ESCADARIA JOÃO MANOEL: Uma intervenção necessária.

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XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq 27 de novembro a 01 de dezembro de 2017 ESCADARIA JOÃO MANOEL: Uma intervenção necessária. Cassya Netto Vargas Mestranda UniRitter/ Mackenzie [email protected] João Paulo Silveira Barbiero Mestrando UniRitter/ Mackenzie [email protected] Luisa Lammel Viecili Mestranda UniRitter/ Mackenzie [email protected] Renan Jantsch Adams Mestrando UniRitter/ Mackenzie [email protected] Resumo: O presente artigo visa investigar uma solução arquitetônica e urbanística para um problema recorrente em diversas cidades, quando o tema é patrimônio. A Escadaria da Rua Gal. João Manoel construída no século passado precisa receber uma adequação para os dias de hoje, afinal, as demandas daquele período não são mais as mesmas das atuais. A degradação de espaços urbanos está cada vez mais recorrente, em função do abandono e também da violência que aumentam nesses ambientes. Solução comumente encontrada nas cidades luso brasileiras da época, a escadaria costumava ser elemento de conexão entre a cidade alta e baixa de Porto Alegre. Projetada no início do século XX pelo arquiteto Christiano Gelbert, era utilizada para uso exclusivo de pedestres, quando não se pensava em acessibilidade de pessoas com necessidades especiais. A partir de uma análise do local, o trabalho apresenta soluções de como o problema pode ser enfrentado relacionado à área e ao patrimônio. A fim de trazer um novo uso e revitalização para o recorte de intervenção e região, foram encontradas soluções como a restauração e reciclagem das construções. 1 Introdução Este texto aborda sobre a questão da valorização de um patrimônio localizado no Centro Histórico de Porto Alegre: a Escadaria João Manoel. O trabalho busca refletir sobre a questão do patrimônio arquitetônico, bem como a forma de intervir nele e em seu entorno. Para este feito, se projetará uma intervenção na escadaria e em seu entorno, onde a proposta dará um novo

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ESCADARIA JOÃO MANOEL: Uma intervenção necessária.

Cassya Netto Vargas Mestranda UniRitter/ Mackenzie [email protected] João Paulo Silveira Barbiero Mestrando UniRitter/ Mackenzie [email protected] Luisa Lammel Viecili Mestranda UniRitter/ Mackenzie [email protected] Renan Jantsch Adams Mestrando UniRitter/ Mackenzie [email protected]

Resumo: O presente artigo visa investigar uma solução arquitetônica e urbanística para um problema recorrente em diversas cidades, quando o tema é patrimônio. A Escadaria da Rua Gal. João Manoel – construída no século passado – precisa receber uma adequação para os dias de hoje, afinal, as demandas daquele período não são mais as mesmas das atuais. A degradação de espaços urbanos está cada vez mais recorrente, em função do abandono e também da violência que aumentam nesses ambientes. Solução comumente encontrada nas cidades luso brasileiras da época, a escadaria costumava ser elemento de conexão entre a cidade alta e baixa de Porto Alegre. Projetada no início do século XX pelo arquiteto Christiano Gelbert, era utilizada para uso exclusivo de pedestres, quando não se pensava em acessibilidade de pessoas com necessidades especiais. A partir de uma análise do local, o trabalho apresenta soluções de como o problema pode ser enfrentado relacionado à área e ao patrimônio. A fim de trazer um novo uso e revitalização para o recorte de intervenção e região, foram encontradas soluções como a restauração e reciclagem das construções.

1 Introdução

Este texto aborda sobre a questão da valorização de um patrimônio localizado no Centro Histórico de Porto Alegre: a Escadaria João Manoel. O trabalho busca refletir sobre a questão do patrimônio arquitetônico, bem como a forma de intervir nele e em seu entorno. Para este feito, se projetará uma intervenção na escadaria e em seu entorno, onde a proposta dará um novo

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valor à obra e que a população consiga usufruir novamente desta importante passagem. Hoje em dia, o local se encontra em degradação por ser tratado com desleixo e por não possuir atrativos, o que gera insegurança aos moradores.

O projeto proposto pretende restaurar e reciclar o ambiente, a fim de obter novamente a apreciação por parte da população. O objetivo é que ele se torne local de estar, com diversas atividades que movimentem e tragam mais segurança à região. Ao buscar as maneiras mais adequadas de intervenção, pretende-se criar um ambiente onde as pessoas possam se reunir para eventos de arte e cultura, ademais de preservar e valorizar o patrimônio da cidade.

2 A Escadaria João Manoel: histórico

Porto Alegre – como uma típica cidade de colonização portuguesa – era dividida em cidade alta e a cidade baixa. A escadaria da Rua Gal. João Manoel era elemento de ligação entre essas “cidades”. Ela foi criada como um elemento urbano para os pedestres que viabilizava a circulação entre as ruas Duque de Caxias e Fernando Machado. Antes de ela existir era impossível transitar pelo antigo Morro da Formiga, região assim denominada pela população, devido a sua alta declividade. No Plano de Moreira Maciel de 1914, estava previsto um alargamento da Rua Gal. João Manoel, mas não um prolongamento da rua até a Rua Fernando Machado. Segundo Festugato (2012, p. 45): “[...] provavelmente foi uma melhoria proposta pela Comissão de Obras Novas”. Desde 1893 existia uma preocupação com o lugar, uma vez que naquela época a rua estava demarcada para que nada fosse ali construído.

O arquiteto que projetou a escadaria foi Christiano de la Paix Gelbert, alemão naturalizado em Porto Alegre e com relevante importância para a cidade. Christiano Gelbert responsável pelo projeto do Plano Geral da Exposição do Centenário Farroupilha e também de vários pavilhões da mesma. Além dos edifícios púbicos e dos projetos de caráter urbano e paisagístico, vale destacar a participação do arquiteto na implantação dos primeiros Planos Diretores da cidade. Conforme os planos eram aplicados, alguns projetos importantes de Gelbert eram executados, como a Hidráulica do Moinhos de Vento (1929), Praça Otávio Rocha (1929), a Ponte da Avenida Azenha (1934), o Hospital de Pronto Socorro (1939/42) e a própria Escadaria da Rua Gal. João Manoel (1928).

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Desde 1883, o município revelou preocupação em urbanizar a quadra entre Duque de Caxias e Cel. Fernando Machado, onde a ladeira do Morro da Formiga criava dificuldades intransponíveis. Em 1922, conforme o relatório do Intendente José Montaury, foram ali plantados 20 jacarandás; em 1928, cuidou-se da construção do belvedere e escadaria para a Rua Cel. Fernando Machado, com projeto do arquiteto Christiano de La Paix Gilbert, construção pela empresa do arquiteto Theo Wiederspahn e com ajuda da família Chaves Barcelos, que, sendo dona dos imóveis do quarteirão, custeou um terço do total das despesas. Construída em alvenaria de tijolos e pedra, ascende da rua Cel. Fernando Machado à rua Duque de Caxias. (PROCEMPA)

A Escadaria João Manoel foi tombada por sua importância histórica e arquitetônica. Festugato descreve claramente a escadaria, os lances, as medidas e as visuais – que hoje já não existem mais em virtude das construções que boqueiam a vista – de uma forma é possível entender a escadaria sem ao menos conhecê-la:

O projeto se divide em três partes, sendo o seu início na Rua Duque de Caxias formado por um lance de escadaria central, com largura de dois metros, ladeado por dois taludes de grama. (...) O primeiro lance chega a um amplo patamar do qual a escada parte dividida em dois lances mais estreitos, contornando um grande terraço de 36m² e criando um pórtico em forma de arco conformado pelo desnível da escada. Nesta parte, a balaustrada é substituída por um corrimão de ferro, também com linhas retas, proporcionando uma visão mais ampla da paisagem para quem circunda. A terceira parte é formada por mais três lances centrais com largura de dois metros interceptados por patamares “naturais”, sem calçamento e com inclinação de cinco por cento, que segundo Alberto Bins eram cobertos com areia grossa. A mesma balaustrada fechada, que acompanha o último lance da escadaria, faz o fechamento na chegada à Rua Cel. Fernando Machado. (FESTUGATO, 2012, p. 45)

3 Situação atual de área de intervenção

É claro o significado para a cidade no que se refere à memória e patrimônio arquitetônico de Porto Alegre. Todavia, com o passar dos anos e as mutações urbanas, esta estrutura foi quase abandonada. Apesar de ainda ser utilizada como local de passagem, ela sofre um processo de degradação. Uma interferência na edificação e seu entorno necessita ser realizada para tal ser preservada e reutilizada. Conforme Rocha (2002),

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À medida que progressivamente, vai passando o ciclo de enquadramento funcional da arquitetura, toda a construção precisa de trabalhos de recuperação, atualização ou adaptação, visando à sua conservação como bem físico e como ente operacional. (ROCHA, 2002, p. 231)

A escadaria e entorno pedem por um projeto de restauração e readequação. As deficiências do lugar, no quesito acessibilidade e insegurança, além da falta de atrativos, são pontos fortes a serem considerados. A região onde está situada possui grandes oportunidades para negócios, comércio e atividades culturais. No entanto, no estado em que se encontra, é necessário um projeto estratégico para dar vida ao espaço degradado juntamente com o trabalho de restauro.

A área está localizada no centro de Porto Alegre próximo a importantes pontos turísticos e prédios de grande relevância do Poder Público do Estado do Rio Grande do Sul. O local é cercado de elevados edifícios, bloqueando assim as visuais que antes o terreno era privilegiado, como a vista para o Lago Guaíba. A perda desta função é um motivo para a falta de atrativos.

Figura 3: Situação atual da área de intervenção. Fonte: Os autores.

4 Metodologia de intervenção

O recorte da intervenção realizada no quarteirão manterá as edificações que ali estão. Para as preexistências será indicado restauro ou reciclagem, a depender da forma de interferência mais adequada para cada edificação. Juntamente com a recuperação das edificações preexistentes, a proposta visa transformar o lugar em um espaço cultural e de lazer, a partir da unificação dos espaços. Para este feito também se procurou recuperar e implantar novas infraestruturas urbanas, como o elevador para acessibilidade, novos pontos de

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iluminação e outros mobiliários urbanos. Esta ideia foi baseada no Artigo 5º da Carta de Veneza:

Artigo 5º – A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se devem conceber e se podem autorizar as modificações exigidas pela

evolução dos usos e costumes. (CARTA DE VENEZA,1964)

O projeto pretende ser uma solução estratégica que se readequará à atualidade, ao trazer um programa que atraia as pessoas, ao mesmo tempo em que preservará as significantes obras ali presentes. Em relação às preexistências, serão aplicados os métodos de intervenção a partir da análise cada construção preexistente no recorte delimitado: a escadaria (Fig. 3.6) e conjunto residencial adjacente (Fig. 3.4), o casarão Chaves Barcellos (Fig. 3.1) e três edificações na sua parte de trás do terreno (Fig. 3.5). As formas de intervir deverão ter o cuidado de não cometer o falso histórico1 de Brandi (2013): “[...] a restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra-de-arte, desde que isso seja possível, sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra-de-arte no tempo”.

Visto que a Escadaria João Manoel é um bem tombado, o modo de intervir seria a restauração para salvaguardar a construção e sua memória2. Para este fim, o local precisaria ser limpo, reparado e pintado com a intenção de aproximar-se do estado original da escadaria. Já o casario adjacente – apesar de estar em bom estado e apresentar moradores – por ser um bem inventariado de estruturação e marco do Morro da Formiga, também seria restaurado. Aqui cabe ressalvar que não adianta somente restaurar; é imprescindível a conservação pelas pessoas e manutenção dos órgãos responsáveis. Conforme a Carta de Veneza (1964), artigo 4º, “A conservação dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente”.

O casarão Chaves Barcellos (localizado na esquina das Ruas Duque de Caxias e Gal. João Manoel) foi incorporado ao recorte de intervenção por estar há anos em estado de abandono; ele é um belo exemplar arquitetônico e

1 Termo definido por Cesare Brandi, teórico em restauro moderno que em 1966 escreveu a

Teoria da Restauração, obra baseada nas diretrizes da Carta de Atenas (1931). 2 Ver Carta de Veneza (1964), artigo 3º: “A conservação e a restauração dos monumentos

visam a salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico”.

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merece sua revalorização. Assim como a escadaria, o edifício faz parte do testemunho histórico de Porto Alegre. Lucio Costa (1937) ressalta em da primeira edição da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional3 como é importante a documentação da arquitetura do país. Ele ainda descreve que o estudo do passado permite aos futuros projetos uma visão crítica da arquitetura, de maneira a evitar equívocos. Ao reconhecer a importância da residência, buscou-se pesquisar e achar uma saída para recuperar o casarão, a qual foi a de reciclagem de uso após o restauro. A mesma metodologia de intervenção foi adotada para as três edificações existentes mais atrás do casarão. Na proposta serão expostos os novos usos projetados para estes edifícios.

5 Proposta de intervenção A intenção do projeto para a área foi de preservar o existente, manter o

uso, como as residências que dão frente à Rua Cel. Fernando Machado, além de dar um novo uso para as edificações abandonadas. Para Rocha (2002), “[...] a reutilização permite coloca-los [os bens históricos] em outro patamar funcional, mais contemporâneo e significante, viabilizando seu reassentamento no imaginário coletivo e no entorno urbano”. Para esta proposta dar certo, foi pensado no ambiente como uma conexão aos edifícios e atividades culturais do centro de Porto Alegre. Tal conexão funcionaria como um rizoma que interliga estes diversos pontos culturais na região. Para este fim, estabeleceu-se o seguinte programa de necessidades (ver Fig. 4): hostel, memorial, bistrô, pomar, praça de eventos, galeria com lojas, horta e cinema ao ar livre. Parte do programa ocupou as preexistências e a nova foi disposta no conceito de quadra aberta, solução para as grandes cidades contemporâneas4. Portzamparc (1975) acredita que a quadra aberta

[...] permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura moderna, isto é, uma arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de modenatura,

3 COSTA, Lucio. Documentação Necessária. In Revista do SPHAN nº 1: Rio de Janeiro, 1937,

p. 31-39. 4 Extraído de artigo escrito por GUERRA (2011), que fala sobre o conceito de quadra aberta em

texto do arquiteto francês Christian de Portzamparc, 1975.

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pode desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada imposto entre duas fachadas contíguas. (apud GUERRA, 2011)

Figura 4: Implantação e programa proposto. Fonte: Os autores.

No casarão Chaves Barcellos se propõe que seja instalado um hostel, onde visitantes poderiam se hospedar em um prédio que faz parte da história da capital gaúcha. A reciclagem do casarão Chaves Barcellos tende a recuperar a casca interna – o uso do hostel permite isso por ser similar ao programa de uma habitação – e manter o que for possível da configuração e identidade da residência5. Este novo uso tem o objetivo de preservar e valorizar a edificação e proporcionar cultura a quem ali se hospede.

No pátio atrás do casarão haveria um jardim que ligaria o hostel ao topo

do Morro da Formiga, com praça/espaço para eventos no qual ocorreriam diversas atividades ao ar livre. Desta maneira, ambiente convidaria as pessoas a permanecer e não apenas passar pelo local.

5 Esta foi o segundo tipo de intervenção classificado por Rocha, 2012 (ver p. 238).

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Figura 5: Praça de ligação do hostel ao espaço aberto. Fonte: Os autores.

Na edificação em frente a grande árvore existente foi proposto o Memorial da Escadaria João Manoel, onde fotos, documentos e vídeos com depoimentos, contarão a história da obra, com o intuito de que as pessoas conheçam e valorizem ainda mais sobre esse importante patrimônio de Porto Alegre. Ao lado ficaria o bistrô, com mesas na varanda para contemplar o jardim, e na área externa, trazendo ao espaço um local agradável para as pessoas que ali circulassem, parassem para apreciar um bom café pelo dia até um happy hour à noite. O funcionamento do local pela parte da noite traria mais fluxo de pessoas e consequentemente, segurança para região. A praça no centro utiliza os fundos dos lotes como área de uso comum e circulação, conforme o conceito da quadra aberta. A solução aproveita os jardins antigos das casas para uma nova utilização mais democrática.

Figura 6: Praça/ espaço para eventos, bistrô e memorial. Fonte: Os autores.

Ao aproveitar o desnível do terreno, foi criada uma espécie de passarela que daria acesso a algumas lojas/galerias/ateliers de arte. A proposta é de

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trazer mais cultura para o local, através de ateliers, com o intento de valorizar e incentivar os artistas gaúchos. Esta edificação teria acesso pela praça que está no nível da Rua Gal. João Manoel através de um elevador e escadas, os quais dariam também acesso ao nível da Rua Cel. Fernando Machado. A passarela também poderia ser acessada através do patamar da escadaria, com o propósito de conectar ainda mais o antigo com o novo, valorizando deste modo a preexistência.

Um dos principais problemas encontrados na área da intervenção foi a acessibilidade, atualmente pessoas com necessidades especiais não conseguem circular pelo Morro da Formiga. Com isso, a solução de uma segunda circulação com rampas e elevador foi a opção encontrada para que todas as pessoas pudessem usufruir deste espaço sem restrições. Além da possibilidade de subir ou descer pela Escadaria João Manoel – com a implantação de uma plataforma elevatória para cadeirantes na lateral da escadaria – haveria este segundo acesso criado, onde pessoas com necessidades especiais poderiam usufruir do espaço que antes não era possível.

Figura 7: Passarela com lojas/galeria/ateliers. Fonte: Os autores.

Na ruína de uma residência localizada na parte inferior do Morro da Formiga, acomodaria cinema a céu aberto, permaneceu sem cobertura, forma assim encontrada pelo grupo ao realizar o levantamento. A decisão de manter esta ruína – apesar de ela não possuir valor arquitetônico – deu-se pelo valor que ela tem aos moradores da região. A horta comunitária que lá funciona, através de uma iniciativa dos moradores, foi transferida para trás da edificação do cinema (atual ruína) na parte inferior do declive com fácil acesso de ambas as ruas.

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Figura 8: Escadaria e edificação que abrigaria o cinema ao ar livre. Fonte: Os autores.

Para viabilizar a proposta, o bistrô e as lojas seriam alugadas para empresas privadas, onde o valor do aluguel se destinaria a pagar os custos para manter o espaço, além dos eventos mensais que iriam render lucros para o fundo do Morro da Formiga. A proposta visa as diminuir distâncias para usos diários da população residente na região. Quando foram escolhidos os novos usos, buscou-se implantar programas necessários para o local, como, por exemplo: comércio de bairro, lazer e serviços. Como consequência, a proposta tende a trazer mais vida ao local, mais pessoas e, consequentemente, menos insegurança. A intenção ainda é que tenha uma boa iluminação, visto que um local bem iluminado afasta o perigo constante. Quanto mais utilizado for o espaço, menos marginalizado ele se torna.

Figura 9: Corte esquemático da área de intervenção. Fonte: Os autores.

6 Considerações Finais

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O local de intervenção poderia ser tratado de diversas formas, dependendo da percepção dos autores do projeto. Neste caso, o foco foi respeitar a preexistência patrimonial, adaptando-a as necessidades atuais e revitalizando-a, trazendo novos programas que além de atrair pessoas, tornem viável sua realização.

O patrimônio da escadaria da Rua Gal. João Manoel trata-se da memória da cidade, realizada num período de melhorias urbanas e novos planos diretores. A construção é um exemplar de uma época da cidade de Porto Alegre, de um período político e econômico importante. Além da escadaria, a ambiência somada ao casarão Chaves Barcellos e das casas da Rua Cel. Fernando Machado, marcam um conjunto no espaço urbano que necessita ser renovado e preservado. Ao manter este patrimônio, buscou-se adaptá-lo aos dias de hoje, uma vez que o mirante projetado na escadaria, já não possui a vista que proporcionava antigamente e a acessibilidade de portadores de necessidades especiais não era pensada na época em que foi projetado. Na intervenção priorizou-se tornar o lugar acessível a todos usuários.

O projeto estratégico de cultura e lazer combinado com o restauro e reciclagem das preexistências, numa composição de quadra, pode ser uma boa solução para revitalizar o local. Os programas, como comércio, servem aos moradores e às pessoas que passam pela região e conectam-se às outras atividades do Centro Histórico da cidade. Além disso, possuem a finalidade de gerar fluxo e permanência em diversas horas do dia. A proposta traz uma nova realidade para a região e serve de referência para outros locais. Ademais, manutenção é fundamental para a conservação do patrimônio, cabendo a todos a responsabilidade de preservação.

Referências

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BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê Editorial, 2013. 261 p.

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CARTA DE VENEZA. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=236>. Acessado em 25 de setembro de 2017.

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