode levar a problemas na futura

    área de produção, aumentando o risco de danos em todas as plantas por problemas

    climáticos ou fitossanitários, uma vez que foram fixadas todas as características

    varietais e todas as plantas têm a mesma combinação genética.

    Geralmente, espécies frutíferas que se propagam, assexuadamente, são

    altamente heterozigotas e segregam amplamente, quando se reproduzem por via

    sexuada. Assim, a propagação assexuada é imprescindível em casos onde há interesse

    em se manter a identidade do genótipo, ou seja, obter-se um número infinito de plantas,

    com a mesma constituição genética, a partir de um único indivíduo.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 19

    A propagação assexuada é especialmente útil para manter a constituição

    genética de um clone1 ao longo das gerações.

    Um dos problemas sérios apresentados pela propagação vegetativa é o

    chamado envelhecimento dos clones, fenômeno causado pelo acúmulo de diversos tipos

    de vírus, responsáveis pela perda de vigor e da produtividade dos clones.

    Nesse caso, algumas das soluções que podem ser apontadas, são: o cultivo de

    meristemas, a termoterapia e podas drásticas na planta-matriz, a fim de estimular a

    produção contínua de brotações juvenis para propagações subsequentes, entre outros,

    bem como o uso associado desses métodos.

    Um meio de se preservar o clone e de se eliminar um vírus é proporcionado

    pelo cultivo de plântulas apomíticas, como tem sido usado em citrus, para obtenção de

    plântulas nucelares, que são a base de novas estirpes, livres de vírus, de variedades

    antigas que se encontram fortemente afetadas por viroses.

    Uma vez testados e aprovados, os clones podem ser mantidos em jardins

    clonais, que seriam a fonte de material vegetativo para uso subsequente, sem a

    necessidade de se coletar propágulos de indivíduos mais idosos e o consequente risco de

    transmissão de doenças. Esses jardins clonais devem ser mantidos em condições que

    impeçam a contaminação e que permitam esclarecer qualquer mudança em relação ao

    tipo original.

    Durante as diferentes fases do crescimento vegetativo de um clone, ocorrem

    milhares de divisões celulares. Quanto maior o período em que o clone é multiplicado,

    maior o risco de alterações genéticas.

    A propagação vegetativa dos indivíduos superiores, em grande escala,

    proporciona vantagens no manejo dos pomares, em função da uniformidade dos tratos

    culturais requeridos e da qualidade da matéria-prima produzida.

    Assim como na propagação assexuada, a escolha das matrizes é fundamental

    para o sucesso da propagação e para a qualidade da muda. As plantas-matrizes devem

    ser obtidas em órgãos oficiais de pesquisa (Embrapa, empresas estaduais de pesquisa,

    universidades, dentre outros) ou em empresas idôneas, e caso haja tecnologia adequada,

    no próprio Viveiro. Materiais importados devem ser submetidos a quarentena, atividade

    1 O clone é definido por Hartmann et ai. (1990) como "o material geneticamente uniforme derivado de um só

    indivíduo e que se propaga de modo exclusivo, por meios vegetativos como estacas, divisões ou enxertos". O clone

    também pode ser conceituado como "um grupo de organismos que descendem por mitoses de um antecessor

    comum". Como o fenótipo de um indivíduo é resultante da interação do genótipo com o ambiente, plantas de um

    mesmo clone podem ter diferentes aspectos, em função do clima, do solo e do manejo das plantas.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 20

    de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e de órgãos

    de pesquisa a ele vinculados.

    Uma vez obtido, o material deve ser testado (caso isso não tenha sido feito

    previamente), para verificar se não está contaminado por pragas ou doenças,

    principalmente por viroses. A verificação da ocorrência de virose numa planta matriz

    pode ser por meio de três técnicas:

    - Indexação por inoculação mecânica sobre plantas herbáceas.

    - Indexação por enxertia em plantas indicadoras.

    - Indexação por meio de testes sorológicos, como o teste de Elisa (Enzyme

    Linked Immunoabsorbant Assay).

    A obtenção de material livre de doenças pode ser feita por termoterapia

    (tratamento com ar quente a uma temperatura de 35°C a 43°C por um tempo variável

    entre 7 a 32 dias, dependendo da virose).

    A cultura de meristemas in vitro é outra técnica de larga utilização, sendo que

    os meristemas podem ser extraídos de plantas submetidas à termoterapia. A

    microenxertia é também outra técnica bastante eficiente, na qual se utiliza um

    meristema como enxerto (ou cavaleiro) sobre uma plântula, sob condições in vitro.

    A propagação assexuada pode ser realizada por meio de diversos métodos,

    sendo os principais:

    - Estaquia e microestaquia.

    - Enxertia e microenxertia.

    - Uso de estruturas especializadas.

    - Mergulhia.

    b.1. Estaquia

    Segundo Fachinello (2000) estaquia é o termo utilizado para denominar o

    método de propagação, no qual ocorre a indução do enraizamento adventício em

    segmentos destacados da planta-mãe que, uma vez submetidos a condições favoráveis,

    originam uma muda.

    Baseia-se no princípio de que é possível regenerar uma planta, a partir de uma

    porção de ramo ou folha (regeneração de raízes), ou de uma porção de raiz (regeneração

    de ramos). Assim, a partir de um segmento, é possível formar-se uma nova planta.

    Geralmente, as aplicações da estaquia são:

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 21

    - Multiplicação de variedades ou espécies com aptidão para emitir raízes

    adventícias.

    - Produção de porta-enxerto clonal.

    - Perpetuação de novas variedades oriundas de processos de melhoramento

    genético.

    Tipos de estaca:

    As estacas podem ser obtidas a partir do caule, raiz, folhas e gemas das plantas,

    sendo que as estacas caulinares são subdivididas em herbáceas, semilenhosas e

    lenhosas, dentre os tipos de caule, o que possui maior capacidade de enraizamento é o

    herbáceo, e quanto mais herbácea e nova for a estaca maior será sua capacidade de

    enraizamento. (WENDLING, 2002)

    A escolha do tipo de estaca a ser usado varia de espécie para espécie e, às

    vezes, em função da época, e a partir das necessidades do produtor.

    Para que a estaquia seja feita com sucesso, é necessário que se observem

    alguns aspectos:

    - Obtenção do material propagativo: No momento da coleta das estacas, deve-

    se selecionar como planta-matriz aquela que possui identidade conhecida, características

    peculiares da espécie ou da cultivar, além de apresentar ótimo estado fitossanitário,

    vigor moderado e não apresentar danos provocados por déficit hídrico, geadas ou outras

    intempéries. A planta-matriz deve estar numa condição nutricional equilibrada.

    A posição e o tipo de ramo, de onde serão obtidas as estacas, são variáveis

    conforme a espécie. Recomenda-se o uso de ramos de crescimento vigoroso. No caso de

    estacas lenhosas, pode ser utilizado o material descartado pela poda, para obtenção de

    material propagativo.

    - Época de coleta das estacas: A época do ano afeta o potencial de formação de

    raízes, especialmente em espécies de difícil enraizamento. Para cada espécie, são

    necessários testes para se verificar, empiricamente, qual a época mais adequada para a

    coleta das estacas. Essa época está mais relacionada com as condições fisiológicas da

    planta do que com um período fixo do ano. A princípio, desde que se disponha de

    estrutura com nebulização intermitente, a coleta de estacas pode ser feita em qualquer

    época.

    Preparo e manejo das estacas:

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 22

    Uma vez selecionados os ramos, é necessário que estes sejam levados a um

    galpão ou estrutura semelhante, onde as estacas serão preparadas. O preparo pode ser

    feito com tesoura de poda ou em se tratando de estacas lenhosas em grandes

    quantidades, com o uso de serras elétricas.

    Uma vez preparadas, as estacas devem ser mantidas em água até o momento de

    serem colocadas no substrato.

    O comprimento e o diâmetro das estacas variam conforme a espécie e o tipo

    de estaca: as lenhosas podem ter comprimento variável de 20 a 30 cm e diâmetro que,

    geralmente, se situa entre 0,6 e 2,5 cm; já as semilenhosas apresentam comprimento de

    7,5 a 15 cm, e estacas herbáceas podem ser ainda menores.

    Após o preparo, é conveniente a separação das estacas em grupos, conforme o

    tamanho. Isso permite a obtenção de lotes homogêneos de plantas, o que facilitará a

    realização de operações posteriores. É ainda recomendável a identificação dos lotes de

    estacas por cultivar, para se evitar a mistura posterior no viveiro.

    Em estacas semilenhosas ou de consistência mais herbácea, a presença de

    folhas favorece o enraizamento, provavelmente devido à produção de co-fatores do

    enraizamento nas folhas. Da mesma forma, em estacas lenhosas, a presença de gemas

    aumenta o percentual de enraizamento em diversas espécies.

    Por sua vez, a presença de folhas nas estacas representa uma superfície

    transpiratória cuja taxa de perda de água é aumentada em condições de elevada

    temperatura, normalmente observada nas épocas de coleta de estacas menos

    lignificadas. Por isso, é necessário o uso de nebulização nas estacas com folhas.

    Geralmente, são mantidas apenas 2 ou 3 folhas na parte superior da estaca.

    Quando as folhas forem muito grandes, podem ser cortadas ao meio, para

    facilitar o manejo e reduzir a perda de água.

    O corte superior da estaca deve ser reto e feito logo acima de uma gema e o

    inferior, logo abaixo em forma de bisel (inclinado). Essa recomendação é mais viável de

    ser seguida, quando é feito o preparo individual das estacas. Quando se trabalha com

    estacas lenhosas, com corte em feixes de 50 ou 100 estacas, o posicionamento do corte

    pode não ser o mais adequado.

    É possível o armazenamento das estacas lenhosas durante o inverno e, em

    alguns casos, esse procedimento permite a formação de calo ou de iniciais de raízes.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 23

    Para tanto, podem ser utilizados leitos aquecidos ou o simples armazenamento em

    substrato umedecido.

    Deve-se evitar a desidratação das estacas armazenadas, bem como acompanhar

    a brotação das mesmas, pois, caso contrário, ocorrerá uma perda de água, com prejuízos

    ao enraizamento. O tratamento com fitorreguladores pode ser feito ainda no

    armazenamento.

    Estaqueamento:

    O plantio das estacas pode ser feito em recipientes (sacos de plástico, vasos,

    baldes, caixas, entre outros), em estruturas de propagação ou diretamente no viveiro. O

    primeiro caso é aplicado para estacas com folhas (semilenhosas ou herbáceas), as quais

    necessitam de umidade constante sobre a folha.

    O plantio direto no viveiro pode ser adequado para estacas lenhosas,

    especialmente de espécies caducifólias, quando a manutenção da umidade propiciada

    pela chuva ou por irrigações esporádicas é suficiente. Essa prática, denominada

    enviveiramento, destina-se, principalmente, à propagação de plantas em larga escala e à

    Figura 4: Etapas da Estaquia em caule

    Fonte: Adaptado de de Ribeiro (2008)

    Figura 5: Etapas da Estaquia em folha

    Fonte: Adaptado de Ribeiro (2008)

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 24

    multiplicação de espécies ou cultivares de fácil enraizamento. Nesse caso, devem ser

    utilizadas áreas de solos profundos, bem drenados e com viabilidade de uso da

    irrigação.

    A profundidade de plantio é variável conforme o tipo de estaca, sendo que,

    para estacas de ramos, é aconselhável que dois terços sejam enterrados no substrato. No

    que se refere a estacas de raiz, é importante a manutenção dessas em profundidade de

    2,5 a 5,0 cm, na posição horizontal, para manter sua correta polaridade.

    (FACHINELLO, 2000)

    Como prevenção ao aparecimento de doenças, é recomendável a imersão das

    estacas em solução fungicida. Para aumentar a sobrevivência das estacas, pode-se

    misturar o fungicida com o fitorregulador durante o processo de tratamento das mesmas.

    No momento do plantio, é importante garantir uma boa aderência do substrato

    à estaca, uma vez que grandes espaços porosos podem aumentar a desidratação desta.

    Substrato:

    Por ser um dos fatores de maior influência, especialmente no caso de espécies

    de difícil enraizamento, deve ser dada atenção especial à escolha do substrato. Para cada

    espécie, é necessário verificar, empiricamente, qual o melhor substrato (ou combinação

    de substratos). Um bom substrato deve proporcionar retenção de água suficiente, para

    prevenir a dessecação da base da estaca e, quando saturado (especialmente no caso de

    nebulização intermitente), deve manter uma quantidade adequada de espaço poroso,

    para facilitar o fornecimento de oxigênio, indispensável para a iniciação e o

    desenvolvimento radicular, e para a prevenção do desenvolvimento de patógenos na

    estaca.

    Deve-se, ainda, optar por substratos que não sejam fontes de inóculo de

    organismos saprófitos. Além da vermiculita, da casca de arroz carbonizada, da areia,

    etc., outros substratos, como o musgo turfoso, o musgo esfagníneo e a água poderão ser

    utilizados.

    No caso de utilização da água, é necessário um bom sistema de oxigenação,

    para permitir que as raízes se desenvolvam.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 25

    b.2. Enxertia

    A enxertia é uma forma de propagação

    assexuada de vegetais superiores, na qual se

    colocam em contato duas porções de tecido

    vegetal, de tal forma que se unam e,

    posteriormente, se desenvolvam, originando uma

    nova planta (HARTMANN et al., 1990).

    Uma planta propagada por enxertia é

    composta, basicamente, de duas partes (Figura 6):

    o enxerto ou garfo e o porta-enxerto ou cavalo,

    ainda que eventualmente possa ser utilizada uma

    porção intermediária ao enxerto e ao

    portaenxerto, chamada de interenxerto, enxerto

    intermediário ou filtro.

    Para que se tenha sucesso com a propagação de plantas por meio da enxertia, é

    necessário que ocorra um bom contato da região cambial de ambas as partes enxertadas. A

    região cambial é formada por um tecido delgado da planta, situado entre a casca (floema) e

    a madeira (xilema) e composto por células meristemáticas capazes de dividirem-se e

    formarem novas células.

    Diversas espécies frutíferas são propagadas comercialmente por enxertia, como o

    pessegueiro, a ameixeira, a nectarineira, a macieira, a pereira, a videira, os citros em geral, a

    mangueira, o caquizeiro, entre outros

    Vantagens:

    Dentre as diversas vantagens que a enxertia nos apresenta, podemos considerar

    as seguintes (JÚNIOR, 2009):

    - Redução do porte das plantas em geral, o que constitui considerável

    vantagem, notadamente em relação às árvores frutíferas de alto porte, de vez que, com

    isso, a colheita do produto torna-se mais fácil, assim como os tratos culturais relativos à

    poda e combate às pragas e moléstias, etc.

    - Maior produtividade, melhoria nas qualidades gustativas, em aspecto, etc.

    - Possibilidade de transformar plantas estéreis em produtivas, inoculando-lhes

    ramos ou gemas frutíferas.

    Figura 6: planta propagada por enxertia

    Fonte: Adaptado de Fachinello, 2000)

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 26

    - Cultivar certas plantas em solos que lhe são completamente impróprios, como

    o caso da cultura da pereira enxertada sobre marmeleiro- em terras úmidas, assim como

    a do marmeleiro sobre o pilriteiro em solos pedregosos.

    - Assegurar as características da planta matriz (a nova planta produzirá flores e

    frutos igual, ou melhor, como a que deu origem);

    - Assegurar a precocidade na frutificação (árvores frutíferas enxertadas

    produzem muito mais cedo do que aquelas cultivadas a partir de sementes, devido que a

    parte enxertada provém de um adulto que já está em sua fase reprodutiva);

    - Maior ganho genético no melhoramento de plantas perenes propagadas

    vegetativamente: toda a variância genética pode ser aproveitada, incluindo a aditiva,

    dominante e epistática. A partir da obtenção de um genótipo superior, geralmente

    heterozigótico, estas características favoráveis seriam transmitidas vegetativamente para

    as gerações posteriores, resultando em ganho de seleção anual (GSa) maior do que as

    propagadas por sementes, devido a herdabilidade (h2) maior e ao número de gerações

    de seleção necessárias.

    União entre enxerto e porta-enxerto:

    Para uma perfeita união entre enxerto e porta-enxerto, é necessário que ocorra

    uma seqüência de eventos, na seguinte ordem:

    - Primeiro passo

    Quando se colocam em contato os tecidos cambiais do enxerto e porta enxerto,

    ambos com grande capacidade meristemática, ocorre multiplicação desordenada de

    células, irregularmente diferenciadas e agrupadas num tecido denominado calo.

    A temperatura e a umidade podem estimular a atividade celular dos tecidos

    envolvidos, sendo que o aumento da temperatura, até UIT' determinado limite, favorece

    a divisão celular. A umidade é essencial à divisão celular, uma vez que em células ou

    em tecidos desidratados não há divisão. Existem outros fatores que também influem na

    formação de calo, como o potencial genético, a idade dos tecidos, os patógenos, etc.

    - Segundo passo

    Com a multiplicação das células, ocorre um entrelaçamento das mesmas,

    formando um tecido de calo comum a ambas as partes.

    - Terceiro passo:

    Há uma diferenciação das células em novas células cambiais, promovendo uma

    união com o câmbio original do enxerto e porta enxerto.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 27

    - Quarto passo:

    O novo câmbio produz novos tecidos vasculares, que permitem o fluxo normal

    de água e de nutrientes. Com isso, está formada a união entre enxerto e porta enxerto.

    Deve-se ressaltar que, durante a cicatrização do ponto de enxertia, não há

    mistura de conteúdos celulares, pois as células produzidas mantêm suas características,

    sejam provenientes do enxerto ou porta enxerto.

    Técnicas de enxertia

    Quanto ao método utilizado, existem três tipos de enxertia: enxertia de

    borbulhia, enxertia de garfagem e enxertia de encostia. As demais são variações desses

    tipos (chamadas formas).

    b.2.1. Borbulhia ou enxerto de gema:

    É o processo que consiste na justaposição de uma única gema sobre um porta

    enxerto enraizado. As borbulhas podem ser destacadas com um pouco de lenho,

    tornando-as mais resistentes e a extração mais simples.

    Recomenda-se que a enxertia por borbulhia seja realizada a uma altura de 5 a

    20 cm do nível do colo do cavalo, de acordo com a espécie, podendo ser realizada

    também em qualquer ponto da planta. Uma condição essencial para se efetuar a

    borbulhia é que o porta enxerto esteja desprendendo a casca.

    Normalmente, a borbulhia é realizada em plantas jovens ou em ramos mais

    finos de plantas maiores (de 0,5 a 2,5 cm de diâmetro, geralmente o diâmetro de um

    lápis). Existem diversas modalidades de enxertia por borbulhia, sendo a borbulhia em T

    normal e em T invertido as principais.

    Figura 7: Esquema geral da enxertia por borbulhia

    Fonte: Jacomino, 2012

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 28

    - Enxertia em T normal:

    Essa forma é bastante utilizada na propagação de espécies frutíferas

    principalmente cítricas e rosáceas.

    O porta-enxerto deve apresentar

    um diâmetro de 6 a 8 mm (diâmetro de

    um lápis, no qual, com o auxílio de um

    canivete, faz-se uma incisão na forma de

    T, ou seja, faz-se um corte vertical com

    aproximadamente 3 cm de comprimento e,

    na extremidade superior, um corte

    horizontal. O escudo ou gema é retirado,

    segurando-se o ramo em posição

    invertida. Prende-se o escudo lateralmente

    ou pelo pecíolo, levanta-se a casca com o

    dorso da lâmina e introduz-se a borbulha.

    Corta-se o excesso e amarra-se de cima

    para baixo.

    Os cortes devem ser feitos a uma altura de 5 a 25 cm do solo, cortando-se

    somente a casca que será desprendida do lenho. Uma altura de corte muito baixa poderá

    ocasionar a contaminação no local da enxertia, bem como gerar um futuro enraizamento

    da cultivar-copa. Por sua vez, uma grande altura de corte implica maior superfície de

    retirada de brotações do porta enxerto e maior risco de quebra no ponto de enxertia.

    - Enxertia em T invertido:

    A enxertia de T invertido é idêntica à forma anterior, diferindo dessa apenas

    quanto à forma de incisão no porta-enxerto. Nesse caso, o corte horizontal é feito na

    extremidade inferior do corte vertical, daí a denominação de T invertido.

    Esse tipo de inserção apresenta algumas vantagens com relação ao anterior. Por

    exemplo, confere maior resistência ao broto no primeiro estágio de crescimento e

    dificulta a entrada de água, tanto proveniente da chuva, quanto da exsudação de seiva.

    O excesso de água no ponto da enxertia causa apodrecimento da gema. A

    amarração deve ser feita de baixo para cima, para impedir que a gema seja empurrada

    para fora do corte e evitar a penetração de água.

    Figura 8: Esquema de borbulhia em T normal

    Fonte: Jacomino, 2012

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 29

    b.2.2. Enxertia de garfagem

    É o processo que consiste em se soldar um pedaço de ramo destacado (enxerto

    ou garfo) sobre outro vegetal (porta-enxerto) de maneira a permitir a união dos tecidos e

    o seu desenvolvimento. O garfo difere da borbulha por possuir normalmente mais de

    uma gema.

    A época normal da garfagem para as plantas de folhas caducas se dá no período

    de repouso vegetativo (inverno) e nas folhas persistentes, dependendo da espécie, na

    primavera, verão e outono.

    Principalmente para espécies lenhosas, é recomendada a colocação de um saco

    plástico amarrado com barbante na base do porta enxerto, o que permite maior umidade

    relativa do ar e temperatura até o pegamento do enxerto.

    Os principais tipos de garfagem são os seguintes: meia-fenda cheia; meia-fenda

    esvaziada; fenda incrustada; fenda completa; dupla garfagem; inglês simples e inglês

    complicado.

    Em todos os tipos citados, o porta enxerto tem a sua parte superior decapitada.

    O enxerto de garfagem é feito 20 cm, aproximadamente, acima do nível do solo ou

    abaixo dele, na raiz, na região do coleto. A região do ramo podada com a tesoura é a

    seguir alisada com o canivete. Para o sucesso da enxertia, é essencial que a região

    cambial do garfo seja colocada em contato íntimo com a do cavalo.

    Figura 9: Esquema de Borbulhia em T invertido Fonte: Jacomino, 2012

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 30

    - Fenda cheia

    Faz-se o cavalo numa fenda, no sentido do raio,

    até atingir a medula. A fenda estende-se por 2 a 3 cm, no

    sentido do comprimento do cavalo. O garfo é preparado na

    forma de bisel e introduzido na incisão. O bisel deve ter

    aproximadamente o mesmo comprimento da incisão

    lateral.

    - Fenda esvaziada

    A incisão do cavalo é semelhante ao anterior, dele

    diferindo por praticar duas incisões convergentes, de modo

    a retirar uma cunha de madeira, esvaziando a incisão. O

    garfo é preparado do mesmo modo que o anterior. É um

    tipo mais aconselhável para espécie de lenho duro.

    - Fenda inscrustada

    Difere da anterior por não atingir a medula. É utilizada quando os garfos são de

    pequeno diâmetro. O cavalo e o garfo são preparados à semelhança da meia-fenda

    esvaziada.

    - Fenda completa

    Podado o cavalo, alisado o corte, faz-se com o canivete uma fenda

    perpendicular, no sentido do diâmetro, até aprofundar-se 2 a 3 cm. A fenda completa

    pode ser cheia ou esvaziada. O garfo, que deve ter o mesmo diâmetro do cavalo, é

    preparado na forma de cunha e introduzido na fenda.

    Figura 10: Fenda cheia

    Fonte: Jacomino, 2008

    FIGURA 11- Esquema da garfagem em fenda incrustada.

    Fonte: JACOMINO, 2008

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 31

    - Dupla garfagem

    É utilizado quando o garfo é de diâmetro inferior ao raio do cavalo. Usam-se

    dois garfos, cada um introduzido em uma das extremidades. O método é igual ao da

    fenda completa.

    - Inglês simples

    Para a prática desse tipo de enxerto, é necessário que o cavalo e o cavaleiro

    apresentem o mesmo diâmetro. A operação é bastante fácil e consiste tão somente no

    corte em bisel do cavalo e no cavaleiro. Unem-se as partes e em seguir amarram-se.

    - Inglês Complicado

    A operação é semelhante ao inglês simples, mas, neste tipo, faz-se uma incisão

    longitudinal em ambas as partes a unir. A incisão será feita no terço inferior do garfo, se

    a do cavalo for feita no terço superior, para que haja perfeito encaixe entre as fendas.

    O inglês complicado dá ao enxerto maior penetração de uma parte sobre a

    outra, e, portanto, maior fixação.

    A B

    FIGURA 12- (A) Garfagem em fenda completa. (B) Dupla garfagem.

    Fonte: JACOMINO, 2008

    A B

    FIGURA 13- (A) Garfagem em ingles simples (B) Garfagem em ingles complicado.

    Fonte: JACOMINO, 2008

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 32

    b.2.3. Encostia

    Também chamada de enxertia de aproximação, consiste na união lateral de

    duas plantas com sistemas radiculares independentes, de modo que o enxerto e o porta

    enxerto sejam mantidos por seus sistemas radiculares até que a união esteja

    completamente formada.

    É o método mais simples de enxertia, porém é muito pouco utilizado

    comercialmente.

    Os principais tipos de encostia podem ser resumidos em lateral e no topo.

    Tanto lateralmente como no topo, a encostia pode ser simples ou inglesa e inarching.

    - Lateral simples e inglesa

    Pratica-se no cavalo e no ramo-

    enxerto um entalhe, retirando-se parte do

    alburno. Aproximam-se as duas partes,

    ajustando as superfícies. Fixam-se as partes

    com amarrilhos, no caso da lateral simples.

    Na lateral inglesa, procede-se da

    mesma maneira, porém, sobre o entalhe do

    cavalo e do cavaleiro, faz-se uma incisão

    oblíqua. Abre-se o entalhe, unindo-se as

    partes. A seguir, amarra-se.

    - No topo

    Na encostia simples no topo, poda-se o cavalo

    a determinada altura e, com o canivete, faz-se um corte

    em bisel em ambos os lados. O ramo- enxerto sofre

    uma incisão oblíqua até o lenho. Encaixa-se sobre o

    bisel do cavalo e amarra-se.

    A inglesa é preparada do mesmo modo.

    Apenas recebe uma incisão a mais tanto no cavalo

    como no cavaleiro, para que haja maior fixação.

    FIGURA 14- Esquema da encostia lateral.

    Fonte: JACOMINO, 2008

    FIGURA 15- Esquema da encostia

    inglesa e da utilização de prendedores

    de auxílio.

    Fonte: JACOMINO, 2008

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 33

    - Inarching

    Inarching ou subenxertia vem a ser um tipo de encostia para revigorar uma

    planta em decadência, devido à incompatibilidade entre cavalo e cavaleiro.

    O processo consiste em plantar, ao lado do tronco da árvore, uma muda que

    será ligada a ela. No tronco, faz-se uma incisão e, no ápice da muda, um bisel. Ajusta-se

    a região e fixa-se com um prego ou cravo de madeira.

    b.3. Mergulhia

    A mergulhia é um processo de multiplicação assexuada, em que a planta a ser

    originada só é destacada da planta-mãe após ter formado seu próprio sistema radicular.

    Essa técnica é recomendada para espécies com dificuldades de multiplicação

    por outros métodos clonais ou mesmo por sementes.

    Baseia-se no princípio de que, pelo sombreamento parcial ou total do ramo ou

    de outra parte da planta, são proporcionadas condições de umidade, aeração e ausência

    de luz, que favorecem a emissão de raízes (FACHINELLO, 2000).

    Algumas técnicas de condicionamento da planta, tais como o anelamento ou a

    dobra do ramo no local da mergulhia, provocam a redução da velocidade de transporte

    de carboidratos e fitorreguladores, aumentando as possibilidades de formação de raízes

    no local.

    A mergulhia é feita na primavera ou no fim do verão, ou seja, durante ou no

    final da estação de crescimento das plantas. Na propagação comercial de plantas

    frutíferas, a mergulhia é um processo bastante utilizado na obtenção de porta enxertos

    de macieira, pereira e marmeleiro, ainda que possa ser usada, também, em casos onde as

    FIGURA 16: Esquema da encostia Inarching ou subenxertia.

    Fonte: Adaptado de Jacomino, 2008

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 34

    plantas apresentam dificuldade de formar raízes nas estacas, ou não possam ser

    propagadas por outros métodos.

    A mergulhia é um processo trabalhoso, que exige grande quantidade de mão de

    obra, tendo por isso um custo mais elevado do que os outros métodos de multiplicação

    vegetativa. Existem espécies, como a framboeseira e a amoreira, nas quais a mergulhia

    ocorre naturalmente, sendo, por isso, a principal forma de propagação.

    No processo de mergulhia (Figuras 5 a 9), a muda a ser formada só é separada

    da planta-mãe após ter formado um sistema radicular próprio. Existem diversas formas

    de propagar plantas por mergulhia, porém as mais utilizadas são a mergulhia contínua e

    a mergulhia de cepa, muito utilizada na cultura da macieira e pereira para obtenção de

    porta enxertos clonal.

    - Mergulhia simples normal

    Consiste em curvar-se um ramo, cobrindo uma parte com solo, deixando sua

    extremidade descoberta e em posição vertical.

    Para que o ramo não seja deslocado pela ação do vento ou de outros agentes,

    deve-se fixá-lo ao solo, pois o movimento do ramo poderá danificar as raízes,

    prejudicando o enraizamento. Assim que o ramo formar raízes suficientes para sua

    manutenção, deve- se desligá-lo da planta-mãe.

    - Mergulhia simples de ponta

    É semelhante à mergulhia simples normal, mas nesse caso, a ponta ou coberta

    com solo. Ocorre inversão de polaridade das gemas, que brotarão e formarão uma nova

    planta. Do mesmo modo que na anterior, após a formação do sistema radicular, deve-se

    separar a muda da planta-mãe.

    - Mergulhia contínua chinesa

    Consiste em curvar-se um ramo, cobrindo com solo a maior extensão possível do

    mesmo, de modo que apenas sua extremidade fique descoberta.

    Com a cobertura do ramo, as gemas dispostas em sua extensão permanecem

    sob o solo e emitirão brotações enraizadas. Teoricamente, poder-se-ia obter um numero

    e plantas igual ao numero e gemas enterradas, mas isso dificilmente ocorre devido à

    permanência de algumas gemas no estado de dormência.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 35

    - Mergulhia de cepa:

    Consiste no plantio de uma muda oriunda de semente ou de estaca e, antes do início da

    estação de crescimento, faz-se uma poda drástica, para favorecer a emissão de inúmeras

    brotaçães.

    Quando essas brotaçães atingirem 10 a 15 cm de altura, faz-se a primeira

    amontoa com terra ou outro substrato. A segunda amontoa é feita com 20 a 25 cm e a

    terceira, quando as brotaçães atingirem em torno de 40 cm.

    A amontoa deve ser feita na primavera, de modo que se forme um camalhão

    com 25 a 30 cm de altura, ao redor dos ramos, para possibilitar um bom

    desenvolvimento do sistema radicular nas brotaçães. Em muitos casos, deve-se fazer

    amontoas posteriores, para manutenção da altura desejada.

    A mergulhia de cepa é o principal método de propagação de porta enxertos de

    macieira e de pereira, e só devem ser utilizadas espécies capazes de emitir gemas

    adventícias ou dormentes, pois com a poda drástica, elimina-se toda a parte aérea da

    planta.

    A separação das brotações enraizadas é feita no inverno seguinte, devendo-se

    desmanchar o camalhão com cuidado, para não danificar o sistema radicular. O corte

    deve ser feito o mais próximo possível da planta mãe, que deve ser mantida descoberta

    para emissão de novas brotações e tão logo essas novas brotações atinjam 15 cm de

    comprimento, o processo é repetido.

    A B C

    Figura 17: (A) Mergulhia simples normal; (B) Mergulhia contínua chinesa; (C) Mergulhia chinesa serpenteada

    Fonte: Fachinello, 2000

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 36

    b.4. Órgãos especializados

    Em fruticultura, a propagação das plantas por meio de estruturas especializadas é

    usada em algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a bananeira, o

    abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta (FACHINELLO, 2000).

    Tipos de estruturas

    Embora existam vários tipos de estruturas especializadas que podem ser

    utilizadas na propagação de plantas, no caso das plantas frutíferas, as principais

    estruturas utilizadas são: estolões, rebentos e rizomas.

    - Estolões

    São caules aéreos especializados, mais ou menos horizontais, que surgem da

    axila das folhas, na base ou na coroa das plantas que enraízam e formam uma nova

    planta.

    Geralmente, primeiro ocorre a formação de uma pequena planta no segundo nó

    do estolão e só depois é que é formado o sistema radicular.

    A formação de estolões é geralmente determinada pelo fotoperíodo, sendo

    iniciada em dias com duração de 12 horas de luz solar ou mais, dependendo da

    sensibilidade da espécie ou cultivar.

    Figura 18 - Mergulhia de cepa (adaptado de WESTWOOD, 1982)

    Fonte: Adaptado de Fachinello, 2000

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 37

    Um exemplo característico de planta que pode ser propagada por estolões é o

    morangueiro, no qual o número de mudas obtidas em cada planta-mãe é dependente da

    cultivar.

    - Rebentos

    São brotações que surgem a partir de raízes, do caule ou dos próprios frutos

    que, quando enraizados, podem ser utilizados na produção de novas plantas. A

    framboeseira, a amoreira-preta e o abacaxizeiro são facilmente propagados por rebentos.

    - Rizomas

    São caules modificados de crescimento normalmente subterrâneo, e que

    apresentam capacidade de armazenar reservas.

    As mudas do tipo rizoma são importantes para a propagação da bananeira e, a

    exemplo do abacaxizeiro, recebem denominações diferentes de acordo com o tamanho e

    a forma, o que tem proporcionado algumas confusões, pela adoção de diferentes

    critérios regionais na separação dos tipos.

    III. PRODUÇÃO DE MUDAS CERTIFICADAS (FACHINELLO, 2000)

    Para competir no atual mercado de frutas, é necessário produzir com qualidade

    e com preço competitivo, obtido com o aumento da produtividade dos pomares. Entre

    os fatores que afetam, negativamente, a qualidade das frutas e, principalmente, a

    produtividade dos pomares, destaca-se a infecção das plantas por vírus e assemelhados.

    Assim, a sustentabilidade do setor produtivo de frutas passa, obrigatoriamente,

    pela adoção de programas para produzirem mudas de qualidade.

    As principais regiões produtoras de frutas, no mundo, adotaram como

    estratégia principal, o uso de programas de certificação de mudas, associados a barreiras

    fitossanitárias que impedem a entrada, trânsito e comercialização de material infectado

    ou não-certificado.

    As principais vantagens da certificação de mudas são: melhorar a qualidade

    dos viveiros, trazer garantias ao produtor e consumidor e simplificar a vida dos

    viveiristas, já que a responsabilidade maior é da entidade certificadora.

    O processo de certificação de plantas teve início nos anos 40 do século 20, nos

    Estados Unidos, quando fitopatologistas formularam os princípios da certificação de

    plantas-matrizes. Em 1955, foi implantado o projeto oficial de mudas certificadas nos

    Estados Unidos e no Canadá.

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 38

    Na Europa, o trabalho foi iniciado com a estação experimental East Malling, na

    Inglaterra, e hoje, esse sistema vigora em toda a União Européia, possibilitando que as

    mudas transitem de um país para outro, sem barreiras fitossanitárias.

    A produção de mudas certificadas passou a ser um excelente negócio em países

    como França, Itália, e Holanda, tradicionais produtores de frutas e exportadores de

    mudas para outros países, inclusive para o Brasil.

    A legislação brasileira não trata de certificação de mudas em â nacional nem do

    sistema de mudas fiscalizadas, conforme a Lei 6.5(19 de dezembro de 1997). No Brasil,

    os programas de certificação estaduais, como é o caso da certificação de mudas de

    citros, inicial 1998, no Estado de São Paulo e no Rio Grande do Sul, conforme a Pc

    302/98 da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, que estas normas para a

    produção de mudas fiscalizadas e mudas certificada

    Para criação de um sistema de mudas certificadas, é necessário um esforço

    conjunto do setor público e privado, que ofereça, à sociedade, muda de alta qualidade,

    sem a necessidade de se recorrer à importação e a todos os riscos dela derivados.

    A decisão e a implementação de um Programa de Certificação de Mudas não

    dependem somente de leis e de decretos. Dependem, acima de tudo, de vontade política

    e dos esforços do setor público e privado para colocar em prática algo que já deveria ser

    uma realidade, pela importância da fruticultura brasileira.

    Um programa moderno de certificação de mudas deve permitir que os órgãos

    públicos e privados tenham condições de trabalhar em parcerias, dispondo de

    instrumentos capazes de garantir a qualidade do material propagativo, bem como

    estabelecer critérios de autocontrole em todas as etapas do processo de produção de

    mudas certificadas.

    Etapas da produção de mudas certificadas

    As mudas certificadas são aquelas produzidas de acordo com a legislação

    específica, sob controle de uma entidade certificadora, e que obedecem a padrões

    rígidos de qualidade em todas as fases de produção.

    A justificativa para a produção de mudas certificadas é que a propagação

    vegetativa de plantas faz com que as doenças causadas por vírus e outros patógenos, se

    disseminem, facilmente, por meio das mudas, quando as plantas-matrizes não são

    controladas, causando diminuição significativa da produção nos pomares. A maioria

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 39

    dessas doenças não é visível a olho nu, e só aparece quando o pomar inicia a produção

    de frutos.

    A produção de mudas certificadas é baseada em normas e padrões específicos

    que orientam sobre a escolha do local do viveiro, uso de quebra-ventos, localização e

    manutenção de plantas em estufas, desinfestação do material, identificação, indexagem

    periódica, pedido de registro, inspeção, certificados de garantia, entre outros.

    No caso específico de plantas cítricas, a presença de vetares de doenças

    viróticas obriga que as plantas-matrizes - e todo o sistema de produção de mudas -

    estejam sob telados à prova de afídeos. O sistema deve prever as seguintes ações:

    Criação de um banco de plantas-matrizes básicas - É necessário que

    entidades de pesquisa mantenham bancos de plantas-matrizes básicas em telados à

    prova de afídeos e isolados do solo, identificadas geneticamente e devidamente

    indexadas, para as principais doenças de origem viral ou assemelhadas,

    disponibilizando-as para multiplicação.

    Controle fitossanitário - Na primeira fase, as plantas-matrizes básicas são

    submetidas a uma bateria de testes diagnósticos, com uso de plantas indicadoras ou

    testes laboratoriais, para verificar se existem ou não, doenças de natureza virótica,

    fitoplasmas ou bactérias. Se positivo, as plantas podem ser submetidas à termoterapia,

    seguida do cultivo in vitro e, novamente, submetidas aos controles fitossanitários e

    genéticos.

    Macro e micropropagação - Depois de assegurada sua sanidade e identidade

    genética, as plantas-matrizes básicas são multiplicadas por meio de métodos

    convencionais e in vitro, e passam a ser utilizadas na constituição dos campos de

    plantas-matrizes mantidos por órgãos oficiais ou credenciados.

    Controle genético/varietal- Nessa fase, é fundamental que se tenha um

    controle genético varietal, por meio da verificação da autenticidade das cultivares

    sanitariamente controladas, evitando-se variações genéticas degenerativas. Para isso,

    deve ser feita uma verificação feno-pomológica para cada planta individualmente, por

    genótipo presente nos campos de plantas-matrizes, verificando-se o método de obtenção

    (cruzamento, seleção clonal, transformação gênica ou outras) para se ter conhecimento

    da genealogia, para eventual processo de patenteamento e pagamento de raya/ties.

    Planta-matriz registrada - A partir da multiplicação das plantas-' matrizes, os

    viveiristas constituem seus campos de matrizes registradas, para obtenção do material

  • Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

    Curso Técnico em Fruticultura – Produção de mudas frutíferas Página 40

    propagativo utilizado na produção de mudas certificadas, sob a supervisão da entidade

    certificadora.

    Essas plantas-matrizes também devem passar por indexagem periódica. O

    viveiro também é examinado, para se verificar a correspondência entre a cultivar

    presente nos campos de matrizes registrados e se o número de mudas produzidas

    corresponde ao quantitativo de material existente nos matrizeiros.

    Laboratórios de apoio - A produção de mudas certificadas exige que se

    tenham laboratórios credenciados e aparelhados, para se fazer os testes diagnósticos

    previstos, bem como a