Erros meus, má fortuna, amor ardente

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Corrente renascentista Erros meus, má fortuna, amor ard Camões

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Lírica Camoniana

Transcript of Erros meus, má fortuna, amor ardente

  • 1. Cames Erros meus, m fortuna, amor ardente Corrente renascentista
  • 2. Erros meus, m fortuna, amor ardenteem minha perdio se conjuraram;os erros e a fortuna sobejaram,que para mim bastava o amor somente.Tudo passei; mas tenho to presentea grande dor das cousas que passaram,que as magoadas iras me ensinarama no querer j nunca ser contente.Errei todo o discurso de meus anos;dei causa [a] que a Fortuna castigasseas minhas mal fundadas esperanas.De amor no vi seno breves enganos.Oh! quem tanto pudesse que fartasseeste meu duro gnio de vinganas!
  • 3. DESVENTURAVrias foram as causas que contriburam paraa vida desventurada do poeta: o amor, oserros praticados ao longo da vida, a falta desorte de que frequentemente se lamenta, oexlio a que por vrias vezes se viu votado, ocontraste, feito de sonhos desfeitos, entre adesejada Sio e a real e corrupta Babilnia...Reais ou fictcios, muitos so os episdiosconhecidos que ditaram a criao umaimagem de Cames como poetadesafortunado, perseguido, incompreendido,chorando o desterro e os desgostosamorosos, reduzido, quantas vezes, a umavida de mendicidade, e morrendo na misria.
  • 4. Tema O tema do soneto o sofrimento do sujeitopotico. O AUTOBIOGRAFISMO
  • 5. Tema: BALANO AUTOBIOGRFICOO poeta faz uma retrospectiva sua vida e verifica que as causas da sua desgraaforam os erros que cometeu, a sua pouca sorte e o amor; mas bastava esta ltimacausa para a sua perdio.. No poema Erros meus, m fortuna, amor ardente, o sujeito potico lamenta-se da sua vida desgraada, que s o faz sofrer. Ele sente-se revoltado pelo facto de ter uma vida to infeliz mostrando, no fim, um desejo intenso de vingana.
  • 6. Assunto do poema O sujeito potico diz que os seus maiores inimigosna vida foram os erros, a m sorte e o amor e refereque estes trs elementos foram os culpados da suavida de sofrimento.
  • 7. Estrutura interna Na primeira parte do poema, o eu potico confessa que viveu uma vida de sofrimento, 1 parte provocado pelos erros, pela m sorte e pelo amor. (12 primeiros Diz ainda que o amor apenas lhe deu breves versos) enganos e que, por isso, o sofrimento provocado pelos erros e pela m sorte sobejaram. Na segunda parte do poema, ele recorre a uma interjeio (oh!) para mostrar a dor que lhe vai 2 parte no corao e espera que o Gnio que o(dois ltimos versos) persegue se farte de o perseguir para ele poder viver em paz.
  • 8. O amor como causa do seu infortnio Erros meus, m fortuna, amor ardente em minha perdio se conjuraram; os erros e a fortuna sobejaram, que para mim bastava o amor somente. 1 momento: atribui o sofrimento a Tudo passei; mas tenho to presente certas foras Fortuna e Amor - que a grande dor das cousas que passaram, se aliaram contra o poeta. que as magoadas iras me ensinaram a no querer j nunca ser contente. Errei todo o discurso de meus anos; dei causa [a] que a Fortuna castigasse as minhas mal fundadas esperanas. 2 momento: exclamao final De amor no vi seno breves enganos. reveladora do seu desespero. Oh! quem tanto pudesse que fartasse este meu duro gnio de vinganas!
  • 9. O soneto aborda a vida passada do poeta e a tristeza que ele sente ao record-la.Erros meus, m fortuna, amor ardente O sujeito potico exprime a sua tristeza emEm minha perdio se conjuraram; relao vida que foi passando e os errosOs erros e a fortuna sobejaram, que foi cometendo.Que para mim bastava o amor, somente. Para o fazer, evoca trs razes queTudo passei; mas tenho to presente justificam um passado infeliz que, de formaA grande dor das cousas que passaram, intencional, se reuniram numa metafricaQue as magoadas iras me ensinaram conjura para tramar contra o poeta.A no querer j nunca ser contente.Errei todo o discurso de meus anos; Partindo desta ideia, o poeta desenvolve oDei causa a que a Fortuna castigasse seu lamento ao longo das estrofesAs minhas mal fundadas esperanas. seguintes.De amor no vi seno breves enganos Assim, o sujeito potico aprendeu a no terOh! Quem tanto pudesse que fartasse esperana na alegria que a vida lhe podiaEste meu duro Gnio de vinganas! proporcionar.
  • 10. Erros meus, m fortuna, amor ardenteEm minha perdio se conjuraram;Os erros e a fortuna sobejaram,Que para mim bastava o amor, somente.Tudo passei; mas tenho to presenteA grande dor das cousas que passaram, Concluindo que todo o seu percurso deQue as magoadas iras me ensinaram vida foi errado, pois foi sempre iludido peloA no querer j nunca ser contente. amor e tendo em conta que o amor seria o suficiente para o levar perdio, aErrei todo o discurso de meus anos; Fortuna, ou seja o destino, castigou as suasDei causa a que a Fortuna castigasse sempre mal fundadas esperanas (v. 11),As minhas mal fundadas esperanas. pois estas foram sempre criadas por um amor ilusrio.De amor no vi seno breves enganosOh! Quem tanto pudesse que fartasse O soneto encerra com um pedido, queEste meu duro Gnio de vinganas! traduz todo o sofrimento do sujeito potico, sendo toda a dor transmitida na utilizao da interjeio e da frase exclamativa, e no qual solicitado, no fundo um descanso que o poeta entende merecido.
  • 11. Erros meus...A importncia atribuda ao papel desempenhado pelo Amor na perdio do Poeta. (vv. 3-4).
  • 12. Erros meus, m fortuna, amor ardente O sujeito potico transmite a ideia deEm minha perdio se conjuraram; que viveu muitos momentos difceis eOs erros e a fortuna sobejaram, de grande sofrimento que ainda estoQue para mim bastava o amor, somente. bem presentes no seu esprito.Tudo passei; mas tenho to presenteA grande dor das cousas que passaram, Nos ltimos dois versos desta estrofe Que as magoadas iras me ensinaram visvel como o passado de sofrimento,A no querer j nunca ser contente. to presente na sua memria, interfere no futuro.Errei todo o discurso de meus anos; O melhor, segundo o sujeito potico, Dei causa a que a Fortuna castigasse no desejar nada nem ter iluses ouAs minhas mal fundadas esperanas. esperanas. esta a melhor forma para no haver desiluses.De amor no vi seno breves enganosOh! Quem tanto pudesse que fartasseEste meu duro Gnio de vinganas!
  • 13. Erros meus, m fortuna, amor ardente No primeiro terceto, o sujeito poticoEm minha perdio se conjuraram; tem conscincia que o grande erroOs erros e a fortuna sobejaram, que cometeu foi o de ter esperanasQue para mim bastava o amor, somente. vs e de ter acreditado que podia ser feliz. Como se deixou iludir, a FortunaTudo passei; mas tenho to presente (m sorte) castigou-o e encaminhou-oA grande dor das cousas que passaram, para a sua perdio. As suasQue as magoadas iras me ensinaramA no querer j nunca ser contente. esperanas infundadas eram em relao ao amor. Este tambm oErrei todo o discurso de meus anos; enganou.Dei causa a que a Fortuna castigasseAs minhas mal fundadas esperanas. Nos ltimos dois versos do segundo terceto, notria a revolta do sujeitoDe amor no vi seno breves enganos potico. Ele sente-se uma vtima eOh! Quem tanto pudesse que fartasse quer vingar-se de tudo aquilo queEste meu duro Gnio de vinganas! contribuiu para a sua perdio.
  • 14. Cames nunca deixou de se analisar a si prprio. Ele reflectiu sistematicamente sobre asua vida. Dessa reflexo surgiram manifestaes de impotncia, de perplexidade, derevolta, de frustrao e de sofrimento. Como resultado das suas constantes interrogaes,Cames chegou a vrias concluses: O amor o responsvel por tudo o que de mal est na sua vida pois priva o homem da sua liberdade; o amor d esperanas que nunca se realizam. A m sorte persegue-o incessantemente e castiga-o. O destino persegue-o, retira-lhe a liberdade, castiga-o e no o deixa ser feliz. Ele sente-se impotente para lutar contra o destino. No entanto, e atravs dos seus poemas, Cames revela um certo orgulho em tudo isto pois, apesar de ser infeliz e desgraado, ele sente que vive um destino grandioso. S algum to especial como ele, poderia atrair um destino to injusto e mau.
  • 15. Processos figurativosNeste soneto, estes processos querem mostrar como o sujeito potico se sente infeliz,perseguido e revoltado. Encontras, ento: Adjectivao valorativaErros meus, m fortuna, amor ardenteEm minha perdio se conjuraram;Os erros e a fortuna sobejaram, Conotaes negativasQue pera mim bastava amor somente. HiprboleTudo passei; mas tenho to presenteA grande dor das cousas que passaram, Exclamao FinalQue as magoadas iras me ensinaramA no querer j nunca ser contente. Anstrofe (v.8)Errei todo o discurso de meus anos;Dei causa [a] que a Fortuna castigasse Personificao (v. 7, 10)As minhas mal fundadas esperanas.De amor no vi seno breves enganos. Enumerao Erros meus, m fortuna, amorOh! quem tanto pudesse, que fartasse ardente (verso 1)Este meu duro Gnio de vinganas! Interjeio Oh (verso 13)
  • 16. Erros meus, m fortuna, amor ardenteem minha perdio se conjuraram; Qos erros e a fortuna sobejaram, Uque para mim bastava o amor somente. A D Este poemaTudo passei; mas tenho to presente R um sonetoa grande dor das cousas que passaram, A porque que as magoadas iras me ensinarama no querer j nunca ser contente. S constitudo por duasErrei todo o discurso de meus anos; T quadrasdei causa [a] que a Fortuna castigasse E e doisas minhas mal fundadas esperanas. R C tercetos.De amor no vi seno breves enganos. EOh! quem tanto pudesse que fartasse Teste meu duro gnio de vinganas! O S
  • 17. Erros meus, m fortuna, amor ardente AEm minha perdio se conjuraram; BOs erros e a fortuna sobejaram, B A A rima interpoladaQue pera mim bastava amor somente. e emparelhadaTudo passei; mas tenho to presente A nas quadras comoA grande dor das cousas que passaram, B se pode verificarQue as magoadas iras me ensinaram B no esquema rimticoA no querer j nunca ser contente. A ABBA. Nos tercetos aErrei todo o discurso de meus anos; C rima interpoladaDei causa [a] que a Fortuna castigasse D como podesAs minhas mal fundadas esperanas. E ver no esquemaDe amor no vi seno breves enganos. C rimtico CDECDEOh! quem tanto pudesse, que fartasse DEste meu duro Gnio de vinganas! E Esquema rimtico e tipo de rima
  • 18. Erros meus, m fortuna, amor ardente Este texto constitudo por duas quadrasem minha perdio se conjuraram; e dois tercetos, em metro decassilbico,os erros e a fortuna sobejaram,que para mim bastava o amor somente. com esquema rimtico: ABBA / ABBA / CDE / CDE,Tudo passei; mas tenho to presente verificando a existncia de rimaa grande dor das cousas que passaram, interpolada em A, emparelhada em B eque as magoadas iras me ensinaram interpolada nos tercetos.a no querer j nunca ser contente.Errei todo o discurso de meus anos;dei causa [a] que a Fortuna castigasseas minhas mal fundadas esperanas.De amor no vi seno breves enganos.Oh! quem tanto pudesse que fartasseeste meu duro gnio de vinganas! E/rros /meus,/ m /for / tu / na, a / mor / ar/ den (te) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
  • 19. Observa-se claramente neste soneto a vida do poeta, onde autor e eu-lrico se fundem, sendo enfatizados seus erros, causa de castigo dadeusa Fortuna: Errei todo o discurso de meus anos; dei causa a que aFortuna castigasse. O sentimento de arrependimento se faz presentenuma confisso e tambm, a compreenso de que somente o amor, nasua essncia, era o suficiente.Encontramos a fora do lirismo ltimo, quando o autor apresenta umquestionamento sobre suas ambies, que de uma forma geral, so asambies humanas. Esta acaba por englobar a fora intelectual comsuas questes existenciais (que exigem conhecimento) e a foradramtica com seus contrates (no caso, o certo e o errado).Olhando por uma outra tica, podemos tambm incluir este poema natenso os desconcertos do mundo, que ser vista com mais detalheposteriormente, e que nos apresenta o desengano com a existncia. Oautor demonstra uma desesperana diante da vida quando diz a noquerer j nunca ser contente, com um toque de dramaticidadecausada, como vimos, pelo conflito entre o que certo e errado.
  • 20. Disciplina: PortugusProf.: Helena Maria Coutinho