Epístola de Paulo Aos Romanos - Broadus

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CETEF - Profº Pr. Luís Filipe de Azevedo Corrêa_________________________________________________________________ 1 EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS 1 A Epístola de Paulo aos Romanos foi chamada "a constituição da fé cristã" e o "evangelho segundo Paulo". Martinho Lutero denominou este livro "a verdadeira obra prima do Novo Testamento". A lógica, a seqüência e o alcance de Romanos a tornam o padrão teológico do Novo Testamento. É a mais fundamental, vital, lógica, profunda e sistemática apresentação do propósito de Deus na salvação que se encontra na Bíblia. Outros livros da Bíblia contêm discussões da doutrina cristã, mas Romanos fornece a estrutura teológica para uma compreensão total da mensagem cristã. Não pode haver entendimento adequado da igreja primitiva fora de um estudo completo deste livro. A IGREJA DE ROMA A CIDADE A capital do Império Romano justificava sua prerrogativa de ser a cidade principal, maior que Atenas, Alexandria e Antioquia. Embora situada na parte ocidental do mundo romano, ela mantinha ligações íntimas com as áreas mais remotas de seu domínio. Roma era a figura dominante em todas as questões imperiais: políticas, sociais, militares, comerciais e religiosas. Embora os primórdios da cidade estejam obscurecidos em mito e mistério, o calendário romano data de 753 a.C. A cidade estava situada a dezenove quilômetros da costa, o que a protegia de ataque marítimo. Seus muros rodeavam sete montes, entre dois dos quais (o Capitolino e o Palatino) estava localizado o Fórum, a sede administrativa do Império. Roma era a capital de um território que incluía todas as regiões fronteiriças do Mediterrâneo, os países antigos do Oriente Próximo e do Oriente Médio, a Bretanha e as partes do Nordeste da África. Roma foi construída através de conquistas e sustentada pelo gênio de sua força militar, competência administrativa e rapidez de comunicações. Para esta rapidez, muitas estradas excelentes foram construídas até as partes mais remotas do Império, todas levando até Roma. Por causa de suas conquistas e empreendimentos comerciais, Roma era uma cidade de imensa riqueza. Pessoas de todas as partes do Império vinham a Roma para participar da vida 1 HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1983.

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EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS1

A Epístola de Paulo aos Romanos foi chamada "a constituição da fé cristã" e o "evangelho segundo Paulo". Martinho Lutero denominou este livro "a verdadeira obra prima do Novo Testamento". A lógica, a seqüência e o alcance de Romanos a tornam o padrão teológico do Novo Testamento. É a mais fundamental, vital, lógica, profunda e sistemática apresentação do propósito de Deus na salvação que se encontra na Bíblia. Outros livros da Bíblia contêm discussões da doutrina cristã, mas Romanos fornece a estrutura teológica para uma compreensão total da mensagem cristã. Não pode haver entendimento adequado da igreja primitiva fora de um estudo completo deste livro.

A IGREJA DE ROMA

A CIDADE

A capital do Império Romano justificava sua prerrogativa de ser a cidade principal, maior que Atenas, Alexandria e Antioquia. Embora situada na parte ocidental do mundo romano, ela mantinha ligações íntimas com as áreas mais remotas de seu domínio. Roma era a figura dominante em todas as questões imperiais: políticas, sociais, militares, comerciais e religiosas.

Embora os primórdios da cidade estejam obscurecidos em mito e mistério, o calendário romano data de 753 a.C. A cidade estava situada a dezenove quilômetros da costa, o que a protegia de ataque marítimo. Seus muros rodeavam sete montes, entre dois dos quais (o Capitolino e o Palatino) estava localizado o Fórum, a sede administrativa do Império. Roma era a capital de um território que incluía todas as regiões fronteiriças do Mediterrâneo, os países antigos do Oriente Próximo e do Oriente Médio, a Bretanha e as partes do Nordeste da África.

Roma foi construída através de conquistas e sustentada pelo gênio de sua força militar, competência administrativa e rapidez de comunicações. Para esta rapidez, muitas estradas excelentes foram construídas até as partes mais remotas do Império, todas levando até Roma. Por causa de suas conquistas e empreendimentos comerciais, Roma era uma cidade de imensa riqueza. Pessoas de todas as partes do Império vinham a Roma para participar da vida extravagante na capital. Durante o primeiro século da era crista, acima de 1.500.000 pessoas habitavam em Roma, das quais 800.000 eram escravos. A riqueza e a cultura romanas exigiam uma multidão de escravos domésticos. As pessoas que vinham a Roma, fossem livres ou escravas, traziam com elas sua base cultural e religião próprios. Grande parte dessa cultura e religião foi assimilada na cultura romana, mas grande parte também permaneceu separada e distinta. Embora o latim fosse a língua oficial, a língua comumente falada em Roma e no Império era o grego, a língua universal do comércio e das nações, a língua franca da época. Só pelo terceiro e quarto séculos é que o latim substituiu o grego como a língua comum do Império.

Roma administrava suas possessões, na maior parte, com igualdade e justiça. Seus exércitos mantinham as estradas relativamente livres de salteadores e rapidamente suprimiam qualquer rebelião incipiente. O primeiro século da era cristã foi a época da Pax Romana. Foi devido ao governo romano que o cristianismo foi capaz de se propagar livremente através do Império, nas primeiras décadas importantes da existência da Igreja. Roma era o centro desse Império, e Paulo escreveu à igreja o mais profundo documento de importância teológica e ética que se encontra em toda a literatura.

A FUNDAÇÃO DA IGREJA

A história real da fundação da igreja em Roma perdeu-se para nós. Não existe nenhuma referência direta, no Novo Testamento, acerca dela nas cartas de Paulo, e Pedro também silencia 1 HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1983.

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sobre ela. Clemente de Roma não escreveu acerca da fundação dessa igreja, embora ele tenha escrito que Paulo e Pedro, ambos, foram martirizados lá. Eusébio preserva uma tradição de Irineu, de que Paulo e Pedro juntos fundaram a igreja; mas está evidente em Atos e nas epístolas paulinas que Paulo não participou nessa fundação. As palavras de Irineu dificilmente podem significar outra coisa senão que Paulo e Pedro estiveram em Roma durante a época da perseguição neroniana (64-68 d.C.) e foram instrumentos no fortalecimento da fé dos crentes romanos durante aqueles anos terríveis e difíceis.

A tradição mais provável é preservada por um escritor do quarto século, cujo nome é Ambrosiaster, ele próprio um membro da igreja em Roma, que, num comentário sobre a Epístola aos Romanos, escreveu que estes haviam aceitado a fé cristã (ainda que de acordo com o tipo judaico) sem o trabalho de qualquer apóstolo ou por milagres entre eles. Isto parece representar uma tradição autêntica, pois, se um apóstolo tivesse estado presente nessa fundação, a igreja em Roma teria preservado tal informação indubitavelmente mediante a exclusão de qualquer documento que negasse a presença de um apóstolo. Que uma igreja poderia ser fundada sem a presença de um apóstolo está claro na narrativa de Atos 11:19-22, sobre a igreja em Antioquia da Síria.

A tentativa de se colocar Pedro em Roma antes de Paulo é considerada desespero de causa, e ela é rejeitada, de maneira certa, por praticamente todos os estudiosos do Novo Testamento hoje. A observação de Lucas, em Atos 12:17, sobre a ida de Pedro "para outro lugar", foi entendida, pelos escritores católicos romanos mais conservadores, como significando sua ida a Roma por volta de 44-45 d.C. Contudo, Pedro esteve em Jerusalém logo depois (At. 15; Gál. 2) e em seguida em Antioquia. Em Romanos 16 Paulo parece tentar encontrar todo elo possível entre si e a igreja em Roma, e Pedro em nenhuma parte é mencionado nesta carta. Paulo também afirma que ele evitava edificar sobre alicerce de outrem (Rom. 15:20). Isto claramente indicaria que Pedro não esteve em Roma antes da ocasião da escrita desta carta. Pedro também mencionado não é mencionado em nenhuma das epístolas da prisão nem em II Timóteo. Paulo era um escritor cuidadoso demais, para omitir um fato tão evidente. Se Pedro estava lá quando Paulo chegou, o silêncio de Atos é espantoso. Se Pedro estava lá quando as epístolas da prisão foram compostas, o silêncio é admirável. Se Pedro estava lá antes ou durante o segundo aprisionamento de Paulo em Roma, o silêncio de II Timóteo é inexplicável. Portanto, é de maneira geral aceito por todos os estudiosos do Novo Testamento, incluindo os católicos romanos, que Pedro não foi a Roma para fundar a igreja. Mas é igualmente aceito, mesmo por eruditos protestantes, que Pedro foi a Roma pouco antes de sua morte em 68 d.C.

A tradição preservada por Ambrosiaster, de que a fé cristã da igreja em Roma era do tipo judaico, confirma as palavras de Atos 2:10, que havia judeus de Roma em Jerusalém no Pentecostes. É bem sabido que havia uma colônia de cerca de 40.000 judeus em Roma, com suas sinagogas, durante o primeiro século. Muitos dos judeus devotos fariam a viagem a Jerusalém para os importantes festivais judaicos, dois dos quais eram a Páscoa e o Pentecostes. De Atos 2, deve-se concluir que alguns deles se converteram e retornaram a Roma, levando os elementos básicos do evangelho consigo, e, assim, formando o núcleo de uma igreja. As viagens de Roma e para Roma eram comuns, e pareceria provável que os crentes chegariam a Roma com maiores informações sobre o cristianismo, ou que os crentes de Roma viajariam para Jerusalém e de Jerusalém, para aprender mais acerca de seu Salvador e sua nova fé. A perseguição que se seguiu à morte de Estevão deu ímpeto à expansão do cristianismo (At. 8:4; 11:19), e, assim como alguns foram para Antioquia da Síria, certamente outros teriam fugido para Roma. Pelo fato de que Antioquia era uma tão importante cidade comercial, havia comunicação constante entre ela e Roma. Por esta razão, o evangelho pode ter ido à parte oeste, desde Antioquia, com discípulos não identificados, assim como foi para o leste, com Barnabé, Paulo e Silvano.

A melhor solução para o problema acerca da fundação da igreja em Roma é que discípulos não identificados, aqueles que se converteram no Pentecostes (At. 2), retornaram a Roma com os elementos básicos do evangelho, formando o núcleo de uma igreja. Com as viagens constantes entre Roma, Antioquia e Jerusalém, a igreja cresceu tanto numericamente quanto na fé e no

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conhecimento do Senhor Jesus Cristo.

A COMPOSIÇÃO DA IGREJA EM ROMA

Da informação acima, deve-se conceder que a igreja em Roma inicialmente era judaica quanto ao seu caráter. Se, segundo Ambrosiaster, a igreja era do tipo judaico, ela teria sido muito parecida com a igreja em Jerusalém no início, com a proclamação restringida à comunidade judaica, e teria feito uso das sinagogas para a adoração. Os crentes se reuniriam durante os dias de semana, de casa em casa, para oração e instrução acerca de sua nova fé. O cristianismo parece ter feito invasões tais dentro da fé judaica tradicional que, depois de alguns anos, levantou-se um conflito entre judeus crentes e descrentes. Suetônio, historiador romano, escreveu que Cláudio ordenou a expulsão dos judeus de Roma (por volta de 49 d.C.) por causa de um constante* tumulto no setor judaico sob a "instigação de Chrestus". Pensa-se que isto foi, na realidade, o conflito incitado pela pregação sobre Cristo. Quantos judeus foram expulsos não se sabe. Todavia, sabe-se que grandes números deles realmente partiram, entre os quais estavam Priscila e Áqüila (At. 18:2). Sabe-se ainda que, após a morte de Cláudio em 54 d.C, os judeus tiveram permissão de voltar, sob o governo de Nero.

Com a expulsão dos judeus, sente-se que a igreja em Roma tornou-se basicamente uma igreja gentia. Talvez o tumulto tenha surgido porque tantos gentios estavam sendo salvos e se tornaram uma ameaça aos judeus descrentes. Quando Paulo escreveu à igreja (56 d.C), está evidente que ele endereçou a carta a uma congregação mormente gentia. Em Romanos 11:13, Paulo afirma: "Mas é a vós, gentios, que falo; e porquanto sou apóstolo dos gentios..." Ele escreve (1:5,6) que é o apóstolo dos gentios "entre os quais sois também". Em outro lugar, em sua carta, Paulo escreve a não-judeus, acerca de seu povo, os judeus (9:3; 10:1; 11:15; caps. 25,26, 30,31, etc).

Contudo, parece realmente haver várias referências a uma minoria judaica. O argumento de Romanos 2 é melhor entendido por um cristão judeu; a menção de pessoas com nomes judeus (Rom. 16) indica que Paulo conhecia alguns irmãos judeus na igreja. Paulo menciona Priscila e Áqüila e "a igreja que está na casa deles" (16:5), o que significaria que pelo menos estes bem conhecidos judeus cristãos estavam na igreja em Roma. As passagens sobre privilégios e responsabilidades iguais de judeus e gentios (1:16; 3:29; 10:12) e a discussão acerca da nação judaica capítulos 9 a 11, seriam fúteis sem leitores judeus. Oscar Cullmann sugere que o conflito a que Paulo se refere em Filipenses 1:12-30 foi um conflito entre judeus cristãos e gentios (Peter: Disciple, Apostle, Martyr — Pedro: Discípulo, Apóstolo, Mártir, p. 106-108). Ele sugere que Pedro chegou a Roma para acalmar um elemento judaico, e, com a falha de Pedro, o elemento judaico traiu os cristãos gentios, entregando-os nas mãos das autoridades romanas. Tácito (Ann., 15,44), um historiador romano, escreveu acerca de uma grande multidão de cristãos que foram martirizados durante a perseguição de Nero, que se seguiu ao incêndio de Roma. Talvez Apocalipse 2:9 seja uma referência encoberta à traição dos cristãos pelos judaizantes. Paulo sempre enfrentou este problema em seu ministério, e o elemento judaico, na igreja em Roma, provavelmente seguiria o mesmo padrão, na tentativa de vencer o forte grupo cristão gentio.

AUTOR, OCASIÃO E PROPÓSITO

Pouca dúvida há de que Paulo seja o autor da Epístola aos Romanos. Clemente de Roma estava bem familiarizado com esta carta. Ela está incluída em todas as listas de cartas de Paulo. Somente os seguidores mais liberais da Escola de Tübingen (seguidores de Bruno Bauer) negariam a autoria paulina. Esta carta, juntamente com I e II Coríntios e Gálatas, tem o lugar mais seguro na aceitação dos vinte e sete livros do Novo Testamento. O amanuense desta carta foi Tércio (Rom. 16:22), aparentemente um membro da igreja em Corinto. Alguns acham que ele era, possivelmente, um escravo de Gaio (a quem Paulo batizou em sua primeira viagem a Corinto — I Cor. 1:14) que, como anfitrião de Paulo, pôs este escravo à disposição de Paulo, para a composição desta carta. Isto,

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contudo, apenas pode ser uma conjetura.

OCASIÃO

Em Atos 19:21,22 e 20:1-3 pode-se ver que Paulo deixou Éfeso e viajou para Corinto. Ele enviou irmãos de confiança adiante dele, a fim de persuadir as igrejas da Macedônia e de Acaia para coletarem uma oferta "para os pobres dentre os santos" de Jerusalém (Rom. 15:26). Ele planejara ir a Jerusalém com a oferta, e depois, a Roma (At. 19:21). Sentia que seu ministério no Oriente estava por terminar, e pensou em ir à Espanha (Rom. 15:24). Passando através das áreas mencionadas, ele coletou as ofertas e estava se delongando em Corinto por três meses antes de partir para Jerusalém. Talvez a delonga tivesse por fim solidificar sua permanência na igreja coríntia, em sucessão à época de conflito refletida na correspondência dirigida aos Coríntios. Em Romanos, Paulo demonstra o seu grande desejo de visitar Roma e conseguir algum fruto de seu ministério entre os gentios, naquela grande cidade, como o teve em outros países gentios (1:13). Mas, a visita a Roma seria apenas de familiarização, porque ele queria prosseguir para a Espanha, a fim de ministrar lá. Portanto, Paulo escreveu que planejara ir a Jerusalém, com a "oferta de paz", e depois à Espanha, via Roma. Ele também achava que a igreja em Roma, em virtude do seu tamanho e fé, podia ajudá-lo na sua ida à Espanha (Rom. 15:24). Ele queria que os irmãos participassem de seu ministério aos gentios, visto eles próprios, em sua maioria, serem gentios. Talvez ele tivesse em mente que Roma podia tornar-se a base para seu ministério apostólico no Ocidente, em grande parte, como Antioquia havia sido para o ministério do Oriente.

Paulo aproveitou-se dos três meses, durante o inverno de 55-56 d.C. (At. 20:3), em Corinto, para ordenar seus pensamentos num documento muito bem escrito. Não resta a menor dúvida que esta carta é a melhor organizada e mais bem pensada de todas as cartas de Paulo. As palavras foram cuidadosamente escolhidas, e a cadência de cada sentença foi moldada para produzir o máximo efeito. Provavelmente, pela primeira vez Paulo teve uma folga para compor realmente uma carta para ser ditada. A maioria dos estudiosos acha que Tércio fez pequena reestruturação do genuíno fraseado de Paulo. O documento, conforme chegou às nossas mãos, apresenta o pensamento do homem notavelmente hábil, conhecido como Paulo. Ele também aproveitou-se de uma viagem a Roma, planejada por Febe, membro de uma igreja nas circunvizinhanças de Cencréia. A única coisa que se sabe a respeito desta "irmã" se encontra em Romanos 16:1,2. Ela, que devia levar esta carta a Roma, era também "ministro" (diákonos) da igreja em Cencréia, e tinha sido uma auxiliar útil, tanto na igreja como no ministério de Paulo. Ele confiou-lhe esta carta de suma importância. É evidente que Febe não falhou neste ministério (diakonia).

PROPÓSITO

O propósito imediato da Epístola aos Romanos era Paulo apresentar-se à igreja em Roma, a fim de obter apoio entre os irmãos. Ele queria ir até eles não como um estranho, mas como alguém com quem pudesse se identificar no ministério dele aos gentios. Ele escreveu-lhes sobre o seu grande desejo de visitá-los, para se fortalecerem mutuamente na fé (1:11,12). Por outro lado, talvez ele tivesse em mente que Roma poderia servir de base para o seu ministério no Ocidente.

Paulo também tinha boas razões para duvidar do resultado de sua visita a Jerusalém. Ele tinha que lutar constantemente contra os judaizantes, os judeus cristãos que queriam que todos os gentios cristãos se tornassem prosélitos do judaísmo. Tinha a esperança de que as ofertas, enviadas por igrejas constituídas principalmente de gentios cristãos, viessem trazer a reconciliação com a influente igreja judaica em Jerusalém. Ele estava incerto sobre como os "santos" de Jerusalém iriam recebê-lo, porém, certo de que os judeus descrentes iriam continuar em sua oposição (Rom. 15:30,31). Isto é um eco de Atos 21:13, onde Paulo afirma que está pronto a ser preso e até para morrer em Jerusalém pelo Senhor Jesus Cristo. Ele, portanto, estava pedindo à igreja em Roma que orasse por ele, em seu ministério em Jerusalém, para que houvesse uma reconciliação dos cristãos judeus com seu ministério aos gentios. Alguns sugeriram que, se Paulo não alcançasse Roma,

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devido à hostilidade esperada em Jerusalém, os cristãos romanos teriam, nesta carta, o evangelho que Paulo lhes teria levado e que teria proclamado na Espanha.

Pelo argumento e estrutura da carta, vê-se claramente que Paulo sabia dos problemas potenciais (se não reais) na igreja. Estes problemas foram encontrados em muitas das igrejas. Paulo sempre teve que lutar para manter um equilíbrio apropriado entre a liberdade cristã e o antinomianismo(Rom. 3:8; 6:1; 7:1-12; etc). Os judaizantes estavam presentes em toda parte (2:17; 3:1-31; 7:13; 9:1-11:36; etc), e o orgulho do cristão forte facilmente exibia uma falta de compreensão e cuidado pelo irmão fraco (14:1-15:7). Tudo isto está incluído nesta carta, possivelmente porque Paulo sabia que teria de confrontar-se com oposição desse tipo quando chegasse a Roma. Paulo queria que eles soubessem o que ele estivera pregando no Oriente e o que ele planejava levar para o Ocidente. Ele queria que eles reconhecessem que todas as suas conclusões éticas práticas eram baseadas no evangelho (12:1), do qual ele era apóstolo (1:1), e não se envergonhava de sua proclamação (1:16).

Todas as declarações do propósito estão ligadas, de algum modo, com a situação histórica. Paulo tem que ir a Jerusalém, antes de poder, possivelmente, chegar a Roma e ser enviado a caminho da Espanha. Assim ele escreveu esta carta para preparar os cristãos de Roma para uma visita posterior, esclarecer sua posição em suas mentes e lançar o alicerce para uma discussão das áreas problemáticas, quando de sua chegada. Por esta razão, a Epístola aos Romanos é ocasional, ou seja, foi escrita para uma ocasião específica, dentro de uma situação histórica.

[...]

ESTRUTURA E CONTEÚDO

Os dezessete primeiros versículos de Romanos formam a introdução. Esta é a maneira normal pela qual Paulo inicia suas cartas. Há as saudações paulinas (1:1-7), seguidas por uma oração de graças, expressando seu interesse nos cristãos romanos (1:8-15). Os dois versículos seguintes (1:16,17) apresentam o tema da carta: a justiça de Deus, conforme revelada em suas ações para com o homem pecador. A pergunta a que Paulo responde por toda a carta é como Deus pode ser justo em salvar alguns, enquanto outros são rejeitados. Como pode Deus ser igualmente justo e ainda justificar o pecador através da aceitação do evangelho (3:26)?

Paulo desenvolve seu tema da justiça de Deus através de uma apresentação sistemática das ramificações tanto da necessidade da boa-nova quanto da realidade dela, boa-nova esta que está em Jesus Cristo (1:16,17). Paulo começa seu argumento insistindo na necessidade universal da justiça de Deus num mundo com uma humanidade pecadora (1:18-3:20). O restante do primeiro capítulo traça os tristes resultados do pecado e a retribuição ("ira de Deus") na degradação da humanidade. Sem excusa, a humanidade mudou o que ela tinha de revelação divina de Deus em mentira (1:25). Os homens estão sem esperança, enredados na teia do pecado, da qual eles não podem nem querem desembaraçar-se. Mesmo aqueles que têm uma revelação mais completa, os judeus, não foram capazes de pôr em prática o propósito de Deus, e, conseqüentemente, afastaram-se da justiça de Deus e estão num estado pior que os pagãos (2:1-3:20). O pecado é uma enfermidade universal e afeta a todos. "Todos pecaram (tanto judeus, como gentios) e destituídos estão da glória de Deus" (3:23). A "ira de Deus" é expressa tanto contra o judeu (2:1-20) quanto contra o gentio (1:18-32).

Neste hiato da condição do homem e a santidade de Deus, Deus interveio para ajudar o pecador com uma justiça que não é "alcançada", mas "enviada para baixo" (3:21). Deus é capaz de ser justo e ao mesmo tempo ser aquele que torna o pecador justo (3:26), por causa de uma nova posição concedida ao crente que tem fé na obra de Jesus Cristo (3:22-25). O pecador é declarado justo, não por causa de algo que tenha feito, mas porque ele se tornou uma nova pessoa em Jesus. Esta novidade de vida resulta do arrependimento e fé na morte e ressurreição de Jesus. Através da aceitação da obra de Jesus pelo pecador, Deus concede-lhe uma nova posição: a justificação (4:24,25).

A justiça de Deus é mantida ao ele salvar o pecador, porque a salvação implica que o

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pecador é uma nova pessoa, a velha pessoa estando morta (5:1-8:39). A salvação que uma pessoa recebe através de Jesus Cristo, pela graça e pelo amor de Deus, é vista como reconciliação do pecador com Deus (5:1-21); como santificação, no desenvolvimento contínuo, na semelhança de Cristo, no crente, através da conquista sobre o poder do pecado na vida (6:1-23); como libertação da escravidão ao pecado e libertação para a obediência a Deus através de Jesus (7:1-25); e filiação, ao ser adotado na família de Deus através de Jesus e do poder do Espírito Santo, reproduzindo, na vida cristã, a vida do Filho (8:1-39).

A justiça de Deus pode ser vista na maneira pela qual Deus está dirigindo a história com um propósito em direção a um alvo. Um problema de grande importância é como Deus pode ser justo em seu procedimento com o Israel histórico. Parece que Deus rejeitou Israel, em favor dos gentios. Paulo trata deste problema da justiça de Deus ao falar acerca do propósito de Deus na história (9:1-11:36). Paulo escreve acerca da eleição de Israel por Deus e a incredulidade por parte do Israel nacional (9:1-5). Depois ele apresenta a doutrina da eleição conforme vista à luz da promessa de Deus (9:6-13), da justiça de Deus (9:14-18), a liberdade de Deus em eleger quem quer que ele escolha (9:19-26) e o conceito veterotestamentário do remanescente (9:27-29). O capítulo 10 relata os princípios de privilégio e responsabilidade. Israel, que recebera as revelações de Deus, escolheu considerar estas revelações e privilégios e recusou aceitar as responsabilidades vinculadas ao processo da revelação. Deus pretendera que Israel se tornasse uma nação de sacerdotes (missionários), para propagar o conhecimento de seu amor e misericórdia por todo o mundo. Neste propósito, o Israel nacional falhou. O capítulo 11 sustenta a justiça de Deus em seu procedimento para com um povo desobediente e mostra os resultados da recusa de Israel em ser servo de Deus. Há um remanescente, contudo, que, pela fé, aceita a graça divina (11:1-6). A maioria, contudo, rejeita qualquer coisa que fale da graça e não de recompensa por guardar as tradições construídas em torno da Lei (11:7-10). É através do propósito e misericórdia de Deus que o remanescente fiel (verdadeiro Israel) está levando avante a obra de Deus, na proclamação do evangelho aos gentios, que estão sendo salvos (11:11-24). Por esta obra de Deus, de salvar os gentios, os judeus, por sua vez, aceitarão o único meio de salvação: o caminho de Deus da justiça (11:25-32). Toda esta obra de Deus para com a humanidade sofredora demonstra que ele tem um propósito na história, e sua sabedoria está em operação, para revelar a toda a humanidade seu dom de justiça, que é a salvação (11:33-36).

Tendo completado um estudo na teologia da justiça de Deus, Paulo agora prossegue, mostrando as implicações da justiça de Deus no viver diário. Há um lado ético da teologia (12:1-15:13). A justificação implica em viver-se uma vida cristã. O dom de Deus da graça e amor envolve um viver sacrificial em relação com outras pessoas (12:1,2). A vida cristã é uma convocação a viver-se em Cristo (12:3-8) e andar em amor (12:9-21). A justiça de Deus é mantida no crente que vive uma vida submissa, em obediência a Deus (13:1-14) e uma vida dedicada a Deus, através do auxílio a todos com quem o crente entra em contato, para que conheçam a graça e o amor de Deus (14:1-15:13)

O restante da carta é dedicado aos planos feitos por Paulo, de ir à Espanha, via Jerusalém e Roma (15:14-33). Ele escreve uma carta de apresentação para Febe, que deve levar a carta (16:1), e envia saudações a vários membros da comunidade cristã de Roma que ele conhece (16:2-23). Uma bênção (16:24) e uma doxologia (16:25-27) concluem a carta.

A exortação dada por William Tyndale, em seu prólogo à Epístola aos Romanos, conclui com as seguintes palavras apropriadas:

Agora vai também, leitor, e, de acordo com a ordem do escrito de Paulo, faze o mesmo. Primeiro, contempla-te diligentemente na lei de Deus, e vê lá tua justa condenação. Em segundo lugar, volta teus olhos para Cristo, e vê lá a enorme misericórdia de teu mui bondoso e amoroso Pai. Em terceiro lugar, lembra-te que Cristo não fez esta expiação para tu ires a Deus novamente; tampouco morreu ele por teus pecados para que novamente vivas neles; nem purificou-te para que tu voltes (como um porco) ao teu velho chiqueiro outra vez;

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mas para que tu sejas uma nova criatura e vivas uma nova vida, segundo a vontade de Deus, e não segundo a carne. E sê diligente, para que, pela tua própria negligência e ingratidão, não percas o favor e a misericórdia outra vez. (Citado em F. F. Bruce, The Epistle to the Romans — A Epístola aos Romanos, p. 284)

EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOSESBOÇO

INTRODUÇÃO

I. Saudação (1:1-17) II. Ações de Graças (1:8-15) III. O Tema da Epístola: A Justiça de Deus (1:16,17)

A NECESSIDADE DA JUSTIÇA DE DEUS (A Ira de Deus) (1:18-3:20)I — A Ira de Deus no Mundo Pagão (1:18-32) 1. A Impiedade (1:18-25) 2. A Injustiça (1:26-32)II — A Ira de Deus no Mundo Judaico (2:1-3:8) 1. Os Judeus e o Julgamento (2:1-16) 2. Os Judeus e a Lei (2:17-29) 3. Os Judeus e as Escrituras (3:1-8)III — Todas as Pessoas Estão Debaixo do Poder do Pecado: A Rejeição da Revelação (3:9-20)

A JUSTIÇA DE DEUS REVELADA NUM ESTADO NOVO: A JUSTIFICAÇÃO (3:21-4:25)

I — A Justiça de Deus Demonstrada (3:21-31) 1. O Conceito da Justiça de Deus (3:21-26) 2. Os Corolários da Justiça de Deus (3:27-31)II — A Justiça de Deus Ilustrada (4:1-25) 1. Abraão Foi Justificado Pela Fé (4:1 -8) 2. Abraão Foi Justificado Pela Fé Antes da Circuncisão (4:9-12) 3. Abraão Recebeu a Promessa Antes de a Lei Ser Dada (4:13-15) 4. Abraão É o Tipo Verdadeiro dos Justificados Pela Fé (4:16-25)

A JUSTIÇA DE DEUS REVELADA NUMA SALVAÇÃO QUE SIGNIFICA VIDA NOVA E JUSTIÇA (5:1-8:39)

I — Salvação Como Reconciliação (5:1-21) 1. A Natureza da Graça (5:1-5) 2. A Necessidade da Graça (5:6-11) 3. O Reinado da Graça (5:12-21)

II — Salvação Como Santificação (6:1-23) 1. Santificação e Pecado: Dois Domínios (6:1-14)

1) Apelo ao Batismo Cristão (6:1-4) 2) Apelo ao Ministério de Cristo (6:5-11) 3) Apelo ao Compromisso Cristão (6:12-14)

2. Santificação e Escravidão: Dois Destinos (6:15-23) 1) As Obras da Escravidão: Duas Escravidões (6:15-19) 2) Os Salários da Escravidão: Duas Liberdades (6:20-23)

III — Salvação Como Libertação (7:1-25) 1. A Lei e a Libertação: Analogia dum Segundo Casamento (7:1-6) 2. A Lei e o Pecado: Analogia de Adão no Paraíso (7:7-12) 3. A Lei e a Morte: Analogia do Mercado de Escravos (7:13-20) 4. A Conclusão: A Lei de Duas Leis (7:21-25)

IV — Salvação Como Filiação (8:1-39) 1. O Espírito de Deus (8:1-28)

1) A Lei e a Mente do Espírito (8:1-8)

Page 8: Epístola de Paulo Aos Romanos - Broadus

CETEF - Profº Pr. Luís Filipe de Azevedo Corrêa_________________________________________________________________ 8

2) O Espírito Que Habita em Nós (8:9-11) 3) A Vida, Liderança e Testemunho do Espírito (8:12-17) 4) As Primícias do Espírito (8:18-25) 5) A Intercessão do Espírito (8:26,27)

2. O Amor de Deus (8:28-39) 1) O Propósito do Amor de Deus (8:28-30) 2) O Poder do Amor de Deus (8:31-39)

A JUSTIÇA DE DEUS REVELADA NO PROPÓSITO DE DEUS NA HISTÓRIA (9:1-11:36)

I — A Eleição de Israel por Deus (9:1-29) 1. Introdução: Incredulidade Nacional de Israel (9:1-5) 2. Eleição e a Promessa de Deus (9:6-13) 3. Eleição e a Justiça de Deus (9:14-18) 4. Eleição e a Liberdade de Deus (9:19-26) 5. Eleição e o Restante (9:27-29)

II — Os Judeus Rejeitam a Justiça de Deus (9:30-10:21) 1. A Justiça de Deus (9:30-10:13) 1) Cristo Como Pedra de Tropeço (9:30-33) 2) Cristo Como o Fim da Lei (10:1-4) 3) Cristo Como Senhor (10:5-13) 2. A Responsabilidade de Israel (10:14-21) 1) O Evangelho aos Judeus (10:14-17)

2) O Evangelho aos Gentios (10:18-21) III — A Restauração de Israel por Deus (11:1-36)

1. O Restante de Israel(11:l-10) 1) O Restante Segundo a Eleição da Graça (11:1-6) 2) A Dureza da Maioria (11:7-10)

2. A Salvação dos Gentios (11:11-24) 1) A Pergunta Repetida (11:11,12) 2) O Ciúme de Israel (11:13-16) 3) A Alegoria da Oliveira (11:17-24)

3. A Salvação de Israel (11:25-36) 1) O Mistério de Israel (11:25-32) 2) A Sabedoria de Deus (11:33-36)

A JUSTIÇA DE DEUS REVELADA NO COMPORTAMENTO CRISTÃO (12:1-15:13)

1 — Amor Como uma Vida Sacrificada (12:1-21) 1. Introdução: Sacrifício Vivo (12:1,2) 2. A Comunidade Cristã Como um Corpo: A Chamada a Andar em Cristo (12:3-8) 3. A Comunidade Cristã Como uma Fraternidade:

A Chamada a Andar em Amor (12:9-21) 1) Para com os de Dentro (12:9-13) 2) Para com os de Fora (12:14-21)

II — Amor Como uma Vida Submissa (13:1-14) 1. Lealdade ao Estado (13:1-7) 2. Amor ao Próximo (13:8-10) 3. Comportamento em Tempos Difíceis (Cruciais) (13:11-14)

III — Amor Como uma Vida de Serviço (14:1-15:13) 1. Aqueles Que Têm Escrúpulos (14:1-12) 2. Aqueles Que Provocam Tropeços (14:13-23) 3. Aqueles Que São Fortes na Fé (15:1-13)

EPÍLOGO (15:14-33)I — O Ministério de Paulo aos Gentios (15:14-21)

II — A Visita de Passagem de Paulo em Roma (15:22-29) III — Apelo Para Oração (15:30-33)RECOMENDAÇÃO DE FEBE E SAUDAÇÕES (16:1-23)A BÊNÇÃO (16:24-27)