Entrevista ao jovem Gaspar Brogueira
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GOLEGÃ JOVEM - Quem é o Gaspar Brogueira?
GASPAR BROGUEIRA - Sou um jovem, natural da ilustre Vila da Golegã. Vila que me viu nascer,
crescer, mas também me viu partir, no já algo distante ano de 2004, rumo à Cidade de Évora, onde estou
prestes a terminar o Mestrado em Engenharia Informática.
Nos intervalos de tempo que os livros e o computador me concedem, a paixão pela vida e pela natureza,
levou-me a dedicar esse tempo à criação de aves. Estas são hoje, além de uma forma de passar tempo e
entretenimento, um motivo de orgulho, que me motiva a dedicar-lhes o meu tempo livre.
GJ - Para os jovens que não conhecem, podes dar-nos uma ideia do que é a Ornitologia?
GB - De uma forma simples e objectiva, defino a Ornitologia como sendo a Ciência das Aves. Embora a
ciência esteja conotada com o rigor e exactidão dos métodos aplicados nos estudos e na investigação, a
ornitologia está em grande parte dependente do conhecimento e dedicação de amadores. Amadores que
ao gostarem de aves na sua generalidade, ou de uma espécie em particular, como eu, se dedicam ao seu
estudo e compreensão.
GJ - Qual a diferença entre Ornitologia, Columbofilia e Birdwatching?
GB - A Ornitologia, como referi anteriormente, é a ciência das aves. A Columbofilia é uma actividade
desportiva, na qual é feita a selecção e criação de pombos-correios, com o intuito da competição. Apesar
de nunca ter experimentado, considero ser o desporto rei, para os amantes e entusiastas da criação e
selecção de aves.
O Birwatching, é uma actividade de lazer, onde um grupo de pessoas se junta para que com o auxílio de
binóculos, seguir a aventura da observação de aves em plena liberdade na natureza. É uma experiência
interessante, na qual já participei por uma vez, tentando observar aves noctívagas.
GJ - Como surgiu essa tua paixão pela Ornitologia?
GB - Surgiu principalmente por influências familiares. O meu pai, enquanto jovem foi columbófilo. Mais
tarde iniciou-se na ornitologia, enquanto criador de Canários de Cor. Posteriormente, foi a minha vez de
me iniciar no mundo das aves.
Comecei como a maioria dos criadores… com a criação de Periquitos. Entretanto, o meu pai começou a
participar em Exposições com os seus Canários e desde logo os resultados apareceram. Na altura os
Periquitos não podiam entrar em Exposições, pelo que optei por iniciar a criação de Diamantes
Mandarins, começando a participar em Exposições no ano de 2007.
GJ - Como ornitólogo, interessas-te por todo o tipo de aves ou tens preferência por algumas
espécies em particular?
GB - Interesso-me pela generalidade das aves, não faço distinção entre elas. Todas têm características
particulares, o que as torna seres completamente fascinantes.
No entanto, é natural que sinta especial interesse pelas aves que crio, os Diamantes Mandarins. Interesse
esse, que passa por conhecer as suas diversas mutações e características particulares de cada mutação;
as formas de selecção e melhoramento da sua componente genética; aperfeiçoamento em termos da
forma da ave, assim como, da sua cor. Um infinito de descobertas…
GJ - Consegues conciliar bem a tua vida profissional com este teu hobbie?
GB - O tempo necessário para este hobby é talvez o aspecto menos positivo. No meu caso, e tendo em
conta o número de aves que tenho no meu plantel, é necessário que todos os dias e sem excepção, se
despenda entre uma a duas horas, para alimentar e cuidar das aves. Em época de reprodução este
tempo quase que duplica.
Este ano tem sido particularmente difícil, visto que me encontro a terminar a minha Tese de Mestrado e
ao mesmo tempo a leccionar na Universidade de Évora, o que me ocupa praticamente todos os dias da
semana.
No entanto, embora seja um hobby para mim, tal como o é para o meu pai, é acima de tudo um jogo de
equipa, partilhado por toda a família, em que por mais pequeno que seja o contributo de cada um, este
faz a diferença, e só assim tem sido possível a obtenção de todos os resultados até agora conseguidos,
de que todos nos orgulhamos bastante.
GJ - Qual foi a última competição em que participas-te? E qual a próxima?
GB - A última exposição em que participei com as minhas aves e que encerrou a época de 2009, foi o
Campeonato do Mundo, que se realizou em Portugal, mais concretamente na cidade de Matosinhos. Foi
a primeira experiência numa exposição de tal envergadura, que levei cerca de 3 a 4 anos a preparar.
Embora não tenha atingido o principal objectivo, que seria ter uma ave medalhada, foi uma participação
de que me orgulho bastante, visto que das dez aves que levei a concurso, três obtiveram uma
classificação de 90 pontos e duas de 91 pontos, para uma classificação máxima de 100 pontos.
A próxima exposição não está totalmente definida, visto que ainda não elaborei o calendário de
exposições para a presente época. No entanto, espero participar em uma ou duas exposições, para
preparação e observação das minhas aves em ambiente de “competição”. Estas exposições irão
anteceder a quase certa participação no Campeonato Nacional, que será aqui bem perto, na cidade do
Entroncamento. Culminando novamente a época no Campeonato do Mundo, desta vez em França na
cidade de Tours.
GJ - Qual o teu maior orgulho e os teus melhores resultados em provas?
GB - Esta será apenas a quarta época de exposições, no entanto o resultado de toda a dedicação e
esforço empenhado nas minhas aves, surgiu logo ao segundo ano de exposições, em 2008, com a
consagração de Campeão Nacional por equipas de Machos Diamantes Mandarins Dorso Claro Cinzento
e Vice-Campeão Nacional por equipas de Fêmeas Diamantes Mandarins Dorso Claro Cinzento, no 64º
Campeonato Nacional de Ornitologia, realizado na cidade de Paços de Ferreira.
Outro resultado interessante, foi a obtenção do 3º lugar na classificação geral de criadores no
Campeonato da União 2009, que se realizou no Entroncamento.
Não quero com isto dizer, que todos os outros resultados já conseguidos tenham menor importância para
mim. Bem pelo contrário! Qualquer ave premiada, independentemente da exposição em que atinja tal
distinção, me enche de orgulho e satisfação.
GJ - Este ano o Campeonato Nacional de Ornitologia vai ser realizado aqui mesmo ao lado no
Entroncamento. Achas que a Golegã teria condições para acolher um evento como este?
GB - Em termos infra-estruturais claramente que teria todas as condições. No entanto, este tipo de
eventos são organizados por Clubes ligados à Ornitologia, como é o caso do Clube Ornitológico
Ribatejano, do qual sou sócio e que será um dos Clubes encarregues de organizar o 65º Campeonato
Nacional de Ornitologia, no Entroncamento.
Infelizmente não existe no concelho da Golegã nenhum Clube ou Associação com este cariz, pelo que
nos próximos tempos, não antevejo a possibilidade de atrair tais eventos para a Golegã.
GJ - Gostarias de ver uma prova de ornitologia realizada na Golegã?
GB - Sem dúvida que sim. Seria com toda a certeza o evento do ano para mim e para as minhas aves!
Estou certo de que teria bastante sucesso, não só pelas boas acessibilidades como pela possibilidade de
os visitantes poderem desfrutar de alguns dias de puro lazer.
Neste modo de passatempo, também se acaba por fazer amizades e trocas de conhecimentos com
outros criadores, que por vezes quando surge a oportunidade, visitam as minhas aves. Tanto criadores
portugueses como estrangeiros, que tenho tido o prazer de receber em minha casa, são unânimes em
considerar um dia bem passado, a visita à Vila da Golegã.
GJ - Sabendo que a Reserva Natural do Paul do Boquilobo faz parte do nosso concelho e que esta
dispõe de condições excelentes para a nidificação de diversas espécies de aves, como classificas
a importância que tem vindo a ser dada a esta área pelos nossos autarcas?
GB - Fiquei bastante agradado, quando à uns tempos tive a oportunidade de ler na conceituada revista da
National Geographic, um artigo referente à Reserva Natural do Paul do Boquilobo. O que demonstra que
a comunidade científica revela interesse no estudo de todo o ecossistema, e, por conseguinte, das aves
que habitam o Paul do Boquilobo.
Se tal interesse é despertado na comunidade científica, penso que os autarcas tudo farão para que o Paul
do Boquilobo faça jus ao nome e se mantenha uma Reserva Natural.
GJ - Na tua opinião, como poderíamos reforçar ainda mais essa aposta de modo a atrair adeptos
da ornitologia, do birdwatching e das aves, em geral, ao nosso concelho?
Antes de se atrair adeptos destes “desportos” para o nosso concelho, penso que acima de tudo o mais
importante seria despertar esse interesse nos residentes do concelho.
Penso que a divulgação do Paul do Boquilobo junto da população, seria um bom ponto de partida. Se tal
interesse for despertado nos jovens e na população em geral, decerto que começarão a haver condições
para a realização de certas actividades, e, com isto, a atracção de entusiastas da criação e observação
de aves, vindos de outros locais.
GJ - Para finalizar, o que achas que poderia ser feito na Golegã e Azinhaga para incentivar ainda
mais jovens a interessarem se pelo estudo das aves?
Espero não ser atraiçoado pela minha memória, mas penso que no decurso dos doze anos que estudei
na Golegã, nunca me foi proporcionada uma visita à Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Poderia ser
um bom principio…
No que depender de mim, estarei totalmente disponível para mostrar as minhas aves e trocar ideias com
quem pretender iniciar-se neste hobbie. Tenho um website acessível
http://www.AvesGaspar.com.sapo.pt onde disponibilizo regularmente fotografias, vídeos e informações
sobre as minhas aves, sendo não só uma forma de divulgar o meu trabalho com as aves, mas também
uma forma de quem pretender iniciar a criação de aves, ter alguma motivação extra.
GJ - A título pessoal, teríamos todo o gosto em saber a tua opinião sobre o projecto Golegã
Jovem. Em que aspectos achas que poderemos melhorar e que assuntos gostarias de ver tratados
aqui neste espaço?
É bom verificar como a utilização das tecnologias de informação, proporcionam a criação de espaços e
comunidades de discussão e partilha de informações, cada vez mais úteis na sociedade actual.
Mas acima de tudo, deve-se felicitar este tipo de movimentos de jovens, que ao se unirem por um
objectivo comum, melhoram as condições de todos.