Entrevista Roberto Lobato Correia - Jornal Da UFRJ

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A globalização capitalista não destrói o lugar ou a região, mas recria-os, atribuindo-lhes novo papel por meio de uma mais complexa divisão territorial do trabalho, na análise de Roberto Lobato Azevedo Corrêa, professor do Programa de Pós-graduaçãoem Geografia da UFRJ, localizado no Instituto de Geociências (Igeo). No Brasil, até 1970, as áreas de florestas, por exemplo, eram dedicadas à agricultura e nas áreas de vegetação aberta a pecuária predominava. Com a agroindústria, esses conceitos foram alterados e áreas abertas, como o cerrado, passaram a ser consideradas ideais para a implantação mecanizada de lavouras de grande extensão. Foi uma mudança que gerou movimentos migratórios e nova inserção do Brasil na divisão territorial do trabalho por meio da exportação de grãos, sobretudo soja, destaca Lobato, pesquisador 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “No futuro, olharemos criticamente para a expansão da soja, que alterou a organização espacial efez do país um fornecedor de rações para os rebanhos europeus”, critica o professor.Especialista em Geografia Urbana, ele também analisa as mudanças ocorridas na organização do espaço urbano nas últimas décadas. A “periferização”acentuada, com a alocação na periferia das regiões metropolitanas da população de baixo nível de renda, e o autoisolamento das classes médias-altas e das elites em condomínios fechados são, segundo ele, alguns dos fenômenos mais evidentes do processo recente de urbanização.Nesta entrevista ao Jornal da UFRJ, Roberto Lobato também comenta seu estudo, no campo da Geografia Cultural, acerca dos parques temáticos – “formas simbólicas criadas pelo capitalismo avançado para auferir lucros” – e afirma que não acredita em uma universidade de qualidade no curto prazo. “Se pensarmos em padrões de outros contextos, ainda precisamos caminhar muito”, frisa o pesquisador.

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UFRJ Gabinete do Reitor Superintendncia Geral de Comunicao Social Ano VI N 62 Agosto, setembro e outubro de 201 1

Seminrio Forma e Sentido Contemporneo, que reuniu expositores nacionais e internacionais, busca compreender o lugar atual de uma arte desvinculada do ritmo veloz dos nossos tempos.

Poesia,A globalizaoEntrevistaRoberto Lobato Azevedo Corra

Especial

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PARA QUE TE QUERO?

O Jornal da UFRJ retrata, nesta edio, as trs ltimas palestras ocorridas no evento que discutiu o papel e o significado da poesia no mundo atual.

Nelson Pereira dos Santos

Por trs das cmerasNascido no Brs, cidade de So Paulo, em 22 de outubro de 1928, Nelson Pereira dos Santos, na dcada de 1930 j era cinespectador. Na juventude, decidiu ir para trs das cmeras e passou a dirigir filmes que se tornaram clssicos, como Vidas Secas (1963) e Memrias do Crcere (1984). Hoje, considerado um dos maiores cineastas brasileiros e precursor do festejado Cinema Novo.

no destri o lugar. Recria-o.A globalizao capitalista no destri o lugar ou a regio, mas recria-os, atribuindo-lhes novo papel por meio de uma mais complexa diviso territorial do trabalho, na anlise de Roberto Lobato Azevedo Corra, professor do Programa de Ps-graduao em Geografia da UFRJ. Especialista em Geografia Urbana, ele analisa as mudanas na organizao do espao urbano. A periferizao acentuada, com a alocao, na periferia, da populao de baixa renda e o autoisolamento das classes mdias-altas em condomnios fechados so, segundo ele, alguns dos fenmenos mais evidentes do processo recente de urbanizao. Nesta entrevista ao Jornal da UFRJ, Roberto Lobato tambm comenta seu estudo, no campo da Geografia Cultural, acerca dos parques temticos formas simblicas criadas pelo capitalismo avanado para auferir lucros e afirma que no acredita em uma universidade de qualidade no curto prazo: Se pensarmos em padres de outros contextos, ainda precisamos caminhar muito.

15 a 18140 anos da Comuna de Paris. Para os especialistas, o movimento revolucionrio francs serviu de inspirao para pensadores influentes como Marx, Lnin e Gramsci, e suas conquistas na rea da Educao podem servir de lio para o mundo contemporneo.

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Comuna de Paris: 140 anos de lies para o futuro

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Os 72 dias do primeiro governo proletrio da histria foram celebrados na UFRJ. Nos dias 14 e 15 de setembro, o Salo Pedro Calmon, localizado no Palcio Universitrio da Praia Vermelha, recebeu professores e pesquisadores que debateram os

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Reitor Carlos Antnio Levi da Conceio vice-reitor Antnio Jos Ledo Alves da Cunha Chefe de Gabinete Marcelo Gerardin Poirot Land Pr-reitora de Graduao ngela Rocha dos Santos Pr-reitora de Ps-graduao e Pesquisa Dbora Foguel Pr-reitor de Planejamento, desenvolvimento e Finanas Carlos Rangel Rodrigues Pr-reitor de Pessoal Roberto Antnio Gambine Moreira Pr-reitor de Extenso Pablo Cesar Benetti Pr-reitora de Gesto e Governana Araceli Cristina de Sousa Ferreira Superintendente Geral de Polticas Estudantis Antnio Jos Barbosa de Oliveira Superintendente Geral de Atividades Fora da Sede Maria Antonieta Rubio Tirrell Coordenador do Frum de Cincia e Cultura Alosio Teixeira Prefeito da Cidade Universitria Ivan Carmo ouvidora-Geral Cristina Ayoub Riche diretor do Escritrio Tcnico da Universidade Mrcio Escobar

Calendrio acadmico para 2012Bruno Franco

JORNAL DA UFRJ UmA PUbliCAo m E N S A l dA S U P E R i N T E N d N C i A GERAl dE ComUNiCAo SoCiAl dA UNivERSidAdE FEdERAl do Rio dE JANEiRo. Av. Pedro Calmon, 550. Prdio da Reitoria Gabinete do Reitor Cidade Universitria CEP 21941-590 Rio de Janeiro RJ Telefone: (21) 2598-1621 Fax: (21) 2598-1605 [email protected]

Superviso editorial Joo Eduardo Fonseca Jornalista responsvel Fortunato mauro (Reg. 20732 mTE) Edio Fortunato mauro Pauta Fortunato mauro Redao Aline dures, bruno Franco, Carla baslio, Coryntho baldez, Gabriela Amadei, Gisele motta, mrcio Castilho, matheus Paiva, Pedro barreto, Rafaela Pereira e vanessa Sol Reviso dayse barreto e luciana Crespo Arte Anna Carolina bayer Ilustrao Joo Rezende, Jlio m. de Castro, marco Fernandes e Zope Charge Zope Fotos marco Fernandes Expedio marta Andrade interessados em receber esta publicao devem entrar em contato pelo e-mail [email protected]

Conselho Universitrio (Consuni) aprovou, em sesso de 13 de outubro, o Calendrio Acadmico da UFRJ para o ano letivo de 2012. As aulas da maioria dos cursos de graduao tero incio em 5 de maro e

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terminaro em 13 de julho (primeiro semestre). J o segundo semestre letivo ser de 6 de agosto a 14 de dezembro. Os estudantes que cursam Medicina na Cidade Universitria tero um calendrio mais extenso, iniciando o primeiro semestre em 6 de fevereiro e concluindo-o em 13 de julho, ao passo que o semestre seguinte comear em 23 de julho, com trmino em 21 de dezembro. Essas datas so vlidas para estudantes de todos os perodos, exceto os que ingressaram pelo Concurso de Acesso 2012, que cursaro o primeiro semestre de 27 de fevereiro a 13 de julho e o segundo de 6 de agosto a 21 de dezembro. Os cursos de Medicina,

Nutrio e Enfermagem e Obstetrcia oferecidos em Maca tero tambm um calendrio prprio, com o primeiro perodo letivo comeando em 27 de fevereiro e terminando em 13 de julho o segundo ir de 6 de agosto a 21 de dezembro. Os demais estudantes desses cursos tero aulas de 6 de fevereiro a 13 de julho e de 6 de agosto a 21 de dezembro. No Colgio de Aplicao, por sua vez, as aulas comearo em 8 de fevereiro, indo at 13 de julho, com o segundo se-

mestre sendo realizado de 30 de julho a 21 de dezembro. O calendrio prev ainda datas festivas como as cerimnias inaugurais da universidade, dos centros e das unidades, alm de eventos em comemorao aos dias do estudante (11 de agosto), do professor (15 de outubro) e do servidor pblico (28 de outubro) e os feriados nacionais, estaduais e municipais (das cidades do Rio de Janeiro, Maca e Duque de Caxias).

Matheus Paiva

Curso de Libras aprovado na Faculdade de Letras(FL) da UFRJ. O projeto, que foi recebido na Congregao da FL, contou com a aprovao unnime de todos os departamentos, um dia aps a celebrao do Dia Nacional dos Surdos (26/9). Na reunio da Congregao, que teve a participao de estudantes do curso de especializao em Libras e de intrpretes que faziam traduo simultnea, foi ressaltado por Eleonora Ziller, professora e diretora da FL, o desenvolvimento de pesquisas na rea, que est em ascenso em todo o Brasil. A criao do curso era parte do trabalho de Lucinda Ferreira Brito, professora do Departamento de Lingustica, que por motivos de sade teve que se afastar da UFRJ. Entretanto, a persistncia de seus orientandos, especialmente das colegas Deize Santos e Myrna Monteiro, fez com que o projeto sobrevivesse e pudesse encontrar a forma definitiva com a criao do novo curso. Todos os departamentos se pronunciaram favorveis criao do curso e destacaram o carter inovador do projeto. Aurora Neiva, chefe do Departamento de AngloGermnicas, ressaltou que a FL inaugura uma nova possibilidade de se renovar e que todos tero muito a aprender com a experincia. Tratase no somente de um novo curso de graduao, mas de um amplo caminho de desenvolvimento de pesquisa em uma rea que vem crescendo em todo o pas, apontou Eleonora Ziller ao encaminhar a votao. O curso de Libras oferecer 40 vagas em horrio noturno. O projeto ser encaminhado e apresentado ao Conselho de Ensino em Graduao (CEG) e, se for aprovado a tempo, a Faculdade de Letras poder contar com sua primeira turma j no segundo semestre de 2012.

o Jornal da UFRJ publica opinies sobre o contedo de suas edies. Por restries de espao, as cartas sofrero seleo e podero ser resumidas. Fotolito e impresso Grfica Posigraf 25 mil exemplares

A criao do curso de Lngua Brasileira de Sinais (Libras) nas modalidades licenciatura e bacharelado foi aprovada em setembro na Faculdade de Letras

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Poesia,PARA QUE TE QUERO?Coryntho Baldez

Seminrio Forma e Sentido Contemporneo, que reuniu expositores nacionais e internacionais, busca compreender o lugar atual de uma arte desvinculada do ritmo veloz dos nossos tempos.

O Jornal da UFRJ retrata, nesta edio, mais trs palestras ocorridas no mbito do seminrio Forma e Sentido Contemporneo, que discutiu o papel e o significado da poesia no mundo atual. Realizado no teatro Oi Futuro, em junho, com produo da Showbras, financiamento da Oi e com o apoio das Faculdades de Letras da UFRJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e do Ministrio da Cultura, o evento teve curadoria do poeta e ensasta Antnio Ccero, para quem a poesia torna possvel uma outra e mais profunda apreenso do prprio ser. O tema foi tratado a partir de diferentes pontos de vistas por alguns dos mais originais pensadores do nosso tempo: a norte-americana Marjorie Perloff, crtica literria e professora da Universidade de Stanford, cuja obra busca discutir e elucidar a poesia experimental e vanguardista; Michel Deguy, fundador e diretor da revista Po&sie, que publicou mais de 40 livros e considerado um dos maiores poetas franceses; e o msico e ensasta brasileiro Miguel Wisnik, professor da Universidade de So Paulo (USP) e autor de obras premiadas, que fechou o ciclo de palestras. Todas as exposies do Seminrio que sero editadas em livro a ser lanado entre novembro e dezembro foram transmitidas pela Internet e esto disposio dos interessados na pgina eletrnica www.formaesentido. com.br.

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A INSANIDADE DO GLOBALISMOReticente quanto ao globalismo, o qual percebe como dominao cultural norte-americana, a crtica literria austroamericana Marjorie Perloff, em breve passagem pelo Rio de Janeiro, defendeu a poesia como o mais intenso uso da linguagem e lamentou a perda de interesse por literatura estrangeira em seu pas.

Bruno Francoma das mais importantes crticas literrias dos Estados Unidos da Amrica (EUA), sobretudo da poesia contempornea de vanguarda, e autora do livro, recm-editado no Brasil, A Escada de Wittgenstein: a linguagem potica e o estranhamento do cotidiano, traduzido por Aurora Fornoni Bernardini e Elisabeth Rocha Leite (Edusp, 2005), Marjorie Perloff esteve no Brasil, em junho, quando participou do ciclo Forma e Sentido Contemporneo - Poesia. Em entrevista ao Jornal da UFRJ, Marjorie no poupou crticas ao globalismo de uma classe mdia que desconhece culturas que no sejam a sua, bem como poesia confessional, centrada, exclusivamente, nas emoes fugazes do autor, que no apresenta desafios fruio do leitor. Para ela fazendo coro ao tam-

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bm crtico literrio Harold Bloom , nenhum dos ismos (sufixo que indica uma doutrina) contemporneos e politicamente corretos, como o feminismo ou toda e qualquer forma de multiculturalismo (no qual somente se l a obra de um autor se ele for chicano ou tiver algum outro rtulo multicultural), vlido para a literatura. Eu tenho dois netos, um na High

School (Ensino Mdio) e outro na universidade, e eles esto lendo James Joyce e Fidor Dostoievsky. Esto contentes de no ter mais que ler os livros politicamente corretos que so adotados nas escolas, critica a professora da Universidade de Stanford (EUA). Em sua opinio, as pessoas se dizem globais sem conhecer outro idioma e, minimamente, a his-

tria de outros pases, o que faz do globalismo o mais insano dos termos. Global, de certa forma, significa imperialismo estadunidense. Significa que ns controlamos tudo, que nossos produtos esto em todos os lugares. E os ambientalistas falam sobre o nosso planeta, esquecendo os outros povos e suas vidas. So pessoas proeminentes na Califrnia, que reciclam o plstico

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que usam. Globalismo para mim quase um palavro. Os jovens esto cansados desses termos, indignase Marjorie. A constatao da crtica literria de que os norte-americanos esto perdendo interesse pela literatura (e pela cultura de forma mais ampla) estrangeira, e que, ao contrrio do, que muitos poderiam esperar, aps os atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA tm-se caracterizado pelo isolacionismo. Em vez de se tornarem mais abertos para o resto do mundo, os norte-americanos tm-se tornado menos interessados acerca do que acontece fora de seu pas. A cada ano, menos tradues so feitas l. H menos interesse sobre o que estrangeiro, uma vez que as pessoas esto mais preocupadas com suas vidas, com suas questes pessoais. No h muita curiosidade sobre o que acontece em outras naes. Poder-seia pensar que haveria curiosidade em relao China, j que ela est se tornando mais poderosa, mas no ouo ningum comentar a respeito da China, relata Marjorie. Aprendendo a ler com Wittgenstein Herdeira intelectual de filsofos como o austraco Ludwig Wittgenstein e de crticos culturais como o socilogo anglo-jamaicano Stuart Hall, por dez anos (1968-1979) diretor do Centro de Estudos Culturais Contemporneos da Universidade de Birmingham (Reino Unido), um dos basties desse tipo de estudo, Marjorie Perloff defende o poder transformador da leitura, do estudo e da prtica da poesia, uma expresso primria de arte, franqueada mesmo aos povos que no conheciam a literatura escrita. Em seu entendimento, a poesia o mais intenso uso da linguagem, uma vez que to logo comeam a ler ou estudar poesia as pessoas sentem que tm um senso de comunicao mais rico. E Marjorie completa: Ela amplia os limites da minha linguagem, os limites do meu mundo. Isso, se voc acredita, como eu, que no h pensamento fora da linguagem. As palavras criam pensamentos, no so os pensamentos que geram as palavras. Segundo ela, a poesia a arte que desenvolve os mais interessantes modos de uso da linguagem, os caminhos mais memorveis para utilizla. A crtica que a professora faz do uso da linguagem socialmente consciente, acreditando que os estudos culturais sejam, em essncia, uma forma de marxismo. Desde que Karl Marx argumentou que era a cultura que determinava a conscincia, e no o contrrio, e estudou como condicionamentos culturais faziam as pessoas escreverem de determinado modo ou fazerem determinada forma de arte,

inerentemente, isso (estudos culturais) marxismo, ainda que as pessoas no saibam, explica Marjorie. Alm da inclinao para o marxismo, outro trao caracterstico da obra de Marjorie Perloff sua admirao pelo pensamento de Wittgenstein. De acordo com ela, o filsofo lhe ensinou como ler. Ele tem uma declarao: No se esquea de que mesmo poesia escrita na linguagem da informao. No escrita no jogo lingustico de informar. Ela tem outro propsito. A coisa mais difcil era descrever um homem sentado em seu quarto, levantando-se da cama, acendendo um cigarro ( poca era possvel fumar). Se voc pudesse captar isso, j estaria conseguindo muita coisa. Porque ns vemos, mas no enxergamos, ensi-

na Marjorie, para quem os melhores poetas sempre perceberam que no se deve escrever na forma em que as pessoas falam, na vida real, pois isso seria muito entediante. Crtica mordaz da poesia confessional, na qual o autor publica suas emoes mais imediatas ou mesmo triviais, como se escrevesse um dirio, Marjorie lamenta que essa vertente possa ser encontrada nos suplementos literrios de quaisquer jornais norte-americanos. Houve uma sesso de leitura na Casa Branca, muito ruim, na qual convidaram crianas do Ensino Mdio e a primeira menina leu um poema chamado Cano da Barriga, e o dedicou para sua me, que sofria de uma doena renal. O po-

ema comeava com me, voc me carregou na sua barriga por nove meses e agora eu quero carreg-la na minha barriga. Isso horrvel. E continuava com: Eu te amo at que a morte nos separe. Pattico! desse tipo de poesia confessional de que devemos nos livrar. Se possvel. Indigna-se a crtica literria. Para ela, um contraponto positivo a esse tipo de poesia a chamada language poetry (poesia de linguagem - em traduo livre). Eu no gosto de todas as obras dessa corrente, mas acho que um corretivo maravilhoso para a poesia confessional. Uma poesia difcil, com mltiplos significados, irnica. um movimento muito interessante e sofisticado, elogia Marjorie. Novas mdias e o excesso de informao A professora acredita que poetas e crticos literrios no podem ignorar as novas mdias, tampouco as transformaes tecnoculturais ocorridas nas ltimas dcadas. No podemos ignorar as novas mdias. No se pode escrever sobre a praia e o pr do sol como se nada tivesse acontecido. No existe algo como experincia verdadeira, emoo verdadeira, porque tudo mediado de alguma forma e isso deve ser levado em conta. Por outro lado, excitante, pois voc tem como se comunicar com pessoas em outros lugares, instantaneamente, contrape Marjorie Perloff. Para ela, a primeira novidade a fazer grande diferena na comunicao cotidiana foi o e-mail: Voc percebe que com o e-mail eu posso pegar uma mensagem que voc me mandou e envi-la a uma terceira pessoa, mudando o que voc escreveu, alerta Marjorie. E o Facebook... A ideia de ter tanta informao em um nico lugar, um excesso de dados. Com a Internet voc recebe muita informao, se torna exausto e no se l cuidadosamente. O que significa que poesia e arte devem, de certa maneira, reagir contra as redes sociais e fazer coisas que estas no conseguem realizar, devem se tornar mais misteriosas. Um exemplo mais verdadeiro do que seria uma experincia cultural global , segundo Marjorie Perloff, a existncia de publicaes literrias em pases da Escandinvia, que trazem poemas em diferentes idiomas. interessante. realmente global. Eles tentam estar em contato com pessoas de pensamento semelhante em qualquer lugar do mundo. A sua comunidade mais do que seu crculo de amigos no Rio de Janeiro, mas o seu crculo de pessoas afins em qualquer lugar, qualifica a professora.

Quem Marjorie Perloff?Nascida em Viena, ustria, em 1931, e radicada nos Estados Unidos desde 1938, Marjorie Perloff uma das mais importantes e originais crticas de poesia contempornea, sobretudo a experimental e de vanguarda. Pesquisadora na Universidade do Sul da Califrnia e professora emrita da Universidade Stanford, tambm lecionou nas universidades de Maryland e de Washington D.C. Entre as suas principais obras esto Rhyme and Meaning in the Poetry of Yeats; The Poetic Art of Robert Lowell; Frank OHara: Poet among Painters; The Poetics of Indeterminacy: Rimbaud to Cage, The Dance of the Intellect: Studies in the Poetry of the Pound Tradition, The Futurist Moment, Avant-Garde, Avant-Guerre, and the Language of Rupture, Poetic Licence: Studies in Modernist and Postmodernist Lyric, Radical Artifice: Writing Poetry in the Age of Media.

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RESISTNCIA OBSOLESCNCIA DO HOMEMTambm em visita ao Rio de Janeiro, onde tomou parte do ciclo de seminrios Forma e Sentido Contemporneo, o poeta e filsofo francs Michel Deguy recebeu a equipe de reportagem do Jornal da UFRJ e falou acerca da perda de sentido das grandes narrativas, da lgica econmica por trs da demanda cultural contempornea e da Arte e da Ecologia radical como formas de resistncia ao fim de tudo.

Bruno Franco nfluenciado por seus contemporneos e conterrneos, como o amigo Jacques Derrida e Jean-Franois Lyotard, bem como pela obra de Martin Heidegger, Deguy desvela e critica o potencial destrutivo da tcnica, que pe em risco no o planeta, mas a forma de existncia da sociedade que conhecemos e sua relao com o mundo, o qual deveria, em seu entendimento, ser habitado poeticamente. Uma das implicaes de seu discurso o reconhecimento de que a poca atual no tem precedente. Os tempos modernos acabaram, seja como no filme de Charles Chaplin, seja na revista do Jean Paul Sartre. Se, no pensamento de

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Michel Deguy, a decadncia das cidades e a obsolescncia do homem so a visibilidade perfeita da economia cultural, a super-humanizao torna-se o ethos para a resistncia potica. Retomando o pensamento de Jean-Franois Lyotard, Deguy acredita que as grandes narrativas, que norteavam moral-filosoficamente a ao humana, terminaram. Isso pode ser dito da Bblia como uma grande narrativa. Do Coro, do marxismo. Muitos pensam que o fim do mundo e a obsolescncia so bobagens. So pessoas que creem no mercado, na riqueza para todos, que creem no progresso, explica o filsofo. No entanto, ele considera que o nvel de consumo admirado pelos entusiastas do progresso no pode ser partilhado pela maioria das pessoas. Assim, a obsolescncia do mundo seria um pensamento de filsofos, que no pode ser partilhado por muitos, salvo alguns artistas srios, pensadores interessantes, poetas. A expresso obsolescncia do homem foi cunhada pelo filsofo alemo Gunther Anders, sendo ao mesmo tempo uma anlise do processo de mudana do paradigma cultural em curso e um vaticnio. Uma ruptura com o legado que a Modernidade transmitiu ao Ocidente, percebido, primeiramente, por Nietzsche, quando anunciou a morte de Deus. A premissa iniciou um perodo em que os filsofos, dentre os quais o francs Jacques Derrida e o norte-americano Francis Fukuyama, seguiram o divino assassnio de Nietzsche e se incumbiram de anunciar outras mortes. Dentre elas, o fim da Arte e o fim da Histria. Eu escrevi um pequeno livro, O fim no mundo (La fin dans le monde), informa Deguy, no qual o fim est por todo o lugar: essa a obsolescncia do mundo. De uma maneira, a maioria das pessoas religiosa, crdula. Por outro lado, no praticam a religio que professam. No fundo, no mais se importam. H uma espcie de sobrevivncia dos grandes temas religiosos. Em termos tcnicos diramos que se trata dos grandes teologemas, dos grandes filosofemas. Ao mesmo tempo, a energia e a inveno esto mortas. Super-humanizando o homem Apesar de julgar inevitvel que o ser humano esteja se tornando obsoleto, o poeta ressalva que h um processo de mudana e que nele o homem pode ter futuro. Para tal, porm, ele teria que se superhumanizar e, de acordo com seu livro, A energia do desespero (Dans LEnergie du desspoir), a respon-

sabilidade para isso caberia poesia. uma questo de transcendncia, mas no no sentido religioso ou espiritual. A transcendncia um movimento de transformao, trans-humanizao. O que Nietzsche quis dizer ao anunciar o bermensch (super-homem ou alm-homem) foi que o homem atual est obsoleto e que se deve inventar outra coisa. Quem pode invent-la? A arte, avalia Michel Deguy. Assim, uma das tarefas da poesia seria velar sobre a diferena, pois, para Deguy, a questo da identidade est em jogo: Hoje em dia a razo humana est enlouquecida pela identidade, seja ela individual, tnica ou nacional. Quem somos ns? Franceses, brasileiros... A identidade, atualmente, travel, retravel. Ns nascemos, somos DNA, um trao cientfico. No supermercado, a empregada ou a dona de casa compram um bife. Com o trao, podemos saber de onde vem a carne, remontar sua origem desde a Argentina, explica o filsofo. Para ele, a frase de ordem para a revoluo apaguemos o trao. Em sua viso, o problema atual de armazenamento. Queremos arma-

do que chamamos de ecologia e do que chamamos de poesia. A ecologia profunda, radical, no o problema de arrumar o lixo. a preocupao posta na ordem do dia, aps Fukushima. Eu recebi de amigos japoneses uma solicitao para participar de uma obra coletiva e fiz um poema chamado Magnitude. No h atualmente outra questo no mundo, analisa o poeta. Melancolia parisiense O mal-estar de Deguy com as mudanas em curso no mundo se torna ainda mais ntido quando o poeta analisa o turismo, sobretudo em Paris, a cidade que ama e na qual vive. O turismo a epifania, a visibilidade perfeita disso que chamo de cultural. Qual o sonho liberal? Um grande mercado de consumo. Quem consome? As pessoas de diferentes nacionalidades e etnias que tm curiosidade quanto ao que fazem os outros. A economia mundial dirigida por essa curiosidade pacfica, pela esperana de paz aportada por um mercado mundial, analisa Deguy. No entanto, o filsofo v na sua Paris as marcas da intensificao da atividade turstica e acredita que ela no seja mais a mesma (Paris nest plus), mas de uma forma diferente do que no tempo de Baudelaire, o autor da frase original. Eu passei minha vida toda em Paris e vi as mudanas. Voc sabe por que o Louvre se transformou? Quando os japoneses o visitavam, no encontravam os banheiros. Da 20 mil japoneses saam do museu e iam rue de Rivoli. Ento o Louvre foi adaptado para oferecer hospitalidade aos turistas estrangeiros, explica. Para o filsofo, as pessoas no se interessam mais pelo museu, e sim pelos produtos derivados, pela compra dos objetos que so fabricados como souvenirs, para que os turistas exibam a recordao da fugaz passagem pelo local. Segundo Deguy, a pessoas demoram dois minutos diante de uma obra-prima e duas horas na loja de souvenirs, para comprar uma camisa, uma caneta. A fruio pela contemplao terminou. Essa a economia cultural. Tal melancolia se desvela na obra Spleen de Paris, na qual Deguy afirma no ser razovel considerar como razovel a esperana de entenderse. Para o poeta, a demografia humana catastrfica, pois com 15 mil idiomas o mundo seria uma Torre de Babel, na qual a comunicao sairia do logos (razo), e muito embora a poltica torne imprescindvel o dilogo, o mesmo no pode produzir mal-entendidos. H 7 bilhes de pessoas no mundo e, em breve, seremos nove. O consumo de 9 bilhes vai consumir a terra. a morte demogrfica da humanidade, desengana Deguy.

Quem Michel Deguy?Nascido em Paris, em 1930, Deguy autor de cerca de 40 livros e mais de uma centena de artigos. Em sua obra mais recente destacam-se Spleen de Paris (2000), Reabertura aps obras (2007), este editado no Brasil, em 2010, pela Editora Unicamp, e La fin dans le monde (2009). tambm o presidente do Conselho de Administrao do Collge International de Philosophie e fundador da revista Po&sie.

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A MAIS IRREDUTVELFORMA DE LINGUAGEMEm uma tarde dedicada leitura e anlise de poemas, no ciclo de seminrios Forma e Sentido Contemporneo, o msico, poeta e ensasta Jos Miguel Wisnik lamentou a ausncia de um nome de consenso no trono da literatura brasileira e destacou as qualidades necessrias feitura de poemas, bem como a sua fruio, qualidades estas obliteradas pelo imediatismo e pela reduo da arte a bem comercializvel impostos pela cultura de consumo.Bruno Franco

o comeo de sua palestra, Wisnik, que professor de Literatura Brasileira da Universidade de So Paulo (USP), relatou ter sondado entre colegas professores de Literatura quais seriam os poetas que consideram mais representativos da poesia brasileira atual, e assim constatou a falta de convergncia das respostas: Avalio que todos

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Forma & Sentido parte. A compreenso inclui o poema no campo mais vasto do mundo de relaes a que ele pertence, na floresta dos smbolos de que faz parte, permitindo que seja iluminado por vrias luzes, relacionado com vrios outros smbolos, pois, no fundo, tudo o mesmo. Pessoa diz que a compreenso no se confunde nem com a erudio nem com a cultura: A erudio uma soma, a cultura uma sntese, mas a compreenso uma vida o repertrio que compusemos com tudo o que experimentamos, o nosso sentimento do mundo, esclarece Wisnik. Em relao enigmtica expresso conversao do santo anjo da guarda, Wisnik confessou que lhe apraz entend-la como a presena de um elemento impondervel que integra a criao, abrindo-se ao imprevisvel e ao terrvel (penso no anjo de Rilke), assim como a grata

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temos a sensao desconfortvel de que nossas preferncias soaro possivelmente idiossincrticas a ouvidos outros. Aps a morte de Carlos Drummond de Andrade, nome emblemtico da literatura em nosso pas, o poeta Paulo Leminski constatou que o Olimpo da lrica nacional estaria, doravante, espera de novos postulantes e declarou: O trono est vago. Segundo Wisnik, pode-se dizer que, aps Drummond, Joo Cabral de Melo Neto preenche at certo ponto esse lugar de referncia, mas por um tempo mais curto, e de maneira menos consolidada. Depois dele, podemos apontar dois outros poetas significativos de um perodo litigioso e polmico (ps1950) Ferreira Gullar e Augusto de Campos. Mais recentemente, temos um territrio escorregadio, menos protagonstico, a partir do qual difcil estabelecer consensos, compor um diagrama, analisa o ensasta. Em sua avaliao, o exerccio da poesia, tal como se fez no arco maior da cultura moderna, perde cho com o avano da linguagem publicitria, da mercadoria onipresente, da converso da palavra a um carter pr-codificado, inserido compulsoriamente numa rede de codificao secundria que a explica e a sobredetermina. Assim sendo, a poesia v seu campo de ao minado num ambiente redobradamente pragmtico, utilitarista, finalista e miditico no qual cada palavra chamada, de sada, a dizer imediatamente a que veio e para que serve, acredita Wisnik. A poesia demandaria uma forma de aproximao entre diferentes nveis de linguagem, os quais comparecem, conscientemente ou no, na leitura. A chamada hesitao entre o som e o sentido, de que fala (o poeta francs) Paul Valry, esse entrelugar em que a linguagem se desdobra em todos os seus nveis, demandando a nossa ateno num plano diferente daquele envolvido na linguagem corrente, cursiva e habitual, explica o professor. As qualidades de um bom leitor Dedicando boa parte de sua palestra a anlises de poemas, comeando por Alberto Caeiro, heternimo do clebre poeta portugus Fernando Pessoa, Wisnik ensinou ao pblico presente ao Oi Futuro as qualidades necessrias para uma boa leitura de poesia, tal como escrevera Pessoa no livro Mensagem. Segundo Fernando Pessoa, o leitor precisaria de cinco qualidades para entender os smbolos, ou seja, a linguagem potica: a sim-

patia, a intuio, a inteligncia, a compreenso e a graa, esta ltima descrita por ele como conhecimento e conversao do santo anjo da guarda. Wisnik explicou as cinco, uma a uma: Simpatia vibrar junto com o poema e emprestar-lhe sentido. Poesia planta sensitiva, como a avenca, que, se a olharmos de maneira torta, definha. Intuio envolve deixar aberto aquele canal pelo qual a gente sabe intimamente daquilo que ainda no sabe claramente, condio para que as primeiras percepes difusas de um poema ganhem forma e deem voz a nveis de significao latentes e escondidos primeira vista. A inteligncia seria a articulao dos vrios nveis do entendimento, analisando, decompondo e reconstruindo o smbolo em outro nvel, passando da parte ao todo e do todo

Um intelectual entre o erudito e o popularIntelectual capaz de transitar com desenvoltura e criatividade entre a cultura erudita e a popular, como o descreveu Antonio Ccero, Jos Miguel Wisnik autor de obra diversificada e importante, na qual se destacam Coro dos contrrios: a msica em torno da semana de 22; O som e o sentido: uma outra histria das msicas; Veneno remdio: o futebol e o Brasil; Machado maxixe: o caso Pestana. Jos Miguel Wisnik foi agraciado com inmeros prmios, dentre os quais dois Jabutis (1978 e 2009) e a Ordem do Mrito Cultural (2009).

aceitao que a acompanha e a resguarda. Fernando Pessoa criou juntamente com seu sistema de heternimos a doutrina esttica do sensacionismo, muito abordada por Wisnik em seu seminrio. O sensacionismo postula que todo objeto uma sensao nossa, toda arte uma converso de uma sensao em objeto, e que, portanto, toda arte uma converso de uma sensao em outra sensao, explica o professor. Para Wisnik, pode-se dizer que a troca simptica e emptica com o poema se ope s atitudes da insensibilidade e da indiferena. atitude blas, que Georg Simmel (socilogo alemo) identificou na vida mental da metrpole, e que consiste na saturao extrema das sensaes, que caem numa espcie de indiferena empostada erigida em atitude. No quadro da dificuldade contempornea de compartilhar valores, a antipatia tcita recrudesce no campo cultural no qual a insensibilidade, a indiferena, a atitude blas e a faccionalizao dos discursos comparecem como um enxame de obstculos possibilidade da leitura potica, critica o poeta. Retomando as cinco qualidades enumeradas por Fernando Pessoa e opondo-as aos entraves impostos pela cultura metropolitana mercadocntrica em voga, Wisnik contrape a intuio presso ambiente pela reduo de todas as significaes a uma dimenso pragmtico-funcional, em que os sentidos possveis so levados a se enquadrar na rede dos sentidos j conhecidos. Se as formas e contedos artsticos no tiverem um interesse diretamente ligado sua expresso vendvel, estridente, modstica ou comportamental, tero pelo menos que se sujeitar sua reduo explicativa e classificatria a um repertrio de itens definidos. A mdia imediatista, e quer a imediata converso daquilo que se apresenta como problema ou como enigma a seu carter de significao secundria, ou seja, a sua prvia converso numa traduo simplificada e utilitria, avalia o professor, que define a poesia como a mais intraduzvel e irredutvel forma de linguagem a outro discurso que no seja o seu. No entendimento de Wisnik, a inteligncia, por sua vez, se ope pressa superficial que impossibilita o ato da leitura interior de parar para voltar sobre si. A compreenso - ativao do repertrio de vida e de cultura suscitado pelo poema - se contrape posio do consumo. Finalmente, a graa (a mo do Superior Incgnito ou a Conversao do Santo Anjo da Guarda) fica aos cuidados do anjo da guarda de cada um. Lembrando sempre que, para quem os smbolos esto mortos, ele est morto para os smbolos, acredita o ensasta.

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Produzir Cincia nas suas mais variadas vertentes, ensin-la e ainda contar com uma rea para a exposio de grande parte de seu acervo so algumas das vertentes do Museu Nacional da UFRJ, que acaba de completar nada mais, nada menos, que 193 anos de existncia.Rafaela Pereira riado por Dom Joo VI em 6 de junho de 1818, o Museu Nacional (MN), como consequncia de sua ao de integrante de uma Instituio Federal de Ensino Superior (Ifes), difunde e expe os testemunhos materiais do ser humano e de seu entorno, buscando na divulgao cientfica um de seus caminhos de permanncia, tornando grande parte de seu acervo disponvel, em exposies, ao pblico. Assim, as peas que compem essas exibies so parte dos 20 milhes de itens de colees conservadas e estudadas pelos seus departamentos de Antropologia, Botnica, Entomologia, Invertebrados, Vertebrados, Geologia e Palentologia. No pblico referencial, esto os estudantes de escolas das redes pblica e particular. No ano passado, das 240 mil visitas realizadas ao Museu Nacional, cerca de 50% foram de alunos dos ensinos Fundamental e Mdio. E na preferncia desse pblico esto os esqueletos de dinossauros, seres mesozoicos (do Jurssico ao Cretceo) que povoam o imaginrio de milhares de crianas e adolescentes. O nmero de visitantes ainda maior em junho, ms em que o MN comemora seu aniversrio. Em 2011, o evento aconteceu entre os dias 1 e 3 de julho, reunindo crianas e adolescentes em uma tenda de 1.300 metros quadrados. Esse o momento em que dividimos com o pblico o que a gente faz aqui. Desejamos que a Cincia integre-se efetivamente ao universo do nosso pblico. A gente nota que aes muito simples de divulgao cientfica exercem tanto fascnio e preenchem grandes vazios. Queremos desmistificar a ideia de que a Cincia fica em uma dimenso diferente da qual est a sociedade, ressalta Claudia Rodrigues Carvalho, arqueloga, professora e diretora da unidade.

Desmistificando a Cincia

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Gerenciar todo o acervo que est e no est em exposio no tarefa fcil, no entanto, e se transforma em grande desafio. Segundo a diretora, preciso equacionar os elementos e manter o patrimnio da forma mais adequada. So materiais extremamente distintos. Contudo, sendo otimista, o que est exposto representa de 1 a 5% do que temos. Isso, sem contar com os acervos de Vertebrados e de Botnica, que so guardados nos prdios anexos, e a Biblioteca Central, com sua coleo de obras raras, revela Claudia Carvalho. Mudanas e restaurao Diante das necessidades, h alguns anos, direo e comunidade do museu vm produzindo projetos para que a unidade se transforme. E para que isso ocorra so necessrias obras, reformas e a ampliao de espaos. Segundo Claudia, um dos objetivos que haja mudanas e transferncias para a rea adjacente ao Horto Botnico e que, no palcio (Pao Real de So Cristvo), fiquem as exposies, o atendimento ao pblico e o espao para eventos. Essa mudana j vem sendo feita de forma gradativa. A Biblioteca Central j est no Horto Botnico, o prdio do Departamento de Vertebrados foi para o mesmo local em 1995 e, em dezembro de 2007, tambm o do Departamento de Botnica. Todo o palcio, que um dia foi moradia da famlia real, ser uma grande rea de apresentao e de atividades tpicas de museu, explica a diretora. Os prximos departamentos que devem ser transferidos para as proximidades do Horto Botnico so o de Invertebrados e o de Entomologia, que ficaro em um prdio conjunto. Teremos que buscar recursos para construir os novos prdios e continuar liberando espao no palcio. O projeto bsico est pronto, mas no temos ainda previso de datas, adianta Claudia Carvalho. Restaurao do palcio Inicialmente sediado no Campo de SantAnna, o MN serviu para atender aos interesses de promoo do progresso cultural e econmico do pas. Quando ocorreu a mudana para o Pao Real de So Cristvo, o edifcio, em estilo neoclssico, foi utilizado como residncia da famlia imperial brasileira. Foi exatamente nesse conjunto arquitetnico que se alojou a primeira Assembleia Constituinte Republicana. Ao longo do tempo, o prdio passou por vrias obras; contudo, nem sempre os elementos histricos foram preservados. Em 2006, aps quase dez anos de reformas estruturais, o Museu Nacional comeou a ser restaurado. Segundo Srgio Alex Azevedo, diretor na poca, essa foi a primeira restaurao artstica l realizada. Segundo a atual direo, ao passo que os espaos no prdio forem desocupados, a proposta restaur-los ao mximo, recuperando as informaes de quando ele era a casa do imperador.

Florestas submarinasCoral Vivo. Talvez esse seja um dos projetos mais antigos do Museu Nacional. Seu objetivo estudar ambientes de recife brasileiros e realizar aes de propagao do conhecimento adquirido. De acordo com Dbora de Oliveira Pires, professora do Departamento de Invertebrados e integrante do comit gestor do projeto, o trabalho comeou com os profissionais conhecendo a fauna desse grupo e ficou concentrado em Abrolhos, rea brasileira bastante rica em termos de recife de coral. Foi na dcada de 1990 que a equipe comeou a registrar em vdeos a reproduo dos corais e, com isso, a gerar informaes. O primeiro local de estudo foi Porto Seguro, regio rica em recifes de coral, na qual foi montada uma pequena base de pesquisa com a ajuda do Arraial dAjuda Eco Parque. Em nossos viveiros, j atendemos mais de 300 mil pessoas. E em 2006 conseguimos o edital do programa Petrobras Ambiental, com o qual ganhamos patrocnio at 2008, para intensificar as nossas aes. Investimos ento na qualidade e na melhoria da visitao, aumentamos nosso quadro e hoje temos nativos da regio que so agentes locais e comearam a atuar na luta pela preservao dos corais, explica Dbora Pires. Importante ressaltar que grande parte da UFRJ est envolvida com o projeto, a exemplo de unidades do Centro de Cincias da Sade (CCS) - os institutos de Microbiologia Professor Paulo de Ges (IMPPG) e de Biologia (IB)-; do Centro de Cincias Matemticas e da Natureza (CCMN), com o Instituto de Geocincias (Igeo); do Centro de Tecnologia (CT) e, at mesmo, com a Escola de Belas-Artes (EBA), do Centro de Letras e Artes (CLA). Nosso diferencial por estarmos na universidade. Comeamos com a pesquisa, gerando conhecimento. Isso faz a diferena. A universidade embasou, capacitou e fez com que a gente chegasse com muita robustez, acredita Dbora. A partir deste ano, o grupo comemora mais uma conquista. Com o patrocnio da Petrobras Ambiental por mais dois anos, o projeto Coral Vivo vai atuar na regio de Bzios (RJ). No horizonte do Coral Vivo, vislumbram-se a capacitao de professores, a montagem de um centro de visitantes com aqurio, reproduzindo o mar da regio, e uma fazenda submarina de corais, onde sero criados os filhotes de coral de fogo, que est em risco de extino. O objetivo, assim, atingir o maior nmero de pessoas e chamar a ateno para questes da conservao marinha.

No podemos deixar de lado o simbolismo que essa casa tem. No temos e no devemos apag-lo, pois um grande orgulho que o museu tem em ocupar este espao. Aqui no funciona apenas um museu, mas sim uma instituio fundada pela famlia real para ser um local de pesquisa. Dom Pedro II tinha um apreo muito grande pela Cincia, e imagino que esse deva ser o destino mais nobre deste palcio, aps o fim do Imprio, aponta Claudia Carvalho. Projetos O crescimento do Museu Nacional no constatado apenas com a construo de prdios. So vrios, por exemplo, os programas de ps-graduao, com cursos stricto (mestrado e doutorado) e lato sensu (atualizao, especializao etc.). Temos o desenvolvimento de vrias perspectivas e investigaes em nossos programas. E a nossa proposta reformar e ampliar cada vez mais esse leque de atividades, informa a arqueloga. Segundo ela, certas atividades remetem a projetos importantes para a instituio: alguns

antigos, como o projeto Coral Vivo, que atua em aes de conservao e uso sustentvel de recifes de coral brasileiros. Outras propostas esto vinculadas exposio do MN e a seu acervo, em espao virtual. J comeamos a fazer algumas aes, como o projeto Dinos Virtuais, criado em 2009. Agora, co-

meamos a escanear, em 3D, as nossas mmias, e para isso adquirimos um escner porttil com o qual podemos digitalizar peas inteiras. Queremos que o museu esteja presente em vrias partes do pas, seja pela Internet, seja atravs dessas exposies com as nossas colees em terceira dimenso, adianta a diretora.

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Museu de IdeiasMuseu da Geodiversidade da UFRJ, reinaugurado em setembro na Cidade Universitria, ajuda a explicar a presena de fenmenos globais no nosso dia a dia. Para o diretor Ismar Carvalho, mais do que a exposio de objetos, o espao se destaca como lugar de integrao das Geocincias: Ele um museu de ideias.Marcio Castilho

om um acervo de cerca de 20 mil minerais, rochas e fsseis, o Museu da Geodiversidade da UFRJ foi reinaugurado no ms passado reforando seu papel institucional como importante polo de divulgao e educao das Geocincias no Brasil. O acervo abriga materiais raros, coletados por estudantes e professores do Departamento de Geologia, do Instituto de Geocincias (Igeo) da UFRJ, em trabalhos de campo ao longo das ltimas dcadas. O espao rene uma das maiores colees de fsseis no pas, catalogada pelo sistema Paleo do Servio Geolgico do Brasil. A importncia do museu no se restringe s peas em exposio. Na avaliao de Ismar de Souza Carvalho, diretor do MGeo, a singularidade est nos cruzamentos dos saberes e no dilogo com diferentes campos

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de conhecimento, representados pelo conceito da geodiversidade. O Museu da Geodiversidade no est preocupado apenas com rocha, fsseis e minerais. Est preocupado com o Sistema Terra, com as interaes entre oceano e atmosfera, com as transformaes climticas, o que no uma percepo muito comum nos museus, os quais geralmente tm uma viso muito cartesiana da questo do planeta, explica o professor, que tambm dirige o Instituto de Geocincias da UFRJ. O espao foi aberto oficialmente em 2008, buscando promover a interao da Geologia, Geografia e Meteorologia. Assim o acervo procurava, desde a criao, remontar um pouco a histria dos recursos naturais e contribuir para a compreenso da gesto de territrio e das Cincias Atmosf-

ricas. Denominamos o local, ento, Museu da Geodiversidade, pois dava um espectro maior de atuao para a unidade e poderia congregar pessoas de reas muito diferentes, discutindo esse conceito que o Sistema Terra, complementa o diretor. A partir de 2009, o MGeo foi fechado para melhor adequao do espao. Obteve recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) voltados para a infraestrutura, recuperando telhado, piso, refrigerao e segurana, dentre outras melhorias. Recebeu ainda verbas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e da Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), relacionadas divulgao cientfica. A Petrobras e a Agncia Nacional do Petrleo (ANP) tambm apoiaram a

reforma do museu. Os recursos totalizaram cerca de R$ 1,6 milho. Segundo Ismar Carvalho, apesar de fechado para visitao, o MGeo estabeleceu parcerias, cedendo parte do acervo para exposies de curta durao em outros espaos culturais, como a Casa da Cincia e os museus da Vida, da Mar e de Peirpolis, em Minas Gerais. A equipe tambm ajudou na montagem da exposio de reinaugurao do Jardim Botnico do Rio de Janeiro. O museu um processo de construo da identidade do prprio Instituto de Geocincias, fazendo uma reflexo a respeito da necessidade de integrar Ensino, Pesquisa e Extenso e dar entendimento e visibilidade para os projetos que realizamos. Ao mesmo tempo, ele auxilia na construo de cidadania, pois futuras questes ambientais, transfor-

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maes climticas e desastres naturais sero uma tnica da nossa vida, ressalta o dirigente. Musealizao Com a reabertura do espao, a exposio Memrias da Terra apresenta ao pblico novas colees. H uma parede com pinturas rupestres em azulejos feitas artesanalmente por ceramistas da Serra da Capivara, no Piau. Outra curiosidade a representao da imagem de Luzia, o fssil humano mais antigo encontrado nas Amricas. O trabalho no MGeo no se encerra com a organizao e montagem das exposies. O acervo permanentemente atualizado com novas descobertas trazidas pelo corpo docente e discente do Instituto de Geocincias. Para que mantenha um carter dinmico, o espao conta atualmente com o trabalho de duas muselogas, um historiador, um pedagogo e sete bolsistas. Para Patrcia Danza Greco, que ingressou em janeiro de 2009 como museloga na UFRJ, o trabalho coletivo de tcnico-administrativos, estudantes e professores contribuiu para consolidar o MGeo como instituio museolgica.

Vejo os professores muito empenhados em concretizar esse trip Ensino, Pesquisa e Extenso. Eles se dividem entre aulas, pesquisas e campo. muito difcil para eles sustentarem, sozinhos, o museu, que funciona quase como um organismo vivo no Instituto de Geocincias. Longe de ser

um lugar de coisa velha, esttico, ele a pedra fundamental na Praa Giulio muito vivo e tem que ser o tempo Massarani e um afloramento na Avetodo alimentado. Os professores per- nida Athos da Silveira Ramos, ambos ceberam essa demanda e solicitaram situados no entorno do Centro de Pr-Reitoria de Pessoal (PR-4) a Cincias Matemticas e da Natureza vinda desses tcnicos, afirma Patrcia (CCMN). Greco. Os profissionais participam de v- Preservao A organizao e a preservao do rias atividades educativas. O objetivo fazer com que a utilizao do local acervo e dos novos materiais que esno se limite s visitas, mas que possa to sendo coletados esto includas ser ampliada com a realizao de ofi- nas polticas do MGeo para serem cinas, cineclubes e laboratrios envol- implantadas em curto e mdio prazos. Segundo Ismar vendo Arte e EducaCarvalho, a coleta o, explica Patrcia. O Museu da desses objetos gera A proposta no Geodiversidade no um acervo instituapenas o foco na Cicional que amplia o ncia, mas sempre est preocupado patrimnio da unifazer a integrao versidade. Ter esse multidisciplinar dos apenas com rocha, material patrimosaberes, completa a fsseis e minerais. niado na instituio museloga. A equitraduz-se depois pe do IGeo tambm Est preocupado em convnios com est organizando a I Olimpada Naciocom o Sistema Terra, outras instituies internacionais, denal de Geocincias. com as interaes senvolvimento de Outro projeto teses etc. O acervo a musealizao da entre oceano e cresce mais rpido Cidade Universitatmosfera, com as do que a nossa prria. Aline Ferreira pria capacidade de de Castro, tambm transformaes incorporar as colemuseloga na unidade, destaca a im- climticas, o que no es. Se por um lado um problema, por portncia de identiuma percepo muito outro uma grande ficar resqucios das antigas ilhas que decomum nos museus vantagem, pois nos d possibilidades ram origem ao cammltiplas de ao pus da UFRJ. Temos trabalhado com a musealizao, e interao com outras instituies, com painis explicativos e usando at ressalta o diretor. Outro projeto a integrao do os afloramentos geolgicos na ilha como uma expanso do museu. Pode MGeo com outros espaos culturais ser uma rocha na superfcie. Limpa- na prpria universidade com o objemos o local, sinalizamos e explicamos tivo de dar visibilidade institucional a sua importncia, esclarece Aline, produo acadmica: Quando olhaacrescentando que a ao faz parte mos as colees UFRJ, vemos que do projeto Caminhos geolgicos um acervo que talvez conte muito da do governo do Estado. Dois pontos j histria das cincias e da tecnologia no contam com esse tipo de informao: pas, em um sentido mais amplo.

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Agosto/Setembro/Outubro 201 1 II Semana de Integrao Acadmica da UFRJ

o currculo

Flexibilizar

Mrcio Castilho

s discusses quanto importncia de integrar Pesquisa e Extenso no ensino de graduao mobilizaram professores e estudantes no ltimo dia 6 de outubro. A mesa-redonda, que fez parte da programao da II Semana de Integrao Acadmica da UFRJ, procurou debater alternativas para incorporar as duas atividades ao currculo. O encontro foi realizado no auditrio do Centro Cultural Horcio Macedo, do Centro de Cincias Matemticas e da Natureza (CCMN). Em entrevista ao Jornal da UFRJ, Pablo Benetti, pr-reitor de Extenso, destacou a importncia da formao holstica dos alunos, com a integrao das atividades de Pesquisa e Extenso no projeto acadmico. A formao dos estudantes tem que passar obrigatoriamente por experincias de Extenso e de Pesquisa. Estamos trabalhando a maneira como realizaremos isso. Temos trabalhos de excelente qualidade tanto na Extenso como na Pesquisa, mas isso continua sendo restrito a um crculo que entendemos que pode ser ampliado. Por experincia prpria, alunos que participaram tanto da Iniciao Cientfica quanto da Extenso recebem uma formao melhor, afirma o professor. Como nas edies anteriores, a Semana de Integrao Acadmica da UFRJ, que ocorreu entre 3 e 7 de outubro, reuniu trabalhos da XXXIII Jornada Giulio Massarani de Iniciao Cientfica, Artstica e Cultural (Jicac) e do VIII Congresso

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de Extenso da UFRJ. Ao todo, o evento, neste ano, reuniu mais de 4,3 mil painis, apresentaes orais e produes em audiovisual de estudantes, bolsistas ou no, nas reas de Pesquisa e Extenso. A novidade em 2011 que o evento incorporou tambm as atividades da Jornada de Pesquisa e Extenso de Maca. Mobilizao acadmica Os nmeros da Jicac, em sua 33 edio, superam os registrados na edio anterior. Este ano, foram 3.901 trabalhos, apresentados por 3.573 bolsistas e 1.731 no bolsistas, totalizando 5.304 discentes. Tambm participaram 3.853 orientadores, totalizando 9.157 alunos e professores. Em 2010, foram 3.750 trabalhos. Segundo a coordenadora da jornada, Russolina Benedeta Zingali, do Instituto de Bioqumica Mdica (IBqM), o evento contou com a produo dos 173 cursos de graduao dos sete centros da universidade. Procuramos fazer com que a Jornada no seja somente um evento dos estudantes que fazem a Iniciao Cientfica, mas que seja de todos os alunos de graduao da UFRJ. Temos conversado com os coordenadores para que os professores comecem a utilizar mais a Jornada como instrumento acadmico, complementando as disciplinas, explica a professora. O Centro de Cincias da Sade (CCS), que concentra mais unidades, teve a maior participao na Jicac 2011, com cerca de 1,6 mil trabalhos, representando quase a

metade dos trabalhos inscritos. J o VIII Congresso de Extenso reuniu 2.704 autores. Os 463 trabalhos aceitos foram divididos por unidades temticas, sendo 187 da rea de Educao, 109 de Sade, 43 de Cultura, 41 de Direitos Humanos e Justia, 34 de Meio Ambiente, 22 de Tecnologia e Produo, 15 de Comunicao e 12 de Trabalho. Os participantes so apoiados pelo Programa Institucional de Bolsas de Extenso (Pibex) e outros financiamentos externos. Segundo Russolina, um dos objetivos da Jicac 2011 incentivar os graduandos a continuar na universidade, ingressando em programas de ps-graduao. Temos alunos que fizeram Iniciao Cientfica em 1995 e hoje participam da Jornada como docentes, relata a coordenadora, acrescentando que muitos graduandos seguem com o mesmo projeto da Iniciao Cientfica para a seleo do mestrado, por exemplo. Com o fim do encontro, todos os trabalhos passam agora pelo processo de avaliao. Os melhores de cada centro, incluindo, agora, a produo do polo de Xerm e do campus de Maca, sero premiados em novembro. Os vencedores ganham R$ 1 mil da Fundao Universitria Jos Bonifcio (Fujb) e tm o direito de apresentar a sua pesquisa no encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) em 2012. Os dez trabalhos pr-selecionados por centro ganham certificado de meno honrosa. Alm disso,

como forma de divulgao, os resumos de cada participante da jornada so inseridos em CD. Abertura A palestra de abertura da II Semana de Integrao Acadmica, realizada no dia 3, no auditrio do CCMN, teve como tema O espelho do desastre da Regio Serrana: fatos e reflexes sobre o papel da UFRJ na reduo de futuros desastres detonados por chuvas extremas, com Ana Luiza Coelho Netto, professora titular do Instituto de Geocincias da UFRJ. Em entrevista, a docente abordou as causas do fenmeno extremo ocorrido no incio do ano em cidades como Terespolis, Petrpolis e Nova Friburgo e as medidas necessrias para minimizar as consequncias dos deslizamentos nas encostas e das enxurradas. O fenmeno espelhou que estamos muito despreparados. Ele no novo, mas nunca demos importncia para detonar medidas de carter preventivo. Nossa cultura sempre foi a de reunir uma srie de promessas que no tm vida longa, afirma a gegrafa e geomorfloga da UFRJ. Ana Luiza ressalta a importncia do papel da universidade na anlise das reas com maior suscetibilidade para a ocorrncia dos deslizamentos. Temos ainda pela frente o desafio maior de consolidar uma cultura de preveno diante das chuvas extremas. A universidade no pode negar a sua participao nesse compromisso, defende a pesquisadora.

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Entrevistaprofessor.

Roberto Lobato Azevedo Corra

A globalizao capitalista no destri o lugar ou a regio, mas recria-os, atribuindo-lhes novo papel por meio de uma mais complexa diviso territorial do trabalho, na anlise de Roberto Lobato Azevedo Corra, professor do Programa de Ps-graduao em Geografia da UFRJ, localizado no Instituto de Geocincias (Igeo). No Brasil, at 1970, as reas de florestas, por exemplo, eram dedicadas agricultura e nas reas de vegetao aberta a pecuria predominava. Com a agroindstria, esses conceitos foram alterados e reas abertas, como o cerrado, passaram a ser consideradas ideais para a implantao mecanizada de lavouras de grande extenso. Foi uma mudana que gerou movimentos migratrios e nova insero do Brasil na diviso territorial do trabalho por meio da exportao de gros, sobretudo soja, destaca Lobato, pesquisador 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). No futuro, olharemos criticamente para a expanso da soja, que alterou a organizao espacial e fez do pas um fornecedor de raes para os rebanhos europeus, critica o Especialista em Geografia Urbana, ele tambm analisa as mudanas ocorridas na organizao do espao urbano nas ltimas dcadas. A periferizao acentuada, com a alocao na periferia das regies metropolitanas da populao de baixo nvel de renda, e o autoisolamento das classes mdias-altas e das elites em condomnios fechados so, segundo ele, alguns dos fenmenos mais evidentes do processo recente de urbanizao.

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Nesta entrevista ao Jornal da UFRJ, Roberto Lobato tambm comenta seu estudo, no campo da Geografia Cultural, acerca dos parques temticos formas simblicas criadas pelo capitalismo avanado para auferir lucros e afirma que no acredita em uma universidade de qualidade no curto prazo. Se pensarmos em padres de outros contextos, ainda precisamos caminhar muito, frisa o pesquisador.

A globalizaono destri o lugar.Coryntho Baldez

Recria-o.brasileiros puderam entrar em contato com novas ideias. Houve, a partir da, um processo de mudana, inclusive com a incorporao de modificaes ocorridas na Geografia francesa. No entanto, ainda se encontram resduos da viso determinista at os anos 1960. Apenas a partir da dcada seguinte houve mudanas nas Cincias Sociais que afetaram a Geografia. Jornal da UFRJ: E que mudanas foram essas? Roberto Lobato: As ideias deterministas foram postas abaixo, sendo substitudas pela Geografia Crtica, fundada no Materialismo Histrico e Dialtico. Logo aps, comeou a surgir uma viso da Geografia numa perspectiva cultural. Portanto, hoje, a Geografia est longe de ter essa marca do determinismo. Jornal da UFRJ: O senhor, como quadro tcnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), participou da grande empreitada de conhecer, mapear e quantificar o Brasil urbano e industrial do sculo XX? Roberto Lobato: Em sua fase final. Essa empreitada comeou no final dos anos 1930 e se estende, no meu entender, at o final da dcada de 1980. Depois, es-

Jornal da UFRJ: Em que ano surgiu a Geografia como campo do conhecimento na universidade brasileira e que ideias a influenciaram? Roberto Lobato: A Geografia surge como disciplina logo no momento inicial de fundao da universidade brasileira. A Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo (USP) foi criada em 1934 e dois anos depois, em 1936, foi instalado o curso de Geografia e Histria. Jornal da UFRJ: A USP foi criada sob forte influncia de intelectuais franceses da poca. Ela tambm se estendeu ao campo da Geografia? Roberto Lobato: Sim. Na misso francesa que veio na dcada de 1930, havia um gegrafo, Pierre Monbeig. Ele e outros intelectuais, como Lvi-Strauss, fundaram a Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas e tambm o curso de Geografia e Histria. Jornal da UFRJ: Qual era a viso dos gegrafos europeus nesse campo do conhecimento? Roberto Lobato: Eles eram diretamente ligados ao que se denominava na po-

ca Escola Francesa de Geografia, sob a influncia de Paul Vidal de La Blache. Eram ideias basicamente do possibilismo ou determinismo. Havia naquele momento um debate se a natureza determinava a ao do homem ou se o homem tinha possibilidades de, ainda que influenciado pela natureza, impor a sua marca sobre ela, criando uma paisagem que era uma representao dele prprio. Jornal da UFRJ: Essa formulao de que o meio contribua para a formao do carter dos povos tinha um vis racista? Roberto Lobato: O racismo parte dela, mas no apenas o racismo. Isso tem como base uma viso da Biologia do sculo XIX, que influenciou outros campos, como a Antropologia e a Sociologia, depois da obra de Charles Darwin. Com base nas ideias de Darwin, outro autor, Hebert Spencer, publicou um trabalho no qual se estabeleceu o que passou a ser conhecido como Darwinismo Social, que apontava para a sobrevivncia dos mais aptos. Era a natureza, portanto, que influenciava a ao humana. Jornal da UFRJ: Da a ideia de que os trpicos produziam homens indolentes? Roberto Lobato: Essa concepo j vi-

nha do passado e ganha fora, sobretudo, com a perspectiva colonial dos cientistas europeus, em todas as reas do conhecimento. Eles se atribuam uma misso em relao aos trpicos. Desejavam introduzir nos pases tropicais a cultura ocidental, domesticando e explorando a populao. O racismo aparece na esteira de tudo isso como o preceito da superioridade do homem branco, que traz em si uma ideia que se poderia chamar de neolamarquismo, oriunda do filsofo Lamarck. Ele afirmava que, na luta pela sobrevivncia, as espcies mais fortes, vitoriosas, seriam capazes de internalizar geneticamente atributos que transmitiriam para as prximas geraes. Ento, o clima temperado, no qual se produziu a revoluo capitalista, teria gerado homens superiores em relao queles nascidos nos trpicos, que produziriam geraes sujeitas subalternidade. Jornal da UFRJ: At que perodo essa viso determinista influenciou a formao no Brasil e quando foi superada? Roberto Lobato: Houve um evento muito importante, em 1956, que funcionou como marca de ruptura com a viso determinista. Foi o Congresso da Unio Geogrfica Internacional, realizado no Rio de Janeiro, no qual os gegrafos

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Entrevistaterra que pertence a algum. Isso vem da Biologia. O territrio de algumas espcies animais, por exemplo, demarcado pela urina. Essa ideia foi transposta para a Geografia atravs da Geografia Poltica, mas entra tambm na Geografia Econmica, quando se fala no territrio de uma grande corporao. E tambm, como voc diz, ingressa na temtica urbana, quando se define o territrio do narcotrfico. O problema, talvez, que alguns conceitos esto sendo banalizados e usados fora de suas acepes. H muitos que so mistificados ou at usados levianamente. Territrio e tambm comunidade, para citar outro exemplo, so apenas alguns deles. um processo de adulterao que os torna noes vagas e ambguas. Jornal da UFRJ: Voltando globalizao capitalista, de que maneira ela vem impondo um rearranjo da organizao espacial em pases perifricos como o Brasil?

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tabeleceu-se uma crise na Geografia do IBGE. Jornal da UFRJ: Mas os dados levantados pelo IBGE serviram como subsdios para a formulao das polticas pblicas no sculo XX? Roberto Lobato: No acredito. Foi um desejo dos gegrafos do IBGE em ter uma participao ativa na elaborao de polticas pblicas. O que a Geografia do IBGE fez foi o mapeamento de um territrio que, nos anos 1930, era completamente desconhecido. Naquela poca que foram criados os cursos de Geografia e Histria na USP e na UFRJ. E com o Estado Novo criou-se uma poltica de conhecimento e domnio do territrio nacional. E a o IBGE, por seus gegrafos, fez inmeros trabalhos de campo, produzindo relatrios, muitos dos quais viraram artigos e livros importantes. Passamos a conhecer o Brasil em termos de regies, as suas caractersticas, as reas de povoamento recente, a formao de uma rede urbana. Esse mapeamento pode ter influenciado as polticas pblicas indiretamente apenas. Isto porque a Geografia do IBGE esteve a reboque de decises influenciadas por grupos que tinham o domnio econmico do territrio e queriam se legitimar. O mesmo aconteceu quando da criao, nos anos 1960, do Ministrio do Planejamento. Atravs do ento Escritrio de Pesquisa Econmica Aplicada (Epea), foram feitos levantamentos visando conhecer o Brasil para a instalao de uma poltica de planejamento regional sistemtico. Jornal da UFRJ: Que contou com a participao de gegrafos? Roberto Lobato: Exato. Mas, na verdade, o embrio dessa poltica de desenvolvimento regional nasce com a equipe daqueles que trabalharam com Roberto Campos, nos anos 1950, na Consultoria Tcnica (Consultec), planejando a expanso capitalista no Brasil. Isso aconteceu durante o governo de Juscelino Kubitschek, em seu Plano de Metas. O resto foi consequncia, inclusive o golpe militar, que foi feito para que aquilo que o capitalismo tinha conseguido no Brasil, no governo JK, no casse por terra. Tanto que as figuras mais importantes do Ministrio do Planejamento e do Epea eram pessoas ligadas a Roberto Campos. Jornal da UFRJ: Os conceitos geogrficos de lugar e de regio, de alguma forma, contrariam a lgica da globalizao capitalista? Roberto Lobato: Acho que no. A globalizao tem como raiz a expanso das grandes corporaes multifuncionais e multilocalizadas. A globalizao produto da expanso capitalista, com todas as suas consequncias, mas quem a comanda so as corporaes sediadas em vrias cidades globais, sobretudo a trade Londres, Nova Iorque e Tquio. Essa glo-

balizao no significa homogeneizao. O capitalismo jamais sobreviver num mundo homogneo. Ele precisa das diferenas para extrair taxas de lucros e manter um equilbrio em sua prpria funcionalidade. A homogeneidade leva destruio, morte. So as diferenas que sustentam o movimento de transformao. A globalizao, na verdade, no destri o lugar, nem a regio, mas recria-os, atribuindo-lhes novo papel por meio de uma mais complexa diviso territorial do trabalho. Jornal da UFRJ: Mas no existem iniciativas para criar barreiras contra alguns fluxos da globalizao capitalista, que busca enquadrar espacialmente todas as regies, pases e lugares?

Jornal da UFRJ: E no espao urbano, quais foram os efeitos desse processo, especialmente nas ltimas dcadas? Que fenmenos so mais evidentes? Roberto Lobato: A urbanizao brasileira nas grandes cidades teve marcas bem definidas. Primeiro, houve um crescimento muito grande desses centros. Mas, hoje, essa expanso acontece em municpios vizinhos. Por exemplo, as cidades da Baixada Fluminense tm uma taxa de crescimento maior do que a do Rio de Janeiro. O mesmo ocorre em So Paulo e Belo Horizonte. Houve, portanto, um processo de periferizao acentuada, que significa alocar na periferia das regies metropolitanas populao de baixo nvel de renda. Essa uma caracterstica das mudanas no espao urbano. Jornal da UFRJ: H outras? Roberto Lobato: Sim. O processo de favelizao, ou seja, a ampliao do nmero de habitaes subnormais, que no algo exclusivo das periferias. Esse efeito , em parte, acompanhado por uma poltica urbana de conjuntos habitacionais. Existe outro fenmeno, que o autoisolamento das classes mdias-altas e das elites em condomnios exclusivos e logradouros pblicos cercados, com o controle de quem entra e sai. Esse um processo estimulado pelo pnico social, pelo medo da violncia, que exacerbado pela mdia. Tambm houve uma mudana na organizao do espao urbano com o aparecimento de atividades econmicas tercirias em torno de shopping centers localizados fora das reas comerciais tradicionais. Isso implica um processo de urbanizao tpico que se faz ao longo de determinadas reas, como a Barra da Tijuca, caracterizado pela trade condomnios, vias expressas e shopping centers. Jornal da UFRJ: Os centros das cidades vm perdendo suas funes tradicionais? Roberto Lobato: Na verdade, esse outro elemento da urbanizao recente, sobretudo nas grandes cidades. O centro perdeu a sua funo, dado o processo de enorme crescimento das cidades e a descentralizao de suas atividades. Existem vrios processos em marcha, em estgios diferentes e problemticas locais, mas essas parecem ser as caractersticas gerais de todo o processo de urbanizao recente. Ao lado desses processos, houve uma retomada, em graus variados, de movimentos sociais de toda ordem, desde aqueles que reivindicam gua e esgoto at movimentos de sem-teto. Jornal da UFRJ: E as polticas pblicas tm incorporado as vozes desses movimentos sociais ou h uma tendncia de planejamento urbano autoritrio e centralizado? Roberto Lobato: Avalio que o planejamento urbano aparece com vrias face-

Roberto Lobato: claro que o processo de globalizao pressupe tenses. Uma grande corporao que se expande o faz em detrimento de Roberto Lobato: lugares que perdem As ideias Primeiro, alterando outras atividades. deterministas a diviso territorial Vejamos a Euroforam postas do trabalho. Ou seja, pa, por exemplo. A alterando a organicriao do mercado abaixo, sendo zao espacial. Imaeuropeu arrebentou substitudas gine que, at 1970, com a economia pela Geografia as reas de florestas industrial da Esno Brasil eram dedipanha. Muito diCrtica, fundada cadas agricultura, nheiro foi investido no Materialismo com base na ideia em Portugal e na Histrico e de que os solos eram Espanha, mas sem Dialtico. Logo profundos e mais a criao de valor. frteis. E as reas de E agora esses pases aps, comeou a vegetao aberta, os vo ter que pagar surgir uma viso cerrados, as caatinessa conta. So tenda Geografia gas e os campos do ses que existem numa perspectiva Sul do pas eram deem qualquer prodicados pecuria. cesso de expanso, cultural. Portanto, Depois, pelos efeitos mas num espao hoje, a Geografia da modernizao e diferenciado. H est longe de ter industrializao do tenses com intecampo, esses conresses locais, com essa marca do ceitos foram alterainteresses regiodeterminismo. dos. As reas abernais, com empresas tas passaram a ser nacionais que so prejudicadas e perdem seus mercados. consideradas prprias para mecanizao E a aparecem os embates, como a briga e lavouras de grande extenso. Sobretudo pelas patentes. Somente quem investiu porque so reas de chapades, planas e inventou pode usufruir das vendas de ou ligeiramente onduladas, enquanto as algum produto. Esse um dos captulos reas florestais so imprprias para o uso dessa disputa entre empresas, elites e na- de tratores e mquinas colheitadeiras, por exemplo. es. Jornal da UFRJ: H outro conceito oriundo da Geografia, o de territrio, que empregado em diversas anlises de outros cientistas sociais, como socilogos e filsofos. O fenmeno da violncia social, por exemplo, muitas vezes tratado sob esse ngulo. Existem os territrios do trfico e os territrios pacificados. Isso ajuda ou dificulta a compreenso mais ampla dessa realidade social? Roberto Lobato: No creio que ajude ou dificulte. O que determina isso so o prprio conhecimento do processo em curso e as intenes polticas de estabelecer uma situao melhor. A ideia de territrio se relaciona propriedade ou Jornal da UFRJ: Quais foram os efeitos dessa mudana na organizao do espao no campo? Roberto Lobato: Foi uma mudana que gerou movimentos migratrios, processos de urbanizao em reas do cerrado e nova insero do Brasil na diviso territorial do trabalho por meio da exportao de gros, principalmente soja. No futuro, olharemos criticamente para a expanso da soja, que alterou a organizao espacial, e muito. Essa mudana na agricultura brasileira est inserida em um complexo produtivo global. O pas passou a ser fornecedor de raes para os rebanhos europeus.

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Entrevistanhor tambm vem desenvolvendo pesquisas no campo da Geografia Cultural, como o estudo sobre os parques temticos contemporneos. Do que se trata? Roberto Lobato: A Geografia Cultural entrou no meu interesse h 20 anos. Comecei a ter a percepo, aos poucos, de que a produo do espao no era marcada apenas pelo stricto sensu econmico. Ela tambm estava impregnada de valores, de simbolismos e significados que os diferentes grupos sociais atribuem organizao espacial. Isso motivou o meu interesse pela Geografia Cultural, que tem suas origens no final dos anos 1970. Para se compreender o ser social preciso tambm conhecer os seus significados, porque so eles que do sentido organizao espacial. E o estudo do parque temtico tem origem numa curiosidade minha. As formas simblicas criadas pelo homem, como templos, esttuas, mausolus, tm uma longa histria. E, de certa maneira, muitas delas se esgotaram. Hoje, ningum d valor a uma esttua. Essas formas simblicas tradicionais no tm valor de troca, no so mercadorias. Mas agora so criadas formas simblicas, que so representaes ligadas a diferentes esferas da vida, para auferir lucro, como os parques temticos, como os shopping centers. So formas simblicas do capitalismo avanado. Jornal da UFRJ: E qual a sua anlise sobre o ensino e a pesquisa no campo da Geografia na universidade brasileira? Roberto Lobato: Avalio que houve muito progresso nos ltimos 30 anos. Isso inquestionvel, mas o progresso questionvel. Do ponto de vista do ensino, da formao de professores, tenho uma posio pouco compartilhada pelos meus colegas. Defendo uma separao entre a formao de professores de nvel mdio da formao do pesquisador ou de um futuro tcnico de uma empresa. Se o objeto o mesmo, a objetivao diferente. O professor de Ensino Mdio vai transmitir um conhecimento geogrfico, em princpio, para um futuro bancrio ou enfermeiro, que precisa se situar no mundo, compreend-lo. Outra coisa a formao do pesquisador, que implica um nvel de aprofundamento terico, conceitual, metodolgico, que no to significativo para o professor do Ensino Mdio. E penso que na formao de professores para esse segmento no haveria nenhum mal em reunir de novo Histria e Geografia Jornal da UFRJ: E do ponto de vista da pesquisa? Roberto Lobato: O progresso foi enorme, porm no h mal que sempre dure nem bem que nunca acabe.

Agosto/Setembro/Outubro 201 1A pesquisa, agora, sofre um tormento patrocinado pelos rgos de fomento, como o CNPq e a Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes). Primeiramente, acho que os programas de ps-graduao cresceram alm do imaginvel. Existem cerca de 40 cursos de mestrado em Geografia, o que um exagero. Mestrado e doutorado passaram a ser parte do consumo. Em segundo lugar, atravs do financiamento feito pelos rgos de pesquisa, a exemplo do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, h um incentivo ao produtivismo. Jornal da UFRJ: Na prtica, como isso acontece? Roberto Lobato: O que interessa o nmero de artigos publicados no ano ou, pior, o nmero de artigos publicados em peridicos de nvel 1. O que interessa o nmero de trabalhos apresentados em congressos por ano. Tudo isso em detrimento da qualidade e a favor da criao de um esprito de produzir cada vez maior entre os jovens. A ponto de se fazerem trabalhos para cursos e j se colocar o abstract (resumo) porque ele vai ser apresentado em um congresso. E tambm h outras prticas, como a da coautoria nata. O orientador tem cinco ou seis bolsistas, que fazem um pequeno artigo, do qual ele coautor nato, ampliando seu currculo. a maratona Lattes. O pesquisador vale mais e seu programa passa a ter maior pontuao. Quem sabe ele passar a ser classificado, ironicamente, no nvel AAA, e no mais sete, que era a nota mxima que a Capes atribua a cada programa. Esse agora o modelo, oriundo das agncias de classificao da economia global e como j ocorre nos Estados Unidos. Ora, isso um absurdo. Metaforicamente, a produo acadmica est virando mercadoria, com valor de uso e valor de troca. De um lado, estimula e financia a pesquisa; de outro, acaba incentivando prticas que muitos de ns consideram levianas, inconsequentes e desonestas. Isso acontece no Brasil inteiro, em todos os campos do conhecimento. Jornal da UFRJ: O senhor ainda acredita em uma universidade pblica de qualidade? Roberto Lobato: Acredito, mas no em curto prazo. Isto porque h um conjunto de aes que levam exatamente ao sentido oposto. A qualidade algo que deve ser construdo. E mais, se o ambiente medocre, a qualidade aquilo que se destaca da mediocridade. Portanto, a qualidade no uma coisa em si, mas relativa. Se pensarmos em padres de outros contextos, ainda precisamos caminhar muito.

tas. As polticas pblicas so variveis. Elas so feitas pelo Estado, mas por trs delas existem interesses privados extremamente poderosos. Essas polticas, de qualquer forma, so elaboradas no mbito de grandes tenses. O Estado uma arena na qual competem vrios interesses. Ele no uma entidade supraorgnica, onipresente e onisciente, que sabe onde esto os problemas e que age no sentido de solucion-los. O planejamento urbano revela todas essas tenses, tomando vrias feies e sentidos. So feitas, assim, coisas do arco-da-velha, como telefricos como parte de uma poltica pblica. Mas no se resolvem velhos e estruturais problemas. E essas polticas pblicas interessam muito academia, no apenas porque alimentam as suas pesquisas, mas porque se constituem em fonte de renda complementar. Jornal da UFRJ: O senhor est se referindo chamada universidade de servios? Roberto Lobato: A universidade no um corpo homogneo. Tem tudo o que se possa imaginar. Tem at intelectual. Jornal da UFRJ: O senhor diria que a Copa do Mundo e os Jogos Olmpicos esto servindo de pretexto para o poder pblico desalojar comunidades existentes h mais de 30 anos, como est acontecendo na Barra da Tijuca? Roberto Lobato: Isso verdade. Grande parte das polticas pblicas que foram implantadas no Rio de Janeiro desde a famosa cirurgia urbana do Pereira Passos implicou deslocamentos no espao das populaes pobres. Isso foi feito para abrir caminho para que atividades e determinados grupos sociais atuassem em um espao socialmente limpo. possvel que esses eventos esportivos tambm sirvam para isso. Jornal da UFRJ: O senhor contra a realizao de tais eventos no Brasil? Roberto Lobato: Eu, pessoalmente, fui e sou contra a realizao da Copa do Mundo e das Olimpadas no Brasil. O pas no comporta esses eventos, que foram transformados em grandes negociatas internacionais. Na verdade, o futebol virou um grande negcio envolvendo atividades escusas, e as Olimpadas tambm. Coitada da Grcia, que fez um grande evento e hoje est pagando o nus, mas no apenas por isso, claro. E o que sobrou das Olimpadas de Barcelona? Elefantes brancos. Esses eventos trazem melhorias para quem? Para as elites, para as cadeias de hotis, para empreiteiros, donos de restaurantes e outros negociantes. Portanto, no vejo esses eventos com boas perspectivas. De qualquer modo, espero estar errado. Jornal da UFRJ: Ultimamente, o se-

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grisalhaComportamentoAline Dures

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19Yole Teixeira

Internet

Depois de tomar o caf da manh, Yole uma das primeiras atividades de seu redes sociais, conversa com amigos e,

Teixeira Muriano vai para o computador. dia. Checa e-mails, l notcias, acessa as

quando pode, recorre a seu passatempo preferido na Internet: os jogos on-line. uma forma de passar o tempo. Ela uma distrao muito grande. Ali, Aos 84 anos, Yole conta que a Internet

aprendo sempre alguma coisa, assim

como transmito coisas que aprendi no decorrer de minha vida, aponta a exfuncionria da Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos (ECT).

aposentada comprou seu primeiro computador logo aps ficar viva. No incio, sentiu dificuldades para executar mesmo as funes mais simples do aparelho. No se deu por vencida. Contratou um professor e ingressou definitivamente no universo digital. Gosto do difcil, daquilo que me faa raciocinar. Procuro sempre me atualizar. Isso importante na minha idade, porque me permite acompanhar o ritmo da vida, afirma Yole. Em um primeiro momento, a agilidade do meio digital pode parecer contrastar com as caractersticas prprias da terceira idade. Geralmente, os idosos possuem problemas de viso e

A

dificuldades motoras que poderiam impedir o uso da Internet e de computadores. Casos como o de Yole, no entanto, so cada vez mais comuns e provam que a idade no um empecilho incluso digital. Alm de atualizar os idosos quanto aos acontecimentos do mundo, a rede proporciona experincias que exercitam o crebro, estimulam a memria e ampliam o conhecimento, fortalecendo a autoestima e trazendo benefcios sade. O prprio ambiente digital j reconheceu a importncia desses novos usurios. Prova disso so os inmeros sites especializados em assuntos da terceira idade. As pginas trazem dicas de sade, entretenimento e

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Comportamentoos idosos compem o grupo com as mais elevadas taxas de suicdios. Para a faixa acima dos 75 anos, o ndice passa de 15 mortes a cada 100 mil habitantes, sendo a mdia brasileira de 4,5. Embora as tentativas de suicdio sejam maiores entre os jovens, entre os idosos que o ato se consuma com maior frequncia. Eles so silenciosos. No tentam mais de uma vez, porque, quando tentam, conseguem, afirma Laks. Para o pesquisador, a Internet e as redes sociais so ferramentas cruciais na luta contra a depresso na velhice. Nesse sentido, o mdico destaca ser importante estimular os idosos a perderem o medo do computador: As dificuldades so normais. Existe, hoje, um afluxo de informaes na rea tecnolgica que afoga todo mundo. O idoso, especialmente, deve ser protegido disso; devemos

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listas dos direitos dos idosos. O objetivo propagar os meios de envelhecimento saudvel. Nelas, eles podem interagir com pessoas e empresas de vrias partes do mundo e ampliar as malhas de contatos. O mercado tambm vem prestando ateno ao assunto. Em 2009, a empresa inglesa Wessex Computers lanou um computador especial para usurios com mais de 65 anos. A mquina, chamada SimplicITy, possui interface simplificada, com apenas quatro opes de navegao: acessar e-mails, utilizar a Internet, acessar arquivos e participar de conversas on-line. O aparelho ainda vem com vdeos de ajuda instalados, que tornam mais intuitiva a experincia do usurio. H uma srie de formas de relacionamento que devem ser estimuladas. No somente para conhecer novas pessoas, mas porque a navegao possibilita ao idoso ir a lugares inacessveis, seja por limitao fsica ou financeira, ressalta Horcio Magalhes, presidente da Sociedade Amigos de Copacabana. Apoio contra a depresso A interao via Internet eficaz para evitar uma doena muito comum na terceira idade: a depresso. A solido, somada ao descaso de alguns familiares e falta do sentimento de pertencimento ao mundo, pode provocar o aparecimento de traos depressivos nas pessoas acima dos 65 anos. Jerson Laks, mdico psiquiatra, coordenador do Centro de Doenas de Alzheimer e Outras Desordens Mentais da Velhice (CDA) do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ, comenta que ser mulher, portar alguma doena incapacitante, morar sozinha e ter pouca vida social so caractersticas que tornam algumas idosas mais suscetveis depresso: A gente tende a pensar que os idosos, quando esto quietos, ficam assim por conta da idade. Mas, na verdade, eles podem estar doentes e ningum assim o percebe. De acordo Jerson Laks, a depresso gera uma srie de infortnios e pode levar morte. Ela antecipa a morte e agrava certas doenas. Aumenta o risco de diabetes, hipertenso e cncer. Um idoso com doena clnica morrer mais rpido se tiver, combinada com ela, um quadro de depresso, alerta o especialista. O alcoolismo e os desejos suicidas so sintomas clssicos da doena na velhice. Para se ter noo da gravidade do assunto,

mostrar como ele pode explorar esse universo em prol de suas necessidades. Admirvel mundo novo Sara Nigri, professora da Escola de Servio Social (ESS) da UFRJ, no estudo O lugar dos velhos na Internet, analisou o comportamento de pessoas acima dos 50 anos que usaram a Internet e percebeu que o ambiente virtual pode ser um espao importante de sociabilizao dessa populao. Ali, os idosos conversam, fazem amizades e, no raro, conhecem parceiros amorosos. A pesquisa de Sara obteve dados interessantes. Constatou, por exemplo, que 70% dos participantes dos chats so mulheres. Percebeu tambm que, nas conversas, os idosos trocam experincias, confidncias e opinies sobre os principais acontecimentos do mundo. So comuns a troca de e-mails e os encontros reais entre amigos, alm de en-

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Comportamentocontros amorosos que saem da virtualidade para a realidade, aponta o estudo. Os internautas comprovam que a rede uma forma de as pessoas, que por dcadas estiveram muito tempo presas apenas famlia e ao trabalho, romperem com a solido. Conheci muita gente boa e recuperei a autoestima, diz um dos depoimentos que constam no estudo. A rede me ajudou a querer voltar vida em todos os sentidos, afirma outro participante da pesquisa. Gray power A tendncia que a utilizao de meios digitais aumente cada vez mais. Isso porque o nmero de pessoas com mais de 65 anos vem crescendo exponencialmente em todo o mundo. Em meados de 2008, segundo o Departamento do Censo dos Estados Unidos, havia 506 milhes de pessoas acima dos 65 anos no mundo. At 2040, estima-se que esse nmero chegue a 1,3 bilho, ou 14% da populao global. No Brasil, os mais velhos j ultrapassaram as crianas. De acordo com a sinopse do Censo Demogrfico, divulgada no ano passado, o pas possui 13,8 milhes de crianas de at quatro anos e 14 milhes de pessoas com mais de 65. Estudos mostram que, em 2025, os idosos representaro 19% da populao brasileira. Tudo indica que os geeks de hoje sero os idosos de amanh. Temos hoje uma populao de transio, que foi, aos poucos, incorporando os meios eletrnicos sua vida. Mas a futura terceira idade estar totalmente familiarizada com a informtica, aponta Marcos Jardim, diretor do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ e coordenador do Projeto de Valorizao do Envelhecer (Prove). medida que cresce, a terceira idade amplia seu poder poltico. Nos Estados Unidos e na Europa, j se fala no Gray power (Poder grisalho). L, os idosos utilizam a Internet para articular mobilizaes po-

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Joo Rezende

lticas. Segundo analistas, em alguns anos, eles vo substituir os jovens no cenrio mundial e sero os seus valores os determinantes de comportamento, moda, cultura e poltica. Para Marcos Jardim, ainda falta, entretanto, esse vis contestatrio terceira idade brasileira. Em alguns pases, o Gray power influencia eleies, polticas pblicas, representao dos polticos. Mas, aqui no Brasil, os idosos no esto to acostumados participao mais intensa. No existe um carter permanente da utilizao do meio digital como modo de mobilizao. Eles usam mais os chats, salas de bate-papo e, eventualmente, combinam uma ou outra atividade social, afirma o professor. Um longo caminho pela frente Embora a participao da terceira idade venha crescendo, o nmero de idosos excludos do mundo digital ainda grande. Em pesquisa realizada em 2007, com 300 pessoas acima dos 60 anos, o Datafolha constatou que 45% dos entrevistados possuem computador em casa, mas apenas 19% disseram utilizar o equipamento regularmente. Muitos no se sentem motivados a ingressar no mundo informatizado. Desistem antes mesmo de tentar. Para completar, ainda so raros os cursos de alfabetizao digital voltados especificamente para os idosos. Depende de a sociedade fazer com que eles entrem na Internet. Enquanto ao Estado cabe permitir o acesso livre informao e rede, no apenas para os velhos como tambm para a populao no geral, dever da sociedade adequar o mundo virtual necessidade dos mais velhos, pontua Jerson Laks. Algumas iniciativas, embora tmidas, j vm sendo pensadas. Uma delas o Programa de Internet Snior da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). No curso, com durao de 15 dias, os alunos so capacitados para a utilizao da rede mundial de computadores. Os monitores incentivam os idosos a visitar sites de relacionamento, acessar e-mails e ler pginas de notcias. Marcos Jardim alerta, porm, que o mundo virtual no pode substituir o contato fsico e as atividades sociais dos idosos: Se o uso da Internet implicar ao idoso ficar em casa, no vale a pena. A rede um meio de comunicao, mas no to amplo quanto o contato fsico. Sair, ver pessoas, sentir cheiros, relembrar passagens histricas. Isso no pode ser substitudo pelo universo virtual.

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Comuna de Paris:140 anos de lies para o futuro

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Pedro Barreto, Carla Baslio e Gabriela Amadei

debate a respeito dos 140 anos da Comuna de Paris faz parte de uma srie que, desde maro passado, acontece em universidades de todo o pas para marcar a data, entre elas, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Na UFRJ, o seminrio foi organizado pela Associao dos Docentes (Adufrj-SSindical), pelo Frum de Cincia e Cultura (FCC), pelo Laboratrio de Estudos Marxistas (Lema) do Instituto de Economia (I