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    “ERA VEZ UM HOMEM E O SEU TEMPO”: USOS E POSSIBILIDADES DAFENOMENOLOGIA SOCIOLOGICA NA ANALISE DA MÚSICA DE

    BELCHIOR 

    Ângelo Felipe Castro Varela1

    RESUMO: Esse presente artigo baseia-se numa proposta de pesquisa para o doutoradosobre a música do cantor e compositor cearense Belchior, animado pela proposta teóricada fenomenologia sociológica de lfred !chult", #ertente que e$p%e a rela&'osociedade-indi#iduo enquanto e$peri(ncia dos su)eitos em suas conting(ncias temporais

    e culturais* +retendemos mostrar aqui como a fenomenologia sociológica pode a)udar no des#elamento dos interesses e propósitos de um artista em sua obra se da nocondicionamento e no conflito com #alores, códigos de cultura, em dado espa&o etempo*

    Palavras-!av" Fenomenologia !ociológica, Belchior, úsica*

    ABSTRACT: .his present article is based on a research proposal for the doctorate onBelchior/s music, inspired b0 sociological phenomenolog0 of lfred !chult"/s proposal,that e$poses the relationship beteen societ0 and indi#idual e$perience as the sub)ectsin their temporal contingencies and cultural* 2e intend to sho here as the sociological

     phenomenolog0 can help in un#eiling the interests and purposes of an artist in his or3 is the in conditioning and in conflict ith #alues, culture codes in a gi#en space andtime*

    #"$%&r's: !ociological +henomenolog0, Belchior, usic*

    arte em geral se constitui em uma catalisadora, dos dese)os, sentimentos,

    e$press%es, #is%es de mundo, percep&%es e #i#(ncias indi#iduais daqueles que a

    operam4 retrato e diagnose do drama, angústias, planos, pro)etos, quereres, #ontades e

    significados de #i#er e se relacionar, consigo e com o mundo* 5esse mesmo 6nterim, a

    arte tamb7m 7 uma ati#idade social, portanto, ob)eto de estudo sociológico, uma #e" que

    esta tamb7m est8 condicionada pelo ambiente normati#o, social e reflete #alores de uma

    7poca, premissas e códigos de uma organi"a&'o social, posto que como qualquer 

    1 Professor substituto no curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual

    Vale do Acaraú – UVA. E professor contratado nas Faculdades I!A" nacidade de Sobral" CE.

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    membro de uma sociedade, o artista tamb7m lida com os padr%es e os dilemas das

    coleti#idades em que desen#ol#e sua obra*

    as o su)eito-artista 7 bastante diferenciado em sua forma de inser&'o e #i#(ncia

    social, pois sua ati#idade n'o pode ser apenas determinada pela realidade a qual perten&a, sendo esta amiúde uma proposta indi#idual de reconstru&'o, rein#en&'o do

    repertório de pr8ticas e dos padr%es de relacionamento, dos #alores da própria

    sociedade* 9 artista a promo#e, no :mbito de sua frui&'o, mudan&a nos modelos da

    e$pressi#idade e cria&'o est7tica, sugerindo assim que seus modelos de e$press'o

    art6stica como modelos de #i#(ncia social* 9 meio social, como o meio f6sico, como

    afirma C5;???@ #ai se constituir em tema para inspira&'o ao artista, elemento

    e$terno que somado a din:mica dos planos e interesses deste, produ"em e comp%em aobra de arte*

    Esse artigo baseia-se numa proposta de pesquisa para doutorado e assume a

    música como e$press'o art6stica a ser estudada, para mostrar essas cone$%es entre o

    su)eito-artista e a ordem social no qual essa arte se manifesta e interage* Essa arte

    sempre fe" parte de minhas e$peri(ncias pessoais, principalmente como fator de reuni'o

    e sociabilidade, sendo um moti#o de relacionamento e intera&'o com pessoas e grupos,

     pois a música tradu" minhas aspira&%es, concep&%es de mundo, con#ic&%es e princ6pios

    que norteiam minha conduta e comp%e minha identidade e ser* +or sua #e", como afirma

    a arte musical, enquanto e$press'o est7tica constitui-se em possibilidade e$plicati#a de

    um dado per6odo histórico, bem como das condi&%es sociais que produ"em essas formas

    est7ticas*

    ;entre os #8rios g(neros tenho bastante apre&o pelo pop roc3, fruto igualmente

    das minhas e$peri(ncias )untamente com outras pessoas, de aprecia&'o dessa música,

     principalmente durante minha forma&'o na uni#ersidade, afei&oei-me em especial a

    música de ntAnio Carlos omes Belchior Fontenelle Fernandes, mais conhecido como

    Belchior, músico e compositor cearense e um dos maiores nomes da +B, tendo

    despontado em meados da d7cada de ?, )untamente com outros artistas conterr:neos,

    como Ednardo, Fagner, Dodger Dogerio, .7ti, melinha e outros, que ficaram

    conhecidos na imprensa do sudeste como 9 +essoal do Cear8*

    9 mo#imento art6stico +essoal do Cear8 se mostra como uma #ertente doo#imento .ropicalista, ou .ropic8lia, #anguarda cultural surgida na d7cada de G?,

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    representado por 6cones como Caetano Veloso, ilberto il, .om H7, Dita Iee, Chico

    Buarque, entre outros por artistas que mistura#am g(neros musicas tidos como

    nacionais =samba, bai'o, fre#o@ com os g(neros considerados estrangeiros =roc3, soul,

    fun3, blues, )a""@* .ropic8lia, como pretendiam seus e$poentes, aparecem como

    desdobramento dos odernistas da !emana de 1J>>, em sua #ertente antropof8gica

    =absor#er o que h8 de melhor em elementos culturais estrangeiros e incorpor8-los aos

    elementos culturais nacionais e$istentes@, construindo assim outra imagem sobre a

    na&'o e cultura brasileira*

    as porque escolher BelchiorK credito que Belchior, al7m de ter sido o nome

    de maior pro)e&'o nacional do mo#imento +essoal do Cear8 7 o artista mais singular 

    dentro dessa subtend(ncia tropicalista, pois suas can&%es #ariam entre influ(nciasregionalistas, do bai'o, repente, forró, misturado ao fol3, bossa, blues e pop roc3* !uas

    composi&%es aludem a paisagem f6sica e social do cotidiano nordestino, ao car8ter das

    mudan&as institucionais, da con)untura pol6tica da 7poca =ditadura militar@ e buscam

    uma apologia pelo reconhecimento de uma latino-americanidade, como uma utopia

    social de uma outra e poss6#el e$ist(ncia social brasileira* !uas can&%es aparecem como

    um pro)eto est7tico-pol6tico diante das circunst:ncias em que o artista aparece no

    cen8rio musical brasileiro, em meados da d7cada de ?, quando o pa6s atra#essa#a umaditadura que suprimia liberdades ci#is e pol6ticas, censurou e perseguiu as produ&%es

    culturais e art6sticas que questiona#am as a&%es e medidas do autoritarismo

    go#ernamental*

    ;esse modo, a música de Belchior se constitui em um refle$o, mas uma rea&'o

    ao conte$to politico e institucional da 7poca, mas suas letras e composi&%es #ibram em

    torno destes mesmos dramas #i#enciados em certos inter#alos de sua tra)etória como

    indi#iduoLartista* Eis ai a import:ncia da fenomenologia sociológica pode ser importante para analisar como a o art6stico e biogr8fico como entes indissoci8#eis que

    e$p%em atra#7s da no&'o de e$peri(ncia o su)eito e sua arte como sendo modelados

     pelas suas conting(ncias históricas e culturais, mas em rea&'o a estes condicionantes,

    dada a inten&'o do autor em buscar rein#entar, redefinir-se como agente social e

    indi#idual*

    fenomenologia sociológica, enquanto corrente da teoria social foi

    desen#ol#ida pelo austr6aco, naturali"ado americano, lfred !chult" =1MJJ-1JNJ@, que

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    acredita#a no m7todo fenomenológico desen#ol#ido por Edmund Ourssel no campo da

    filosofia, teria aplica&'o sociológica* fenomenologia sociológica defende que o

    estatuto e$istencial da realidade social e cultural, se d8 pelos esquemas pree$istentes de

    conhecimento =sociais, culturais@ internali"ados e modificados constantemente pelas

    e$peri(ncias das consci(ncias indi#iduais =fenAmeno@, que imbu6das de intencionalidade

    =princ6pio cogniti#o e ps6quico pelo qual o indi#6duo percebe os ob)etos da realidade4

    ess(ncia da consci(ncia@ percebe e intui a realidade* !endo assim n'o se trata de

    desconfiar da ontogenia da realidade social e$terior, mas apenas interessa compreender 

    como essa realidade 7 apreendida e mantida como conhecimento por cada indi#6duo*

    Estendendo o emprego desse m7todo, a an8lise da nature"a do conhecimento e

    do ser social, !chult" entende que a sociedade e indi#6duo só e$istem, enquantointerpreta&'o, compreens'o e significa&'o que parte da a&'oLconduta indi#iduais*

    sociedade e$iste porque os indi#6duos a percebem, apreendem, significam =por meio da

    linguagem e de suas tipifica&%es@ e #i#em-na, ao mesmo tempo de modo particular 

    =mundo da #ida@* +or sua #e" o indi#6duo só se constitui f6sica, social, mentalmente ao

    entrar em contato, de forma intersub)eti#a com as estruturas sociais e das institui&%es

    e$teriores aos su)eitos* ;esse modo, ele ratifica que regras, normas, códigos culturais só

    e$istem, na medida em que os indi#6duos participam por meio da ati#idade mental,cogniti#a e consciente, interpretando-os e transmitindo-os intersub)eti#amente, intuindo

    e participando dos múltiplos dom6nios da #ida em sociedade =reinos da e$peri(ncia,

    segundo !chult"@*

    Cada dom6nio social =religi'o, arte, ci(ncia@ encerra um repertório de #alores,

     premissas, códigos, que modelam e s'o modelados pelo comportamento, conduta,

    interpreta&'o e #i#(ncia interindi#idual* ;estarte, cada dom6nio social só pode ser 

    apreendidoLcompreendido por meio da tra)etória indi#idual de cada su)eito =situa&'o biogr8fica@, a qual denota os planos, as estrat7gias e os interesses indi#iduais que

    atendem pela sele&'o, escolha e operacionali"a&'o da mat7ria-prima das informa&%es

    e saberes, constru6dos e transmitidos socialmente* fenomenologia apresenta a cultura

    como e$peri(ncias indi#iduais orientadas pelo interesse dos su)eitos que compartilham

    totalLparcialmente das tradi&%es e con#en&%es de um grupo* !endo assim, n'o e$iste

    uma dada imagem ou concep&'o pura do ser cultural =ser nordestino, ser brasileiro,

     por e$emplo@, uma #e" que a #i#(ncia, e$peri(ncia humana em sociedade se d8 pelastrocas e mudan&as constantes de #alores, normas, h8bitos e costumes*

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    ;esse modo, as escolhas est7ticas de Belchior s'o ao mesmo tempo influ(ncias,

    mas decis%es pessoais orientadas pelo ob)eti#o de sugerir uma no#a utopia social

    =pol6tica@ que remete a di#ersos espa&os e su)eitos =o sert'o, a cidade, a na&'o, o

     brasileiro, o nordestino, o ind6gena, o negro, o branco, o )o#em@ em uma no#a e ampla

    s6ntese identit8ria e cultural, como quer o próprio autor, latino-americana* plicando a

    chamada redu&'o fenomenológica podemos abordar os elementos recorrentes na pratica

    dos su)eitos aparecidos e$istentes, segundo !chult" podem ser tomado como fragmentos

    da e$peri(ncia, pois tais aspectos demonstram n'o e$atamente aquilo que corresponde o

    e$terior, mas as contradi&%es e a&%es do su)eito frente ao uni#erso social que pertence*

    Em seus primeiros 8lbuns =ote e losa 1JP, lucina&'o 1JG@, Belchior 

    endere&a uma critica as paisagens e ao cotidiano do 5ordeste, as imagens do progressotecnológico e sua territorialidade nas grandes cidades, o fasc6nio por essa urbanidade,

    como sa6da material, social para o conser#adorismo social das institui&%es do cotidiano

    social nordestino =a fam6lia patriarcal@* Can&%es como Dodagem, 5a Oora do

    lmo&o e .odo !u)o de Batom e$pressam a busca pela ruptura social e indi#idual

    com o modo de #ida paterno-familiar e a constitui&'o de um no#o su)eito social,

    indi#6duo, artista, pela #ia da constru&'o de seu pro)eto est7tico-social

    5o meu gib'o medalhadoL o peito desfeito em pó, sob o sol do sert'oL passo poeira, cidade, saudade, )aneiro e assombra&'o, meu deus ai que l7gua, ehmund'oL me larguei nessa #iagem qual ser8 a rodagem pro seu cora&'o Q Dodagem Q ote e losa Q 1JP

    Eu ainda sou bem mo&o pra tanta triste"aLdei$emos de coisa, cuidemos da#idaLsen'o chega a morte, ou coisa parecida e nos arrasta mo&o sem ter #istoa #ida, ou coisa parecida Q 5a Oora do lmo&o Q ote e losa 1JP

    Eu estou muito cansadoL com o peso da minha cabe&aLnesses 1? anos passados, presentes #i#idosLentre o sonho e o somL Eu estou muito cansadode n'o poder falar pala#raLsobre essas coisas sem )eito, que eu trago em meu

     peitoLe que eu acho t'o bom Q .udo !u)o de Batom Q ote e losa 1JP*

    antropofagia belchiorana migra para a cidade, procurando romper com essa

    dist:ncia geogr8fica e simbólica, na busca por um no#o ser e sociedade* Esse no#a etapa

    em seu pro)eto est7tico-social aparece de forma mais intensa no 8lbum que lhe

    consagraria no cen8rio musical brasileiro =lucina&'o 1JG(, onde sucessos como

    Como 5ossos +ais, Velha Doupa Colorida penas um Dapa" Iatino-mericano

    Fotografia R$P, +alo !eco o autor mostra, com maior #igor sua meta art6stica de

     propor uma no#a utopia pol6tica e social, que passa n'o só pela recusa ao per6odo

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    ditatorial, mas pelo con)unto das institui&%es sociais #igentes em sua 7poca =, a

    ideologia da prosperidade material, financeira, o consumismo@ bem como os pro)etos de

    luta e milit:ncia pol6tico-ideológica de sua )u#entude em resistir politicamente a

    ditadura brasileira =guerrilha socialista, mo#imento hippie@

    .enho ou#ido muitos discos, con#ersado com pessoasLcaminhado meucaminho, papo som dentro da noiteL e n'o tenho, nem sequerLquem acreditenisso nap, tudo mudaLe com toda ra"'oLn'o me pe&a que eu lhe fa&a umacan&'o como se de#e, correta, limpa sua#e muito limpa, muito le#eLsons,

     pala#ras, s'o na#alhasLe eu n'o posso cantar como con#7mLsem querer ferir ningu7mLmas n'o se preocupe meu amigoLcom esse horrores que eu lhe digoisso e somente uma can&'oL a #ida realmente e diferente, quer di"erLao #ida emuito pior Q penas um Dapa" Iatino-americano Q lucina&'o Q 1JG

     5'o quero lhe falar meu grande amorL das coisas que eu ou#i nosdiscosLquero lhe contar como eu #i#i e tudo o que aconteceu comigoL#i#er e

    melhor que sonharL eu sei que o amor e uma coisa boaL mas tamb7m sei quecada canto e menor do que a #ida de qualquer pessoaLpor isso cuidado meu bemLh8 perigo na esquina, na ruaLeles #enceram e o sinal esta fechado pra nosque somos )o#ensLminha dor e perceber que apesar de termos tudo o quefi"emosLainda somos os mesmos e #i#emosLainda somos e #i#emos comonossos pais Q Como 5ossos +ais Q lucina&'o Q 1JG*

    Voc( n'o sente e em #(L mas eu n'o posso dei$ar de di"er meu amigoLqueuma no#a mudan&a em bre#e #ai acontecerL e o que algum tempo era )o#em eno#o, ho)e e antigoLe precisamos todos re)u#enescerLnunca mais meu paifalo !he/s lea#ing homeLe meteu o p7 na estrada li3e a rolling stoneLnunca mais eu con#idei minha meninaL pra correr no meu carro, loucura,chiclete e somLnunca mais #oc( saiu a rua em grupo reunidoLo dedo em V,

    cabelo ao #ento, amor e flor quero carta"L no presente, mente e corpo s'odiferentesL e o passado e uma roupa que )8 n'o nos ser#e mais Q Velha DoupaColorida Q lucina&'o Q 1JG

    Eu me lembro muito bemLdo dia que eu chegueiL)o#em que desce do norte pra cidade grandeL os p7s cansados e feridos de andar l7gua tiranaL a noite diame ensinou a amar mais o meu diaL e pela dor eu descobri o poder da alegriaLe a certe"a de que tenho coisas no#as, coisas no#as pra di"erLa minha historiae tal#e", e tal#e" igual a tuaL )o#em que desceu do norte e no sul #i#eu naruaLe ficou desnorteado, como e comum no seu tempoLe ficou desapontadocomo e comum no seu tempo Q Fotografia R$P Q lucina&'o Q 1JG

    !e #oc( #inher me perguntar por onde andeiL no tempo em que #oc(

    sonha#aLde olhos abertos lhe direiLamigo eu me desespera#aLsei que assimfalando pensas que esse desespero e moda em GLe eu quero e que esse cantotorto, feito faca corte a carne de #oc(s Q +alo !eco Q lucina&'o- 1JG*

    S essa proposta est7tica que Belchior absor#e pela elaborar a cr6tica de seu

    tempo, pois suas can&%es alertam que nenhuma re#olu&'o, ou guerrilha, s'o sa6das

    e$itosas para a reconstru&'o de um no#o homem, um no#o tempo, um no#o brasileiro,

    um no#o Brasil se isso n'o passar por uma re#olu&'o na própria cultura, na mudan&a

    substancial das estruturas sociais, no :mago das institui&%es morais que regulam ocotidiano social brasileiro* 9 compositor cearense parece distanciar-se das utopias de

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    sua gera&'o e embarca na constru&'o de seu pro)eto est7tico-social, em busca de um ser,

    uma e$ist(ncia social brasileira, refundada sob a insigne latino-americana*

    s alus%es mais presentes de sua obra a defesa de uma latino-americanidade,

    como meta e processo de =re@constru&'o do su)eito social aparece em seu quinto 8lbumde estúdio, =Era Tma #e" um Oomem e o seu .empo, 9u edo de #i'o, 1JJ@*

    Belchior mostra com maior nitide" sua ades'o ao seu pro)eto de reconstru&'o pessoal

     pela defesa de uma identidade mais ampla e regional* s letras #(m com refer(ncias a

    m7rica do !ul, suas etnias e história, soberania nacional, elementos culturais

    considerados estrangeiros e a defesa de sua absor&'o li#re antropof8gica, como meio

     para a constru&'o dessa no#a cultura =sociedade@ brasileira, imersa e constituti#a de uma

    latino-americanidade* Can&%es como, Detorica !entimental Conhe&o meu lugarVo" da m7rica e$pressam bem esse sentimento comunitarista em rela&'o a m7rica

    Iatina

    oro num lugar comumLlonge daqui, chamado BrasilLfeito de tr(s ra&astristes, folhas #erdes de tabacoLdo guaran8, guaraniLalegria, namoradoLalegriade CeciLmanequins emocionadas s'o touradas de adridLque em mat7ria de

     palmeiraLainda tem o buriti pepidoLs6mbolo de nossa adolesc(nciaLs6mbolo denossa inoc(ncia 6ndia, sangue tupiLe por falar no sabia, o poeta on&al#es;ias e que sabiaLsabe l8 se n'o queria uma Europa bananeiraLdiga l8 tristetrópicosLsabia, laran)eira Q Detorica !entimental Q 1JJ Q Era Tma Ve" um

    Oomem e o seu tempo

     5'o #oc( n'o me impediu de ser feli"L)amais bateu a porta em meunari"Lningu7m e genteL5ordeste e uma fic&'o, 5ordeste nunca hou#eLn'o eun'o sou do lugar, dos esquecidos, n'o sou da na&'oLdos condenados, n'o soudo sert'o, dos ofendidos #oc( sabe bemLconhe&o o meu lugar Q Conhe&o omeu Iugar Q Era uma Ve" um Oomem e o seu tempo Q 1JJ

    El Condor passa sobre o ndesLE abre as asas sobre nosLna fúria das cidadesgrandes, eu quero abrir a minha #o"Lcantar como quem usa a m'o, para fa"er um p'o, colher uma espigaL como quem di" no cora&'oLmeu bem n'o penseem pa" que dei$a a alma antigaLtentar o canto e$ato e no#oLque a #ida quenos deram, no ensinaLa ser cantado pelo po#oLda m7rica Iatina Q Vo" da

    m7rica Q Era Tma Ve" um Oomem e o seu .empo Q 1JJ*

    s refer(ncias U cultura, modos de ser, costumes e a m7rica Iatina aparecem

    em outras can&%es mais #astas de Belchior, embora isso n'o fosse apenas uma marca

    desse autor* 9 próprio pro)eto tropicalista iniciado no disco .ropic8lia de 1JGJ,

    mo#imento capitaneado por ilberto il, Caetano Veloso e Chico Buarque, buscou

    e$plorar g(neros musicais tamb7m conhecidos do continente =bolero, polca, tango,

    salsa, reggae@ e sincreti"ar a est7tica musical brasileira*

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     poss6#eis de sua carreira e tra)etória art6stica, posto que trechos e passagens de sua

    literomusicalidade, e$press'o cunhada por C9!. =>??@ para mostrar como tanto o

     plano musical, melódico e letra se harmoni"am, se constituem em s6mbolos, met8foras

    que remetem a contradi&%es, dilemas e planos do autor, perspecti#as para sua a&'o

    diante das institui&%es e #alores de uma 7poca*

    REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

    CÂ5;???

    C9!., 5elson Barros da* =org@ O C!ar" '"ssa Na./&: 0s)a 1&1+lar2 ')s+rs& "

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