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    SRIESRIE

    CADERNOS PEDAGGICOS

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    ERA UMA VEZ UMA CIDADE

    QUE POSSUA UMACOMUNIDADE,QUE POSSUA UMAESCOLA.MAS OS MUROS

    DESSA ESCOLAERAM FECHADOSA ESSA COMUNIDADE.DE REPENTE,CARAM-SE OS MUROSE NO SE SABIA MAIS ONDETERMINAVA A ESCOLA,ONDE COMEAVAA COMUNIDADE.E A CIDADE PASSOUA SER UMA

    GRANDE AVENTURA DO

    CONHECIMENTO.

    Texto extrado do DVD "O Direito de Aprender", uma realizao da

    Associao Cidade Escola Aprendiz, em parceria com a UNICEF.

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    Esporte e lazer

    SRIE

    CADERNOS PEDAGGICOS

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    A Srie Mais Educao 05

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    Apresentao do Caderno

    De que esporte e lazer falamos?

    Que relao esporte, lazer e escola pretendemos construir?

    Que diretrizes orientam a construo da ao educativa integrada que propomos?

    Que atividades podem ser construdas na ao educativa integrada que propomos?

    Para Refletir7 81

    8 Referncias 82

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    051A Srie Mais Educao

    P

    ensar na elaborao de uma proposta de Educao Integral como poltica pblicadas escolas brasileiras reetir sobre a transformao do currculo escolar ainda toimpregnado das prticas disciplinares da modernidade. O processo educativo, que se

    dinamiza na vida social contempornea, no pode continuar sustentando a certeza deque a educao uma tarefa restrita ao espao fsico, ao tempo escolar e aos saberes sistematizadosdo conhecimento universal. Tambm no mais possvel acreditar que o sucesso da educaoest em uma proposta curricular homognea e descontextualizada da vida do estudante.

    Romper esses limites poltico-pedaggicos que enclausuram o processo educacional naperspectiva da escolarizao restrita tarefa fundamental do Programa Mais Educao. EstePrograma, ao assumir o compromisso de induzir a agenda de uma jornada escolar ampliada, comoproposta de Educao Integral, rearma a importncia que assumem a famlia e a sociedade nodever de tambm garantir o direito educao, conforme determina a Constituio Federal de 1988:

    Nesse sentido, abraando a tarefa de contribuir com o processo de requalicar as prticas,tempos e espaos educativos, o Programa Mais Educao convida as escolas, na gura de seusgestores, professores, estudantes, funcionrios e toda a comunidade escolar, a reetir sobre o

    processo educacional como uma prtica educativa vinculada com a prpria vida. Essa tarefa exige,principalmente, um olhar atento e cuidadoso ao Projeto Poltico-Pedaggico da escola, pois apartir dele que ser possvel promover a ampliao das experincias educadoras sintonizadascom o currculo e com os desaos acadmicos.

    Isso signica que a ampliao do tempo do estudante na escola precisa estar acompanhada deoutras extenses, como os espaos e as experincias educacionais que acontecem dentro e forados limites fsicos da escola e a interveno de novos atores no processo educativo de crianas,adolescentes e jovens. O Programa Mais Educao entende que a escola deve compartilharsua responsabilidade pela educao, sem perder seu papel de protagonista, porque sua ao necessria e insubstituvel, mas no suciente para dar conta da tarefa da formao integral.

    Para contribuir com o processo de implementao da poltica de Educao Integral, o ProgramaMais Educao, dando continuidade a Srie Mais Educao (MEC), lanada no ano de 2009e composta da trilogia: Texto Referncia para o Debate Nacional, Rede de Saberes: pressupostospara projetos pedaggicos de Educao Integral e Gesto Intersetorial no Territrio, apresenta osCadernos Pedaggicos do Programa Mais Educaopensados e elaborados para contribuircom o Projeto Poltico-Pedaggico da escola e a reorganizao do seu tempo escolar sob aperspectiva da Educao Integral.

    Esta srie apresenta uma reexo sobre cada uma das temticas que compem as possibilidadeseducativas oferecidas pelo Programa Mais Educao, quais sejam:

    A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia,

    ser promovida e incentivada com a colaborao da socie-

    dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

    preparo para o exerccio da cidadania e sua qualicao

    para o trabalho. (Art. 205, CF)

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    6 Acompanhamento Pedaggico; Alfabetizao; Educao Ambiental; Esporte e Lazer; Direitos Humanos em Educao; Cultura e Artes; Cultura Digital; Promoo da Sade; Comunicao e Uso de Mdias; Investigao no Campo das Cincias da Natureza; Educao Econmica.

    Em cada um dos cadernos apresentados, sugere-se caminhos para a elaborao de propostaspedaggicas a partir do dilogo entre os saberes acadmicos e os saberes da comunidade. Aideia de produo deste material surgiu da necessidade de contribuir para o fortalecimento e odesenvolvimento da organizao didtico-metodolgica das atividades voltadas para a jornadaescolar integral. Essa ideia ainda reforada pela reexo sobre o modo como o desenvolvimento

    dessas atividades pode dialogar com as reas de conhecimento presentes na LDB (Lei 9394/96)e a organizao escolar visualizando a cidade e a comunidade como locais potencialmenteeducadores.

    Outros trs volumes acompanham esta Srie, a m de subsidiar debates acerca dos temas:

    Educao Especial na perspectiva da educao inclusiva; Territrios Educativos para a Educao Integral: a reinveno pedaggica dos espaos e tempos

    da escola e da cidade; Educao Integral no Campo.

    Faz-se necessrio salientar que as proposies deste conjunto de cadernos temticos nodevem ser entendidas como uma apresentao de modelos prontos para serem colocados emprtica, ao contrrio, destinam-se a provocar uma reexo embasada na realidade de cadacomunidade educativa, incentivando a ateno para constantes reformulaes. Portanto, estes

    volumes no tm a pretenso de esgotar a discusso sobre cada uma das reas, mas sim qualicaro debate para a armao de uma poltica de Educao Integral.

    Desejamos a todos uma boa leitura e que este material contribua para a reinveno da educaopblica brasileira!

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    2Apresentao do Caderno 07

    A

    presentamos a proposta de integrao entre Polticas Participativas de Esporte, Lazere Educao com o objetivo de fomentar aes educativas voltadas autonomia cidad,contribuindo com a superao de desigualdades sociais e incluso educacional, assim

    como a promoo de mudanas concretas na vida dos brasileiros. Acreditamos que esta uma oportunidade mpar para a socializao das diretrizes e dosfundamentos que norteiam os Programas Sociais deEsporte e Lazerdo Ministrio do Esporte emao integrada com oPrograma Mais Educao, marco importante para a atuao do esporte e dolazer na educao escolar e intersetorialidade dos campos envolvidos. Espao representativo deum novo tempo de desenvolvimento social e humano que assume o esporte e o lazer como meiose ns educativos.

    A proposta aqui apresentada enfatiza a importncia do estabelecimento de relaesinterpessoais e coletivas para a apropriao e o acesso a conhecimentos e experincias de esportee lazer, considerados como dois dos fatores prioritrios do desenvolvimento humano. Relaesque, para serem mantidas, devem priorizar os valores que aliceram a convivncia entre iguais ediferentes, bem como ampliar e diversicar as formaes e oportunidades de prticas de esportee lazer pelos sujeitos de todas as idades.

    Entendemos que cada sujeito vive etapas diferentes de aprendizagem, com facilidades,diculdades, competncias e habilidades diversas; com possibilidades de aprender que tambmse diferenciam uma das outras, traduzindo em experincias nicas as prticas culturais. Todospodem aprender coisas diferentes em tempos diferentes, o que garante a diversidade e a riquezacultural. E, nesse contexto, o esporte e o lazer tm papis especiais na formao ampliada, tendoem vista a educao integral, que implica escola, famlia e comunidade.

    Temos frente o desao da construo da sinergia capaz de reunir os esforos na mesmadireo da conquista da cidadania pelo esporte e o lazer!

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    Estamos falando do esporte e do lazer considerados como direitos sociais de todapopulao brasileira. Conquista alcanada a partir da Constituio Brasileira de 19881.

    Voc conhece esta Constituio? a nossa Carta Magna, que estabelece os princpios fundamentais que denem osdireitos e deveres de todos os cidados, atenta para o bem-estar de todos. Uma das partes daConstituio Brasileira de 1988 dedicada Educao, Cultura e ao Desporto. Nesta parte,dois artigos garantem o direito ao esporte e ao lazer: o artigo 217 e o 227.

    O artigo 227 coloca bem claro que: dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, prossionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia,discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. (Art. 227, Constituio Brasileira)

    J no artigo 217, Seo III, que trata do direito ao desporto, declarado o dever do Estadofomentar prticas desportivas formais e no formais, como direito de cada brasileiro, observandoa promoo prioritria do desporto educacional e do incentivo ao lazer, como forma de promoosocial.

    Mas a questo da garantia do direito no to simples como pode parecer. Isso porque elano se limita a palavras e ideias, nem est fora das pessoas e s nas leis. O direito tambm no garantido de forma automtica. Ele se torna concreto na vida de todos quando as pessoas passama cuidar das suas relaes com elas mesmas, com os outros e o lugar onde vivem e realizam suasatividades cotidianas2.

    Anal, se os direitos existem para garantir o bem-estar da populao, no podemos esquecerque todos tm o mesmo direito e, ao mesmo tempo, a mesma responsabilidade e compromisso,para que os direitos aconteam de fato.

    O governo tem que fazer sua parte, elaborando e executando polticas e programas, garantindoequipamentos e atividades educativas, para que as pessoas tenham acesso s oportunidadesdisponveis de vivncias do que de direito. As famlias, as escolas, os clubes, a sociedadeorganizada, enm, todas as instituies tm tambm que fazer sua parte, da mesma forma que importante a participao de todos nestas aes.

    muito importante que todos conheam seus direitos e deveres, para que tenhamos uma vida

    melhor em sociedade. O primeiro passo para que o direito ao esporte e ao lazer seja concreto aconscincia da sua importncia em nossas vidas.

    Falando sobre o lazer, Marcellino3 o destaca como cultura entendida no seu sentidomais amplo vivenciada (praticada, fruda ou conhecida) no tempo disponvel das obrigaesprossionais, escolares, familiares, sociais, combinando os aspectos tempo e atitude. Oimportante, como trao denidor, o carter desinteressado dessa vivncia. Nele no se buscaoutra recompensa alm da satisfao provocada pela situao vivida. A disponibilidade detempo signica possibilidade de opo pela atividade prtica e contemplativa. Tempo disponvelimplica liberao das obrigaes sociais.

    08 3 De que esporte e lazer falamos?

    1 BRASIL. Constituio Federal Brasileira. So Paulo: Tecnoprint , 1988.2 Consultar vdeo do Programa Segundo Tempo Recreio nas Frias verso 2010.3 MARCELLINO, Nelson C. Lazer e educao. 11. ed. Campinas: Papirus, 2004. p. 31.

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    Leila Pinto4complementa lembrando que o lazer tempo/espao/oportunidade privilegiadopara vivncias ldicas. O ldico, por sua vez, representa as experincias prazerosas, de livre escolhados sujeitos a partir das suas oportunidades de diversicadas prticas culturais, compartilhadascom o outro, exercitando a autonomia de todos. A ludicidade , pois, uma conquista do sujeito nocontexto de suas relaes socioculturais, vivncia com sentidos e signicados diversos, como de(re)criao, encontro e pertencimento.

    Anal, sendo um fenmeno social que convive com as alegrias e os conitos cotidianos, o lazernas sociedades como a nossa tem vrias compreenses, algumas so at contraditrias. De modogeral, o entendimento sobre lazer comea por compreend-lo como a oportunidade de vivnciasque no so obrigatrias.

    Isso porque so muitas as obrigaes que temos a cumprir todos os dias em casa, na escola,na igreja, no trabalho e em outros momentos. Por causa disso, muitas pessoas cam escravasdo relgio, vivendo sob a presso do estresse, com medo de perder tempo, oportunidades,dinheiro5.

    Em nosso meio, o lazer , muitas vezes, valorizado na sua perspectiva compensatria como umtempo de descanso tempo livre das obrigaes do trabalho , a ser vivido mais com o objetivode recuperar as energias para retorno ao trabalho; ou na sua perspectiva utilitarista como tempode consumo de muitos produtos e servios de entretenimentos.

    Neste contexto capitalista, muitos se sentem mal com o tempo desocupado, tempo assimconcebido por ser um momento sem atividade, no pela escolha da pessoa, mas pela sua condiode desempregada. Com isso, essas pessoas tm diculdades de atribuir ao seu tempo desocupadoo sentido de lazer, sobretudo, porque nele esto vivendo vrios problemas (econmicos,estresse e outros) que dicultam, ou mesmo impedem, o acesso s oportunidades de diverso eenriquecimento ldico da vida cultural que do sentido ao lazer.

    Assim, o signicado de lazer mais importante para ns seu entendimento como cultura

    vivida com alegria e liberdade no tempo disponvel fora das obrigaes sociais. Um tempo/espao/oportunidade privilegiado para vivncias ldicas, para brincar de diferentes modos, participarde diferentes formas (assistindo, praticando, conhecendo) e em vrios lugares. Como um dosfatores de qualidade de vida, o lazer compreendido como meio e m educativos para a formaode valores, e pode contribuir muito para o desenvolvimento social, cultural e humano.6

    Falando sobre o esporte, destacamos a diferena entre esporte de rendimento, esporteeducacional e o de participao/lazer. O esporte de rendimento tem como caracterstica bsica serpraticado, segundo normas e regras nacionais e internacionais, com nalidade de obter resultadosde alta performance e integrar pessoas e comunidade do pas e estas com outras naes. J oesporte educacional caracteriza-se por se desenvolver por meio dos sistemas de ensino e formas

    sistemticas e assistemticas de educao, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividadede seus praticantes, com a nalidade de alcanar o desenvolvimento integral e a formao paraa cidadania e para o lazer. Por sua vez, o esporte de participao/lazer caracteriza-se por sedesenvolver pela livre escolha do sujeito, compreendendo as modalidades esportivas praticadascom nalidade de integrao dos praticantes na plenitude da vida social, na promoo da sade eda educao e preservao do meio ambiente.7O esporte , pois, uma produo cultural e scio-histrica.

    09

    4 PINTO, Leila M. S. de M. Vivncia ldica no lazer: anlise de jogos, brinquedos e brincadeiras . In: MARCELLINO, N. C. (Org.) . Lazer e cultura. Campinas: Papirus, 2008.5 Leila Mirtes S. de M. Apresentao. In: OLIVEIRA, Amauri A. B. e PIMENTEL, Giuliano G. de A. (Orgs.) . Recreio nas frias: reconhecimento do direito ao lazer. Maring: EDUEM, 2009.6 PINTO, LEILA M. S. M. Sentidos e signicados de tempo de lazer na atualidade: estudo com jovens belo-horizontinos. 2004. Tese. (Doutorado em Educao) Faculdade de Educao

    da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.7 Esporte de rendimento, esporte educacional e esporte de participao so manifestaes normatizadas pela Lei Pel - BRASIL. Lei n. 9.615/98 Institui normas gerais sobre desporto

    e d outras providncias. Documento.

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    0 Como produo cultural, criao humana que pode ser redimensionada, recriada e reinventadapelos seus praticantes, segundo seus desejos e necessidades, a m de que usufruam de atividadesprazerosas, solidrias e de enriquecimento cultural, da mesma forma que possam adquirir sensocrtico e autonomia para suas escolhas8.

    Como produo scio-histrica, o esporte pode representar um rico espao de exerccio daparticipao, da solidariedade, da cooperao, da autonomia, dentre outros valores que so

    basilares de uma sociedade cidad.9

    Como fenmeno sociocultural, historicamente determinado, o esporte emaranha-se com a

    histria das demandas e realizaes de cada poca, revelando contradies vividas na prticasocial de cada sociedade. Ns vivemos em um contexto social contraditrio em relao ao queapresentamos e defendemos como prtica esportiva, ou seja, vivemos em um contexto onde ocapital coloca-se como elemento chave na busca contnua pelos resultados, at mesmo o ganhara qualquer custo. Nesse sentido, a competio esportiva valoriza, sobretudo, a sobrepujana,concorrncia, seleo, especializao e busca pela superao, independentemente das estratgiasusadas e suas consequncias. Por isso, dependendo de como o esporte concebido e valorizadoos princpios formativos a ele inerentes, pode ser interpretado e praticado de forma a reforar

    essas condies sociais contraditrias, que enfatizam o individualismo, a automizao e ainstrumentalizao do corpo e do jogo, dentre outros aspectos que no consideramos na propostaque defendemos de educao para e pelo esporte.

    Como podemos ajudar para garantir o direito ao esporte e ao lazer como um dos fatores dequalidade de vida?

    Um primeiro passo considerarmos a educao conscientizadora para e pelo esporte elazer como direito de todos, reconhecendo as diferenas entre as pessoas (na etnia, no credo, nanacionalidade, nas habilidades corporais, na idade, na condio nanceira, no gosto e interessecultural). Por isso, temos que combater os preconceitos, as discriminaes, as violncias (que

    no acontecem s nas agresses fsicas e verbais, mas tambm quando amedrontamos os outros,causamos vergonha e humilhaes).10

    Um segundo passo dado por quem acredita que seu agir pode ter um impacto na vida dasoutras pessoas, e, por isso, participa coletiva e solidariamente. Essas pessoas sabem que podemincorporar valores positivos no que fazem e, com isso, ajudar a melhorar a vida de todo o grupo.

    Um terceiro passo a valorizao e o reconhecimento da riqueza que o esporte e lazerpossibilitam em seu aprendizado e vivncia, ou seja, a ampliao e aprimoramento daspossibilidades motoras, de relaes sociais, de desaos, a explorao das relaes do cotidiano

    8 DARIDO, Suraya Cristina; OLIVEIRA, Amauri A. B. de. Procedimentos metodolgicos para o Programa Segundo Tempo. In: OLIVEIRA, Amauri A. B.; PERIM, G. L. (Org.). Fundamentospedaggicos do Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring: Eduem, 2009. pp. 207-23.

    9 Para aprofundamentos sugerimos a leitura e discusso: dos livros Brincar, jogar e viver: Programa esporte e lazer da cidade (2008) e Brincar, jogar e viver: a intersetorialidade doPELC (2009), ambos os livros organizados pelo Ministrio do Esporte/Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer, disponveis no site: www.esporte.gov.br/PELC/Redecedes/publicacoes .Tambm vale a pena a leitura das seguintes obras:HILDEBRANST-STRAMANN, R. Textos pedaggicos sobre o ensino da Educao Fsica. 3 ed. Iju: Ed. Uniju, 2005.

    MONTEIRO, M. e DIAS, C. (Orgs). Lazer e periferia; um olhar a partir das margens. So Gonalo/RJ: Instituto Usina Social, 2009. PALMA, A. T. V; OLIVEIRA , A.A. B. PALMA, J. A. V; COSTA, A. S. da; SANTOS, G. F. de L; RISSO, H. F. F; PAIVA, H. F. F. B; MOYA, L. F. da; GARCIA, O. de B; FOGAA, Jr; O. M. Educao f sica e a

    organizao curricular; educao infantil e ensino fundamental. Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, 2008, v. 1, p.141. RINALDI, I. P. B; LARA, L. M. OLIVEIRA , A.A. B. Contribuies ao processo de (re)signicao da educao fsica escolar: dimenses das brincadeiras populares, da dana, da expresso

    corporal e da ginstica. Revista Movimento (UFRGS. Impresso), v. 15, pp.217.242, 2009. SILVA, R. B. DA, OLIVEIRA, A. A. B., LARA, L. M., RINALDI, I. P. B. A educao fsica escolar em Maring: experincias de ensino-aprendizagem no cotidiano das aulas. Revista Brasileira

    de Cincias do Esporte, v.28, pp.69 - 84, 2007. STIGGER, M. P. e LOVISOLO, H. (Orgs) . Esporte de rendimento e esporte na escola. Campinas/SP: Autores Associados, 2009. (Coleo Educao Fsica e Esportes). TEIXEIRA, D. O desporte escolar. Construo ou negao de uma prxis pedaggica. Maring: Eduem, 201010 GAYA, A. , MARQUES, A. e TANI, G. (Orgs) . Desporto para crianas e jovens: razes e nalidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. HILDEBRANST-STRAMANN, R. Textos pedaggicos sobre o ensino da Educao Fsica. 3 ed. Iju: Ed. Uniju, 2005. MONTEIRO, M. e DIAS, C. (Orgs). Lazer e periferia: um olhar a partir das margens. So Gonalo/RJ: Instituto Usina Social, 2009. STIGGER, M. P. e LOVISOLO, H. (Orgs) . Esporte de rendimento e esporte na escola. Campinas/SP: Autores Associados, 2009. (Coleo Educao Fsica e Esportes).

    TEIXEIRA, D. O desporte escolar. Construo ou negao de uma prxis pedaggica. Maring: Eduem, 2010. TANI, G; BENTO, J. O; PETERSEN, R. D. S. Pedagogia do desporto. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006. Vieira, J. L. L. (Org.). Educao Fsica e esportes: estudos e proposies. Maring: Eduem, 2004.

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    11com diversos enfrentamentos relacionados aos espaos, materiais, tempos e regras implicadas,todos estes aspectos que podem contribuir com o processo informativo e formativo em relao

    vida.11Esses passos so fundamentais para a/o:

    1. Busca da reverso do quadro de injustia social, reconhecendo e tratando o esporte e o lazercomo direitos sociais de todos os cidados.

    2. Universalizao da informao e do conhecimento sobre o esporte e o lazer.3. Democratizao do acesso de todos s polticas pblicas de esporte e lazer, garantindo aparticipao dos cidados na gesto destas polticas.

    4. Compreenso da importncia do esporte e do lazer para o desenvolvimento social, cultural ehumano.

    5. Valorizao do esporte e do lazer como dimenses da vida de todo cidado, espao compossibilidades de transformao sociocultural e histrica e de incluso dos sujeitos de todasas idades, gneros, etnias, decincias e camadas sociais s oportunidades cotidianas de suas

    vivncias.6. Compromisso com a educao para e pelo esporte e lazer, tendo em vista a humanizao

    das relaes e autonomia dos sujeitos.7. Garantia de oportunidades de aprendizado e vivncia terico/prtica dos elementos

    constituintes do esporte e do lazer.

    Para este tpico, partimos dos desaos da formao ampliada questionando: que

    relao essa? O esporte e o lazer esto no processo educacional h muito tempo, sendodesenvolvidos e praticados dentro de vrias concepes que so representativas de

    seu momento histrico.

    Dentro da perspectiva histrica, temos a concepo de atividade preconizada pelo Decreto-Lei 69.450/7112, que concebeu a ideia central de que a Educao Fsica e seus constituintes soelementos parte do processo pedaggico e formativo da educao. Tal situao levou o esportee o lazer a serem trabalhados como aes com o m em si mesmas, atividades que se prendiam a

    vivncias momentneas e sem vinculaes com os preceitos pedaggicos maiores da educao,ou seja, um espao de ao motora isolada e descontextualizada de uma formao ampliada. Essa

    atuao e perspectiva levaram diversas geraes formadas a terem em seu imaginrio a ideia de que aEducao Fsica escolar e seus contedos so vazios e sem relaes pedaggicas com o todo da escola.

    Esta situao perdurou por muito tempo e comprometeu, de forma impactante, novos olharese perspectivas. Com os avanos e estudos de prossionais da rea, houve o repensar e o exercciode prticas diferenciadas para a rea de forma geral, resultando em produes que mobilizaramnovos conceitos e procedimentos para a Educao Fsica escolar e no escolar.

    11 HILDEBRANST-STRAMANN, R. Textos pedaggicos sobre o ensino da Educao Fsica. 3 ed. Iju: Ed. Uniju, 2005. NBREGA, Terezinha Petrcia. Corporeidade e Educao Fsica; do corpo objeto ao corpo sujeito. 3. ed. Natal/RN: Editora da UFRN, 2009. V; OLIVEIRA, A. A; HILDEBRANST-STRAMANN, R. A necessidade de mudana metodolgica no ensino da Educao Fsica. Revista Brasileira de Cincias do Esporte, v. 16, n. 1, pp. 6-13,

    out. 1994.

    OLIVEIRA , Amauri A. B.; PERIM, G. L. (Org.) . Fundamentos pedaggicos do Programa Segundo Tempo. Maring: Eduem, 2008. OLIVEIRA, Amauri A. B.; PERIM, G. L. (Org.). Fundamentos pedaggicos do Programa Segundo Tempo; da reexo prtica. Maring: Eduem, 2009.12 BRASIL. Decreto n.69.450 de 01 novembro de 1971. Dirio Ocial da Unio. Braslia: 1971. Documento.

    4Que relao esporte, lazer e escola

    pretendemos construir?

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    2 A partir da nova LDBEN 9.394/9613, a Educao Fsica passa a ser considerada um ComponenteCurricular, ou seja, reconhece-se o seu valor pedaggico e a mesma colocada em igualdade comas demais reas do conhecimento, devendo ser contemplada dentro das grades curriculares detoda Educao Bsica. Este contexto desaa o esporte e lazer na escola a serem articulados com oconjunto de atividades, tempos e espaos educativos das propostas educativas formais como dasno formais, abrindo espao para a formao ampliada.

    O desao posto pelo Programa Mais Educao aos Programas de Esporte e Lazer parceiros,especialmente o Programa Segundo Tempo e Programa Esporte e Lazer da Cidade, ambos doMinistrio do Esporte14, parte do reconhecimento de que, ao aderir no espao escolar s novasexperincias de formao ampliada, precisam se integrar ao projeto pedaggico da escola,bem como dinmica social da comunidade que a acolhe. Com isso, favorece a ampliao e oenriquecimento progressivos da jornada escolar e, consequentemente, do currculo da EducaoBsica, como prope o Programa Mais Educao ao explicitar que a educao integral:

    Deste modo, a proposta do Esporte e Lazer busca reetir um formato que avance da compreenso

    tradicional de escola como instncia hermtica16de educao em relao comunidade, abrindo-se, portanto, para a construo de projeto pedaggico e aes dialogadas entre todos os atoressociais que compem os cenrios pedaggicos que o grupo prope abarcar, pela negociao com

    vistas gesto compartilhada. A ideia de escola participativa, defendida por Lck17, nos ofereceelementos que justicam o envolvimento de toda a comunidade nas posturas educacionais daescola, sobretudo, ao apontar a garantia de um currculo escolar que faa mais sentido realidadedos alunos.

    Portanto, os fundamentos que constituem a proposio de interveno pedaggica do ProgramaMais Educao focalizam-se na armao da cultura dos direitos humanos, no entrelaamento

    13 BRASIL. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Braslia: Congresso Nacional, 1996. Documento.14 Destacam-se aqui os Programas Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC).

    O Segundo Tempo um programa do Ministrio do Esporte, destinado a democratizar o acesso prtica e cultura do esporte, como instrumento educacional, independente decondio fsica, classe, etnia, raa, religio, gnero e nvel socioeconmico, mediante a oferta de atividades esportivas e complementares, a serem realizadas no contraturno escolar.Tem como nalidade o desenvolvimento de valores sociais, a melhoria das capacidades fsicas e habilidades motoras, a melhoria da qualidade de vida (autoestima, convvio, integra-o social e sade), diminuio da exposio aos riscos sociais (drogas, prostituio, gravidez precoce, criminalidade, trabalho infantil.. .), e a conscientizao sobre a importncia daprtica esportiva. Seu objetivo democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade, como forma de incluso social, ocupando o tempo ocioso de crianas e adolescentesem situao de risco social.

    O PELC, criado, em 2003, pela Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer, do Ministrio do Esporte, tem como objetivos ampliar aes de democratizao doacesso a conhecimentos e prticas de esporte e lazer, integrando a participao de pessoas de todas as idades, etnias, com decincias e outras necessidades especiais. O Programaestimula a convivncia social, a formao de gestores e de lideranas comunitrias, bem como a produo e a socializao de conhecimentos, contribuindo para que o esporte e olazer sejam tratados como polticas pblicas de direito de todos. Fomenta aes integradas com as demais polticas pblicas setoriais (Educao, Justia, Cultura, Sade, Cincia eTecnologia e outros), com vistas promoo de incluso social e do desenvolvimento humano. Para tanto, o PELC desenvolve: implantao de Ncleos de Esporte Recreativo e deLazer, desenvolvimento de pesquisa pela Rede CEDES, formao de gestores e gesto compartilhada, bem como gesto do conhecimento produzido, por meio de publicao de livrose cartilhas, criao de um Repositrio Digital para socializar a produo da Rede CEDES, apoio/realizao de eventos cientcos e apoio a publicao de peridicos da Educao,Esporte e Lazer.

    15 BRASIL, Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao. Manual de educao integral para obteno de apoio nanceiro atravs do pro-grama dinheiro direto na escola PDDE, no exerccio 2009. [on line]. Disponvel em: http://www.fnde.gov.br/index.php/arq-dinheiro-direto-na-escola/435 manualeducacaointegral/

    download16 Referimo-nos aqui a um modelo de escola que no se abre para o dilogo com os saberes comunitrios e que se limita a assumir o tradicional papel de transmisso de contedos

    curriculares sem preocupar-se como as signicaes que destes operam junto aos saberes comunitrios.17 LCK, Heloisa e colaboradores. A escola participativa: o trabalho de gestor escolar. Petrpolis: Vozes, 2005.

    [.. .] constitui uma estratgia para garantir ateno e desenvolvimento integral s

    crianas, aos adolescentes e jovens, sujeitos de direitos que vivem uma con-temporaneidade marcada por imensas transformaes e exigncia crescente de

    acesso ao conhecimento, nas relaes sociais entre diferentes geraes e culturas,

    nas formas de comunicao, na maior exposio aos efeitos das mudanas em n-

    vel local, regional e internacional. Ela se dar por meio da ampliao de tempos,

    espaos e oportunidades educativas que qualiquem o processo educacional e

    melhoram o aprendizado dos alunos15

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    13entre os saberes comunitrios e escolares e na experimentao e consolidao de novos espaoseducativos. Tais fundamentos regem a organizao das diversas aes que o compem e podemser reconhecidas pelo entrelaamento entre os saberes comunitrios e escolares. A relaorespeitosa entre estes saberes, equacionada mediante objetivos educativos de cada instituio,serve de base para a ampliao do tempo e espao de aprendizagem, a partir da seleo e inclusode aes socioeducativas que o integram.18

    Almeja-se, com a ampliao dos espaos e tempos de aprendizagem, no a hiperescolarizao,com o aumento da jornada escolar, replicando o mesmo currculo escolar, mas busca-se aportesde outras reas sociais e organizaes da sociedade civil para promover uma educao cidad19apartir da articulao escola e sociedade.

    Parte-se do conceito de territrio apontado por Santos20para explicitar a partilha de saberesconstrudos pelas diversas comunidades. Estes, na compreenso do Programa Mais Educao,conguram-se como potencializadores para o aprendizado signicativo dos alunos da EducaoBsica, para alm dos contedos conceituais do currculo formal.

    A relao desses saberes, na compreenso da proposta, possui pontos comuns, mesmo queexpressem metodologias e formaes diferenciadas, sendo trabalho do professor relacion-lospara primar por uma educao signicativa para o educando21. O decreto que dispe sobre oPrograma Mais Educao expressa, j nos objetivos do programa, a funo, dentre outras, depromover o dilogo entre os contedos escolares e os saberes locais, bem como de favorecer aconvivncia entre professores, alunos e suas comunidades22.

    O ensejo de articulao entre os saberes escolares e comunitrios, bem como o envolvimentocom a proposta pedaggica da escola, tambm se encontra com o merecido relevo na presenteproposta23, buscando envolver diversos atores sociais com ns de avanar na ao educativa.So convocados gestores, professores, crianas e jovens com seus familiares para juntos com acomunidade organizarem estratgias de aprimoramento do processo educativo. O compromisso

    educacional proposto possibilita a percepo do impacto deste no rendimento escolar dos alunos,contribuindo com a Educao Integral, da mesma forma que contribui com a democratizao daprtica esportiva e de lazer.

    Convm ressaltar, ainda, a necessidade de que todas as pessoas envolvidas no Programa MaisEducao compreendam que a proposta educativa de que falamos neste Caderno acontecerem diferentes tempos e espaos educativos. Assim, integra o Esporte e o Lazer ao currculodas escolas numa perspectiva de formao ampliada, que inclui as prticas escolares vividas,ininterruptamente, no cotidiano das relaes entre alunos, professores e comunidades.

    Ao pensar a fuso do Esporte e Lazer no que se refere formao ampliada integrada proposta pelo Programa Mais Educao, temos pela frente outro grande desao: a denio das

    diretrizes orientadoras da ampliao e do aprofundamento dos contedos inerentes aos camposnas discusses conceituais, procedimentais e atitudinais24da ao educativa que propomos, temada prxima parte deste Caderno.

    18 STIGGER, M. P. e LOVISOLO, H. (Orgs). Esporte de rendimento e esporte na escola. Campinas/SP: Autores Associados, 2009 (Coleo Educao Fsica e Esportes) . TEIXEIRA , D. O desporte escolar. Construo ou negao de uma prxis pedaggica. Maring: Eduem, 2010.19 BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. SECRETARIA DE EDUCAO CONTINUADA. Educao integra l: texto referncia para o debate nacional. Braslia: MEC/SECAD, 2009.20 ANTOS, Milton. A natureza do espao. So Paulo: Edusp, 2004.21 BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. SECRETARIA DE EDUCAO CONTINUADA. Rede de saberes mais educao: pressupostos para projetos pedaggicos de educao integral.

    Caderno para professores e diretores de escolas. Braslia: MEC/ SECAD, 2009.

    22 BRASIL, Presidncia da Repblica. Dispe Sobre o Programa Mais Educao. Decreto n. 7.083, de 27 de janeiro de 2010.23 DARIDO, Suraya Cristina; OLIVEIRA , Amauri A. B. de. Procedimentos metodolgicos para o Programa Segundo Tempo. In: OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. Fundamentos pedaggicos

    do Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring, Eduem, 2009. p. 207-235.24 ZABALA, Antoni. A prtica educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed,1998.

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    5.1 Vivncia ldica do esporte e do lazer

    Segundo Leila Pinto25, as brincadeiras26 no so inatas, pois brincar pressupe umaaprendizagem social que acontece na descoberta diria, que se d em tempos e espaoscotidianos. Na convivncia ldica h liberdade para as pessoas se diferenciarem uma das outras,manifestarem e buscar realizar suas preferncias e interesses culturais pela prpria escolha, o quegera alegria pelo fazer e participar. A motivao e o desejo de brincar envolvem os participantes,porque querem e almejam conhecer, vivenciar e desfrutar a manifestao cultural escolhida daforma mais prazerosa possvel.

    A satisfao na prtica ldica do esporte e do lazer est, pois, diretamente relacionada ao queo participante consegue realizar nos desaos que enfrenta, com suas aes bsicas e exignciastcnicas implicadas. Por isso, uma falcia defender que o sujeito que no possui vivncias econhecimentos adequados de uma ao, seja ela motora, cognitiva ou cultural, consiga sentirprazer e estmulo em sua realizao.27

    Em geral, o desejo fazer de novo o que j foi experimentado, reinventando a ao e superandoos prprios limites.28 No tempo de lazer, estas experincias encontram maiores oportunidades deacontecerem, uma vez que o tempo de lazer , tambm, em sua essncia, tempo ldico.

    Assim, quando se fala de aprendizagem social para o brincar no lazer no se trata de apenasaprender a jogar e ocupar o tempo livre, conforme analisam Oliveira e Perim29. Para eles, oacesso ao esporte (e lazer) de qualidade, implica em condies adequadas para as prticasdesejadas e estmulo a uma interao afetiva que contribua para o desenvolvimento integral dos

    participantes.

    Interao que implica compreender que o ldico , como diz Huizinga30, uma atividade livre,conscientemente tomada como no sria e exterior vida habitual, mas ao mesmo tempo capazde absorver o jogador de maneira intensa e total, praticada dentro de limites espaciais e temporaisprprios, segundo certa ordem e certas regras.

    Em outras palavras, a principal nalidade do ldico sua prpria vivncia denida, organizadae controlada pelos seus praticantes, argumento que nos leva a destacar o exerccio da liberdadecomo uma caracterstica que assegura a identidade ldica.31

    Sendo tempo de escolha dos sujeitos, o jogo ldico comea e acaba quando os participantes

    desejam. Sua durao denida pela prpria ao. Para Huizinga32, ele acaba quando algum deles

    25 MARCELLINO, Nelson C. Lazer e educao. 11 ed. Campinas: Papirus , 2004.26 Neste Caderno, o ldico expresso de diferentes modos, considerando os discursos de quem o vive e os que so produzidos e reproduzidos a seu respeito. Em geral, quem curte

    a vivncia ldica a entende como diverso, recreao; momento de vivncia, com muita animao, das atividades que gostam; brincadeira, brincar, brinquedo, jogo ou festa, ou seja,segundo estudos de Paulo de Salles Oliveira os termos brinquedo, brincadeira e jogo so, em sntese, representativos do ldico. Porm, brinquedo refere-se ao objeto utilizado nobrincar, brincadeira ao vivida e jogo, especialmente, competio. Roger Caillois, por sua vez, destaca uma mudana de signicado importante que o conceito festa comporta,pois, para ele, a festa, alm das caractersticas fundamentais da vivncia ldica presente nos outros termos (jogo, brinquedo e brincadeira), destaca a categoria excesso, que revelatoda espcie de transbordamento. Ver discusso aprofundada em: PINTO, Leila M. S. de M. Vivncia ldica no lazer: anlise de jogos, brinquedos e brincadeiras. In: MARCELLINO, N.C. (Org.). Lazer e cultura. Campinas: Papirus, 2008.

    27 PALMA, M. S. VALENTINI, N. C. PETERSEN, R, UGRINOWITSCH, H. Estilos de ensino e a aprendizagem motora para a prtica. In: OLIVEIRA, Amauri A. B.; PERIM, G. L. (Org.). Fundamentospedaggicos do Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring: Eduem, 2009.

    PETERSEN, R, e OLIVEIRA, Amauri A. B. Desordens motoras no aprendizado do esporte . In: GAYA, A., MARQUES, A. e TANI, G. (Orgs). Desporto para crianas e jovens: razes e nalidades.Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

    28 BENJAMIN, Walter. Reexes; a criana, o brinquedo, a educao. So Paulo: Summus, 1984.29 OLIVEIRA, Amauri A. B.; PERIM, G. L. (Org.). Fundamentos pedaggicos do Programa Segundo Tempo. Maring: Eduem, 2008.30 HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elementos da cultura. So Paulo: Perspectiva, 1980. p.16.

    31 MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animao. Campinas: Papirus, 1990. SANTIN, Silvino. Educao Fsica: da alegria do ldico opresso do rendimento. Porto Alegre: Edies EST, 1994.32 HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elementos da cultura. So Paulo: Perspectiva, 1980.

    5Que diretrizes orientam a construo daao educativa integrada que propomos?

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    15 o desmancha-prazer termo usado pelo autor para caracterizar o comportamento de quemdesrespeita ou ignora as regras do jogo, escolhe no querer mais jogar, desfazendo a magiadaquele momento. Em qualquer um desses casos, o jogo vivido acaba e pode ser recomeadocomo outra ao reorganizada pelos participantes motivados em continuar jogando.

    A anlise deste exerccio de limites no jogo nos permite entender que a ordem do mesmo fruto de valores praticados pelos participantes. Valores que podem ser at contraditrios,

    uma vez que o sujeito que escolhe no jogar, como diz Huizinga33

    , tanto pode sair do jogo pormotivos de escolha de outra atividade que lhe cause maior interesse, como pode ser motivadopela discordncia das regras vividas, para ele muito violentas, ou por desejo de manipular abrincadeira e atrapalhar a convivncia do grupo, dentre outros motivos.

    Se buscamos garantir a formao humana necessria superao de violncias de toda espcie,temos, pois, que garantir sempre a relao dialogada e respeitosa entre educadores e educandos.Anal, a vivncia ldica um espao educativo privilegiado!

    importante esclarecer, aqui, que no estamos nos referindo liberdade como um bemabsoluto, doado ou herdado, do qual podemos abusar. Tambm no estamos a limitando pelacoao social sob a forma de tradio, costumes, leis ou regulamentos. Viver a liberdade tambmno fazer o que se quer, na hora e no lugar que deseja. Ao contrrio, como experincia cidad, aliberdade autonomia construda na interao com o outro.34

    Como nos ensina Alberto Melluci35, a liberdade vincula-se capacidade de as pessoas,coletivamente, deliberarem, julgarem, escolherem e agirem de modos diferentes nasoportunidades possveis. Isso implica tanto a identicao e compreenso de oportunidadesindividuais e coletivas para a realizao de sonhos quanto o enfrentamento dos limites vividosnessa concretizao.

    Assim, na proposta pedaggica que estamos construindo, temos que atentar para os sentidos emaneiras como lidamos com a ordem necessria conquista da liberdade em nossas atividades.

    Isso porque jogar e brincar pode ter diferentes sentidos.

    Com isso, a ordem no jogo ldico, tanto pode ser fruto de dilogos e negociaes sobre oslimites e possibilidades (compreenso cidad) como ser fruto de scalizaes e valorizao dasisudez (controle moralista, repressivo e disciplinador do corpo), ou de educao utilitarista paraocupao do tempo com atividades teis na perspectiva dos adultos, do mercado, do controle daescola. por isso que, muitas vezes o esporte e lazer so tratados como coisas de vagabundo,inteis, quebra a rotina diria, vlvula de escape de uma escola tensa ou, meio de tirar ameninada das ruas.36

    Buscando a compreenso cidad da ordem do jogo, temos que abrir espaos para a prtica

    diria de regras de convivncia, de organizao de contedos, escolhas, exerccio de papis eresponsabilidades construdas com base nos valores sustentadores da amizade, do respeitoe valorizao do outro, da solidariedade, das habilidades e limites de cada pessoa. Para isso, fundamental o dilogo sobre os problemas e as descobertas coletivas das alternativas para osmesmos. Da a importncia da ao educativa de esporte e lazer ser planejada, organizada e vividacom a participao de todos, com conscincia de seus objetivos, fundamentos e nalidades.37

    33 Ibidem.34 BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A cidadania ativa. So Paulo: tica, 1996.35 MELUCCI, A. A inveno do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Trad. Maria do Carmo Alves do Bomm. Petrpolis: Vozes, 2001.36 GOMES, Christianne e PINTO, Leila. O lazer no Brasil: anal isando prticas culturais , cotidianas, acadmicas e polticas. In: GOMES, Christianne, OSRIO, Esperanza, PINTO, Leila e

    ELIZALDE, Rodrigo (Orgs.). Lazer na Amrica Latina/Tiempo libre, cio y recreaacin em Latinoamrica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009.37 PINTO, LEILA M. S. M. Sentidos e signicados de tempo de lazer na atualidade; estudo com jovens belo-horizontinos. 2004. Tese. (Doutorado em Educao) Faculdade de Educao

    da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.

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    6 Alm disso, a atitude conformista nos momentos ldicos de esporte e lazer deve ser identicadae superada, buscando-se participaes crticas e criativas que qualicam as atividades de esportee lazer prticas, de assistncia e de aquisio ou troca de conhecimentos. A atitude conformistanestas atividades signica a expresso elementar de participao, ou seja, o sujeito brincanteaceita e repete o que est pronto, mesmo que no entenda o que acontece. importante amodicao desse nvel para o crtico e o criativo. A crtica mobilizada pelo dilogo sobredvidas, limites e outras possibilidades de esporte e lazer. A vivncia de alternativas sugeridaspelo grupo aponta para o rico exerccio da criatividade dos participantes nas atividades.38

    Por isso, importante que as crianas e os jovens tenham acesso a um repertrio variado,contendo jogos e brincadeiras que promovam o desenvolvimento das mais variadas habilidadesfundamentais, de diversicadas formas de convivncia em grupos e de usufruto de espaos, tempose materiais tambm diversicados, ampliando suas condies de conhecimento do prprio corpoe suas interaes com os outros corpos e o ambiente.

    As brincadeiras e os jogos so uma constante na vida das crianas, independentemente de seugnero, cor, nvel socioeconmico e/ou qualquer outro tipo de classicao ou referncia; so

    vitais para o crescimento e desenvolvimento infantil.39Alm disso, no podemos nos esquecer de

    que a cultura infantil essencialmente ldica, integrando experincias signicativas ao longo detoda vida.40

    Propostas para a vivncia ldica do esporte e do lazer:

    Mobilizar atividades de esporte e lazer com muita alegria, liberdade e participao. Motivar para a reinveno dessas atividades, apropriando-se de modos diferentes dos espaos,

    materiais e tempos que os participantes tm disponveis. Reconhecer que os sujeitos tm tempos de aprendizagem diferentes; individuais e coletivos (o

    que aprendido, como e quando).

    Ressignicar o que aprendido, se apropriando do conhecimento e disponibilizando para usoem situaes diversas, com criatividade. Promover vivncia e livre escolha de atividades de esporte e lazer dentro e fora da escola, com

    oportunidades de:- coparticipao dos sujeitos com diferentes habilidades, respeitando os limites de todos os

    participantes;- comunicao entre os participantes sem agresses, com tolerncia, boa vontade e gentileza;- dilogos sobre os problemas e as conquistas vividos em cada ao;- tomada de decises coletivas sobre o que fazer, mobilizando todos;- manuteno de cuidados com o prprio corpo e o ambiente, a sade e a qualidade de vida.

    5.2 Respeito e valorizao da diversidade cultural

    O esporte e lazer na vida moderna colocam-se como espaos privilegiados para a vivncia devalores que podem contribuir para mudanas de ordem moral e cultural. Devem ser encaradosenquanto um campo de interveno pedaggica, com caractersticas especcas, sendo possvelcom ele interferir e modicar a realidade social.

    Como desao, os educadores devero tornar as atividades acessveis a todos, de formaqualitativamente superior existente (muito focada nos modelos da escola formal e do esporte

    38 MARCELLINO, Nelson C. Lazer e educao. 11. ed. Campinas: Papirus, 2004.39 GRECO, P. J.; SILVA, S. A. A metodologia de ensino dos espor tes no marco do Programa Segundo Tempo. In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. Fundamentos pedaggicos para o Programa

    Segundo Tempo. Maring: Eduem, 2008. p. 81.40 BROUGRE, G. Brinquedo e cultura. So Paulo: Cortez, 1997.

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    17de rendimento) e conceber a interveno no mbito do lazer como algo que possa contribuir parasuperar a lgica social pautada pela negao da diferena e desigualdade de acesso.

    As aes devem partir sempre do pressuposto de que as atividades esportivas propostas novisam, exclusivamente, ao rendimento, mas sim, valorizao das diferentes formas de expresso,ou seja, no porque um aluno no possui uma habilidade renada no futebol que deve sertratado de forma inferiorizada nas aulas. Muitas vezes, esse aluno possui maior anidade com

    outros componentes da cultura corporal ou com outras habilidades. Assim, deve-se no apenasrespeitar, mas tambm mostrar aos alunos que importante valorizar as diferentes formas deexpresso41.Para tanto, a ao comunicativa coloca-se como vital para essa superao.42

    A ao concreta e organizada dos educadores deve estender a todos o acesso s prticasculturais, qualicando e diversicando a vivncia cultural, buscando a promoo da autonomiados participantes e colaborando para a superao das injustias sociais, pois a educao, comoum processo de aprendizado da cultura e de seus sistemas simblicos, multifacetada, ou seja,no se restringe a um momento particular e formal da vida humana, mas est diluda nos maisdiferentes espaos de relaes sociais.43

    A partir da compreenso do esporte e do lazer e do entendimento dos vrios tipos deconhecimentos implicados, dos contedos, atitudes e valores envolvidos e das possibilidadesde se constiturem como ferramenta de participao, possvel construirmos novos arranjos econguraes para os mesmos.

    A diversidade de que falamos muito rica. No Programa Mais Educao, o esporte e olazer, como prticas sociais e de aprendizagem da cultura representam formas de educaoque ocorrem em diferentes espaos e tempos dentro e fora da escola, envolvendo os saberescomunitrios (habitao, corpo/vesturio, alimentao, brincadeiras, curas e rezas, expressesartsticas, calendrio e narrativas locais, dentre outros) e os saberes escolares (a curiosidade,o questionamento, a observao, a descoberta, o jogar, o desao, a experimentao, o debate,

    dentre outros) alertando para a premissa de que a escola no se encerra em si mesma, torna-separte integrante da vida de seus alunos e da comunidade onde est inserida. 44

    No campo do lazer, Gisele Schwartz destaca as possibilidades culturais sugeridas porDumazedier45, ampliadas por Luiz Otvio Camargo46e a prpria Gisele47, enfatizando os interesses:

    Fsico-esportivos: prticas corporais e esportivas onde prevalece o movimento (esportes,caminhada, jogos, dana, ginstica, lutas, brincadeira, andar de bicicleta...). Para seremcaracterizadas como atividades de lazer, as atividades fsico-esportivas devem ter livre adesoe serem realizadas em espao/tempo disponveis fora das obrigaes.

    Artsticos: contedos estticos, imagens, emoes e sentimentos, campo do imaginrio (teatro,

    cinema, exposies, etc.). Intelectuais: busca de informaes, conhecimento do real, das memrias, das explicaes

    (leituras, cursos, entrevistas, debates, etc.). Manuais: capacidade de manipulao, transformao de objetos e materiais (tapearia,

    bordado, costura, jardinagem, marcenaria, etc.).

    41 DARIDO, Suraya Cristina; OLIVEIRA , Amauri A. B. de. Procedimentos metodolgicos para o Programa Segundo Tempo. In: OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. Fundamentos pedaggicosdo Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring, Eduem, 2009. p. 207-235.

    42 KUNZ, E. Transformao didtico-pedaggica do esporte . Iju - RS: Ed. Uniju, 1998.43 MELO, Jos Pereira; DIAS, Joo Carlos Neves de Souza e Nunes. Fundamentos do Programa Segundo Tempo: entrelaamentos do esporte, do desenvolvimento humano, da cultura e da

    educao. In: OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bssoli; PERIM, Gianna Lepre (Orgs.). Fundamentos pedaggicos do Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring, PR: Eduem,2009. p. 34.

    44 ARAJO, Ulisses F.; KLEIN, Ana Maria. Escola e comunidades, juntas, para a cidadania integral. Cadernos CENPEC: Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comu-

    nitria, n. 2, p. 119-125. So Paulo: CENPEC, 2006. (p. 125)45 DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia emprica do lazer. So Paulo: Perspectiva, 1979.46 CAMARGO, Luiz Octvio. O que lazer. So Paulo: Brasiliense, 1986.47 SCHWARTZ, Gisele. O ambiente virtual e o lazer. IN: MARCELLINO, N. C. Lazer e cultura . Campinas: Alnea, 2007.

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    8 Tursticos: conhecer lugares, paisagens, situaes, modos de vida (viagens, passeios). Sociais e virtuais: busca de relacionamento social, encontro pessoal ou virtual (bailes, bares,

    festas, almoos, clubes, etc.). Pelas atividades digitais (internet, rdio, vdeo, cinema, etc.).

    Quanto s possibilidades no campo do esporte, Tubino48 destaca os esportes:

    Tradicionais: de modalidades tradicionalmente consolidadas (atletismo, basquete, futebol,vlei, etc.).

    De aventura/na natureza/radicais: envolvem desaos, inclusive riscos (na gua, no ar, na terrae no gelo).

    Das artes marciais: derivados das artes asiticas (jiu-jitsu, jud, carat, etc.). De identidade cultural: de criao nacional e xados em outros territrios (capoeira, cricket, etc.) Intelectivos: praticados com movimento reduzido (xadrez, bilhar, etc.). Com motores: nos quais as pessoas conduzem veculos com motor (automobilismo,

    motonutica, etc.). Com msica: envolvem sintonia entre as pessoas e a msica de acompanhamento (ginstica

    rtmica, nado sincronizado, etc.). Com animais: incluem animais (rodeio, turfe, hipismo, etc.). Adaptados: modalidades adaptadas para pessoas com decincias. Militares: criados no meio militar e praticado no meio civil (esgrima, tiro, etc.). Derivados de outros esportes: modalidades que tiveram origem em outras (futsal, futevlei, etc.).

    Enm, o reconhecimento da diversidade em todas as aes que propomos realizar nas prticasde esporte e lazer precisa respeitar a sua realidade, o seu cotidiano, os aspectos positivos e asuperao das diculdades, com vistas a somar foras que permitam potencializar o trabalho dacomunidade escolar e no atrapalhar ou disputar espao com as atividades j desenvolvidas na

    escola, como as aulas de Educao Fsica propriamente ditas.49

    Nesse sentido, buscamos integraro Programa Mais Educao ao Plano Poltico Pedaggico da Escola e, portanto, superar a ideia deuma ao exclusiva de contraturno como nica prtica da Educao Integral.

    Propostas para o respeito e valorizao da diversidade cultural:

    Promover diferentes gneros de participao no esporte e lazer, ou seja, pela assistncia/fruio, pelo exercitamento ou prtica, pelo conhecimento sobre os contedos culturais.

    A vivncia destas atividades necessita de condies adequadas para o acesso e a apropriaodos contedos pela prtica, pela contemplao e/ou pela informao, ou seja, posso gostar dedanar ou de assistir a uma dana, ou preferir ler a respeito dela. So experincias de liberdade,

    prazer e desenvolvimento realizadas de forma livre, com atitude crtica e criativa. Fomentar e difundir prticas culturais locais, valorizando o outro: seus conhecimentos, suas

    prticas, experincias, criatividades. Ressignicar o uso de espaos esportivos e de lazer, respeitando a identidade esportiva e

    cultural local/regional. Adaptar as modalidades, construindo jogos a partir das concepes dos esportes regulamentados. Trabalhar com o entendimento do esporte enquanto fenmeno histrico e cultural, que precisa

    48 TUBINO, Manoel. Estudos brasileiros sobre o esporte: nfase no esporte educao. Maring: Eduem, 2010.49 importante frisar que a aproximao entre o Programa Mais Educaoe o Programa Segundo Tempo busca fortalecer a proposta de turno ampliado da criana na escola e dis-

    ponibilizar a ela uma formao enriquecida de vivncias e conhecimentos que possam favorecer a sua qualidade de vida por completo. Nesse sentido, espera-se estimular que aspolticas pblicas relacionadas escola em perodo integral possam, em curto espao de tempo, ser implantadas em nosso pas. Contudo, vital que haja o entendimento claro, porparte dos envolvidos nesses Programas que as aes e aulas do Programa Mais Educao/Programa Segundo Tempo no substituem as aulas curriculares da Educao Fsica da gradecurricular das escolas. As funes podem ser at similares, contudo, no podem se sobrepor ou serem excludentes.

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    19superar a oferta de modalidades esportivas tradicionais e utilizar a tcnica como algo a serdescoberto em funo das situaes de jogo.

    Popularizar conhecimentos: por exemplo, se para jogar basquete algum tivesse que esperarmais 09 pessoas e ter uma quadra de cimento com duas tabelas e cestas, seria difcil jogar. Alimitao para esta prtica desta maneira ca grande. importante conhecer o jogo ocialpara praticar em uma quadra ideal e tambm em outros espaos, adaptando as regras. Por queno oferecer na escola outros espaos para esta prtica com atividades alternativas ao jogoocial? Por que no criar alternativas para jogar com um, dois, trs ou mais parceiros? Estaapropriao do jogo importante e deve ser construda no ambiente escolar, considerado umlugar para a aprendizagem dos conhecimentos historicamente construdos pela humanidade.

    5.3 Promoo da intergeracionalidade

    Um grande diferencial desta proposta de Poltica Participativa de Esporte, Educao e Lazer a incluso de pessoas de todas as faixas etrias nas atividades.

    As mudanas na educao fazem repensar a tica e os valores, nas mudanas para novas

    condutas e novos conhecimentos que precisam ser implicados. Neste processo educativo,podemos trabalhar a diculdade das pessoas em articular seus tempos de sobreviver e de trabalhar,apontando como alternativa a incluso de tempos para o esporte e o lazer.50

    Entendemos que o desenvolvimento humano est associado ao desenvolvimento dapersonalidade, ou das capacidades fsicas, biolgicas e psicolgicas, mas tambm aodesenvolvimento da sociabilidade, da individualidade e da liberdade de expresso, ao exerccioda cidadania e capacidade de contestar a realidade, que so possibilidades de interveno dolazer para o desenvolvimento de pessoas de todas as idades.

    Discutindo essa questo, Amartya Sen51dene o desenvolvimento humano como um processo

    de escolhas das pessoas, que implica: respeito vida acima de tudo; direito de acesso a certascondies bsicas do bem-estar e da dignidade; direito de todos desenvolverem seu potencial;oportunidades educativas para isso ao longo da vida; dever de cada gerao legar s futuras ummeio ambiente igual, ou melhor, do que o recebido das geraes anteriores; corresponsabilidadedas pessoas, instituies, comunidades e sociedades nas decises que as afetam; promoo edefesa dos direitos humanos como caminhos para a construo de uma vida digna para todos;exerccio consciente da cidadania como melhor forma de fazer os direitos humanos transitaremda inteno realidade.

    Na educao pelo e para o lazer, devemos considerar as experincias vivenciadas e as etapas dedesenvolvimento dos participantes, entendendo que h interesses especcos, quando reunimos

    pessoas da mesma idade ou a convivncia entre geraes diferentes. O princpio aqui defendido o da incluso que transcende aos aspectos relacionados idade,incluindo outros como a decincia, pois no esporte e lazer, muitos, so frequentemente excludossocialmente. Com isso, esse tema perpassa a indicao de aes que visem conquistar e manterem atividade todas as pessoas envolvidas como nosso pblico-alvo. A ideia bsica centra-se nacondio de que teremos a chance de mais quatro ou seis horas semanais para trabalhar, estimulare integrar crianas, adolescentes, jovens, suas famlias e comunidades aos conhecimentos,

    vivncias, cultura e outras opes sociais. Nesse sentido, destaca-se que imprescindvel a

    50 ARROYO, Miguel. Ofcio de mestre. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.51 SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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    0condio de incluso e visualizao da importncia que a participao conjunta de todos exerceno sucesso futuro das pessoas envolvidas.52

    A incluso implica considerar, tambm, as questes de gnero, superando os distanciamentosobservados das meninas nas prticas oferecidas. Com isso, os educadores devem procurar mapearos problemas, idealizar aes que consigam estimular meninas e meninos, homens e mulheres soportunidades de esporte e lazer e tambm disponibilizar a todos chances de vivenciarem juntos

    e separadamente suas mais diversas manifestaes.53

    O esporte , de certa forma, excludente se no for bem administrado. Contudo, ele pode servircomo um elemento riqussimo de superao e estmulo s discusses sobre as diferenas sociaisde gnero que se tm em todo o mundo. No se trata de uma exclusividade da sociedade brasileira,mas podemos contribuir, para que as futuras geraes superem quadros de discriminao queainda hoje vivenciamos.54

    Por isso, muito importante que possamos compreender as especicidades e necessidades decada ciclo de vida e das aes intergeracionais.

    Considerando as vivncias principalmente na faixa etria das crianas, adolescentes e

    jovens, entendemos que o educador deve:

    Considerar aes integradas rede de atendimento a que esto vinculados (Assistncia Social,Sade...).

    Considerar a importncia de viver e repensar as experincias, pois a partir delas os sujeitospodem fazer as codicaes necessrias e recri-las para usos em diferentes momentos.

    Considerar a era da informtica e sua intimidade com a nova gerao, ampliando o leque deferramentas para serem utilizadas.

    Trabalhar na perspectiva da promoo da sade, evitando as consequncias da obesidade esedentarismo na vida moderna.

    Trabalhar valores pessoais, educando para administrao dos conitos. Oportunizar o conhecimento de outros locais da cidade. Proporcionar a socializao de conhecimentos educando para brincar/participar fazendo

    escolhas e sem violncias.

    Na faixa etria dos adultos, apresentamos a proposta de: Oportunizar opes para o lazer do adulto e sua famlia. Provocar o permanente interesse pela atividade fsica, com conhecimentos signicativos sobre

    sua importncia e seus benefcios para a sade e a qualidade de vida. Instigar o estabelecimento de relaes solidrias no bairro e proximidades, praticado a socializao. Auxiliar na organizao dos tempos das tarefas dirias, planejando um tempo para si mesmo. Incentivar experincias da prtica de outras manifestaes culturais.

    Com os idosos, a proposta de atividades inclui: Oportunizar o estabelecimento de vnculos, por meio de atividades em grupos (vencer solido

    e socializar aspectos afetivos). Auxiliar no desenvolvimento da autonomia e independncia fsica. Discutir estratgias para vencer obstculos afetivos e nanceiros (famlia e sociedade).

    52 BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A cidadania ativa. So Paulo: tica, 1996.53 GOELLNER, S. V. Corpo, gnero e sexualidade: educando para a diversidade. In: OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. (Orgs.) . Fundamentos pedaggicos do Programa Segundo Tempo: da

    reexo prtica. Maring: Eduem, 2009.

    MARQUES, A. C. CIDADE, R. E. e LOPES, K. A. T. Questes da decincia e as aes no Programa Segundo Tempo. In: OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. (Orgs.) . Fundamentos pedaggicosdo Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring: Eduem, 2009.

    54 Idem ao anterior.

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    21 Jogar com, e no, contra, preparando para atividades de lazer. Trabalhar o conito para desacomodar, buscando a cidadania. Favorecer o acompanhamento das transformaes sociais (com a modicao e/ou adaptao

    de hbitos e costumes).

    Para atividades intergeracionais, reunindo participantes de diferentes geraes ou faixas dedesenvolvimento, sugerimos:

    Desconstruir os preconceitos em relao s idades. Oportunizar prticas de atividades intergeracionais, propondo objetivos de interesses comuns

    entre os participantes, respeitando os limites individuais. Oferecer amplo repertrio das diferentes manifestaes culturais, com atividades que possam

    ser compartilhadas, independentemente da idade cronolgica ou gerao a que pertenam osparticipantes.

    Proporcionar trocas de experincias, considerando os dois sentidos, entre os mais velhos eos mais jovens, facilitando a transmisso de valores, sentimentos, percepes e produesculturais.

    Praticar a solidariedade, por meio das relaes entre geraes e das trocas sociais, trabalhandona construo de novos vnculos sociais ente diferentes geraes.

    Ofertar as mltiplas possibilidades do esporte e do lazer, sensibilizando as pessoas para aaquisio de novos gostos e mostrando novos olhares possveis participao intergeracional.

    Propostas para o desenvolvimento de atividades com todas as faixas etrias:

    Promover atividades que gerem oportunidade de estabelecer relaes com sua faixa etria ecom as outras, construindo convivncia entre pessoas de todas as idades.

    Mobilizar toda a escola, as famlias e comunidades do entorno, incentivando sujeitos para

    realizarem atividades de esporte e lazer nos diferentes espaos e equipamentos disponveis nolugar, em momentos tambm diferentes. Valorizar as necessidades e demandas das crianas, dos adolescentes e jovens, dos adultos e

    idosos, nas suas trajetrias reais, procurando conhecer melhor quem so, o que gostam e o queprecisam para ter acesso s atividades de esporte e de lazer.

    5.4 Promoo da interdisciplinaridade e intersetorialidade

    A proposta educativa que discutimos e o prprio conceito de educao integral, ao sesustentar na ideia de ampliao do tempo escolar dos alunos, sugerem-nos, tambm, a ampliaodos cenrios pedaggicos, os quais no caro circunscritos somente ao espao escolar. Neste

    sentido, sugere o reconhecimento de novas prticas educativas, ampliando as compreenses decontedos e metodologias no processo de ensino-aprendizagem55. Essa ao educativa requer:

    a articulao das disciplinas curriculares com diferentes campos de conhecimento e prticassocioculturais [...];

    a constituio de territrios educativos para o desenvolvimento de atividades de educaointegral, por meio da integrao dos espaos escolares com equipamentos pblicos comocentros comunitrios, bibliotecas pblicas [...];

    55 Idem ao anterior.

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    2 a integrao entre as polticas educacionais e sociais, em interlocuo com as comunidades

    escolares; a valorizao das experincias histricas das escolas de tempo integral [...]; o incentivo criao de espaos educadores sustentveis com a readequao dos prdios

    escolares, incluindo a acessibilidade, e gesto [...]; a armao da cultura dos direitos humanos, estruturada na diversidade, na promoo da

    equidade tnico-racial, religiosa, cultural, territorial, geracional, de gnero, de orientaosexual [...];

    a articulao entre sistemas de ensino, universidades e escolas para assegurar a produode conhecimento, a sustentao terico-metodolgica e a formao inicial e continuada dosprossionais no campo da educao integral56.

    Uma das contribuies do Ministrio do Esporte para a promoo do esporte e do lazer dacomunidade escolar integrar os contedos e aes da educao formal ou escolar com asexperincias propiciadas pelos Programas de Esporte e Lazer que envolvem as famlias e ascomunidades, incluindo todas as faixas etrias, em atividades sistemticas e eventos esportivos erecreativos.

    O desao desenvolver as atividades, a partir do reconhecimento de que o esporte e o lazerso direitos sociais que contribuem de fato para o desenvolvimento humano, como apontadona parte anterior deste texto. Desao que implica outros como o reconhecimento de que odesenvolvimento do esporte e do lazer precisa ser intersetorial, interdisciplinar e transversal aosprocessos educativos vividos dentro e fora das escolas. Isso requer que as aes aqui propostaspossam e devam ser trabalhadas articulando diversas reas e disciplinas.57

    O fortalecimento e entrelaamento dos saberes tratados na escola na perspectivainterdisciplinar outra possibilidade que destacamos para pensarmos nas contribuies da

    vivncia do esporte e do lazer no projeto poltico-pedaggico da escola. Nesse sentido, Arajo

    e colaboradores58, apoiados nas reexes de Paulo Freire, apontam o trato com os temasgeradores59 no processo de construo do conhecimento na escola, a partir de uma perspectivadialgica do conhecimento, que prime por abertura de novas parcerias e pelo rompimento darigidez disciplinar.

    A proposta interdisciplinar, na perspectiva indicada, aborda pontos relevantes da intercessoentre o Programa Mais Educao e os Programas Sociais do Ministrio do Esporte, tais comoa relevncia social dos temas debatidos e elencados em articulao com a comunidade e aparticipao coletiva de todos no tratamento destes temas60.

    A partir da estratgia metodolgica apontada, na perspectiva interdisciplinar, possvel

    visualizar formas de organizao do trabalho escolar, a partir de temas (geradores) como aviolncia ou a sade, que resgatam as manifestaes da cultura de movimento para o trato doconhecimento que no se esgota na execuo de tcnicas e tticas, ou mesmo na compreenso deconceitos que se isolem ao domnio da manifestao corporal, mas sim, que tratem o conhecimento

    56 BRASIL, Presidncia da Repblica. Dispe Sobre oPrograma Mais Educao. Decreto n. 7.083, de 27 de janeiro de 2010.57 PINTO, L. M. et al. (Org.) Brincar, jogar, viver: lazer e intersetor ialidade com o PELC. Braslia: Ministrio do esporte, 2008.58 ARAJO, Allyson Carvalho e colaboradores. O conhecimento da Educao Fsica no contexto escolar: exerccios de interdisciplinaridade. In: PERNAMBUCO, Marta Maria (Org.). Interdisciplinaridade no ensino de artes e Educao Fsica. Natal, RN: Paideia, 2005.59 Para saber mais sobre temas geradores: PERNAMBUCO, Marta M. C. A. Signicaes e realidade: conhecimento (a construo coletiva do programa). In: PONTUSCHKA, Ndia Nacib.

    Ousadia do dilogo: interdisciplinaridade na escola pblica. So Paulo: Edies Loyola, 1993.

    60 www.esporte.gov.br/pelc61 ARAJO, Allyson Carvalho e colaboradores. O conhecimento da Educao Fsica no contexto escolar: exerccios de interdisciplinaridade. In: PERNAMBUCO, Marta Maria (Org.). Interdisciplinaridade no ensino de artes e educao fsica. Natal, RN: Paideia, 2005.

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    23destas prticas a partir de uma perspectiva contextual e, portanto, entrelaado com saberes dabiologia, das cincias sociais, dentre outros.61

    A integrao que buscamos ter entre as reas da Educao, do Esporte, do Lazer, da Sade eda Segurana, por exemplo, implica conhecimentos e experincias diferentes, que em muito seaproximam, no trato das necessidades das pessoas e dos processos educativos desenvolvidos.62

    A relao entre os contedos e valores associados demanda a superao da fragmentaodo planejamento, execuo e avaliao das aes integradas, envolvendo atores diferentes e autilizao de equipamentos e recursos didticos diversos para a articulao das atividades.

    5.5 Relao metodolgica participativa

    O princpio bsico do qual partimos para o processo metodolgico e sua estruturao o daparticipao. Enfatizamos que, durante todo o processo conforme salientado no item 5.4, h quese buscar o envolvimento e a participao efetiva de todos em construes coletivas.

    Esta proposta baseia-se na fundamentao de que precisamos ter exacerbado nas aes osentimento de pertencimento.63Os envolvidos devem estar de corpo inteiro entrelaados comas aes. Para isso, faz-se necessrio que entendam suas responsabilidades e compromissos comtodo o processo. Nesse sentido, as manifestaes culturais relacionadas ao esporte e lazer vividascom conscincia de seus sentidos e signicados so potencialmente fortes para esse exerccio deformao e cidadania. Portanto, no podem prescindir de uma interveno que busque a contnuaparticipao e assuno da corresponsabilidade.

    Dessa forma, um aspecto bsico a ser seguido pelos responsveis na organizao e nodesenvolvimento das aes relacionadas ao esporte e ao lazer o planejamento da aoimprescindvel ao processo. Entendendo que esse planejamento deve ser gestado com oenvolvimento e a participao efetiva de todos, pois essa ao caracteriza-se como sendo

    pedaggica e norteadora do processo como um todo. Em se conquistando a participao,seguramente, se avana para compromissos mais efetivos sobre todas as demais aes.

    Contudo, como forma estimulante e providencial para esse primeiro passo, o responsvelpela organizao deve fazer uma leitura da realidade com a qual estar interagindo em suaestrutura e rede de oportunidades, ou seja, levantar os aspectos que possam identicar oscostumes, as manifestaes culturais, esportivas e de lazer, o envolvimento com a escola e suasatividades, a participao das famlias e comunidades nas aes da escola, o cuidado com o meioambiente da regio, dentre outros fatores que possam ser, oportunamente, tambm consideradosnas aes a serem contempladas no planejamento.

    Essa ao coloca-se como uma parte inicial do planejamento e pode tambm contar com a

    contribuio de todos, pois pode partir de uma enquete bsica junto a todos os alunos, professores,coordenao pedaggica da escola, alm dos familiares, gestores e outros agentes parceiros,sendo os dados relatados por eles. Da mesma forma, isso no isenta o responsvel de uma buscaampliada de informaes para que potencialize as futuras reunies com os grupos constitudos.

    Esse trabalho, com toda certeza, enriquece e fortalece as escolhas das aes, segundo passodesta proposta, que deve contar com o envolvimento direto dos grupos constitudos.

    o momento de se partir para as escolhas!

    62 www.mj.gov.br/pronasci/pelc63 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educat iva. 3 ed. So Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.

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    4 Aqui tambm se coloca a necessidade do entendimento de que se trata de um momentopedaggico. Podemos armar que ainda se pratica muito pouco o exerccio do planejamentoparticipativo no setor educacional. Portanto, h que se pensar em estratgias e formas deenvolvimento que possam sensibilizar e comprometer os envolvidos.

    A grande vantagem que se coloca para essa ao a de que os participantes integram-se ao por livre escolha e esto participando de forma espontnea. Isso se coloca como uma grande

    oportunidade pedaggica e ela no pode ser desperdiada. Os momentos devem ser enriquecidoscom os aspectos informativos e formativos de todos os envolvidos, o que leva a entender que oprocesso participante , por si s, um ato que contribui com essa intencionalidade educativa.

    Os momentos reexivos de elaborao e estruturao das aes devem ser pautados peloestmulo participao de todos, independentemente de qualquer condio. Levar os participantesa sentirem-se integrados e corresponsveis deve ser a tnica em todos os momentos.

    No desenvolvimento desse processo, o responsvel tem que ter em mente a sua funode educador, ou seja, h tambm que se considerar que toda essa ao visa, especialmente, educao para escolhas!

    Nossas crianas e adolescentes so frutos de aes e condutas sociais que lhes so impostasde forma direta pela escola, agncias sociais, igreja, comunidade constituda e de forma indiretapelos meios de comunicao e todas as suas formas de acesso ao pblico. Essa potencialidadede inuncia sobre as novas geraes inviabiliza, por vezes, que eles consigam enxergar outrasformas de ver, entender e participar no mundo, sendo conduzidos a reproduzirem valores,costumes e aes que nem ao menos entendem por que.

    Mais uma vez, esse exerccio de reexo sobre o que fazer, como fazer e por que fazer, junto aosparticipantes das aes, pode servir de estmulo a um repensar sobre suas prprias condies deser e estar no mundo. Essa mais uma aposta e defesa do processo participante defendido peloesporte e lazer junto ao Programa Mais Educao.

    Aps a denio coletiva do que se quer para o perodo de desenvolvimento das aes,considerando-se as recomendaes dos programas de esporte e lazer, deve-se denir o quolonge ou o que se espera das aes propostas. Para tanto, o grupo deve pensar em como elencaros objetivos.

    Piletti64 destaca que os objetivos devem referir-se ao comportamento que se espera. Issoimplica dizer que, ao se estruturarem os objetivos, deve-se pensar no que se espera conseguirfazer/realizar ao trmino das aes idealizadas e desenvolvidas65.

    Para tanto, o responsvel deve ter claro que educar pelo e para o esporte e lazer muitomais que dotar os educandos de habilidades e tcnicas especcas de modalidades esportivas

    e das formas de lazer. Trata-se de oportunizar o acesso a prticas que lhes permitam adquirirconhecimentos e saberes teis para sua formao humana, de maneira que reconheam o que,como e porque aprendem.

    O exerccio de dimensionar, na forma de objetivos, o que queremos e at onde podemos ir,pode ser extremamente rico para todos, pois nos ensina a ponderar, conhecer e reconhecer aspossibilidades pessoais e coletivas. Nesse sentido, coloca-se como imprescindvel que o responsvelmantenha continuada ateno junto com os participantes, das expectativas idealizadas nosobjetivos e de como as aes tm inuncia ao longo de todo o seu desenvolvimento. Os

    64 PILETTI, Claudino. Didtica geral . 21 ed. So Paulo: tica, 1997.65 OLIVEIRA, A. A. B. de, MOREIRA, E. C., JNIOR, H. A. e NUNES, M. P. Planejamento do Programa Segundo Tempo: a inteno compartilhar conhecimentos, saberes e mudar o jogo. In:

    OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bssoli; PERIM, Gianna Lepre (Orgs.). Fundamentos pedaggicos do Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring, PR: Eduem, 2009.

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    25objetivos servem como linhas demarcadoras dos avanos das aes planejadas, organizadas edesenvolvidas.

    Evidentemente que nesse processo de planejamento os aspectos relacionados aos espaos etempos disponveis, materiais e recursos humanos necessrios devem ser considerados, pois denada adianta imaginar atividades aquticas se no se dispe de uma piscina, rio ou mar para tal.Portanto, um levantamento que possa subsidiar as discusses coletivas fator imprescindvel

    para toda a estruturao a ser elaborada. Entretanto, chamamos a ateno dos responsveis para algo que, por vezes pode inuenciaro desenvolvimento das atividades. o cuidado que se deve ter em relao inuncia subjetivaexistente nos espaos e matrias, em que, por vezes, podem direcionar e determinar as aesmotoras e os comportamentos. Este fato to fortemente impregnado pelo processo histrico darea da Educao Fsica, Esportes e Lazer que nem sempre nos apercebemos dessa condio.

    A prtica do esporte e lazer faz uso de regras e cdigos de conduta a serem aprendidos,porm, passveis de serem alterados e adequados s condies, exigncias e motivaes dosdiversos grupos a serem constitudos. Para tanto, os participantes devem ter clareza de que umaestimulao com variao de materiais e espaos poder, de forma muito clara, estimular novas

    vises e o rompimento de ideias e conceitos preconcebidos, propiciando a todos autonomia naescolha, na interpretao e na criao de novos momentos e aes que sejam adequados aosespaos disponibilizados, sem amarras.

    Entretanto, no se ignora o que se possui em relao ao esporte e ao lazer e sua condiobsica, ao contrrio, parte-se dela, porm sem limitar-se a ela.

    As vivncias relacionadas ao esporte e lazer podem ser construdas e desenvolvidas emespaos variados e com materiais tambm diversicados, sem que se constituam limitaes parao seu desenvolvimento. Da mesma forma, os materiais devem ser explorados em suas mltiplaspossibilidades, sem que haja restries advindas de suas regras, pois nesses momentos de

    vivncias, reconhecimentos e criao h a possibilidade da transcendncia dos conceitos e, comisso, chances de novas interpretaes das manifestaes da cultura corporal.

    Ainda, como aspectos a serem observados pelo responsvel, esto as aes em relao aosprocedimentos sobre a tcnica esportiva e dos outros contedos de lazer.

    As crianas, em especial, envolvem-se com as aes do esporte, porque querem e almejamconhecer, vivenciar e desfrutar da forma mais adequada possvel, dessa manifestao cultural.

    Os responsveis pelas aes que se vinculam ao processo de iniciao e desenvolvimento doesporte no podem deixar de repassar e ensinar aos educandos, fazendo uso de procedimentose aes pedagogicamente adequadas, o esporte em suas mltiplas manifestaes, sob pena de

    desvirtuar os ideais bsicos, caso isso no seja atendido.

    Vale destacar que o Ministrio do Esporte, por meio de seus programas de esporte e lazer,disponibiliza comunidade material pedaggico que orienta de forma pedaggica como setrabalhar o processo de iniciao esportiva, com o uso de tcnicas e estruturas livres e ldicas.66

    Em relao s tcnicas, elas sero decorrentes das vivncias positivas, integradoras eestimulantes a serem estruturadas e desenvolvidas durante os encontros. Advoga-se a estimulaoplena e a ampliao das vivncias sob o entendimento de que quanto mais vivncias e experinciasforem proporcionadas aos educandos, tanto mais elas potencializaro suas habilidades s

    66 OLIVEIRA , A. A. B.; PERIM, G. L. (Org). Fundamentos pedaggicos para o Programa Segundo Tempo. Maring: EDUEM, 2008. OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. (Org.). Fundamentospedaggicos do Programa Segundo Tempo: da reexo prtica. Maring: Eduem, 2009.

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    6exigncias do cotidiano para uma vida ativa, assim como para as exigncias do prprio esporte.H que se entender que a satisfao na prtica esportiva est muito fortemente relacionada aoquo bem se consegue realizar suas aes bsicas e exigncias tcnicas. um equvoco negar talconsiderao, pois a falta de vivncias e conhecimentos adequados de uma ao, seja ela cognitivae/ou motora, pode comprometer sensivelmente a sua realizao e a sensao de prazer que elapossa proporcionar, se tais condies no forem atendidas.

    Por m, chegamos a um aspecto dos procedimentos metodolgicos que se coloca comodenidor do sucesso e das reformulaes necessrias para novas aes. Trata-se da avaliao. Oesporte e lazer, conforme comentado at o momento, assim como outros contedos constituintesdo processo formativo, tambm deve passar pelo crivo da avaliao, com a ressalva de que oprocesso avaliativo, aqui proposto, tem muito mais a ver com a reexo sobre caminho percorridodo que a funo de aprovar ou reprovar os participantes.

    Nesse sentido, chamamos a ateno para o que salienta Moretto67, indicando que a avaliao um momento privilegiado de estudo e aprendizado e no um acerto de contas. Assim, paraque ela se efetive na forma de um aprendizado de todos, deve-se colocar em discusso as aesdesenvolvidas e a qualidade das mesmas, da mesma forma que os seus resultados. Obviamente,

    os resultados so decorrentes de todos os procedimentos e envolvimento tidos durante a vivnciae estudo dos conhecimentos trabalhados.

    O ponto de partida para o processo de avaliao centra-se nos limites e proposiesestabelecidos nos objetivos. Ser com base na anlise de sua concretizao que o processoavaliativo deve se focar. Para tanto, os envolvidos podem se valer de vrias tcnicas avaliativas,pois elas permitem olhares distintos sobre aspectos comuns e distintos, possibilitando uma

    variabilidade importante de dados que podem subsidiar reformulaes e avanos.

    Para as aes idealizadas em relao ao esporte e lazer no Programa Mais Educao, sugere-seque se abra um leque de possibilidade de coleta de informaes, tais como:

    - Observaes diretasno cotidiano das aulas, nas quais se deve considerar o envolvimento,participao, avanos em relao aos aspectos motores, fsicos e outros. Essa tcnica de avaliaocoloca-se de forma interessante e pode trazer indicadores importantes ao processo de anlisedas aes desenvolvidas, para tanto o responsvel deve construir uma planilha de aspectos aserem observados e controlar o nvel de entrada e o desenvolvimento conseguido durante todo oprocesso. Essa uma forma que exigir do responsvel ateno e rotina diria de registro.

    - Avaliao em grupo ou rodas de conversa, baseada nos princpios: 1) O grupo um espao de identifcao onde os participantes compartilham experincias, trocas deconhecimento e percebem que a situao vivida por cada um deles pode ser dividida comos demais; existem pessoas semelhantes vivendo situaes parecidas com quem se pode

    compartilhar afetos, conquistas e problemas. 2) O grupo um espao de diferenciao. Aomesmo tempo em que ser igual aos demais, ter experincias e sentimentos semelhantes algopositivo, necessrio tambm sentir-se singular. No grupo, as pessoas no so e no devem sertodas iguais. Um grupo totalmente homogneo no produtivo, e, muitas vezes, signica que asdiferenas esto sendo abafadas. Ningum deve ser excludo ou rejeitado por ter uma opinio oucomportamento diferente. Estes devem ser colocados em debate com todos. 3) O grupo umespao para construo do protagonismo: sujeito ativo, participativo, que busca alternativasobjetivas para a transformao social. No entanto, no possvel ser um protagonista sem estarreferendado em um determinado coletivo. Isto , ser protagonista no ser um super-homemou mulher-maravilha que, individualmente, busca as solues para os problemas. participar

    67 MORETTO, V. P. Prova: um privilgio de estudo, no um acerto de contas. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 2002.

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    27das aes de transformao da sua comunidade, escola, ou grupo sempre em busca de direitoscoletivos e no satisfao de interesses individuais. A avaliao em grupo promove o exerccioda liderana, planejamento do futuro e a construo coletiva de aes.68

    - Testes antropomtricos, de aptido fsica, motora e nutricional. Estes podem seraplicados no incio do programa, a m de subsidiar sobre como os educandos esto chegando emrelao aos aspectos vinculados aos testes e, posteriormente, a cada trimestre, replica-se para

    ver se h evoluo no quadro inicial. Dessa forma, o responsvel pelo programa deve esclarecersobre cada um dos aspectos avaliados e qual a importncia deles para o desenvolvimento doseducandos. Salienta-se que inform-los sobre suas condies extremamente importante, poispode contribuir com seus comportamentos na vida diria. Ainda como forma de aproximao doeducando e famlia, sugere-se que os dados levantados cheguem at os familiares, pois muitasaes podem ser desencadeadas vinculando as famlias. Ressalta-se que o fato de se levantaros indicadores relacionados no deve caracterizar essa proposta como desenvolvimentista e/outcnica, contudo, inegvel que os conhecimentos advindos dessas propostas contribuem para aampliao e enriquecimento das aes do esporte e lazer de forma geral.

    - Autoavaliao.Est uma das formas mais recomendadas para as aes do Programa, pois

    contribui, substancialmente, para a tomada de conscincia sobre tudo o que se vivencia no seudesenvolvimento. Os educandos devem aprender a se observar e valorar o aprendizado realizado.A autoavaliao uma oportunidade tima para os momentos de reexo e aproximao entreos envolvidos, os objetivos traados e os resultados atingidos. Como estratgia deve-se ter disposio planilhas que apontem os aspectos importantes que foram trabalhados e que merecemser observados. Essa ao pode ser construda, desde o incio das aes de planejamento, pois naestruturao dos objetivos so elencados os aspectos essenciais a serem buscados com a proposta.69

    Outras tantas formas de avaliao podem ser empregadas, contudo, elas so dependentes dasproposies de atividades que sero desenvolvidas. O que se deve ter claro a importncia daavaliao para o redirecionamento das aes, pois somente com ela que se poder prospectar

    avanos para aes que deem continuidade ao processo formativo proposto.

    Propostas para a relao metodolgica

    Observar as indicaes propostas nas aes coletivas no item 5.5, tendo-as como basilarespara o envolvimento de todos.

    Criar documentos prprios para o levantamento de dados da comunidade que possibilitema elaborao de seu perl sociocultural e esportivo, assim como estrutural em relao aosambientes e suas constituintes.

    De posse do perl, elencar quais so as oportunidades disponibilizadas.

    Buscar formas de envolver os educandos, desde o primeiro momento na tarefa de pensar oscaminhos a serem seguidos, municiando-os sobre os levantamentos realizados. Ofertar aos educandos possibilidades de novas experincias, para alm do tradicionalmente

    disponibilizado, potencializando as oportunidades idealizadas. Criar rotinas de aes que sejam estratgicas na conquista e envolvimento dos educandos em

    relao ao comprometimento, estimulando-os assuno da corresponsabilidade, tais comoresponsabilidade pela organizao dos espaos, dos materiais, indicao e desenvolvimentode atividades, organizao de eventos, apoio no processo avaliativo, dentre outros.

    68 RENA, Ana Cludia, BATISTA, Cssia B., MAYORGA, Cludia, SOUSA, Letcia e ABREU, Lindalva. Interveno psicossocial na formao de crianas e jovens. Cartilha 3 da Coleo: PINTO,

    Leila M. S. de M. e FUENTE, Adelina M. de la (Org.) Coleo Educativa do Espao Criana Esperana de Belo Horizonte. Rede Globo, UNESCO, PUC Minas, Prefeitura de Belo Horizonte.Belo Horizonte: Lastro Editora, 2006.

    69 Fonte de consulta para criao de instrumentos e modelos de avaliao: OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bssoli de e colaboradores. Planejamento do Programa Segundo Tempo: ainten