Entrevista Com Militante Da Uneafro (1)
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Transcript of Entrevista Com Militante Da Uneafro (1)
Jaime Amparo Alves: ‘Racismo faz surgir identidade explosiva, forjada na dor e
na raiva’
Publicado em 3 de junho de 2012 por Marcelo Manzatti
18.05.12 – Brasil
Brasil de Fato
Agência Brasil de Fato. Uma visão popular do Brasil e do Mundo
Adital
Por Jorge Américo, de São Paulo
Militante da UNEafro Brasil recebe título de Doutor em Antropologia pela
Universidade do Texas/Austin, nos EUA
Entrevista com Jaime Amparo Alves, Doutor em Antropologia e Pesquisador do
Departamento de Estudos Africanos e Afro-Americanos da Universidade do Texas, em
Austin (EUA) e militante da UNEafro Brasil.
No início de maio, pelo menos 40 organizações populares se reuniram na cidade de São
Paulo para lançar a Frente Pró-Cotas Raciais. O encontro ocorreu duas semanas após o
Supremo Tribunal Federal (STF) declarar a constitucionalidade da reserva de vagas para
negros em instituições públicas de ensino superior.
A mobilização se deu quando os reitores das três universidades estaduais paulistas
(USP, UNESP e Unicamp) anunciaram que a decisão dos ministros não provocará
nenhuma alteração em seus processos seletivos. O primeiro ato político da Frente foi a
realização de uma Aula Pública, na semana da Abolição, no interior da Faculdade de
Direito do Largo São Francisco.
Anteriormente, muitas dessas organizações formaram o Comitê contra o Genocídio da
Juventude Negra, para denunciar a violência policial e a ausência de políticas públicas
voltadas para essa parcela da população.
Em entrevista à Radioagência NP, do grupo Brasil de Fato, Jaime Amparo Alves,
doutor em Antropologia e Pesquisador do Departamento de Estudos Africanos e Afro-
Americanos da Universidade do Texas (EUA), interpreta as recentes mobilizações como
um indicativo de que é possível uma reaproximação das entidades do movimento negro,
fragmentado com a aprovação de um Estatuto da Igualdade Racial “esvaziado”.
“A esquerda brasileira é esquizofrênica ao esperar que se resolva o problema de classe
para que um dia a questão racial seja, enfim, posta na mesa de debates”, analisa o
antropólogo. “Eu descobri isso quando vi minha mãe envelhecendo na cozinha dos
companheiros revolucionários”. Entre outras análises, ele vê São Paulo “como uma
necrópole que ambienta nas relações sociais e nas políticas governamentais as práticas
genocidas antinegro”.
A última mobilização nacional do movimento negro foi em torno do Estatuto da
Igualdade Racial. Porque houve fragmentação depois da “aprovação”?
O Estatuto da Igualdade Racial já nasceu morto. Se tem algo no Brasil que exemplifica
o impasse político para uma agenda negra revolucionária, é o Estatuto. Ele serviu como
esvaziamento político-ideológico e colocou em lados opostos lideranças negras com
contribuições históricas contra o racismo. De um lado, aqueles vislumbrados com as
migalhas políticas acenadas pelo Petismo. De outro, aqueles que entendem a luta negra
para além das concessões estatais. O Estatuto mostrou mais uma vez as artimanhas do
racismo brasileiro: ele opera a partir da despolitização da categoria “raça” e da falsa
ideia de que é preciso substituir as ruas pelos gabinetes em Brasília. O que se viu foram
lideranças com o pires nas mãos negociando cada exigência ao ponto de, no fim, o lema
ser “mais vale um estatuto vazio na mão do que um perfeito engavetado”. As
dificuldades em torno de uma unidade programática na militância põem um desafio à
construção da agenda radical negra. Eu acho que um dos impasses é reconhecer ou não
a natureza antinegro do Estado brasileiro, em particular, e do modelo capitalista em
geral. Se para as organizações negras radicais os terrenos estão bem demarcados, me
parece que falta rumo a outras, e olha que estou consciente das implicações políticas de
uma crítica pública às organizações negras no contexto do racismo antinegro brasileiro.
Se negras e negros são “os últimos da fila depois de ninguém”, é deste lugar social que
pode nascer um projeto radical em tempos de distopia. A pergunta é se a aprovação do
Estatuto e a constitucionalidade das cotas pelo STF vão esfriar ou dar novo gás à agenda
negra. Mais do que nunca, a gente precisa de uma radicalidade negra que recupere a
crítica ao capitalismo racial e ao Estado como disposições antinegras, das quais não
podem surgir transformações sociais. Onde o movimento negro se posiciona: no dilema
revolução ou reforma?
Considerando as composições políticas, ainda há possibilidades de unidade nas
bandeiras do movimento negro?
Acredito que há possibilidade de unidade e acredito que esta unidade se forja nas ruas.
Aqui está o que eu penso: o racismo antinegro cria as condições materiais para a luta
negra. Veja o exemplo da campanha contra o genocídio negro, encampada por dezenas
de organizações negras em São Paulo. A morte negra aparece aqui como o ‘lugar’
histórico, permanente, estrutural de onde forjamos uma identidade em movimento. Não
foi a morte de Robson Silveira da Luz, em 1978, e os atos contínuos de discriminação
sofrida por jovens negros na cidade que deram origem ao MNU? Com isso quero dizer
que, irônica e paradoxalmente, o sofrimento social negro traz consigo as sementes
revolucionárias porque não nos resta outra opção a não ser resistir enquanto grupo
organizado. Se a dominação racial no Brasil opera a partir do esvaziamento político da
categoria “raça”, os encontros diários de negras e negros com as tecnologias de
dominação racial fazem surgir uma identidade explosiva, forjada na dor e na raiva. Ai
está a experiência comum que ultrapassa as diferenças políticas entre as organizações
negras e cria o combustível para a batalha política.
Por que há tanta resistência em enxergar o racismo como problema estrutural, mesmo
dentro da esquerda?
Sua pergunta nos obriga a voltar à questão anterior porque de certa forma o Estatuto
visibiliza bem essa esquizofrenia da esquerda em entender a especificidade da condição
negra. Eu acho que o debate empobrece quando as respostas que recebemos às nossas
criticas à esquerda é a de que nós negros e negras fragmentamos a luta, como se
fôssemos partidários do DEM ou do PSDB. Nós pedimos aos companheiros e
companheiras das esquerdas: se quiserem ser radicais/revolucionários, não nos peçam
para ter paciência porque no contexto da luta pela sobrevivência negra, ter paciência é
um privilégio branco. Não podemos esperar que se resolva o problema de classe para
que um dia a questão racial seja enfim posta na mesa de debates. Não! Não há
negociação se a esquerda “progressista” se recusa a entender como a categoria raça
informa a maneira como a opressão de classe é experienciada. É a condição negra, o
lugar do não-lugar, que sintetiza o que o feminismo radical negro tem chamado de
“matriz da dominação” no mundo contemporâneo. Eu acho que a dificuldade da
esquerda em entender o racismo reside na recusa em entender o que representou o
trauma histórico da travessia do Atlântico negro. O militante radical/revolucionário
branco encontra os limites da práxis revolucionária exatamente quando confrontado
com a sua própria identidade. Eu descobri isso quando vi minha mãe envelhecendo na
cozinha dos companheiros revolucionários. Estamos falando de um trauma histórico que
tem na cor da pele negra as marcas de todos os horrores de um passado que se mantém
entre nós. As feridas abertas com a travessia do Atlântico ainda não cicatrizaram e não
cicatrizarão tão cedo. Só quem é negro entende o que estou falando em termos de dor
física e psíquica. Ou a esquerda brasileira entende isso ou continuará recolhendo os
cacos do que sobrou do seu percurso de classe média branca, universitária. O conceito
abstrato e universalista de esquerda não convence nem a mim nem aos meus amigos da
quebrada.
Qual o significado político da ocupação do Shopping Higienópolis, em fevereiro de
2012, visto que cerca de 30 organizações participaram do ato?
A ocupação do Shopping Higienópolis tem um simbolismo muito importante. Primeiro,
pelo próprio significado que a palavra Higienópolis encerra. Essa área onde o shopping
está plantado tem também um peso histórico muito grande porque ela nasceu como
parte da Cidade Nova, um projeto urbanístico que visava reestruturar o espaço urbano
no final do século XIX, quando a elite cafeicultora dividiu a cidade em duas, varrendo
os bairros predominantemente negros. A nova cidade não poderia comportar os
territórios negros das áreas adjacentes do centro porque o corpo negro representava um
obstáculo ao projeto de modernidade capitalista que São Paulo copiava da Europa. Ao
ocupar o Shopping Higienópolis, estamos deixando a elite paulistana nua, assim como
deixamos com o churrasco da “gente diferenciada”. Nossas elites têm uma capacidade
impressionante de reescrever a história e se configurar como progressista nas colunas
dos jornalões, de maneira tal que famílias tradicionais como a Matarazzo, ou a Mesquita
– para lembrar de duas– aparecem como vanguarda política na boca de alguns. O que
Andrea Matarazzo fez como subprefeito da Sé e o que Kassab fez na cidade foi apenas
reatualizar esse modelo de higienização social que está no nascedouro de São Paulo. Eu
tenho sugerido o termo “espacialidade macabra” para descrever a cidade de São Paulo.
Sugiro que a gente leia/entenda a cidade como uma necrópole que ambienta nas
relações sociais e nas políticas governamentais as práticas genocidas antinegro. Ao
ocupar o Shopping Higienópolis, denunciamos as políticas programadas da morte negra,
exigimos o nosso direito à cidade e mandamos um recado bem direto para a elite
paulistana: “vocês estão construindo uma cidade muito perigosa. Qual a estratégia de
luta para aqueles deserdados da cidade neoliberal? Um dia a miséria cansa, cuidado!”
O que configura uma situação de genocídio?
Esta é uma pergunta imprescindível. O movimento negro tem caracterizado como
genocídio todas as políticas estatais que sistematicamente têm impactado negativamente
na qualidade de vida da população negra. Se levarmos em conta o conceito de genocídio
tal qual definido pela resolução de 9 de dezembro de 1948, da Assembleia Geral das
Nações Unidas, o termo diz respeito a todo o ato que visa destruir, matar, limitar a
reprodução física, cultural e social de um determinado grupo etnicorracial ou nacional.
A resolução vai ainda mais longe e configura como genocídio as políticas que visam
infringir condições de vida que põem o grupo em desvantagem social em relação a
outros grupos em determinada sociedade. Na discussão que se seguiu ao conceito da
ONU, o foco saiu do resultado das ações para a intencionalidade, ou seja, ao se
caracterizar um ato como genocídio haveria que se provar se o estado teve intenção de
levar a cabo tais políticas ou não. A pergunta aqui é a seguinte: do ponto de vista das
vítimas importa provar a intencionalidade de um estado genocida? O que dizer das
políticas estatais que resultam em morte generalizada de um grupo social mesmo
quando o estado não prescreve tais políticas de eliminação no seu estatuto jurídico? Na
era dos direitos humanos, seria quase impossível provar a existência do genocídio
contra determinados grupos sociais se tivermos que provar a intenção estatal. Agora,
dizer que porque não há políticas oficiais de eliminação física baseadas em raça e
etnicidade não haja praticas genocidas é outra história.
No caso do Brasil, que ações evidenciam que há um projeto genocida em curso, como o
movimento negro vem denunciando?
O genocídio contra a população negra é tão evidente que somente o cinismo cruel da
nossa elite intelectual poderia negar a sua existência. Não é apenas a violência
homicida, com vitimização juvenil negra 1900% superior à branca em estados como
Paraíba e Alagoas, que caracteriza o genocídio brasileiro. São também as más condições
de vida, as políticas de limpeza urbana com os novos desabrigados como nos casos de
Pinheirinho e a Favela do Moinho em São Paulo. Ou ainda, a hedionda ação na
chamada “Cracolândia”, para não falar do sistemático assassinato de pessoas em
situação de rua e a política de encarceramento em massa. Há um tipo de morte que não é
o resultado do processo natural de nascer, crescer e morrer. A morte negra é morte
produzida, é necropolítica. Quantas pessoas negras precisam morrer para que o
massacre seja considerado genocídio? Como fazer legível aos olhos internacionais a
economia do massacre que transforma as cidades brasileiras em campos de guerra e a
experiência negra urbana em tragédia programada? Ainda assim, esbarramos nas
dificuldades legais de levar o Estado brasileiro ao banco dos réus. É preciso que se diga,
no entanto, que essa não é uma dificuldade apenas nossa. Ainda em 1950 um grupo de
intelectuais negros estadunidenses protocolou uma petição na ONU denunciando os
Estados Unidos pelo genocídio da população negra daquele país. Você pode adivinhar
qual o resultado da petição, certo? Se a ONU é um organismo internacional em que
quem tem poder de voto e de veto são os superpoderes implicados eles mesmos na
ordem genocida, quem vai condená-los? Quem vigia os vigias?
Os autos de “resistência seguida de morte” significam “licença para matar”?
Os autos de resistência ou resistência seguida de morte são não apenas licença para
matar, mas elas também sintetizam o que eu tenho chamado de antropofagia racial
brasileira. Se no mito fundacional da nação, os índios devoraram os primeiros
colonizadores, aqui temos o inverso, esta é uma nação que devora o corpo negro. O
corpo negro, tenho dito, representa um excesso de significados – criminoso, feio,
perverso, malvado, sujo – que não lhe basta matar, é preciso negar qualquer
possibilidade de humanidade. Quando a polícia aperta o gatilho, ela está “apenas”
traduzindo os significados da subalternidade negra historicamente produzidos. A polícia
mata em conformidade com um modelo de sociedade que em sua essência é antinegra,
afinal o policial não é um extraterrestre. Ele é parte de uma sociedade inerentemente
racista. A licença para matar reitera o modelo de relações raciais em que não basta tirar
a vida. É preciso submeter o corpo negro a múltiplas mortes; morte simbólica, física,
social. Percebo isso, por exemplo, no fato de que a policia não apenas tem licença para
matar, mas o morto também é indiciado pelo Estado por resistir a prisão, o que o leitor
pode muito bem chamar de morte dupla. Explico: a polícia mata, o delegado lavra um
boletim de ocorrências baseado nos depoimentos dos policiais e o morto é caracterizado
como ‘bandido’ e indiciado. Isso nos remete, então, mais uma vez à especificidade da
condição negra. A esquerda acha que o problema da violência policial é um “defeito” da
democracia brasileira, ou seja, melhorando a democracia, depurando as instituições e
punindo os policiais haveria uma saída para o genocídio negro. O que afirmamos é
precisamente o contrário: qual o lugar do corpo negro em um regime de cidadania
racializado em que a morte negra não é exceção, mas a regra? Quais os limites de
negociação com um estado democrático de direitos inerentemente antinegro? Parece
contradição, mas não é. Direitos humanos e morte negra caminham de mãos dadas no
Brasil da democracia racial.
Faça uma consideração sobre o potencial de mobilização da juventude negra nos
cursinhos comunitários. Eles podem ser espaços de resistência ao genocídio?
Aí reside a esperança. O que em outra oportunidade o Douglas Belchior chamou de
“identidade explosiva” nasce aí na quebrada. Os cursinhos comunitários estão forjando
uma nova subjetividade negra. São jovens que se sabem excluídos da cidade neoliberal,
sabem quem são os seus algozes e se reconhecem como agentes de sua própria história.
O que me chama atenção nos núcleos da Uneafro-Brasil, por exemplo, é a criatividade
em fazer tanto com tão pouco e a perspicácia política dos seus membros. Estamos
falando de uma juventude que cresceu nos anos 90, sob a égide de uma política
neoliberal sanguinária. Encarceramento em massa, violência policial, desemprego, todos
os tipos de vulnerabilidade social que configuram o genocídio negro tiveram nos
governos do PSDB dos últimos vinte anos em São Paulo sua expressão máxima. Este
foi o contexto em que surgiram as experiências dos pré-vestibulares comunitários em
São Paulo e é essa a realidade que orienta a luta das organizações. O fato de serem essas
organizações as principais articuladoras da campanha contra o genocídio negro e pelas
ações afirmativas nas universidades estaduais paulistas mostra bem o potencial
revolucionário de uma juventude excluída, para quem não resta outra opção a não ser
resistir.
Qual o significado da decisão dos ministros do STF, que declararam constitucionais as
cotas raciais?
A decisão foi fruto da luta do movimento negro que, em todos esses anos, pautou a
questão racial mesmo com uma campanha generalizada da mídia contra as ações
afirmativas. O STF apenas confirmou o que ativistas negros têm dito ao longo dos anos:
a democracia racial é uma promessa, não uma realidade. Depois de mais de 120 anos da
abolição da escravidão, onde estão os negros na hierarquia social brasileira? Continuam
com o mesmo status subalterno do século XIX. A decisão do STF, como lembrou Aires
Britto, abre caminho para o Brasil finalmente se reencontrar consigo mesmo. Acho que
pela primeira vez uma intelectualidade branca que tem construído suas carreiras
acadêmicas negando a existência do racismo vai ter que aceitar o peso social que a
categoria raça tem na produção de desigualdades. Mas tem algo mais aqui: um desafio é
que a militância negra não se dê por satisfeita e tome o momento presente como um
novo impulso à luta pela emancipação plena. As cotas raciais são ponto de partida, não
ponto de chegada.
Como se explica a postura das universidades paulistas, que imediatamente anunciaram
que não promoverão mudanças em seus processos seletivos?
O fato das universidades estaduais paulistas USP, Unesp e Unicamp decidirem não
adotar programas de ações afirmativas não nos surpreende. Essas instituições são
disposições antinegro em sua essência. Veja o que aconteceu recentemente no campus
da Unesp Araraquara onde inscrições nas paredes associavam alunos africanos com
animais. Na USP eu mesmo tive meus encontros racializados não apenas nas tentativas
de ingresso na pós-graduação da instituição, como também quando da minha tentativa
de visita a um certo Núcleo de Estudos da Violência, agora como pesquisador visitante.
Inexplicavelmente, o professor branco se recusou a me receber. Essas experiências
cotidianas não são fatos isolados. Elas mostram como o sentimento antinegro está
enraizado na burocracia e nas praticas cotidianas que desqualificam nossa gente para o
ingresso na universidade. O agravante aqui é que a universidade publica é financiada
com o dinheiro dos impostos da coletividade. Ironicamente, são os mais pobres –
aqueles sob os quais há uma desproporcional taxação dos impostos, haja vista que o
ICMS é a fonte de recursos das estaduais paulistas – quem paga para os filhos da elite
estudar. O menino pobre do Capão Redondo paga pelo curso de Medicina do “playboy”
morador de Itaim Bibi. As universidades estaduais paulistas não irão adotar cotas raciais
porque elas representam projetos político-ideológicos muito bem definidos. Mas isso
não quer dizer que elas serão imbatíveis em seu cinismo cruel. A campanha do
movimento negro em São Paulo pelas ações afirmativas tem agora na decisão do STF
um combustível a mais. Colocar a militância na rua e deixar a USP, por exemplo, nua
perante o país, é uma meta. A USP não pode continuar sendo um instrumento perverso
de reprodução das desigualdades raciais no país. Sua comunidade acadêmica precisa e
deve ser envergonhada não apenas no país, mas também no exterior. Uma estratégia é
mapearmos todas as universidades internacionais com as quais USP, Unesp e Unicamp
possuem convenio e acionar os seus parceiros para que não celebrem acordos com as
universidades enquanto elas insistirem em investir na supremacia branca.