Ergonomia e Seguranca No Trabalho

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UFMT - FENF EXPLORAÇÃO E TRANSPORTE FLORESTAL ERGONOMIA E SEGURANÇA NO TRABALHO NA EXPLORAÇÃO FLORESTAL PROF.: Ângelo Márcio Pinto Leite Cuiabá - MT 2003

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Engenharia Florestal

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UFMT - FENF

EXPLORAÇÃO E TRANSPORTE

FLORESTAL

ERGONOMIA E

SEGURANÇA NO TRABALHO NA

EXPLORAÇÃO FLORESTAL

PROF.: Ângelo Márcio Pinto Leite

Cuiabá - MT

2003

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ERGONOMIA APLICADA Á COLHEITA FLORESTAL

INTRODUÇÃO

A existência do perigo para o ser humano sempre foi um problema ligado às suas diferentes atividades. Porém, a preocupação com os riscos existentes no trabalho só foram melhor caracterizados a partir da revolução industrial (PAREDES, 1985). Todavia, nem sempre os projetos de ambiente, ferramentas, máquinas e equipamentos foram adequadamente adaptados às condições de seus operadores, nem estes suficientemente treinados a operá-las rotineiramente. Desse modo aumentaram o número de lesões e o número de vítimas.

A preocupação com o bem estar, saúde e segurança do ser humano no trabalho, seja o trabalho pesado ou leve, vem se acentuando no decorrer dos últimos anos, o que se justifica, visto que o homem representa o fator mais importante de um sistema produtivo.

Dentro deste contexto, mudou-se o enfoque dos empresários e administradores quanto ao trabalhador que passou a ser encarado não mais como um simples complemento do processo produtivo, mas sim, como principal ator ou recurso de produção.

O aumento da produtividade dos funcionários é conseqüência direta das diversas políticas e ações que estão sendo praticadas dentro das empresas e, o setor produtivo descobriu que “só é excelente, quem estende a excelência a qualidade de vida de seus funcionários”.

A ergonomia pode contribuir para melhorar a satisfação e o bem-estar do trabalhador, propiciando, conseqüentemente, melhor qualidade do trabalho, menor custo, menor dano à saúde e melhor qualidade de vida.

Particularmente na atividade de colheita florestal, a ergonomia tem papel preponderante em decorrência desta atividade apresentar certas particularidades, a saber:

- o trabalho em grande parte é realizado manualmente ou de forma semi-mecanizado; - na maioria das operações, o trabalho é classificado como extremamente pesado; - as condições de trabalho são adversas em decorrência de fatores climáticos (chuva, sol, ventos etc.), topográficos, de solo etc.

Dentro desta linha de raciocínio, que a ergonomia surgiu como uma ciência nova, produto da colaboração de diversas áreas e especialidades, com o intuito de harmonizar e amenizar o trabalho do ser humano, gerando resultados mais satisfatórios para o trabalhador e o patrão.

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O QUE VEM A SER ERGONOMIA?

O termo "ergonomia" é recente, tendo sido adotado pela primeira vez em 1949 na Inglaterra, derivado de duas palavras gregas "ergon" = trabalho e "nomos" = lei. Significa portanto, a grosso modo "leis do trabalho".

Entretanto, esta tradução não serve para caracterizar adequadamente toda a abrangência da ergonomia, que tem sido conceituada de várias maneiras, de acordo com o ponto de vista de cada autor, a saber:

Ergonomia é estudo cientifico da relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho, ou seja, com as máquinas, equipamentos, instrumentos, matérias-primas, métodos e organização do trabalho (PALMER, 1976).

É o conjunto de normas que regem o trabalho no que se refere a sua adaptação ao homem (VERDUSSEM, 1978).

É a ciência da organização do trabalho que tem como base a biologia humana: anatomia, antropometria, psicologia e fisiologia (IIDA, 1990).

A ergonomia abrange conhecimentos ecléticos e subsidiados das ciências social e humana, da ciência exata e da tecnologia p/ adaptar o trabalho ás condições físicas e mentais do ser humano, de modo a estabelecer condições favoráveis á sua satisfação, á sua saúde, á sua segurança, ao seu bem estar e a sua produtividade no trabalho (SOUZA, 1993).

É o conjunto de conhecimentos que visa a melhor adaptação das situações de trabalho aos trabalhadores (BUSCHINELLI et al., 1993).

É o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência (WISNER, 1994).

É um conjunto de ciências e tecnologias que procura a adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de trabalho às características do ser humano (COUTO, 1995).

Portanto, apesar das divergências conceituais, alguns aspectos são comuns as várias definições existentes:

• a aplicação dos estudos ergonômicos; • a natureza multidisciplinar, o uso de conhecimentos de várias disciplinas; • o fundamento nas ciências; • o objeto: a concepção do trabalho.

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OBJETIVOS DA ERGONOMIA

Pode-se destacar como principais objetivos práticos da ergonomia os seguintes aspectos: a segurança, satisfação e o bem-estar dos trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos.

Segundo IIDA (1990), a eficiência não deve ser relacionada como objetivo principal, porque isoladamente poderia significar sacrifício e sofrimento dos trabalhadores e isso, é inaceitável pois, a ergonomia visa, em primeiro lugar, o bem-estar do trabalhador. A eficiência virá como resultado de todo o processo.

Para WISNER (1994), a melhoria e conservação da saúde dos trabalhadores e a concepção e funcionamento satisfatórios do sistema técnico, do ponto de vista da produção e da segurança, são outros dois importantes objetivos da ergonomia. Portanto, a ergonomia tem como objetivo básico produzir conhecimentos específicos sobre a atividade do trabalho humano. IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA

A aplicação da ergonomia no trabalho, seja em atividades pesadas ou leves, tem fundamental importância para que se assegure um maior rendimento e um melhor aproveitamento e qualidade das operações, conciliados, principalmente, com a saúde do trabalhador.

Para a consecução de seus objetivos, a ergonomia estuda aspectos do comportamento humano no trabalho e diversos fatores importantes, a saber:

- O homem - características físicas, fisiológicas, psicológicas, e sociais do trabalhador; influência do sexo, idade, treinamento e motivação;

- A máquina - entende-se por máquina todas as ajudas materiais que o homem utiliza no seu trabalho, englobando os equipamentos, ferramentas, mobiliários e instalações;

- O ambiente - estuda as características do ambiente físico que envolve o homem durante o trabalho.

Portanto, mesmo sem notar, a ergonomia está presente em todos os

momentos de nossa vida e, atualmente, é praticamente impossível conviver sem os benefícios proporcionados por ela.

Particularmente na colheita florestal, a ergonomia tem grande aplicação, não somente em termos de melhoria dos projetos relacionados às máquinas e equipamentos, mas também em todas as fases e, ou componentes do processo produtivo.

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A ergonomia tem contribuído assim, de forma significativa para melhoria das condições de trabalho humano (MINETTE, 1996), implicando em qualidade de vida no trabalho que é condição essencial para o êxito de uma empresa ou de um empreendimento (BOM SUCESSO 1997).

Atualmente, os estudos relativos à ergonomia no trabalho ganharam maior importância com o surgimento da norma britânica BS 8800 sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho.

Entretanto, no Brasil, mesmo com os consideráveis avanços obtidos nos últimos anos, são ainda escassos os resultados das pesquisas que permitam inferir, de modo consistente, sobre a influência da ação isolada ou da interação dos fatores econômicos, humanos, ergonômicos e ambientais no desempenho e na saúde do trabalhador. ERGONOMIA X TECNOLOGIA

Em se tratando de trabalho e produção, podemos dizer que a ergonomia associa-se á tecnologia.

Entretanto, a tecnologia busca métodos para fazer o trabalho mais rápido, eficaz e mais perfeito; enquanto que a ergonomia, busca fazer este mesmo trabalho de forma mais leve, mais cômoda, mais segura e mais satisfatória para o trabalhador. ÁREAS RELACIONADAS COM A ERGONOMIA

A ergonomia é uma ciência interdisciplinar que não se distingue pela matéria estudada, mas sim pelo seu objetivo (GRIGAS, 1987).

Assim, para atingir seus objetivos a ergonomia serve-se de outras ciências, dentre as quais destacam-se: -› Antropometria - trata das medidas físicas do ser humano (peso, estatura etc.); -› Biomecânica aplicada - analisa a questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças; -› Física - projeto de equipamentos, máquinas, ferramentas etc; -› Engenharia; -› Anatomia e fisiologia - avaliação nutricional; -› Medicina - exames pré-admissionais (psicotécnicos, de rotina, capac. aeróbica); -› Psicologia e sociologia; -› Estatística - índice de acidentes, etc;

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APLICAÇÃO DA ERGONOMIA NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA COLHEITA

FLORESTAL 1) Perfil dos Operadores

O estudo do perfil consiste em um levantamento do trabalhador, analisando-se variáveis como: idade, estado civil, escolaridade, origem, treinamento, tempo de trabalho na empresa e experiência na função, dentre outras (FIEDLER, 1995).

O conhecimento do perfil e das opiniões dos operadores a respeito do trabalho é útil na implementação de novas técnicas de treinamento e de melhoria das condições atuais de trabalho.

O que se observa é que nem todos os trabalhadores são iguais e que, portanto, diferentes tipos de funções exigem diferentes habilidades dos seus ocupantes (IIDA, 1990).

Com isto conclui-se que é de suma importância o levantamento do perfil do trabalhador na empresa. 2) Sistema pessoa-máquina/ferramenta

O objetivo da ergonomia é a adaptação do trabalho ás pessoas.

Quando uma pessoa está operando uma máquina, deve receber certas informações desta e, depois de processá-las devidamente, transformá-las em ações de comando. Deste modo, pessoa e máquina formam um todo (um complementando o outro) o que é denominado pessoa-máquina.

O desempenho deste sistema depende basicamente de três fatores: a) Características individuais do operador - medidas antropométricas - idade, sexo, estado de saúde, treinamento ,motivação. b) Condições ambientais - clima, iluminação, ruído, vibração c) Características da máquina - tamanho , potência, estado de conservação, design.

Um exemplo de sistema pessoa-máquina na colheita florestal corresponde a operação do guincho florestal de garra por um operador instalado na cabine da máquina. O trabalho sofre influências de fatores diversos como: mecânicos, humanos, organizacionais, ambientais, operacionais e ergonômicos (SOUZA, 1983).

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* Assim, a ergonomia visa fazer com que a área de contato (interface) entre a pessoa e a máquina e, ou a pessoa e o local de trabalho seja segura, confortável e eficiente. 2) Trabalho fisicamente pesado

As operações de colheita florestal são consideradas uma das mais pesadas entre os trabalhos das demais atividades industriais brasileiras.

Na evolução do processo industrial haverá cada vez menos necessidade do ser humano desenvolver trabalho fisicamente pesado. Tome por ex., o caso da sociedade industrial japonesa.

Entretanto, isto não é ainda realidade no Brasil, especialmente na colheita

florestal, cujo grau de mecanização é relativamente baixo e, conseqüentemente, emprega-se um grande contingente de mão-de-obra em trabalhos pesados.

Em decorrência disto, é comum o aparecimento de sintomas de fadiga que trás como conseqüência, a redução do ritmo de trabalho, da atenção e rapidez de raciocínio etc., tornando o trabalhador menos produtivo e mais sujeito a erros e acidentes.

Na colheita florestal, cada operação exige um determinado dispêndio energético do trabalhador, que pode ser avaliado pôr tabelas ou pôr metabolimetria indireta.

Para saber se um trabalhador tem condições de desenvolver uma atividade laborativa durante toda a jornada de trabalho, deve-se comparar o dispêndio energético da atividade, a capacidade aeróbica média desse trabalhador e isso, é importante principalmente para: - adequação do trabalho por meio de pausas científicas determinadas (horas de descanso); - necessidade energética diária do trabalhador (alimentação).

A avaliação da carga de trabalho físico do ser humano pode ser efetuada através de índices fisiológicos como a freqüência cardíaca. Freqüência Cardíaca

A indicação clara da existência de fadiga veio com a medida da freqüência cardíaca durante a tarefa, tendo a medida evidenciado que durante a jornada de trabalho de 8 horas, ergonomicamente aceita-se que o valor da freqüência cardíaca não deve exceder 110 batimentos por minuto (COUTO, 1995). A freqüência cardíaca é um bom indicador da carga de trabalho. Sua medição, geralmente expressa em batidas por minuto (bpm), pode ser realizada

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através da palpação de artérias e do uso de medidores eletrônicos de freqüência cardíaca.

Com base na freqüência cardíaca pode-se classificar a carga de trabalho, a saber:

CARGA DE TRABALHO FÍSICO FREQÜÊNCIA CARDÍACA

Muito leve < 75 Leve 75-100 Moderadamente pesada 100-125 Pesada 125-150 Pesadíssima 150-175 Extremamente pesada > 175

Entretanto, outros fatores tais como: tensão mental, emoção, café, tabaco podem interferir nestes índices aumentando os riscos (WISNER, 1987).

Capacidade Aeróbica

A capacidade aeróbica pode ser definida, de maneira simples, como a capacidade que um indivíduo tem de realizar uma atividade física, onde a energia requerida para o trabalho provém predominantemente do metabolismo oxidativo dos nutrientes (Duarte, 1982 citado por SANT’ANNA, 1992).

A capacidade aeróbica constitui na melhor referência para se determinar o limite de atividade física que um indivíduo pode exercer durante uma jornada de oito horas de trabalho constante, sem sofrer fadiga (SOUZA, 1993).

A medida mais exata que se dispõe para avaliar a capacidade aeróbica de um ser humano, é o consumo máximo de oxigênio. O consumo máximo de O2 reflete a quantidade de oxigênio que um indivíduo consegue captar do ar alveolar, transportar aos tecidos por meio do sistema cardiovascular e utilizar em nível celular, na unidade de tempo. Geralmente, é expressa em:

a) captação máxima de oxigênio por minuto (litros de O2/min); b) captação de oxigênio por quilograma de peso corporal por minuto

(mililitros de O2/kg/min). A capacidade aeróbica expressa nessa unidade permite a comparação entre indivíduos, ou mesmo entre populações;

c) dispêndio energético máximo em condições aeróbicas (kcal/min), sendo obtido ao multiplicar o valor da captação de oxigênio por 5,047, quantia máxima de quilocalorias que 1 litro de oxigênio é capaz de metabolizar; e

d) capacidade de aumento do metabolismo basal ou unidades metabólicas (MET) que correspondem ao consumo de oxigênio (O2),

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em repouso, equivalente a 3,5 ml/kg/min (Duarte, 1982; Siconolfi et al., 1985 citados por MINETTI, 1996).

Os testes utilizados na avaliação da capacidade aeróbica geralmente são

os testes com bicicleta ergométrica, de esteira rolante, testes de banco de madeira e testes de corrida. 3) Antropometria

A antropometria é o campo da antropologia física que estuda as dimensões do corpo humano. Esse estudo baseia-se na tomada de medidas, tais como: dimensões, movimentos e comprimento dos membros do corpo (MORAES, 1983).

Na ergonomia, são encontrados três tipos de dimensões antropométricas que podem ser classificadas em antropometria estática, dinâmica e funcional, segundo IIDA (1990).

- Antropometria estática: está relacionada com a medida das dimensões

físicas do corpo humano parado ou com poucos movimentos. E se aplica principalmente nos projetos de assentos e equipamentos individuais como, capacetes, máscaras, botas, ferramentas manuais e outros.

- Antropometria dinâmica: mede os alcances dos movimentos. Os

movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o resto do corpo estático.

- antropometria funcional: as medidas antropométricas são associadas à

análise da tarefa. Por exemplo, o alcance das mãos não é limitado pelo comprimento dos braços, ele envolve também o movimento dos ombros, rotação do tronco, inclinação das costas e o tipo de função que será exercido pelas mãos. Essas medidas relacionadas com a execução de tarefas específicas, são chamadas de antropometria funcional.

As medidas antropométricas de um operador servem para adequar os

meios de produção, quando se utiliza qualquer ferramenta ou instrumento (MINETTE, 1996). Segundo MORAES (1983), equipamentos ou máquinas quando se adaptam adequadamente ao organismo, sob o ponto de vista dimensional, os erros, os acidentes, o desconforto e a fadiga diminuem sensivelmente.

A figura a seguir mostra dois casos de projeto de máquina inadequado, por não levar em consideração as medidas antropométricas dos operadores.

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Assim, o projeto incorreto do ponto de vista antropométrico de postos de trabalho, equipamentos, ferramentas e meios auxiliares neles existentes, impõe o trabalhador de colheita florestal solicitações excessivas e desnecessárias, podendo resultar em: desconforto, fadiga, redução na produtividade, erros e acidentes.

O levantamento de dados antropométricos mostra a variabilidade das dimensões de uma população, logo, não podem ser levadas em conta as medidas que se referem a uma população de outra região, com diferentes níveis sócio-econômico, idade e sexo (MINETTE, 1996).

Os projetos desenvolvidos com base na antropometria não somente estimulam o operador, pelo conforto na atividade que está sendo desenvolvida, como também melhora o seu rendimento, diminuindo sua sobrecarga física (MORAES, 1983).

Portanto, a ergonomia utiliza dados da antropometria p/ adaptar as medidas com o espaço de trabalho, assentos, roupas, máquina, ferramentas, instrumentos, posição dos controles e comandos etc., às medidas físicas do corpo humano. 4) Biomecânica aplicada

A biomecânica estuda as interações entre o trabalho e o homem sob o ponto de vista dos movimentos músculos-esqueletais envolvidos, e as suas conseqüências. Analisa basicamente a questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças envolvidas (IIDA, 1990).

A postura pode ser considerada como elemento primordial da atividade do homem. Para manter uma postura ou realizar um movimento, as articulações devem ser conservadas, tanto quanto possível, na sua posição neutra.

Por sua vez, a postura depende dos constrangimentos ditos externos, ou seja, da tarefa a realizar e das condições nas quais ela deva ser realizada. A

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postura depende também das condições internas, ou seja, de seu estado geral, de seu estado funcional físico-sensorial, de sua experiência e de suas características antropométricas (MORAES, 1996).

A análise ergonômica tem uma base mecânica, segundo a qual o corpo humano pode ser dividido em seis grandes alavancas, ou seja, antebraços, braços, tronco, coxas, pernas e pés. O ponto de giro dessas alavancas são as principais articulações do corpo, a saber: cotovelos, ombros, coxofemorais, joelhos e tornozelos (REBELATTO et al., 1989). A postura é montada, atribuindo-se pontuações de acordo com a maneira em que cada um desses segmentos se encontra na adoção das posturas necessárias para realização de determinada fase do ciclo de trabalho.

O ser humano possui grande capacidade para ajustar-se às condições de exposição que lhe são impostas, adaptando-se rapidamente às situações. Assim, ele tem capacidade para manusear máquinas, ferramentas e equipamentos ergonomicamente mal projetados, suportando posições incômodas e inadequadas durante o trabalho.

A postura adotada pelos trabalhadores de colheita florestal de modo geral, não é a mais correta e, a má postura, pode contribuir para: desperdício energético, fadiga, as lombalgias e outras dores. Conforme salienta MINETTE (1996), ao realizar um trabalho nessas condições, há perdas na produtividade e a saúde pode ser severamente prejudicada.

Além da fadiga muscular imediata, os efeitos a longo prazo das posturas inadequadas são numerosos: sobrecarga imposta ao aparelho respiratório, formação de edemas, varizes e problema nas articulações, particularmente na coluna vertebral. Tais afecções acarretam então a recusa, às vezes de forma não explicita, dos trabalhadores atingidos, aos postos de trabalho em que suas limitações posturais são demasiado fortes (COUTO, 1995).

A aplicação de forças na colheita florestal é outro problema ligado a biomecânica. A aplicação de força excessiva ou de forma inadequada apresentam altos riscos p/ saúde dos trabalhadores, principalmente problemas de lombalgia.

Segundo FIEDLER (1998), esses problemas são causados e agravados, principalmente, por posturas incorretas no levantamento e na movimentação de cargas e durante a própria execução contínua de determinados trabalhos, tanto pela inexistência de equipamentos e mobiliário que auxiliem na manutenção de uma boa postura quanto por projetos de postos de trabalho ergonomicamente mal concebidos.

A adoção de posturas incorretas e, ainda, o levantamento e transporte de cargas com pesos acima dos limites máximos permitidos, tanto esporádica quanto continuamente, provocam dores, deformam as articulações e causam artrites, além da possibilidade de incapacitar o trabalhador (IIDA, 1990).

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As figuras a seguir mostram situações corretas e incorretas no manuseio

de cargas, bem como a conseqüência dessas posturas inadequadas.

Portanto, as exigências de forças devem ser adaptadas ás capacidades dos trabalhadores e, é geralmente aceito que o individuo suporte com segurança, 50% do torque máximo voluntário.

A técnica mais indicada p/ se fazer a análise biomecânica do corpo humano é a gravação em “videoteipe” com o trabalhador na posição de perfil.

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5) Clima do local de trabalho

As condições climáticas têm grande efeito sobre o desempenho do trabalhador. Quando o clima é desfavorável (excesso de calor ou frio), ocorrem indisposição e fadiga, diminuindo a eficiência e aumentando os números de acidentes (GRANDJEAN, 1981).

Principalmente durante os meses de verão, a superposição da carga de trabalho físico e as condições climáticas desfavoráveis, podem gerar sinais nítidos de sobrecarga térmica do trabalhador de colheita de madeira.

A avaliação da exposição a temperaturas excessivas é de grande importância para que se possa garantir o conforto térmico do trabalhador. Existem vários índices para avaliação da exposição ao calor, dentre os quais destacam-se: o Índice Temperatura Efetiva Corrigida (IST), Índice Termômetro de Globo Úmido (TGU) e o Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo (IBUTG). No entanto, a Norma Regulamentadora NR 15 – Anexo 3 prescreve o uso do Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo (IBUTG) para avaliação da exposição ao calor (sobrecarga térmica no trabalho).

O Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo é definido pelas seguintes equações: a) Ambientes internos ou externos sem carga solar:

IBUTG = 0,7 tbn + 0,3 tg b) Ambientes externos com carga solar:

IBUTG = 0,7 tbn + 0,1 tbs + 0,2 tg

Onde:

tbn = Temperatura de bulbo úmido natural; tg = Temperatura de globo. Tbs = Temperatura de bulbo seco

O valor calculado do IBUTG é comparado com valores tabelados p/ trabalhos leves, moderados e pesados, a fim de definir o regime de trabalho ou a situação em que o trabalho é proibido.

Os limites toleráveis para a exposição ao calor foram estabelecidos de acordo com a Legislação Brasileira de Atividades e Operações Insalubres (NR 15 - anexo nº 3, da portaria nº 3.214, do Ministério do Trabalho), conforme o Quadro 1.

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QUADRO 1 - Limites de Tolerância Para Exposição ao Calor, em Conseqüência

do IBUTG Obtido (Válido Para Homens e Mulheres)

limites de temperatura em ºC para regime de trabalho

de 1 hora

Consumo

energético

da atividade

(kcal/h) 1 hora de

trabalho

45 min de

trabalho e 15

min de

descanso

30 min de

trabalho e 30

min de

descanso

15 min de

trabalho e 45

minuto de

descanso

situação

em

que é

proibido

trabalhar

Trabalho

leve até 150

ate 30,0 30,1 - 30,6 30,7 - 31,4 31,5 - 32,2 acima de

32,2

Moderado

150–300

ate 26,7 26,8 - 28,0 28,1 - 29,4 29,5 - 31,1 acima de

31,1

Pesado

> que 300

ate 25,0 25,1 - 25,9 26,0 - 27,9 28,0 - 30,0 acima de

30,0

No Brasil a zona de conforto térmico é delimitada entre as temperaturas efetivas de 20 e 24°C, UR de 40 - 60% e velocidade dentro da ordem de 0,2 m/s. As diferenças de temperaturas presentes no mesmo ambientes não devem ser superiores a 4oC, sendo que acima de 30oC aumenta-se o risco de danos a saúde do operador, as pausas se tornam maiores e mais freqüentes, o grau de concentração diminui e a freqüência de erros e acidentes tende a aumentar significativamente (IIDA, 1990).

A temperatura excessiva causa desconforto térmico no ambiente de trabalho aumentando o risco de acidentes devido as tensões causadas pelo calor, interferindo também no desempenho do trabalhador.

A diversidade climática pode ser tanto por variações naturais quando falta proteção na máquina ou mesmo por excesso de aquecimento no posto de trabalho (projeto inadequado de máquina). 6) Ruído

O ruído é um som ou uma mistura complexa de sons, que causa uma sensação de desconforto, medida numa escala logarítmica, em uma unidade chamada decibel (dBA), que afeta física e psicologicamente a pessoa exposta, causando-lhes lesões irreversíveis (GRANDJEAN, 1981; IIDA, 1990).

O ruído é um inimigo silencioso e perigoso. Um trabalhador que aparentemente possui boa saúde, pode estar sendo vítima do seu ataque.

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As pessoas não são afetadas, na mesma proporção, pelo efeito do som. O

ruído provocado por uma máquina pode ser prejudicial ao seu operador, mas pode ser agradável a outras pessoas que se encontram longe do local de operação (MINETTE, 1996).

De acordo com as normas brasileiras, a máxima exposição sem protetor auricular é de 85 dBA e, a maioria das máquinas usadas na colheita florestal emitem níveis de ruído acima deste limite.

Portanto, os operadores destas máquinas devem usar protetores auriculares p/ evitar perda de audição, que muitas vezes, não são projetados para as condições climáticas e antropométricas dos operadores.

A permanência em locais de trabalho que apresentam níveis de ruído de 85 a 90 decibéis, oferece grande risco, que se acentua em dependência da freqüência dos sons e do tempo de permanência nessa situação. A exposição por um tempo superior a 5 horas a ruídos que atinjam 110 dBA tem conseqüências bastante graves; já a 160 dBA, ocorre surdez imediata e irreversível (VERDUSSEN, 1978).

Os principais efeitos do ruído no organismo humano são :

- perda da audição temporária ou permanente; - efeitos fisiológicos e psicológicos como: prejuízo p/ o estado de alerta da pessoa, perturbação do sono e surgimento de tensão de natureza psíquica; - interferência na conversação; - decréscimo na produção; etc.. 7) Vibração

O efeito da vibração provocado por máquina de colheita florestal pode ser em relação a todo o corpo (global) como por ex.: colhedoras, tratores de extração, processadores, carregadores e caminhões; ou em relação a parte do corpo (mãos, braços) causados principalmente pelas motosserras.

Os efeitos das vibrações globais do corpo humano pode surgir na forma de: danos aos órgãos internos, traços de sangue na urina, dores lombares e abdominais, sensação de desconforto, apreensão e acuidade visual.

Os efeitos das vibrações produzidas pelas motosserras podem causar a chamada “doença dos dedos brancos”.

Assim, o projeto adequado da máquina (ergonômico) com dispositivos antivibratórios, pode controlar ou reduzir drasticamente as vibrações e, conseqüentemente, seus efeitos negativos. Ex.:motosserras modernas.

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8) Luminosidade

Uma luz apropriada é necessidade primordial em qualquer local de trabalho.

Segundo PALMER (1976), dois fatores importantes a serem considerados na iluminação seriam a quantidade de luz suficiente no posto de trabalho e eliminação completa de qualquer brilho que provoque ofuscamento.

Na colheita florestal podem ser encontrados locais de trabalho (oficina, escritório, posto de trabalho noturno) incorretamente iluminados.

* A iluminação inadequada do local de trabalho pode provocar: - aumento da fadiga visual; - aumento da incidência de erros e de acidentes; - contribuir para uma influência psicológica negativa sobre as pessoas.

Portanto, a iluminação certa do ponto de vista ergonômico, tende a evitar esses problemas. 9) Visibilidade

Os problemas mais comuns relacionados com a visibilidade, encontrados na colheita florestal são: - associados ao projeto da cabine da máquina (localização dos controles, assentos e janelas); - associados com o ambiente florestal (condições do terreno, do clima, da iluminação); - associados aos fatores operacionais (distâncias).

BENEFÍCIOS ADVINDOS DA UTILIZAÇÃO DA ERGONOMIA NA COLHEITA FLORESTAL

A aplicação correta dos princípios ergonômicos no setor de colheita

florestal proporcionará enormes benefícios para o empresário e, especialmente, para o trabalhador como: - melhoria nas condições de trabalho; - melhor estado de saúde dos trabalhadores; - maior segurança no trabalho; - maior satisfação no trabalho; - maior atração pelo trabalho florestal; - maior produtividade; e - redução do custo de exploração florestal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS - Apesar da ergonomia ter sido introduzida no setor florestal brasileiro há pouco tempo atrás, ela é uma realidade e é uma ferramenta de fundamental importância p/ aumentar a eficiência do trabalho e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores; - Houve nos últimos tempos, uma mudança de postura dos empresários, passaram a valorizar mais o ser humano (seu principal recurso produtivo) a fim de obter maior eficiência e eficácia, o que favoreceu o desenvolvimento de estudos ergonômicos; - É importante ressaltar que a aplicação de conceitos ergonômicos na atividade de exploração florestal não implica em ônus p/ as empresas pois, os benefícios advindos da sua adoção são bem maiores, conforme visto acima; - Para concluir, poderíamos dizer que se não fosse a ergonomia, a vida da gente se tornaria bem mais difícil e os objetos que usamos rotineiramente, com certeza, seriam menos práticos.

LITERATURA RECOMENDADA BECKER, G. O planejamento de atividades de exploração florestal de acordo com os princípios ergonômicos. In: SIMPÓSIO SOBRE EXPLORAÇÃO, TRANSPORTE, ERGONOMIA E SEGURANÇA EM REFLORESTAMENTOS. Curitiba, 1987. Simpósio... Curitiba, UFPr, 1987. p. 268-281. COUTO, H. A. Temas de saúde ocupacional – coletânea dos cadernos da Ergo. Belo Horizonte, 1 ed.,Ergo, 1987. 250p. COUTO, H.A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte, vol. I. Ergo, 1995. 353p. COUTO, H.A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte, vol. II. Ergo, 1996. 383p. DUL, J., WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. Tradução de Itiro Iida. São Paulo: Edgard Blucher, 1995. 147 p. FAO. Introduction to ergonomics in forestry in developing countries. Rome, FAO, 1992. 200 p. FIEDLER, N. C. Avaliação ergonômica de máquinas utilizadas na colheita de madeira. Viçosa, UFV, 1995. 126p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, 1995.

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FIEDLER, N. C. Analise de posturas e esforços despendidos em operação de colheita florestal no litoral norte do estado da Bahia. Viçosa, MG: UFV, 1998. 103 p. Dissertação (Doutorado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, 1998. GRIGAS, J. Compêndio de ergonomia florestal. São Paulo: Inst. Florestal, 1987, 108 p. IIDA, I. Ergonomia; projeto e produção. São Paulo, Edgard Blucher, 1990. 465p. LAVILLE, A. Ergonomia. São Paulo, EPU, Universidade de São Paulo, 1976. 102p. MACHADO, C.C. & MALINOVSKI, J.R. Ciência do trabalho florestal. Viçosa, Impr. Univ., 1988. 65 p. (Apostila 262). MERINO, E. A. D. Efeitos agudos e crônicos causados pelo manuseio e movimentação de cargas no trabalhador. Florianópolis, SC: UFSC, 1996. 128 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas) – Universidade Federal de Santa Catarina, 1996. MINETTE, L.J. Análise de fatores operacionais e ergonômicos na operação de corte florestal com motosserra. Viçosa, UFV, 1996. 211p. (Tese D.S.). PALMER, C. F. Ergonomia. Rio de Janeiro, FGV, 1976. 207p. SANT'ANNA, C.M. Fatores humanos relacionados com a produtividade do operador de motosserra no corte florestal. Viçosa, UFV, 1992. 145p. (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, 1992. SOUZA, A.P. & MACHADO, C.C. Estudo ergonômico em operações de exploração florestal. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE EXPLORAÇÃO E TRANSPORTE FLORESTAL, I., Belo Horizonte, 1991. Anais. Belo Horizonte, SIF/UFV, 1991. p.198-226. SOUZA, A.P. O uso de técnicas ergonômicas nas atividades de colheita de madeira. In: CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 7., Curitiba, 1993. Anais. Curitiba, SBS/SBEF, v.3., 1993. p.343-346. TORRES, M.C. Análise de alguns princípios de ergonomia aplicados no trabalho florestal. Viçosa, UFV, 1988. 17 p. ( Monografia de curso). VERDUSSEN, R. Ergonomia; a racionalização humanizada do trabalho. Rio de Janeiro, Livro Técnico e Científico, 1978. 162p.

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SEGURANÇA NO TRABALHO NA EXPLORAÇÃO FLORESTAL

INTRODUÇÃO Os serviços de segurança e higiene do trabalho são assuntos recentes, na maioria das empresas brasileiras. A prevenção de acidentes nas empresas é um fator fundamental, para garantia do bom andamento das operações e, conseqüentemente, p/ a redução dos custos de produção. No setor florestal constitui fator extremamente importante porque, na maioria das vezes, as atividades se caracterizam por trabalhos pesados e de alto risco de acidentes como, por exemplo, operação de motosserras, operação de skidders e de outros tratores, uso de machados, foices etc.).

Além disso, na execução dessas operações o trabalhador enfrenta situações adversas, dentre as quais pode-se destacar:

• Condições ambientais (chuva, sol, frio, poeira etc.); • Características do terreno (declividade acentuada, solos úmidos, sub-

bosque etc.); e • Longas jornadas de trabalho.

Acidente de Trabalho Acidente, de modo geral, é toda ocorrência não programada que altera o curso normal de uma atividade. A legislação brasileira define como acidente de trabalho toda aquela ocorrência que decorrer do exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando, direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional ou doença que ocasione ineficiência, total ou parcial, permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Tipos de Acidentes de Trabalho 1) - Devido ao Meio Ambiente (condições inseguras) São normalmente ocasionados pelas falhas, irregularidades técnicas ou falta de dispositivos de segurança para o desenvolvimento do trabalho. Exs.:

• Ferramentas mal desenhadas ou fixadas (machados, foices etc.); • Transporte de pessoas em veículos inapropriados; • Excesso de vibrações e ruídos nas máquinas; • Mau estado de conservação das máquinas e equipamentos etc.

2) - Devido ao Indivíduo (atos inseguros) São os tipos de acidentes mais comuns e correspondem a aproximadamente 80% dos casos. Exs.:

• Operação inadequada de uma máquina ou de um veículo (excesso de velocidade, executar trabalho em declividade acima do limite recomendado etc.);

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• Uso inadequado de ferramentas (utilizar alicate no lugar do martelo, machado como foice etc.);

• Não utilização dos EPI (devido ao excesso de calor, incômodo, esquecimento etc.).

3) - Devido a Fatores Pessoais (fator pessoal inseguro) Representam grande parte dos acidentes, podendo ser ocasionados por dois fatores principais:

• Ordem fisiológica => Ex.: insuficiência visual, surdez, alcoolismo, epilepsia etc.

• Ordem psicológica => Ex.: tensões ou conflitos no trabalho, problemas familiares (em casa), no trânsito (gerado por falta de atenção).

Principais Fatores Causadores de Acidentes Referem-se a uma pesquisa realizada por SANT’ANA (1992), em uma empresa florestal do Estado de MG. Obs: estes fatores encontram-se em ordem decrescente de importância. Fatores:

• Falta de experiência e treinamento na atividade; • Falta de uso dos EPI's; • Fadiga ou cansaço; • Fatalidade; De acordo c/ os entrevistados, estes dois itens • Azar ou falta de sorte. correspondem a minoria dos acidentes.

Por esta pesquisa, podemos observar que os atos inseguros, devido ao próprio

indivíduo (acidente do tipo 2), representaram a principal causa de acidente de trabalho na empresa avaliada, ou seja, falta de experiência e treinamento na atividade. Por outro lado, muitas vezes,a empresa também tem grande parcela de responsabilidade nos acidentes de trabalho, por não propiciar as condições adequadas e seguras ao desenvolvimento das atividades florestais (condições inseguras - acidente do tipo 1). Maneiras de Reduzir o Índice de Acidentes A total eliminação dos acidentes de trabalho é praticamente impossível. Entretanto, algumas medidas podem auxiliar na redução e, ou amenização da maioria dos acidentes. Entre as principais medidas adotadas, podem-se destacar:

• Treinamento adequado dos funcionários nas suas respectivas atividades; • Fornecimento e obrigatoriedade do uso dos EPI's; • Constituição das CIPA's (Comissão Interna p/ Prevenção de Acidentes).

∗ No Brasil, é obrigatória a constituição da CIPA para toda empresa pública ou

privada com mais de 50 empregados, sendo esta ainda mais recomendada, para

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as micro e pequenas empresas, uma vez que as mesmas não têm condições de contratar um técnico de segurança do trabalho, por tempo integral.

Principais Atribuições das CIPA'S A CIPA deverá ser constituída em nº igual de representantes dos empregados e empregadores, com nº de representantes nunca inferiores a 4 pessoas para cada parte. Entre as competências dessas comissões está a investigação dos acidentes, propondo à direção da empresa, as medidas necessárias para eliminação das causas desses acidentes. Dentre outras atribuições das CIPA's, pode-se destacar:

• Zelar pela observância das normas de segurança no trabalho; • Promover anualmente a semana de prevenção de acidentes do trabalho

(SPAT); • Manter os registros das ocorrências de acidentes e doenças profissionais

etc. Inspeção no Serviço de Segurança do Trabalho O seguro contra acidentes do trabalho no Brasil é de responsabilidade exclusiva do INAMPS e, as inspeções são realizadas por agentes do governo. Por exemplo, no setor florestal são feitas inspeções relacionadas com: - Vias de transporte e transporte de trabalhadores; - Áreas de plantio; Condições Físicas - Exploração florestal; - Construções diversas; - Aplicação de agrotóxicos etc. - Manuseio e uso correto de substâncias tóxicas; Higiene do Trabalho - Instalações sanitárias e alojamento; - Alimentação diária etc. Principais Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) São considerados EPI's, todo dispositivo de uso do empregado, destinado a protegê-lo contra possíveis acidentes do trabalho. Os principais EPIS são os seguintes::

• Para a cabeça => capacetes, protetores faciais ou mascaras, óculos etc; • Para as mãos e braços => luvas, mangas de couro etc; • Para os pés e pernas => botas, coturnos, perneiras e calças especiais; • Para o tronco => aventais e blusões especiais; • Contra queda => cinturão de segurança.

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Programa de Segurança nas Empresas Florestais A política de segurança de trabalho nas empresas deve seguir um programa de diretrizes, objetivando entre outras coisas:

• Preservação da integridade física do trabalhador; • Conservação dos equipamentos e instalações; • Aumento da produtividade; • Redução de custos com os acidentados e perda de produção do

trabalhador. Dentre algumas etapas básicas de um programa de segurança no trabalho, destacam-se:

1. As atividades do serviço de segurança devem apoiar-se em todos os níveis da administração da empresa;

2. As empresas devem fornecer gratuitamente aos trabalhadores, os EPI's necessários a execução segura da tarefa em questão;

3. Todos os trabalhadores, principalmente os mais novos, devem receber treinamento adequado p/ a execução das suas tarefas e, obrigatoriamente, usar os EPI's;

4. Toda os membros da empresa devem enfatizar ao máximo a segurança e, ocorrendo acidentes, estes devem ser analisados com o intuito de evitar a sua repetição.

Conseqüências dos Acidentes Para o acidentado e seus familiares => doenças, preocupações, perda de uma parte do corpo ou da própria vida, recebimento de um menor salário (quanto o operário trabalha por produtividade) etc. Para a empresa => perda de horas trabalhada (menor produção), dispêndio improdutivo (gastos extras com o trabalhador em assistência médica, remédios, transporte etc), alteração do planejamento e das metas de produção, aumento de custos para a empresa etc. Motivação da Empresa para Implantar um Programa de Segurança no Trabalho Constitui sem dúvida, um dos pontos fundamentais da política de prevenção de acidente. Alguns fatores importantes na geração de resultados positivos correspondem a:

⇒ Publicidade interna na empresa (com uso de cartazes, fotos com legendas explicativas e distribuição de folhetos em linguagem simples e clara);

⇒ Doação de prêmios (para aqueles trabalhadores que não faltarem ao serviço durante o ano devido a acidentes).