Epopeia camoniana adaptado

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UNIDADE 5 Luís de Camões, Os Lusíadas (ppt adaptado)

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UNIDADE 5

Luís de Camões, Os Lusíadas(ppt adaptado)

Frontispício da primeira edição

d’Os Lusíadas (1572).

Conciliação das armas e das letras:

«Nũa mão sempre a espada e noutra a pena»

(Canto VII, est. 79)

Defesa de um novo ideal de vida:

as armas e as letras

Elogio

do poeta guerreiro

Crítica à aristocracia

portuguesa

Os temas dominantes

d’Os Lusíadas

António Ramalho, Camões lendo «Os Lusíadas» a D. Sebastião

(entre 1893 e 1916).

António Carneiro, Camões Lendo «Os Lusíadas» aos Frades de São Domingos (1927).

Carlos Alberto

Santos, Camões

Despede-se

da Musa

e Dirige-se

a D. Sebastião

(c. 1990).

«Vi por mandado da Santa e Geral Inquisição estes dez Cantos dos Lusíadas de Luís

de Camões, dos valerosos feitos em armas que os Portugueses fizeram em Ásia e

Europa, e não achei neles cousa algũa escandalosa, nem contraria à fé e aos bons

costumes; somente me pareceu que era necessário advertir os lectores que o Autor,

pêra esclarecer a dificuldade da navegação e entrada dos Portugueses na Índia, usa de

ua ficção dos Deuses dos Gentios. E ainda que Sancto Agostinho nas

suas Retractações se retracte de ter chamado nos livros que compôs De Ordine às

Musas “Deusas”, todavia, como isto é Poesia e fingimento, e o Autor como poeta não

pretenda mais que ornar o estilo poético, não tivemos por inconveniente ir esta fábula

dos Deuses na obra, conhecendo-a por tal e ficando sempre salva a verdade de nossa

sancta fé que todos os Deuses dos gentios são demónios. E por isso me pareceu o livro

digno de se imprimir, e o Autor mostra nele muito engenho e muita erudição nas ciências

humanas. Em fé do qual assinei aqui. Frei Bertholameu Ferreira»

Os Lusíadas, António Gonçalves, Lisboa, 1572, disponível em http://purl.pt/1/3/#/10.

O censor do Santo Ofício e os deuses n’Os Lusíadas

Definição

de epopeia

O projeto

da epopeia

portuguesa

A partir de Maria Vitalina Leal de Matos.

Os temas

dominantes

Estrutura

da obra

O heroísmo

e os valores

Os planos

d’Os Lusíadas

Linguagem

e estilo

A epopeia camoniana

Valorização da novidade — Descobrimentos portugueses:

• Novas civilizações

• Novos espaços geográficos

• Novas espécies animais e vegetais

Imitação da Antiguidade Clássica:

• Modelos: autores e obras greco-romanas

• Normas literárias: Poética de Aristóteles

Renascimento

Em que contexto?

Regras

dos géneros

literários

Géneros nobres:

epopeia e tragédia

Poema narrativo extenso, de tom sublime e elevado

1- Definição de epopeia

Ação: acontecimentos mitológicos, lendários ou históricos e

ações heroicas — fusão do sobrenatural e do real

Narração: inicia-se in media res (a meio da ação),

e as analepses e prolepses completam as lacunas da história

Protagonista: ser de qualidades excecionais que realiza feitos

extraordinários e se aproxima de uma dimensão lendária

Copiar azul

Uma epopeia é uma narrativa em verso que dá conta, em estilo grandiloquente,dos feitos valerosos e de valor universal de um povo através dos seus heróis(reais ou imaginários).

Consagra um herói humano

Modelos clássicos

Modelo para a epopeia camoniana

Ilíada

Odisseia

de Homero

Eneida

de Virgílio

Salienta as finalidades cívicas do heroísmo

Enfatiza as causas que o herói serve

A Eneida: epopeia de índole pedagógica

Pormenor de uma ânfora representando Ulisses e

Atena, deusa grega da sabedoria e das artes.

Federico Barocci, Eneias Foge de Troia em

Chamas (1598).

Expressão de valores coletivos

Consiste na glorificação

dos feitos dos heróis

através da narração

das suas aventuras

Género de prestígio

2- O projeto da

epopeia portuguesa

Os Lusíadas (plural):

herói coletivo

Navegadores Portugueses

a caminho da Índia

Importância

nacional

Novo

mapa

Importância

universal

Cariz verdadeiro

Orgulho

na História

de Portugal

Descobrimentos

Herói épicoAcontecimento épico

O projeto da

epopeia portuguesa

Cariz verdadeiro

Evento excecional = obra literária excecional

Autores humanistas que insistiam na necessidade

da criação de uma epopeia nacional

Garcia de Resende

António Ferreira

João de Barros

Exaltar as ações dos

portugueses (Descobertas)

Cultivar um género literário

nobre, que engrandece

a literatura portuguesa

O projeto da

epopeia portuguesa

Garcia de Resende.

António Ferreira.

João de Barros.

O projeto da

epopeia portuguesa

Cottinelli Telmo (arquiteto) e Leopoldo de

Almeira (escultor), Padrão dos

Descobrimentos (Belém, Lisboa, 1960,

reconstituição de obra efémera de 1940).

Planisfério de Cantino, anónimo (c. 1502).

Aristocracia portuguesa —

desinteressada do apoio às artes

Conciliação das armas e das letras:

«Nũa mão sempre a espada e noutra a pena»

(Canto VII, est. 79)

Defesa de um novo ideal de vida:

as armas e as letras

Elogio

do poeta guerreiro

Crítica à aristocracia

portuguesa

3- Os temas dominantes

d’Os Lusíadas

Retrato de Camões.

O canto do poeta inflama,

divulga e eterniza a Fama dos heróis

O valor da poesia, o valor da literatura

Os temas dominantes

d’Os Lusíadas

O país entra em decadência porque não há poetas

que mantenham a memória dos feitos

• Os heróis são homens de exceção

• Os heróis distinguem-se do homem comum

Um modelo = um herói coletivo

Os Lusíadas: uma teoria do heroísmo

4- O heroísmo e os valores

Grau de aperfeiçoamento

e de valor

Caminho de heroísmo proposto

ao longo dos cantos

• Distinguir entre «nobreza» e «fidalguia»: o heroísmo

é uma conquista individual, não uma herança de família

• Cultivar o Amor pela arte (o mecenato e a proteção

dos artistas) é essencial para se atingir o heroísmo —

o modelo do herói culto não encontra correspondência

na realidade portuguesa, segundo Camões

• Ultrapassar os limites impostos pela geografia conhecida:

atração pelo mar, pelo desconhecido

Reflexões do Poeta

(final dos cantos)

Discurso do Velho do Restelo

(Canto IV)

Heróis recompensados

no plano mitológico

(Ilha dos Amores, Cantos IX e X)

A aventura termina de forma

positiva (chega-se à Índia)

Inimigos vencidos

(os mouros/obstáculos

da viagem marítima)

Glorificação dos heróis Crítica e descrença

nos Portugueses

Os Lusíadas: equilíbrio entre

a exaltação e a repreensão?

ou

• Dez cantos

• Número variável de estrofes

• Oitavas

• Verso decassílabo

Narração: viagem de Vasco da Gama

(in medias res; Canto I, est. 19)

Dedicatória: oferecimento ao rei D. Sebastião

(Canto I, est. 6 a 18)

Invocação: necessidade de inspiração para

compor (Canto I, est. 4 e 5, entre outras)

Proposição: apresentação

do assunto da epopeia (Canto I, est. 1-3)

Estrutura externa Estrutura interna

5- Estrutura da obra

• Esquema rimático abababcc

(rima cruzada e rima emparelhada)

Plano da Viagem de Vasco

da Gama à Índia

Plano da Mitologia

Quatro planos

6 - Os planos d’Os Lusíadas

Plano das Reflexões

do Poeta

Plano da História

de Portugal

Plano da viagem de Vasco

da Gama até à Índia

Os planos d’Os Lusíadas

A meio da viagem In media res

• O plano da viagem inicia-se no Canto I, estância 19, com a frota

de Vasco da Gama a navegar perto da costa oriental africana.

• Paragem em Melinde (segue-se uma analepse

para narrar episódios da História de Portugal).

• Chegada a Calecute.

• Regresso a Portugal.

Frota de Vasco da Gama

numa gravura do século XVI.

Retrato de Vasco da Gama,

Escola Portuguesa (século XVI)

Prolepses: acontecimentos posteriores à viagem de Vasco da Gama

Analepses: acontecimentos anteriores à viagem de Vasco da Gama

Constituído por momentos em que há referências a personagens

que se destacam, nos momentos anteriores à fundação ou

durante os vários reinados até D. Manuel I

Constituído por momentos em que são narrados

episódios marcantes da História de Portugal

Plano encaixado na narrativa da viagem de Vasco da Gama

Plano da História de Portugal

Os planos d’Os Lusíadas

Canto V — Intervenção do Gigante Adamastor (episódio em que se cruzam

o plano da viagem, o plano da História de Portugal e o plano mitológico)

Canto I — Consílio dos deuses no Olimpo; tem como finalidade

decidir o futuro dos Portugueses no Oriente; as divindades são divididas

em adjuvantes (Vénus e Marte) e oponentes (Baco). Baco terá várias

intervenções junto da armada (objetivo: pôr os Portugueses em risco)

Constituído por momentos em que os deuses romanos

têm uma intervenção na ação

Plano paralelo à narrativa da viagem de Vasco da Gama

Plano da mitologia

Os planos d’Os Lusíadas

Luigi Sabatelli, Olimpo

Canto X — Banquete oferecido por Tétis; desvendar

da Máquina do Mundo e profecias sobre novas ações dos Portugueses

Canto IX — Os marinheiros encontram a ilha dos Amores,

local preparado por Vénus para recompensar

os Portugueses pelas suas ações sublimes

As intervenções de Baco são de natureza variada. No Canto VIII,

surge em sonhos a um sacerdote indiano, aconselhando-o

a tomar medidas contra os portugueses

Canto VI — Consílio dos deuses marinhos; é fruto de um pedido de Baco.

Tem como objetivo impedir que os Portugueses cheguem ao Oriente.

A tempestade desencadeada é aplacada por ninfas enviadas por Vénus

Símbolo da elevação

dos navegadores

e marinheiros

à condição de imortais,

através da sua ligação

com as ninfas.

Os planos d’Os Lusíadas

Plano da mitologia

Ilha dos Amores

Os planos d’Os Lusíadas

Almada Negreiros, Tétis Mostra a Vasco da Gama a Máquina do Mundo (1961).

Plano da mitologia

Os planos d’Os Lusíadas

Columbano

Bordalo Pinheiro,

Camões e as

Tágides (1894).

Plano das reflexões do Poeta

Proposta de um novo ideal de herói

Lamento sobre a falta de cultura da elite portuguesa

Considerações de carácter didático e crítico

Plano ocasional; surge no final dos cantos

Plano das reflexões do Poeta

Os planos d’Os Lusíadas

Reflexão sobre a atuação dos portugueses seus contemporâneos

Época de ganância

e corrupção provocadas

pelas riquezas do Oriente

Segunda metade

do século XVI

Época de aventura, heroísmo,

coragem, virtude

1497-1498

(viagem de Vasco da Gama)

Ação da obra Produção da obra

Contexto de

Os planos d’Os Lusíadas

vs.

Plano das reflexões do Poeta

Canto I (estâncias 105 e 106)

Os planos d’Os Lusíadas

«Ó grandes e gravíssimos perigos,

Ó caminho da vida nunca certo»

(vv. 5-6, est. 105, Canto I)

Reflexão sobre a incerteza que marca a vida do Homem,

exposta a numerosos perigos e obstáculos

Plano das reflexões do Poeta

Canto I - O poeta reflete sobre a fragilidade da vida humana face aos vários perigos enfrentados no mar e na terra.

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Canto V (estâncias 92-100)

Os planos d’Os Lusíadas

Lamento sobre a falta de cultura

da elite portuguesa

Reflexão sobre o topos clássico «as armas e as letras»

Referência ao papel da Poesia/Literatura (o canto)

• Imortaliza os heróis

do passado

• Incentiva a virtude

nos contemporâneos

Plano das reflexões do Poeta

Canto V – Reflexão do poeta contra os portugueses contemporâneos que desprezam a Poesia.

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Canto VI (estâncias 95-99)

Os planos d’Os Lusíadas

Definição do verdadeiro herói

Não se apoia nos feitos

dos antepassados

Alcança a glória através

do seu próprio mérito

Não vive de forma

ociosa

Plano das reflexões do Poeta

Canto VII (estâncias 2-14)

Os planos d’Os Lusíadas

Elogio a Portugal, utilizado como

exemplo para os restantes países europeus

por ser notável na expansão da fé cristã

Crítica aos restantes países europeus,

«míseros Cristãos» (v. 1, est. 9) envolvidos

em lutas fratricidas

Plano das reflexões do Poeta

Canto VII (estâncias 78-87)

Os planos d’Os Lusíadas

Invocação e Reflexão:

o Poeta apresenta-se a si como modelo do ideal

de heroísmo já exposto anteriormente

Plano das reflexões do Poeta

Canto VII – Invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios.

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Marinus van Reymerswaele,

O cambista e a sua mulher (1539).

Canto VIII (estâncias 96-99)

Os planos d’Os Lusíadas

Crítica à excessiva importância dada ao ouro,

enumerando os seus efeitos negativos

Plano das reflexões do Poeta

Canto VIII – Reflexões amargas acerca da omnipotência do“metal reluzente”.

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Canto IX (estâncias 25-30)

Os planos d’Os Lusíadas

Apresentação da teoria do «Perfeito Amor»

(o Amor enquanto força corretora

do Mal do mundo)

Crítica aos que governam

em função do seu próprio interesse

Plano das reflexões do Poeta

Canto IX (estâncias 88-95)

Os planos d’Os Lusíadas

Apresentação do significado

da «Ilha angélica pintada» (v. 2, est. 89):

a recompensa através da imortalidade

Enumeração das condições necessárias

para alcançar a Fama e a Glória

Plano das reflexões do Poeta

Canto IX – Reflexão sobre o significado da Ilha dos Amores.

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Canto X (estâncias 145-156)

Os planos d’Os Lusíadas

Expressão do desalento em relação à Pátria

que não reconhece o valor da sua obra

Convite ao rei, D. Sebastião,

para que veja os seus «vassalos excelentes»

(v. 8, est. 146)

Plano das reflexões do Poeta

Canto X – Reflexão sobre a decadência da pátria, “a austera e apagada vil tristeza”; exortações a D. Sebastião; vaticínios de futuras glórias.

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Os episódios d’Os Lusíadas

A par dos Planos Narrativos, encontramos no poema várias unidades narrativas menores. São os chamados episódios que se podem agrupar da seguinte forma.

Episódiosbélicos

Episódioslíricos

Episódios simbólicos

Episódios naturalistas

Episódiosmitológicos

Batalha de Ourique

(c.III)

FermosíssimaMaria(c.III)

Sonho de D. Manuel

(c.IV)

Fogo de Santelmo(c.V)

Consílio dos Deuses no Olimpo

(c.I)

Batalha do Salado(c.III)

Inês de Castro(c.III)

Velho do Restelo(c.IV)

Tromba Marítima(c.V)

Consílio dos Deuses Marinhos

(c.VI)

Batalha de Aljubarrota

(c.IV)

Adamastor(c.V)

Tempestade(c.VI)

Ilha dos Amores(c.IX)

Copiar quadro

• Vocábulos cultos: latinismos e helenismos.

• Substituição de termos vulgares por perífrases e metonímias.

• Aforismos e frases de valor proverbial.

• Termos técnicos da área da marinharia e da ciência bélica.

• Forte presença de anástrofes e hipérbatos.

• Tom sublime: abundância de recursos expressivos.

• Descrições expressivas em alguns episódios.

7- Linguagem e estilo

Bibliografia

ANASTÁCIO, Vanda (2012) – «A lenda dourada de Frei Bartolomeu Ferreira», Convergência Lusíada,

27, Janeiro/Julho de 2012, Real Gabinete Português de Leitura, disponível em

http://www.realgabinete.com.br/revistaconvergencia/?p=1220 (consultado em 25 de janeiro de 2015).

CIDADE, Hernâni (1995) – Luís de Camões — o Épico. Lisboa: Editorial Presença, pp. 131-132.

MOURA, Vasco Graça (2001) – «A ilha que não se chamava assim», Oceanos n.º 46, CNCDP,

Abril/Junho 2001, pp. 125-127.

PAIS, Amélia Pinto (2004) – História da Literatura em Portugal — Uma perspetiva didática, vol. I,

Época Medieval e Época Clássica. Porto: Areal Editores, pp. 158-159.

SARAIVA, António José (1980) – Luís de Camões — Estudo e antologia, 3.ª ed. revista. Amadora:

Livraria Bertrand, pp. 125-136.

SARAIVA, António José; LOPES, Óscar (s. d.) – História da Literatura Portuguesa, 16.ª ed. Porto:

Porto Editora.

SENA, Jorge de (1973) – «Aspetos do Pensamento de Camões através da estrutura linguística

de Os Lusíadas», Actas da I Reunião Internacional de Camonistas. Lisboa: Comissão Executiva

do IV Centenário da publicação de Os Lusíadas.