Entrevista Com Sílvio Gallo

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  • 7/23/2019 Entrevista Com Slvio Gallo

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    Entrevista com Slvio Gallo

    Por Miguel ngelo O. do Carmo

    Deleuze, Filosofia e Educao

    Slvio Gallo, professor da Universidade Metodista de Piracicaba e da Unicamp !tualmentemora em "ampinas, terra natal Estudioso da c#amada $educao anar%uista&, vemanalisando as implica'es do pensamento deleuziano na educao !%ui, um pouco do seupensamento a respeito da relao Deleuze(Filosofia(Educao Publicou, al)m de v*riosarti+os, Peda+o+ia do isco -Papirus Editora., Educao !nar%uista/ um paradi+ma para#o0e -Editora Unimep. 1o prelo, Deleuze e Educao -Editora !ut2ntica. !+uardemos

    MIGUEL NGELO O. do CARMO3 4en#o acompan#ado, 0* al+um tempo, mesmo %uecom certa dist5ncia, suas publica'es e seu trabal#o sobre Deleuze e a educao Mas,

    antes, voc2 mer+ul#ou nos c#amados fil6sofos anar%uistas, o %ue resultou em uma obrasi+nificativa para o repensar contempor5neo educacional -Educao !nar%uista/ umparadi+ma para #o0e. Fale7me um pouco deste paradi+ma 8ue discuss'es a visoeducacional anar%uista pode trazer em relao ao neoliberalismo em %ue se encontra aescola de #o0e9

    SILVIO GALLO3 : !nar%uismo constituiu7se como uma crtica radical ao Estado e aostatus %uo capitalista, sem nen#um dese0o de 0o+ar o 0o+o do capital -c#ame7se eledemocracia, livre mercado ou se0a o %ue for. e, portanto, como uma filosofia mar+inal 1o) de se estran#ar, pois, %ue ten#a sido dei;ada < mar+em pelos poderes institudos, se0ameles da poltica de Estado, da mdia, das universidades 1o entanto, penso %ue tanto asteorias anar%uistas %uanto suas e;peri2ncias com escolas libert*rias ten#am muito a nos

    dizer, ainda #o0e e 3 talvez 3 sobretudo #o0e Detendo7me apenas no aspecto %ue voc2 cita,temos #o0e uma oposio entre ensino p=blico ou ensino privado, com franca deterioraodo ensino p=blico -nos diversos nveis, mas talvez com mais intensidade no ensino superior,ao menos no caso do >rasil., articulada com um amplo crescimento do ensino privado Sedefendemos a privatizao, fazemos o 0o+o do neoliberalismo? se ficamos na defesa daeducao p=blica, perdemos cada vez mais terreno neste confronto desi+ual Mas temosa%ui um problema de fundo/ em +eral, ensino p=blico ) compreendido como ensino p=blicoestatal :ra, desde o s)culo dezenove %ue os anar%uistas criticaram essa necess*riamediao do Estado com a esfera p=blica Podemos pensar num ensino p=blico no7estatal,no mediado pelo Estado E foram mais lon+e/ denunciaram a perspectiva ideol6+ica detoda educao +erida pelo Estado, %ue ensinar* apenas a%uilo %ue l#e ) conveniente,

    desprezando o demais, e mesmo impedindo acesso a estes outros saberes e pr*ticasDenunciaram tamb)m o fato de %ue somos n6s, a populao, %ue financiamos a educao,atrav)s dos impostos -isto ), o ensino p=blico no ) +ratuito, como se afirma.? por %ue,ento, aceitar essa mediao do Estado9 !ssim, as e;peri2ncias anar%uistas de escola foraminstitui'es p=blicas, pertencentes < comunidade, mas sem a interfer2ncia do EstadoFinanciadas pela pr6pria comunidade, +erida pela pr6pria comunidade Penso %ue elastrazem um novo elemento para nosso debate contempor5neo e, por isso, merecem serres+atadas

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    *MAOC3 1esse 0o+o de luta contra a privatizao dos processos de ensino, contra esseentorpecimento da criao educacional, Deleuze se torna um fil6sofo muito importante

    Parece7me %ue a +rande definio de filosofia, dada por Deleuze e Guattari, traz umdeslocamento no modo tradicional de se produzir con#ecimento, ou se0a, uma radicalizaona atividade educacional como um todo !final, a partir disso, nessa luta, ) possvel $umpouco de possvel&9

    SG3 @, penso %ue na e;ist2ncia #umana a utopia ) fundamental Se no assumirmos aperspectiva de al+o, por mnimo %ue se0a, ) possvel em termos de ao presente econstruo do futuro, s6 nos resta lavar as mos e dei;ar %ue o mundo si+a seu +iro, ouento nos suicidarmos, pondo fim a essa falta de perspectivas Sobretudo na atividadeeducacional, se si+o fazendo um trabal#o de sala de aula, se si+o pensando filosoficamentea educao, ) por%ue confio na possibilidade de transformao efetiva de nossas vidasatrav)s da micropoltica do cotidiano E a%ui, nessa atividade de milit5ncia, da%uilo %ue euc#amaria 3 parafraseando Deleuze e Guattari 3 de uma $educao menor&, a%uela %ue sefaz na sala de aula, para al)m e para a%u)m de toda e %ual%uer poltica educacional, aproduo conceitual deleuzeana parece7me interessante Parece ser potencializadora eefetivamente criadora, para a%ueles %ue buscam uma pr*tica educativa aberta

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    avaliado e;ternamente por um a+ente e;6+eno -o professor. Asso, evidentemente, rompecom a avaliao tal como a con#ecemos at) a%ui e rompe com os mecanismos disciplinarese de controle dos processos educativos com os %uais lidamos cotidianamente

    *MAOC3 Deleuze ) comumente con#ecido como um $fil6sofo da diferena&, assim comoFoucault, Cotard, Derrida, etc todos descendentes mar+inais de 1ietzsc#e 1o entanto,a $filosofia da diferena&, com todas as suas influ2ncias, ainda ) pouco trabal#ada nosdepartamentos universit*rios e tamb)m na educao !final, o %ue ) filosofia dadiferena e por %ue essa $resist2ncia& -no sei se a mel#or palavra seria essa. acad2micapara com a mesma9

    SG3 1o sei se podemos afirmar %ue #a0a uma resist2ncia acad2mica a uma $filosofia dadiferena&, se %uisermos c#am*7la assim Penso %ue #a0a mais descon#ecimento, em al+unslocais, do %ue resist2ncia Mas o fato ) %ue essa filosofia da diferena, se+uindo os desafios

    lanados por 1ietzsc#e, sobretudo em Genealo+ia da Moral, tem se dedicado a produziruma filosofia na contramo da tradio filos6fica, %ue privile+iou e privile+ia o mesmo, ouno, o fundamento ! filosofia da diferena abandona a busca por %ual%uer ess2ncia, por%ual%uer fundamento, se0a em %ue re+istro metodol6+ico for 1uma vertente norte7americana, em %ue os fil6sofos %ue voc2 citou so muito bem recebidos em diversosespaos acad2micos, fala7se na filosofia da diferena como uma das $correntes& de um$p6s7modernismo& Penso %ue essa 5nsia ian%ue de rotular, de colocar uma eti%ueta para%ue o produto se0a mais vend*vel, mais complica do %ue a0uda !o rotular, os norte7americanos promovem um apa+amento das diferenas Mas o fato ) %ue nas academiasbrasileiras #* um $p) atr*s& com essa onda de p6s7modernismo e, na medida em %ue afilosofia da diferena ) apresentada como parte dele, ela tamb)m acaba sendo vista com

    reservas Mas, repito, parece7me %ue as reservas devem7se mais a um descon#ecimento Poroutro lado, penso %ue tem crescido a presena destes fil6sofos nos meios universit*riosbrasileiros 4emos tido uma s)rie de con+ressos e simp6sios para estudar e disseminar asobras de 1ietzsc#e, de Foucault, de Deleuze? e muitos deles t2m sido publicados em formade livro, de modo %ue a literatura #o0e disponvel no ) pe%uena Esse processo acabafluindo para o campo da educao, a meu ver em duas vertentes Uma vertente ) a domodismo Anfelizmente, a educao ) um campo onde os modismos proliferam, e #*pessoas %ue trazem a filosofia da diferena para educao para vend27la como mais umproduto, mais uma soluo para todos os males E no ) incrvel %ue #a0a %uem compre1essa lin#a, muito pr6;ima da%uela perspectiva norte7americana %ue citei anteriormente,ac#o %ue se faz mais um desservio, tanto para a educao %uanto para a filosofia Mas #*

    uma outra vertente, de pessoas %ue esto seriamente trabal#ando esses fil6sofos e aspotencialidades educativas de sua obra, voltadas para uma educao para as sin+ularidades

    *MAOC3 Em um te;to, voc2 afirma %ue a filosofia deleuziana ) $uma constante ateno aomundo e ao tempo presente& : tema do atual, do acontecimento, parece ser uma %uesto

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    importante para a educao e, no entanto, tem sido desprezada como mostra as v*riaspr*ticas educacionais %ue encontramos por a >audelaire dizia/ $1o tens o direito dedesprezar o presente& : %ue estamos dei;ando de lado ao desprezar o tempo presente9

    SG3 Desprezar o presente si+nifica desprezar a pr6pria vida oc2 citou >audelaire, %uerocitar Drummond, no poema Mos Dadas/

    No serei o poeta de um mundo caduco.Tambm no cantarei o mundo futuro.

    Estou preso vida e olho meus companheiros.Esto taciturnos mas nutrem grandes esperanas.

    Entre eles, considero a enorme realidade.

    O presente to grande, no nos afastemos.No nos afastemos, vamos de mos dadas.

    No serei o cantor de uma mulher, de uma histria,

    no direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da anela,no distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

    no fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo a minha matria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.

    ivemos no presente? no vivemos nem no passado nem no futuro 8ual%uer filosofia %uedespreze o presente est* desprezando a vida Da mesma forma, a educao no podedesprezar o presente 1o ten#o o direito de educar para o passado, nem mesmo de educarpara o futuro @ preciso educar para a vida, e a vida ) um eterno presente Precisamos tomara educao como espao de acontecimentos, como iman2ncia, se %ueremos dar ateno