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ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E MEIO AMBIENTE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL DANIELA DOS SANTOS DA MATA GOMES APLICAÇÃO DO MÉTODO COMPUTACIONAL SMOOTHED PARTICLE HYDRODYNAMICS PARA SIMULAÇÃO DE MECANISMOS DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES EM HIDRELÉTRICAS NITERÓI 2017

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ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E MEIO AMBIENTE

ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

DANIELA DOS SANTOS DA MATA GOMES

APLICAÇÃO DO MÉTODO COMPUTACIONAL SMOOTHED

PARTICLE HYDRODYNAMICS PARA SIMULAÇÃO DE

MECANISMOS DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES EM

HIDRELÉTRICAS

NITERÓI

2017

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DANIELA DOS SANTOS DA MATA GOMES

APLICAÇÃO DO MÉTODO SMOOTHED PARTICLE HYDRODYNAMICS PARA

SIMULAÇÃO DE MECANISMOS DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES EM

HIDRELÉTRICAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Curso de Engenharia Agrícola e

Ambiental, da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial à

obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Agrícola e Ambiental.

Orientador:

Prof. Dr. Gabriel de Carvalho Nascimento

Niterói

2017

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF

G633 Gomes, Daniela dos Santos da Mata

Aplicação do método smoothed particle hydrodynamics para

simulação de mecanismos de transposição de peixes em hidrelétricas /

Daniela dos Santos da Mata Gomes. – Niterói, RJ : [s.n.], 2017.

63 f.

Projeto Final (Bacharelado em Engenharia Agrícola e Ambiental) –

Universidade Federal Fluminense, 2017.

Orientador: Gabriel de Carvalho Nascimento.

1. Ecossistema aquático. 2. Escada de peixe. 3. Fluidodinâmica

computacional. 4. Impacto ambiental. 5. Usina hidrelétrica. I. Título.

CDD 577.7

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DANIELA DOS SANTOS DA MATA GOMES

APLICAÇÃO DO MÉTODO SMOOTHED PARTICLE HYDRODYNAMICS PARA

SIMULAÇÃO DE MECANISMOS DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES EM

HIDRELÉTRICAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Curso de Engenharia Agrícola e

Ambiental, da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial à

obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Agrícola e Ambiental.

Aprovada em 14 de dezembro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof. Gabriel de Carvalho Nascimento, Orientador, D.Sc. – UFF.

___________________________________________________________________

Prof. André Luiz Lupinacci Massa, MSc – UFF.

___________________________________________________________________

Camila Azevedo de Souza, MSc – Light Energia S.A.

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À minha irmã e futura engenheira eletricista, Bianca.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Gabriel Nascimento, por orientar este trabalho, pelo incentivo e pelas

ideias inovadoras;

À professora Roberta Rigueira, pelas instruções e organização da defesa deste

projeto final, e também, por toda a dedicação e paciência ao longo do curso;

A todos os professores, colegas e funcionários do Departamento de Engenharia

Agrícola e Meio Ambiente da Escola de Engenharia da UFF;

À minha “eterna chefe” Vera Cajazeiras e aos amigos da PROPPI/UFF, por todo apoio

e incentivo durante esses longos anos;

Ao Sr. Clóvis José Alves, por compartilhar a sua experiência de trabalho no Ministério

de Minas e Energia e na Itaipu Binacional, e sobretudo, por sua amizade;

E por último, porém não menos importante, aos amigos que me ajudaram durante o

desenvolvimento deste trabalho: Camila Souza, Daniela Rosa, Filipe Martins, Isabela

Rochinha, Luiza Ferreira, Mariana Otero, Mayara Gomes, Mayara Torres, Rafaela

Rosa, Thamires Tavares e Vinícius Silva.

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Mais fácil me foi encontrar as leis com que se movem os corpos celestes, que estão

a milhões de quilômetros, do que definir as leis do movimento da água que escoa

frente aos meus olhos.

Galileo Galilei

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RESUMO

A construção de barragens interrompe a conectividade longitudinal dos rios, alterando

o seu ecossistema. Desta forma, as barragens são obstáculos que os peixes não

conseguem ultrapassar e completar seu ciclo de vida. Os mecanismos de

transposição de peixes (MTPs) tornaram-se elementos-chave para permitir a

passagem para a montante e proteção a jusante, evitando a chegada dos peixes nas

turbinas e no vertedouro. Os critérios de dimensionamento baseiam-se na estimativa

das características do escoamento, onde um fluxo de atração de peixes pode ser

usado para aumentar a efetividade de um MTP, para isso tem sido utilizada a

fluidodinâmica computacional (CFD). O fluxo de atração deve ser determinado a partir

do campo de velocidade, obtido pelo modelo CFD ou por testes com modelo reduzido,

e também por características físicas das espécies-alvo. O objetivo é avaliar um

método CFD sem malha, Smoothed Particle Hydrodynamics (SPH), para simular o

escoamento na superfície livre de um MTP do tipo ranhura vertical. Sua é aplicado

para simular o escoamento de um MTP do tipo ranhura vertical. Sua precisão é

avaliada através da comparação do campo de velocidade em um modelo reduzido,

estudado em literatura anterior, com a uma simulação 3D utilizando o método SPH. A

simulação é conduzida pelo software de código aberto DualSPHysics para avaliar as

velocidades em diversos pontos do escoamento. Os resultados dos testes em modelo

reduzido são bastante compatíveis com os resultados da simulação numérica. Isso

confirma que o SPH é um método promissor para o problema do escoamento em um

MTP.

PALAVRAS – CHAVE: ranhura vertical, simulação numérica, CFD sem malha

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ABSTRACT

Constructing a dam disrupts longitudinal connectivity of a river, changing its

ecosystem. Thus, the dams are obstacles which fish are not able to get over and

migrate to a successful life cycle. Fish passes become key elements to allow that

journey upstream and away from the turbines and spillway downstream. Design criteria

are based on the estimate of flow patterns. An attraction flow can be used to increase

the effectivity of a fish passage, which has been used Computational Fluid Dynamics

(CFD) to determine velocity field, from the CFD model or scale model tests, and also

physical characteristics of the target species. The aim of this work is to evaluate a

meshless CFD method, Smoothed Particle Hydrodynamics (SPH), to simulate the free

surface flow in a vertical slot fish pass. Its accuracy is investigated by comparing the

velocity field in a scale model test, done in a previous literature, to a 3D SPH simulation

conducted with the open source software DualSPHysics. As a result, velocity field of

the scale model test compares well with the result of the numerical simulation which

concludes that SPH is a promising method for free surface flow simulation in a fish

pass.

KEY WORDS: vertical slot, numerical simulation, meshless CFD

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Espécies de peixes de água doce conhecidas no Brasil ..................................................... 14

Figura 2 – MTP do tipo escada na barragem John Day, Oregon, EUA ................................................ 15

Figura 3 – Esquema básico de uma usina hidrelétrica com MTP ......................................................... 19

Figura 4 – (a) MTP em canalizações de estrada em Queensland, Austrália e (b) Canalização corrugada

adaptada com nervuras para possibilitar a passagem de peixes ......................................................... 20

Figura 5 – Secção longitudinal e estrutura do tanque de um MTP do tipo tanque e vertedor ............. 21

Figura 6 – Arranjos curvos, linear e em fileiras da escada do tipo tanque e vertedor .......................... 22

Figura 7 – MTP tipo tanque e vertedor: (a) Antes de entrar em operação e (b) Vista a jusante durante a

operação ................................................................................................................................................ 23

Figura 8 – Escada tipo ranhura vertical: (a) Barragem de Claies de Vire, França e (b) PCH Paranatinga

II ............................................................................................................................................................. 24

Figura 9 – Esquema e foto da escada do tipo Denil ............................................................................. 25

Figura 10 – Funcionamento de uma eclusa de peixes ......................................................................... 26

Figura 11 – (a) Elevador com transporte aéreo na UHE Funil e (b) Elevador com transporte terrestre na

UHE Santa Clara ................................................................................................................................... 27

Figura 12 – Estrutura e funcionamento de um elevador de peixes por transporte áereo..................... 28

Figura 13 – Canal semi-natural do tipo talude de fundo (a) esquema e (b) Canal Aschach na Bavaria,

Alemanha .............................................................................................................................................. 29

Figura 14 – Esquema geral de um canal de derivação contornando uma barragem ........................... 30

Figura 15 – Canal da Piracema na usina de Itaipu ............................................................................... 31

Figura 16 – Esquema e foto do Canal da Piracema ............................................................................. 31

Figura 17 – Esquema e foto do canal semi-natural tipo rampa de peixes: (a) Esquema geral e (b) Canal

Krewelin em Brandenburg, Alemanha .................................................................................................. 32

Figura 18 – Principais manuais para dimensionamento de MTPs. ....................................................... 36

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Figura 19 – Método dos Volumes Finitos .............................................................................................. 39

Figura 20 – Nós e elementos em uma malha ....................................................................................... 40

Figura 21 – Perfil aerodinâmico na abordagem euleriana (a) e lagrangeana (b)do CFD..................... 42

Figura 22 – Planta e seção transversal dos tanques ............................................................................ 45

Figura 23 – Modelo Reduzido PCH Paranatinga II elaborado pela FCTH ........................................... 46

Figura 24 – Geometria do modelo computacional PCH Paranatinga II ................................................ 47

Figura 25 – Parâmetro periodicidade no DualSPHysics ....................................................................... 48

Figura 26 – Velocidade de escoamento nos tanques de montante e típicos no método SPH ............. 49

Figura 27 – Escoamento nos tanques de montante (a) Modelo Reduzido FCTH (Fonte: JUNHO, 2008)

e (b) Modelo Computacional ................................................................................................................. 50

Figura 28 – Escoamento nos tanques típicos (a) Modelo Reduzido FCTH (Fonte: JUNHO, 2008) e (b)

Modelo Computacional .......................................................................................................................... 51

Figura 29 – Pontos de medição de velocidades e direção do escoamento no tanque 6 (a) Modelo

Reduzido FCTH (Fonte: JUNHO, 2008) e (b) Modelo Computacional ................................................ 52

Figura 30 – Gráficos comparativos das velocidades nos pontos 1 a 19 para os modelos reduzido e

computacional ....................................................................................................................................... 54

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LISTA DE QUADROS OU TABELAS

Tabela 1 – Relação de alguns MTPs de empreendimentos hidrelétricos no Brasil mencionados no

estudo de LIRA e colab.(2017). ............................................................................................................. 33

Tabela 2 – Comparação das velocidades média e máxima no modelo reduzido JUNHO (2008) e no

modelo computacional. ......................................................................................................................... 53

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 13

1.1 OBJETIVO ................................................................................................................................ 16

1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 16

1.1.2 Objetivo específico ........................................................................................................ 16

1.2 MOTIVAÇÃO ............................................................................................................................. 16

2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................................ 18

2.1 MECANISMOS DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES (MTPS) ................................................................ 18

Escada tipo tanque e vertedor (Pool-and-Weir) ............................................................ 21

Escada tipo ranhura vertical (Vertical Slot) ................................................................... 23

Escada tipo Denil ........................................................................................................... 25

Eclusa (Fish Lock) ......................................................................................................... 25

Elevador (Fish Lift) ........................................................................................................ 27

Canais Semi-Naturais (Close-to-nature fish passes) .................................................... 29

2.2 OS MTPS DE EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS NO BRASIL E NO MUNDO ................................ 32

2.3 LEGISLAÇÃO ............................................................................................................................ 34

2.4 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO E MONITORAMENTO .............................................................. 35

2.5 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL EM MTPS ................................................................................... 37

3 METODOLOGIA ........................................................................................................................... 38

3.1 FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL – COMPUTACIONAL FLUID DYNAMICS (CFD) ......................... 38

3.2 O MÉTODO SMOOTHED PARTICLE HYDRODYNAMICS (SPH) ....................................................... 42

3.3 INTERPOLAÇÃO DE KERNEL ...................................................................................................... 44

4 ESTUDO DE CASO ...................................................................................................................... 45

ESCOLHA DO TESTE COM MODELO REDUZIDO ............................................................................ 45

MODELO COMPUTACIONAL E SIMULAÇÃO .................................................................................. 46

RESULTADOS ........................................................................................................................... 48

5 CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................... 57

APÊNDICE – COMANDO DE ENTRADA DUALSPHYSICS ............................................................... 62

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com a International Energy Agency (IEA), 85% de toda energia

gerada a partir de fontes renováveis no planeta é proveniente das hidrelétricas (IEA,

2012). O mesmo percentual é responsável pela produção líquida de energia

hidrelétrica no Brasil, sendo o potencial hidrelétrico do país equivalente a 260 GW

(ELETROBRAS, 2016).

Atualmente, o Brasil possui em operação 219 Usinas Hidrelétricas (UHEs), 431

Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e 616 Centrais Geradoras Hidrelétricas

(GCHs). Com previsão de implementação de mais 14 UHEs e outros 183

empreendimentos hidrelétricos (ANEEL, 2017).

A geração de energia hidrelétrica é algo bastante desejável em vários países

por ser um meio de reduzir a emissão de poluentes proveniente de fontes de energia

fóssil. É uma energia de baixo custo de operação e é considerada renovável, gerando

menos impactos se comparada a outras fontes de energia. A construção de barragens

possui desvantagens, como a poluição da água e as inundações que fazem com o

que o rio perca seu caráter ribeirinho, porém um dos principais impactos ocorrem na

ictiofauna, levando à diminuição, ou até mesmo, a extinção de algumas espécies

(FAO/DVWK, 2002).

O Brasil possui reconhecimento mundial devido à sua biodiversidade, contando

com 2481 espécies conhecidas de peixes de água doce, sendo a maioria dessas

espécies presentes na Bacia Amazônica (BUCKUP e colab., 2007), onde pretende-se

construir mais 30 UHEs nos próximos 30 anos (ALMEIDA PRADO e colab., 2016).

Existe um número significativo de espécies ameaçadas de extinção. Muitas

delas são conhecidas apenas através de estudos muito antigos, mesmo se tratando

de áreas que são amostradas frequentemente. Um exemplo desta situação ocorre na

bacia do rio Paraíba do Sul com a espécie Oligobrycon microstomus que é conhecida

apenas em um material descrito em 1915. Acredita-se que existem muitas espécies

ainda desconhecidas, correndo o risco de serem extintas antes mesmo de serem

descobertas (BUCKUP e colab., 2007).

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Figura 1 – Espécies de peixes de água doce conhecidas no Brasil

(Fonte: BUCKUP e colab., 2007).

Dentre os principais fatores que contribuem para extinção das espécies de

água doce são a expansão da fronteira agrícola, a construção de empreendimentos

hidrelétricos e a agricultura intensiva. A expansão agrícola elimina áreas com grande

cobertura vegetal original das bacias hidrográficas, os empreendimentos hidrelétricos

eliminam habitáts aquáticos e alteram os níveis dos rios e a agricultura intensiva é

responsável por produzir fontes de energia baseadas na fixação de carbono (BUCKUP

e colab., 2007).

Muitos dos peixes mais importantes comercialmente são migradores durante

todos os estágios da vida. A migração descendente ocorre quando o peixe busca

locais com condições ideais de temperatura, alimentação e aspectos físico-químico-

biológicos. A migração ascendente ocorre durante a época da piracema (reprodução),

quando os peixes migram contra as correntezas para se cansarem de forma fisiológica

e bioquímica, o que é necessário para a sua reprodução (GODOY, 1992 apud

MARTINS, 2000)1.

Alguns exemplos de peixes de piracema são o dourado (Salminus spp.), o

curimbatá (Prochilodusspp.) e o surubim (Pseudoplatystoma corruscans), que são

1 GODOY, Manuel Pereira De. A Questão dos Peixes de Piracema e as Escadas de Peixes. Revista Aruanã, Editora Aruanã, v. Ano VI, Dez 1992.

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conhecidos como peixes importantes tanto para a pesca comercial quanto esportiva.

(GODINHO, Alexandre L. e KYNARD, 2009).

As barragens interrompem a conectividade longitudinal do rio para a livre

passagem de organismos aquáticos, com isto, os peixes migradores tem sua

passagem bloqueada para locais de desova, prejudicando a sua reprodução. Por este

motivo, mundialmente é comum a utilização de Mecanismos de Transposição de

Peixes, MTPs, para minimizar esse impacto (CLAY, 1995).

Figura 2 – MTP do tipo escada na barragem John Day, Oregon, EUA

(Fonte: http://www.oregonlive.com/environment. Acesso em setembro de 2017).

Segundo a IEA (2012), as principais questões ambientais em debate a respeito

da geração de energia hidráulica são as relacionadas à segurança de barragens, uso

e qualidade da água, impactos na espécies migratórias e na biodiversidade,

implementação de hidrelétricas em áreas remotas, processos erosivos e aceitação da

população local.

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1.1 Objetivo

1.1.1 Objetivo geral

Apresentar a importância dos mecanismos de transposição de peixes (MTPs)

como forma de recuperar as espécies de peixes brasileiras ameaçadas de

extinção;

Apresentar a fluidodinâmica computacional como ferramenta para simular um

MTP visto que as soluções analíticas de problemas de escoamento livre são

complexas por envolverem equações diferenciais parciais para descrever

contornos geométricos e a interface água/ar.

1.1.2 Objetivo específico

Pesquisar estudos experimentais em modelo reduzido de MTPs;

Estudar o método CFD, especificamente o método sem malha

SmoothedParticle Hydrodynamics (SPH);

Modelar geometricamente o MTP;

Aplicar o método SPH para solucionar numericamente o problema do

escoamento em um MTP;

Comparar as soluções obtidas pelo método SPH com os resultados de modelo

reduzido escolhido na literatura.

1.2 Motivação

De acordo com JUNHO (2008) existe uma defasagem tecnológica quanto aos

MTPs no Brasil com consequências irreversíveis aos ecossistemas aquáticos. Isso se

deve ao fato de que a maioria dos MTPs construídos no Brasil foram projetados por

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pessoas sem os devidos conhecimentos em engenharia e biologia das espécies

(GODOY, 1992 apud MARTINS, 2000)2.

Durante muito tempo acreditou-se que os MTPs eram ineficientes para os

peixes neotropicais. Estudos da década de 1970 afirmaram que somente os peixes

do hemisfério norte migravam a montante para a desova. Mais tarde, outros estudos

comprovaram que isso não é verdade, como GODOY (1992), apresentando razões

técnicas para o uso de MTPs (MARTINS, 2000).

Tais argumentos fizeram com o que o Brasil visse o assunto dos MTPs como

algo desnecessário, possivelmente priorizando interesses políticos e econômicos que

não a preservação da ictiofauna (MARTINS, 2000), sendo implantados apenas para

atender aos requisitos legais para o empreendimento (ANDRADE e ARAÚJO, 2011).

Segundo MARTINS (2000), o Brasil possui poucos MTPs funcionando com

sucesso, são os casos da UHE Piraju no rio Paranapanema, da UHE Salto Moraes no

rio Tijuco e do Canal da Piracema na Usina de Itaipu.

Espera-se que este trabalho possa trazer contribuições sobre critérios técnicos

de projeto e simulações computacionais para o desenvolvimento de MTPs eficientes

para os peixes neotropicais.

2 GODOY, Manuel Pereira De. A Questão dos Peixes de Piracema e as Escadas de Peixes. Revista Aruanã, Editora Aruanã, v. Ano VI, Dez 1992.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Mecanismos de transposição de Peixes (MTPs)

Segundo a FAO/DVWK (2002), a restauração da conectividade longitudinal

entre os ecossistemas aquáticos é um objetivo sociopolítico de recuperação das

espécies e de conservação dos hábitats e geralmente, os MTPs são os únicos

mecanismos capazes de possibilitar a passagem de peixes por obstáculos que

bloqueiam a sua jornada rio acima. Os MTPs se tornaram um elemento chave para a

restauração ecológica dos rios.

Segundo CLAY (1995) os Mecanismos de transposição de Peixes, MTPs,

devem ser projetados para facilitar a passagem de peixes através de obstruções

provenientes de obras hidráulicas, visando dissipar a energia na água, de maneira

que evite o estresse excessivo dos peixes durante a sua passagem.

Os MTPs devem possibilitar que o escoamento dentro deste sistema seja

adequado para o descanso dos peixes e que seja compatível com a velocidade de

nado de cada espécie. (QUARANTA e colab., 2016)

Existem vários tipos de MTPs utilizados na passagem de peixes para a

montante dos rios, como os do tipo escada, elevador ou eclusa, porém para a

passagem a jusante não são muito eficientes (CLAY, 1995), embora fisicamente

possível, a migração descendente é bastante improvável devido às características do

escoamento a jusante (JUNHO, 2008). Segundo GODINHO E KYNARD (2009) há

poucos estudos sobre migração para a jusante de peixes de espécies brasileiras

através de barragens. De acordo com estudos internacionais (CLAY, 1995), durante

a migração descendente, as espécies no geral, tendem a permanecer no escoamento

dominante, o que resulta na mortalidade desses peixes ao serem levados sobre

corredeiras, vertedouros ou até mesmo através turbinas. (KYNARD e colab., 1999)

Com isto, não basta favorecer a passagem dos peixes a montante, é necessário

uma proteção para a rota a jusante. Esta proteção é garantida tornando o ambiente

adequado para desova e para o crescimento dos filhotes, enquanto os adultos após a

desova tenha segurança para voltar ao local de alimentação, criando condições para

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evitar que sejam atraídos para o vertedores ou para as turbinas, onde ocorrem as

mortalidade (ALVES e GODINHO, 2004).

Figura 3 – Esquema básico de uma usina hidrelétrica com MTP

(Fonte: http://aliancaenergia.com.br/br/como-funciona-uma-usina-hidreletrica. Acesso em setembro de 2017).

As altas velocidades de escoamento dos vertedores podem ocasionar a

mortalidade dos peixes devido ao impacto direto contra estruturas de concreto ou

contra o próprio leito do rio, porém um projeto apropriado da estrutura pode aumentar

aumentar a sobrevivência dos peixes (THERRIEN e BOURGEOIS, 2000).

Na passagem pelas turbinas, as mortalidades ocorrem devido a variações de

pressão, choque e compressão contra as pás e alta turbulência no tubo de sucção

(CADA, 1998).

O mercado das hidrelétricas vem desenvolvendo uma série de medidas para

minimizar os impactos na natureza e na população local. De acordo com a IEA, a meta

para os países membros da agência é que nos próximos anos, os projetos sejam

realizados atendendo a esses requisitos, tais como a otimização dos MTPs para a

passagem a montante e a proteção dos peixes a jusante, com o uso de redes e

turbinas fish-friendly.

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O uso de redes ou grades constituem os sistemas de derivação ou contorno

(bypasses) junto à tomada d’água. Com vazões adequadas, atraem os peixes para

locais seguros onde a transposição descendente é feita pelo escoamento em

condutos ou meios mecânicos. Entretanto, esses sistemas ainda estão em fase de

desenvolvimento e não funcionam para peixes de fundo (GODINHO, Alexandre L. e

KYNARD, 2009).

As turbinas fish-friendly são projetadas para reduzir a mortalidade de peixes.

São largamente utilizadas na Europa e as taxas de sobrevivência dos peixes pode

chegar a 95%. Os avanços na tecnologia de turbinas possibilita, além da

sobrevivência dos peixes, o aumento na potência, a melhora na eficiência e baixo

custo de manutenção (IEA, 2012).

Os MTPs são utilizados não apenas para passagem de peixes através de

barragens de hidrelétricas mas também para possibilitar a migração através de

açudes e galerias. No Brasil a maioria dos MTPs estão instalados em açudes

nordestinos, porém não há registros sobre a sua eficiência (MARTINS, 2004). Em

países da Europa, da América do Norte e na Austrália é muito comum o uso de MTPs

em estruturas de drenagem de pontes e estradas (Figura 4).

(a)

(b)

Figura 4 – (a) MTP em canalizações de estrada em Queensland, Austrália e (b) Canalização corrugada adaptada com nervuras para possibilitar a passagem de peixes

(Fonte: KAPITZKE, 2010 / United States Department of Agriculture, 2007).

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Os MTPs podem ser construídos na forma de canal semi-natural, reproduzindo

ao máximo as características das corredeiras naturais, ou de forma exclusivamente

técnica que são os do tipo escada, elevador ou eclusa.

Escada tipo tanque e vertedor (Pool-and-Weir)

A escada do tipo tanque e vertedor consiste em uma série de tanques em

degraus separados por defletores, que podem ter orifícios no fundo (pool and orifice)

ou orifícios e vertedores (pool and orifice weir). Permite o movimento ascedente dos

peixes pois dissipa a energia do escoamento de um tanque para outro (JUNHO, 2008).

Figura 5 – Secção longitudinal e estrutura do tanque de um MTP do tipo tanque e vertedor

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

Os peixes migram de um tanque para outros através dos orifícios nos defletores

onde encontram altas velocidades de escoamento. Fora dos defletores as velocidades

são baixas e funcionam como área de descanso (FAO/DVWK, 2002). Alguns peixes

preferem se deslocar pelos orifícios, enquanto outros preferem os vertedores

(JUNHO, 2008).

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A inclinação é calculada dividindo o comprimento exterior do tanque pela perda

de carga em cada tanque. Sua inclinação máxima deve ser de 10%. Cada tanque

mantém as mesma características hidráulicas na entrada e na saída (U.S. FISH AND

WILDLIFE SERVICE, 2017).

Geralmente, esses MTPs são projetados de forma reta ligando a montante e a

jusante, contudo também podem ser utilizados em formas curvas ou podem constituir

fileiras para obter uma estrutura mais curta conforme Figura 6.

Figura 6 – Arranjos curvos, linear e em fileiras da escada do tipo tanque e vertedor

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

Este tipo de MTP suporta vazões relativamente baixas, entre 0,05 e 0,5 m³/s.

Sua principal desvantagem é a difícil manutenção, devido ao risco de obstruções nos

orifícios por detritos, geralmente devem ser realizadas em intervalos semanais

(FAO/DVWK, 2002).

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Figura 7 – MTP tipo tanque e vertedor: (a) Antes de entrar em operação e (b) Vista a jusante durante a operação

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

Escada tipo ranhura vertical (Vertical Slot)

As escadas do tipo ranhura vertical são, assim como a do tipo tanque e

vertedor, uma série de tanques em degraus, separados por defletores, localizados em

uma das paredes do canal (um defletor) ou até mesmo nas duas parades do canal

(dois defletores) formando uma ranhura ao longo de todo o eixo vertical (JUNHO,

2008).

Na escada com um defletor, as ranhuras devem estar sempre do mesmo lado,

ao contrário do tipo com tanque e vertedor, que tem os seus orifícios intercalados.

Quando são usados dois defletores, a largura do canal deve ser dobrada (FAO/DVWK,

2002).

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(a) (b)

Figura 8 – Escada tipo ranhura vertical: (a) Barragem de Claies de Vire, França e (b) PCH Paranatinga II

(Fonte: A. Richard / JUNHO, 2008).

O escoamento para os tanques ocorre através da ranhura, onde a energia é

dissipada em fluxos circulares em torno de um ou dois eixos verticais, perpendicular

ao fundo do canal. O interior dos tanques funcionam como áreas de descanso para o

peixes, que podem fazer a travessia através dos defletores em qualquer profundidade

ao longo de toda a lâmina d’água (JUNHO, 2008).

De acordo com U.S. Fish and Wildlife Service (2017), este é o melhor tipo de

MTP técnico pois é adequado para as mais diversas espécies, com diferentes

profundidades de nado. Estudos australianos confirmaram que as escadas com

ranhuras verticais tem um grande potencial para a passagem de espécies migratórias

de rios subtropicais e tropicais, desde que o escoamento tenha valores de velocidade

e turbulência menores do que os utilizados para espécies salmonídeas (STUART e

MALLEN-COOPER, 1999).

A profundidade mínima a jusante deve ser de 0,5 m. Podem ser suportar vazões

elevadas formando fluxos atrativos para os peixes. São mais confiáveis que as

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escadas do tipo tanque e vertedor devido ao menor risco de obstrução entre as

ranhuras (FAO/DVWK, 2002).

Escada tipo Denil

Criada pelo cientista belga G. Denil em 1920, a escada tipo Denil é composta

por defletores em formato de “U” que formam um ângulo de 45° com a direção do

escoamento, de forma que as velocidades sejam máximas no centro do MTP para

favorecer a subida de peixes específicos do hemisfério norte (MARTINS, 2004)

conhecidos como diádromos, isto é, peixes que migram entre a água salgada e a água

doce. Não são adequadas para peixes com baixa velocidade de nado, suportam altas

vazões mas não se adaptam à variações no nível da água (FAO/DVWK, 2002).

Figura 9 – Esquema e foto da escada do tipo Denil

(Fonte: FAO/DVWK, 2002) / Larinier).

Eclusa (Fish Lock)

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As eclusas são mecanismos que contém uma câmara, para entrada dos peixes a

jusante da estrutura, que se enche de água até atingir o nível do reservatório, a partir

deste momento, os peixes podem se deslocar a montante (JUNHO, 2008).

Figura 10 – Funcionamento de uma eclusa de peixes

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

As eclusas mais utilizadas são do tipo Borland, largamente utilizadas na Europa e

empregadas para barragens com altura superior a 10 metros. Permitem também a

migração descendente e não são muito eficientes para espécies não salmonídeas em

rios com grandes populações migratórias (CLAY, 1995).

Para a transposição de espécies não salmonídeas, PAVLOV (1989) descreveu

uma adaptação das eclusas Bordland na Rússia, adicionando grades e elevadores.

Desta forma, BAUMGARTNER (2003) relatou a passagem bem-sucedida de espécies

nativas australianas através de eclusas adaptadas no rio Murrumbidgee na Austrália.

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Dentre as principais desvantagens estão o alto custo de operação e manutenção,

a complexidade da construção, e a dificuldade de algumas espécies em saírem da

eclusa para o reservatório (FAO/DVWK, 2002).

Elevador (Fish Lift)

O elevador é um sistema com componentes mecânicos, hidráulicos e elétricos.

Existem dois tipos de transporte de peixes por elevadores: aéreo e terrestre.

(a) (b)

Figura 11 – (a) Elevador com transporte aéreo na UHE Funil e (b) Elevador com transporte terrestre na UHE Santa Clara

(Fonte: Alexandre Godinho / POMPEU e colab., 2006).

De acordo com U.S. Fish and Wildlife Service (2017), a transposição dos peixes

por transporte aéreo ocorre nas etapas a seguir:

1. O peixe é atraído para a entrada do MTP, após a pesca nadam por um

portão projetado para reter os peixes dentro de um tanque;

2. Os peixes são agitados mecanicamente para cima de uma embarcação de

retenção de água que faz o transporte do canal inferior para o superior;

3. Os peixes são elevados dentro da embarcação para o canal de saída;

4. Os peixes são liberados da embarcação para o canal de saída;

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5. A embarcação vazia é devolvida à posição inicial de pesca.

Figura 12 – Estrutura e funcionamento de um elevador de peixes por transporte áereo

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

Os elevadores com sistema de transporte terrestre são aqueles em que os

peixes são transportados por caminhão. Neste MTP, os peixes são atraídos, com um

fluxo de água adequado às espécies locais, para o interior de um canal que os conduz

para uma caçamba. Após a entrada dos peixes, a caçamba é elevada e posicionada

sobre um caminhão-tanque, onde é feita a transferência dos peixes, que então são

levados ao local de desova (POMPEU e colab., 2006).

Dentre as principais vantagens, o elevador de peixes pode ser construído para

alturas maiores que 10 metros, é adequado para peixes com baixa capacidade de

nado e são mais eficazes do que as eclusas, pois a incerteza da saída dos peixes

para o reservatório é eliminada (FAO/DVWK, 2002).

Suas principais desvantagens são os complexos e alto custo, tanto de operação

quanto manutenção, possui também a desvantagem de funcionar apenas para a

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migração ascendente dos peixes, e possíveis danos à saúde dos peixes causados

pelo transporte (FAO/DVWK, 2002).

Em 2016, toneladas de peixes foram mortos dentro do elevador da usina do

Funil. O grande volume de chuva provocou a subida do nível do rio, com isso grandes

cardumes foram atraídos para a entrada do elevador que não suportou a demanda. A

hidrelétrica foi multada em R$ 332 mil (G1 SUL DE MINAS, 2016).

Canais Semi-Naturais (Close-to-nature fish passes)

Os canais semi-naturais são construídos basicamente com pedras para

representar o rio sob condições originais. Estes canais são muito utilizados na Europa

devido à possibilidade da criação de novos tipos de corredeiras que contribuem de

forma satifastória tanto com a paisagem quanto com os critérios de ordem biológica,

permitindo a migração ascedente e descendente dos peixes (FAO/DVWK, 2002).

Os principais tipos são: taludes de fundo (Bottom ramp and slope), canais de

derivação (Bypass channel) e rampa (Fish ramp). Ambos podem ser construídos em

cascatas, utilizando pedras e soleiras de rochas. A manutenção é relativamente baixa

e consiste basicamente na remoção de resíduos flutuantes (FAO/DVWK, 2002).

Os taludes de fundo foram inicialmente desenvolvidos para estabilizar o fundo

dos rios, possuem várias camadas de rochas que se estendem por toda a largura do

rio com a inclinação mais rasa possível.

(a) (b)

Figura 13 – Canal semi-natural do tipo talude de fundo (a) esquema e (b) Canal Aschach na Bavaria, Alemanha

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(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

Os canais de derivação possuem características semelhantes às de um

escoamento natural, contornando a barragem, sem interferir em suas funções.

Figura 14 – Esquema geral de um canal de derivação contornando uma barragem

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

O Canal da Piracema, construído em 2002 na Usina de Itaipu, possui o maior

canal de derivação do mundo, com mais de 2 km de comprimento. É considerado um

MTP misto, que além do canal de derivação, é composto por escadas e lagoas de

descanso (MAKRAKIS e colab., 2012). Sua extensão total é de 10 km entre o rio

Paraná e a superfície do reservatório e possui um desnível de 120 metros (ITAIPU,

2010).

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Figura 15 – Canal da Piracema na usina de Itaipu

(Fonte: ITAIPU, 2010).

O canal possibilita tanto a subida dos peixes no período de piracema como o

seu retorno, no período de outono e inverno, para as áreas de alimentação. As lagoas

intercaladas nas corredeiras, propiciam um remanso para os peixes que estão subindo

para o reservatório, fornecendo áreas de alimentação e descanso. O monitoramento

do canal é feito pela usina em conjunto com a Universidade Estadual de Maringá

(UEM) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), no qual foram

detectados, até 2006, a passagem de 70% das espécies de peixes conhecidas na

região, como dourados, pacus, curimbas, jaús e surubins (ITAIPU, 2010).

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Figura 16 – Esquema e foto do Canal da Piracema

(Fonte: MAKRAKIS e colab., 2012 / Google Earth).

A rampa de peixes é uma construção integrada ao rio e cobre apenas uma

parte de sua largura, com uma pequena inclinação para garantir a subida dos

peixes. Geralmente, é necessário inserir pedregulhos para reduzir a velocidade do

escoamento.

A largura da rampa é definida de acordo com a vazão durante a migração a

montante. A estabilidade estrutural é essencial no cálculo do tamanho da rampa,

pois deve ser capaz de suportar grandes vazões, como em casos de inundações.

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(a) (b)

Figura 17 – Esquema e foto do canal semi-natural tipo rampa de peixes: (a) Esquema geral e (b) Canal Krewelin em Brandenburg, Alemanha

(Fonte: FAO/DVWK, 2002).

2.2 Os MTPs de empreendimentos hidrelétricos no Brasil e no

mundo

Os MTPs são utilizados há mais de 300 anos na Europa com um histórico de

sucesso na recuperação das espécies em rios com barragens (CLAY, 1995).

De acordo com MARTINS (2000), os países do hemisfério norte e Japão tem

um conhecimento consolidado sobre MTPs devido a fatores socipolíticos de

valorização do meio ambiente, assim como interesses comerciais e industriais.

A Noruega possui cerca de 500 MTPs (GRANDE, 2010). Em recente estudo

foram inspecionados 89 MTPs noruegueses, dos quais 70% foram classificados como

totalmente funcionais, isto é, a passagem dos peixes é bem sucedida tanto na

migração ascendente quanto descendente (FJELDSTAD e ALFREDSEN, 2013).

Na França, a partir de uma legislação adotada em 1984, mais de 500 MTPs

foram construídas (LARINIER, M. e MARMULLA, 2004).

Na Espanha, existiam mais de 115 MTPs catalogados até 1998 (ELVIRA e

colab., 1998).

O Japão, apesar de sua pequena extensão territorial possui cerca de 1.400

MTPs (SASANABE, 1990 apud MARTINS, 2004)3. O simpósio internacional na cidade

de Gifu em 1990 teve grande relevância para este assunto, desde então outros

simpósios vem sido realizados a cada 5 anos (MARTINS, 2004).

3 SASANABE, S. Fishway of headworks in Japan. 1990, Gifu, Japan, 1990.

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Nos Estados Unidos existem cerca de 76.000 barragens, dentre elas 2.350

provenientes de hidrelétricas, operando aproximadamente 500 MTPs (CADA, 1998).

Na Austrália, em 1990 foram registrados 50 MTPs, com um histórico de muitos

projetos ineficientes (MALLEN-COOPER e HARRIS, 1990) devido à falta de estudos

no passado sobre migração e estágios de vida das espécies nativas.

No Brasil há aproximadamente 1.200 barragens de empreendimentos

hidrelétricos em operação (ANEEL, 2017). Estima-se a existência de dezenas MTPs,

porém não se sabe ao certo sobre a sua eficiência (ALVES e GODINHO, 2004).

Em recente estudo (LIRA e colab., 2017) foram registrados 20 MTPs de

empreendimentos hidrelétricos em operação no Brasil. A maioria do tipo escada,

instaladas na bacia do rio Paraná e desconectadas do trecho entre a montante e a

jusante, o que justifica o mal funcionamento dos MTPs brasileiros, pois a passagem

dos peixes não é completa, ocorrendo a maior parte das mortalidades a jusante devido

à falta de proteção.

Tabela 1 – Relação de alguns MTPs de empreendimentos hidrelétricos no Brasil mencionados no estudo de LIRA e colab.(2017).

Barragem Tipo de MTP Rio Bacia Estado

Santo Antônio Canal Lateral Madeira Amazonas RO

Lajeado Escada tipo Tanque e Vertedor Tocantins Amazonas TO

Peixe Angical Escada tipo Tanque e Vertedor Tocantins Amazonas TO

Igarapé Escada Paraopeba São

Francisco MG

Santa Clara Elevador com transporte

terrestre Mucuri Mucuri MG

Risoleta Neves Escada tipo Tanque e Vertedor e

Elevador com caminhão Doce Doce MG

Baguari Escada tipo Ranhura Vertical Doce Doce MG

Ilha dos Pombos Escada Paraíba do Sul Paraíba do

Sul RJ

Funil Elevador com transporte aéreo Grande Paraná MG

Igarapava Escada tipo Ranhura Vertical Grande Paraná SP

Canoas I Escada tipo Tanque e Vertedor Paranapanema Paraná SP

Canoas II Escada tipo Tanque e Vertedor Paranapanema Paraná SP

Ourinhos Escada tipo Tanque e Vertedor Paranapanema Paraná SP

Cachoeira das Emas Escada tipo Tanque e Vertedor Mogi Guassu Paraná SP

Gavião Peixoto Escada Jacaré-Guaçu Paraná SP

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Palmeiras Escada tipo Tanque e Vertedor Sapucaí-Mirim Paraná SP

Salto de Morais Escada Tijuco Paraná MG

Porto-Primavera Escada tipo Tanque e Vertedor Paraná Paraná SP/MS

Canal da Piracema - Itaipu Canal Lateral Paraná Paraná PR

Escada Experimental - Itaipu

Escada tipo Tanque e Vertedor Paraná Paraná PR

2.3 Legislação

O processo de leilão público da compra de energia no Brasil requer uma licença

prévia (LP), que é baseada no relatório de avaliação de impacto ambiental (EIA). A LP

inclui audiências públicas e direitos de uso da água. O vencedor do leilão deve, antes

da implementação do projeto, realizar novos estudos ambientais e atender a todos os

requisitos antes da obtenção da liçenca de operação (LO). Portanto os impactos

ambientais, sociais e econômicos devem ser considerados a partir da primeira fase

de planejamento e monitorados ao longo de todo o projeto (IEA, 2012).

Com os impactos das barragens sobre os peixes de piracema, a instalação de

MTPs no Brasil foi impulsionada com a criação da Instrução Normativa N° 146, de 11

de janeiro de 2007, que estabelece alguns critérios e procedimentos durante o

licenciamento ambiental de empreendimentos que causam impactos sobre a fauna

(ANDRADE e ARAÚJO, 2011).

Apenas os estados de Minas Gerais e São Paulo possuem leis específicas que

regulamentam a instalação de escadas de peixe para barragens que podem bloquear

a passagem dos peixes de piracema, válidas para somente para os rios cuja bacia

hidrográfica esteja inteiramente no domínio do estado.

Em Minas Gerais, a lei é válida para barragens a serem edificadas e fornece

um prazo de 5 anos para a adequação de barragens já existentes. A construção de

escadas de peixe pode ser dispensada caso considerados desnecessários pelo

parecer técnico (“Lei no 12.488 de 9 de abril, Minas Gerais, Brasil”, 1997).

Em São Paulo, é obrigatória a implantação de escadas de peixe para as

barragens a serem construídas enquanto para as barragens existentes, a

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obrigatoriedade dependerá de parecer técnico (“Lei N° 9.798, de 07 de outubro, São

Paulo, Brasil”, 1997).

Segundo MARTINS (2000), essas legislações precisam ser aperfeiçoadas pois

ainda demonstram imaturidade relacionada ao assunto dos MTPs.

De acordo com JUNHO (2008), uma lei no âmbito federal que tornava

obrigatória a instalação de MTPs nas barragens em todo o domínio da União teve sua

tramitação suspensa no Congresso Nacional.

2.4 Critérios de dimensionamento e monitoramento

Os primeiros critérios a serem observados para a construção de um MTP são os

critérios biológicos, que consistem na identificação dos locais de alimentação e

reprodução, época das migrações e estudos genéticos. Os estudos genéticos são

necessários para que a transposição não seja responsável por unir espécies que

anteriormente estavam isoladas (ALVES e GODINHO, 2004).

Em seguida, devem ser avaliados os critérios de engenharia. De acordo com

ALVES E GODINHO (2004) existem algumas regras que foram estabelecidas com o

conhecimento acumulado a respeito dos MTPs ao longo dos anos, tais como:

O MTP deve ter no máximo 10% de declividade;

A água deve ter uma velocidade máxima de 2 m/s e as áreas de turbulência

devem ser evitadas;

Utilização de modelo reduzido, permitindo estudar a sua hidráulica para

prevenir condições indesejadas;

Avaliação da eficiência de um MTP através de estudos de computação visual,

utilizando programas capazes de contar o número de peixes e identificar as

espécies que passam pelo MTP para saber a capacidade de peixes que o MTP

deve suportar.

Existem diversos manuais internacionais específicos para o dimensionamento de

MTPs (CLAY, 1995; FAO/DVWK, 2002; KAPITZKE, 2010; KATOPODIS, 1992; U.S.

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FISH AND WILDLIFE SERVICE, 2017; UNITED STATES DEPARTMENT OF

AGRICULTURE, 2007).

Figura 18 – Principais manuais para dimensionamento de MTPs.

Um dos critérios mais relevantes presente nos manuais é o cálculo do local de

entrada dos peixes no MTP. O fluxo deve ser atrativo para os peixes neste local.

Portanto, um estudo das características comportamentais das espécies alvo a jusante

da barragem, é fundamental para obter essa informação.

2.5 Simulação Computacional em MTPs

As soluções analíticas de problemas de escoamento que envolvam

distribuições de velocidades, linhas de fluxo e pressões são complexas para serem

resolvidas por equações diferenciais parciais.

A IEA incentiva o uso de ferramentas de simulação computacional, a qual

fornece uma análise bastante detalhada do escoamento da água, o que é ideal para

otimizar os projetos de MTPs e turbinas.

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Os principais manuais de dimensionamento recomendam testes com modelo

reduzido e simulações computacionais.

Diversos trabalhos são encontrados na literatura com o objetivo de aplicar

métodos numéricos para otimizar critérios de dimensionamento, tais como avaliar o

melhor local de entrada do MTP através da análise fluidodinâmica.

A maioria dos trabalhos apresentam métodos de simulação com malha

(ANDERSSON e colab., 2012; ARENAS e colab., 2015; LANGFORD e colab., 2011;

LUNDSTRÖM e colab., 2015; PLYMESSER, 2014).

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3 METODOLOGIA

3.1 Fluidodinâmica Computacional – Computacional Fluid

Dynamics (CFD)

A fluidodinâmica computacional, Computational fluid dynamics (CFD), é a área

do conhecimento que trata dos escoamentos de fluidos e da transferência de calor

através de simulação numérica. Consiste principalmente na resolução das equações

de escoamento de fluidos originadas da Mecânica dos Fluidos através de diferentes

métodos numéricos (KESSLER, 2016).

O método CFD é utilizado em projetos dos mais diversos segmentos de

engenharia, como na indústria de geração de energia, petróleo e gás, aviões,

automóveis, navios e equipamentos agroindustriais. Recentemente vem sido utilizado

também na gestão de recursos hídricos e estudos de poluição ambiental. A utilização

do CFD possibilita avaliar a viabilidade de um projeto e buscar otimizar a sua

realização através da simulação de diferentes cenários (KESSLER, 2016).

As equações diferenciais são usadas na Dinâmica dos Fluidos para descrever

matematicamente o movimento e transporte (de energia e de substância). Um dos

exemplos são a conservação da massa e a quantidade de movimento. Essas

equações são apresentadas na literatura como as equações de Navier-Stokes e são

bastante complexas para serem resolvidas analiticamente, sendo necessário o uso de

métodos numéricos, como o CFD (PINTO, 2013).

A equação de transporte da variável de interesse é a principal equação

resolvida pelo CFD. A variável de interesse é representada pelo símbolo Φ

(KESSLER, 2016).

𝜕

𝜕𝑡∫ ⍴𝜙𝘥𝘝 +∮⍴𝜙𝙑 ⋅ ⅆ𝑨

𝐴𝑉

= ∮𝛤𝜙∇ϕ ⋅ ⅆ𝐀 +𝐴

∫𝑆𝜙𝘥𝘝𝑉

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40

As equações resolvidas em CFD são da forma representada acima, com quatro

termos: tempo, advectivo, difusivo e fonte. Para as diferentes equações de

conservação são alterados somente a variável Φ, o coeficiente de difusão Γ, e a fonte

S (KESSLER, 2016).

Apesar da fórmula ser bastante utilizada em aplicações CFD, não existe

solução analítica até o momento para esta equação, portanto é necessário que seja

escrita de forma algébrica para então ser aplicado um método de discretização para

resolvê-la (KESSLER, 2016).

Os métodos de discretização mais utilizados no mercado são os métodos com

malha das diferenças finitas (método dos elementos finitos e método dos volumes

finitos) que consistem na troca do domínio contínuo por um domínio discreto, onde um

conjunto de divisões é utilizado para representar o domínio inicial, possibilitando que

a equação algébrica seja resolvida para cada uma dessas divisões (KESSLER, 2016).

Figura 19 – Método dos Volumes Finitos

(Fonte: KESSLER, 2016).

No método dos volumes finitos, existe um sistema de equações algébricas para

cada um dos volumes de controle, que são resolvidos numericamente por softwares

CFD (KESSLER, 2016).

Na Fluidodinâmica Computacional, existem dois tipos de abordagens: A

abordagem euleriana (Grid-based Methods) que é fundamentada no uso de malhas

e a abordagem lagrangeana (Particle-based Methods) onde não há malhas (PINTO,

2013).

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41

Alguns problemas podem não ser resolvidos eficientemente pelos métodos com

malha, tais como os que apresentam: geometria complexa ou móvel,

descontinuidades no domínio e deformações (GUEDES, 2006).

A malha é definida como um elemento discreto no qual o domínio (modelo) é

dividido. Todas as variáveis de fluxo e todas as demais são solucionadas no centro

desses elementos discretos. Todo este processo de divisão do domínio físico em

pequenos subdomínios (elementos) é chamado de geração de malhas. Esses

elementos são agrupados para formar zonas de limites e então condições de contorno

são aplicadas a essas zonas. A geração de malhas pode ser feita manualmente ou

automaticamente. A criação automática de malhas é feita a partir de informações

relacionadas ao tamanho dos elementos e as zonas das malhas. No entanto, isso

pode não ser viável para todos os casos, devido as limitações para geometrias mais

complexas (VISAVALE e DANGE, 2017).

Os elementos finitos ligam-se entre si por pontos nodais (nós), a malha

corresponde a todo este conjunto (elementos e nós). O comportamento físico regido

pelas equações matemáticas são resolvidas de forma aproximada pelo método

numérico e não exata devido às essas subdivisões da geometria. Portanto, para uma

maior precisão nos resultados é necessário uma grande quantidade de nós e

elementos (MIRLISENNA, 2016).

Figura 20 – Nós e elementos em uma malha

(Fonte: MIRLISENNA, 2016).

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42

Para garantir que a malha identifique o modelo de forma adequada é

necessário que a convergência da malha seja avaliada através do uso de diferentes

números de volumes de controle, quando o resultado entre dois refinamentos

consecutivos muda muito pouco diz-se que a malha converge. Após gerada a malha,

as condições de contorno e do solver deve ser configurada para então resolver o

sistema de equações por um processo iterativo até obter a convergência. Na etapa

final (Pós-processamento), os resultados são avaliados por ferramentas como

vetores, linhas de corrente, distribuição de cores, planos de corte, isosuperfícies, etc

(KESSLER, 2016).

As equações são resolvidas através de operadores matemáticos, uma vez que

em cada ponto da malha existe um número fixo de pontos vizinhos, é possível definir

operadores como a derivada através dessa conexão na vizinhança (VISAVALE e

DANGE, 2017).

Porém no caso de simulação com materiais que sofrem grandes deformações,

essa conexão na malha é difícil de ser mantida, levando uma maior quantidade de

erros. Para casos como este, os métodos sem malha podem ser uma boa solução,

além disso o tempo de simulação é menor e as geometrias complexas podem ser

utilizadas facilmente (VISAVALE e DANGE, 2017).

As principais desvantagens no uso de ferramentas CFD com uso de malhas

são a dificuldade em gerar malhas de boa qualidade e o tempo gasto durante a

simulação para a geração destas malhas, o que pode levar 70% do tempo total de

simulação. Os métodos sem malha consistem em uma boa alternativa para eliminar

esses problemas (VISAVALE e DANGE, 2017).

Nos métodos sem malha, os nós são tratados como partículas com massa e

densidade que movem-se ao longo do tempo. Por ser um método lagrangeano, o valor

de qualquer propriedade da partícula é independente dos valores das partículas na

vizinhança, com isto, não importa se as partículas se movem ou trocam de lugar umas

com as outras (VISAVALE e DANGE, 2017). O método sem malha estabelece um

sistema de equações algébricas para todo o domínio do problema. A ausência da

malha implica que nenhuma informação sobre a relação entre os partículas é

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43

necessária ao contrário dos casos convencionais de volume finito ou método de

diferenças finitas (VISAVALE e DANGE, 2017).

Na Figura 4 abaixo, um perfil aerodinâmico é exibido nas duas abordagens: À

esquerda, na abordagem euleriana e à direita o mesmo perfil é exibido em um método

CFD sem malha, onde as equações diferenciais são resolvidas para cada ponto.

(a)

(b)

Figura 21 – Perfil aerodinâmico na abordagem euleriana (a) e lagrangeana (b)do CFD

(Fonte: VISAVALE e DANGE, 2017).

A discretização do domínio sem malha ocorre através da decomposição do

domínio contínuo, em um conjunto de partículas distribuídas em ordem aleatória. Para

a aproximação da função de campo é usado o método de representação integral que

pode ser convertido em soma finita através da aproximação das partículas (VISAVALE

e DANGE, 2017).

3.2 O método Smoothed Particle Hydrodynamics (SPH)

Desenvolvido a partir de 1977 para resolver problemas de astrofísica (LUCY,

1977), o método numérico SPH vem sendo utilizado para estudar o escoamento de

fluidos, porém ainda há poucos casos documentados na literatura aplicados a MTPs

(MARIVELA, 2009).

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O método busca tratar comportamentos em que o uso de malhas são

inadequados devido à falta de definição de limites. Atualmente é o método sem malha

mais popular na literatura científica (VIOLEAU, 2012).

No SPH, o movimento das partículas que representam o escoamento,

interagem com as estruturas e apresentam deformação ao entrar em contato com os

limites. O método SPH vem apresentando avanços no campo de CFD, com

modificações contínuas para que o modelo apresente resultados confiáveis para o seu

uso em engenharia (DUALSPHYSICS TEAM, 2016).

Quando usadas para simulações de dinâmica dos fluidos, as equações

discretizadas de Navier-Stokes são integradas localmente para cada posição de cada

partícula, de acordo com as propriedades físicas das partículas circunvizinhas. A

vizinhança das partículas é determinada por uma função baseada na distância, tanto

circular (bidimensional) ou esférica (tridimensional) com um comprimento

característico ou suavizado frequentemente indicado como h. A cada etapa de tempo,

novas quantidades físicas são calculadas para cada partícula e, em seguida, movem-

se de acordo com os novos valores calculados.

O SPH é um método numérico ideal para simular problemas de escoamento

livre. Suas aplicações são muito abrangentes, incluindo inundações, projeto de

barragens e mecanismos de usinas hidrelétricas (DOMÍNGUEZ, 2014).

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45

3.3 Interpolação de Kernel

As leis de conservação da dinâmica dos fluidos contínuos são tranformadas de

sua forma diferencial parcial para uma forma adequada para a simulação baseada em

partículas usando equações integrais com base em uma função de interpolação, o

que fornece uma estimativa de valores em um ponto específico. Normalmente, esta

função de interpolação ou ponderação é conhecida como a função kernel (W) e pode

assumir formas diferentes, sendo as mais comuns: cúbica ou quíntica. Em todos os

casos, é elaborada para representar uma função F(r) definida em r’ pela aproximação

integral (DUALSPHYSICS TEAM, 2016).

𝐹(𝒓)∫𝐹(𝒓′)𝑊(𝒓 − 𝒓′, ℎ)ⅆ𝒓′

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46

4 ESTUDO DE CASO

Escolha do teste com modelo reduzido

Larinier (1999) ressaltou a importância de estudos em modelos reduzidos e

protótipos para evolução dos projetos de MTP de forma mais rápida e eficaz.

O teste com modelo reduzido escolhido na literatura foi realizado pela

Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH) da Escola Politécnica da USP

(JUNHO, 2008). Em modelo em questão representa a PCH Paranatinga II localizada

no rio Culuene, Mato Grosso.

O MTP é do tipo escada com ranhura vertical, com declividade de 4,5% para

vencer um desnível médio de 17 m em um total de 81 tanques.

Figura 22 – Planta e seção transversal dos tanques

(Fonte: JUNHO, 2008)

O modelo reduzido foi elaborado pela FCTH (JUNHO, 2008), na escala 1:7 e

com um total de 10 tanques.

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Figura 23 – Modelo Reduzido PCH Paranatinga II elaborado pela FCTH

Fonte: (JUNHO, 2008).

Modelo computacional e Simulação

Uma escada do tipo ranhura vertical envolve uma série de paramêtros que

influencia o escoamento, tais como a geometria dos defletores. Este trabalho investiga

o modelo reduzido FCTH baseado em (JUNHO, 2008).

A geometria do modelo computacional foi feita no software Sketchup e então

convertida para o formato STL, compatível com o software de simulação utilizado.

Inclui 9 tanques, um reservatório e um tanque de transição. Dentre os tanques temos,

os tanques de montante (tanques 1 e 2) e os tanques típicos (demais tanques).

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Figura 24 – Geometria do modelo computacional PCH Paranatinga II

As condições de contorno são estabelecidas seguindo as condições do modelo

reduzido estudado, no software livre DualSPHysics. O código DualSPHysics é

baseado no método SPH e pode ser utilizado tanto em um computador do tipo CPU

quanto em um computador gráfico (GPU). O software DualSPHysics está sendo

desenvolvido por membros das instituições: Johns Hopkins University (EUA),

University of Vigo (Espanha) e University Of Manchester (Reino Unido).

O escoamento na escada do tipo ranhura vertical pode ser considerado

periódico quando há quantidade suficiente de tanques (VIOLEAU, 2012). De acordo

com JUNHO (2008), esse tipo de escada apresenta padrões de distribuição de

velocidades e dissipação de energia independentes da lâmina d’água no interior dos

tanques.

O parâmetro periodicidade foi utilizado no código DualSPHysics como no

exemplo da figura 25 para estabelecer um regime permanente.

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Figura 25 – Parâmetro periodicidade no DualSPHysics

(Fonte: DUALSPHYSICS TEAM, 2016)

A simulação é realizada no GPU, para então avaliar as velocidades em 19

pontos do escoamento. Foram utilizadas 670.534 partículas para simular a água.

Resultados

A análise visual do resultado da simulação no modelo numérico (figura 26)

permite observar um comportamento diferenciado nos tanques de montante. A partir

do tanque 3 começa a estabilização do regime de escoamento, onde é atingido no

tanque 6. O mesmo ocorreu no estudo da FCTH descrito por JUNHO (2008) com

modelo reduzido, onde o tanque 6 foi considerado como representativo para o

escoamento.

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50

Figura 26 – Velocidade de escoamento nos tanques de montante e típicos no método SPH

As velocidades do modelo numérico são comparadas aos valores de modelo

reduzido convertidos para protótipo (figura 27 e 28).

Para a visualização das velocidades e direção de escoamento, foi utilizado o

software Paraview.

Na figura 27 é possível fazer uma comparação do escoamento nos tanques de

montante para o modelo reduzido FCTH descrito por JUNHO (2008) e para o modelo

computacional.

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51

(a) (b)

Figura 27 – Escoamento nos tanques de montante (a) Modelo Reduzido FCTH (Fonte: JUNHO, 2008) e (b) Modelo Computacional

O escoamento em regime permanente é obtido nos tanques típicos conforme

figura 28.

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(a) (b)

Figura 28 – Escoamento nos tanques típicos (a) Modelo Reduzido FCTH (Fonte: JUNHO, 2008) e (b) Modelo Computacional

As velocidades e direções de fluxo foram avaliados no tanque 6, considerado

representativo do escoamento nos tanques (JUNHO, 2008). Na figura 29, é possível

comparar, no tanque representativo, as direções do escoamento no modelo reduzido

e no modelo computacional. São reveladas áreas de recirculação no modelo SPH

bastante semelhantes com a do modelo reduzido.

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53

(a) (b)

Figura 29 – Pontos de medição de velocidades e direção do escoamento no tanque 6 (a) Modelo Reduzido FCTH (Fonte: JUNHO, 2008) e (b) Modelo Computacional

São destacados 19 pontos de medição de velocidade no ensaio com modelo

reduzido, detalhado em JUNHO (2008) na figura 29 (a), o mesmo é feito para o modelo

computacional para que seja comparado e avaliado.

Os pontos 9, 10 e 11 correspondem ao fluxo principal, onde o movimento a

jusante é visto claramente.

A zona de recirculação superior mostrou-se mais compatível com o modelo

reduzido do que a zona inferior.

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Tabela 2 – Comparação das velocidades média e máxima no modelo reduzido FCTH (JUNHO, 2008) e no modelo computacional.

Na figura 30, são apresentados dois gráficos comparativos de velocidade

máxima e média nos pontos de referência do escoamento. É possível notar um mesmo

padrão de escoamento no modelo reduzido e no computacional, no que se trata das

zonas de recirculação superior e no fluxo dominante. O padrão varia um pouco na

zona de recirculação inferior.

Velocidade Média (m/s) Velocidade Máxima (m/s)

Pontos Modelo Reduzido

FCTH Modelo

Computacional Modelo Reduzido

FCTH Modelo

Computacional

1 0,52 0,25 0,58 0,45

2 0,98 1 1,06 1,25

3 0,53 0,65 0,64 0,85

4 0,7 0,65 0,75 0,85

5 0,74 1 0,91 1,25

6 0,31 0,25 0,35 0,45

7 0,54 0,65 0,73 0,85

8 0,72 1,45 0,78 1,65

9 1,7 2,3 2,02 2,5

10 2,14 2,3 2,24 2,5

11 1,75 2,3 1,9 2,5

12 0,47 0,65 0,51 0,85

13 0,35 0,65 0,44 0,85

14 0,46 0,65 0,49 0,85

15 0,82 1 0,83 1,25

16 0,83 1 0,91 1,25

17 0,97 0,65 1,02 0,85

18 1,12 0,65 1,17 0,85

19 0,7 1 0,74 1,25

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55

Figura 30 – Gráficos comparativos das velocidades nos pontos 1 a 19 para os modelos reduzido e computacional

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Ve

loci

dad

e (

m/s

)

Pontos do escoamento

Velocidade Média

Modelo Físico Ricardo Junho Modelo Computacional

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Ve

loci

dad

e (

m/s

)

Pontos do escoamento

Velocidade Máxima

Modelo Físico Ricardo Junho Modelo Computacional

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5 CONCLUSÕES

Diante de tantos casos de MTPs que não funcionam corretamente no Brasil e a

inúmeros acidentes onde uma grande mortalidade de peixes ocorre no próprio

mecanismo de transposição, é urgente a necessidade de estudos migratórios para as

espécies neotropicais. Somente conhecendo o comportamento das espécies é

possível realizar um dimensionamento adequado, otimizando principalmente a área

de entrada no MTP, com fluxos atrativos específicos para a espécie alvo.

A falta de legislações específicas para MTPs é um fator agravante e que explica

essa defasagem tecnológica do Brasil com relação a este assunto. As multas são

aplicadas somente no âmbito da avaliação de impactos ambientais, muitas vezes não

sendo aplicadas devidamente.

A falta da exigência de monitoramento das espécies que passam pelo mecanismo

faz com que os mecanismos não sejam eficientes e que sejam implantados apenas

pra atender a requisitos legais para a implantação e operação do empreendimento

hidrelétrico.

Foi apresentada a importância da utilização em conjunto de modelos reduzidos e

numéricos para a otimização do dimensionamento de MTPs. Um estudo de caso foi

comparado com o modelo numérico 3D de um MTP do tipo ranhura vertical, o modelo

computacional foi simulado através do método SPH.

O método SPH reproduziu de maneira bastante satisfatória as condições

hidrodinâmicas do MTP. Os resultados dos testes em modelo reduzido são bastante

compatíveis com os resultados da simulação numérica realizada neste trabalho. O

padrão do escoamento foi o mesmo na zona de recirculação superior e no fluxo

principal, observando-se uma pequena variação no padrão de fluxo na zona inferior

de recirculação.

O uso de modelos numéricos é bastante desejável como ferramenta complementar

aos modelos reduzidos devido à importância de conhecer o comportamento dos

peixes em cada zona de escoamento, para uma otimização no dimensionamento

desses mecanismos. O comportamento de diferentes espécies pode ser associado às

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variáveis hidráulicas que podem ser simuladas através do método SPH, obtendo uma

economia de tempo e recursos financeiros.

Isso confirma que o SPH é um método promissor para problemas de engenharia

envolvendo a complexa interação entre a água e a estrutura do MTP.

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APÊNDICE - Comando de entrada DualSPHysics

1 <?xml version="1.0" encoding="UTF-8" ?> 2 <case> 3 <casedef> 4 <constantsdef> 5 <lattice bound="1" fluid="1" /> 6 <gravity x="0" y="0" z="-9.81" comment="Gravitational acceleration"

units_comment="m/s^2" /> 7 <rhop0 value="1000" comment="Reference density of the fluid"

units_comment="kg/m^3" /> 8 <hswl value="0" auto="true" comment="Maximum still water level to

calculate speedofsound using coefsound" units_comment="metres (m)" /> 9 <gamma value="7" comment="Polytropic constant for water used in the

state equation" /> 10 <speedsystem value="0" auto="true" comment="Maximum system speed (by

default the dam-break propagation is used)" /> 11 <coefsound value="20" comment="Coefficient to multiply speedsystem" /> 12 <speedsound value="0" auto="true" comment="Speed of sound to use in the

simulation (by default speedofsound=coefsound*speedsystem)" /> 13 <coefh value="1.0" comment="Coefficient to calculate the smoothing

length (h=coefh*sqrt(3*dp^2) in 3D)" /> 14 <cflnumber value="0.2" comment="Coefficient to multiply dt" /> 15 </constantsdef> 16 <mkconfig boundcount="240" fluidcount="10" /> 17 <geometry> 18 <definition dp="0.1"> 19 <pointmin x="5" y="-30" z="1" /> 20 <pointmax x="25" y="28" z="14" /> 21 </definition> 22 <commands> 23 <mainlist> 24 <setshapemode>dp | bound |fluid</setshapemode> 25 <setdrawmode mode="full" /> 26 <!-- Contornos --> 27 <setmkbound mk="0"/> 28 <drawfilestl file="alternativa_4_prototipo_6pools_novo.stl" /> 29 <!-- Fundo --> 30 <drawquadri> 31 <point x="11.4" y="-25" z="7.5"/> 32 <point x="11.4" y="-11" z="7.5"/> 33 <point x="20.9" y="-11" z="7.5"/> 34 <point x="20.9" y="-25" z="7.5"/> 35 </drawquadri> 36 <shapeout file="Contorno"/> 37 <!-- Agua --> 38 <setmkfluid mk="1" /> 39 <fillbox x="18" y="-12" z="8" mkbound="0"> 40 <modefill>void</modefill> 41 <point x="9" y="-28" z="1" /> 42 <size x="18" y="27.6" z="9" /> 43 </fillbox> 44 <setmkfluid mk="1" /> 45 <drawprism> 46 <modefill>solid</modefill> 47 <setshapemode>dp</setshapemode> 48 <point x="15.2" y="-0.4" z="8.3" /> 49 <point x="12.8" y="-0.4" z="9.9" /> 50 <point x="19.7" y="-0.4" z="9.9" /> 51 <point x="17.1" y="-0.4" z="8.3" /> 52 53 <point x="15.2" y="27.6" z="6.6" />

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54 <point x="12.8" y="27.6" z="7.7" /> 55 <point x="19.7" y="27.6" z="7.7" /> 56 <point x="17.1" y="27.6" z="6.6" /> 57 </drawprism> 58 <shapeout file="Agua"/> 59 </mainlist> 60 </commands> 61 </geometry> 62 </casedef> 63 <execution> 64 <parameters> 65 <parameter key="PosDouble" value="1" comment="Precision in particle

interaction 0:Simple, 1:Double, 2:Uses and saves double (default=0)" />

66 <parameter key="StepAlgorithm" value="1" comment="Step Algorithm 1:Verlet, 2:Symplectic (default=1)" />

67 <parameter key="VerletSteps" value="40" comment="Verlet only: Number of steps to apply Euler timestepping (default=40)" />

68 <parameter key="Kernel" value="2" comment="Interaction Kernel 1:Cubic Spline, 2:Wendland (default=2)" />

69 <parameter key="ViscoTreatment" value="1" comment="Viscosity formulation 1:Artificial, 2:Laminar+SPS (default=1)" />

70 <parameter key="Visco" value="0.02" comment="Viscosity value" /> % Note alpha can depend on the resolution. A value of 0.01 is recommended for near irrotational flows.

71 <parameter key="ViscoBoundFactor" value="1" comment="Multiply viscosity value with boundary (default=1)" />

72 <parameter key="DeltaSPH" value="0" comment="DeltaSPH value, 0.1 is the typical value, with 0 disabled (default=0)" />

73 <parameter key="#Shifting" value="0" comment="Shifting mode 0:None, 1:Ignore bound, 2:Ignore fixed, 3:Full (default=0)" />

74 <parameter key="#ShiftCoef" value="-2" comment="Coefficient for shifting computation (default=-2)" />

75 <parameter key="#ShiftTFS" value="1.5" comment="Threshold to detect free surface. Typically 1.5 for 2D and 2.75 for 3D (default=0)" />

76 <parameter key="RigidAlgorithm" value="1" comment="Rigid Algorithm 1:SPH, 2:DEM (default=1)" />

77 <parameter key="FtPause" value="0.0" comment="Time to freeze the floatings at simulation start (warmup) (default=0)" units_comment="seconds" />

78 <parameter key="CoefDtMin" value="0.05" comment="Coefficient to calculate minimum time step dtmin=coefdtmin*h/speedsound (default=0.05)" />

79 <parameter key="#DtIni" value="0.0001" comment="Initial time step (default=h/speedsound)" units_comment="seconds" />

80 <parameter key="#DtMin" value="0.00001" comment="Minimum time step (default=coefdtmin*h/speedsound)" units_comment="seconds" />

81 <parameter key="#DtFixed" value="DtFixed.dat" comment="Dt values are loaded from file (default=disabled)" />

82 <parameter key="DtAllParticles" value="0" comment="Velocity of particles used to calculate DT. 1:All, 0:Only fluid/floating (default=0)" />

83 <parameter key="TimeMax" value="10" comment="Time of simulation" units_comment="seconds" />

84 <parameter key="TimeOut" value="0.1" comment="Time out data" units_comment="seconds" />

85 <parameter key="IncZ" value="2" comment="Increase of Z+" units_comment="decimal" />

86 <parameter key="PartsOutMax" value="1" comment="%/200 of fluid particles allowed to be excluded from domain (default=1)" units_comment="decimal" />

87 <parameter key="RhopOutMin" value="700" comment="Minimum rhop valid (default=700)" units_comment="kg/m^3" />

88 <parameter key="RhopOutMax" value="1300" comment="Maximum rhop valid (default=1300)" units_comment="kg/m^3" />

89 <parameter key="YPeriodicIncZ" value="7" comment="Increase of Z with periodic BC" />

90 </parameters> 91 </execution>

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92 </case>

1 @echo off 2 3 rem "name" and "dirout" are named according to the testcase 4 5 set name=ESCADA_DE_PEIXE_R21 6 set dirout=%name%_out 7 8 rem "executables" are renamed and called from their directory 9

10 set gencase="../../SPH/EXECS/GenCase4_win64.exe" 11 set dualsphysics="../../SPH/EXECS/DualSPHysics4_win64.exe" 12 set boundaryvtk="../../SPH/EXECS/BoundaryVTK4_win64.exe" 13 set partvtk="../../SPH/EXECS/PartVTK4_win64.exe" 14 15 rem "dirout" is created to store results or it is removed if it already exists 16 17 if exist %dirout% del /Q %dirout%\*.* 18 if not exist %dirout% mkdir %dirout% 19 20 rem CODES are executed according the selected parameters of execution in this testcase 21 22 %gencase% %name%_Def %dirout%/%name% -save:all 23 if not "%ERRORLEVEL%" == "0" goto fail 24 25 %dualsphysics% %dirout%/%name% %dirout% -svres -gpu 26 if not "%ERRORLEVEL%" == "0" goto fail 27 28 %partvtk% -dirin %dirout% -savevtk %dirout%/PartFluid -onlytype:-all,+fluid 29 if not "%ERRORLEVEL%" == "0" goto fail 30 31 32 33 :success 34 echo All done 35 goto end 36 37 :fail 38 echo Execution aborted. 39 40 :end 41 pause 42