Era uma vez uma boca - conto
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Era uma vez uma boca CONTO
Texto: Elisa Foulquié (11º A, AEMS-Aveiro)
Ilustração: Mafalda Pires (9.º C, AEMS-Aveiro)
Era uma vez uma boca. Nesta boca
viviam a língua e os dentes. Eram
personagens muito egocêntricas: a
língua achava que, por conseguir
comunicar com o mundo exterior, era
alguém muito importante e, os dentes
achavam que se tratavam de
verdadeiras pérolas raras e preciosas e, por isso, melhores que a língua.
Um dia, a língua, cheia de si mesma, disse aos dentes:
- Ora escutem lá, caríssimos, encontramo-nos no festival do chocolate e dos produtos
escandalosamente doces! Ora não acham isto chique?
- Chocolate? Produtos doces? Oh não! Outra vez não! – Disseram os dentes em coro.
- Ai o que é, seus chatos? – Perguntou a língua muito afetadamente.
- Mas tu não te lembras daquele dia? Até parecia que te estavam a matar!
- De que dia estão vocês a falar?!
- Da nossa primeira consulta do dentista. Ai, nem sei onde tens a cabeça! No entanto,
como vejo que não te estas a lembrar, vou-te contar como tudo aconteceu.
Tudo começou com o berro do dente molar esquerdo do maxilar superior. Nós, os
restantes dentes, ficámos todos sem saber o que fazer por isso gritámos também.
Lembro-me perfeitamente como nos colocaste a todos na linha dizendo:
- Mas que vem a ser isto? Quem ousa perturbar o meu sono de beleza?
Todos nos calámos, com medo do que poderia acontecer. Todos menos o molar
esquerdo do maxilar superior. O coitado só ui e ai conseguia dizer:
- Ai, desculpe, ui, mas não posso evitar, ai, dói-me aqui dentro, ui.
- Nem ai nem ui! Ora espera lá que eu vou comunicar ao senhorio a situação.
E lá falaste com o nosso senhorio, o dono da boca onde moramos, que nada contente
te respondeu que iríamos ao dentista nessa mesma tarde:
- E o que é essa coisa do dentista? – Perguntámos nós com receio.
Tu, muito atrapalhada, respondeste aos trambolhões:
- Bem, o dentista é…aquele que possui dentes e istas.
- Istas? E isso o que é?
- Ai, mau, mau! Vocês são uns incultos! Nota-se que a isolação com o exterior vos faz
mais propensos á ignorância crassa!
E não se falou mais nisso.
A partir daqui, só nos lembramos de uma luz - uma luz branca e dolorosa – e de ti,
língua, aos pulos e aos gritos:
- Ai Jesus! Ai valha-nos Nossa Senhora! Estão a enfiar-nos instrumentos na nossa
residência! Ai que me querem matar! Não sinto nada, sinto-me dormente e…
E depois disso já não conseguimos perceber nada nem ouvir nada. Pensamos que
desmaiaste do susto.
Assim que a consulta acabou, tu voltaste a ti:
- Ora, caríssimos, não se alarmem: parece que a partir de agora vamos ter de ser mais
asseados, ter mais cuidado com o que ingerimos. Nem tudo pode ser chocolate nem
doces.
- Ai não? Que pena… Mas, se tivermos cuidado, não vamos voltar a ter um susto como
agora?
- Claro que não. É só lavarmo-nos muito bem e já está.
- E então, língua, já te lembras? – Perguntámos nós ansiosos.
- Claro que sim. Que dia horrível! Nunca mais meto os pés lá. Onde é que já se viu
tratarem uma celebridade como eu daquele modo?! Ai, estamos bem estamos.
- E o que pensas fazer para sair daqui?! Deste festival do chocolate e dos produtos
escandalosamente doces…
- Já sei! Gritem todos com muita dor e sentimento e, assim, o nosso senhorio vai
pensar que precisámos do dentista outra vez e irá sair daqui!
- Bela ideia, língua!
E assim foi como nos livrámos – os restantes dentes, a língua e eu – de mais uma
cárie incomodativa. Espero que tenham gostado tanto de ler a história como eu gostei
de a escrever.