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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA – USP LUCIANO MOREIRA PINTO A VIABILIDADE DE SE INVESTIR EM USINAS NUCLEARES NO BRASIL Lorena, 2013

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA – USP

LUCIANO MOREIRA PINTO

A VIABILIDADE DE SE INVESTIR EM USINAS NUCLEARES NO

BRASIL

Lorena, 2013

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LUCIANO MOREIRA PINTO

A VIABILIDADE DE SE INVESTIR EM USINAS NUCLEARES NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo para obtenção do certificado de graduação no curso de Engenharia Química. Área de concentração: Engenharia Química Orientador: Prof. Fabrício Maciel Gomes

Lorena, 2013

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU

ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, que iluminou e abençoou o meu caminho durante a realização deste trabalho. Ao meu pai Geraldo, e minha mãe Inês, por todo o apoio e incentivo, fundamentais para a minha formação superior, e por tudo que sempre fizeram por mim, principalmente pelo exemplo e educação que me deram, fazendo de mim o homem que sou hoje. Ao professor Fabrício Maciel, por toda orientação recebida. À Escola de Engenharia de Lorena, junto com seu corpo docente, funcionários e alunos, pela oportunidade estudar e aprender em uma excelente universidade e com ótimos professores, funcionários e colegas, que de forma direta ou indireta ajudaram na minha graduação. Aos meus amigos, especialmente meus antigos companheiros de república, pela amizade e companheirismo fundamentais neste período morando em Lorena. A minha família, que sempre me apoio e acreditou em mim. E em especial, à minha namorada Elaine, pela pessoa maravilhosa que ela é, por sempre acreditar em mim e me apoiar, e pelo enorme apoio que me deu durante a realização deste trabalho.

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A VIABILIDADE DE SE INVESTIR EM USINAS NUCLEARES NO

BRASIL

LUCIANO MOREIRA PINTO

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo fazer uma pesquisa bibliográfica sobre a viabilidade

de se investir em usinas nucleares no Brasil. Com os avanços tecnológicos e o

desenvolvimento, existe um aumento na demanda de energia elétrica,

necessitando assim uma busca por novas fontes de energia para suprir essa

demanda. Além da necessidade de suprir este aumento da demanda de energia

elétrica, existe também a importância de se diversificar as fontes de energia para

diminuir a dependência de uma única fonte de energia, como ocorre no Brasil com

as usinas hidrelétricas. Das possíveis fontes de energia, talvez a mais controversa

seja energia nuclear, pois a palavra nuclear traz sempre as lembranças do

enorme poder de destruição em caso de algum acidente, como o já ocorrido em

Chernobyl e mais recentemente em Fukushima, além de ser automaticamente

ligada as bombas nucleares e seu alto poder de destruição. Devido a esses

fatores, esse trabalho visa analisar a viabilidade de se investir em usinas

nucleares no Brasil, fazendo uma analise comparativa de alguns parâmetros,

como a parte econômica e ambiental, entre algumas fontes de energia, como a

hidrelétrica, nuclear, solar, eólica e termelétrica, para assim concluir se é viável se

investir em usinas nucleares. Analisando os parâmetros utilizados neste trabalho,

podemos observar que as usinas nucleares apresentam um custo intermediário

comparada com as demais fontes e não emite gases do efeito estufa, viabilizando

as mesmas.

Palavras-chave: Usinas nucleares; energia nuclear; energia elétrica

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THE FEASIBILITY OF INVESTING IN NUCLEAR POWER PLANTS

IN BRAZIL

LUCIANO MOREIRA PINTO

ABSTRACT

This work aims to do a literature search about the feasibility of investing in nuclear

power plants in Brazil. With technological advances and development, there is an

increase in electricity demand, thus necessitating a search for new sources of

energy to supply this demand. Besides the need to supply this increased demand

for electricity, there is also the importance of diversifying energy sources to reduce

dependence on a single energy source, as in Brazil with hydroelectric plants. Of

the possible sources of energy, maybe the most controversial is the nuclear

power, because the word nuclear brings together the memories of the enormous

destructive power in case of an accident, as has already happened in Chernobyl,

and more recently in Fukushima, and is automatically linked with nuclear bombs

and their high destructive power. Due to these factors, this work aims to analyze

the feasibility of investing in nuclear power plants in Brazil, making a comparative

analysis of some parameters, such as the economic and environmental, between

certain energy sources, like as hydroelectric, nuclear, solar, wind and

thermoelectric, to concluding whether it is feasible to invest in nuclear power

plants. Analyzing the parameters used in this study, we observed that nuclear

plants have an intermediate cost compared with other sources and don’t issues

greenhouse gases, enabling the same.

Keywords: Nuclear power plants, nuclear power, electric power

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01- Matriz de energia elétrica brasileira em 2013 ................................................. 10

Figura 02- Esquema de uma usina hidrelétrica ............................................................... 17

Figura 03- Diagrama do sistema heliotérmico ................................................................. 19

Figura 04- Esquema de montagem e funcionamento de uma célula solar....................... 20

Figura 05- Diagrama de blocos de um sistema solar fotovoltaico.................................... 21

Figura 06- Instalação de potência a vapor....................................................................... 26

Figura 07- Ciclo do combustível nuclear.......................................................................... 34

Figura 08- Principio de funcionamento de uma ultracentrífuga........................................ 37

Figura 9- Esquema de cascata Ideal para o enriquecimento de urânio ........................... 38

Figura 10- Processo de reconversão do UF6 em UO2 ..................................................... 39

Figura 11- Processo de fabricação das pastilhas ............................................................ 40

Figura 12- Elemento combustível utilizado na usina de Angra I ...................................... 41

Figura 13- Elemento combustível utilizado na usina de Angra II...................................... 41

Figura 14- Reator PWR................................................................................................... 43

Figura 15- Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto ....................................................... 45

Figura 16- Usina Nuclear de Angra I ............................................................................... 46

Figura 17- Usina Nuclear de Angra II .............................................................................. 48

Figura 18- Usina Nuclear de Angra III ............................................................................. 49

Figura 19- Complexo termelétrico de Candiota, UTE Presidente Médici. ........................ 52

Figura 20- Vista aérea da termelétrica a gás Leonel Brizola............................................ 53

Figura 21- Termelétrica Breitener, Maracaú, CE ............................................................. 53

Figura 22- Vista da Usina de Angra II.............................................................................. 54

Figura 23- Lago da hidrelétrica de Serra da Mesa, GO ................................................... 54

Figura 24- Vista do Parque Eólico de La Sierra de El Perdón ......................................... 55

Figura 25- Planta solar de Espenhain, Alemanha............................................................ 55

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Distribuição das reservas brasileiras de urânio................................................ 35

Tabela 2- Comparativo dos tipos de geração x área de construção x custo em Euro...... 56

Tabela 3- Consumo de matéria-prima ............................................................................. 58

Tabela 4- Consumo ou requerimento total em toda a cadeia energética ......................... 59

Tabela 5- Emissão de gases das centrais geradoras de energia elétrica ........................ 60

Tabela 6- Custos de produção de energia elétrica no Brasil............................................ 65

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SÚMARIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................10

1.1 Objetivos .........................................................................................................12

1.1 Metodologia.....................................................................................................13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................14

2.1 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.............................................................14

2.1.1 Energia Hidrelétrica......................................................................................15

2.1.2 Energia Solar ...............................................................................................18

2.1.3 Energia Eólica ..............................................................................................22

2.1.4 Energia Térmica...........................................................................................24

2.1.4.1 Tipos de Combustíveis..............................................................................27

2.1.4.1.1 Gás Natural ............................................................................................27

2.1.4.1.2 Óleo........................................................................................................27

2.1.4.1.3 Carvão Mineral .......................................................................................28

2.1.4.1.4 Biomassa ...............................................................................................30

2.1.5 Energia Nuclear ...........................................................................................31

2.1.5.1 Histórico da Energia Nuclear.....................................................................31

2.1.5.1.1 A energia nuclear no Brasil ....................................................................32

2.1.5.2 Produção dos combustíveis nucleares......................................................33

2.1.5.2.1 Mineração e Beneficiamento..................................................................34

2.1.5.2.2 Conversão..............................................................................................35

2.1.5.2.3 Enriquecimento ......................................................................................36

2.1.5.2.4 Reconversão ..........................................................................................38

2.1.5.2.5 Fabricação das Pastilhas .......................................................................39

2.1.5.2.6 Fabricação do Elemento Combustível....................................................40

2.1.5.2.7 Geração de Energia Elétrica ..................................................................42

2.1.5.3 Estrutura da energia nuclear no Brasil ......................................................43

2.1.5.3.1 Indústrias Nucleares do Brasil................................................................43

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2.1.5.3.2 ELETROBRAS ELETRONUCLEAR.......................................................44

2.1.5.4 As Usinas Nucleares Brasileiras ...............................................................45

2.1.5.4.1 Angra I....................................................................................................45

2.1.5.4.2 Angra II...................................................................................................46

2.1.5.4.3 Angra III..................................................................................................48

3 METODOLOGIA ................................................................................................50

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................51

4.1 Possuir um ciclo de combustível .....................................................................57

4.2 Área ocupada pelas unidades geradoras........................................................58

4.3 O uso de água pelas fontes de energia ..........................................................59

4.4 Quantidade gerada de Gases do Efeito Estufa ...............................................60

4.5 Dependência de fatores sazonais e climático e o perfil de geração................61

4.6 Impactos causados pela matéria-prima...........................................................62

4.7 Ser ou não uma fonte de energia renovável ...................................................63

4.8 Possibilidade da instalação da unidade geradora próxima aos centros consumidores........................................................................................................63

4.9 Custos de geração elétrica..............................................................................64

4.10 Desativação da unidade geradora de eletricidade ........................................65

4.11 Disposições finais .........................................................................................66

5 CONCLUSÃO ....................................................................................................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................71

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1. INTRODUÇÃO

Em um mundo cada vez mais globalizado e industrializado, um dos

aspectos mais importantes a ser levado em consideração é a geração de energia

elétrica. A energia elétrica é amplamente utilizada no nosso dia-a-dia, sendo

convertida na geração de luz elétrica; utilizada em diversos equipamentos eletro-

eletrônicos, como brinquedos, televisores, computadores, eletrodomésticos, entre

tantos outros; e também é muito utilizada nas indústrias, no funcionamento dos

equipamentos utilizados nas fábricas. Tudo isso faz com que a energia elétrica na

sociedade atual seja imprescindível e, com o crescimento e acelerado

desenvolvimento de novas tecnologias, tem crescido muito a demanda por energia

elétrica, tornando assim fundamental para o crescimento de um país um

crescimento na sua capacidade de geração de energia elétrica para suprir essa

nova demanda.

Existem diversas formas para a geração de energia elétrica, dentre elas as

mais utilizadas no Brasil são as usinas hidrelétricas, eólicas, termelétricas e

nucleares. A Figura 1 mostra a matriz de energia elétrica atual do Brasil.

Figura 1- Matriz de energia elétrica brasileira em 2013. Fonte: site da ANAEEL

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Como podemos perceber pelo gráfico, a maior fonte de energia elétrica do

Brasil são as hidrelétricas, correspondendo a 64,50% de toda a matriz energética

brasileira. As usinas hidrelétricas sem dúvida são uma das melhores opções para o

Brasil na produção de energia elétrica, pois o relevo e as condições climáticas

brasileiras favorecem a exploração desse tipo de energia, sendo a mesma também

uma fonte de energia renovável e limpa, diminuindo assim a emissão de gases e

resíduos geradores do efeito estufa e do aquecimento global, contribuindo assim

para o meio ambiente, que é uma das grandes preocupações da sociedade atual, e

o fato de ser uma fonte de energia renovável a torna uma fonte inesgotável de

energia, diferente, por exemplo, dos combustíveis fósseis, cujas reservas um dia

irão se esgotar.

Porém é importante para uma nação variar os tipos de fonte de energia

para não se tornar dependente de apenas um tipo de energia, e assim ficar sem

energia elétrica, os chamados “apagões”, caso ocorra algum problema com essa

fonte, como já ocorreu no Brasil.

Em 2001, ocorreu o apagão devido à falta de investimentos na geração de

energia elétrica em anos anteriores e a um regime hidrológico adverso no verão

2000/2001. De 1994 a 2001 a capacidade instalada teve um acréscimo de apenas

2,7 GWh ou 0,0027 TWh. Os investidores privados optaram por comprar centrais

prontas a investir no aumento do sistema gerador. Com o crescimento da demanda,

restava apenas usar a água das hidrelétricas. Em meados de 2000 os reservatórios

contavam com apenas 30% de sua capacidade. Associada a isso, no verão

2000/2001 o índice pluviométrico foi o mais baixo já registrado até então. O

resultado da soma desses fatores foi o racionamento de energia em 2001 e 2002

(HINRICKS & KLEINBACH, 2008, p.491).

Este fato demonstra bem à necessidade de uma maior diversificação na

matriz energética brasileira, que é totalmente dependente, e conseqüentemente

refém, de uma única fonte energética, as usinas hidrelétricas, e que problemas

neste tipo de energia acarretam em apagões por todo o território nacional.

E é neste momento, quando se buscam alternativas energéticas, que surge

a grande duvida, sobre qual a melhor fonte de energia para se investir. Para uma

nação, uma variedade de fontes de energia pode ser algo muito positivo, pois além

de se diminuir a dependência de um único tipo de fonte de energia, traz também um

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crescimento no conhecimento e no desenvolvimento de novas tecnologias, que

podem vir a ser úteis também em outras áreas.

Dentre as possíveis fontes de energia para a produção de energia elétrica,

talvez a mais controversa seja a utilização das usinas nucleares. A energia nuclear

é bastante desconhecida para a maioria da população, que não sabem como é o

funcionamento de uma usina nuclear, quais seus riscos, as medidas de segurança

adotadas, o destino dado aos resíduos nucleares, enfim, a verdade é que quando

se fala em energia nuclear as pessoas já ficam apreensivas e com medo, e

conseqüentemente tem uma grande desconfiança com as usinas nucleares. A

palavra nuclear causa um grande temor nas pessoas, principalmente no que se diz

respeito à segurança e os seus riscos, pois naturalmente já a relacionamos com

bombas nucleares e seu alto poder de destruição e contaminação, assim como

também a lembrança dos acidentes em usinas nucleares, como o que ocorreu em

Chernobyl, na Ucrânia, e mais recentemente em Fukushima, no Japão, acidentes

que geraram muitas mortes e enormes danos ambientais, contaminando água, solo,

ar e as pessoas ao redor de onde houve esses acidentes. Somado a esse medo

das pessoas para com as usinas nucleares, também existe a critica a esse tipo de

energia por não ser uma fonte de energia renovável, apesar de ser uma fonte de

energia limpa, com baixos níveis de emissão de gases causadores do efeito estufa.

1.1 Objetivos

Este trabalho tem como objetivo avaliar a viabilidade de se investir em

usinas nucleares para a geração de energia elétrica no Brasil. Esta avaliação será

realizada através de uma analise comparativa de parâmetros econômicos e

ambientais, para concluir se a energia nuclear apresenta valores competitivos

quando comparada a outras fontes de geração de energia elétrica. Serão

comparados os custos da geração de energia e os impactos ambientais causados

pelas fontes de energia, pois, apesar de não serem os únicos parâmetros a serem

considerados para se determinar em qual fonte de energia deve-se investir, são os

principais parâmetros considerados para se definir em qual fonte deve-se investir.

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Este trabalho também apresentará como funciona a energia nuclear no

Brasil para a geração de energia elétrica. Será apresentado um histórico da energia

nuclear no Brasil; como está estruturado o setor nuclear brasileiro; onde e como

ocorre a fabricação dos combustíveis nucleares necessários pra o funcionamento

de uma usina nuclear; como é o funcionamento de um reator de fissão nuclear, que

é o utilizado atualmente nas usinas nucleares no Brasil e no mundo (não é objetivo

deste trabalho falar sobre os reatores a fusão nuclear, que ainda se encontram em

estagio de desenvolvimento, não havendo nenhuma usina nuclear no mundo

funcionando por reator de fusão); e mostrar qual é a situação atual e os planos para

o futuro das usinas nucleares no Brasil, que hoje possui em funcionamento duas

usinas nucleares, Angra I e Angra II, e está em fase de construção de uma terceira,

a usina de Angra III.

1.2 Metodologia

Neste trabalho será realizada uma pesquisa bibliográfica, fazendo um

levantamento na literatura sobre a energia nuclear e sobre os parâmetros para se

fazer uma analise comparativa entre as diferentes fontes de energia.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Geração de energia elétrica

A geração de energia elétrica ocorre através da transformação de energia

mecânica em energia elétrica. O primeiro passo para produzir energia elétrica é

obter a força necessária para girar as turbinas das usinas. Gigantescos sistemas de

hélices, elas movem geradores que transformam a energia mecânica (movimento)

em energia elétrica (Eletrobrás, 2013).

Essa força pode ser obtida por diversas fontes de energia primaria. As mais

comuns são as hidrelétricas, que utilizam a força das águas para movimentar as

turbinas; as termelétricas, que movimentam as turbinas através da força do vapor

produzido pela queima de combustíveis; as eólicas, que utilizam a força do vento;

as solares, que geram energia através da captação da luz solar e as nucleares, que

são usinas termelétricas e possuem um funcionamento similar as mesmas,

utilizando como combustível compostos nucleares, como o urânio por exemplo

(Eletrobrás, 2013).

No caso das termelétricas, hidrelétricas e eólicas, os geradores de

eletricidade operam no princípio da indução eletromagnética, ou seja, um condutor,

tal como um fio, movimentando-se em um campo magnético, tem uma diferença de

potencial induzida através de suas extremidades (Hinrichs & Kleinbach, 2003). Já

no caso da energia solar, e também de células a combustível, a energia elétrica é

produzida em processos de conversão direta, ao invés do mecanismo convencional

de conversão de calor em movimento e este em eletricidade (Hinrichs & Kleinbach,

2003).

A fonte geradora de eletricidade também deve conseguir uma produção na

quantidade e no tempo exato, pois apesar da importância para as formas de

geração, a armazenagem de eletricidade em grandes quantidades é muito difícil e

caro (Gagnon, Bélanger & Uchiyama, 2002).

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No Brasil, as principais fontes de energia para a geração de energia elétrica

são em primeiro lugar as hidrelétricas, seguida das termelétricas, e depois as

eólicas e as nucleares (Eletrobrás, 2013).

Neste capitulo, será descrito um pouco sobre as fontes de energias, que

serão utilizadas posteriormente na analise comparativa. As fontes de energia

abordadas serão as hidrelétricas, térmicas, eólicas, solares e nucleares, sendo

aprofundada apenas a energia nuclear, que é o foco principal do trabalho.

2.1.1 Energia Hidrelétrica

Nas usinas hidrelétricas, o fluxo da água é o combustível para a geração de

energia elétrica. A energia elétrica é gerada através da força das águas de um rio,

aproveitando o potencial hidráulico existente, transformando a energia potencial

gravitacional da água represada em energia cinética de rotação, movimentando

assim as turbinas. Para que exista este potencial hidráulico, é necessário que haja

um desnível, e quanto maior for esse desnível, maior será o aproveitamento

hidráulico e conseqüentemente maior será a geração de energia elétrica. A energia

hidrelétrica também está associada à vazão do rio, a quantidade de água disponível

em um determinado período de tempo, além da altura de sua queda. Quanto

maiores for o volume, a velocidade da água e a altura de sua queda, maior será o

aproveitamento na geração de eletricidade (ANEEL,2013).

As obras para a construção de uma usina hidrelétrica incluem o desvio do

curso do rio e a formação do reservatório. Uma usina hidrelétrica é construída em

um rio, e é constituída por: lago, barragem, sistemas de captação e adução de

água, casa de força, descarregadores de fundo, tomadas de água, vertedouro e

sistema de restituição de água ao leito natural do rio.

O lago, também chamado de reservatório, é formado pelo represamento

das águas, que ocorre devido à construção de uma barragem, que controla as

águas do rio. Na barragem é construído o vertedouro da usina. O vertedouro é

constituído de comportas que se abrem ou fecham de acordo com a necessidade, é

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a abertura pela qual o excesso de água sai quando é atingido a capacidade máxima

do reservatório, situação que ocorre em tempos de chuva.

As tomadas de água são constituídas de grades de proteção e comporta.

As primeiras são responsáveis pelo impedimento da passagem de materiais que

possam danificar as turbinas. A comporta é responsável pela liberação ou

impedimento da passagem da água para os condutos variando de acordo com a

necessidade de geração (GUENA, 2007).

Os descarregadores de fundo são responsáveis pela retirada dos detritos

depositados no fundo do lago.

No interior da barragem, são instalados grandes tubos inclinados, os

aquedutos, por onde a água que sai do reservatório é conduzida com muita pressão

até a casa de força, onde ficam as turbinas e os geradores. A água que desce pelos

tubos movimenta o sistema de hélice da turbina, que estão ligadas ao gerador,

criando um campo magnético, produzindo eletricidade. Para que a energia chegue

às cidades, é instalado próximo aos geradores os transformadores elevadores das

subestações para aumentar a voltagem. Desta forma a energia elétrica é

transportada através das linhas de transmissão até os centros consumidores, onde

nas subestações abaixadoras a tensão é rebaixada para níveis adequados ao

usuário.

Depois de movimentar as turbinas, as águas voltam ao leito do rio sem

sofrer nenhum tipo de degeneração. É por isso que a energia hidrelétrica é

considerada uma fonte de energia limpa e renovável.

A Figura 2 mostra o esquema de uma usina hidrelétrica.

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Figura 2- Esquema de uma usina hidrelétrica. Fonte: Hinrichs, 2003

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) classifica as centrais

hidrelétricas em usinas de pequeno, médio ou grande porte de acordo com a

potencia instalada das usinas. As usinas podem ser:

- Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH, com até 1 MW de potência instalada)

- Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH, entre 1,1 MW e 30 MW de potência

instalada)

- Usina Hidrelétrica de Energia (UHE, com mais de 30 MW de potência instalada).

O porte da usina também determina as dimensões da rede de transmissão

que será necessária para levar a energia até o centro de consumo. No caso das

hidrelétricas, quanto maior a usina, mais distante ela tende a estar dos grandes

centros. Assim, exige a construção de grandes linhas de transmissão em tensões

alta e extra-alta (de 230 kV a 750 kV) que, muitas vezes, atravessam o território de

vários Estados (CCEE, 2013).

Instaladas junto a pequenas quedas d’água, as PCHs e CGHs, no geral,

abastecem pequenos centros consumidores – inclusive unidades industriais e

comerciais individuais – e não necessitam de instalações tão extensas para o

transporte da energia (CCEE, 2013).

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2.1.2 Energia Solar

A energia solar, que pode chegar ao nosso planeta na forma térmica ou

luminosa, como o próprio nome sugere, é a energia proveniente da luz do sol, onde

a luz solar é captada e utilizada para gerar energia elétrica ou térmica O sol é uma

fonte perene, silenciosa, gratuita e não poluente de energia e é responsável por

todas as formas de vida no planeta (Farret, 1999).

Segundo estudos produzidos pela Empresa de Pesquisa Energética, a

irradiação da luz solar na Terra por ano é suficiente para atender milhares de vezes

o consumo anual de energia no mundo. Porém essa radiação não atinge toda a

crosta terrestre de uma maneira uniforme, dependendo muito da latitude, das

estações do ano e das condições atmosféricas, como a nebulosidade e a umidade

relativa do ar (ANEEL, 2008). Devido a esses fatores, a participação da energia

solar na matriz energética mundial é muito pouco expressiva, não sendo inclusive

citada entre as fontes da matriz energética brasileira.

A maior parte da energia solar, ao passar pela atmosfera terrestre,

manifesta-se sob a forma de luz visível de raios infravermelhos e de raios

ultravioleta. Essa luz pode ser captada e transformada em energia térmica ou

elétrica, e o que irá determinar qual o tipo de energia a ser obtida são os

equipamentos utilizados. Para gerar calor, utiliza-se uma superfície escura para

fazer a captação, e para gerar eletricidade utilizam-se células ou painéis

fotovoltaicos (ANEEL, 2008).

Para a produção de calor são necessários coletores, que irão coletar a

energia solar e às vezes também são necessários concentradores, pois pode ser

necessário concentrar a radiação em um único ponto.

Já para a produção de energia elétrica, existem dois sistemas, o

heliotérmico e o fotovoltaico.

Para se produzir eletricidade utilizando diretamente a energia solar, utiliza-

se o principio do efeito fotoelétrico, que é a emissão de elétrons quando a luz atinge

determinados metais. Quando a luz brilha na placa negativa, elétrons são emitidos

com uma quantidade de energia cinética inversamente proporcional ao

comprimento de onda da luz incidente (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

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No sistema heliotérmico, a irradiação solar é convertida em calor que é

utilizado em usinas termelétricas para a produção de eletricidade. Neste caso a

conversão é realizada em usinas que recebem o nome de torres de energia, onde a

energia é obtida através de uma grande área de espelhos que refletem a luz solar

dirigindo-a para uma caldeira de aquecimento de água situada em uma estrutura

elevada (ienergia, 2013). Este processo completo compreende quatro fases: coleta

da irradiação, conversão em calor, transporte e armazenamento e, finalmente,

conversão em eletricidade. Para se utilizar este processo é necessário um local com

alta incidência de irradiação solar direta, o que implica em pouca intensidade de

nuvens e baixos índices pluviométricos (ANEEL, 2008).

A Figura 3 mostra o diagrama de funcionamento do sistema heliotérmico.

Figura 3- Diagrama do sistema heliotérmico. Fonte: Reis, 2003

Já no sistema fotovoltaico, a transformação da radiação solar em

eletricidade é direta. As células fotovoltaicas são construídas de um material que irá

transformar a energia radiante do sol diretamente em corrente elétrica,

comportando-se como uma bateria de baixa tensão. Isto ocorre, pois um material

semicondutor conforme vai sendo estimulado pela radiação solar permite o fluxo

eletrônico, entre partículas positivas e negativas. A maior parte das células

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fotovoltaicas tem pelo menos duas camadas de semicondutores: uma carregada

positivamente e outra negativamente, formando uma junção eletrônica. Quando a

luz do sol atinge o semicondutor na região dessa junção, o campo elétrico existente

permite o estabelecimento do fluxo eletrônico, antes bloqueado, e dá início ao fluxo

de energia na forma de corrente contínua. Quanto maior a intensidade de luz, maior

o fluxo de energia elétrica (ANEEL, 2008).

Normalmente as células fotovoltaicas são feitas de silício, porém o silício

necessita passar por um tratamento especial, pois normalmente não existem

elétrons livres no silício, o que o faz ser considerado um bom isolante. Por meio de

um processo denominado "dopagem" são adicionadas impurezas ao silício,

alterando suas propriedades e tornando-o um bom condutor (Hinrichs & Kleinbach,

2003). Outros materiais que vem sendo utilizados além do silício são: o arsenieto de

gálio, o telureto de cádmio, o sulfeto de cádmio e, muito recentemente, o biseleneto

de cobre, índio e gálio (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

A Figura 4 mostra o esquema de funcionamento de uma célula solar.

Figura 4- Esquema de montagem e funcionamento de uma célula solar. Fonte: Hinrichs & Kleinbach,

2003

O sistema fotovoltaico é constituído por um agrupamento de painéis

fotovoltaicos, formando um conjunto, um regulador de tensão, um sistema de

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armazenamento de energia e um inversor de corrente continua/alternada (GUENA,

2007).

A Figura 5 mostra o esquema de funcionamento do sistema solar

fotovoltaico.

PCS= Subsistema condicionador de potência

CC= corrente continua. CA= corrente alternada

Figura 5- Diagrama de blocos de um sistema solar fotovoltaico. Fonte: Reis, 2003

Este sistema apresenta como vantagens o fato de poder operar em dias

nublados, por não necessitar do brilho do sol para operar; ele não provoca nenhum

tipo de poluição; trabalha na temperatura ambiente; tem uma larga duração; quase

não necessita de manutenção e geralmente são fabricados de silício, que é o

segundo elemento mais abundante da crosta terrestre (ienergia, 2013).

No geral, a energia solar é mais utilizada na obtenção de energia térmica.

Nesta aplicação, são destinadas a diversos setores, desde a indústria, utilizando-a

em processos que requerem temperaturas elevadas, como secagem de grãos na

agricultura, até as residências, utilizada para o aquecimento de água. Outra

tendência que tem se formado é a utilização da energia solar para se obter em

conjunto calor e eletricidade (ANEEL, 2008).

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2.1.3 Energia Eólica

A energia eólica é, basicamente, aquela obtida da energia cinética (do

movimento) gerada pela migração das massas de ar provocada pelas diferenças de

temperatura existentes na superfície do planeta (Aneel, 2008).

Não se sabe ao certo quando ela começou a ser utilizada, visto que desde a

Antiguidade os ventos dão origem à energia mecânica utilizada na movimentação

dos parcos e em atividades econômicas básicas, como em moinhos para o

bombeamento de água e moagem de grãos.

A geração eólica ocorre pelo contato do vento com as pás do cata-vento,

elementos integrantes da usina. Ao girar, as pás dão origem à energia mecânica

que aciona o rotor do aerogerador, que produz eletricidade. A quantidade de

energia mecânica transferida, e conseqüentemente o potencial de energia elétrica a

ser produzido, está diretamente relacionado à densidade do ar, à área coberta pela

rotação das pás e à velocidade do vento (Aneel, 2008).

O aerogerador é constituído de um rotor, um sistema de transmissão, um

controlador, um conversor e um sistema de armazenamento. O vento faz girar o

rotor composto por lâminas ou pás. Este rotor é responsável por converter a energia

cinética em energia mecânica. Ele está conectado a uma haste que, por sua vez,

está conectada a várias engrenagens de um gerador elétrico, estes são protegidos

pela nacela que serve de abrigo para os equipamentos (GUENA, 2007).

A evolução tecnológica permitiu o desenvolvimento de equipamentos mais

potentes, com melhorias principalmente nos sistemas de transmissão, da

aerodinâmica e das estratégias de controle e operação das turbinas, melhorando

assim o desempenho e a confiabilidade dos equipamentos, além de reduzir o custo

dos mesmos. Este desenvolvimento permitiu a criação de pás para os rotores mais

leves e fortes, possibilitando assim a construção de turbinas com maior diâmetro e

também torres mais altas, e como quanto mais altas maior será a velocidade do

vento, conseqüentemente, maior será a geração de energia.

A conversão da energia mecânica produzida em energia elétrica ocorre no

gerador. Os geradores podem ser de corrente contínua, que é menos utilizado,

síncrono ou de indução.

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As usinas eólicas são formadas por uma série de geradores independentes,

que estão ligados a um sistema central de controle que faz o fornecimento para a

rede de distribuição (GUENA, 2007).

Existem geradores de duas, três ou múltiplas pás, sendo o de duas e o de

três pás mais eficientes que o de múltiplas pás, que é bom em baixas velocidades

de ventos.

Existe o chamado feathering, que consiste em inclinar as lâminas da turbina

de forma que muito pouco de suas áreas entrem em contato com o vento e, desta

forma, extraiam menos força deste (Hinrichs & Kleinbach, 2003). Isso ocorre devido

ao fato do rotor ter de descartar ou dispersar um excesso de força que o gerador

não consiga processar sem ser danificado, em condições de ventos fortes.

As turbinas de vento são classificadas em função da orientação do eixo do

rotor. Existem as turbinas de eixo horizontal (tipo hélice) e as turbinas de eixo

vertical (Darrieus). Estas podem ser instaladas em terra (onshore) ou no mar

(offshore) (GUENA, 2007).

Os tipos mais comuns são aqueles com eixos horizontais e lâminas

verticais. O propulsor de duas (ou três) lâminas é o mais eficiente para a geração de

eletricidade e é também o mais comum por causa de seu tamanho. Apesar de sua

eficiência, nenhum modelo consegue extrair toda a energia existente no vento

(GUENA, 2007). A eficiência teórica máxima da conversão de energia eólica em

elétrica de um rotor ideal é no máximo de 60% (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

A energia eólica é totalmente dependente da força dos ventos, pois a

energia varia com a velocidade do vento em relação à área varrida pelas pás

(GUENA, 2007). Por isso a importância do aumento do diâmetro das pás da turbina

e do aumento da altura da torre, para que acha uma maior velocidade do vento e

uma área maior a ser varrida pelas pás, para aumentar a geração de energia.

Além da velocidade do vento, a direção, intensidade e densidade do mesmo

também influenciam na geração de energia eólica, estando relacionadas com o

relevo, a vegetação e interações térmicas entre a superfície da terra e a atmosfera,

além de serem fatores que variam de um dia para o outro e durante um mesmo dia.

Devido a esses fatores, a localização das turbinas de vento é muito importante,

sendo de extrema importância a avaliação desses fatores, analisando o potencial

eólico da região, para se instalar um parque eólico. Além disso, como a velocidade

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costuma ser maior em períodos de estiagem, é possível operar usinas eólicas em

sistema complementar com usinas hidrelétricas, de forma a preservar a água dos

reservatórios em períodos de poucas chuvas (CCEE, 2013).

Para se fazer o controle, existe um sistema de controle, constituído por uma

série de sensores (sensor de vento, rotação do rotor, carga da bateria etc.), que

fornecem os dados que permite o funcionamento harmônico e seguro de todo o

sistema, com o melhor aproveitamento possível do vento (Reis, 2003).

Para armazenar o excedente de energia que não foi consumida, existe um

sistema de armazenamento composto por baterias que captam o excedente de

energia.

Para a transmissão da energia das torres até as redes de distribuição

podem-se utilizar engrenagens ou não. No primeiro caso, coloca-se um trem

engrenagens entre o rotor e o gerador (GUENA, 2007). Quando é feita sem

engrenagens, o gerador é acoplado diretamente na rede (Muylaert, 2001).

A planta eólica deve estar interligada ao sistema de distribuição de energia

elétrica, pois na ausência de ventos a planta para de gerar energia, sendo

necessário o abastecimento do sistema por outro meio de geração.

2.1.4 Energia Térmica

A energia térmica é a energia produzida a partir da queima de combustíveis.

Para gerar eletricidade, as usinas termelétricas podem utilizar como combustível

para a queima fontes não renováveis, como o carvão mineral, gás natural, óleo

derivado do petróleo e elementos radioativos, ou por fontes renováveis, como a

biomassa. Os tipos de combustíveis costumam ser abordados separadamente,

sendo o carvão mineral, óleo e gás natural de origem fóssil, a biomassa uma fonte

de combustível renovável e a nuclear, apesar de também ser uma energia térmica,

costuma ser abordada separadamente, devido as suas particularidades.

As termelétricas geralmente são construídas em regiões com poucos

recursos hídricos, o que impossibilita a construção de usinas hidrelétricas, mas que

possuem boas reservas de óleo, carvão ou gás natural. A maioria das usinas

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termelétricas utiliza como combustível, fontes de origem fóssil, carvão mineral, gás

natural ou óleo, mas em alguns lugares, inclusive no Brasil, já é possível gerar

energia utilizando biomassa como combustível.

Geralmente, em turbinas a vapor é utilizado como fluido a água, e em

turbinas a gás utiliza o próprio gás de combustão como fluido (GUENA, 2007).

Nas usinas com turbina a gás, o próprio gás de combustão é utilizado

diretamente para girar a turbina, sendo liberado em seguida para o ar (Ishiguro,

2002).

As plantas com turbina a gás funcionam na presença de ar. Existe a sucção

do ar atmosférico através de um compressor, que será responsável pelo aumento

da pressão. O ar comprimido entra na câmara e mistura-se ao combustível onde há

a combustão. Os gases da combustão passam pela turbina acionando-a e são

expelidos para a atmosfera (GUENA, 2007).

A energia gerada pela turbina, uma parte é utilizada para acionar o

compressor, e o restante é utilizado para acionar um gerador elétrico ou um

dispositivo mecânico (Coelho, Paletta & Freitas, 2000). Este ciclo também pode

utilizar como combustível óleo diesel.

Já nas plantas com turbinas a vapor, os elementos que compõem a mesma

são: os equipamentos do ciclo, que são a caldeira, a turbina a vapor, o condensador

e a bomba de alimentação; os equipamentos de manuseio do combustível e de

exaustão dos gases para a atmosfera; os equipamentos do sistema de resfriamento

de água do condensador e reposição de água ao ciclo; e os equipamentos para a

conversão de energia mecânica em energia elétrica (Lora & Nascimento, 2004).

O funcionamento dessas plantas ocorre através do aquecimento da água,

que flui através de tubos que passam por dentro do forno onde ocorre a queima do

combustível, transformando esta água em vapor, que é encaminhado para a

turbina, fazendo a mesma girar, transformando o calor em energia cinética. A água

que vai até o forno pertence ao circuito primário que é fechado. Depois de passar

pela turbina a água é resfriada no condensador, que utiliza a água do circuito

secundário, que geralmente é captada de um corpo d’água (GUENA, 2007). A

turbina está acoplada a um gerador elétrico, que vai utilizar a energia gerada na

turbina e transformá-la em energia elétrica.

A Figura 6 mostra os elementos que compõe uma instalação termelétrica.

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Figura 6- Instalação de potência a vapor. Fonte: Lora & Nascimento, 2004

Existem também plantas onde o ciclo é combinado, funcionando em

cogeração, como, por exemplo, na adição de uma caldeira de recuperação de calor

em um ciclo à gás. Desta forma os gases de exaustão da turbina são direcionados

para a caldeira, de modo a gerar vapor (Coelho, Paletta & Freitas, 2000). Nos ciclos

combinados, os ciclos à gás e à vapor atuam juntos em cogeração, onde o calor

gerado por um é liberado e utilizado no ciclo de calor do outro (GUENA, 2007).

Segundo Guena, existem quatro tipos de centrais termelétricas:

1) Centrais termelétricas de geração com ciclo a vapor: utilizam

qualquer tipo de combustível

2) Centrais termelétricas de turbina a gás operando em ciclo simples:

utiliza uma turbina a gás, com uma partida muito rápida. Estas centrais utilizam

como combustível óleo ou gás natural.

3) Central de ciclo combinado: a turbina a gás e a turbina a vapor

integram um ciclo (Lora & Nascimento, 2004). Geralmente utiliza-se o gás natural

como combustível.

4) Central de motores de combustão interna: utiliza motores do ciclo

Diesel ou Otto a gás natural para a geração de potência. Utilizados em localidades

isoladas (GUENA, 2007).

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2.1.4.1 Tipos de Combustíveis

Os combustíveis mais utilizados para a geração de energia térmica são o

carvão mineral, óleos provenientes do petróleo e o gás natural, que são fontes não

renováveis e de origem fóssil. Existem também combustíveis renováveis para a

geração de energia térmica, como a biomassa, que ainda são menos utilizados.

2.1.4.1.1 Gás Natural

O gás natural é um dos mais utilizados no Brasil na geração termelétrica.

Ele é uma mistura de hidrocarbonetos gasosos, originados da decomposição de

matéria orgânica fossilizada ao longo de milhões de anos. Em plantas que utilizam

gás natural, a eletricidade é produzida através da queima do gás natural, onde o

gás produzido pela queima é utilizado para movimentar as turbinas ligadas a

geradores. Ele tem um elevado poder calorífico, e apresenta baixos índices de

emissão de poluentes na sua queima, quando comparado a outros combustíveis

fosseis. É de rápida dispersão e com baixos índices de odor e de contaminantes, o

que é positivo em caso de ocorrer algum vazamento.

2.1.4.1.2 Óleo

A maioria das usinas termelétricas a óleo queima o óleo combustível

residual, que é a parte que resta na refinaria após a remoção das frações mais

leves (Hinrichs & Kleinbach, 2003). Porém existem também usinas que queimam

óleo diesel.

O óleo combustível residual é muito viscoso, por conter principalmente

resinas e asfaltenos, o que faz com que ele tenha um alto peso molecular,

necessitando adicionar ao mesmo óleos mais leves para mudar a sua viscosidade

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para a faixa exigida pela legislação vigente (Lora & Nascimento, 2004). Devido a

essa elevada viscosidade, além de se adicionar óleos mais leves o óleo é pré-

aquecido antes da queima, para diminuir a viscosidade e facilitar no manuseio e na

queima do mesmo.

Dentro das refinarias de petróleo, o óleo combustível residual é obtido como

resíduo da destilação à vácuo e em unidades de desasfaltação a propano (Lora &

Nascimento, 2004). Além de ser utilizado para a geração de energia elétrica, em

usinas termelétricas, esse óleo residual também é utilizado na indústria

automobilística, naval e de aviação, como óleo lubrificante e para a produção de

asfalto.

A geração de energia elétrica a partir dos óleos combustíveis ocorre similar

aos outros processos térmicos de geração, onde o óleo combustível é queimado em

caldeiras, turbinas e motores de combustão interna (CCEE, 2013).

O preço do óleo combustível é alto e a capacidade de geração de energia é

baixa, quando comparado aos outros combustíveis fosseis, sendo geralmente

utilizados em locais de difícil acesso ou que não estão interligados a rede de

distribuição de energia elétrica (GUENA, 2007).

2.1.4.1.3 Carvão Mineral

O carvão mineral é uma complexa e variada mistura de componentes

orgânicos sólidos e fossilizados ao longo de milhões de anos. Ele é formado pela

decomposição da matéria orgânica, durante milhões de anos, sob determinadas

condições de temperatura e pressão. É composto por átomos de carbono, oxigênio,

nitrogênio e enxofre, associados a outros elementos rochosos e minerais (ANEEL,

2008).

A sua qualidade é determinada pelo número de carbonos presentes na

molécula, que varia de acordo com o tipo e o estágio dos componentes orgânicos.

Ele tem como aplicação, principalmente a geração de energia elétrica em usinas

térmicas e também na geração de calor na indústria para os processos de

produção, podendo também ser utilizado em cogeração, utilizando o vapor gerado

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pela queima do carvão tanto como calor para os processos, como para a geração

de energia elétrica (CCEE, 2013). Devido ao seu poder calorífico, é uma das fontes

de energia mais importantes.

A turfa constitui um dos primeiros estágios do carvão, contendo um baixo

teor de carbono, na ordem de 45%; o linhito apresenta teor de carbono variando de

60 a 75%; a hulha, que é o carvão betuminoso, apresenta ter de carbono entre 75 e

85%, e é a mais utilizada como combustível; e o mais puro dos carvões é o

antracito, com um teor de carbono superior a 90% (CCEE, 2013).

Os depósitos de carbono variam de acordo com as camadas na crosta onde

são encontrados, sendo desde camadas mais próximas a superfície do solo, e

conseqüentemente mais fácil para se fazer a extração e com um custo mais baixo,

até camadas mais profundas, onde os custos são elevados devido a sua difícil

extração.

O método mais utilizado em usinas termelétricas que utilizam o carvão

mineral como combustível, é a queima do carvão para a produção de vapor. Para

ser utilizado em usinas térmicas, o carvão mineral tem que passar por um caro e

complexo pré-tratamento, a pulverização, pois sem isso há emissão de óxidos de

enxofre, óxidos de nitrogênio e particulados, exigindo também a instalação de

sistemas de limpeza de gases (Lora & Nascimento, 2004).

Em resumo, este processo acontece da seguinte forma: o carvão é extraído

do solo, fragmentado e armazenado em silos, para depois ser transportado à usina,

onde será armazenado de novo. Em seguida o carvão é transformado em pó,

aumentando assim o aproveitamento térmico ao ser colocado para queimar nas

fornalhas de caldeiras, por estar aumentando a superfície de contato. O calor

liberado pela queima irá vaporizar a água que circula em tubos que envolvem a

fornalha, e o vapor movimentara a turbina do gerador de energia elétrica (ANEEL,

2008). Antes de serem liberados na atmosfera através de altas chaminés, os gases

de combustão são resfriados ao saírem da fornalha e passam por uma série de

dispositivos de controle de poluição (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

No caso da cogeração, o processo é similar, porem o vapor gerado além de

gerar energia elétrica, também é extraído e utilizado no processo industrial (ANEEL,

2008).

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Para minimizar o custo de geração e o impacto ambiental, geralmente as

usinas termelétricas são instaladas próximas à jazida de carvão, pois desta forma

não há perda do produto no transporte, diminuído o risco do material cair e

contaminar o local (GUENA, 2007).

Para preservar a presença do carvão na matriz energética mundial, tem

sido feito muitas pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos, para remoção de

impurezas do carvão, e melhorar a eficiência da queima do mesmo, para assim

atender as normas ambientais, e aumentar seu custo beneficio. Um dos métodos

que tem sido bastante desenvolvido no mercado internacional é a gaseificação, que

permite um maior aproveitamento do poder calorífico do carvão, e simultaneamente

preservar o meio ambiente (ANEEL, 2008).

2.1.4.1.4 Biomassa

Biomassa é qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em

energia mecânica, térmica ou elétrica. É essencialmente formada por hidratos de

carbono, o que a faz ser uma importante reserva de energia (ANEEL, 2013).

Uma das principais vantagens da biomassa é que ela pode ser feita

diretamente, por meio da combustão em fornos e caldeiras, porém ela apresenta

uma eficiência inferior comparada às outras fontes, necessitando de um maior

volume de matéria-prima para produção de pequenas quantidades de energia

(CCEE, 2013).

Para se obter energia elétrica a partir da biomassa, existem varias rotas

tecnológicas, porem todas prevêem a conversão da matéria prima em produto

intermediário que será utilizado em uma maquina motriz, que irá produzir a energia

mecânica necessária para acionar o gerador de energia elétrica (ANEEL, 2008). De

uma maneira geral, todas as rotas tecnológicas também são aplicadas em

processos de cogeração (ANEEL, 2008).

A biomassa pode ser classificada de acordo com a sua origem, podendo

ser: florestal, agrícola ou de rejeitos urbanos e industriais. O potencial energético vai

variar de acordo com o tipo de biomassa utilizada, podendo ser mais ou menos

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energética, e a utilização da mesma também vai variar de acordo com a biomassa e

do processamento.

Para a produção em larga escala da energia elétrica e dos bicombustíveis,

utiliza-se a biomassa agrícola e tecnologias eficientes. A pré-condição para a sua

produção é a existência de uma agroindústria forte e com grandes plantações que

possam ser utilizadas como matéria-prima. A biomassa é obtida pelo

processamento dos resíduos dessas culturas (ANEEL, 2013).

Uma exceção a baixa eficiência energética e a necessidade de um grande

volume de matéria-prima é a utilização de biomassa florestal em processos de

cogeração industrial. Um exemplo é o processamento da madeira no processo de

extração da celulose, onde é possível extrair a lixívia negra, que é utilizada como

combustível em usinas de cogeração da própria indústria de celulose (ANEEL,

2008).

2.1.5 Energia Nuclear

Apesar de também ser uma fonte de energia térmica, a energia nuclear

costuma ser tratada separada das demais fontes térmicas. Por ser a fonte de

geração de energia elétrica central deste estudo, será abordada de uma forma mais

aprofundada que as demais fontes de energia.

2.1.5.1 Histórico da Energia Nuclear

A fissão foi descoberta em 1939, no bombeamento de urânio com nêutrons

de baixa energia (lentos) para produzir um núcleo mais pesado, onde foi encontrado

o bário, que é um elemento mais leve que o urânio. Notou-se que o urânio havia se

dividido. Essa divisão do 23592U resultou em dois elementos mais leves: o bário e o

criptônio. A perda de massa do urânio pode ser convertida em energia (Hinrichs &

Kleinbach, 2003).

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Na fissão nuclear, a energia é liberada pela divisão do núcleo normalmente

em dois pedaços menores e de massas comparáveis. Pela lei de conservação de

energia, a soma das energias dos novos núcleos mais a energia liberada para o

ambiente em forma de energia cinética dos produtos de fissão e dos nêutrons

liberados deve ser igual à energia total do núcleo original. A fissão do núcleo

raramente ocorre de forma espontânea na natureza, mas pode ser induzido se

bombardearmos núcleos pesados com um nêutron, que, ao ser absorvido, torna o

núcleo instável (GONÇALVES, 2005).

A primeira “reação em cadeia” auto-sustentada foi produzida em 2 de

dezembro de 1942, em um pequeno reator construído na Universidade de Chicago,

nos Estados Unidos (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

O reator da Universidade de Chicago serviu como protótipo para o

desenvolvimento de geradores para a produção de energia elétrica. Em 1951, foi

gerada, pela primeira vez, eletricidade no reator “Experimental Breeder Reactor”

próximo a Detroit, e em 1953, foi construído o submarino Nautillus, movido a

energia nuclear (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

Em 1954, foi criada a primeira usina nuclear civil, Obninsk, na então

U.R.S.S.. No ano seguinte, a cidade de Arco, em Idaho, nos Estados Unidos, foi a

primeira a contar com energia elétrica produzida por um reator nuclear

experimental. E finalmente, em 1957, a primeira usina nuclear de grande escala,

com o primeiro reator a produzir eletricidade comercialmente, entrou em

funcionamento em Shippingport, Pensilvânia (U.S. Department of Energy, 1994).

2.1.5.1.1 A energia nuclear no Brasil

A procura da tecnologia nuclear no Brasil começou na década de 50, com o

pioneiro nesta área, Almirante Álvaro Alberto, que entre outros feitos criou o

Conselho Nacional de Pesquisa, em 1951, e que importou duas ultra-

centrifugadoras da Alemanha para o enriquecimento do urânio, em 1953 (Nuctec,

2013).

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Em 1969, o governo brasileiro decide construir a sua primeira usina nuclear.

A missão de construir a primeira usina nuclear no Brasil foi dada a Furnas Centrais

Elétricas AS, tendo sido contrata a empresa americana Westinghouse para construir

a mesma, em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. As obras para a

construção da usina de Angra I começaram no ano de 1972, porém devido a vários

problemas, tanto de ordem técnica como decisões governamentais, as obras

sofreram muitas paralisações, onde apenas em 1982 que Angra I foi integrada pela

primeira vez a rede, e em 1985 começou a operar comercialmente.

Ainda com Angra I em construção, em 1975, o Brasil firmou um contrato

com a Alemanha que compreendia além de várias atividades relacionadas à

produção de energia nuclear, a construção de oito usinas nucleares de 1.300 MW

cada uma (Lora & Nascimento, 2004).

Assim como Angra I, Angra II também enfrentou muitos problemas durante

a sua construção. Ela começou a ser construída em 1981, mas teve o ritmo das

obras desacelerado a partir de 1983, devido à crise econômica que assolava o país

naquele momento, parando de vez em 1986. A construção da unidade foi retomada

no final de 1994 e concluída em 2000 (Eletronuclear, 2013).

Em 1997 foi criada a Eletrobrás Eletronuclear, com a finalidade de operar e

construir usinas termonucleares no Brasil (Eletronuclear, 2013).

A usina de Angra III teve suas obras civis iniciadas em 1984, porém as

obras foram paradas. As obras retornaram em 2010 e a previsão é que Angra III

esteja em operação comercial em maio de 2018 (Eletronuclear, 2013).

2.1.5.2 Produção dos combustíveis nucleares

A energia nuclear utilizada para a produção de energia elétrica nas usinas

nucleares é proveniente da fissão nuclear de elementos radioativos, como o urânio

e o tório. No Brasil é utilizado o urânio como combustível para as usinas nucleares,

pois o mesmo libera uma grande quantidade de energia ao se fissionar.

Para compreender o processo de geração de energia elétrica através da

energia nuclear, é preciso entender o ciclo do combustível nuclear. O ciclo do

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combustível nuclear é o nome dado ao conjunto de fases, de processos industriais

pelas quais passa o urânio, desde a mineração até a geração de energia. As etapas

do ciclo são: Mineração e Beneficiamento, Conversão, Enriquecimento,

Reconversão e Fabricação das Pastilhas, Fabricação do Elemento Combustível e

Geração de energia (INB,2013).

A Figura 7 mostra o ciclo do combustível nuclear.

Figura 7- Ciclo do combustível nuclear. Fonte: site da Eletronuclear

2.1.5.2.1 Mineração e Beneficiamento

O Brasil possui a sétima maior reserva de urânio do mundo, com 309 mil

toneladas. Atualmente o Brasil extrai urânio da mina de Caetité, na Bahia, usina que

possui apenas urânio. A Tabela 1 mostra como estão distribuídas as reservas

brasileiras de urânio:

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Tabela 1- Distribuição das reservas brasileiras de urânio

Ocorrência Medidas e Indicadas Inferidas TOTAL

Depósito-Jazida < 40US$/kg U < 80US$/kg U Sub-Total < 80US$/kg U

Caldas (MG) 500t 500t 4.000t 4.500t

Lagoa Real/Caetité (BA) 24.200t 69.800t 94.000t 6.770t 100.770t

Santa Quitéria (CE) 42.000t 41.000t 83.000t 59.500t 142.500t

Outras 61.600t 61.600t

TOTAL 66.200t 111.300t 177.500t 131.870t 309.370t

Fonte: site do INB.

A extração do urânio é feita da mesma maneira com que se faz a extração

de outros tipos de minérios, em minas a céu aberto ou subterrâneas. Quando da

sua extração, ele é separado dos demais minérios, por possuir propriedades

químicas que o difere dos outros minérios (Hinrichs & Kleinbach, 2003).

Após ser extraída do solo, a rocha que contem o mineral, a uraninita, é

submetida a um processo industrial chamado lixiviação, para a retirada do urânio.

Obtém-se assim um licor, que levado a usina de beneficiamento é clarificado,

filtrado, passando então por um processo químico até se transformar no

concentrado de urânio, o yellowcake (INB, 2012).

2.1.5.2.2 Conversão

Nesta etapa, o urânio sob a forma de yellowcake é dissolvido e purificado

para se obter o urânio nuclearmente puro. Em seguida é convertido para o estado

gasoso, o hexafluoreto de urânio (UF6) (INB, 2013). Esta etapa é necessária, pois

para a próxima etapa, o enriquecimento, são utilizadas ultracentrifugas, o que faz

com que o urânio precise estar no estado gasoso.

Está é a única etapa do ciclo do combustível nuclear que o Brasil não

produz, contratando a empresa francesa Areva para fazer essa etapa de conversão

na França. O Brasil já domina essa tecnologia em escala laboratorial e piloto, e

existe projetos para a implementação de uma unidade para fazer essa etapa de

conversão no Brasil.

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2.1.5.2.3 Enriquecimento

O enriquecimento de urânio é o processo de separação física do átomo

urânio-235 do átomo urânio-238, chamados isótopos do urânio, que são

encontrados na natureza em concentrações de 0,7% e 99,3%, respectivamente, de

modo a aumentar para 4% a concentração do urânio-235 (INB,2013).

Vários processos de enriquecimento de urânio foram desenvolvidos em

laboratórios, mas somente dois deles operam em larga escala industrial: a difusão

gasosa e a ultracentrifugação. As empresas proprietárias de usinas de difusão

gasosa, por razões técnicas e econômicas, já iniciaram a sua desativação, ao

mesmo tempo em que implantam unidades industriais de ultracentrifugação.

Apenas 12 países são reconhecidos como detentores de instalações de

enriquecimento de urânio com diferentes capacidades industriais de produção. São

eles: China, Estados Unidos, França, Japão, Rússia, Alemanha, Inglaterra,

Holanda, Brasil, Índia, Paquistão e Irã (INB,2013).

O método de ultracentrifugação apresenta um fator de separação de urânio

melhor que os demais, mas requer uma engenharia mais precisa (Hinrichs &

Kleinbach, 2003). O método de ultracentrifugação é o utilizado no Brasil pelo INB,

tendo sido desenvolvido pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo

(CTMSP) em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN /

CNEN).

A ultracentrífuga a gás (no caso UF6) é um cilindro vertical fino que gira a

uma velocidade extremamente alta dentro de uma carcaça com vácuo. Um campo

de força ultracentrífuga gerado dentro do cilindro em rotação (rotor) separa os

diferentes isótopos ao longo da direção radial. Um fluxo axial de contracorrente é

estabelecido para aumentar a separação dos isótopos. Na prática, a eficiência de

uma ultracentrífuga a gás depende da velocidade periférica e do comprimento do

rotor, da taxa axial de recirculação e da taxa de alimentação da máquina. O

princípio de funcionamento de uma ultracentrífuga a gás é ilustrado na Figura 8

abaixo (INB,2013):

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Figura 8- Principio de funcionamento de uma ultracentrífuga. Fonte: site do INB.

Como grandes quantidades de material enriquecido são necessárias ao

suprimento dos combustíveis nucleares, e a produção por elemento separador é

diminuta, utiliza-se industrialmente o acoplamento de inúmeros elementos

separadores em paralelo, formando a configuração conhecida como “estágio de

separação”. Analogamente, como o efeito de separação em cada estágio é

pequeno, o incremento no teor de enriquecimento do fluxo enriquecido é baixo,

portanto, há necessidade de interligar os estágios em série, formando a

configuração chamada “cascata”. Então, para se obter produtos com os teores

desejados em escala industrial, conclui-se que uma usina de enriquecimento

compreende inúmeras cascatas constituídas de elementos de separação isotópica

interligados em série e paralelo, por meio de tubulações referentes aos fluxos de

urânio de alimentação e retirada de urânio enriquecido e empobrecido (INB,2013). O

esquema é representado na Figura 9.

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Figura 9- Esquema de cascata Ideal para o enriquecimento de urânio. Fonte: site do INB.

2.1.5.2.4 Reconversão

A reconversão é o retorno do gás hexafluoreto de urânio (UF6) a dióxido de

urânio (UO2), sob a forma de pó. É necessário reconverter o urânio para a forma de

pó para ele ser utilizado como combustível.

Em recipientes cilíndricos, o urânio enriquecido na forma de gás é levado

para aquecimento na autoclave. Em um tanque contendo água desmineralizada a

100ºC, o gás UF6 é misturado com dois outros gases: o gás carbônico (CO2) e o

gás amoníaco (NH3). A reação química entre eles produz tricarbonato de amônio e

uranila (TCAU), componente sólido amarelo insolúvel em água. Após o processo de

secagem do TCAU, ele é transportado para um forno, a 600º C. Depois de passar

pelo forno, o produto gerado é o pó dióxido de urânio (UO2). Depois de estabilizado,

o UO2 é transportado para homogenizadores, onde a ele é adicionado outros

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compostos de urânio, estando pronto para a fabricação de pastilhas de urânio (INB,

2013). A Figura 10 representa o processo de reconversão.

Figura 10- Processo de reconversão do UF6 em UO2. Fonte: site do INB.

2.1.5.2.5 Fabricação das Pastilhas

Após o processo de homogeneização, o pó de UO2 é transportado para

uma prensa rotativa automática, onde são produzidas as chamadas “pastilhas

verdes”, que recebem este nome por ainda não terem sido sinterizadas. Para

ganhar rigidez, as pastilhas são encaminhadas para um forno de sinterização e

aquecidas a 1750ºC para adquirir a resistência necessária às condições de

operação a que serão submetidas dentro do reator de uma usina nuclear. Estas

pastilhas passam depois por uma retificação, para ajustar e verificar as dimensões.

Se não passar pela verificação a pastilha é rejeitada, e se aprovadas as pastilhas

são acondicionadas em caixas e levadas para a montagem dos elementos

combustíveis (INB, 2013). A Figura 11 representa o processo de fabricação de

pastilhas.

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Figura 11- Processo de fabricação das pastilhas. Fonte: site do INB.

2.1.5.2.6 Fabricação do Elemento Combustível

No Brasil, é necessária a montagem de dois tipos diferentes de elementos

combustíveis, um para a usina de Angra I e outro para a usina de Angra II, pois elas

possuem tecnologias diferentes, modelo Westinghouse em Angra I e modelo

Siemens em Angra II.

O elemento combustível é um feixe de varetas combustíveis mantidas

rigidamente por reticulados chamados grades espaçadoras. Ele é formado por mais

de 230 varetas combustíveis rigidamente posicionadas em uma estrutura metálica

formada por grades espaçadoras. Cada vareta tem quatro metros de comprimento e

cerca de 10 milímetros de diâmetro. Nelas são armazenadas as pastilhas de UO2.

Também fazem parte do elemento combustível, tubos guias e bocais, entre outros

componentes (INB,2013).

A fabricação do elemento combustível envolve uma alta sofisticação em

precisão mecânica e garantia da qualidade. Equipamentos de ultra-som, raios X,

soldas especiais, medições a laser, microscópios e outros recursos sofisticados são

comumente utilizados em seus processos de produção e controle (INB, 2013).

O elemento combustível produzido pela INB para a Usina Angra I é de

tecnologia Westinghouse. Seu conjunto possui 235 varetas combustíveis, oito

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grades espaçadoras, 20 tubos guias, um tubo de instrumentação e dois bocais (um

inferior e um superior), conforme mostra a Figura 12.

Figura 12- Elemento combustível utilizado na usina de Angra I. Fonte: site do INB.

O elemento combustível fabricado para abastecer Angra 2 é de tecnologia

Siemens/Areva e seu conjunto possui 236 varetas combustíveis. Conta ainda com

nove grades espaçadoras, 20 tubos guias e dois bocais (um inferior e um superior),

conforme mostra a Figura 13.

Figura 13- Elemento combustível utilizado na usina de Angra II. Fonte: site do INB.

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2.1.5.2.7 Geração de Energia Elétrica

A produção de energia elétrica por usinas termonucleares é baseada no

resfriamento do núcleo do reator, utilizando-se de um circuito primário fechado

(circuito fechado de água pressurizada) para remoção do calor gerado no pela

reação de fissão nuclear, que atinge temperaturas acima de 300°C, que não se

transforma em vapor devido a alta pressão de trabalho (por volta de 140 bar). O

circuito primário passa pelo trocador de calor ou “gerador de vapor” do circuito

secundário, cuja água é transformada em vapor e que também circula em um outro

circuito fechado. O vapor do circuito secundário passa pela turbina acionando-a, em

seguida o vapor passa pelo condensador que o resfria e o faz voltar ao trocador de

calor. A condensação do vapor é obtida em um trocador de calor resfriado com

água (GUENA, 2007).

O núcleo do reator é construído dentro de um recipiente de aço. Os novos

reatores são projetados para reduzirem o risco de um acidente por um fator 10 e

seu envoltório deve suportar a força exercida pelo impacto de um avião. No caso de

um desastre, o núcleo do reator é projetado para evitar o tipo de acidente que

ocorreu em Chernobyl (Frois, 2005). Nele estão as varetas com os elementos

combustível e as barras para o controle da criticidade do reator. Estas últimas são

colocadas e retiradas do núcleo, conforme a necessidade de estabilizar a reação:

variação da corrente, controlando o ritmo de fissão no núcleo. A Figura 14 mostra

um reator PWR, usado na usina de Angra I (GUENA, 2007).

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Figura 14- Reator PWR. Fonte: Hinrichs, 2003

2.1.5.3 Estrutura da energia nuclear no Brasil

No Brasil, o ciclo do combustível nuclear é realizado pela Industriais

Nucleares do Brasil (INB), responsável pela produção dos combustíveis nucleares

utilizados nos reatores das usinas, e pela ELETRONUCLEAR, responsável pela

operação e construção de usinas termonucleares no Brasil.

2.1.5.3.1 Indústrias Nucleares do Brasil

As Indústrias Nucleares do Brasil (INB) exercem, em nome da União, o

monopólio do urânio no País, atuando na cadeia produtiva do urânio, desde a

mineração até a fabricação do combustível que gera energia elétrica nas usinas

nucleares (INB, 2013).

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A INB foi criado em 1988 e está vinculado ao Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação, tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro, e está presente

nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (INB,

2013).

A INB visa garantir o fornecimento do combustível nuclear para geração de

energia elétrica, de forma segura e com qualidade, garantindo a qualidade dos seus

produtos, assim como a preservação do meio ambiente e da segurança e saúde da

população e dos seus empregados. Para isto, adota medidas internacionais de

segurança em suas unidades (INB, 2013).

2.1.5.3.2 Eletrobras Eletronuclear

A Eletrobrás Eletronuclear é uma subsidiaria da Eletrobrás, foi criada em

1997 com a finalidade de operar e construir usinas termonucleares no Brasil. A

Eletronuclear é responsável pela geração de aproximadamente 3% da energia

elétrica consumida no Brasil, porcentagem que irá aumentar consideravelmente

com quando Angra III estiver em operação (ELETRONUCLEAR, 2013).

A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) fica situada na cidade

de Angra dos Reis, e recebe este nome em homenagem ao pesquisador pioneiro da

tecnologia nuclear no Brasil e principal articulador de uma política nacional para o

setor (ELETRONUCLEAR, 2013).

Atualmente o Brasil tem em operação as usinas de Angra I e Angra II, e

está em construção a usina de Angra III.

A Figura 15 mostra a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto.

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Figura 15- Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto. Fonte: site da ELETRONUCLEAR.

2.1.5.4 As Usinas Nucleares Brasileiras

2.1.5.4.1 Angra I

É a primeira usina nuclear brasileira, tendo entrado em operação comercial

em 1985 e opera com um reator de água pressurizada (PWR), o mais utilizado no

mundo. Situada na cidade de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, é

operada pela ELETROBRAS ELETRONUCLEAR e tem uma potência bruta de 640

megawatts, gerando energia suficiente para suprir uma cidade de 1 milhão de

habitantes. Opera com 121 elementos combustíveis, com 235 varetas em cada

elemento combustível, tendo como material combustível o urânio.

Nos primeiros anos de sua operação, Angra 1 enfrentou problemas com

alguns equipamentos que prejudicaram o funcionamento da usina, sendo essas

questões sanadas em meados da década de 90, fazendo com que a unidade

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passasse a operar com padrões de desempenho compatíveis com a prática

internacional. Em 2010, a usina bateu seu recorde de produção, fato que se repetiu

novamente em 2011 (ELETRONUCLEAR, 2013).

Angra I foi adquirida da empresa americana Westinghouse sob a forma de

“turn key”, como um pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia por

parte dos fornecedores, mas hoje isso não representa um problema, pois a

experiência adquirida por todos esses anos de operação capacita a Eletronuclear a

realizar um programa contínuo de melhoria tecnológica e incorporar os mais

recentes avanços da indústria nuclear (ELETONUCLEAR, 2013).

Um exemplo disso foi a troca dos geradores de vapor – dois dos principais

equipamentos da usina – realizada em 2009. Com a substituição, a vida útil de

Angra 1 poderá ser estendida, permitindo que a usina esteja apta a gerar energia

para o Brasil por décadas.

A Figura 16 mostra a Usina Nuclear de Angra I.

Figura 16- Usina Nuclear de Angra I. Fonte: site da ELETRONUCLEAR.

2.1.5.4.2 Angra II

A segunda usina nuclear brasileira começou a operar comercialmente em

2001. Como a usina de Angra I, também está localizada na cidade de Angra dos

Reis, estado do Rio de Janeiro e é operada pela ELETROBRAS

ELETRONUCLEAR. A usina conta com um reator de água pressurizada (PWR) de

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tecnologia alemã da Siemwns/KWU (hoje Areva NP), reator este diferente do

utilizado em Angra I, fruto de acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, assinado em

1975. Com potência de 1.350 megawatts, Angra 2 é capaz de atender ao consumo

de uma cidade de 2 milhões de habitantes. Opera com 193 elementos

combustíveis, com 236 varetas em cada elemento combustível, tendo como

material combustível o urânio.

Apesar de ter começado a ser construída em 1981, Angra II só foi ser

concluída em 2000, pois a partir de 1983 o ritmo das obras foi sendo desacelerado

devido à crise econômica do país na época e teve suas obras paradas em 1986, só

sendo retomada as obras em 1994 para ser concluída em 2000.

A performance da usina tem sido exemplar desde o início. No final de 2000

e no início de 2001, sua entrada em operação permitiu economizar água dos

reservatórios das hidrelétricas brasileiras, amenizando as conseqüências do

racionamento de energia, especialmente na região Sudeste, maior centro de

consumo do país. Em 2009, a unidade foi a 33ª terceira em produção de energia

entre as 436 usinas em operação no mundo, segundo a publicação americana

Nucleonics Week, especializada em energia nuclear. No mesmo ano, ocupou a 21ª

posição em comparação com as 50 melhores usinas americanas numa análise dos

indicadores de desempenho da Associação Mundial de Operadores Nucleares

(Wano).

A construção de Angra 2 propiciou transferência de tecnologia para o Brasil,

o que levou o país a um desenvolvimento tecnológico próprio, do qual resultou o

domínio sobre praticamente todas as etapas de fabricação do combustível nuclear.

Desse modo, a Eletrobras Eletronuclear e a indústria nuclear nacional reúnem, hoje,

profissionais qualificados e sintonizados com o estado da arte do setor

(ELETONUCLEAR, 2013).

A Figura 17 mostra a Usina Nuclear de Angra II.

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Figura 17- Usina Nuclear de Angra II. Fonte: site da ELETRONUCLEAR.

2.1.5.4.3 Angra III

Angra III será a terceira usina nuclear brasileira, também localizada na

cidade de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, e sobre operação da

ELETROBRAS ELETRONUCLEAR e terá potência de 1.405 megawatts. Ela

utilizará a mesma tecnologia de Angra II, a tecnologia alemã Siemens/KWU (hoje,

Areva NP). As etapas de construção da unidade incluem as obras civis, a

montagem eletromecânica, o comissionamento de equipamentos e sistemas e os

testes operacionais.

As obras foram reiniciadas em 2010 e a previsão é de que a unidade entre

em operação em maio de 2018. Ela terá capacidade para gerar mais de 12 milhões

de megawatts-hora anuais, energia suficiente para abastecer as cidades de Brasília

e Belo Horizonte durante um ano inteiro. Com Angra 3, a energia nuclear passará a

gerar o equivalente a 50% da eletricidade consumida no estado do Rio de Janeiro.

Cerca de 80 mil metros cúbicos de concreto estrutural já foram executaos,

o que representa aproximadamente 40% do progresso das obras civis. Quatro mil

pessoas estão trabalhando no canteiro, sendo que 80% são moradores da região

onde a usina está sendo instalada.

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O empreendimento demandará investimentos diretos da ordem de R$ 10

bilhões, sendo que em torno de 75% desses gastos serão efetuados no Brasil.

Desse total, o BNDES financiará R$ 6,1 bilhões. Mais R$ 3,8 bilhões serão

financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF). A Eletronuclear também receberá

R$ 890 milhões da Eletrobras, oriundos do fundo da Reserva Global de Reversão

(RGR), cujos saldos devem ser aplicados no próprio setor elétrico

(ELETRONUCLEAR, 2013).

A Figura 18 mostra a Usina Nuclear de Angra III, que está em construção.

Figura 18- Usina Nuclear de Angra III. Fonte: site da ELETRONUCLEAR.

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3. METODOLOGIA

Para este trabalho, será feita uma pesquisa bibliográfica, fazendo um

levantamento na literatura relacionada à energia nuclear no Brasil para a geração

de energia elétrica e também procurando dados atualizados sobre a situação atual

e as perspectivas futuras da energia nuclear no Brasil, dados esses pesquisados

nas agencias responsáveis, como a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica),

o INB (Indústrias Nucleares do Brasil), ELETROBRAS ELETRONUCLEAR e CCEE

(Câmera de Comercialização de Energia Elétrica). Este levantamento será sobre a

geração de energia elétrica no Brasil, abordando alguns tipos de fontes geradores

de energia elétrica (hidrelétrica, solar, eólica, térmica e nuclear), que serão as

fontes utilizadas para se fazer o estudo comparativo de aspectos econômicos e

ambientais com a energia nuclear. Depois deste levantamento, será feito uma

abordagem mais simples das fontes de energia, tendo um enfoque maior apenas na

energia nuclear, que é o objetivo de estudo deste trabalho. Para a energia nuclear,

será abordado seu histórico no Brasil; como é o funcionamento de uma usina

nuclear, desde a produção dos combustíveis nucleares até o funcionamento de um

reator por fissão nuclear; como a energia nuclear está estruturada no Brasil; como

funcionam as usinas nucleares de Angra I e de Angra II e as diferenças entre elas; e

quais os planos futuros da energia nuclear no Brasil. Para os demais tipos de fontes

de energia, será abordado o que é, e como é o seu funcionamento, de uma forma

mais simplificada. Após esse primeiro levantamento, será feita uma revisão

bibliográfica na literatura para levantar os dados sobre os aspectos econômicos e

ambientais destas fontes de geração de energia elétrica, e um comparativo entre as

mesmas, baseado em parâmetros utilizados como referencia em outros trabalhos.

Após essa analise comparativa, será feito uma conclusão, se é viável se investir em

energia nuclear no Brasil, considerando a comparação de aspectos econômicos e

ambientais com outras fontes geradores de energia elétrica.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um dos grandes problemas para se comparar diferentes tipos de fontes

geradoras de energia é o fato de elas terem capacidades diferentes para geração

de energia elétrica. Para facilitar a comparação e a discussão, este trabalho

padronizou a unidade geradora de energia, como se todas tivessem a mesma

capacidade geradora de energia, ajustando os valores das fontes de energia que

não tenham uma capacidade igual ou próxima ao valor estabelecido. Esta idéia foi

utilizada por GUENA no seu trabalho sobre a Avaliação Ambiental de diferentes

formas de geração de energia elétrica, onde GUENA imaginou uma unidade básica

com capacidade de 1.300 MW, que é o valor aproximado da capacidade de geração

da Usina Nuclear de Angra II. Devido ao objetivo deste trabalho, foi considerado

interessante utilizar a mesma unidade básica e as mesmas usinas utilizadas por

GUENA para fazer a comparação, pois facilitará na comparação e discussão entre

as fontes de energia propostas por este trabalho.

Para uma base de calculo, foram utilizadas as mesmas usinas utilizadas por

GUENA em seu trabalho:

a) Usina termelétrica a carvão: UTE Candiota (Candiota, RS)

b) Usina termelétrica a gás: UTE Governador Leonel Brizola (Duque de

Caxias, RJ)

c) Usina termelétrica a óleo: UTE Breitener (Maracaú, CE)

d) Usina termonuclear: Usina de Angra 2 (Angra dos Reis, RJ)

e) Usina hidrelétrica: UHE Serra da Mesa (Minaçu, GO)

f) Energia eólica: Parque Eólico de La Sierra de El Perdón (Espanha).

Para energia eólica não foi utilizada uma usina eólica brasileira, pois as

existentes possuem baixo potencial instalado

g) Usina Solar: Usina Solar de Espenhain (Alemanha). Para energia solar,

utilizou-se esta usina por não haver no Brasil uma planta solar que

possa ser comparada

Devido à capacidade de geração das usinas, para se efetuar os cálculos e

chegar à capacidade de 1.300 MW utilizada como padrão, GUENA teve de fazer

algumas considerações:

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a) A usina termelétrica a carvão, UTE Presidente Médici, apresenta uma

potência instalada de 445 MW, ocupando uma área de 200.000 m2. Para atingir a

potencia de 1.300 MW são necessárias 3 usinas do mesmo porte, resultando na

ocupação de uma área de 600.000 m2 (GUENA, 2007). A Figura 19 mostra o

Complexo Termelétrico de Candiota, RS.

Figura 19- Complexo termelétrico de Candiota, UTE Presidente Médici. Fonte: GUENA,

2007

b) A usina termelétrica a gás, UTE governador Leonel Brizola, apresenta

uma potência instalada de 1.040 MW, ocupando uma área de 120.000 m2.

A Figura 20 mostra a Termelétrica a Gás Leonel Brizola, RJ.

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Figura 20- Vista aérea da termelétrica a gás Leonel Brizola. Fonte: GUENA, 2007.

c) A usina termelétrica a óleo, UTE Breitener, apresenta uma potência

instalada de 166 MW, ocupando uma área de 9.900 m2. Para atingir a potencia de

1.300 MW são necessárias aproximadamente 8 usinas do mesmo porte, resultando

na ocupação de uma área de 120.000 m2 (GUENA, 2007). A Figura 21 mostra a

Termelétrica Breitener, CE.

Figura 21- Termelétrica Breitener, Maracaú, CE. Fonte: GUENA, 2007.

d) A usina nuclear, Angra II, apresenta uma potência instalada de 1.350

MW, ocupando uma área de 100.000 m2 (GUENA, 2007). A Figura 22 mostra a

Usina Nuclear de Angra II, RJ.

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Figura 22- Vista da Usina de Angra II. Fonte: GUENA, 2007.

e) A usina hidrelétrica, Serra da Mesa no rio Tocantins, apresenta uma

potência instalada de 1.275 MW, com 3 unidades geradoras, ocupando uma área

de 1.784.000.000 m2 (GUENA, 2007). A Figura 23 mostra três vistas do lago da

hidrelétrica da Serra da Mesa, GO.

Figura 23- Lago da hidrelétrica de Serra da Mesa, GO. Fonte: GUENA, 2007.

f) Na energia eólica, cada gerador dista no mínimo 20 metros dos demais. O

Parque Eólico de La Sierra de El Perdón, apresenta uma potência instalada de 20

MW, ocupando uma área de 46.000 m2. Para atingir a potencia de 1.300 MW são

necessárias 65 parques do mesmo porte, resultando na ocupação de uma área de

2.990.000 m2 (GUENA, 2007). A Figura 24 mostra o Parque Eólico de La Sierra de

El Perdón, na Espanha.

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Figura 24- Vista do Parque Eólico de La Sierra de El Perdón. Fonte: GUENA, 2007.

A energia solar, instalada em Espenhain, apresenta uma potência instalada

de 5 MW, ocupando uma área de 200.000 m2. Para atingir a potencia de 1.300 MW

são necessárias 260 plantas do mesmo porte, resultando na ocupação de uma área

de 52.000.000 m2 (GUENA, 2007). A Figura 25 mostra a Planta Solar de Espenhain,

na Alemanha.

Figura 25- Planta solar de Espenhain, Alemanha. Fonte: GUENA, 2007.

Diante destes dados, GUENA construiu a Tabela 2, mostrando a avaliação

comparativa entre os tipos de usinas geradoras de energia, com eficiência de cada

uma delas, a área de construção e o custo da produção da energia sem impostos,

encargos e despesas com manutenção e pessoal. Esses dados foram utilizados

para os cálculos da área imobilizada por MW gerado.

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Tabela 2- Comparativo dos tipos de geração x área de construção x custo em Euro

Fonte: GUENA, 2007.

Com esses dados obtidos por GUENA, ela pode verificar que a eficiência

térmica das diferentes formas de geração de energia é de certa forma equivalente,

pois estão compreendidas na faixa entre 30 e 40%. Desta forma o que irá

diferenciá-las são a disponibilidade do combustível, os impactos ambientais gerados

e os custos de geração.

Esta analise feita por GUENA já demonstra um fator favorável a energia

nuclear quando comparada as outras fontes geradoras de energia elétrica, pois a

energia nuclear é a que possui maior produção de energia por m2, sendo seguida

pelas energias térmicas a gás e a óleo, que possuem valores bem próximos ao da

energia nuclear. Já as outras fontes de energia (térmica a carvão, eólica, solar e

hidrelétrica) apresentam uma potência por área instalada muito inferior a da energia

nuclear.

Analisando as informações obtidas na literatura, observamos alguns

parâmetros econômicos e ambientais importantes para serem analisados para fazer

uma comparação entre as fontes de energia. Os parâmetros considerados mais

relevantes e que foram abordados neste trabalho são: a fonte geradora possuir um

ciclo de combustível associado; o impacto gerado pela área ocupada pela unidade

geradora; 3 o uso de água pelas fontes de energia; a geração de Gases do Efeito

Estufa, GEE; dependência de fatores sazonais e climáticos na produção de energia

e a influencia do perfil de geração; os impactos causados pela matéria-prima; ser ou

não uma fonte de energia renovável; a possibilidade da instalação da unidade

geradora perto dos centros consumidores; custos de geração elétrica; e a

desativação da unidade geradora de eletricidade.

Tipo de Geração Eficiência

Teórica (%) Área de

Construção (m2) Custo do kW

(Euros) Potência/Área

(kW/m2) Térmica a Carvão 35 600.000 0,018 a 0,15 2,17

Térmica a Gás Máx 40 120.000 0,005 a 0,035 10,83 Térmica a Óleo 40 a 44 120.000 0,026 a 0,109 10,83

Nuclear 34 100.000 0,0024 a 0,0074 13 Hidrelétrica 20 a 65 1.784.000.000 0,00004 a 0,007 0,00073

Eólica Máx 55 2.990.000 0,005 a 0,007 0,43 Solar 10 a 28 52.000.000 0,0014 a 0,0033 0,025

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4.1 Possuir um ciclo de combustível

Dentre as fontes de energia utilizadas neste trabalho, as que possuem um

ciclo de combustível são as de origem térmica, ou seja, as térmicas a carvão, gás,

óleo e nuclear, que também é uma fonte térmica. Estas fontes são de uso mais

amplo por terem domínio de seus processos tecnológicos há mais tempo, porém

são fontes não renováveis. Já as usinas hidrelétricas, mesmo não sendo

dependente de um ciclo de combustível, ela têm limites naturais de crescimento. A

energia eólica utiliza o ar para o seu funcionamento, mas essa utilização não causa

nenhuma alteração nem no ar nem ambiental, assim como a energia solar, que

utiliza a irradiação solar, não trazendo nenhuma alteração no meio ambiente em

relação a isto. Junto com outras fontes renováveis, como os biocombustíveis e os

resultantes das grandes movimentações naturais de massa, as fontes eólica e solar

têm sido uma alternativa para o esgotamento das fontes não renováveis.

As fontes que dependem de um ciclo combustível apresentam um risco

ambiental, devido às operações associadas à extração e ao beneficiamento da

matéria-prima (GUENA, 2007).

Neste caso, podemos notar que o fato de apresentar um ciclo de

combustível é um fator negativo as fontes de energia, devido ao seu risco

ambiental. Porém as fontes de energia que apresentam um ciclo combustível têm

uma grande importância na matriz energética mundial, pois são utilizadas há mais

tempo, existindo assim um domínio e um grande desenvolvimento nos seus

processos tecnológicos, o que resultam na diminuição do risco ambiental e em uma

otimização do processo.

A energia nuclear tem esse fator minimizado também, pois necessitam de

uma menor quantidade de combustível para produzir energia, principalmente se

comparada às outras fontes que possuem um ciclo combustível, como as térmicas a

carvão, a gás e a óleo, e as que utilizam biomassa, que necessitam de um volume

muito grande de matéria-prima para gerar energia, conforme mostra a Tabela 3.

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Tabela 3- Consumo de matéria-prima

Fonte de energia elétrica Coeficiente de massa de

combustivel anual (kg/MWh) Biomassa 1.924

Carvão 413 Gás natural 287

Petróleo 276 Nuclear 0,02 Eólica 0

Hidreletrica 0 Fonte: Cesaretti, 2010

4.2 Área ocupada pelas unidades geradoras

Os dados obtidos por GUENA mostram que neste quesito o pior caso é o da

hidrelétrica, que necessita de uma imensa área para a formação dos lagos. É de

conhecimento também que a biota da região é afetada pela eliminação de parte

dela por afogamento, pela impossibilidade dos peixes seguirem seus caminhos

naturais e pela separação territorial acarretada pela grande área alagada. A energia

solar tem um impacto razoável neste aspecto, pois seus imensos painéis criam

microclimas diferenciados pelas sombras formadas. A energia eólica é um meio

termo entre uma área concentrada e outra um pouco mais dispersa (GUENA, 2007).

No caso das hidrelétricas, um dos maiores problemas é o seu baixo

potencial de geração por m2, trazendo assim um grande impacto ao meio ambiente

devido à necessidade de grandes áreas para implementação das mesmas. Para se

diminuir esse impacto é importante escolher o local das barragens pensando na

maior razão possível entre a potencia gerada e a área inundada. Quanto maior for a

razão entre a potencia gerada e a área inundada, menor será o impacto

socioambiental (GOLDEMBERG & LUCON, 2008)

Esta questão é um dos problemas para a utilização de fontes de energias

renováveis. As fontes renováveis necessitam de uma grande área para serem

implementadas ou para produzir o combustível, como no caso da biomassa, o que

se torna um fator limitante, ter de possuir toda essa área para produzir energia, o

que faz com que a geração de energia por m2 seja muito baixo, quando comparada

com outras fontes de energia não renováveis, como foi mostrado pelos dados

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anteriormente. E essa enorme área necessária, gera um grande impacto ambiental

também na região onde a fonte de energia é implantada, como podemos perceber

no caso das hidrelétricas, onde o bioma da região é afetado devido a grande área

alagada necessária para formação dos lagos.

4.3 O uso de água pelas fontes de energia

O requerimento de água por uma fonte de energia é um indicador

socioambiental importante, pois a sua necessidade para a geração de eletricidade

indisponibiliza o mesmo para outros usos, como asseio e alimentação. São

necessários consideráveis volumes de água em todo o ciclo de vida da geração

elétrica (Cesaretti, 2010).

A Tabela 4 mostra o consumo total de água em toda cadeia energética.

Tabela 4- Consumo ou requerimento total em toda a cadeia energética

Fonte de energia elétrica Requerimento total de água (m3/MWh)

Nuclear 60,039 Carvão 59,838 Petróleo 31,534

Biomassa 31,478 Gás natural 31,091 Hidrelétrica 17

Eólica 0,008 Fonte: Cesaretti, 2010

Para a construção da Tabela 4, Cesaretti se baseio nos volumes de água

requeridos para as fontes de geração elétrica na circulação direta, na circulação

indireta e no consumo.

A diferença de consumo de água entre as centrais elétricas deve-se às

técnicas e tecnologias empregadas em cada etapa de geração como o

resfriamento, além da característica própria da planta (Cesaretti, 2010).

Os dados mostram que as energias nucleares e de fonte fósseis são as que

necessitam de um maior volume de água para a geração de energia, pois utilizam

grandes volumes de água nas operações de refrigeração e no caso das de origem

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fósseis no seqüestro de carbono também. A biomassa utiliza água principalmente

no cultivo. A água requerida nas hidrelétricas considera a perda por evaporação do

reservatório, e a fonte eólica praticamente não requer água para geração de energia

elétrica.

4.4 Quantidade gerada de Gases do Efeito Estufa

A quantidade gerada de Gases de Efeito Estufa (GEE) tem assumido um

papel cada vez mais importante na escolha de um empreendimento para geração

de energia elétrica. Neste aspecto a nuclear, a solar, a eólica e a hidrelétrica tem

uma grande vantagem sobre as demais, embora a hidrelétrica favoreça a formação

do gás metano durante os primeiros dez anos de funcionamento. Entre as fontes

que formam gases de efeito estufa, a térmica a gás é menos poluidora do que a

térmica a óleo, e está menos do que a térmica a carvão (GUENA, 2007). A Tabela 5

lista as emissões de gases de efeito estufa, NOx e SOx para cada tipo de geração

de energia elétrica, não sendo citada a energia nuclear, pois a mesma não emite

nenhum desses gases.

Tabela 5- Emissão de gases das centrais geradoras de energia elétrica

Emissão Termelétrica

a Carvão Termelétrica

a Gás Termelétrica

a Óleo Hidrelétrica Eólica Solar

GEE (kg CO2) 316 278 261 1,27 1,69 29

Nox (g) 513 464 575 10,4 8,6 0,36

Sox (g) 1210 66 2690 1,8 9,1 0,09 Fonte: GUENA, 2007.

A geração de gases do efeito estufa tem sido uma das maiores

preocupações ambientais da sociedade atual. Este fator traz uma grande vantagem

a energia nuclear, devido à mesma não emitir nenhum desses gases. É o principal

fator para uma fonte de energia ser considerada limpa, e é o que faz a energia

nuclear ser considerada uma fonte de energia limpa, mesmo não sendo renovável.

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4.5 Dependência de fatores sazonais e climático e o perfil de geração

As hidrelétricas dependem do regime de chuvas para manter a produção

constante, embora a formação das grandes represas vise minimizar o impacto desta

variável. A energia eólica depende de um regime de ventos constantes e o

rendimento da produção de energia solar é diretamente influenciado pela formação

de nuvens e chuvas. As outras formas de geração, que utilizam material

combustível, não são afetadas por fatores sazonais, como regime de ventos,

chuvas e insolação (GUENA, 2007).

Neste fator as fontes renováveis de energia apresentam uma enorme

desvantagem, pois dependem diretamente de fatores sazonais e climáticos para

sua produção, não conseguindo assim manter sua produção constante durante todo

o ano, e em alguns casos variando inclusive durante o dia.

As hidrelétricas são dependentes do regime de chuvas, onde mesmo com a

formação de grandes represas para diminuir essa dependência, em períodos de

pouca chuva, as águas nas represas diminuem, diminuindo assim a geração de

energia elétrica.

As energias solar e eólica apresentam um perfil de geração que se altera ao

longo do dia. Por razões óbvias, a energia solar não tem a mesma capacidade ao

longo do dia, pois é dependente da irradiação solar para produzir energia elétrica. A

sua geração também varia de acordo com a época do ano, e com o local onde está

instalada, pois a irradiação solar é mais forte ou mais fraca dependendo da sua

localização, sendo mais intensa próxima a Linha do Equador, e varia dependendo

da época do ano, sendo mais intenso no verão. Já a energia eólica depende da

força dos ventos, que está diretamente ligada ao regime de ventos, que também

varia de uma localidade para outra, e de uma estação para outra, além de que o

perfil de geração da energia eólica também se altera ao longo do dia, tendo seu

pico máximo por volta das 20 horas.

Devido a esse perfil de geração das energias eólica e solar, nos horários de

pico de consumo, que é entre as 18 e às 21 horas, estas energias não estão no seu

potencial máximo de geração. Diferente do que ocorre com as térmicas a carvão,

gás, óleo e nuclear podem ter a sua produção de energia modulada, diminuindo o

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consumo de combustível nos horários de menor demanda. No caso das

hidrelétricas esta modulação não pode ser feita, a menos que as turbinas sejam

revertidas, o que não significa uma economia de equipamento (GUENA, 2007).

Como o custo para o armazenamento de energia é muito alto, é importante

gerar energia de acordo com a demanda da mesma, para não se perder energia

gerada. Para isso é importante ter a capacidade máxima de geração nos horários

de pico, onde o consumo de energia é maior, o que só pode ser feito nas usinas

térmicas a carvão, gás, óleo e nuclear.

4.6 Impactos causados pela matéria-prima

Este é um dos parâmetros que representam uma desvantagem para as

fontes de energia não renováveis. A extração e o beneficiamento do carvão, do

óleo, do gás e do combustível nuclear já pressupõem a poluição ambiental

associada a essas atividades. A mineração do carvão traz preocupação com a

saúde dos trabalhadores, assim como os vazamentos no transporte de petróleo e

seus derivados tem um grande impacto ambiental. De todos, o ciclo de vida do

combustível nuclear é o mais preocupante para o meio ambiente, haja vista o longo

tempo necessário para que este se torne radiologicamente inofensivo (GUENA,

2007).

As fontes de energia não renováveis apresentam uma grande preocupação

com relação aos impactos causados por sua matéria-prima. A extração e o preparo

do combustível, para que o mesmo seja utilizado para a geração de energia gera

preocupação com a saúde e segurança dos trabalhadores, assim como o impacto

ambiental que pode ter caso haja algum problema no transporte ou na extração do

mesmo. Os vazamentos de óleo e gás têm um grande impacto ambiental, e por isso

necessita de grande rigor na operação dos mesmos, para que não aconteça

nenhum acidente. No caso das usinas nucleares, além do perigo caso ocorra algum

acidente ou vazamento de substancias nucleares, existe também a preocupação

com o descarte do lixo nuclear, que tem que ser feito de forma apropriada, para não

haver um impacto ao meio ambiente.

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4.7 Ser ou não uma fonte de energia renovável

As térmicas a carvão, gás, óleo e nuclear são todas fontes de energia não

renovável, pois utilizam matéria-prima com estoques finitos, ou seja, as suas fontes

de matéria-prima irão se esgotar um dia. Já as fontes solar, eólica e hidrelétrica são

fontes renováveis, pois sua matéria-prima, respectivamente o sol, o vento e a água

dos rios, não irão se esgotar.

No caso dos combustíveis fósseis, esta situação se acentua, devido a

inúmeras outras aplicações industriais que eles possuem, fazendo com que o

consumo da reserva dessas matérias seja maior, e conseqüentemente o término do

mesmo fica mais próximo.

Tem se investido cada vez mais em fontes de energias renováveis, não só

por elas serem fontes de energia limpa, mas também por não depender de reservas

que um dia irá se esgotar e assim a fonte de energia deixar de existir.

4.8 Possibilidade da instalação da unidade geradora próxima aos centros

consumidores

A sociedade atual tem sua população localizada nos centros urbanos, o que

traz a necessidade de que as fontes de energia estejam mais próximas dos centros

de consumo para suprir a demanda dos mesmos. Isto não é só pela questão da

gestão, mas também para evitar a perda ocasionada pela dissipação da energia na

transmissão para longas distancias (GUENA, 2007).

As energias que dependem de situações geográficas favoráveis, como é o

caso da hidrelétrica, eólica e solar, que depende das condições de relevo e

climática para favorecer a sua geração, encontram-se em desvantagem quando

comparadas as que podem ser instaladas em qualquer região. Neste fator, a

energia nuclear acaba levando certa vantagem com relação às térmicas a carvão,

gás e óleo, pois apesar de elas poderem ser instaladas em qualquer região, pois

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seu combustível pode ser transportado de um local para o outro, elas geralmente

são instaladas próximas as reservas dos seus respectivos combustíveis.

4.9 Custos de geração elétrica

A análise de custos é sempre um dos principais parâmetros avaliados para

se investir em qualquer setor ou negocio. Para se investir em determinado produto

ou projeto, é necessário que o mesmo tenha um custo competitivo quando

comparado a outros similares ou que possuam a mesma finalidade. O produto ou

projeto não tem de ser apenas possível de ser realizado, ele tem de fazer isso

sendo economicamente viável e competitivo com o mercado para se tornar viável

investir no mesmo.

No caso das fontes geradoras de energia é difícil fazer um levantamento do

custo, pois o mesmo varia dependendo da tecnologia utilizada, o local de instalação

da planta, a capacidade de geração da mesma, que variam mesmo entre fontes de

energia iguais. O próprio rigor das regulamentações de cada país altera o custo final

das fontes geradoras, pois países que tem pouca regulamentação têm a tendência

de utilizar opções mais baratas, desconsiderando as questões referentes às

mitigações dos impactos ambientais (IPCC, 2007), haja vista a parte de segurança,

descarte e tratamento dos resíduos e dos gases emitidos para a atmosfera, que

visam minimizar os riscos e o impacto ambiental, tem um custo elevado.

Para se fazer a comparação do custo de produção de energia elétrica no

Brasil, foi construída a Tabela 6, utilizando dados da ANEEL.

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Tabela 6- Custos de produção de energia elétrica no Brasil Fonte de energia

elétrica Custo (R$/MWh) Óleo diesel 491,61

Óleo combustível 330,11 Eólica 197,95

Gás natural 140,60 Nuclear 138,75

Carvão nacional 135,05 Carvão importado 127,65

Gás natural liquefeito 125,80 Hidrelétrica 118,40 Biomassa 101,75

Elaborada a partir de: ANEEL (2008)

Analisando os dados da Tabela 6, podemos observar que a energia nuclear

apresenta um valor de custo de produção intermediário entre as fontes geradoras

de energia, sendo assim economicamente competitiva com os outros tipos de fontes

geradoras de energia.

4.10 Desativação da unidade geradora de eletricidade

A questão da desativação da unidade geradora de eletricidade é tão

importante que até possui uma denominação própria na área nuclear, é o chamado

descomissionamento da usina nuclear. Cada uma das formas de geração de

energia elétrica tem sua peculiaridade na desativação (GUENA, 2007).

Para a desativação das centrais termelétricas a carvão, gás ou óleo, os

maiores problemas são a possibilidade de contaminação do solo, a necessidade de

desmontagem das instalações e a eventual demolição dos edifícios para reutilizar o

terreno (GUENA, 2007).

Para o descomissionamento de uma usina nuclear, é necessário o total

isolamento do local da central, bem como o monitoramento e segurança 24 horas

durante todo o período que o material utilizado na geração de energia levar para

decair a níveis que não comprometa mais o meio ambiente. O tempo para isso

ocorre pode superar os cem anos (GUENA, 2007).

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Para as barragens, a maior preocupação é na fase de construção, pois

depois de construída, por se tratar de uma obra de grande porte e com reservatório

volumoso não se pode simplesmente abandoná-la (GUENA, 2007). Este motivo

torna impensável desativar uma hidrelétrica, e também não existe um porquê para

tal, visto que é uma fonte de energia renovável.

Para os parques eólicos o material empregado nas torres é considerado

sucata. O maior problema são as baterias empregadas para o armazenamento da

energia que contem materiais tóxicos, como o chumbo, cádmio, cobre, zinco,

manganês, níquel, lítio e mercúrio. Os mais perigosos são o chumbo, o cádmio e o

mercúrio (GUENA, 2007).

Para centrais solares, a remoção da célula fotoelétrica não representa um

problema para o meio ambiente, pois não usa material poluente. Porém assim como

os parques eólicos, o problema são as baterias, que devem ter uma destinação

adequada para que não haja contaminação do meio ambiente (GUENA, 2007).

Podemos perceber, que com exceção das hidrelétricas, onde não se

imagina o seu desativamento, todas as outras fontes de energia enfrentarão

problemas para efetuar sua desativação. As fontes geradoras de eletricidade

possuem uma vida útil, aonde seu rendimento vai caindo ao longo dos anos,

diminuindo a sua eficiência. Os avanços tecnológicos e o desenvolvimento para

melhorar os processos, visam também aumentar a vida útil das fontes, para tornar

as mesmas mais viáveis. Na hora de se desativar as centrais, seja devido a ter

atingido a vida útil da mesma, ou por outros motivos, como econômicos, de

segurança, político, entre outros, é necessária uma preocupação com os materiais

utilizados nas mesmas, que devem passar pelos processos necessários e ter os

destinos adequados para não causarem nenhum impacto ambiental.

4.11 Disposições Finais

Uma das grandes preocupações com relação à energia nuclear tem sido

com relação ao impacto gerado por um acidente em uma usina nuclear, como

ocorreu em Fukushima em 2011. Este acidente inclusive fez com que muitos países

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repensassem sua matriz energética nuclear. Após o acidente em Fukushima, países

como Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Suíça, entre outros, resolveram repensar

suas políticas nucleares, alguns inclusive decidiram fechar suas usinas nucleares,

como é o caso da Alemanha, que pretende até 2022 desativar todas as usinas

nucleares do país. Devido a esse movimento que tem se formado em alguns países

europeus, tem crescido a critica aqui no Brasil, existindo inclusive um projeto de lei

em tramitação no senado brasileiro para suspender a construção de novas usinas

nucleares no Brasil por um período de 30 anos, o que vai de encontro com os

planos do governo federal, que prevê a construção de mais quatro novas usinas

nucleares até 2030.

Este cenário representa uma visão política da situação das usinas

nucleares. Na Alemanha, a decisão de se fechar as usinas nucleares foi uma

decisão política, visto que as usinas nucleares na Alemanha não apresentaram

problemas de segurança, e possuem uma das tecnologias mais avançadas,

seguras, eficientes e produtivas do mundo. Inclusive, esta decisão, trouxe um

aumento no custo da energia nuclear da população alemã, onde houve um aumento

de 47% no custo da energia elétrica para a população. E ainda existe o problema na

geração de energia no inverno, onde a geração de energia por parte de fontes de

energia renovável tem uma grande diminuição. E se a Alemanha esta desativando

suas usinas nucleares, muitos outros países estão investindo na mesma, tendo 64

usinas em construção no mundo, a maioria delas na China, onde estão sendo

construídas 26 novas usinas nucleares.

O risco de acidente existe não só paras usinas nucleares, mas para todas

as fontes, e um acidente em qualquer uma delas trariam um grande impacto

ambiental. Este não é um problema exclusivo das usinas nucleares, principalmente

se lembrarmos que o acidente em Fukushima foi ocasionado por fenômenos

naturais (foi um terremoto seguido de um tsunami). Fatores naturais podem ocorrer

em qualquer fonte de energia, e concerteza causará grandes estragos e impacto ao

meio ambiente. A opção de simplesmente acabar com as usinas nucleares é muito

simplista e equivocada. É uma fonte de energia que possui uma tecnologia já

conhecida e bastante avançada, atingindo altos índices de eficiência e de

segurança. O que deveria ser feito é investir para melhorar a segurança cada vez

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mais, diminuindo os riscos de um acidente, e minimizando os efeitos caso algum

ocorra.

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5. CONCLUSÃO

Os parâmetros aqui analisados demonstram que a energia nuclear

apresenta um custo de geração intermediário comparada a outras fontes geradoras

de energia, sendo assim uma opção economicamente viável comparada às outras

fontes de energia, mesmo as renováveis. A energia nuclear apresenta também o

maior potencial de geração de energia elétrica por m2, o que favorece a mesma,

pois produz uma grande quantidade de energia utilizando uma área muito menor,

quando comparada as outras.

Uma das maiores vantagens da energia nuclear é o fato de a mesma não

emitir gases do efeito estufa, sendo a diminuição da emissão de gases do efeito

estufa é um dos grandes objetivos da sociedade atual. Também, apesar de não ser

uma fonte de energia renovável, quando comparada com outras fontes que

necessitam de matéria-prima, como a biomassa, térmicas a carvão, a óleo e a gás,

a energia nuclear necessita de um volume muito menor de matéria-prima para

produzir uma mesma quantidade de energia, além de o Brasil possuir a 7ª maior

reserva de urânio do mundo, o que garante um suprimento de matéria prima por

muitos anos, mesmo com um aumento da produção nuclear.

Também podemos observar pelos parâmetros analisados neste trabalho,

que apesar de as fontes de energia renováveis serem uma boa opção para

substituir as fontes de energia não-renováveis, ainda estão sendo desenvolvidas e

aprimoradas novas tecnologias para otimizar as mesmas, aumentando a sua

produção e diminuindo seus custos. O armazenamento de energia também é um

problema, pois as tecnologias para armazenamento de energia ainda estão sendo

aprimoradas, o que faz com que o custo para armazenar energia seja elevado,

inviabilizando a utilização do mesmo. As fontes renováveis são influenciadas por

fatores climáticos e sazonais, que influenciam no local onde serão instaladas as

mesmas, ficando distantes dos grandes centros consumidores de energia.

Não foi discutida neste trabalho a opinião pública, que é um fator essencial

na hora de se escolher o tipo de energia a se investir, principalmente porque pode

ser utilizada como uma manobra política. Não se discutiu aqui também as razões do

Brasil para se investir em energia nuclear, que para muitos sempre visou obter a

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tecnologia para enriquecimento do urânio, podendo utilizar o mesmo para outros

fins, não para geração de energia elétrica.

Estes são fatores importantes para se investir na energia nuclear, mas o

que este trabalho visou mostrar foi à viabilidade econômica e ambiental da energia

nuclear quando comparada com outras fontes de energia para geração de energia

elétrica, e pelos parâmetros analisados podemos concluir que é sim viável tanto

econômica, quanto ambientalmente se investir em usinas nucleares no Brasil.

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