Entrevista: Lobo-ibérico Clic: Fotografia da Natureza Quinteiro: Muro ...

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Ano IV - N.° 12 - 22 Dez./23 Março 2005 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído Entrevista: Lobo-ibérico Clic: Fotografia da Natureza Quinteiro: Muro doce muro

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Ano IV - N.° 12 - 22 Dez./23 Março 2005 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Entrevista: Lobo-ibéricoClic: Fotografia da NaturezaQuinteiro: Muro doce muro

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Sum

ário

10 Quinteiro: Muro doce muro

Pedra sobre pedra, entremeados de plantas silvestres,os muros rústicos são suportes de vida para muitospequenos animais. Que tal dar-lhe abrigo, mesa e larno seu jardim?

18 Entrevista: Francisco Álvares e o lobo-ibérico

A história do lobo mau parece não ter fim, mas o certoé que a cada dia que passa a compreensão do papeldeste predador nos ecossistemas naturais avança aolhos vistos.

24 Clic: Fotografar natureza

Quem alguma vez olhou com olhos de verpara o nosso património natural guardaráconsigo o sonho de querer reter essasimagens. João Luís Teixeira inicia uma sériede artigos que lhe propõem experiênciasprogressivas nesta área.

Revista“Parque Biológico”

DirectorNuno Gomes Oliveira

EditorJorge Gomes

TextosRedacção

FotografiasArquivo Fotográfico do Parque Biológicode Gaia, E. M.

RevisãoFernando Pereira

MaquetagemORGALimpressores

PropriedadeParque Biológico de Gaia, E. M.

Pessoa colectiva504888773

Tiragem5000 exemplares

ISSN1645-2607

N.º Registo no I.C.S.123937

Dep. Legal170787/01

Execução GráficaORGALimpressoresRua do Godim, 2724300-236 Porto

Administração e RedacçãoParque Biológico de Gaia, E. M.Estrada Nacional 2224430-757 AVINTES – PortugalTelefone: 22 7878120E-mail: [email protected]ágina na internet:http://www.parquebiologico.pt

Conselho de AdministraçãoLuís Filipe MenezesBrito da SilvaNuno Gomes Oliveira

Ano IV - N.° 12 - 22 Dez./23 Março 2005 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Entrevista: Lobo-ibéricoClic: Fotografia da NaturezaQuinteiro: Muro doce muro

Fich

a Té

cnic

a

SecçõesVer e Falar: O Leitor escreve 5Breves 7Colectivismo: Associação dos Amigos do Parque Biológico 8Quinteiro: Pisco de peito aberto 12Habitat: Doces lagoas 15Flora: À flor da água 16Fauna: A rela que veio do verde 17Educar: Uma visita diferente 22Espigueiro: Acontece no Parque 26Biomas: Dar à Cidade 40Espaços: Parque da Lavandeira 41Arboricultura 44Parágrafo 45Infância: Sonhos despertos 46Foto da Estação 48

NOVO SITE

O site do Parque Biológico de Gaia está on-line e éactualizado em tempo real. Depois desta grande reforma,através dele pode consultar as actividades do Parque:www.parquebiologico.pt

FOTO DA CAPA

Foto de Jorge Gomes. Ninho de chapins-reais, em 20 de Abril de 2004, num dosmuros rústicos do Parque Biológico deGaia.

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 3

Ao encerrar o 4.º ano de actividadecomo Empresa Municipal podemosconsiderar que esta nova forma degestão do Parque Biológico se está aconsolidar e a demonstrar ser ummodelo adequado.

E essa maturidade demonstra-se,por exemplo, pela capacidade de,pela primeira vez nos 22 anos dehistória do Parque Biológico, ter sido

possível organizar e publicar, emSetembro passado, um Guia doParque com uma agenda de activi-dades para todo o ano lectivo2004/2005.

Vê-se, igualmente, no aumento daoferta de actividade, e na melhoriaqualitativa das mesmas.

Na gestão financeira também foramdados passos no sentido da consoli-

dação do Parque Biológico, tendoconseguido gerar economias epotenciar receitas, de modo a que oesforço municipal de sustentaçãodeste equipamento seja menor.

O Relatório e Contas de 2004 está jáaprovado e disponível no renovadosite do Parque

(www.parquebiologico.pt).

PROVEITOS CUSTOS

Vendas 95 000,00 e Aquisição de bens e serviços 775 000,00 e

Prestação de Serviços 338 000,00 e Custos com pessoal 983 000,00 e

Subsídios da Câmara 961 000,00 e Amortizações 160 000,00 e

Outros proveitos 606 000,00 e Outros custos 82 000,00 e

Total 2 000 000,00 e Total 2 000 000,00 e

Receitas e Despesas do Parque Biológico em 2004

Editorial

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Outro aspecto que evidencia a maioridade do ParqueBiológico é a crescente solicitação, pela Câmara de

Gaia e por outras entidades, de estudos, projectos eexecução de parques e outras intervenções.

e d i t o r i a l

4 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Neste momento a Empresa Municipal Parque Biológicode Gaia está a ultimar a construção do Parque daLavandeira, em Oliveira do Douro (ver página 43), queabrirá ao público no próximo Verão, a ultimar o projec-to do Parque Biológico de Vinhais e a elaborar outrosprojectos em Gaia, em Torres Vedras e em Miranda doDouro.

Outro aspecto também interessante que se está a veri-ficar na evolução do Parque Biológico é o aumento depúblico adulto e a fidelização de visitantes, em grandeparte membros da Associação dos Amigos do ParqueBiológico que conta, já, com cerca de 3200 associados.

Durante 2005, para além de desenvolver as interven-ções do Parque Biológico fora da sua área geográfica,também iremos introduzir diversos melhoramentos nopróprio Parque Biológico.

O primeiro, a começar em breve, será a construção deum novo cercado para os Bisontes-europeus que, actu-almente, estão na nossa pior instalação para animais,em condições não admissíveis à face da lei e dos nos-sos próprios critérios.

É uma obra cara, para a qual procuramos, em vão, ummecenas, mas que teremos de fazer com recursos pró-prios.

Outra tarefa importante é revitalizar o Centro deFormação do Parque Biológico (acreditado pelo CEFA –Centro de Estudos e Formação Autárquica) de modo aoferecer à comunidade, e aos próprios funcionários doParque, acções de formação.

Como já tem vindo a fazer, o Parque Biológico irádesenvolver actividades na área do ecoturismo apro-veitando, também, as relações com outros parques eoutras instituições. Assim, está a ser preparada atransformação da “pousada” do Parque em hotel rurale esperamos vir a dispor de outros meios de alojamen-to, noutros parques, vocacionados para o turismo de arlivre.

Parque Biológico de Gaia, Abril 2005

Nuno Gomes OliveiraAdministrador-executivo

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v e r e f a l a r

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 5

Dia 23 de Novembro, de tarde, um telefonema seguidode e-mail:

«Temos aqui onde eu trabalho este pássaro, que esta-va pousado no chão. Ele não fugiu, deixou-se apanhar.Agora não sabemos como ajudá-lo! O que lhe devofazer?

Cátia».

Assunto urgente: «Pela fotografia que enviou, pareceuma «toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocep-hala), fêmea; os machos é que têm a cabeça realmen-te preta e com o anel ocular vermelho vivo», apura-se,consultado um especialista.

Possivelmente trata-se «de um migrador exausto, quepode ter tido falhas de reabastecimento e abrigo noseu percurso. É uma ave insectívora, que não desperdi-ça outros tipos de alimento.

O mais sensato a fazer parece-nos ser evitar o stress.Como está numa caixa transparente, tape-a com umpano, deixando um lado virado para a parede, ondenão passe ninguém, não há necessidade de estar àsescuras. A temperatura da sala será amena, supõe-se.Deixe que essa ave descanse um par de horas e depoistente pousá-la na janela, pois nessa altura a ave jápoderá estar em condições de retomar a sua vida, e vaivoar.

Depois diga como ficou essa experiência».

Passado um tempo, Cátia não tardou a dizer que a tou-tinegra tinha voado sem dificuldade. Ainda bem!

Os patos da Afurada

Uma outra pessoa, Camila, em 2 de Dezembro, disse:«Os meus pais têm o hábito de ir dar uma volta pelabeira-rio sempre que têm a tarde livre, e já há algumtempo que me falavam de uns patos que andavam norio... primeiro eram dois ou três, agora são umas deze-nas... Patos-reais, acho, vindos sabe-se lá de onde...Ontem fui vê-los, levei pão para lhes dar, e entre elese as gaivotas loucas, comeram tudinho! São realmen-

Migradora com sorteMuitas espécies de aves responderam ao clima com um golpe de asa e inventaramas migrações. Estas, porém, pedem «estações de serviço» nas longas viagens -quando fecham... há problemas!

Galeirões

Toutinegra (fotorecebida por e-mail)

Patos e galeirões (fotorecebida por e-mail)

Foto: Jorge Gomes

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v e r e f a l a r

6 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

à

te bonitos e não sei até que pontopertencem ali, se sobrevivem bemou não... alguém saberá quem con-tactar sobre estes patos?».

Resposta: «Embora não consiga per-ceber com toda a nitidez, na fotoque enviou vemos um pequenobando de galeirões e alguns patos-reais. Ora, estas espécies são silves-tres, como as gaivotas, os pardais,verdilhões, piscos, etc.

Apesar de lhes ter dado pão, elessabem viver pelos seus própriosmeios. Como sabe, estamos quaseno Inverno e nesta altura há muitasespécies diferentes de aves que se

recolhem no Estuário do Douro,como os corvos-marinhos, grandesbandos de garças-reais que regres-sam do Norte, onde criam, e outras.

E diz-se isto porquê? Para que nãose preocupe, pois eles, se estão ali, éporque não desgostam do sítio.Notará com certeza que, quandoessas aves quiserem ou quando aPrimavera chegar, irão procuraroutros sítios, como pântanos (galei-rões e patos-reais) e o próprio mar(corvo-marinhos), como fazem anoapós ano.

Se pudermos ajudar em mais algu-ma coisa avise, está bem?».�

Baía de S. Paio, juncal no Estuário do Douro,com garça-real e garça-branca à vista

Corvo-marinho

A garça-branca é uma das pernaltas que se vêem com facilidade à cocade peixe no Estuário, mas é mais frequente ver grupos de garça-real

O guarda-rios é outra espécie de aveentre as muitas que se vêem nesteEstuário

Foto

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Gom

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b r e v e s

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 7

Indicadores de todos os tamanhos

A seca deste Inverno regista na imprensa dados comoa morte de gado por falta de pastagens ou o frio inten-so sentido até Março.

Mas há outros detalhes. No Parque Biológico, apesar deser um sítio de muita água, há curiosidades que aosvisitantes atentos não escapam: os fetos, nos muros enos amieiros, noutros anos sempre viçosos, andavamdesalentados, morrendo de sede à beira da água.

Dando um salto, o aquecimento global parece deixarmarcas à beira-mar. A Estação Litoral da Aguda recebeupeixes invulgares colhidos nas redes dos pescadores. Oaparecimento da enguia-cobra (Pisodonophis semi-cinctus) na Aguda, «embora seja um indício do aqueci-mento global só poderia ser considerado um indicadorbiológico se entretanto aparecessem mais animaisdesta espécie», afirma Jaime Prata, técnico da ELA.«Em relação à Júlia (Coris julis), também não é cienti-ficamente correcto dizer que é um indicador: estaespécie existe com alguma abundância nas rias gale-gas. No entanto, estas evidências com as devidas res-salvas podem ser tidas em conta como provas de queo aquecimento global está a acontecer».

Se estes casos não chegam, assim isolados, há «outraespécie, sobre a qual não parece haver dúvidas de quese está a estender para norte: as moreias Muraenahelena. Existem já dados com validade científica queapontam para um aumento gradual do seu número ecada vez mais a norte. Na praia da Aguda, por exem-plo, entre 1984 e 1990 apareceu um único exemplar;era considerado raro. Hoje em dia existem às dezenasnesta área».

Censos de aves comunsA Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves lançouo ano passado um programa de monitorização de avescomuns nidificantes, denominado Censos de AvesComuns (CAC). Este projecto constitui uma ferramen-ta para mais se saber sobre as aves, determinar as ten-dências populacionais, identificar quais as espéciesque enfrentam maiores riscos e, por fim, poder propore tomar medidas com vista à conservação das espéci-es potencialmente mais ameaçadas. Durante o anotransacto, o projecto contou com a participação decerca de 70 colaboradores, o que superou largamenteas expectativas e permitiu obter um conjunto impor-tante de dados.Em 2005 pretende-se, por um lado, «assegurar a con-tinuidade das visitas às quadrículas já visitadas em2004» e, por outro lado, «alargar a base de quadrículasvisitadas». Este ano o projecto contará com «o envolvi-mento de quatro organizadores regionais, cada um dosquais será responsável pela coordenação dos trabalhosnuma dada zona do território nacional». Os observadores interessados em colaborar neste pro-jecto deverão contactar o Organizador Regional daárea onde pretendem realizar o trabalho de campo.Para saber mais: http://www.spea.ptEducação Ambiental: encontro nacional O Parque Biológico de Gaia, o Instituto do Ambiente ea Câmara Municipal de Torres Vedras são a comissãoorganizadora do XVI Encontro Nacional de EducaçãoAmbiental. O evento deverá decorrer na Expotorres, emTorres Vedras, de 1 a 4 de Outubro, porém, esta dataainda está sujeita a confirmação. O tema será"Educação para o Desenvolvimento Sustentável". O sitedo Parque Biológico de Gaia – www.parquebiologico.pt– actualizará progressivamente esta informação.

Um peixe cuja máxima aventura eratocar águas algarvias sentiu-seconfortável e subiu até ao marnortenho

Uma enguia que não passava da Mauritâniaveio nas redes de pescadores da Aguda

Fetos espontâneos sedentosà beira do rio Febros...

Foto

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O site do Parque Biológico de Gaia está pintado defresco. Mas não é só isso: agora, as informações sãoactualizadas instantaneamente, o que lhe permitesaber das actividades deste organismo de educaçãoambiental a curto e médio prazo.

Concretizada a inserção de dados básicos, os visitantesdeste site vão deparar, em breve, com várias outrasfases de aperfeiçoamento e ampliação de conteúdos.

Se no site www.parquebiologico.pt for à secçãoActividades / Associação dos Amigos do Parque encon-tra uma síntese sobre esta colectividade, que já conta15 anos de existência.

Uma curiosidade: à data de fecho desta edição, aAssociação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia jávai no sócio n.º 3219!

c o l e c t i v i s m o

Amigos do Parque

PROPOSTA DE SÓCIOPROPOSTA DE SÓCIO

Nome:

Morada:

Telefone: Bilhete de Identidade: Arquivo: Data: / /

N.º contribuinte:

Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação. Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia(Inclui entrada gratuita no Parque Biológico)

ASSINATURA

Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia

Percurso de descoberta da natureza

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Mas nem todos os muros têm essecondão! Há também os devotos dosdeuses da esterilidade. Veja os deblocos de betão: lisos, sem qualquerorifício, cor de cimento, cinzentos.Servem só de pistas de obstáculos asardaniscas e aranhas, e o própriomusgo sua bom suor para se lheagarrar. Não lhes surge talento parareterem a vida.

Ao contrário, os muros rústicos, depedra, são outro fôlego! No ParqueBiológico há uma série deles. Uns

sustentam desníveis de terra, estru-turam socalcos; outros são murosvulgares, que visam regular o trânsi-to de gentes e animais.

Um destes muros rústicos, emMarço do ano passado, revelou algoextraordinário. Ia no caminho, sempressa, olho atento ao mais apuradodos mimetismos do lagarto-de-água. Já tinha sido visto ali, naque-le muro, no final do percurso de des-coberta da natureza do Parque, maseu nada vira ainda: imperdoável.

Num repente, vista colada ao muro,vestido de musgos, fetos e outrasplantas, como se brotassem dominúsculo buraco, as crias de cha-pim acotovelam-se, à altura daminha cintura. Pasmei: «Não acredi-to! O que é isto?». Câmara fotográ-fica na mão, tempo nublado, deixaver se não se escondem já. Clic, clic,clic...

Já tinham parado de piar, bicosabertos, a pedir paparoca. Olhei àvolta, não localizei os pais. Eramcinco! Falso alarme, perceberam, emfila, tudo lá para dentro!

Estava extasiado. No Parque hádezenas de ninhos artificiais demadeira, utilizados maioritariamen-te por pardal-montês, mas tambémpor chapins-reais. Um casal destaespécie, no entanto, gostou da ideiade nidificar naquele buraquito.

Lembrei-me: «Se fosse um predador,fazia um festim. Estes pintos sãonovos, não pensam!».

Nem só de chapins se faz a festa nosmuros. Em Março deste ano, ao fimdo dia, uma toutinegra-de-barrete-preto, fêmea, petiscava num outromuro. O interesse da ave era tantoque, foge não foge, me deixou olhá-la a poucos metros durante quasemeio minuto!

Mas há muitos mais beneficiáriosdestes muros amigos da vida. E tudocomeça com as plantas: musgos,fetos, conchelos, erva-das-verrugas,chuchas, morangueiros silvestres,heras e uma infinidade de outraflora faz destes muros berçário.Depois vêm os insectos e, com eles,quem os come: lagartixas-dos-muros, sapos, musaranhos, ratos-do-campo, entre outros.

No seu jardim, se optar por muros

10 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

q u i n t e i r o

Muro doce muroOs muros existem para organizar espaços. E é assim há muito tempo. Artifíciohumano no terreno, é aproveitado por fungos, plantas e animais: um excelentesuporte de vida, se observadas certas características...

Lá para dentro, umninho de chapim-real

num muro rústico

Texto e fotos: Jorge Gomes

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rústicos, conseguirá hospedar animais que lhe darãohoras e horas de prazer, só de os olhar. Caso os murosem causa sejam lisos, impermeáveis à vida, pode sem-pre dar-lhes um revestimento irregular, em cujas frin-chas e interstícios pequenas plantas autóctonesencontrarão apoio espontâneo e darão abrigo a umcorolário de espécies animais que, se calhar, ainda nãoteve o prazer de conhecer melhor. Dê-lhes um lar…doce lar.�

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 11

Os bons projectos estão no meio:antes e depois ficam as boasideias. Uma delas consiste emcriar o Clube dos Amigos dasAves de jardim. O que é isso?

É simples: quem tem — ou preten-de vir a ter — este passatempo(apoiar as aves no seu próprio jar-dim) contacta a revista “ParqueBiológico”, secção Quinteiro, queune os Amigos das Aves. E isso aoponto de fornecer dados a respei-

to deste saudável passatempo.

É facultativo, para cada membroinscrito, associar-se à Associaçãodos Amigos do Parque Biológico.

Que tal? Gostou? Ficamos à es-pera das suas novidades, venhamelas por carta (Parque Biológicode Gaia – Revista "Parque Bioló-gico" – 4430-757 AVINTES) oupor correio electrónico:[email protected]

Clube dos Amigos das Aves

As lagartixas-dos-muros surgemfacilmente nestes nichos

Toutinegra

Muros lisos não sustentam vida,nem sequer em tanques: uma

ágil sardanisca escapa comdificuldade do afogamento

Lagarto-de-água macho,no mesmo muro rústico

do ninho de chapins

Chuchas

Erva-das-verrugas

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12 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Já ali andava há mais de um mês,desde 19 de Janeiro. Visita diária delugar marcado, se o pisco não estavaà vista, nada como assobiar baixinho,agitar os dedos... era o bastante paraaparecer a voar, cheio de curiosidade.

Óbvia plumagem de adulto, pousadono galho, o pássaro espreita-me.Sem querer domesticá-lo - perderiadefesas vitais - até onde conseguetolerar a minha proximidade?

Pé ante pé, vejo-o ao pormenor novisor da câmara fotográfica. Ups,não foca: já não me posso aproximarmais. Pouso o equipamento, estendoa mão lentamente. O pisco olha-a,apreensivo, até que a meio metronão aguenta e voa para um ramopróximo. Não insisto.

Depressa percebi que o convívioultrapassara as medidas do merointeresse fotográfico: expandiu-separa uma interacção peculiar entreespécies diferentes.

A meio da primeira semana, comeceia sentir-me um explorador. O piscoali, sempre à minha disposição, eque lhe dava eu em troca? Nada.Passei a levar um cumprimento sim-bólico: umas migalhas de pão.Migalhas cortadas, atira uma paraaqui, outra para acolá. A ave desciaao relvado e debicava um dos boca-ditos. Ficava-se por aí.

Outras vezes, mais interessada, dei-tava o olho onde eu nada via.Chegava ao chão e via-o puxar umaminhoca da terra, num frenesim de

especialista, asas abertas de início,para a sacar com afinco. À minhafrente, descarado, engole-a e vainum salto para o ramo mais próxi-mo.

O jeitoso andava a ensaiar a voz! Porvárias vezes o ouvi, baixinho, puxarda garganta trinados discretos.

Um dia fui vê-lo, e já não o encon-trei. O mesmo nos dias seguintes.Terá voltado à região de onde veio?Um gato comeu-o? Prefiro pensarque um dia ele regressará, selvagemcomo os da sua espécie, para conse-guir viver melhor.

Isto aconteceu no Parque Biológicode Gaia. E ainda bem. Mas o certo éque podia ter sido, imagine, no seujardim!

Pisco de peito aberto

q u i n t e i r o

Julgei quebrar-lhe a distância de segurança. Não fugiu! Papudinho, é um pompomcom patas no galho daquele carvalho. Já estou a uns três metros, e agora agita asasas. Vai voar... Não voa! Agita as asas, como uma cria a pedir alimento. Olhosbrilhantes, parece alheado de como é perigoso deixar um homem aproximar-se...

Momentos de caça à minhoca, mesmo aos meus pés, dia 21 de Fevereiro, às 18h01

Texto e fotos: Jorge Gomes

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 13

Este Inverno, o Parque Biológicoacolheu uma grande quantidade depiscos. Muitos deles vieram doNorte, em rota de sobrevivência.

Chegados, apinharam-se nos bos-ques e jardins do Parque.

Como esta pequena reserva naturaldá boas condições de abrigo, nempediram permissão: consideraram-se convidados. Fizeram jus ao dita-do «para bom entendedor meiapalavra basta».

Os piscos-de-peito-ruivo residen-tes, que aqui vivem todo o ano, éque não gostaram muito.Territoriais, fazem-se notar entreafins, deixando à vista de todosque estão bem ali, e que o terrenode cada par é vital.

Por natureza, trata-se de uma aveque se adaptou ao meio urbano e épor isso que agora ouvimos, nacidade e no campo, um dos canta-res de Primavera mais lindos,

grande rival da pequenina carriça.

Predominantemente insectívoro,este pisco junta à sua ementaoutros recursos.

Quem tem o hábito de apoiar asaves no seu jardim, sabe que noInverno eles agradecem restos dequeijo, de carne, de bolo, de biscoi-tos… Porque uma época de frioprolongada pode matar muitasaves, inclusive desta espécie.�

O nosso compincha,dia 25 de Fevereiro,às 18h17

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Por vezes, há comportamentos anó-malos nas aves selvagens. Se viu asduas páginas anteriores, compreen-derá a ligação delas com estaslinhas.

Paulo Travassos durante a visita decampo ao Estuário do Douro, em 12de Março, contou um episódio ocor-rido no Nordeste: «Na sequência deuma saída de campo, observou-seum exemplar de ferreirinha (Prunellamodularis) pousada no meio de umestradão florestal, numa das verten-tes da serra do Marão», diz. Deixou-se apanhar: «Na altura a equipaestranhou o facto e observou a ave.Como esta não tinha qualquer tipode lesão externa ou anomalia visível

apressaram-se a afastar a ave doestradão e colocaram-na em localmais seguro.

Ao fim de alguns dias, a equiparegressou ao Marão e utilizou omesmo estradão. Para espanto detodos, a ave (aparentemente amesma) encontrava-se no mesmolocal. Mais uma vez capturada, comfacilidade, a ferreirinha, tornou-sepossível observá-la, não tendo sidodetectado qualquer indício de ano-malia física ou doença.

Colocou-se de novo a ave no chão,pensando-se que a reacção seriafugir de imediato; porém, esta limi-tou-se a permanecer no local apesarda presença da equipa... e assim

ficou por longos minutos (muitos)na nossa companhia, ao final dosquais, por qualquer motivo (e talvezpela presença de estranhos), correu,levantou voo e acabou por desapa-recer por entre a vegetação. Nuncamais foi observada».

14 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Quando se fala de insectos quasesempre há uma reacção de repulsa.Mas nem todos esses bichos sãoestigmatizados. As excepções reú-nem sobretudo as borboletas e ospirilampos. No Parque Biológicotodos os anos há noites dos pirilam-pos, este ano de 13 a 18 de Junho.As borboletas também estão con-

templadas: têm direito a um ateliersujeito a marcação*.

Mas não é nem de mariposas nemde vagalumes que vamos falar aqui,como se percebe. O assunto é oLucanus cervus. Com uma vida decerca de meia dúzia de anos, só lhesvemos invariavelmente a formafinal, já que vivem vários anos emforma de larva, no solo ou nas par-tes apodrecidas dos troncos. Enfim,levam uma vida até um certo pontomisteriosa no estado selvagem...

O seu ciclo de vida é este: copulamde fins de Maio a princípios deAgosto, o macho morre, a fêmea põeuma ou duas dúzias de ovos; eclo-dem as larvas que poderão vivercerca de 5 anos; passam a crisálida3 a 6 semanas no Verão; eclodempelo Outono como adultos, emborasó surjam na Primavera do anoseguinte.

Como os carvalhais estão em crise,receia-se que esta espécie de luca-nídeo seja também afectada. Se qui-

ser, pode ajudar estes animais noseu jardim, como fazem algumaspessoas noutros países, ao aprovei-tarem ramos resultantes da poda decarvalhos.

* Ver «Guia do Parque 2004/5».Alguns sites sobre este tema: http://entomologia.rediris.es/http://maria.fremlin.de/stagbeetles/index.html

Cabras-lourasAssociados aos carvalhais, estes insectos não passam despercebidos uma vez que selhes põe a vista em cima: os machos podem medir 7 centímetros!

Ferreirinha amistosa

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Junho surge no calendário: na foto, a cópula de um casalnum dos carvalhos-alvarinhos do Parque Biológico

q u i n t e i r o

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Doces lagoasQuando o silêncio se ouve por momentos, percebe-se na água a serenidade quesustenta flora e fauna. Património vivo diversificado aninha-se ali numa molduranaturalA água aqui é doce também ao olhar. A vista alonga-se, tanto quer alcançar, e perde-se num infinito próxi-mo. Só os binóculos aproximam o pormenor da paisa-gem. O recorte do arvoredo distante, o caniço, a tabua.Pelo meio abrigam-se as garças brancas entre galei-rões activos na faina da reprodução.

O coaxar das rãs evoca a notável metamorfose dosgirinos, e com ela impõe-se pensar em tudo o que seaglutina na lagoa, como um puzzle, para dar consis-tência a tão rico monumento natural.

O terreno afunda. O solo impermeável sustém a águaque ali chega não só pela chuva mas sobretudo porribeiros que enchem com as chuvas do tempo frio.Outras vezes, o chão deprimido colhe a área do lençolfreático e esse manancial chega assim à superfície.Lagoa saturada de nutrientes, as comunidades vege-tais sorriem com uma fisionomia vigorosa.

Estes espelhos-de-água dulçaquícolas de planície nãoabundam em Portugal. Isso leva a compreender queimporta cuidar deles.

As ameaças principais são as alterações do uso do soloque repercutam na qualidade da água, eutrofizaçãocomo resultado da actividade humana (excesso de fer-tilizantes agrícolas) e, claro, a invasão de plantas exó-ticas infestantes.

Ao ser um refúgio de diversidade biológica, estas lago-as são tesouros de água que não se podem perder...�

Bibliografia«Plano sectorial Rede Natura 2000», ICN; «Habitats naturaise seminaturais de Portugal Continental», ICN.

A Lagoa da Vela, nas dunas de Quiaios, concelho de Cantanhede,é o exemplo de um habitat de lagoa eutrófica natural

h a b i t a t

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 15

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f l o r a

16 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

À flor da água

As folhas emergem no espelho-de-água sem a menor arrogância. A dis-puta de um bando de galeirões agitaa água da lagoa, mas certo é que,suba ou desça, as folhas espalmadasacompanham o nível, boiam, confi-antes na serenidade do lago.

Um peixe volteia por ali, oculto pelacortina de luz que reflecte o céuazul.

O aglomerado de nenúfares é um pe-queno tecto na lagoa que protege car-dumes e larvas de insectos aquáticosdos olhos marcados pela cobiça dospredadores. As rãs pousam em cima das

folhas redondas, ao sol, até que algumperigo surge: um salto, desaparecem.

Esta planta aquática conta aplica-ções diversas. As suas sementes, osseus rizomas podem ser convertidosem alimento, e até servem para pre-parar, nalgumas regiões, algo pare-cido com cerveja. Hoje, é melhor nãopensar nisso. Estudos feitos em es-pécimes de lagoas europeias, na Po-lónia, deram resultados preocupan-tes: esta planta facilmente acumulametais pesados como chumbo, cád-mio e crómio.

Deixando a ementa indesejável, há

outras utilizações. A essência obtidacom este nenúfar usa-se em perfu-maria. Os alcalóides derivados daninfeína sustentam a ideia de quetem princípios sedativos capazes deacalmar ardores sexuais...

Tantas aplicações podem derivar dasua ampla distribuição pelo VelhoMundo.

Planta de águas calmas, deita a suasombra na direcção do fundo da la-goa, onde busca a vida, nos rizomascarnudos de onde lhe vem alimentoe onde acumula reservas para otempo mais frio...�

A nenúfar é uma das plantas típicas das lagoas eutróficas permanentes. A partir deMarço os botões rompem à supefície e desabrocham num convite aos insectos. Estaplanta simpática tem na raiz da sua denominação o nome da deusa grega daPrimavera

Aglomerado de nenúfares — para os cientistas esta é a Nymphaeaalba, mas há quem lhe chame golfão-branco. Lagoa da Vela, nasdunas de Quiaios, Cantanhede.

Foto: Henrique N. Alves

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Trepadora ágil, no melhor dos mime-tismos, a rela oculta-se nas plantas.O perigoso bico de garças e garço-tes, a mortífera boca das cobras-de-água e as afiadas garras das corujassão ameaças previsíveis. Mas desen-gane-se: os verdadeiros perigos paraestes e outros anuros não vêm dofuncionamento normal da cadeiaalimentar, e sim da perda de habitat,das drenagens sem rei nem roque,do veneno da poluição — os anfíbiossão seus indicadores certeiros: apele permeável peculiariza-os.

É tempo de Primavera. As relas con-centram-se na água dos lagos echarcos. Os machos coaxam, coa-xam, coaxam, territoriais, em coroscontinuados. Uma membrana insu-

flada debaixo do maxilar inferior é acaixa de música construída pelasrelas, e que terá encantos secretospara as fêmeas.

Em amplexos axilares os rapazolasfecundam a postura. Estas, maioresque os machos, põem até 1400 ovos.A eclosão dos girinos ocorre emapenas alguns dias e, num par demeses, da forma larvar passampouco a pouco à da rela adulta quemelhor identificamos, de início comapenas 20 milímetros, mas podendo,nos seus dez anos máximos de lon-gevidade, atingir o tamanho de 5centímetros, se for fêmea.

A dieta das relas junta váriosinsectos como aranhas, moscas,

borboletas e afins.

A rela-comum aparece em quasetoda a Europa. Em Portugal, distri-bui-se por grande parte do nossoterritório, embora de uma formafragmentada.

Há uma outra espécie de rela entrenós: a rela-meridional. Esta ocupa oSudeste do nosso país e tende aí asubstituir a rela-comum. Dão corpoao ditado «em tempo de guerra nãose limpam armas» e, no cio, podemcruzar genes entre si originandohíbridos, mas a distinção de ambasas espécies faz-se pela risca acasta-nhada que, na rela-comum, se pro-longa dos olhos até aos membrosposteriores.�

f a u n a

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A rela que veio do verdeAs relas-macho dão voz à lagoa e o céu veste os tons dourados do entardecer. Aesta canção mistura-se o som de outros anfíbios, e o concerto vai pela noite dentro

Rela-comum Hyla arborea

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Francisco Álvares é licenciado emBiologia pela Faculdade de Ciênciasda Universidade de Lisboa. Desde1993 tem vindo a desenvolver estu-dos ecológicos e antropológicos(relação cultural Homem/Lobo)sobre o lobo no Noroeste Ibérico.Hoje, está prestes a terminar a suatese de doutoramento neste tema. Éautor e co-autor de várias publica-ções científicas e de divulgaçãosobre ecologia e conservação deespécies ameaçadas, nomeadamen-te de aves, répteis e mamíferos. Temigualmente coordenado váriosEstudos de Impacte Ambiental edesenvolvido diversas actividades eprojectos relacionados com aDivulgação e Formação Ambiental. Esta é a hora do lobo. Ou as medidasde protecção da espécie são real-mente eficazes ou ele resvalará paraa extensa lista de seres vivos extin-tos por incúria do ser humano.

Porquê o estudo do lobo? Francisco Álvares - Sempre gosteide grandes predadores. Sempre tiveuma paixão pelo lobo, pelo urso e

pelo lince, que eram os grandes car-nívoros que havia na PenínsulaIbérica. O urso, em Portugal, já setinha extinguido. O lince também,na altura ninguém estava a traba-lhar com ele. Já havia naUniversidade de Lisboa o GrupoLobo, que era uma associação quena altura se empenhava na conser-vação desse predador e por isso éque os contactei. A partir daí pro-puseram-me que fizesse o estágiode fim de licenciatura sobre esseanimal e, desde aí, há mais de dezanos, tenho andado sempre com olobo, principalmente nas populaçõesdo Parque Nacional da Peneda--Gerês, embora tenha feito outrostrabalhos noutras zonas de Portugale Espanha. Quais as áreas em que o loboocorre em Portugal?F. A. - O lobo em Portugal distribui--se somente nas serras mais agres-tes do Norte e Centro do país.Segundo os estudos mais recentes,estima-se a população portuguesaem 300 lobos distribuídos por cercade 55 grupos familiares. Um dos núcleos populacionais delobo mais estáveis e importantesencontra-se no extremo Noroeste dePortugal, na zona fronteiriça com aGaliza, ocupando o Parque Nacionalda Peneda-Gerês (PNPG) e a suaárea de influência. Nesta regiãoocorrem 12 grupos familiares está-veis, caracterizados por um efectivode cinco a dez lobos por alcateia eregular ocorrência de reprodução. Adensidade média desta população éde 3.7 lobos/100 km2. Contudo, em zonas onde existemgrandes efectivos pecuários (nome-adamente equinos e bovinos emregime extensivo), o lobo ocorre nasdensidades mais altas conhecidas

para este predador, a nível Europeu(6.0 lobos/100 Km2). A dieta do lobonesta região é baseada em animaisdomésticos, principalmente embovinos e equinos pastoreados emregime extensivo. Desta forma, aregião do PNPG é onde ocorrem osmaiores prejuízos económicos cau-sados pela predação do lobo, a nívelnacional, e por esse motivo, apesardos prejuízos serem indemnizadospelo Estado português, é tambémnesta região onde ocorre um maiorconflito homem-lobo. A perseguiçãoilegal com vista ao controlo donúmero de lobos é muito difundidaentre os habitantes rurais, que osperseguem através do tiro e princi-palmente do veneno. Essa é uma questão antiga? F. A. - Sim, além dos prejuízos eco-nómicos associados à predação dolobo nos animais domésticos, o con-flito homem-lobo possui tambémuma forte componente cultural queatribui ao lobo uma imagem negati-va. A relação cultural que existe hojeentre o homem e o lobo tem origemna Idade Média, quando este animalfoi utilizado pela Igreja católicacomo símbolo satânico. A religiosi-dade das gentes medievais fez comque depressa assimilassem estaideia, dando ao lobo uma dimensãomitológica, de besta sobrenatural edevoradora de homens, que emmuito contribuiu para a perseguiçãoe extermínio implacável que o lobosofreu nos últimos séculos. A grande religiosidade ainda expres-sa nas actuais comunidades agro-pastoris das serras do Noroeste dePortugal, associada ao isolamentogeográfico em que vivem, permiti-ram a sobrevivência até hoje de umrico património cultural relativo à

18 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

e n t r e v i s t a

Lobo que ainda uivasEstá frio. A noite tomou conta das colunas da escola agrária, um antigo mosteiroadaptado ao ensino. Francisco Álvares puxa de um cigarro, após a tarde depalestras que enfrentou. Comenta que se tem falado muito do lobo ultimamente -há outras espécies para apontar. Mas nunca é demais falar disso. Sobretudoquando se depara com o biólogo que mais trabalho de campo tem desenvolvidoentre as alcateias lusas...

Foto

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Francisco Álvares

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sua relação com o lobo, expressa emvárias lendas, mitos, crenças easpectos materiais, que já é impos-sível encontrar noutras regiões daEuropa. Como exemplos destas manifesta-ções culturais são de referir o fojodo lobo - monumentos secularespara a captura dos lobos, de pedra, eque possuem, nas montanhas doNorte Ibérico, a única área de ocor-rência a nível mundial - e a utiliza-ção de um troço da traqueia do lobo(“gola do lobo”) para curar umadoença denominada “lobagueira” eque somente se manifesta no porcodoméstico. Além destas manifestações culturaisde origem medieval, é necessáriotambém ter em conta os “mitosmodernos” do lobo, ou seja, a ideiaerrada - mas generalizada - porparte das populações rurais de queexiste libertação massiva e delibera-da de lobos por parte do Estado oude grupos ecologistas. O estudo e salvaguarda destasmanifestações culturais é urgente eimportante, não só do ponto de vistaantropológico, mas também por nosfacultar informação fundamentalpara compreender as atitudes dascomunidades rurais face ao lobo,permitindo soluções para a atenua-ção do conflito homem-lobo. Istoporque a conservação do lobo emzonas humanizadas, como aPenínsula Ibérica, só é possível peladiminuição do conflito homem-lobo,conseguida através da sensibilizaçãoe educação ambiental. Defende que o lobo pode ter umvalor ecoturístico? F. A. - Claro, uma vez que a distri-buição do lobo coincide com serras,desfavorecidas economicamente,torna-se urgente a implementaçãode acções capazes de melhorar orendimento económico das popula-ções rurais, tornando a presença dolobo mais aceitável, nomeadamenteatravés da diminuição dos prejuízosnos animais domésticos e de acçõessustentáveis que promovam a valo-rização económica e turística daimagem do lobo. É de referir que, devido ao carácteremblemático do lobo, a realizaçãode acções de ecoturismo que visemeste predador irão também benefici-

ar todo o ecossistema, incluindo umgrande número de espécies ameaça-das menos carismáticas.

Para a conservação do lobo naPenínsula Ibérica revela-se impor-tante o desenvolvimento de acçõesque demonstrem que a conservaçãodos valores naturais e culturais écompatível com o desenvolvimentoeconómico de uma região rural,devendo, obviamente, as áreas pro-tegidas dar o primeiro exemplodesse desenvolvimento sustentável.

Como lida hoje o lobo com a cons-trução de habitações perto oudentro do seu terreno? F. A. - O lobo é um animal que seconsegue adaptar com facilidade.Por isso, os lobos ocorrem em zonascom habitat ainda bem conservado,mas desde que haja aldeias comuma envolvente natural ou semina-tural - com carvalhais, matos, oumesmo em aglomerados populacio-nais eventualmente maiores, taiscomo cidades -, o lobo pode existir

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 19

O lobo-ibérico é umasubespécie do lobo-europeu

Os fojos de lobo eramarmadilhas que aspopulações engendravampara capturar estepredador

Foto: Nacho Gómez

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20 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

e n t r e v i s t a

Na falta das suas tradicionais presas selvagens, como veados e gamos, o lobo-ibérico para sobreviver vê-se obrigado a fazero papel de mau ao atacar gado doméstico. Os proprietários, segundo a lei, serão indemnizados...

na periferia e inclusivamente atéentrar um pouco dentro dessesaglomerados. Estou-me a lembrar por exemploque na maior parte da minha áreade estudo, dentro da Peneda-Gerês,todas as aldeias têm lobos à volta.Pitões das Júnias é um caso conhe-cido. O local de criação da alcateiafica perto da aldeia e os própriosrapazes que ali vivem, na brincadei-ra à noite, ao saírem do café, uivam;os lobos respondem, eles uivamoutra vez, e por vezes chegam aestar até às tantas a beber umascervejas e a «brincar com os lobos»,como eles dizem. Portanto, está aver a relação... Mas isso é umaaldeia tipicamente de montanha. Temos sedes de concelho, comoMontalegre, que é uma zona rural.Está rodeada de alcateias. Umadelas cria até relativamente perto,em linha recta, a 4 ou 5 quilómetrosdo centro da vila de Montalegre eque os lobos - como eu pude cons-tatar com os animais que tinha mar-cado na altura em que fazia teleme-tria - tinham áreas de repouso diur-no em sítios próximo de casas, esta-vam praticamente no meio dashabitações, e passavam despercebi-dos. Depois, só ao início da noite éque retomavam a actividade e quaseninguém os via. Mesmo assim, háavistamentos: há quem veja lobosquase entre as casas na periferia deMontalegre. Depois, há os aglomerados maiores.Por exemplo, que me lembre agora,temos Bragança. É uma cidade,capital de distrito. Ao mesmo tempo,tem ainda zonas bem conservadas àvolta: há ali alcateias próximas, que

causam prejuízos, mesmo às portasde Bragança. Isso não quer dizer que os lobosestejam a chegar às aldeias, como àsvezes se ouve dizer: «Os lobos estãoa chegar às aldeias para comerem ascrianças!», nada disso. Simples-mente, o território que eles tinhamhá milhares de anos, cada vez maisvão ficando sem ele, e tentam adap-tar-se à nova situação. Quando fala nesses prejuízos,como distinguem os especialistaso ataque de cães assilvestradosdos ataques de lobos?F. A. - Não é fácil. Às vezes é por umconjunto de circunstâncias. Temosde ver o animal atacado ou consu-mido, ver se há indícios de luta (olobo quando ataca deixa vestígiosde luta), rastos, excrementos, restosde pêlo. Em Portugal estar-se-á paracomeçar a fazer testes genéticoscomprovativos. Tudo isto se compli-ca quando há ataques em sítiosonde o lobo é raro, como na BeiraInterior. Houve casos recentes nazona de Idanha. Na Peneda-Gerês,onde há grandes alcateias, os cãesvadios não abundam, porque o loboé um regulador natural dos cães quepercorrem as serras. Nessas zonas, oerro é mínimo. O lobo está mesmo em perigo deextinção?F. A. - O UICN* diz isso com base emcritérios internacionais. Tem a vercom o tamanho da população, onúmero de indivíduos maduros, porexemplo, a regressão que tem tidonos últimos anos e o que faz comque o lobo esteja em perigo deextinção em Portugal é que actual-mente existem ainda 50 grupos

reprodutores. O que é razoável.Assusta é saber que em 1930 o loboexistia em todo Portugal: noAlgarve, na costa, Alentejo! Em 50anos, houve uma redução em maisde 50% de área de distribuição.Mesmo assim, na primeira metadedos anos 90, há uma redução de15%, que agora estabilizou, é umfacto, por se ter tornado uma espé-cie protegida. Mas nos últimos 20 a30 anos houve uma redução alar-mante e isso, segundo os critériosinternacionais, assegura que é umaespécie em perigo de extinção; por-que, veja, se essa tendência se man-tivesse nos próximos 20 anos, pode-ria desaparecer completamente dePortugal... Tem alguma história curiosa paranos contar que decorra dessa suaactividade de estudo dos lobos?F. A. - Há várias. Lembro-me bemdesta: uma vez ia com dois colegasmeus, espanhóis, que vieram há jáuns anos acompanhar o meu traba-lho de campo. Íamos por um cami-nho em plena serra do Soajo, numsítio bastante longe das aldeias. Odia findava. Tínhamos andado arecolher excrementos de lobo parafazer análises de dieta e quantificara presença destes animais. Vínha-mos a pé, a caminhar. Ainda tínha-mos umas boas horas até ao carro,quando vejo um vale com um bomaspecto! Tinha-lhes dito que costu-mava uivar, um dos métodos queuso; isso é um estímulo para ascrias, elas respondem, e assim con-firmo se há uma alcateia no local ouse há animais adultos. Andava adizer-lhes como fazia. «Este é umvale bom para uma alcateia, vamosesconder-nos e uivar daqui».

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 21

Ocultamo-nos atrás de uma giesta:«Vamos, escondam-se aqui, os lobospodem ver-nos e isso poderá fazercom que não respondam», disse, naminha ingenuidade. Mas o lobo é umpoço de segredos. Uivei uma vez...nada. Uivei duas vezes... nada. Atéque um colega, escondido atrás deuma giesta, olhou para trás e viu doisvultos distantes. Estava estava o sol apôr-se, o céu completamente verme-lho, e na linha de cumeada, a 150metros de nós, estavam dois vultos.Quando nos apercebemos, eram doislobos! Estavam sentados, apenas a

olhar para nós, já nos deviam estar aver ali há imenso tempo. Viram-nosa chegar, esconder atrás das giestasa uivar, e devem ter achado:«Aqueles gajos são muito estra-nhos!». Ficámos todos histéricos:dois lobos, a olhar para nós, umestava de pé e outro sentado.Entretanto o que estava de pé sen-tou-se, porque olhavam para nós edecerto achavam aquilo muitoestranho. Uivo para eles, deu-mepara aquilo, e imediatamente come-çam os dois a uivar à nossa frente. Isso foi incrível, porque quando

enviamos esse estímulo à alcateiaachamos que podemos estar a ten-tar enganá-los e eles pensarem queé o lobo que está a uivar. Ali, elessabiam que não era um lobo, eramseres humanos, estavam três fulanossentados, e eu uivei e põem-se osdois lobos a uivar completamenterecortados pelo céu vermelho, auivar para nós. Isso foi estupendo.Mas, como esta, há muitas históri-as...�

* União Internacional para a Conservação daNatureza

Um grupo de alunos da Escola Superior Agrária dePonte de Lima, em 15 de Dezembro, organizou umseminário sobre o lobo-ibérico. Para além de apresen-tações feitas pelos organizadores, participaram noevento pessoas conhecidas no estudo e conservaçãodo lobo-ibérico.

Francisco Álvares, biólogo, falou da «Ecologia eMitologia do Lobo no Noroeste de Portugal». InêsBarroso, do Instituto de Conservação da Natureza, dis-sertou sobre «O lobo em Portugal: principais linhas deacção do ICN». Anabela Moedas e Pedro Alarcão, jor-nalistas, expuseram do seu trabalho de reportagemsobre «A vida secreta dos lobos», passado na televisão.

Lobo-ibérico: passado,presente, que futuro?

O corço é uma das presas selvagens mais apreciadas pelo lobo, mas a caça que o ser humano lhe dedica hoje supera de longe a pressãoda predação natural. Este corço não será presa de um ou de outro: foi um dos que nasceu o ano passado no Parque Biológico de Gaia

Texto e fotos: Jorge Gomes

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e d u c a r

22 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

São alunos da Escola Secundária deArcozelo, do 8.º ano, todos damesma turma, e escrevem sobre avisita guiada que fizeram ao ParqueBiológico de Gaia, em Fevereiro pas-sado. Aliás, uma visita atípica, foidos raros dias deste Inverno em quechoveu.

Um dos comentadores, José Pedrosolta-se, com pormenor: «A visitateve início pelas 13h25 e teve comoacompanhantes a Directora deTurma, Cristina Matos, e a sr.ª prof.ªde Ciências, Sandrine Coelho».Explica que a Junta de Freguesia deArcozelo disponibilizou o transportee, por isso, «não pagámos a viagem,o que tornou o custo da visita maisacessível».

«Quando chegámos ao Parque fomosrecebidos pela guia, que nos expli-cou o que é o Parque Biológico».Este «é um centro onde vivem váriasespécies», «não é um zoo, comoalgumas pessoas pensam. Lá rece-bem os animais e tratam deles,dando-lhes abrigo e alimento».

«Durante a visita, fiquei a sabermuito sobre a vida animal emPortugal, como o tráfico de animaisem países do Terceiro Mundo e quedepois são vendidos ilegalmente. É ocaso das cobras, aves exóticas,macacos e tartarugas e que, depois,quando são apreendidos, são entre-gues ao Parque, embora este nãotenha muitos meios para o receber».

Não se fica pelos animais exóticos epassa para a flora: «Também fiquei asaber que o eucalipto é uma árvoreque não é originária de Portugal.Essa árvore absorve muita água edesgasta o solo, o que prejudica asárvores genuinas do nosso país,como o carvalho e o sobreiro».

Uma visita diferenteChegaram-nos à mão algumas anotações de três estudantes que comentam oParque Biológico de Gaia, após uma visita guiada...

Um dos esquilos que, com alguma sorte,pode ser visto durante uma visita aoParque, sobretudo se silenciosa...

Foto: Jorge Gomes

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 23

Passaram na Quinta de Santo Tusso. José Pedro regis-ta: «Vimos alguns animais como galinhas, patos, perus,ovelhas, cabras, porcos, etc. Nessa mesma quinta tam-bém vimos um moinho e como se moíam os cereais».

De seguida «visitámos uma exposição que se intitula«Exóticas, pela mão do homem» que fala de algumasdas nossas espécies que ficam prejudicadas devido àvinda de animais exóticos que se adaptam bem aonosso clima e que destroem os habitat e plantas dePortugal».

Durante o passeio «vimos uma toca de uma raposa euma pinha roída por um esquilo, o que demonstra quehá animais desses à solta no Parque; mas, devido aotempo, conseguimos avistar poucos».

Conclui: «Eu acho que esta visita foi muito interessan-te, porque aprendi muito sobre os animais e plantasexistentes em Portugal, mas também a fiquei a saberos problemas que estes seres vivos enfrentam. OParque tem tudo para dar um dia em cheio aos seusvisitantes, mas acho que deviam lá colocar o lince-ibé-rico pois é um animal em vias de extinção emPortugal».

Um dos colegas, Nuno André, diz: «Eu penso que estavisita foi muito interessante e divertida, apesar dotempo chuvoso». Gostava que «nos dessem mais opor-tunidades de contacto com os animais, dar-lhes decomer, acarinhá-los, ou até ajudar nas limpezas destesanimais, para percebermos melhor a vivência deles».Como um repórter, Nuno incluiu fotografias no seurelatório.

Da mesma turma, Juan Carlos Dias opina: «Para mim, oque se destacou mais neste maravilhoso Parque foi osanimais a andar livremente pela natureza, para assimnão se sentirem tão desligados do seu habitat natural,depois da inconsciência das pessoas que os retiraramdo mesmo. Esta visita foi de grande interesse pessoal ecolectivo por aprendermos a preservar e ao mesmotempo a ter consciência do mal que fazemos aos ani-mais quando os retiramos do seu habitat natural». Einsiste: «A visita foi espectacular e tenciono certamen-te voltar a viver esta experiência. Eu sugeria que crias-sem uma área de contacto no parque, onde as pessoaspudessem interagir com os animais, os «tocar» e decerta forma contactar com eles». �

Ponte de pedra do rio Febros

Pinha roídapor esquilo

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c l i c

24 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Situando-se numa zona de paisa-gem rural, bem preservada, permite--nos conhecer diversas espécies deplantas e animais que, embora algu-mas estejam em cativeiro, não estãoenjauladas como num zoo. Existeuma grande preocupação em recriarambientes naturais e apesar dosespaços fechados os animais gozamde espaço suficiente.

Depois um percurso pedestre decerca de 3 km que percorre todo oparque, diversos tipos de lagos,matas, culturas e o rio Febros pro-porcionam-nos a oportunidade defotografar animais em estado selva-gem e em diversos ambientes.No meio de tanta variedade, não serádifícil com um qualquer tipo decâmara fotográfica conseguir algu-mas boas fotografias. Contudo, cadamáquina fotográfica e lentes têmcaracterísticas muito próprias, sendomelhor conhecê-las bem antes dequerer fazer fotografias impossíveiscom o material de que dispõe, con-centrando-se antes em como tirarmais partido daquilo que tem.Câmaras e lentesEm termos da máquina a escolher, émelhor limitar a escolha ao digital eanalógico de 35 mm principalmentepelo seu baixo custo, leveza e gran-de variedade de acessórios. Se tiveruma máquina compacta, convém terzoom, pois como não pode mudar de

objectiva tem desta maneira váriasdistâncias focais ao dispor. Esteszoom costumam ser bastante lumi-nosos, o que é uma vantagem parafotografar em baixa luz. Se a objectiva for por exemplo uma28-140 mm, dispõe de um óptimoapetrecho para fotografar paisa-gens, texturas, macro e algunsretratos de animais de maior porte.De realçar que estas máquinas (sedigitais) têm uma função macro quepermite fotografar a cerca de 5 cmdo objecto, o que dá um aumentoconsiderável do assunto a captar.Caso a bolsa seja mais recheada,uma reflex digital é a melhor esco-lha. Ao nível das funcionalidades dacâmara fotográfica destaca-se ofacto de podermos trabalhar emautomático, manual, prioridade àabertura e prioridade ao diafragma,um excelente e rápido autofocos,vários tipos de exposição da imagemmedindo a luz pontualmente ou emdiversas zonas…O facto de vermos a imagem atravésda lente permite-nos um melhorenquadramento, selecção do foco eda profundidade de campo.Contudo, este é um dos pontos fra-cos deste equipamento, as objecti-vas são específicas e caras, ou seja,existem lentes de 6 mm a 1200 mme podem-se dividir em 3 tipos e 5grupos: Géneros de objectivasObjectiva zoom – possibilita váriasescolhas de enquadramentos eamplificações do motivo, a partir damesma posição de disparo. Noentanto, apenas as zooms mais carassão de excelente qualidade; naszoom destinadas ao grande público éconveniente que o zoom se mante-nha dentro do mesmo grupo como as17-40 mm, 70-200 mm, para obtermelhores resultados.Objectiva fixa – apenas uma distân-cia focal, permitem aberturas maio-res a mais baixo preço que as zoom.

Objectivas especiais – são as objec-tivas que permitem descentramen-tos, objectivas macro, as objectivascatadióptricas e as superteleobjecti-vas (+ 500mm). Todas muito especí-ficas e caras.6 a 15 mm - caracterizam-se porterem um ângulo de visão muitomaior que o olho humano. Ideaispara espaços muito pequenos ouquando se torna necessário afastarmuito o tema a fotografar.17 a 40 mm - têm uma grande pro-fundidade de campo e são ideaispara o uso em espaços confinadosou quando é necessário um contac-to muito perto do tema. Ideal parapaisagens, perspectivas…50 mm - são consideradas as objec-tivas normais para 35mm. O tama-

Fotografar naturezaO Parque Biológico de Gaia é um excelente local para passar algum tempo junto danatureza, seja para dar uma volta com a família, para descansar ou para fotografar

Canon D60, grande-angular de 17mm, 100 ISO,velocidade 2 seg., abertura f 16

Câmara Canon G5, 100 ISO, velocidade 1/125 seg.,abertura F4, distância focal de 60mm

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 25

nho da imagem no visor, assemelha--se à imagem que os olhos têm dacena.70 a 300 mm - estas objectivas sãoportáteis, relativamente leves e têmaberturas máximas suficientemente

grandes para serem suportadaspelas suas mãos e com velocidadesde obturação rápidas. Quanto maiora distância focal, menor será a pro-fundidade de campo e mais forte acompressão das perspectivas.400 a 1200 mm - úteis quando ainacessibilidade do tema não permi-te o uso de objectivas com menospoderes de amplificação. As desvan-tagens são as dimensões e o peso, apossibilidade de estremecimento dacâmara, as pequenas aberturasmáximas e a limitada profundidadede campo.Se está ou quer começar a fotografarnatureza e ainda não escolheu quemáquina ou marca a utilizar, façauma pesquisa entre alguns fabrican-tes que tenham uma grande varieda-de de lentes e acessórios como aCanon, a Nikon, a Sigma... Nesteponto pode achar que nunca irá pre-cisar de uma lente como a 500 mmF4, mas cuidado, este jogo é viciantee nunca se tem material fotográficosuficiente! Se o orçamento inicial élimitado, invista em lentes em vez deum corpo de máquina muito sofisti-cado. Algumas das minhas melhoresfotos foram tiradas com um corporelativamente barato com boas len-tes adaptadas. Em relação ao corpoexistem algumas funções que pode-rão ser muito úteis. O bloqueador deespelho permite fotografar em velo-cidades muito lentas eliminando asvibrações produzidas pelo disparo; amedição de luz pontual é o melhor

para as zonas brancas e muito útilpara ter boas exposições e se tencio-nar fotografar dentro de um escon-derijo, um mostrador com luz de

fundo permite-lhe ver as definiçõesde regulação das câmaras. Pode

estar mesmo muito escuro dentro deum abrigo.�

Canon 20D, objectiva de 100mm macro 1/1 + tubos deextensão de 48mm, 400 ISO, velocidade 1/30 seg.,abertura f 4. A lagarta tem menos de 1cm decomprimento

Canon 20D, objectiva de 400mm, 400 ISO, velocidade1/600 seg., abertura f 5.6

Câmara Canon G5, 50 ISO, velocidade 1 seg.,abertura F8, distância focal de 36mm

Canon 20D, objectiva de 50mm, 200 ISO,velocidade 1/125 seg., abertura f 8

A escolha: digital ou filme?FILME: Se escolher câmaras analógicas, reco-mendo vivamente o uso de filme de slide, paraalém de ser a única maneira de realmenteaprender a exposição, permite-lhe eliminar oprocesso do negativo e evitar que a imagem sejaalterada por esse processo. Se tiver algumaintenção de vir a publicar o seu trabalho, muitoseditores preferem ainda o slide a fotografias empapel ou digitais, contudo este processo pareceestar a mudar e o digital assume-se como aprincipal escolha dos editores num futuro muitopróximo. Um scanner de transparências torna-seessencial, com uma qualidade de imagem muitoboa para os 20x30 cm a 300 dpi. Tente ao esco-lher o filme a utilizar que seja da menor sensibi-lidade possível para evitar o grão e registar maispormenores.

DIGITAL: Tem três vantagens enormes para ofotógrafo de natureza: o facto de poder visuali-zar imediatamente a fotografia, o custo damesma e o aumento efectivo da distância focaldas teleobjectivas.

Tripé:

Use um bom tripé sempre que possível. Permite--lhe usar filmes de uma sensibilidade mais baixaou objectivas de longo alcance, sempre sem orisco de tremer. Quando o escolher verifique se omesmo permite abrir as pernas a um ângulo de90º para poder fotografar ao nível do chão,muito útil para fotografar insectos, flores selva-gens e muitos outros assuntos com mais umadiferente tomada de vista. Gitzo e Manfroto sãoos melhores na minha opinião. Um tripé é umadas mais importantes peças de equipamentopara um fotógrafo da natureza.

Conhecimento:

Compre um guia de aves, se gosta de as fotogra-far, de insectos, de borboletas, de mamíferos... einstrua-se sobre os hábitos dos animais que vaifotografar, o que comem, se são activos duranteo dia, se costumam fazer percursos regulares,onde se podem encontrar, o acasalamento...

Conhecendo os seus hábitos pode conseguiralgumas excelentes fotos.

Uma vez no campo abrande o ritmo. Faça várias

caminhadas lentas, pare e olhe mesmo semqualquer intenção de fotografar. É mais fácil dis-tinguir o movimento subtil de diferentes criatu-ras se permanecermos parados a olhar; se poroutro lado estivermos sempre em movimento anossa presença é detectada e os animais irãoembora antes de termos tempo de fazer o clic.Aprenda a ver aquilo que não é comum, unsarbustos a abanar ligeiramente se não há vento,uma mancha de cor…

Despender todo o tempo possível no campo eaprender é a melhor dica que se pode dar a quemqueira observar a natureza de perto. Quer seja aobservar ou a fotografar, a persistência ditasempre bons resultados. Através da experiênciaganha vai desenvolver os seus próprios truquespara fotografar, assim como vai conhecer asáreas estudadas e familiarizar-se com as rotas elocais mais favoráveis à vida selvagem. Mova-sedevagar e observe: tome nota de pegadas, fezesde animais, fontes de comida, ninhos, visualiza-ções de animais… Quando combinados, vão-lheoferecer as pistas necessárias para tornar a áreaprodutiva para futuros safaris fotográficos.

Texto e fotos: João Luís Teixeira

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Entre as 176 fotografias concorrentes, o júri do 2.ºsalão de fotografia «A luz do Parque» — João Menéres,Ricardo Fonseca e Nuno Gomes Oliveira — seleccionoupara exposição 33 fotografias a cores e 11 a preto ebranco, distinguindo com o 1.º Prémio a fotografia deum pisco-de-peito-ruivo intitulada «Olhem paramim!», de João Luís Teixeira. O 2.º Prémio foi atribuídoa «Cisne desfilando», de Gaspar de Jesus. O 3.º Prémioincidiu sobre «Voyer», também de João Luís Teixeira. O1.º e 2.º prémios foram câmaras fotográficas digitais eo 3.º foi dado pelo «Jornal de Notícias», uma enciclo-pédia sobre arte de vários volumes.

Na acta que resultou da sua avaliação, em 3 deNovembro do ano passado, o júri congratulou-se com«a elevada qualidade da grande maioria dos trabalhos»

e destacou ainda «a importância deste certame napanorâmica da Fotografia da Natureza em Portugal».

As fotos estiveram expostas no Parque Biológico deGaia de 4 de Dezembro a 28 de Fevereiro. Nessa altu-ra, distribuiu-se o catálogo com a listagem das fotosdistinguidas pelo júri para exposição.

Edição de 2005

O 3.º Salão de Fotografia da Natureza do ParqueBiológico está aberto.

Quem esteja interessado pode descarregar o boletimde inscrição deste concurso com o respectivo regula-mento a partir do site www.parquebiologico.pt, sec-ção Actividades / Eventos / Concursos de fotografia.

A luz do ParqueO Salão de Fotografia «A Luz do Parque» vai este ano para a sua 3.ª edição, depoisde se ter assistido a uma sensível subida de qualidade dos trabalhos apresentadosdo primeiro para o segundo concurso

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26 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

1.º prémio: «Olhem para mim!», de João Luís Teixeira

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Regulamento

O Parque Biológico de Gaia convida a participar com oseu olhar e a sua sensibilidade na reedição deste con-curso de fotografia.

Este concurso está aberto a todos os fotógrafos, ama-dores e profissionais, podendo estes apresentar umnúmero ilimitado de fotografias a preto e branco ou acores.

As fotografias têm de ser apresentadas impressas empapel fotográfico no formato 20 cm x 30 cm e entre-gues na morada

Parque Biológico de Gaia – Concurso Fotográfico –4430-757 AVINTES

até 1 de Outubro de 2005.

As fotografias terão de ser captadas obrigatoriamentedentro da área do Parque Biológico de Gaia, do Parquede Dunas da Aguda, do Parque Municipal daLavandeira ou do Estuário do rio Douro.

No verso da fotografia impressa candidata a ser admi-tida a este concurso terão de estar escritos pelos auto-res, sob pena de exclusão, os seguintes elementos:título, número de ordem da fotografia, sítio da fotonome, morada, telefone e e-mail (caso haja).

O júri seleccionará os melhores trabalhos, que serãoexibidos em exposição e atribuirá o respectivo prémio.Das decisões do júri não haverá recurso.

A organização informa que os trabalhos recebidos nãoserão devolvidos.

O Parque Biológico reserva-se ainda o direito de even-tualmente vir a publicar qualquer fotografia admitidaa este concurso na revista «Parque Biológico» ou nou-tros suportes de divulgação do Parque Biológico deGaia, como por exemplo o seu site.

A data de anúncio dos vencedores e abertura da expo-sição será oportunamente divulgada.

Júri: João Menéres, Ricardo Fonseca, Nuno GomesOliveira.

Prémio: Câmara Fotográfica Digital no valor aproxi-mado de mil euros.

Temas possíveis: Paisagem – são de grande variedadeos espaços de natureza constantes dos sítios aponta-dos neste regulamento. Fauna – o destaque vai para afauna ibérica. Flora – plantas e árvores são temascapazes de se revelarem inesperados e atraentes.Educação ambiental – dela depende o futuro e oParque desenvolve um grande leque de actividadescom as escolas e o público em geral. Ruralidade – paraos mais antigos, há memórias boas de recordar; àmedida que o tempo passa, revelam-se como o vinhodo Porto. Exposições – não é preciso chover para asapreciar; há várias.�

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 27

2.º prémio: «Cisne desfilando», de Gaspar de Jesus

3.º prémio: «Voyer», de João Luís Teixeira

Ricardo Fonseca, membro do júri, entrega o 1.º prémio a João LuísTeixeira, vencedor da edição de 2004, uma câmara digital no valor demil euros

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28 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

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Observação de avesResidentes ou de passagem, há inúmeras espécies de aves selvagens que andampelo Parque Biológico. Todos os primeiros sábados de cada mês regista-se o que sevê…

É possível deparar, numa só volta aoParque Biológico de Gaia, com cercade 30 espécies de aves selvagens emliberdade.

Binóculos ou telescópio ajudarão natarefa. Os resultados dependem daépoca e das condições atmosféricasdo dia: com chuva as aves escon-dem-se.

Entre as espécies que se avistam, asgarças-reais são as maiores, com um

metro de comprimento e umaenvergadura de mais de metro emeio. Estas costumam andar no lagodos gansos mas podem estar emrepouso nos amieiros do rio Febros.As menores aves são decerto asestrelinhas e as carriças, do tama-nho de pintainhos.

No Parque há duas formas de parti-cipar na actividade de observaçãode aves selvagens: uma passa poracompanhar a visita guiada propor-

cionada aos visitantes todos os pri-meiros sábados de cada mês. Aoutra reside em integrar o atelier domesmo nome.

«Tudo vai do começar», diz-se. Enestas coisas é assim também: deinício, dir-se-ia que tudo são par-dais; depois, vê-se que estes atéestão em minoria nestas andançasdos olhares sobre a diversidade dasespécies. Quer experimentar?

Carriça Lugre

Toutinegra-de-barrete-negro

Chapim-azul

Estrelinha

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 29

Bandos do estuárioDiferenciar, identificar espécies e analisar os diferentes comportamentos juntauniversos de conhecimento difíceis de esgotar

Nem sempre o Inverno é frio. Houve dias mais amenosque outros quando, praticamente todos os meses,domingo de manhã, o Parque Biológico de Gaiaorganizou várias actividades de observação de aves, naBaía de S. Paio, no Estuário do Douro, onde um pequenojuncal, além de trabalhar para depurar a água, aindaserve de maternidade de várias espécies de peixe.

O prato forte das observações foram garças - bandosde garças-reais e garças-brancas –, mas viram-setambém corvos-marinhos, guarda-rios, maçaricos,

borrelhos, várias espécies de gaivota como o guincho,gaivota-pequena e argêntea...

Mesmo quando o frio apertou, houve sempre umameia centena de participantes que gravitaram ali,entre as 10h00 e o meio-dia, aprendendo a olhar pelotelescópio, utilizando binóculos e guias de campo deornitologia.

A partir de Março, o Parque estabeleceu parceria coma Sociedade para o Estudo das Aves nesta área detrabalho.

Numa área densamente povoada, há centena e meia de espécies de aves que por ali passam ou residem. Na imagem:garças-reais, várias espécies de gaivota e, no rochedo ao fundo, corvos-marinhos

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30 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

O dia amanheceu bem iluminado,mas muito frio! Às 9h00, partiu-se deAvintes rumo ao Estuário do Douro.Começou assim a visita guiada pelotécnico francês. À medida que o auto-carro percorre a orla litoral, as expli-cações sucedem-se. A escassa área depraia entre o mar e as construções, osesporões que cavam o litoral a sul,como em Maceda, onde a média

anual de recuo da costa é de 12metros, os vestígios de lagoas costei-ras cheias de biodiversidade na Poçada Ladra, e muitos outros aspectossão referidos por este técnico, aqui eali reforçado por Helena Granja, daUniversidade do Minho, e porHenrique Alves, botânico do Parque.Ao fim da tarde, no auditório doParque Biológico de Gaia, foi apre-

sentado o vídeo «Gestão integradadas dunas do litoral atlântico:Sudoeste francês - Centro eNoroeste português», a versão por-tuguesa do filme de Jean Favennec,produzido pelo Complexo Regionalde Informação Pedagógica e Técnica(França), para a Agência NacionalFrancesa das Florestas, no âmbito doprograma europeu Life.

Viva o litoralGestor da Missão Litoral da Agência Nacional Francesa das Florestas, JeanFavennec dirigiu a visita guiada de 27 de Janeiro, desde o Estuário do Douro àReserva Natural das Dunas de S. Jacinto

O engenheiro francêsajoelha-se diante de

um ínfimo tufo defeno-da-areia. Dizque a partir deste

obstáculo, umaplanta a brotar, pode

nascer uma duna

Paragemobrigatória: Parquede Dunas da Aguda

Domingo, dia 3 de Abril, 10h00.Ouve-se a chuva de noite. Acordoantes do despertador do telemó-vel. Pouso-o. Vibra, uma mensa-gem: «Vais na mesma com estachuva?». Respondo: «Vou». Supusque ao chegar à praia a chuva iriaparar. Aconteceu.Entro do recinto vedado e o cheirodoce das dunas dá as boas-vindas.O ar é leve, purificado. Depois, telescópio, binóculos, vistaatenta, e pouco a pouco as espéci-es desfilam: borrelhos-de-coleira--interrompida e os seus ninhos,rolas-do-mar, airos, pilritos, ando-rinhas-do-mar, gaivotas várias,peneireiros, rolas-turcas, poupas,rabirruivos, cartaxos, pardais,lavandiscas.Dia 8 de Maio reeditou-se estaactividade.

Esta Primavera, o Parque de Dunas da Aguda foi umdos sítios escolhidos para observação de aves: osninhos de borrelho-de-coleira-interrompida são umdos muitos motivos de interesse

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Bater de asas na Aguda

Texto e fotos: Jorge Gomes

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Uma dúzia de entusiastas partici-param no curso de Curso deIniciação à Observação de Avesque surgiu de uma parceria entre oParque Biológico de Gaia e aSociedade Portuguesa para oEstudo das Aves, no fim-de-sema-na de 9 e 10 de Abril.Na manhã de sábado houve umaparte teórica. Após o almoço, umavisita à Barrinha de Esmoriz. Anortada forte e fria escondeu

muitas aves, mas mesmo assimcontaram-se cerca de 25 espécies,entre as quais narcejas e tarambo-las! Uma curiosidade: viu-se umgolfinho morto na praia. Na manhã seguinte, cedo se che-gou ao Estuário do Douro, onde semais espécies serviram de treino aquem frequentou este curso.Destaque para as novidades emrelação a observações anteriores:um bando de pilrito-das-praias

(Calidris alba) e para o pilrito-de--peito-preto (Calidris alpina).Dois apontamentos a registar: oformador, Paulo Travassos, quesoube cativar em todos osmomentos, e um outro perito deapenas 11 anos, o Rafael, queaderiu de corpo e alma ao evento,deixando de boca aberta quemnão tinha tido ainda o prazer de oconhecer!...

Aprender a olharA observação de aves selvagens em muitos países é uma modalidade de ecoturismoque movimenta muitos recursos e arrasta consigo multidões

Pilrito-das-praias: Estuário do Douro

Fuinha-dos-juncos:Estuário do Douro

Uma tarambola-dourada;Barrinha de EsmorizGolfinho morto: Barrinha de Esmoriz

Águia-sapeira: Barrinha deEsmoriz

Participantes do curso no Estuário do Douro

Texto e fotos: Jorge Gomes

Page 32: Entrevista: Lobo-ibérico Clic: Fotografia da Natureza Quinteiro: Muro ...

Com vista a comemorar o Dia Internacional daMontanha, em 11 de Dezembro o Parque Biológicoorganizou um percurso pela serra da Freita, com acolaboração da Associação de Defesa do PatrimónioArouquense.

O guia foi Filomeno Silva, andarilho das serras daregião.

Um dos percursos palmilhados foi o de Rio de Fradesque, isolado, se estende pela serra ao longo de 3 km.Entre toda aquela paisagem deslumbrante e o pisoescorregadio a pedir pé seguro, a satisfação da gene-ralidade dos participantes, inclusive de um vastogrupo de adolescentes.

Ao final, D. Argentina, residente na serra, não se fezrogada a dfar dois dedos de conversa. Quando soubede onde vínhamos, passado o espanto, falou da suaimensa família, espalhada pelo país e pelo estrangei-ro, muitos dos quais, lamentava, «não conheço».Ecos da desertificação.

Ao pôr-do-sol, o autocarro recolheu os caminhantesem Aldeia de Frades.

Um sol brilhante saudou o DiaInternacional da Montanha e a meiacentena de participantes que se juntoua esta visita

Dia da Montanha

Nada como o ar saudável damontanha para dar saúde

Ups!... onde seescondeu a placa

do percurso?

Uma pausa para reagrupar; Filomeno Silva,um homem paciente

D. Argentina deu-nosdois dedos de conversa

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32 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

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O calor da castanhaQue embalagem espinhosa esta a das castanhas! Há que meter-lhe o pé para abrire só depois retirar o fruto, peça tão importante que se deu ao luxo de ser daspoucas capaz de dar nome a uma cor!Largas dezenas de crianças e pais, ao início da tarde de13 de Novembro, enfrentaram assim o magusto propos-to pelo Parque Biológico de Gaia.

Após uma divertida colheita das castanhas, nessa tardede sol outonal passou-se dos castanheiros à eira daQuinta da Cunha, revestida de xisto. Muita caruma paraalimentar a fogueira que recebeu das mãos dos maispequeninos as primeiras castanhas ainda cruas. Não tar-dou muito e já os presentes, apesar de encherem pelascosturas o espaço, passaram a dar ao dente. Aos maisapressados a natureza cobrou imposto: uma queimadelanos dedos, compensadora, claro, dado o divertimento.

Para os pequenitos, maior gozo do que a novidade de sal-tar a fogueira não há. Alguns com a ajuda dos pais,outros sem ela, não havia como fugir a repetições suces-sivas da experiência.

O Rancho Folclórico Danças e Cantares de Sta. Maria deOlival animou a festa e, no refulgir das últimas brasas,poucos escaparam a uma rodinha de dança.

Um serviço informativo rápido e grátis está tão perto de si que fica ao alcance de um simples clique do rato.

Com antecedência, saiba da actividade preparada para si pela equipa de educação ambiental do Parque Biológicode Gaia. Basta enviar esta mensagem para [email protected] com a frase: Quero passar a receber notí-cias do Parque por e-mail.

Dê-nos notícia de si!

Receba notícias do Parque!…

Colheita das castanhas

Saltar a fogueira é muito divertidopara qualquer geração

O Rancho FolclóricoDanças e Cantares deSanta Maria de Olival

animou a festa

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 33

Texto e fotos: Jorge Gomes

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34 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Seca e alterações climáticas em debateDia 2 de Abril, às 15h00, o auditório do ParqueBiológico de Gaia acolheu um debate sobre este tema,moderado pelo jornalista Luís Henrique Pereira, da RTP.

Filipe Duarte Santos, coordenador do Centro de FísicaNuclear da Faculdade de Ciências da Universidade deLisboa, e João Santos Pereira, do Departamento deEngenharia Florestal do Instituto Superior deAgronomia, responderam a inúmeras questões, domoderador e do público presente no local.

Plantas e animais das ruínasHá uma nova exposição noParque Biológico de Gaia,localizada na quinta do Chasco.O velho casarão em ruínas

sentiu obras de restauro eadaptou-se passando a acolhermochos e corujas, peneireiros efuinhas, saca-rabos e ginetas.

Está a ser preparada uma outraexposição para o mesmo local, queterá por título «O brasileiro detorna-viagem».

Entre o Natal e o CarnavalVárias escolas receberam umconvite do Parque Biológico de Gaiapara que tratassem da decoraçãonatalícia de alguns dos seuspinheiros junto ao parque deestacionamento.

Este ano foram alunos de escolas deOliveira do Douro que, através demuita imaginação, enfeitaram estasárvores de Natal vivas. Para isso,

construíram a partir de materiaisreutilizáveis — que normalmenteiriam para o lixo — bonitos enfeites.Estiveram expostas até ao Dia deReis, altura em que se apurou osvotos dos visitantes do Parque queelegeram a árvore mais original ebonita. O prémio da árvore de Natalmais original coube aos alunos daEscola do 1.º Ciclo e Jardim de

Infância da Formigosa, de Oliveirado Douro. Seguiram-se a Escola do1.º Ciclo do Outeiro e a EB1 e Jardimde Infância de Gervide.

Na época do Carnaval, de 31 deJaneiro a 4 de Fevereiro, houveateliers para crianças e jovens deescolas do ensino básico intitulado«Máscaras da Natureza».

Luís Henrique Pereira, João Santos Pereira e FilipeDuarte Santos, da esquerda para a direita

Interior da Casa do Chasco Fuinha

Árvores de Natal vivas à entrada do Parque

Atelier «Máscaras da natureza»

Mocho-galego

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 35

Destinados a crianças com idades dos 6 aos 15 — aserem a posteriori distribuídas por dois grupos etários—, os Campos de Verão do Parque já estão a ser divul-gados com todo o pormenor.

As datas destes Campos são estas: o primeiro é de 9 a16 de Julho; segue-se outro de 23 a 30 de Julho; de 6a 13 de Agosto; e o último, de 20 a 27 de Agosto.

As crianças pernoitam no Parque Biológico e estãoacompanhadas por técnicos devidamente habilitadospara o efeito.

Além das formas habituais de divulgação, este ano, asactividades estarão também presentes no site doParque Biológico.

Depois da Primavera vem o Estio, ecom ele as férias grandes. A exemplode outros anos, o Parque Biológicoprepara os seus Campos de Verão

Campos de Verão

Iniciação à fotografia da natureza

Oficinas de Inverno

Oficinas da Primavera

Os visitantes do Parque Biológico deGaia estiveram com os olhos no céudurante várias noites, no Inverno e naPrimavera. Telescópio montado,começa a caça visual aos astros. Dia 6de Dezembro, um dos alvos foram asgemínidas, uma bonita chuva de

meteoros. Algures na constelação deGémeos, próximo da estrela Castor.Pensa-se que esta chuva tenha ori-gem no asteróide 3200 Phaeton, quepoderá ter sido um cometa, entretan-to extinto. Salto no calendário: 15 deAbril, Saturno e Júpiter desvendam-

se, seus anéis, seus satélites. Em brevehá mais!

Consulte www.parquebiologico.ptPara participar, basta aparecer e, senão é sócio da Associação dosAmigos do Parque Biológico, pagar aentrada normal no Parque.

Desvendar os astros

Oficinas

Ao longo das férias escolares de Natal, de Carnaval e daPáscoa, o Parque Biológico de Gaia abriu as suas Oficinasde Inverno, de Carnaval e da Primavera, respectivamen-te, a crianças e jovens entre os 6 e os 15 anos de idade.

Os inscritos optaram por um ou mais dias de activida-des, tendo o preço incluído o acompanhamento, as

refeições e o seguro.

Nestas oficinas, os inscritos aprenderam a construirninhos artificiais para aves selvagens, deram de comeraos animais no «Almoço da bicharada», tiraram foto-grafias, desenharam em T-shirts, andaram à «Caça aotesouro», entre muitas outras brincadeiras instrutivas.

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36 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Abatido o eucaliptal que tomava conta da área doParque entre as cabras-bravas e os burros, durante oInverno passou-se à plantação de árvores amigas daterra, tais como carvalhos, sobreiros e azevinhos.

Plantação deárvoresautóctones

Algumas das árvores do Parque Biológico engalana-ram-se com a mostra «Das árvores do Parque brotamfolhas e poemas», que esteve exposta ao público de 5de Março até 1 de Abril, em comemoração do DiaMundial da Árvore e da Poesia.

Em várias línguas, poemas alusivos a esse extraordiná-rio dispositivo de valorização da atmosfera, que é aárvore, chamaram a atenção dos visitantes para aimportância de se ter maior cuidado no uso sustentá-vel desse recurso natural.

Outro evento: dia 21 de Março, Dia da Árvore, repre-sentantes do Hotel Ibis plantaram um Liquidâmbar noParque de Merendas, ficando uma placa a assinalar oevento.

Dia da Poesia eda Árvore

Trim, trim... O telefone tocou na Recepção doParque Biológico de Gaia. Era umaenfermeira do Hospital PedroHispano, que estava a braços com umproblema bicudo: uma arara teriaentrado por uma janela do hospício e,quando a equipa entrava para obloco operatório, o vistoso bate-de--asas atribulou a rotina de trabalho.

Que fazer àquela envergadura demetro mais coisa menos coisa, ador-

nada com um bico estilo tenaz cor-tante?...

Assunto de especialistas, terão pen-sado. No Parque, aconselharam atelefonar para o SEPNA, a secção daGNR devotada à fauna.

Capturada a ave sul-americana,assustada que só vista depois detanto alvoroço, veio parar no passa-do dia 3 de Abril ao Parque Biológicode Gaia, que fica seu fiel depositárioaté se apurar legalmente o destino.

Susto no hospital

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O psitacídeo que queria ser auxiliar de enfermagem

Substituição de eucaliptos numa área do Parqueque estava pejada de arvoredo exótico

Plantação de uma árvore por funcionários do Hotel Ibis

Pormenor da mostra «Dasárvores do Parque brotam

folhas e poemas»

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 37

Entre Janeiro e Março nasceram cinco cabras-anãs.

Em 29 de Janeiro nasceu uma égua. Chama-se Aurora.

Os javalis este ano aumentaram a prole dia 12 deMarço: são mais quatro!

Excluindo os clandestinos — como os esquilos, coelhose as aves selvagens —, sendo certo que ainda a procis-são vai no adro, nada mais a dizer em altura de fechode edição.

NascimentosCom a Primavera, várias espéciesaproveitam os bons dias do início daépoca aquecida do ano...

Galinha-pedrêsvale por trêsA galinha-pedrês portuguesa é uma raça autóctone emrisco de extinção.

São aves de bela plumagem, rústicas, boas poedeiras ecom elevada resistência a doenças. “Galinha-pedrêsvale por três” ou “Galinha-pedrês não a mates nem adês” são provérbios antigos que mostram a admiraçãodo povo por esta raça de galinhas.

Esta raça está distribuída por todo o Portugal conti-nental, considerando-se o seu solar a região do Minhoe alguns concelhos limítrofes do Douro Litoral e deTrás-os-Montes.

Pelo facto de ser uma raça em risco de extinção, aAMIBA (Associação dos Criadores de Bovinos da RaçaBarrosã) iniciou em 2003 a Gestão do RegistoZootécnico/Livro Genealógico e já há até ajudas, atra-vés das medidas agro-ambientais, para incentivar a

criação destas aves em regime extensivo tradicional.

Não deixe de visitá-las no galinheiro da Quinta de StoTusso no Parque Biológico de Gaia!Te

xto:

Ana

Maf

alda

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38 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

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Esta gineta, com dias de idade, foi rejeitada pelos paisem 14 de Setembro do ano passado, com ferimentospor todo o corpo. Não foi difícil perceber a carga de tra-balhos que veio daí. Biberão e outros cuidados, a eng.ªAna Mafalda consulta os registos: «O Paquito pesava123 g e começou a ser alimentado com 2 ml de leite desubstituição 8 vezes por dia. No início de Dezembro jápesava 500 g e começou a comer sozinho».

Curiosamente, todo o esforço compensa quando seavistam perspectivas de sobrevivência. O Paquito,nome dado a esta gineta traquina, depressa cativou osfuncionários do Parque. Dois destacaram-se nessa par-ceria: primeiro, a eng.ª Ana; depois, o guarda-florestalTeixeira. Dedos marcados pelas unhas e pelos dentesagitados deste rapazola, o Paquito fez a festa desde asua infância ao longo da época fria do ano.

Dada a habituação ao ser humano, este animal nãodeve ser libertado na natureza. Isso traria uma série deproblemas para ele, e para outrem, por onde passasse.

O mesmo não se passa com outras ginetas! Por exem-plo, na área do Parque Biológico há ginetas selvagensem liberdade. Embora seja difícil vê-las, são predado-res noctívagos, em Fevereiro foi apanhada uma trêsnoites seguidas — e três vezes libertada — no cercadodos corços. Outro caso, ocorrido também em Fevereiro,regista a entrega para libertação na Reserva Naturalda Dunas de S. Jacinto um casal de ginetas selvagens,que estavam à guarda do Parque Biológico, estas emcondições de serem libertadas com possibilidades desobrevivência.

Centro derecuperação

Peneireiro-das-torres

Guarda-florestal Vítor Teixeira

Eng.ª zootécnica Ana Mafalda

Foto

: Joh

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Foto

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O Parque Biológico de Gaia está a colaborar com a Ligapara a Protecção da Natureza na recuperação doPeneireiro-das-torres (Falco naumanni).

Ave ameaçada da nossa fauna, este ano a espécie jánidifica, sendo visíveis os primeiros casais que se for-maram. A LPN está a estabelecer contacto com agri-cultores «para assegurar que sejam contempladasmedidas que beneficiem as «zonas de caça» do penei-reiro-das-torres, nomeadamente através da manuten-ção da agricultura tradicional de sequeiro».

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 39

Palmilhar o percurso de descoberta do ParqueBiológico de Gaia já não é problema para idosos, defi-cientes físicos ou, simplesmente, para os mais como-distas.

Esta viatura eléctrica permite descobrir com comodi-dade o Parque e observar os animais. Mesmo quechova, não há problema!

Uma visita guiada ao Parque conduzida por um dosseus técnicos de Educação Ambiental, de cerca demeia hora, para um máximo de 5 pessoas, custa, semmarcação, € 20,00, de segunda-feira a sábado (inde-pendentemente do n.º de pessoas e com entradas noParque acrescidas).

Mais informações: 227 878 120.

Visitas sobre rodas

Teatro no ParqueA Companhia de Teatro «Os Últimos» actuou no Parque Biológico

O Pai Natal, ao abrir as cartas dapequenada, fica espantado: desta

vez, só pedem histórias de encantar!Os livros saem como que por magia

de dentro do baú. Os personagenssurgem e criam novas histórias. Estapeça, «O baú de histórias animadas»,esteve em palco no Parque Biológicode Gaia entre 27 de Novembro e 18de Dezembro, pela mão daCompanhia de Teatro «Os Últimos»,de Oliveira do Douro.

De 12 de Fevereiro até ao fim do anoescolar, esta mesma companhia tea-tral coloca neste palco «Gil Vicente eas suas coisas». Partindo de obras dopai do teatro português, FernandoAry criou uma composição vocacio-nada para jovens dos 2.º e 3.º ciclos,bem como do ensino secundário.

«O baú de histórias animadas» foi a peça de época natalícia que teve porpalco o auditório do Parque

Apadrinhar animais é uma forma de reunir mais recur-sos para o bem-estar animal, algo que, por questõeséticas e até legais, é fundamental. O Parque Biológicocuida também disso, e conta com a sua ajuda.

As pessoas, singulares ou colectivas, que estivereminteressadas poderão patrocinar as instalações de ani-mais do Parque Biológico de Gaia, pagando uma quan-tia anual para fazer face às despesas de alimentaçãodos animais e manutenção da instalação.

O patrocinador tem direito à afixação, junto da instala-ção patrocinada, de uma placa com a identificação (e

logótipo, no caso das pessoas colectivas), um cartão delivre-acesso ao Parque Biológico, durante o período dopatrocínio, cartão esse que é válido para o titular e, nomáximo, dois acompanhantes e a cem convites paravisita ao Parque Biológico, que poderá distribuir livre-mente.

Os contributos recebidos beneficiarão da Lei doMecenato (Decreto-lei n.º 74/99), que permite levar acustos 120 a 130% das quantias atribuídas, no casodas pessoas colectivas, e deduzir à colecta 25% dovalor atribuído, no caso das pessoas singulares.

Patrocine um animal do Parque

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«Por isso, e não só, as margens do estu-ário são local habitual de lazer do tipocontemplativo. Outras formas de lazer erecreio são, igualmente, praticadasnesta área: a pesca desportiva, as acti-vidades balneares, desportos náuticos,campismo, manutenção física, etc.

Para além do aspecto referido, o estuá-rio do rio Douro constitui local de inte-resse natural e ecológico, quer pelaflora que abriga no Cabedelo, quer pelafauna, aquática e terrestre, que encon-tra condições de vida nas suas águas,dunas, sapais e bancos de areias e lodosintertidais (entre marés).

No que à fauna aquática diz respeito,será de realçar a importância da cha-mada Baía de S. Paio para a reproduçãoe desenvolvimento de grandes quanti-dades de peixe, que constitui parte dabase da pesca desportiva e profissionalno estuário, no rio a montante e,mesmo, no mar».

Foi assim que, há 15 anos, no 1.ºCongresso Internacional sobre o RioDouro, começámos a apresentação daproposta de criação do «ParqueMunicipal do Estuário do Douro». A pro-posta seria acolhida pela Câmara, queainda tentou implementá-la no terreno;dessa intervenção resta visível o enro-camento a sul do Cabedelo, que desdeentão, e até há pouco, impediu as via-turas 4x4 de destruírem a vegetaçãodunar.

Pena é que o parque não tenha sido cri-ado, pois a procura que o espaço conti-nua a ter bem justifica a proposta, entãofeita, de ordenamento e valorização.

Vem isto a propósito da recente polémi-ca sobre o plano de urbanização da«Quinta Marques Gomes», propriedadeprivada de cerca de 26 hectares, situa-

da a sul deste Estuário e que se encon-tra abandonada há décadas.

Já na nossa proposta nos apercebemosda importância cénica da área florestalda quinta, e sugerimos a sua recupera-ção; na altura o coberto vegetal encon-trava-se extremamente degradado,devido a sucessivos incêndios e à proli-feração de espécies vegetais exóticas;hoje, está pior!

Infelizmente, o abandono continuou(até perante o silêncio de ambientalis-tas), o PDM (Plano Director Municipalde Gaia), de 1994, não daria grandeimportância a esta zona e, por fim, emreunião de Câmara de 12/04/99, viria aser aprovado o Plano de Urbanização daFrente Norte/Poente de Gaia, mas que –felizmente – nunca viria a ser aprovadopela Tutela.

Fruto destes antecedentes de planea-mento duvidoso e da natural apetênciapara edificar em espaços de qualidade,logo em 1999, um empresário viria arequerer o licenciamento de uma ope-ração urbanística para a quinta, pro-pondo-se, dos 265 mil m2, lotear 46 mile construir 1233 fogos em 21 mil m2,deixando o resto para equipamentos ezonas verdes.

Esse projecto recolheu pareceres, masnão obteve um consenso de aprovação,o que levou o requerente a apresentaruma alteração, em 2001; também estaalteração não convenceu a Câmara deGaia que, em Agosto passado, disso deuconta ao promotor.

No essencial, o projecto de urbanizaçãomantém a área florestal da encosta doDouro e a área florestal da parte alta daquinta, que terão fruição pública; utili-za para construção as áreas sem vege-tação arbórea, de antigos espaços de

uso agrícola. Será encargo do promotora recuperação das áreas florestais, bemcomo do “palacete” da quinta, queentregará à Câmara para instalação deum equipamento público.

No essencial, este projecto de urbaniza-ção garante algum equilíbrio entre aspretensões de salvaguarda da paisagemestuarina e os interesses imobiliários dequem é proprietário de 26 ha de terre-nos praticamente dentro da cidade.

A cidade é criação milenar do Homem,um espaço que pretendeu para si, segu-ro, confortável, “culto”, dele excluindo anatureza “selvagem”, e apenas manten-do a sua representação “domesticada”em jardins, vasos e gaiolas com canários.

Nas margens da cidade cresceram ossubúrbios rur-urbanos, com elementosnaturais e de elementos da cidade.

Começa-se a pôr em causa o modelourbano. Em 1990 a Comissão daComunidades lança o Livro Verde sobreo Ambiente Urbano: "Com o aumentoda consciencialização ambiental, ariqueza dos habitats naturais situadosno interior das nossas cidades acabapor ser reconhecida. Embora o valordestes espaços raramente possa sercomparado àquele dos habitats maisnaturais situados no campo, a sua pro-ximidade duma densa população traz-lhe um valor especial, pela oferta dumamelhor qualidade de vida urbana, opor-tunidades de lazer e de educação infor-mal em matéria de história natural eambiente.”

Por isso, afirma a Comissão, “As autori-dades urbanas deverão ser encorajadasà revisão do seu inventário de espaçospúblicos livres e a aproveitar todas asoportunidades para acrescentar o seunúmero”.

b i o m a s

40 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Dar à cidade o estuário«O estuário do Rio Douro constitui um espaço biofísico de notável beleza e comcaracterísticas únicas na região, nomeadamente no concelho de Vila Nova de Gaia.A larga superfície de água que o rio forma, devido à contenção imposta pelarestinga de areia denominada Cabedelo, dá origem a um horizonte amplo erepousante

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Neste contexto evolutivo, não se estra-nha que surjam divergências entre aspropostas urbanísticas “clássicas” e osprojectos de modernidade urbana. Nãose estranha que se agudizem posições,quando uns querem construir e outrosquerem conservar.

Mas pode ser nessa divergência que seencontre o novo modelo de cidade.

A urbanização da Quinta MarquesGomes pode ser uma boa oportunidadepara, por fim, se recuperar a manchaflorestal e abri-la ao uso público, crian-do, se não o Parque Municipal doEstuário do Douro, pelo menos umazona verde.

No desenho junto, fizemos a sobreposi-ção da nossa proposta de parque, de1990, com o projecto de urbanização de2001; como se pode ver, a mancha deconstrução é percentualmente pequenae a área florestal resta quase intacta.

Acresce a obrigatoriedade imposta pelaCâmara Municipal de Gaia ao promotorde recuperar a vegetação, havendogarantias que, nesse processo, estaráenvolvida a equipa do Prof. Arq. RibeiroTeles.

Assim, como ambientalista que “...venho do fundo do tempo, e não tenhotempo a perder” diria: Aprove-sedepressa o plano de pormenor para azona e o plano de urbanização para aQuinta Marques Gomes, para que sepasse a contar com um novo espaçoverde público de mais de 15 ha, que sevenha juntar aos que o Município jápossui, como o Parque Biológico, com35 ha, o Parque da Lavandeira, com 10ha, que abrirá este ano, e o Parque doVale de S. Paio, em projecto.

Para isso, começa por ser necessárioaproveitar a oportunidade para ordenaro espaço, canalizando para outros loca-is algumas práticas incompatíveis coma conservação da biodiversidade doestuário e dunas do Cabedelo. Em tem-pos, a Quercus protestou, em comuni-cado, por se terem posto em riscoalguns ninhos de Borrelho (pequena avedas dunas) com uma acção de limpezade detritos feita no Cabedelo. Porém,importa protestar contra as dezenas de

cães que, diariamente, ali são largados,contra os passeios a cavalo, contra os4x4 que regressaram em virtude dealguém ter removido parte do enroca-mento que os impedia de entrar nasdunas e contra outras actividades prati-cadas nos bancos de areia do estuário,que devem ser reservados para a avi-fauna.

De manhã cedo, o Estuário do Douroenche-se de aves aquáticas; quandocomeçam essas actividades, é a deban-dada.

E, já agora que falamos deste Estuário, ébom não esquecer o tsunami que afec-

tou parte da Ásia, e ocasião para valori-zar o importante papel de defesa quedesempenham as dunas do Cabedelo.

A construção dos molhes está aprovada,a urbanização sê-lo-á mais dia menosdia, em virtude de compromissos antesassumidos (PDM, etc.); aos ambientalis-tas compete transformar estes projec-tos em oportunidades, de modo a con-seguir, por fim, o desejado ordenamen-to e conservação do Estuário do Douro.

Texto: Nuno Gomes Oliveira

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 41

Sobreposição do projecto de urbanização da Quinta Marques Gomes (2001) coma proposta de criação do Parque Municipal do Estuário do Douro (1990)

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FICHA DE ASSINANTEFICHA DE ASSINANTE

Pode receber em sua casa a revista «Parque Biológico» através de dois processos:

1) enviando o seu pedido de admissão de sócio à Associação dos Amigos do Parque Biológico ou então:

2) fazendo-se assinante desta Revista pela quantia de 7.5 euros por ano, preenchendo e enviando esta ficha:

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A Loja do Campo, agora junto à Recepção do Parque Biológico,aguarda pela sua visita.O Parque possui também um horto, onde os visitantes podemadquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120

Assine a revista “Parque Biológico”

Loja do Campo

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e s p a ç o s

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 43

Este equipamento surge de um modelo que englobarádois espaços distintos: por um lado, uma áreadesportiva; por outro, uma área de parque de lazer. Os percursos pedonais revelam-se um ponto forte, mashá muitos outros motivos de interesse tais comoparques infantis e uma sebe vegetal que configura umlabirinto. Para além de um parque de merendas, nofuturo prevê-se que venha a haver um restaurante. Amanutenção física dos mais desportistas está previstae para isso haverá de obstáculos e aparelhos deexercício, entre outros. A conservação da natureza estará presente, através davalorização das espécies arbóreas de maior valor.Prevê-se a colocação de ninhos artificiais para aves evai-se criar um lago naturalizado, no âmbito darecuperação da ribeira que atravessa este parque.Perto das Oficinas Municipais, na Estrada n.º 222, oParque Municipal da Lavandeira, com cerca de 8hectares, estará aberto todos os dias da semana, das9h00 às 17h00, no Inverno, e das 9h00 às 21h00, noVerão.

Parque da LavandeiraO Parque Municipal da Lavandeira estáem ebulição: sujeito a obras, pretende-se que abra o mais brevemente possível

Um peneireiro pousou,apesar do ruído dostractores, no futuroparque deestacionamento

Sempre a abrir, que o trabalho émuito: Marques não se descuida

Uma sebe de tuias, a crescer, irá gerar um labirintovegetal no Parque Municipal da Lavandeira

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a r b o r i c u l t u r a

44 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

Depois do êxito dos dois Campeonatos anteriores, aSPA está já a organizar o III Campeonato de Escaladade Árvores, agendado para 10 e 11 de Setembro de2005 e a decorrer na região de Coimbra em data aassinalar atempadamente.

III CAMPEONATOSPA DEESCALADA DEÁRVORES

FORMAÇÃOA SPA apresentou durante o mês de Fevereiro o seucalendário de formação:Norma de GranadaFormador: Jordi Chueca; Data: 15 de Abril; PúblicoAlvo: Arboristas; Técnicos; Responsáveis porManutenção de Árvores; Nº de Participantes; 20/40;Local: Lisboa, sala de Formação da LPN; Preços adefinir.Selecção e Identificação de Espécies Arbóreas paraMeio Urbano; Formador: Isabel Lufinha; Data: 7 de Maio; PúblicoAlvo: Arboristas; Técnicos; Responsáveis porManutenção de Árvores; Nº de Participantes: 15/25;Local: PBG; Preço Sócio: 75,00e ; Preço não Sócio:110,00e.Técnicas de Resgate em Árvores Formadores: Celso Rodrigues, Victor Dias. Data: 21 deMaio; Público Alvo: Escaladores Podadores;Responsáveis por Manutenção de Árvores; Nº deParticipantes:10/15; Local: PBG; Preço Sócio:100,00e; Preço não Sócio:140,00e.Nota: Formação Prática, requisitos: conhecimentos deescalada de árvores; seguro de trabalhadores; EPI casotenha disponível.Escolha de Indivíduos em Viveiro e Técnicas dePlantaçãoFormador: Ana Júlia Francisco.Data: 18 e 19 de Novembro; Público Alvo: Arboristas;Técnicos; Responsáveis por Manutenção de Árvores;Jardineiros; Nº de Participantes: 15/25; Local: PBG;Preço Sócio: 120,00e; Preço não Sócio: 160,00e.O Mundo da ÁrvoreFormador: Carla Martins Abrantes. Data: 9 deDezembro; Público Alvo: Autarcas; Nº de Participantes:15/25; Local: PBG; Preço Sócio: 75,00e; Preço nãoSócio: 110,00e.Informações gerais:Horário da formação: 9h30 às 17h30 (podendo variarconsoante as acções).O valor da inscrição inclui almoço.Todas as acções de formação darão lugar à entrega deum certificado de participação.As acções de formação só serão realizadas com onúmero mínimo de participantes.Apenas serão aceites as inscrições acompanhadas dorespectivo pagamento. Caso a acção não se realizeserá restituído, na íntegra, o valor da inscrição.

O conflito constante entre o desenvolvimento urbanoe o ambiente reflecte-se de uma forma particularmen-te marcada no arvoredo. Conceptualmente, as áreasurbanas são, de uma forma crescente, áreas descontí-nuas e desgarradas entre si, o que dificulta a instala-ção e a manutenção do verde urbano na estruturacitadina. As tensões intersectoriais entre os interveni-entes nos espaços urbanos sentem-se de forma evi-dente na instalação de novas árvores e na protecçãodas existentes, durante as constantes mutações dosterritórios urbanos.

Também, a nível do solo onde tudo se passa sem servisto e muito pouco sentido, as agressões mecânicasdas raízes, a par dos constrangimentos no seu desen-volvimento pelo aumento da densidade do solo e dafraca difusão do oxigénio, fazem com que as conse-quências desta conflitualidade sejam especialmentegravosas.

Este II Congresso da Sociedade Portuguesa deArboricultura, com o tema: "ÁRVORES URBANAS:RAÍZES NA CIDADE", visa, uma vez mais, congregar osdiversos sectores intervenientes no espaço urbano,estimulando os seus actores a criar as sinergias neces-sárias para o bem-estar social e melhorar a qualidadede vida das populações urbanas. No âmbito do Congresso terá ainda lugar, no dia 15 deOutubro, a realização de dois Workshops.

O Congresso e os Workshops terão lugar no ParqueBiológico em Vila Nova de Gaia nos dias 13, 14 e 15 deOutubro de 2005.

O Programa provisório pode ser consultado no nossosite: http://www.sparboricultura/eventos.

III CONGRESSO DA SPAÁRVORES URBANAS: RAÍZESNA CIDADE

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Guia fotográfico de avesPronto, está bem! Que ninguém se aborreça. Não épreciso chorar só porque ainda não tinha chegado umguia de aves selvagens da Europa com boas fotografiasem vez de desenho científico... só que é em inglês.«Photographic guide to the birds of Britain & Europe», deHakan Delin e Lars Svensson, com cerca de 1300 fotos atodas as cores e 465 mapas de distribuição.Para quem aprecia fotografia da natureza, este guia é umregalo, com a vantagem de prestar uma preciosa ajuda naidentificação de espécies que por vezes se fotografa ou sevê, de classificação mais difícil, pelo menos para quemnão é especialista.Um excelente complemento na identificação de avesselvagens.

Editora: Chancellor Press

p a r á g r a f o

Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 45

Do Reino dos Bichos

Um livro paradoxal:metido numa pra-teleira, tão fino,passa despercebi-do. Se se descobrenuma olhadela,pára nas mãos eos dedos folhei-am-no com umhumor decantadoem abecedárioque desfia gru-pos e mais gru-pos de bichara-da.

Falamos de «Elucidário oblí-quo do Reino dos Bichos», de Augusto Baptista, jornalis-ta. Advertência: «Em Português, idioma do mar, o autor, ten-tado pelo mundo da Alquimia, cata essências, imerge aespaços em porfia minimalista, rasa a atomização doverbo e da linha, almeja o nuclear dos bichos, das coisas.

Que desta pulsão tome nota quem vai ler, adequando ges-tos e juízos. Para que este declivoso formulário deflagretransmutado em pura brincadeira».E agora, aleatoriamente, meia dúzia de linhas do livro...«Bactéria: ínfima e aguerrida criatura, temível no corpo acorpo».«Pinheiro-manso: Natureza tranquila que consente pom-bos-bravos nos braços».«Ouriço: organismo organizado em o, onde até os olhostêm picos». «Grilo: tem antena, mas não vê televisão».«Wosquito: uma melga cabeça no ar».«Vaca barrosã: deveria chamar-se Uaca, simplesmente.Pelos cornos, via-se logo a raça do bovino».«Rã: Senhores da Gramática, então admite-se sobrecarre-gar batráquio saltador com til?!».«Raposa: desculpem, não raposa, é raposã. O animal temrabo, não?!».

Edição de Autor

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46 Parque Biológico Inverno/Primavera 2005

i n f â n c i a

A nossa árvore dos

sonhos continua a despertar

desejos, felicidade, amizade

para todos aqueles que nos

visitam.

Os duendes da esperan-

ça andam a trabalhar bem!

Nesta Primavera um

grupo de crianças achou que

as histórias do Livro Gigante

estavam a precisar de anima-

ção, de cor, enfim, de um

toque especial…

Uma folha de papel, ima-

ginação e lápis de cor fazem

verdadeiros milagres e preen-

chem sonhos, muitas vezes

escondidos!

Desde o “Dom Caio”, de

Teófilo Braga, e do alfaiate

que da palavra “caio” libertou

o seu país!

SSoonnhhooss ddeessppeerrttooss!! Texto: Rita Valente

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Inverno/Primavera 2005 Parque Biológico 47

Passando pelo “Frei João-

-Sem-Cuidados” até ao

“Pequeno polegarzinho” dos

irmãos Grim, as cores foram

flutuando e transformando o

painel branco, tal e qual a

Primavera o começa a fazer

ao longo destes dias…

E surgem então “As lágri-

mas do Malmequer” de José

Vaz que, com as suas lágrimas

a rodar e rodopiar, desperta-

ram os nossos meninos e meni-

nas.

Ficam aqui as sugestões

e os nossos Parabéns pela

vossa ajuda em mais um pro-

jecto.

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Foto

da

Esta

ção AVE

Uma Ave é para voarUma Ave é sonho leve

Sem amarras nem destino certoÉ ir por aqui e por ali

Sem que lhe digam por onde deve ir

Uma Ave é para encantarÉ flor no azul do céu

É música, é graçaÉ harmonia breve

No caos onde esvoaça

Uma Ave é liberdadeQue nem eu nem tu podemos

Aprisionar

Manuel dos Santos

Uma das garças-reais que passam o Inverno noParque Biológico, aqui no lago dos gansos