Episódio O epigrama na Antiguidade
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Guia do Professor
Atividade O epigrama na Grécia antiga
Episódio O epigrama na Antiguidade
Programa Frases célebres
Caro Professor,
Apresentar previamente um resumo do tema do Texto 2 (“O epigrama na Grécia antiga”)
pode tornar a leitura dos alunos mais produtiva: trata-se de uma visão geral sobre as
características da poesia epigramática nas diferentes fases da história da Grécia antiga,
desde o período arcaico até a fase helenística. Esse processo influenciará de modo especial
o epigrama na antiga Roma (assunto das próximas Atividades deste Episódio). É importante
dizer aos alunos que várias das informações apresentadas serão, mais adiante, úteis para a
apreciação de inscrições epigramáticas em si, que, nos exercícios, serão apresentadas em
tradução inédita do grego para o português, junto com uma ilustração dos monumentos em
que foram encontradas.
Além de dar a conhecer obras de um período pouco trabalhado nas disciplinas do currículo
do Ensino Médio, os exercícios desta Atividade têm o objetivo de aplicar questões atuais
pertinentes à análise de textos antigos, propiciando ainda uma reflexão sobre aspectos
Cara, eu faço grafite (uma arte que
cresceu no espaço público) e fiquei
“encucado” com esta história de
poesia como inscrição! Quando
surgiu isso? E quando os epigramas
deixaram de ser inscritos?
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como: a presença da mitologia greco-romana no léxico da língua portuguesa; a história da
literatura; a influência da tradução na interpretação de um texto. Alguns deles se
apresentam no texto da Atividade, outros no software “Epigramas da Grécia antiga”.
O epigrama na Grécia Antiga
Na Grécia antiga, o termo “epigrama” tendia a designar, inicialmente, um certo tipo de
inscrição: breve e em verso. Esse tipo de texto inscrito está entre os primeiros documentos do
alfabeto grego antigo, datando do Período Arcaico da Grécia (séc. VIII-VI a.C.). Inscritos em
material sólido (em pedra, metais, barro), encontram-se epigramas em vasos, taças, em
oferendas aos deuses, lápides funerárias e outros monumentos.
A maioria dos epigramas que resta do Período Arcaico provém dos séculos VII e VI a.C. e tem
apenas um ou dois versos. Tais inscrições tinham em geral a função de celebrar a memória de
alguém, ou de dedicar objetos, quer a deuses e personalidades públicas, quer, num caráter
mais particular, a entes familiares. Fazem, com isso, referência a acontecimentos da vida
pública ou privada da sociedade da época.
Mas é curioso que, dentre os mais antigos epigramas, há exemplos de alguns com caráter
distinto e, digamos, bem menos prático! É o caso da divertida “Taça de Nestor” (século VIII
a.C.!), que brinca com mitologia e talvez parodie um poema de Homero.
Refletindo a difusão da escrita no mundo grego antigo, aumenta o número de inscrições com
epigramas, cujos tipos se foram diversificando. Dentre os fúnebres, por exemplo, além do
“monumento falante” (desde o Período arcaico), surge, a partir do Período Clássico (séc. V e IV
a.C.), o epigrama que dá a voz ao defunto. Este é muitas vezes idealizado como um herói que
oferece sua lição de vida aos mortais.
Com o passar do tempo, os epigramas passam a ter também temas mais variados, e ficam mais
elaborados. Nota-se neles a influência da poesia e da retórica. Há notícias de que seriam
encomendados a poetas líricos e dramáticos. Mas o primeiro autor de quem se têm epigramas
inscritos e assinados é o poeta Íon de Samos (séc. IV a.C).
Além de as inscrições se aproximarem da poesia que era escrita para ser recitada, a poesia também
passa a se aproximar da escrita das inscrições. É no Período Helenístico (a partir da morte de
Alexandre o Grande, em 323 a.C., indo até o final do séc. I a.C.) que ocorre o coroamento desse
processo: muitos epigramas eram compostos como que para serem inscritos, mas muitas vezes eram
somente declamados, ou, mais tarde, divulgados de forma manuscrita (em papiro ou pergaminho).
“Epigrama” passa a ser definitivamente sinônimo de um tipo de poesia.
Livre do “suporte material”, o número e tipo de versos dos epigramas se amplificam ainda mais
e sua forma torna-se mais elaborada. Livre da necessidade de satisfazer a uma situação
específica (que uma inscrição demandaria), os temas, fictícios ou não, se diversificam: amor
regado a vinho, descrições de obras de arte, anedotas, adivinhas, sátiras de tipos sociais e a
própria poesia passam a ser matéria da poesia epigramática.
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Autores:
Autores: Isabella Tardin Cardoso (Coordenadora)
Robson Tadeu Cesila Lilian Nunes da Costa
Carol Martins da Rocha Mariana Musa de Paula e Silva
Exercício 1 No texto desta aula, comentamos que os poemas epigramáticos vão se diversificando
cada vez mais na História da Grécia Antiga. Aqui daremos exemplos de como isso ocorre
nas inscrições sepulcrais. Veremos a seguir: um monumento falante; um epigrama que dá
voz ao defunto; e um epigrama a uma esposa.
A – Epigrama do Monumento Falante
“Plange, em pé, junto ao túmulo de Creso morto, Que outrora na vanguarda Ares veemente aniquilou.”
(Peek GV 1124 (72). Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira)
Glossário Plange: lastima-te, chora. Vanguarda: posição dianteira numa tropa em combate.
Ilustração 1: Monumento Fúnebre em mármore (séc. VI a.C.). Museu Nacional de Atenas (Grécia).
O epigrama acima homenageia um certo Creso. Segundo seu texto:
a) O que teria acontecido com ele? A partir desse epigrama, pode-se deduzir que o
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homenageado teria certas qualidades. Quais seriam elas?
Resposta: Creso teria morrido durante uma guerra (aludida na referência à divindade Ares), em
que ele atuaria em posição de combate. O epigrama é bem sucinto, mas dá a entender que
Creso foi valente (atuava na vanguarda), um herói de guerra.
b) A quem se dirige o imperativo “plange” no epigrama?
Resposta: Ao passante que observasse o monumento ao herói de guerra.
B – Epigrama que dá voz ao morto
Muitos jogos doces com colegas coevos joguei,
Mas eu, que germinei da terra, de novo virei
terra:
Sou Arístocles, do Pireu, filho de Meno.
(Peek GV 1702, GG 100. Tradução de Flávio Ribeiro de
Oliveira)
Glossário
Coevos: contemporâneos, da mesma geração.
Pireu: cidade portuária vizinha a Atenas, na
Grécia.
Ilustração 2: Monumento fúnebre a um filho (após 400 a.C.). British Museum, Londres (Reino Unido).
a) Quem é o homenageado nesse epigrama?
Resposta: Um certo Arístocles, do Pireu, filho de Meno.
b) Como o anterior, este epigrama constitui uma homenagem fúnebre, mas teria
caráter público ou privado? Explique sua resposta
Resposta: O homenageado é apresentado como um filho de alguém, não como um herói: ele é
caracterizado não por suas ações públicas, mas por suas brincadeiras com colegas, enquanto
garoto.
c) Tendo em conta a história dos epigramas na Grécia antiga (Texto 1), explique
por que este epigrama não poderia ser datado da época arcaica.
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Resposta: Porque é um epigrama do tipo que dá voz ao morto, de que só temos registro na época
clássica.
C – Um epigrama que fala do amor
Em vida, ela não admirou nem peplos nem ouro: Ao contrário, amava o próprio esposo e a sensatez. Mas em vez de tua juventude, Dionísia, e de teu vigor, É esta tumba que teu esposo Antífilo adorna.
(Peek GV 1810, GG 92. Tradução de Flávio Ribeiro de
Oliveira)
Glossário
peplo: “variedade de túnica feminina de tecido fino, sem mangas e presa ao ombro, usada na antiga Grécia”. (Dicionário Houaiss)
Ilustração 3: Homenagem fúnebre a uma esposa (c. 350 a.C.). Museu Nacional de Atenas (Grécia).
a) Quem esse epigrama homenageia?
Resposta: Uma certa Dionísia, esposa de Antífilo.
b) Que qualidades o epigrama atribui à pessoa homenageada?
Resposta: O epigrama elogia tanto o desapego de Dionísia em relação a bens materiais, quanto
sua sensatez e o amor pelo marido. Infere-se que tais qualidades a distinguiriam como boa
esposa. Além disso, menciona-se sua juventude e vigor, indicando que provavelmente ela
falecera ainda jovem.
c) Compare o modo como as qualidades são atribuídas aos homenageados, de um
lado, no epigrama de caráter público, de outro nos epigramas de caráter mais
privado. Que semelhanças e diferenças formais entre o primeiro e os dois
últimos você destacaria?
Resposta: Todos os epigramas trazem imagens: do herói lutando na vanguarda, do menino
brincando com colegas, do marido que adorna o túmulo da esposa. Chama a atenção o fato de
que o primeiro epigrama visto, da época arcaica e de caráter público, não usa expressamente de
adjetivos que caracterizem o homenageado, mas se atém ao fato, é mais sucinto. Os outros dois,
de caráter mais privado, fazem mais uso de efeitos poéticos mais expressivos, como por exemplo
jogos de palavras com efeitos de contraste (“germinei da terra, de novo virei terra”; “Mas em
vez de tua juventude, Dionísia, e de teu vigor,/É esta tumba que teu esposo Antífilo adorna.”)
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Exercício 2 Mito e poesia: o enigma da “Taça de Nestor”
Leia o texto abaixo e responda às questões que se seguem.
Caro Professor,
Para despertar o interesse dos alunos, você pode lembrá-los de que vão se deparar com
um dos documentos escritos mais antigos da Grécia antiga, a chamada Taça de Nestor
(séc. VIII a.C.). Como aquecimento, você também pode perguntar se sabem o que é uma
“paródia”. Isso porque, no exercício, eles serão estimulados a cotejar o texto do
epigrama com uma passagem do poema épico Ilíada de Homero e refletir sobre um
possível caráter parodístico daquele.
O exemplo do epigrama da Taça de Nestor pode contribuir ainda para se questionar a
ideia (em que já se acreditou) de que o epigrama era, a princípio, algo apenas
informativo e só muito depois, mais artístico. Assim, evita-se que o aluno tenha a
impressão de que a história da poesia siga uma “evolução” absolutamente regular.
O enigma da “Taça de Nestor”
Uma das inscrições epigramáticas mais interessantes está na “Taça de Nestor”, que foi
descoberta em Ísquia, ilha situada no Golfo de Nápoles, ao Sul da atual Itália. A vasilha é
modelada em barro, como se pode ver na foto abaixo:
Ilustração 4: Taça de Nestor (c. 740 – 735 a.C.). Museu di Villa Arbusto, Lacco Ameno (Itália).
Nela se lê a seguinte inscrição (CEG 454):
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Ilustração 5: Fotografia da inscrição como foi transmitida (parte superior) e após restauração (parte inferior)
Uma vez decifrado, nota-se que o texto é escrito em um grego bastante arcaico, em versos
que podem ser traduzidos, numa versão literal, da seguinte forma:
Sou a Taça de Nestor, boa para beber.
Quem desta taça beber e a esvaziar,
Logo o desejo de Afrodite de bela coroa o tomará. (Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira)
Ou numa versão mais poética:
Sou taça de Nestor, bom copo para poto.
Quem bebe deste copo e esgota todo o poto
Capta apetite de Afrodite calistéfana. (Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira)
Glossário
Poto: bebida
Calistéfana: “a que tem bela coroa”
Para entender melhor o poema, seria preciso saber quem seriam Afrodite e Nestor.
Afrodite (na Grécia) ou Vênus (como é chamada em Roma) é a mãe do deus Eros (em
Roma, o “Amor”). Ela é a deusa do amor em várias de suas facetas, inclusive a do desejo
sexual, e aparece em diversas obras artísticas representada como coroada de flores.
Sabendo-se disso, os versos podem ser entendidos assim: quem beber da taça terá o apetite
sexual estimulado. A vasilha de barro promete um efeito, literalmente, afrodisíaco.
Mas quem é o tal Nestor?
Discute-se muito quem seria o Nestor apontado na taça. Seria ele um habitante da ilha de
Ísquia? Já se cogitou isso. Mas certos estudiosos pensam que se trata de um determinado
herói, o rei de Pilos. Esse herói é retratado como personagem bastante idoso em dois dos
mais importantes poemas épicos da humanidade: a Odisséia e a Ilíada, ambos de Homero.
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Ocorre que na Ilíada é descrita com precisão a taça do rei Nestor. Seria então, como alguns
afirmam, a inscrição da Taça de Ísquia uma referência ao poema homérico? Se sim, trata-se
da primeira alusão literária da Grécia antiga! Uma das dificuldades de se afirmar com
certeza isso é quanto à data. Vimos que a taça provém do século VIII a.C.; mas não se sabe
quando a Ilíada foi composta, se naquela época ou mais próximo do século VII a.C. (sendo
posterior, portanto, à datação da taça).
Porém, caso o epigrama na humilde vasilha estiver mesmo comparando-a à rica e pesada
taça do rei descrita na Ilíada, então seus versos ficam bem engraçados!
a) Revendo os versos abaixo, responda: o que, no epigrama, a taça de Nestor promete
fazer com quem beber nela?
“quem beber dela será tomado
pelo desejo de Afrodite,
que tem bela coroa!”
Resposta: Quem beber da taça terá o apetite sexual estimulado; a taça promete um efeito,
literalmente, afrodisíaco.
b) Comentamos no texto que o epigrama da Taça de Nestor pode ser uma alusão (isto é,
uma referência não explícita, que depende de que o público reconheça o que é
referido) à Ilíada. Mas, o que essa referência quer dizer? Para responder a esta
questão é preciso ir até a obra referida. A taça do herói Nestor é descrita na seguinte
passagem, em que uma moça serve o rei:
Patrícia Reis Braga recita a Ilíada em Semana de Letras da UFPR (Curitiba) – Foto de Gilsom Camargo
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Ilíada, canto XI, versos 628-641
(Tradução de Fernando C. de Araújo Gomes, em prosa)
Ela primeiro colocou diante deles uma bela mesa, muito bem polida, com pés azul-escuros,
e sobre a mesa, colocou um cesto de bronze, com uma cebola como condimento da bebida.
Também colocou o amarelo mel e a sagrada farinha de cevada, e uma bela taça que o
velho trouxera de sua terra, ornada de tachões de ouro. Tinha quatro asas e duas pombas
de ouro de cada lado e duas bases por baixo. Outro homem dificilmente poderia erguê-la
cheia da mesa, mas o velho Nestor levantou-a sem dificuldade. Nela, a mulher semelhante
às deusas misturou vinho praniano e água, e ralou queijo de leite de cabra em cima, com
um ralo de bronze, e espargiu cevada branca por cima, e fê-los beber depois de haver
preparado a bebida.
Segundo esses versos, como era Nestor? E como era sua taça? Você conseguiria desenhá-
la?
Resposta: Nestor parece ter sido um homem rico (pois tem serviçais e taça de ouro) e,
mesmo na idade avançada, forte (pois levantava sozinho uma copa pesada, sem
dificuldade).
Professor, caso sua escola conte com um professor de Educação Artística, este exercício
pode gerar uma produtiva atividade interdisciplinar: caso se queira, ela pode ser
ampliada para o estudo e desenho de ilustrações também de outros mitos greco-romanos
(vide exercício 3 desta Atividade).
c) Que diferenças você vê entre as descrições apresentada na Ilíada e na Taça de Ísquia?
Resposta: Na Ilíada se descreve uma taça suntuosa, com enfeites de outro, e muito
pesada. A Taça de Ísquia (que é de barro) fala das suas qualidades afrodisíacas.
d) Qual a graça em a Taça de Ísquia se apresentar como a de Nestor (se considerarmos
esse Nestor o da passagem da Ilíada)?
Resposta esperada: A graça está precisamente no contraste, não apenas em termos de
riqueza (taça de barro versus de ouro), mas também na brincadeira com o vigor de
Nestor, característica essa relacionada, na Ilíada, à ideia de força física, e, na taça de
Ísquia, à ideia de vigor sexual. O professor pode acrescentar: esse contraste pode ser
visto como uma paródia entre os gêneros poéticos (no caso entre a épica e o epigrama),
o que é por sua vez recurso humorístico em diversas épocas.
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Exercício 3
Software e poesia: “Epigramas da Grécia antiga”
Caro aluno,
Agora, no software, você pode testar e ampliar os conhecimentos que apreendeu até
agora nesta Atividade.
Caro professor,
O software “Epigramas da Grécia antiga” apresenta exercícios que relacionam língua
portuguesa e mitologia greco-romana, bem como revê (com perguntas mais simples)
alguns epigramas vistos nesta Atividade. De forma um pouco mais complexa, o material
será tratado também no jogo final, que envolve todas as Atividades. Para facilitar sua
apreciação do material, transcrevemos os exercícios do software no Guia do Professor
respectivo.
Exercício 4 A tradução como leitura
Caro Professor,
Ao se adotar este exercício, a sugestão é torná-lo o mais dinâmico possível. Por
exemplo, você pode distribuir as diferentes traduções entre grupos, e pedir que em cada
grupo alunos façam uma leitura dramática em sala de aula.
A resposta a este exercício é evidentemente bastante livre. Isso porque o objetivo aqui é
colocar os alunos em contato com o universo das traduções poéticas de textos clássicos.
Sobretudo por seu vocabulário pouco usual, a tarefa exige um pouco mais de atenção por
parte dos alunos.
Embora os textos e o léxico possam parecer muito distantes do cotidiano dos alunos, a
experiência com textos clássicos tem trazido excelentes resultados em diversas escolas
do país, como os sites sobre leituras dramáticas da poesia antiga o podem ilustrar.
Verter um texto de uma língua para outra envolve muito mais que o conhecimento do
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idioma propriamente dito. Dessa forma, cada tradução corresponde a uma
interpretação, que modifica a forma e a matéria do original. Por isso se diz que toda
tradução é uma interpretação.
Para dar um exemplo disso, apresentamos abaixo outras versões da passagem referente
ao mesmo trecho da Ilíada de Homero traduzido acima; só que estas traduções não são
em prosa, e sim em forma de poema. Será preciso prestar atenção, pois os textos usam
termos e construções não tão comuns no dia-a-dia.
Quer saber como o significado do texto pode ficar mais claro? Interprete-o você mesmo,
por meio de uma leitura dramática, seguindo estes passos:
1 - Faça uma leitura silenciosa de cada um dos textos (ou do texto que seu
professor distribuir para você)
2 - Durante a leitura, observe o significado dos termos na legenda do texto
respectivo.
3 - Nos casos das traduções abaixo, o que você percebe que muda entre elas?
4- De que tradução você gosta mais? Treine sua leitura em voz alta.
Ilíada, canto XI, versos 628-641
(Tradução poética de Carlos Alberto Nunes)
Primeiramente, na frente lhe pôs uma mesa bonita,
toda lavrada, com pés de aço azul; uma cesta de bronze
em cima desta coloca, e cebolas, que ao vinho convidam;
mel, também, pálido, e flor ali pôs de sagrada farinha,
e uma belíssima copa que o velho de casa trouxera,
com cravos de ouro adornada, munida, outrossim, de quatro alças,
com duas pombas ao lado de cada uma delas, perfeitas,
de ouro, a bicar; dois suportes por baixo da copa se viam.
Cheia, ninguém, sem trabalho, podia da mesa movê-la;
Mas levantava-a, sem custo, Nestor, o ancião de Gerena.
Nela mistura a mulher, semelhante na forma a uma deusa,
vinho de Prâmnia, no qual raspou queijo de leite de cabra
num ralo aêneo, ajuntando farinha, por fim, muito branca.
Pronta a mistura agradável, convida-os a dela provarem.
Glossário
- lavrada: enfeitada com figuras entalhadas, insculpidas.
- flor de sagrada farinha: farinha de trigo da melhor qualidade.
- copa: taça grande.
- com cravos de ouro: cravejada de ouro, ornada com pequenas peças de ouro.
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- o velho: Nestor.
- outrossim: do mesmo modo, também, igualmente.
- alças: as asas da taça.
- Gerena: antiga cidade da Messênia, na península do Peloponeso (sul da Grécia), onde também ficava
Pilos, da qual Nestor era rei.
- Prâmnia: vinho proveniente de Esmirna, cidade que ficava no oeste da Ásia Menor.
- aêneo: feito de bronze ou cobre.
- mulher semelhante na forma a uma deusa: a jovem, por sua beleza, se parecia com uma deusa.
Ilíada, canto XI, versos 628-641
(Tradução poética de Haroldo de Campos)
(...) Primeiro, diante de ambos pôs
uma preciosa mesa, polida, de pés
azul-cobalto; sobre ela dispôs, lavor
de bronze, um açafate, e neste, o estimulante
do bom beber: cebolas; também flor de trigo
sacro e mel; junto, a pílea copa do Gerênio,
ouro com crivos de ouro, quatro alças e duas
pombas, ladeando cada alça, como a bicar,
áureas; o fundo, duplo; um outro com esforço
a movera da mesa, quando cheia; erguia-a
fácil Nestor deiforme. A ancila nela verte
vinho de Prâmnio e raspas de queijo caprino
ralado de bronze, e branca farinha; a provar
da infusão os convida e aplaca a sede de ambos, (...)
Glossário
- azul-cobalto: azul-escuro.
- lavor: objeto artisticamente trabalhado.
- açafate: pequeno cesto de vime, sem arco nem asas.
- flor de trigo: farinha de trigo da melhor qualidade.
- pílea copa: taça de Pilos (Pilos era a cidade da qual Nestor era rei).
- Gerênio: Nestor, rei de Pilos, perto da qual ficava Gerena.
- crivos de ouro: pequenas peças de ouro enfeitando a taça.
- ladeando: estando ao lado de. Havia duas pombas incrustadas ao lado de cada uma das quatro alças da taça.
- áureas: feitas de ouro.
- deiforme: semelhante a um deus.
- ancila: escrava, serva.
- Prâmnio: vinho proveniente de Esmirna, cidade que ficava no oeste da Ásia Menor.
- infusão: a bebida preparada pela jovem escrava.
Ilíada, canto XI, versos 628-641
(Tradução poética de Odorico Mendes)
Põe de azulados pés à lisa mesa
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Flor de sacra farinha em disco aêneo,
Recente mel e um pico de cebola;
Põe copa linda, que trouxera o velho,
De cravos de ouro, e de ouro um par de pombos
Em torno a cada uma de asas quatro,
Com dois no fundo, ali se apascentavam:
Movê-la outrem sem custo não pudera,
E cheia o velho facilmente a erguia.
A divinal donzela Prânio vinho
Dentro mescla, e raspado em êneo ralo
Queijo caprino e uns pós de branco trigo;
E os conforta com isto e os dessedenta.
Glossário
- flor de sacra farinha: farinha de trigo da melhor qualidade.
- disco âeneo: uma cesta redonda de vime, de cor semelhante à do bronze.
- um pico de cebola: pequena quantidade de cebola.
- copa: taça grande.
- cravos de ouro: pequenas peças de ouro enfeitando a taça.
- outrem: outra pessoa que não Nestor.
- o velho: Nestor.
- divinal donzela: a jovem serviçal, bela como uma deusa.
- Prânio: vinho proveniente de Esmirna, cidade que ficava no oeste da Ásia Menor.
- êneo: feito de bronze ou cobre.
- pós: depois.
- dessedenta: mata a sede.
PARA SABER MAIS
Hoje em dia, aumenta cada vez mais o interesse
por conhecer e ouvir leituras dramáticas de poesia
clássica, em escolas, museus, lugares públicos...
Para ver fotos e saber mais sobre grupos de atores
envolvidos, visite os seguintes sites:
http://iliadahomero.wordpress.com
www.patriciareisbraga.wordpress.com
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• Sobre epigramas gregos e helenísticos, visite a revista eletrônica Graecia Antica,
organizada por Wilson A. Ribeiro, no seguinte site:
http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0115
• Sobre o grande poeta e tradutor maranhense Odorico Mendes, visite o site:
http://www.unicamp.br/iel/projetos/OdoricoMendes/
• Sobre epigramas helenísticos, leia também os poemas abaixo:
Da Antologia Grega ou Palatina
Apresentamos abaixo uma seleção de epigramas leves e elegantes da coleção de um
importante autor do período helenístico, Meleagro de Gadara (séc. I a. C.), reunidos na
Antologia Grega, também chamada de Antologia Palatina. Todos foram traduzidos
diretamente do grego por Flávia Vasconcellos Amaral (USP):
Epigrama votivo
XI (A.P. 6.162)
Como uma flor, Meleagro dedicou para ti, Cípris querida,
sua lamparina companheira, iniciada em teus festivais notívagos.
Epigramas amorosos:
XLIV (A.P. 5. 141)
Por Eros, prefiro a voz de Heliodora junto aos ouvidos
ouvir à cítara do filho de Leto.
XLV (A.P. 5. 143)
A guirlanda fenece cingida na cabeça de Heliodora,
e ela própria esplandece, guirlanda de sua guirlanda.
XLVI (A. P. 5.147)
Enredarei violeta branca, enredarei com mirtos
delicado narciso, enredarei lírios risonhos,
enredarei doce açafrão, enlearei jacinto
purpúreo, enredarei também rosas amantes do amor,
para que nas têmporas de Heliodora de cabelo oloroso
a guirlanda inunde de flores seu lindo cabelo trançado.
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A tradutora Flávia Ferreira Vasconcellos (Mestre em Letras Clássicas pela USP). Foto de arquivo pessoal.
BIBLIOGRAFIA
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__________. Ilíada de Homero. Vol. 2 (organização de Trajano Vieira). São Paulo: Arx,
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Anexo Jogo (Perguntas e comentários referentes a esta Atividade)
Caro Professor,
No jogo final, as perguntas e respostas a seguir estão relacionadas ao ícone do
personagem do Grafiteiro. Enfatiza-se aqui o significado e história do epigrama na Grécia
antiga (durante os períodos arcaico, clássico, helenístico), assunto do Texto 2, o qual é,
em algumas questões, aplicado a textos de epigramas gregos.
1 - Na Grécia antiga, o epigrama, enquanto “breve inscrição em verso”:
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a) Tem seus primeiros registros no Período Arcaico, o que se pode comprovar hoje em
vasos, taças, em oferendas aos deuses, lápides funerárias, ou outros monumentos
que restaram daquela época.
b) Tem seus primeiros registros no Período Helenístico, após a morte de Alexandre, o
Grande. Notícias desses epigramas são, no entanto, restritas a relatos de
historiadores.
c) Tem seus primeiros registros no Período Clássico, o que se pode comprovar hoje
apenas por meio indireto: os textos de poetas trágicos.
d) Era o único tipo de inscrição sepulcral no Período Arcaico, pois a lei da época
obrigava que todos os epitáfios fossem escritos em verso.
e) Desapareceu no Período Clássico da literatura grega antiga, que privilegiou tipos
mais elevados de poesia.
Resposta
a) Parabéns! De fato, objetos como os mencionados, datados do Período Arcaico,
servem de prova de que os primeiros epigramas (enquanto breves inscrições em
verso) existiam desde esta época na Grécia antiga.
b) Tente de novo! O epigrama (enquanto breve inscrição em verso) existia já antes do
Período Helenístico. Isso é comprovado pelas inscrições em verso em objetos e
monumentos que nos chegaram.
c) Tente novamente! O epigrama, com o sentido de breve inscrição em verso, tem seus
primeiros registros antes do Período Clássico, como comprovam, diretamente, as
inscrições em verso em objetos e monumentos que nos chegaram.
d) Tente mais uma vez! Nem todos os epitáfios eram em verso no Período Arcaico da
Grécia. A inscrição breve em verso (i.e. o epigrama, conforme define o enunciado)
era um tipo especial dentre as inscrições usadas nos sepulcros por toda a história da
Grécia antiga.
e) Tente outra vez! As inscrições epigramáticas continuam a existir em toda a história
da poesia grega: com o tempo, sob influência dos demais tipos de poesia, aparecem
de modo mais variado e elaborado.
2 - Sobre o epigrama na Grécia antiga, pode-se dizer que:
a) Na Antiguidade greco-romana, o epigrama, enquanto inscrição, não era poesia. Isso
porque ele tinha sempre o caráter prático (por exemplo, de celebrar a memória de
alguém, ou de dedicar objetos).
b) Apenas as inscrições epigramáticas mais antigas tinham um tom sério e caráter
puramente prático. Veja-se uma delas, a “Taça de Nestor” (ou “Taça de Ísquia”),
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que, comprovadamente, informa sobre um personagem histórico, o famoso rei de
Ísquia.
c) As descobertas arqueológicas comprovam que a função das inscrições evoluiu com o
tempo: de uma necessidade apenas poética, na época arcaica, até chegar à época
helenística, em que surgem os primeiros epigramas, que tinham apenas funções mais
práticas.
d) Como exemplo de epigramas menos pragmáticos e mais poéticos já na Grécia
arcaica, tem-se a “Taça de Nestor”. Quer se refiram ao dono da taça, quer ao
personagem da poesia de Homero, é inegável que seus versos fazem mais que
informar quando brincam com a figura mitológica de Vênus, a deusa do amor.
e) Descobertas arqueológicas como a do texto de título “Taça de Nestor” comprovam
que, desde a época arcaica, já havia na Grécia epigramas poéticos que não eram
inscrições.
Resposta
a) Tente de novo! Independente de seu caráter mais prático, já havia epigrama
poético, enquanto inscrição em versos, desde a Grécia arcaica.
b) b) Tente novamente! A afirmação está repleta de equívocos. Inscrições
epigramáticas de tom “sério” existem ao longo da história. Mas na “Taça de Nestor”
(ou de Ísquia) esse caráter não é evidente. É apenas possível que ela faça menção ao
personagem Nestor, rei de Pilos (e não de Ísquia, onde o objeto foi descoberto).
c) Tente outra vez! Segundo as descobertas arqueológicas, há mais epigramas de
caráter informativo e celebrativo, ligados a uma situação real, na época arcaica e
mais epigramas desvinculados de uma situação real, menos práticos, na época
helenística.
d) Parabéns! Pelo seu caráter poético e divertido, a inscrição da “Taça de Nestor”,
uma das mais antigas inscrições epigramáticas da história da Grécia, vai além da
mera informação.
e) Tente mais uma vez! O epigrama inscrito na “Taça de Nestor”, do século VIII a. C., é
tanto um texto poético quanto é inscrição. É num período posterior ao Arcaico que
existem epigramas compostos com o objetivo de serem declamados, não
necessariamente inscritos num objeto.
3 - Assinale a alternativa incorreta:
a) Na época arcaica há epigramas muito estranhos: tanto o “monumento falante”,
quanto, mais primitivo ainda, o epigrama que dá a voz ao defunto.
b) No Período Clássico, os epigramas, ainda enquanto inscrição, passam a ter temas
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mais variados e formas elaboradas.
c) O primeiro autor de que se tem epigramas inscritos e assinados é o poeta Íon de
Samos.
d) No epigrama grego que dá a voz ao defunto, o morto era muitas vezes idealizado
como um herói, que ofereceria, por meio do monumento sepulcral, uma lição de
vida aos mortais.
e) A partir do Período Clássico, nota-se a influência do desenvolvimento da poesia e da
retórica nas inscrições epigramáticas. Restam vários epigramas (não assinados)
atribuídos a poetas e filósofos da época.
Resposta
a) Parabéns! De fato, na Grécia arcaica há epigramas do tipo “monumento falante”.
Mas, segundo as descobertas arqueológicas e paleográficas, epigramas em que se lê
a palavra final do defunto só existem a partir da época clássica da civilização grega.
b) Tente de novo! De fato, em geral as inscrições epigramáticas na época clássica
tiveram, sim, seu tema e forma incrementados.
c) Tente novamente! A assinatura de Íon de Samos (em versos inscritos sob estátuas) é
de fato a mais antiga que sobreviveu dentre os monumentos com epigramas que
vieram da Grécia antiga.
d) Tente mais uma vez! No epigrama que dá voz ao defunto pode-se ler um tom heróico
e didático, como uma última palavra do morto aos mortais...
e) Tente outra vez! De fato, a elaboração de epigramas inscritos datados do Período
Clássico denota o contato com a poesia e a retórica. Vários epigramas (não
assinados) são atribuídos a poetas como Eurípides (século V a.C.) e mesmo a
filósofos como Platão (século IV a.C.).
4 - Sobre o epigrama enquanto forma poética na época helenística, assinale a alternativa
correta:
a) Não era composto para ser necessariamente inscrito na superfície de um objeto, por
isso o número e tipo de verso dos epigramas puderam ficar mais variados.
b) Não tinha sempre a necessidade de satisfazer a uma situação específica (o que uma
inscrição demandaria), por isso os temas dos epigramas se diversificam, mas era
ainda proibido o tema do amor em poemas desse tipo.
c) O epigrama deixa de ser predominantemente literário, isto é, passa a ser composto
apenas para ser inscrito.
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d) Os epigramas deixam de ser recitados, sendo apenas divulgados de forma
manuscrita.
e) Os epigramas deixaram de tratar de temas como a sátira de tipos sociais, presente
nas inscrições do Período Arcaico, a qual passa a ser considerada de mau gosto.
Resposta
a) Parabéns! De fato, sem ter de se preocupar com a parte material da inscrição
(escultores, tamanho do objeto em que seria inscrito o epigrama), os poetas
passaram a ter mais liberdade de compor os versos epigramáticos em metros e
extensão variados.
b) Tente de novo! Ao contrário do que se diz no enunciado, o tema do amor, não de
todo ausente das inscrições do Período Clássico, aflorou efetivamente na poesia
epigramática da época helenística.
c) Tente novamente! Ocorreu precisamente o contrário: apesar de também haver
epigramas inscritos, a forma literária se desenvolveu de modo autônomo na época
helenística.
d) Tente mais uma vez! Muitos dos epigramas da fase helenística visavam de fato à
recitação, o que não impediu sua divulgação de forma manuscrita.
e) Tente outra vez! Ao contrário do que afirma o enunciado, a sátira de tipos sociais é
vista como uma das inovações do epigrama da fase helenística.
5 - Clique no link abaixo para ler o texto. No original ele consta de versos, inscritos na
parte de baixo do seguinte monumento (ver ilustração):
“Plange, em pé, junto ao túmulo de Creso morto,
Que outrora na vanguarda Ares veemente aniquilou.” (Trad. Flávio Ribeiro de Oliveira)
Considerando o teor de seus versos, pode-se dizer que:
a) É um epigrama funerário da época clássica, quando surgiu o epigrama em que o
monumento “fala”.
b) É um epigrama funerário da época helenística, quando surgiu o epigrama em que o
monumento “fala”.
c) Não é um epigrama funerário da época helenística, época em que desapareceu o
epigrama em que o monumento dá voz ao morto.
d) Não pode ser um epigrama da época arcaica, pois naquela época não existiam
epigramas do tipo monumento falante.
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e) É do tipo monumento falante, que existe desde a época arcaica grega.
Resposta
a) Tente de novo! O epigrama do tipo do “monumento falante” existe desde a época
arcaica.
b) Tente novamente! O epigrama do tipo do “monumento falante” existe desde a
época arcaica; e o que dá voz ao morto surge depois desse, no Período Clássico.
c) Tente mais uma vez! O epigrama do tipo do “monumento falante” existe desde a
época arcaica, persistindo também na época helenística.
d) Tente outra vez! Já desde a época arcaica existiam epigramas do tipo “monumento
falante”.
e) Parabéns! Sendo encontrado também em períodos posteriores, o “monumento
falante” existe desde a época arcaica grega.