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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Centro de Letras e Artes – CLA Faculdade de Letras Departamento de Lingüística e Filologia Programa de Estudos sobre o Uso da Língua - PEUL Banco de Dados do PEUL/UFRJ AMOSTRA CENSO/2000 Falante: 12 And Sexo: feminino Idade: 15-17 1 Escolaridade: Fundamental 2 incompleto Bairro: Inhaúma Profissão: estudante Ano de Entrevista: – E: Bom Andressa, você me disse que você não é carioca. Você é paulista na realidade, né? E você veio pra cá muito cedo, né? F: Vim cum ano e oito meses. Eu num lembro muito de assim muita coisa, eu lembro que eu morava ali na Malacacheta, morei com a minha vó, aí meu pa (hes) meus pais se separaram, morei com a minha vó, morei com a minha vó até meus nove anos, depois minha mãe alugô uma casa aqui dotru lado, aí <nó...>eu morei lá até os quinze anos aí vim pra cá, tô aqui acho que há dois <mese...> nem dois meses, tá? Mas sempre morei em Inhaúma sim. [Vim]...vim pro Rio novinha. E: Entendi. Mas lá na tua outra casa que você morava é do outro lado de Inhaúma... F: É. Perto do cemitério. E: É em frente ao cemitério, né? F: É. Na rua Maria Diolinda ali. E: Você morô ali quanto tempo? F: Olha, <xô...> vê. Nove...Morei até os dezessete anos. Dos nove aos dezessete anos. (hes) Morei bastante tempo. E: Como é que era ali?

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJCentro de Letras e Artes – CLAFaculdade de LetrasDepartamento de Lingüística e FilologiaPrograma de Estudos sobre o Uso da Língua - PEULBanco de Dados do PEUL/UFRJAMOSTRA CENSO/2000

Falante: 12 AndSexo: femininoIdade: 15-171

Escolaridade: Fundamental 2 incompletoBairro: InhaúmaProfissão: estudanteAno de Entrevista: –

E: Bom Andressa, você me disse que você não é carioca. Você é paulista na realidade, né? E você veio pra cá muito cedo, né?F: Vim cum ano e oito meses. Eu num lembro muito de assim muita coisa, eu lembro que eu morava ali na Malacacheta, morei com a minha vó, aí meu pa (hes) meus pais se separaram, morei com a minha vó, morei com a minha vó até meus nove anos, depois minha mãe alugô uma casa aqui dotru lado, aí <nó...>eu morei lá até os quinze anos aí vim pra cá, tô aqui acho que há dois <mese...> nem dois meses, tá? Mas sempre morei em Inhaúma sim. [Vim]...vim pro Rio novinha.E: Entendi. Mas lá na tua outra casa que você morava é do outro lado de Inhaúma...F: É. Perto do cemitério.E: É em frente ao cemitério, né?F: É. Na rua Maria Diolinda ali.E: Você morô ali quanto tempo?F: Olha, <xô...> vê. Nove...Morei até os dezessete anos. Dos nove aos dezessete anos. (hes) Morei bastante tempo.E: Como é que era ali?F: Ah, [era bom]... era bom só que as pessoas são muito fofoqueira. Falavam muito da vida dos ôtru. (inint) Aí era bom só que eu num gostava dali não. Muita favelage. Muita gente assim,(hes) ah [tudo]...tudo era motivo de falação. TUDO. Tudo era motivo, tudo que você fazia era alguma coisa <fa...> falavam... Ah, mas (inint) aqui tá melhó do que lá. Morei bastante <an...> mas eu quase num parava ali tamém.E: Mas você <conhec...> fez muitas amizades lá...F: Fiz, bastante pô. Eu num conheço ninguém aqui. As minhas amizades todas são de lá dotru lado.TODAS. Eu num páro aqui.E: [E você]... e você estudava ali por pertinho ou não?F: Eu estudava em Del Castilho. Lá onde minha vó morava. Aonde minha vó mora! Estudava na: Eurico Vilela. Sempre estudei ali.E: É bom? ______________________________________________________________________

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Nota1: Idade indefinida pelo próprio falante (vide p.1)

F: [Era]...[era]...era bom, era boa a escola.E: Andressa, cê falô que quando cê era pequenininha você tocô numa <band...>, começô a tocá numa banda...F: É. Eu ia cum a minha tia Gorete numa banda aí. Nem eu sei <x...> o que é direito até hoje. Aí, eu fui cum nove anos, aí comecei (inint) aí fiquei dançano lá, aí eu fui creceno depois eu comecei a entrá, aí <co...>...comecei tocano surdo, aí fiquei tocando surdo durante acho que uns três meses, depois eu fui tocá lira, (est) um instrumento; depois eu toquei prato, fiquei na banda acho que dois <mese...> dois anos e pôco.E: Como é que é lira?F: Ah, é um instrumento, cum uma porção de tecla. Aí vem “dó”, “ré”... uma porção de tecla. Explicá assim é difícil! Você nunca viu não?E: Não. Nunca vi. Interessante! Eu já ouvi falá, mas assim, eu nunca vi. Ah, desconheço (hes) o aparelho. E assim você gostava [da]...[da]...?F: <Gostav...> gostava. O instrumento que eu mais gostava assim de tocá era lira. Gostava, só que é muito trabalho, muito cansativo, assim, ás vezes tinha uma festa assim né, aí num podia saí que todo o final de semana você tinha que tá ali de sexta a domingo, chegava em casa domingo à noite, na segunda feira já tinha escola, aí eu num saia pra lugar nenhum. (hes) Ah era <muit...> era bom e ao mesmo tempo ruim. Agora não. Agora eu saí vai fazê uns três anos já que eu saí. [Aí]...aí minha prima tamém entrô... minha tia tá até hoje [minha tia]. Maió tempão.E: E a tua tia toca o quê?F: Minha tia... ela tocava, na época ela tocava lira tamém, só que ela teve filho aí parô de tocá (inint). Meu tio, marido dela, é maestro da banda (hes). Tão a maió tempão já, acho que uns vinte e bráu. (interv). Viajava muito, <ente...> viajava [muito]... muito, todo final de semana era uma viaje. Já viajei pra Vassora, ah pra <muit...> (inint) eu nem lembro direito, Minas, São Paulo... Todo final de semana a gente ia assim pra um evento. (est) Conheci é...Cambuquira, sei lá , esqueci o nome, um Parque das Águas, que tinha água mineral, água <ferruginos...>, i conheci aquilo ali <tud...>, bom pra caramba, interessante pra caramba.E: Mas ia só você?F: Ia. (hes) Não, ia eu, minha tia, todo mundo da banda. A minha prima tamém ia. E: E vocês ficavam onde?F: A gente ficava em colégios, ás vezes a gente acampava, assim. Era interessante pra caramba.<Ente...> ia muito assim pra colégio, direto pá colégio, aí ficava final de semana... Era bom. O bom disso tudo era as viaje, que você conhece lugar, né? (est) Lugar diferente; agora o ruim é que você todo final de semana você tinha que tá ali...E: Mas eram pessoas lá [da]...da rua mesmo onde você morava?F: Não. Só eu dali mesmo. Olha, era pessoas de Nova Iguaçu, pessoa ali de...Vila de Cava, de Niterói, <tinh...> muita gente assim, sabe, de fora... umas de Belford Roxo. Daqui de Inhaúma era só eu e minha prima. Só. Assim, sabe? Ninguém da minha rua, ninguém, ninguém...E: É bom que você conheceu bastante gente, né?F: É, conheci gente pra caramba. Até hoje, assim (inint) eu entro em contato às vezes. Era bonzão, só que o ruim é que me prendia muito. Só isso!E: Andressa, cê falô que o pessoal lá da sua rua você num se dava muito bem porque era muita fofoca... Já teve alguma briga, assim, entre vizinhos?

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F: Eu pelo menos eu nunca fui assim de BRIGA. Eu sou mais de dá as costas e (hes) <goço...> de ficá brigano né muito comigo não, mas já. Pô, já me tiraram do sério naquela rua, negócio de fofoca era fogo! Uma vez eu cheguei do colégio, aí inventaram pra minha mãe que eu tava <nim...> morro, num morro cum num sei quem. Aí eu fui atrás dessa pessoa, fui lá em cima, busquei a (inint) é até uma senhora já, dona Lêda tem sete filhos, chamei ela, botei na frente da minha mãe, depois outra fofoca que eu tava saindo cum o filho dela que é casado...I muita fofoca, minha mãe veio falá no meu ouvido. Sabe como é mãe, né? Aí fica falano: “Meu Deus, sei quê garota, você tá me botano poblema, qui num sei quê!” Aí eu tamém botei de frente todo mundo...Ah, eles me tiravam do sério! Sempre assim era uma fofoquinha que surgia. Às veze até procurava num ficá muito tempo ali cum aquela pessoa conversano, que era muito (inint). Agora aqui, até agora num (inint) ouvi nada cum meu nome não!E: E você tinha namorado lá?F: Lá dotru lado...não, meu namorado sempre foi de longe. O meu primero namorado assim, morava ali, mas ali na minha avó; ali em Del Castilho. Tinha ali em Inhaúma eu ficava cum uns garoto... (riso e) paquera assim de vez em quando... Só que namorado mesmo, eu só tive assim sério eu só tive dois. Só até hoje, SÓ DOIS! Que foi, assim, os que mais duraram... Agora, namorá por enquanto eu num quero não. Agora não.E: Entendi. E, Andressa assim... Você, diariamente, você falô que num tá estudando, né agora? Aí quê que você faz assim, aqui, nesse (inint) que você se mudou pra aqui tem pouco tempo, num conhece muita gente.F: Ó, eu fico em casa o dia inteiro. Ai que saco! (riso e) O dia inteiro ficá em casa. Aí faço as coisas, aí chega assim à noite minha colega me chama, a gente sempre vai lá pra onde minha vó morava porque eu não tenho... num conheço ninguém aqui. Aí eu me despenco daqui pra ir lá pra Del Castilho pra ficá conversando.E: Todo o dia...?F: Todo o dia. Aí fico lá em Del Castilho conversando... depois venho pra casa, aí à noite às vezes eu encontro um amigo meu que mora ali, o Graciliano, <enti...> fica conversando...Aí venho pra casa, mas é chatão quando ocê num conhece alguém assim de perto, né? Eu conheço umas garota daqui da Fazenda só que eu num gosto muito de ficá ali dentro não, que agora tá perigoso mas às veze eu vô.E: Entendi. E assim, e a sua mãe, quê que ela fala, reclama muito?F: Reclama do horário que eu chego. (inint) Fala pra caramba. “Olha você tá chegando tarde...que num sei quê, e qué acordá tarde...”. Fica falando no meu ouvido até... (riso e) Tem que vê! Ela fala pra caramba, mas agora ela [num]...num fala muito não, porque eu, às vezes, eu <cheg...> eu tô começando a chegá cedo pra final de semana chegá tarde, né? Aí... durante a semana eu chego cedo em casa, <mén...> faço tudo... aí, (hes) no final de semana eu ficá até tarde, saio sem preocupação de voltá pra casa.E: É. E assim, você falô que faz tudo aqui na sua casa. Você que toma conta da casa?F: Hum, hum. Eu só num faço assim... comida, que não é ... [não]... não consigo! Olha, pra mim fazê um arroz tem que vê como meu arroz sai (riso f).E: (riso e ) Por quê?F: Papo. Eu num consigo fazê! Não consigo fazê arroz de jeito nenhum. Minha mãe fala “Quero vê quando você casá!” (inint) E: Você... Fica empapado o arroz?F: Fica. Ó...E: Mas, como é que cê faz?

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F: Eu faço direito. Alho, é...(hes)< como é que se...> alho, sal, olho. Eu faço direitinho. Boto água, só que eu acho que eu, quando eu experimento aí vejo que tá duro, toda hora eu fico botano água, (riso f) toda hora! Aí eu boto muita água, aí sempre sai errado. Aí eu falo: “Ah, eu num vô mais fazê arroz não!”. Eu tempero carne pra minha mãe, outra coisa que também num... uma vez eu fui fazê feijão, a primeira vez que eu fui fazê feijão, a panela expludiu (riso f) ficou presa no teto. A cozinha toda suja de feijão. (inint) Aí nunca mais tamém, né? Agora tamém, num faço feijão, num faço arroz, num limpo geladeira porque uma vez tamém furei o congelador da minha avó, (hes) com a faca. Sou péssima na cozinha. Péssima! Aí [tempero]...tempero <ca...> quando minha mãe deixa escrito: “Tempera num sei quê pra mim!”.E: Aí como é que sê faz?F: Ah, eu tempero. <fa...> Com alho, às vezes eu (hes), ah, alho, sal... Ponho os temperos, às vezes, tem Sazon ali, eu taco no <negó...>, às vezes fica salgadão, minha mãe fala pra caramba. Eu sou péssima na cozinha! Agora, lavá roupa, arrumá a casa eu faço pra ela. Agora, cozinha num é comigo! Ela chega, ainda tem que fazê janta...Sai, tem que deixá almoço pronto pra mim...(hes) Não <consig...> (risos). A única coisa que eu frito é ovo, bife, assim, porque arroz, feijão, não é comigo! Não consigo fazê de jeito nenhum. O meu feijão, pensei que tava né, bom... fui lá; eu fui tentá abri a panela antes do tempo...(hes) Perigoso pra caramba! Aí a panela fez aquele "Txibum!" “Caraca pra mim achá a tampa?” Saí correndo da cozinha, aí fiquei lá na sala, né? Até <pa...> abaixá né. Aí desliguei o bujão, nem desliguei o fogão, desliguei o bujão; quando eu vô pá cozinha, tudo sujo de feijão! Eu, caraca, e pra mim limpá aquilo antes da minha mãe chegá... Ainda bem que [a]...<tint...> a parede era tinta óleo aí passei o pano rapidinho, geladeira tudo sujo, chão, tapete... Ai, tirei aquilo rapidinho...panela, “e pra mim tirá?” Ficô presa, porque lá era forro, né? Num era assim não, era forro. Fêr maió buracão no forro, aí eu deixei, quando minha mãe chegô ela tirô...(hes) a tampa.E: <Caram...>F: Ficô preso (falando rindo)!E: E aqui na sua casa... Só você, sua mãe,...F: (est) E, de vez em quando, meu padrasto.E: Hum, hum. E como é que é a relação, assim, entre vocês três? (risos)F: Olha,(riso f) eu falo cum ele. É uma pessoa manera, só que sei lá, num me dou bem não! É difícil assim... Ele é implicante pra caramba, sabe? Ele é velho já, implicante. I... ele enche o meu saco! [ENCHE],... ENCHE o meu saco! Ontem eu cheguei né... “Eu cheguei aqui foi que horas?” Cheguei dez horas aqui, porque eu falei: “Eu só vô chegá em casa agora quando o Renato tivé durmindo!” (hes) Aí eu cheguei ele tava vendo o jogo. É eu chegá, ele já começa a atentá: “Ou, lava a mão pra num sei quê!” É CHATO, muito chato! Aí eu fui tomá banho, né? Quano eu voltei, aí eu tava arrumano aqui, pá mim durmi... “Num bota isso aí não, que num sei quê!” Implicante. Eu fico: “Ó mãe, eu vô dá um fora no Renato, que num sei quê! Bota ele pra lá pro quarto”. Aí a gente ontem discutindo, aí eu: “Ó, i, [ó]...ó num enche o meu saco não!(riso e) Ele é muito chato. Ele, de vez de vê minha mãe só e ele, ele fica quereno vê o meu lado. Quereno vê a hora. Eu: “Ô, ô, meu pai tá em São Paulo! Eu falo logo”. Meu pai tá lá em São Paulo.E: Hum, hum. E, Andressa, assim, como é que é a relação deles dois? Eles [se] se dão <be...>?F: Se dão bem pra caramba!(hes) Minha mãe às vezes implica um pouco com ele...minha mãe cum aquele gênio dela, eu falo que eu puxei ela, ela fala que eu tenho

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um gênio do cão! Falei: “Eu te puxei! Aí ...ela implica às vezes com ele, mas se dão bem pra caramba.E: Entendi. O mesmo já num acontece com a tua irmã, né?F: Ah...(hes) A minha irmã e o meu cunhado...Num se dão... Ó, eles se dão bem sem tê a cachaça e a cerveja perto. É uma beleza! Uma maravilha! Mas ele bebeu um pouco, ele qué agridir, qué..."iii", qué fazê tudo! Ó, ele, ah uma vez ele queria entrá cum um caminhào dentro da minha casa, casa da minha irmã, porque minha irmã tava querendo se separá dele. Tainá, eu acho que tinha, acho que a Tainá tinha quatro meses..., a filha dela. Tinha quatro meses. Eles brigaram na rua. (inint) aí veio ele, minha mãe e a Andréia discutindo pela rua. Acho que foi na minha avó. Aí ele chegou: “Ah, <vam...> <bora...>pra Niterói, e bêbado, sem condições, né? E querendo ir de caminhão, que ele tava de caminhão, caminhão GRANDÃO no meio da rua. A rua era pequena. GRANDÃO no meio da rua. E ele querendo ir de caminhão, e se ela num for eu vô entrá na tua casa cum o caminhão, que num sei quê... [E]...e [maió]..."maió pega pra capá"! Eu tive que ligá pro meu irmão pro meu irmão vim de lá da Ilha pra podê botá jeito nele porque a gente num tava conseguindo. Os vizinho vendo aquilo tudo. Maió vergonha, né? Eu... i, comecei a gritá com ele: “Quer fazer vergonha, vai fazê lá onde vocês moram!” (inint) Fez minha mãe passá maió vergonha, minha mãe se aborreceu... Ele querendo batê na minha irmã, aí meu irmão chegô tamém...pô, aquele ali tem um gênio... pô, [eu] ...eu num me mêto com ele nem... Ele já chegô REVOLTADO, aí deu um empurrão nele, ele foi <bem...> aí a Andréia acabou indo embora, meu irmão ficô. Aí minha irmã ficô de ir pra São Paulo morá cum meu pai, aí num sei quê que houve os dois voltaram, mas não se dão bem de jeito nenhum. O que ele apronta, pô... Ele apronta e faz minha mãe passá cada vergonha cum a família! Porque ele bebe e num tem, assim, modos de brincá cum a pessoa. Acho que tem que bebê a cerveja ali, o conteúdo, e não a mente, né! Então ele bebe e fica fazendo merda, ele passa a mão na perna da minha avó. E ela já é senhora, entendeu? Ela num gosta. Meus tio vendo aquilo já qué parti pra agressividade. (est) Ah, uma vez, num sei quê que eles vieram fazê um churrasco aqui na minha tia Ducarmo, a gente num morava aqui ainda não! Morava lá do outro lado, aí eu tinha acabado de chegá, que eu tava vendo um negócio pra mim, aí eu tinha acabado de chegar. Só sei que minha irmã me ligou desesperada: “Ah, o André chegou aí?” Eu falei: “Não”. Que o André discutiu cum meu tio Sérgio... Sérgio quereno batê no André , que num sei quê... "iii". Eu, ainda bem, (hes) por isso que eu evito de I pa festa de família. Eu evito, você não me vê. Não me vê em festa nenhuma de família. Antigamente eu ia muito. É chato porque sempre acontece uma coisa, (hes) você vai pra você se divertí aí acontece uma coisa de errado. É triste, cara!E: E você pretende, assim, quando você tiver mais independente morá sozinha... ou pretende casá...?F: Não. Casá não. Casá ainda num tá (hes)... [num]...num...não. Eu pretendo, assim, <molh...> morá sozinha. Sem ninguém pra me pertubá, fazê as coisa a hora que eu quiser...I: Como é que você vai comê arroz e feijão? (riso e)F: Hum? (risos)I: Como é que cê vai comê?F: Ah, eu me viro, faço miojo. Vai sê miojo todo dia. Ah, aí a gente aprende. Lá no livrinho a gente aprende. Eu pretendo morá sozinha, mas sozinha; sem mãe, sem pai, sem marido, sem FILHO.E: Aqui mesmo, no Rio?

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F: É. Num quero saí daqui não! Pô, em São Paulo é muito ruim, se eu fô pra <São...>. Ah, Deus que me perdoe, gente! Ô lugazinho ruim! Eu saia lá cum a minha prima que ela tem a mesma faxa de idade que eu, mas, caraca, é totalmente diferente sei lá né... do ambiente daqui. As pessoas são diferentes, você num intende muito o quê eles falam, e eu fui lá, foi motivo de risada. Eu falava um "a" (hes) I, alá como ela fala! Começavam a ri, eu ficava (risos) REVOLTADA!E: Mas você acha que é muito diferente?F: É, DIFERENTÃO!!! I, eles falam...é "é da hora", "num sei quê que é da hora". Eu falava: I, manero! Ele: “Ah, ah, ah..., que num sei quê”. Ficavam rino. Um negocinho que eu falava eles ficavam rino (riso e). I começava a (hes) falava uns negocinho eu não intendia, ficava lá longe, né? Eles conversano lá, eu: “hã, hã, é”. Nem sabia o quê que era. (risos) Eu: “[É]... é isso aí mesmo!” Aí tinha que vê! Maió bololô! Eles ficavam rindo o tempo todo de mim. Tudo que eu falava era motivo de <ris...>. Eu ficava revoltada. Ás vezes eu ficava quietinha, num falava nada. (risos) É!E: Entendi. Mas assim, você falô que num queria <ma...> morá em São paulo, (inint) Se você fosse rica... ganhasse na loteria, quê que você faria?F: Ah, eu tenho um sonho, assim, de morá na Bahia. Gente eu acho lindo! Eu já fui lá com a banda. Acho LINDO aquele lugar, muito lindo, né? Ah, morá lá. Num tem outra coisa melhó. Homi pá caramba (risos).E: Então se... (est)F: Se eu ganhasse num dia é na Bahia <que...> (hes), ou então aqui mesmo. No Rio mesmo.E: Entendi. (inint) Você num pensa em morá fora...?F: [Não]... não.E: E assim, mas tá, se você ganhasse na loteria, mas quais são os seus planos pro futuro? Você tem, assim, planos pro futuro?F: Ah, sei lá. (riso e) Ái, lá bem longe, bem longe mesmo...(est) É tê um filho, tê uma família assim, tendeu? Eu só quero tê um filho e homi, num quero tê mulhé não! E: Por quê?F: Ah, sei lá. Acho que mulhé dá muito mais trabalho, né? Eu vejo o que minha mãe passa comigo (risos). É, homi não. Homi, né? Homi é homi, você num precisa se procupá, agora mulhé não, você tem que tê aquilo: “Não, aconteceu isso comigo, num vai acontecê cum a minha filha. Num sei quê”. Minha mãe, minha mãe fala coisa pra caramba: “Não, ó, eu já passei por isso. Eu sei quê que é isso. “Às vezes, eu vô assim em frente aí ela vai: “Viu?” Dô de cara na porta! O uma <ve...> eu namorava um garoto há dois anos aí eu tinha uma amiga MESMO, colega mesmo minha, só que eu num levava, nunca, maldade nela, sabe? Na minha cabeça num se passava maldade nenhuma por ela. Eu terminei cum ele num dia no dia ela tava namorando ele. Aí minha mãe sempre falando: "Andressa, num quero você cum a Érica."Sempre ela me avisando, sempre eu: “I, mãe... A garota é manera, num sei quê...” "Num quero ela dentro da minha casa!" “Eu trazia contra a vontade da minha mãe, tendeu? (inint) No outro dia ela me liga: "Andressa, cê num sabe que <acont...>" (hes) ainda me chama de Dessa! “Ah, me matô!(risos)” "Dessa, tenho que te contá um negóço!" Eu: “Fala Érica”. “Ah, eu tô bem namorando o Sérgio”. “É!? Manero!Vai lá pó” (inint), mas cheia de raiva, sabe? Doida pá agarrá no pescocinho dela...(risos), e no outro dia ela ainda veio na minha casa. “Aí, vamo lá no Sérgio comigo!?” Eu: “Tchau. Vai!” Eu: “Tchau”. Você ainda num entendeu? Vai. Aí eu tive que discuti um poquinho cum ela. Falei ah, terrível ela, terrível. Aí agora há pôco tempo, acho que num durô nem três meses o namoro

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deles! Ela terminô cum ele aí já tá namorando um garoto daqui de baixo. Terrível! Aí, ah Andressa já terminei cum o Sérgio, agora a gente pode voltá a sê amiga de novo. (riso f) Dá um a raiva, num dá? Eu olho assim pra Érica, (hes) ainda me chama de Dêssa! Eu fico toda hora: “ANDRESSA, ANDRESSA... (riso e) "Ah, mas <Dêss...>". ANDRESSA. Eu num gosto de Dêssa (hes), eu num gosto, eu fico assim, num gosto, ODEIO que me chame de Dêssa! “Ah, mas Dêssa é melhó...” ANDRESSA! (hes) Num é? Pessoa falsa. Ah, não!E: É mesmo!F: ODEIO!E: É muito chato!F: Foi quando? Ela teve aqui domingo, né? Eu ADORO o filho dela. AMO o filho dela, sabe? Eu adora criança, aí ela veio trazê o filho dela pra mim vê. Hum... entrei cum o filho dela, minha mãe: “Cadê ela?” (inint) “Mãe, mãe; ela tá lá em baixo. “Se você troussé ela aqui eu vô fazê ela passá vergonha, hein!? Vô fazê você passá vergonha perto dela. Vai embora! (riso f) Leva o filho dela daqui antes que ela venha!” Eu: “Mãe, cruz credo. É uma criança, né?” Minha mãe falô cum a criança aí eu fui embora logo antes que ela fizesse alguma inguinorância que ela tava aqui no portão. Falei que ela tava lá em baixo! “Ah, viu ele?” Eu: Viu Érica. Vamo <bora...>. Aí levei ela lá no ponto, mas também num gosto muito de (hes) Eu falei: “O que eu podé fazê pra atrasá ela eu atraso! (risos) Ah, eu falo: “Aqui se faz, aqui se paga! Sou amiga, né? Tô levando ela muito ma <mora...> tô levando ela até BEM demais! Tô tratano ela bem demais! Agora, tamém ela num perde por esperá o que vem, né? Eu falo (hes) aí ela fala: "Ah, Andressa! Num sei porquê foi acontecê isso cum a gente, senão nossa amizade era mais forte, num sei quê...” (hes) Hum, já ela tem...E: O quê?F: A nossa amizade era mais forte. A garota que tem vinte e um anos, tem dois filhos, num tem NADA na cabeça! NADA! NADA mesmo! Ela tem um filho de... [dois anos]... de três anos que é o Taigon, e o Douglas que tem um ano e cinco meses. Então ela [num]... num tem nada (hes), qué o quê... namorá esses garotinho novo. Eu falo: “Érica, você pensa que você tem dezoito anos, dezessete? Você tem que procurá um homem (hes) ah, né? <Ve...> ali o seu lado, dos seus filho, que goste de você. Vocês fica cum esses garoto novinho num querem sabê de nada não! Hoje em dia num qué sabê... num qué sabê de mulhé cum filho, vai se prendê? Tem uns até que, né, dá pra levá, agora tem otros que é (inint).Ah, num sei quê”. Eu falei: “Agora, quero é que ela se...” Ela pediu pra botá o Graciliano... Ele é um galinha, sabe? Garoto daqui. Você conhece o Graciliano?E: Conheço.F: Ele é um GALINHA!E: Só conheço de vista também!F: Cara, ele é TERRÍVEL! Ele é METIDO que num sei quê! Só converso com ele aqui, né? Ele é manero. Aí eu: “Ah, eu vô botá logo o Graciliano na fita dela. Pra ferrá ela, né?” Fazê o quê ele tem que fazê e dá um chute na bunda dela, né? Ah, eu que (hes) aí eu: "Iii..." Aí o Gracilliano bota um...I: Quem é Graciliano, Renata?E: Ah, é [um]... um minino escurinho que mora aqui nessa rua (hes) [nessa]... nessa casa grandona aqui da Castanhal (hes) Um alto, que a casa é toda colorida!F: Parece carnaval! Ai, gente!E: É.

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I: Eu sei qual é a casa mas num sei quem é não.E: É um escurinho. A senhora sabe quem é sim! Num tá lembrando. F: Aí ele: "Ah, Andressa bota na minha fita aí, num sei quê!" Eu: “Claro!!! Toda hora!”(riso f) Aí botei aí ela (hes), eles tão até hoje, né? Aí ele tem uma namorada. Namorada dele mesmo, sabe? Eu conheço a namorada dele e tudo. Aí ele falô assim: "Ó Andressa, eu vô ligá pá Érica pá Érica só vim final de semana, e só no final de semana minha namorada num vim." Eu: “Isso. Fala que a tua namorada terminô contigo e tudo! Eu até te ajudo! “ELE: "I, você é amiga pra caramba!" Mal ele sabe que eu quero vê a (inint) do dela, né? (risos) Aí ele falando... (hes) Ontem a namorada dele tava aí, né? A gente tava conversano... ElE: "Ó, num conta nada pá Érica não, tá!?” Eu: “Não, Graciliano. Você pode passá cum MIL garotas perto de mim, eu não vô contá pra Érica. Não vô. Não conto! Se fosse antigamente... se ele num fizesse... Não Érica, esse aí é errado, num sái cum ele não! Dava até uns conselhos, (inint) Ela me liga “I, Érica, o Graciliano tá se comportando BEM, só tá falano em você...” Eu sô terrível! Ó...(hes) eu...(hes) ah...(hes)!E: Num pisa no calo não...F: Eu sô vingativa pra caramba. Sô. Eu sô assim: Eu num brigo, se você fez uma coisa comigo eu num brigo cum você, eu num vô quere (hes), sabe? Amanhã ô depois eu sei que você vai precisá de mim, eu vô te ajudá , se eu podé te ajudá eu vô te ajudá... Hoje, se ela chegá aqui: "Ó, Andressa me empresta um dinhero pra mim comprá num sei quê pro meu filho?" Eu empresto, Mas eu sei ali como fazê pra ela passá <po...> pelo que eu passei ou até pior. Eu...ah (hes) eu planejo tudinho. (riso e) [Eu]...eu quando ela tava namorando o meu ex-namorado eu: "Quando ela terminá cum ele eu vô fazê tudo (inint)" Eu falando pra mim sozinha, né?” E, eu tramo tudinho. Sou terrível Ninguém dá nada por mim mas eu sô terrível! A [minha irmã]... minha irmã já não, minha irmã é sonsa! (risos) Eu sô. Minha mãe fala: "Você tem um gênio do cão!” Eu: Não, meu signo é gêmeos. Tenho duas caras! (risos) Eu falo. Eu sô. <Quan...> eu sô assim: sô amiga eu sô amiga, entendeu? Se você tá me levando bem eu, pô, te trato bem pra caramba. Agora, num faz nada comigo não! Caraca! Se pelo menos ela esperasse uma semana, né? Agora, no otro dia já (hes) eu, caraca! E ainda hoje tem coragem de me ligá. Todo dia ela me ligava. No aniversário dele né, em fevereiro, aí ela me ligô: "Ah, o Sérgio qué falá cum você!" Eu desliguei na cara dele! Eles me ligaram de novo aí eu: "Ah, caiu a ligação. Parabéns, Sérgio!" ELE: "Pô, vem no meu anivesário, Érica vai fazê um bolinho aqui pá gente, num sei quê, que num sei quê lá." Quele ódio <subind...> (hes), eu acho que se eu tivesse perto deles dois, eu acho que o quê eu tivesse na mesa ia voar em cima dela!E: É mole? I: Mas, você chegô a vê-los juntos, alguma <cois...>?F: Não, porque eu não fui em Niterói. Não fui na casa da minha irmã. É. Não fui!E: Mas <voc...>...vocês ainda saem juntas?F: Olha, eu saí pela primera vez depois que ela (hes), assim, terminô cum ele foi sábado agora; que eu ia sozinha prum pagode lá na Penha , que eu marquei com umas colega minha lá. Que eu sô assim, eu sô mais saí sozinha do que mal acompanhada. Aí eu tava já arrumada, tinha descido, aí eu parei ali na minha tia Ducarmo pra pegá o dinhero cum a minha mãe, quando eu tô no ponto pra pegá o ônibus ela vem: "Ah, vai pra onde Dessa? Que num sei quê!" Eu: "Aí, vou pra um pagode lá na Penha." Ela: "Ai, posso i ?" Eu: "Ah, vomo né. <Vom...> Tamém só isso. Tamém ela lá, no pagode lá, eu apresentei ela às garota e eu aqui no meu canto. Num quis sabê, num quis fala pra ela

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quem era, quem num era, entendeu? Eu acho o seguinte: Se eu faço isso cum você, jamais eu vô querê, né? "Ah, vem cá Renatinha..., vomo ali..."- Claro que não!!! Você tá veno que você vai me levá na falsidade, você gostava do garoto, né? Sabia de tudo sobre mim e ele. Via (inint) eu chorá, até chorá, via eu chorá, via eu fazê coisas i... Ah não, depois ainda (hes) [Não]...[não]...[não]...não, aí ela <fic...> foi a primera vez (hes) tamém que eu sai cum ela. Tamém num sai mais não!E: Geralmente, você sai cum quem?F: Olha, eu marco muito cum as garota de lá de Del Castilho. Uma garota que vem, veio aqui ontem, ela. Ela é difícil porque ela é casada! Ela...saio muito cum a minha prima mesma, a Renata. Saio cum ela direto; Elaine, uma colega minha, lá de São João, ela vem pra cá às vezes, dorme aqui. A Tentem, a prima do meu ex-namorado dorme aqui tamém, lá de Niterói, vem às vezes. Então final de semana, cada um final de semana elas me ligam: “Ah, posso ir pra aí?” Eu: “Vem, pô!” Agora, quando elas num tão aqui, eu marco muito cum a minhas colega de Madurera. Direto a gente sai, assim, vô pra a Tem Tudo, vô pro Feijão, Bilisco...E: É legal?F: É...Bom pra caramba!I: Você dança?F: Ã? <Danç...>, eu gosto mais, assim, de ficá bebeno. Ah, me amarro em... fico no meu cantinho <beben...>I: Gosta de cerveja?F: É. Adoro! Uma vez...foi quando?... Eu <viaje...> Ia viajá pa Petrópolis no <fina...> nesse feriado agora, né? quinta-fera. Fui pum pagode na Penha cum a minha colega, sexta-fera eu tinha que tá oito hora da manhã lá no... lá em Del Castilho, que era excursão, minha mãe tinha pagado minha passage e tudo. Menina, eu tomei um porre de vinho (hes) na quinta-fera! Mas um porre de vinho... Minha colega: "Dorme aqui em Del castilho que [daqui]... daqui mermo a gente já acorda, né, que a mãe dela que tava reunino, já tá na...(hes) Não aguentei não! Caraca, quem disse que eu conseguia saí (hes) no outro dia? Sabe o que eu fiz? Cheguei seis hora da manhã do pagode, né? Fui lá na casa dela, peguei minhas bolsa, peguei um táxi, vim aqui <para...> <oit...> sete e meia da manhã eu gritano a minha mãe. (inint) Eu: "Ô, mãe!" Bebona! (riso f) Aí minha mãe: "Que é isso garota, tu num ia viajá? Eu: "Ah, num aguentei não, tô bebeona!" (risos) Aí ela num falô nada não, no dia (hes) nem tomá banho eu tomei. Sabe o que eu fiz? Joguei minha bolsa aqui, a mala aqui, deitei, cai aí no tapete, fui acordá duas hora da tarde do outo dia... cum a minha cabeça como?(O Telefone celular toca)F: Alô. Oi. Fala. Olha só, me liga daqui a cinco minutinhos! Tô fazendo um negócio aqui. Um negócio aqui! Tá Rogério, depois eu te falo, um negócio aqui. Tá. <De...> Me liga daqui a cinco minutos! Tá? Tchau. (hes) É... que eu tava falano?E: Ah, das suas saídas!F: Aí eu cheguei, aí deitei, duas hora da manhã minha mãe: "Tá na hora! Que num sei quê!" Puta da vida, né? E eu levantei cum a minha cabeça rodando...Pô, vinho é a pior coisa, gente!I: Perdeu a excursão?F: Perdi. I: E o dinheiro também, né?F: Ah, isso que eu ia falá. (hes) Ai, quê que eu vô falá? Aí eu fui direto pro banhero, aproveitei que ela foi lá fora, (inint) Quê que eu vô falá pa minha mãe? Se eu falá que

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num teve excursão ela vai querê o dinhero dela! Vô falá que (hes) bebi, vô falá a verdade! Aí ela tá aqui cum o maió bicão sentada na sala. Eu: “Ah, mãe ...” “Bonito, né? Você acha bonito isso, chegá bêbada, uma garota nova, que num sei quê ...” Começou a falá no meu ouvido! Eu fiquei quieta, né? Eu num vô respondê porque mais tarde eu vô querê sai, eu vô querê dinhero, senão ela num vai me dá! (riso e)E: Esperta!F: Aí eu fiquei quieta, só deixei ela [falá]...[falá]...[falá]...falá. Aí <ela...>... Eu: "Ah, mãe...sabe o que aconteceu? Eu fui pra uma festa, na quinta-fera, um aniversário de um amigo<me...>... “Maió mentira!!!” Agora ela já até que... é mentira, que depois que ela me dá dinhero que eu falo: "I, é mentira!"Aí eu: "Ah, vô pruma festa de um ano...(inint) Eu bebi um negócio lá mãe...uma batida, gostosona, mas sabe, num pegava, que num sei quê... " Ela: "Ã?" Aí depois me deram um pexe cheio de gordura... Passei MAL mãe. Num aguentava, tô <aqui...> cheia de dor de cabeça... Aí tudo bem! Ela num acreditô muito mas levô, né? Aí ela foi falô assim..., eu: "Ah, mãe, mais tarde eu vô sai,tá?”.E: (risos) Vai, fala!F: Aí minha prima foi e me ligô na sexta-feira: "Ah, cheguei de Vitória!" A Renata, que eu amo! "Cheguei de Vitória, Andressa! Vamo sai, vamo pro Feijão!" Eu: "Tá, tá bom!" Cum a minha cabeça rodando, ficô até meia noite minha cabeça... Sabe o que é você não curtir uma coisa direito? I por i, só por farra mesmo?! Eu não tava boa pra mim i, [vomitava]...[vomitava]...vomitava... Minha mãe: "Olha, se você me chegá bêbada hoje cê vai durmi lá fora, que num sei quê!" Aí eu: “I, num vô bebê hoje não!”(inint) ... mas só cerveja, né? Aí eu bebi um copo de cerveja, desceu bem. Aí comecei a bebê, bebi, porque meus colega é tudo, assim, já mais velho, tem vinte e oito, vinte e dois anos, então eles (inint) bebê cerveja, num sei quê, sabe, mais coisa...eu já quero acompanhá ele...E: Aí...F: Quero ser grande também ... (risos) Aí vô, comecei a bebê, aí cheguei, assim, meia tonta em casa, aí Sábado eu fui prum churrasco quatro hora da tarde lá na Ilha, aí pra me acordá? Aí eu... Minha colega me ligô: "Andressa, num vai não?" Eu: "Vô." Ela: "Pô, duas horas aqui na <par...> na praça que eu marquei cum garoto, o garoto vai vim buscá a gente!" Caraca, acordei uma e meia "bum!"tomei um banho, num sei quê, e corri pra praça! Cheguei lá correndo, (inint) [minha mãe]... minha mãe já chegô, né... Minha mãe tava lá na tia Sula, chegô aqui eu já num tava mais em casa, aí quando eu cheguei do churrasco, acho que meia noite, (hes) que do churrasco nós fomos prum bar... prum barzinho, que um amigo nosso ia começá a tocá, então ele tava pedindo pros amigos, assim, ir né; e a gente foi. Aí cheguei meia noite em casa, (inint) chegô no dumingo eu num aguentava mais NADA!!! Na segunda feira eu tinha que acordá cedo porque eu tinha que ir lá em Caxias vê o negócio de um serviço, minha colega tava vendo pra mim. Aí no domingo as garota vinheram aqui: "Ah, vamo ficá ali no Ovo ninguém vai sai hoje não! Aqui na praça, vamo ficá ali no Ovo, a gente só vai ficá ali conversano... cumeno e bebeno. (inint) A farra era demais, né? “Olha, Andressa eu vô te acordá seis hora da manhã, se você num acordá eu vô tacá água na tua cara, que num sei quê...” Falano no meu ouvido. Eu: "Ah, vô." Aí fui.E: E acordô?F: Não consegui acordá, perdi o emprego! Ela falô pra caramba! Ah, eu (hes) sou terrível, pra mim sai... Aí ela: “Tu não vai sai final de semana que vem! [Pode]... pode pará, pedi pra ninguém mais te ligá , que num sei quê, que num sei quê lá!” Aí eu falei

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assim... (inint) “Caraca!” E no Sábado, que no caso seria esse Sábado que passou agora, não, esse Sábado agora que ela falô que eu num ia sai, e Sábado agora já tem uma festa pra mim i. (inint) É o que eu tô falando, tô lavando a rôpa dela... arrumando a casa...(inint)(risos)E: Tem que ficá uma anja!F: Tem que começá a levá ela na.... já num vô sai na sexta...num é, que sexta feira é feriado, num é isso? I: Não, é segunda.E: Não. É segunda-feira.F: Ah, é segunda?E: É bom porque a gente fica sexta, sábado, domingo e segunda...F: ...aí sexta-fera já num vô podê sai. Falei pras garota: “Não me chamam pá sai!” Que eu falo: “Não, num vô sai não!” Mas chega um, te chama, sempre levanta o seu fogo! Você pode tá assim, deitada, mas sempre “Andressa, pô, você num vai? Que num sei quê!” Você pode tá arriada, você fala: “[Num vô]... num vô!” Fala pra tua mãe: "I...hoje eu num vô sai não!" Mas sempre chegano uma colega sua você acaba ino! Eu já falei pra elas: "Não me chamam sexta-feira pra sai, eu não quero sair!" Aí elas: "Você num qué...?ou você num pode?" Aí eu: "Eu não quero!" Aí eu falei: "Mãe, sexta-feira eu não vô sai. Comecei a pertubar minha mãe segunda-feira, né? Eu: "Mãe, sexta-feira eu num vô sai não, mas, pô, <sá...> Sábado eu vô sai mãe... Pô, segunda-feira é feriado, comecei a falá; dumingo eu fico em casa. Ela: "Andressa, a gente num vai ter que ir naquele negócio que eu tô indo cum a tia Sueli?" Sei lá, lá num sei aonde...E: Ah, eu vô hoje!F: Eu tô ino todo o Sábado.I: Ah, você vai Sábado...F: É.E: É bom?F: É. Bom pra caramba!E: É onde mesmo?F: Eu melhorei pra caramba, que eu era muito rebelde! (inint) Ah, isso, pega o setescentos e onze, salta no ponto final... Anda pra caramba!E: Como é que é? Como é que faz pra chegá lá? Eu num...F: Pega o setescentos e onze, aí desce no ponto final do setescentos e onze, aí, como é que eu vô te explicá? Só sei que é uma rua [sempre direto]... [sempre direto]... sempre direto. Anda pra caramba! Anda muito! Isso você indo de ônibus, de carro eu acho que é melhor! É bom pra caramba! Bom MESMO! [Eu]...eu num <tô...> tava indo todo final de semana não, mas minha mãe tem sempre levado minha carterinha, sabe? É. Que eu fiz um cartão lá. E Sábado agora eu vô, aí conclusão, eu já vô cum ela duas horas e chego aqui só dez horas da noite. O ruim é isso! Que é muita gente pra atendê.E: Que isso! Você sai daqui duas horas...F: Duas horas. Eu (inint) fui eu, ela e a tia Sula num Sábado, aí eu tinha que i pro meu pai, que meu pai tava aí no Rio, tinha que ir lá ver meu pai, cheguei aqui nove e pôca da noite. Pô, e isso porque eles ainda me botaram na frente pra mim podê ser atendida logo. É muita gente, mas é bom! Vale a pena pra caramba! (inint)E: Como é que é lá, Andressa? Eu vô a primeira vez hoje...F: Ó, você tem que fazê carterinha, aí passa por um moço. Eu num passei por um moço não porque elas já fizeram pra mim, né? Quando elas foram lá já falaram qual era o meu problema: Rebeldismo. Que eu era muito rebelde! Eu...(hes) ainda sô até hoje! Ah,

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mas melhorei bastante. Eu acho que eu melhorei! (hes) Aí passa por ele, ele conversa com você, pergunta quê que você tá... Eu tenho um <sonh...> eu sonho muito cum negócio de macumba, sabe? DIRETO isso! E eu vejo muita coisa, aí eles falam que eu sou <altist...>...como é?... <altisv...>... Sei lá! É <altism...>...E: É...vidente, altista, sei lá!F: Um negócio assim. É! E eu vejo muita coisa, direto, às vezes (inint)...E: É medium, eu acho!F: ISSO, é medium. Aí ele falô que eu tinha que fazê tratamento...pra..tratamento cum isso. Eu falei: "I! Eu num quero sabê desse negócio de macumba não!" Falei logo pra minha mãe: "Num adianta que num vô ficá recebendo nada não!" (risos) "Andressa, mas você tem que se tratá:..." Ela e a tia Sula me explicando... "Eu não quero sê macumbera! Que não sei quê, que num sei quê lá..." (hes) Assim que eu entrei lá eu já falei: "Oh, mãe, eu falei pra senhora num me trazê pra macumba, a senhora já tá me trazeno..." <Andress...>, até elas me explicar... até entrá isso na minha cabeça tive que...( Telefone tocou) Caralho!E: Tendeu Andressa? Caiu?F: Caiu! (riso e) Aí, né, nós entramos lá (hes) mas é bom pra caramba o negócio lá. Olha, eu melhorei bastante! Você vai gostá.E: É? Você (hes)... porque tem um negócio de semana, né?F: Isso. Você tem que ir três semana seguido, tem que ir cinco semana seguido...I: ( Indicou oito dedos com a mão)F: São oito? CARACA! Ah, não. O meu foi cinco. [Cinco]...cinco semanas, assim, direto. Eu <go...> eu gostei, entendeu? Eu num tô ino direto, vô assim, quando me dá vontade.(inint)I: (inint)F: Fui duas. E: Quê?F: Fui duas.E: Ah, foi duas...tendi.F: Fui duas. Aí, agora eu vô... aí já deve ser a [Quarta]... Quarta vez. Minha mãe já levô lá. Agora eu vô de novo, mas aí, eu já vô (hes) o meu papelzinho já tá prenchido, que elas tão ino direto, né, aí sempre tão levano lá. Aí...(hes) eu vô agora mas vô recomeçá de novo, pra vê o quê que deu. Eu num fui num adiantô nada, né? (inint)E: Aí vai agora (hes) esse...F: Eu vô Sábado. É.E: Entendi. Mas aí, tu tamém num vai passeá Sábado, né? (riso e) Vai ficá lá direto...F: Não, até nove horas (inint) (hes) Oito horas eu falo... é só eu i cedo, né, aí me atendem... assim que me atendê... u... também eu cheguei tarde porque eu ainda esperei minha mãe sê atendida, tia Sula sê atendida... Então demora pra caracamba três pessoas (hes) e num é sempre que você pega o <númer...> o mesmo número. Eu peguei o quarenta e um, minha mãe pegô o quarenta e cinco, tia Sula pegô o quarenta e sete. Então, entre a gente tinha uma pessoa... cê entendeu? Se fosse quarenta e um, quarenta e dois, quarenta e três, rapidinho entrava as três juntos.E: Entendi.F: Que aí você vai entrá numa sala que tem várias caderas (hes)... aí (hes)... mas eu [gostei]... gostei. Melhorei pra caramba.E: Eu vô. Vô começá a i [esse]... esse não, aliás hoje, né. Aí parece que tem uma quantidade de semanas...

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F: Mas se num dé pra você i, sua mãe pode levá o seu cartãozinho.E: Ué, mas como assim?F: Você vai fazê uma fichinha. (hes) Aí essa fichinha quando a pessoa num pode i eles põe lá dentro, numa sala, aí isso ali passa... entendeu?... pra pessoa.E: Ah... entendi. Então marca no cartão como se eu tivesse ido...F: É, eles vão marcano.E: Entendi. Só a presença no cartão...F: É.E: Entendi. (hes) É, isso é legal, né?F: (inint) Né? Eu vô às vezes. Minha mãe é que ia direto, agora elas tamém tão parano de i, né? Tia Sula tava fazeno uma coisa aí que tamém tava fazeno pro Sr. Nagibe. (hes) Tem que fazê o meu e o o Sérgio... paquele qênio dele. (risos) Ele num parece nada cum a irmã, né? [Nada]... [nada]... nada...E: Mas [vocês]... vocês se dão bem?F: Eu e ele? Falo, [nunca]... nunca discuti cum ele não! [Nunca]... [nunca]... [nunca]... nunca. Mas... ele [fala]... fala mal ,assim, de mim, sabe? "A Ana tá largano muito a Andressa!" Minha tia Ducarmo, mermo, me conta (hes) que ele conta. "A <An...> a Ana tá deixano a Andressa muito soltinha... que num sei quê, que num sei quê lá..."“Aí eu falei pra ela: "Vocês têm que sabê que cês têm [umas]... uma filha aí, uma filha e um filho..." Né? Eles tão aí, oh! Tão aí no mundo, você num sabe o dia de amanhã... A Íris [já]... já aprontô muito, a metade do que ela tá aprontano agora eu sonhava em <aprent...> aprontá na idade dela... num é? Aí eu tenho, eu falei pra ele: "Eu tenho dezessete anos, vô fazê dezoito anos agora em Maio..."E: Que dia?F: Dia vinte e sete. (hes) Aí eu <fale...> (hes)I: I, no dia da minha mãe!E: É, no dia do aniversário da minha avó!F: Aí eu falei: "Oh, vô fazê dezoito anos (hes) eu sei o quê é certo e o quê é errado! Nunca que se uma colega minha falá: "Ah, Andressa vomo ali, vomo fumá..." Claro que se eu num quisé eu num vô!" Que eu acho que ninguém leva ninguém pa mau caminho, a pessoa pode sê errada, Renata, pode sê errada, pode andá...(hes) Eu nunca vô pará de falá cum você porque você amanhã o depois <ont...> ô depois você é uma pessoa... amanhã você, vai, começa a cherá, fumá... Nunca que eu vô, assim, me destacá de você. Num vô. Num vô, sabe por quê? Porque você num vai me obigá a i pra onde você vai, eu vô continuá (hes) num vai sê aquela AMIZADE de andá porque pegá uma fama pra você vai pegá uma pra mim tamém que tô andano cum você, né? Aaah... mas, eu num páro de falá. Eu num páro. Eu tenho muitos amigos mesmo, assim, da época de escola que agora são bandidos, (inint) veze passa... "Pô, num sei quê..." Eu converso, páro, às <veze...> até dô conselho, às vezes, eles perguntam alguma coisa. Falo: "Pô, faz [isso]... [isso]... isso!" Mas eu num páro de falá. [Minha mãe]... minha mãe que já não, minha mãe: "Larga essa pessoa de mão! Sai. Que num sei." Minha mãe é terrível! E: Porque ela tem medo, né, também. Mas é só você num se envolvê, né?F: É. Eu num falo, eu num páro de falá, eu num páro mesmo. Amanda tamém, uma negócio de doença, uma <pesso...> uma colega minha tá doente..."Ah, num vai não! <Perigos...>" Eu vô, [eu]... eu vô... Oh, já cansei (hes) visitei uma colega minha cum câncer... no hospital.I: Gente, num pega assim não!

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F: Tem gente que é <muit...>, CARACA gente, pô você vê assim né... Ai! Tem pessoas que sei lá, [num]... num pensa. Pô eu tenho colega, uma colega minha..., até andávamos juntas (hes) ah, ela pego um negócio assim de câncer, (inint) negócio assim, ela tava internada, nem sei se a garota morreu! Tava lá em Niterói... Aí uma porção de gente andava cum a garota, todo mundo se destacô! Foram eu e mais uma que foram visitá ela. Só nós duas, sabe? Porque todo mundo: "Ah, vomo visitá a Fernanda!" "Eu? É ruim hein!" Tão, num é num aperto de mão que você vai pegá, num é ali você conversá cum a pessoa que você vai pegá! Às vezes você tá em casa, alguma coisa assim, aí você pega. Ah, o quê minha mãe fala: "Você fica andano tarde da noite..." A garota morreu dentro de casa! Eu na rua ô dento de casa é a mesma <co...> tô correno o mesmo pirigo...E: Semana passada, pertinho daqui...F: Tô correno o mesmo pirigo. Eu posso taqui agora conversano cum vocês, né, aí entrá uma bala perdida... cabô! A mesma coisa eu posso tá na rua andano...(hes) Ah, eu <num...> né? Eu falo: "Olha, o que eu podé fazê, assim, se eu considerá a pessoa eu faço, eu ajudo, tendeu? Igual a minha irmã, minha irmã, pô, quando eu tava trabalhando... pô, olha, comprava tudo, num deixava ela comprá nada pra minha subrinha... minha subrinha era menó... comprava fralda, levava... todo mês eu levava lá fralda pra Tainá, rôpa, Neston, banana... Levava! Que era uma ajuda pra ela e pra minha mãe, né? Minha mãe, já era menos dinhero que minha mãe gastava! Ajudava. Hoje em dia que eu num posso mesmo! "Num" tô podeno gastá dinhero mermo! Tô gastano muito já cumigo.E: Tendi. Ô, Andressa, e, assim, como é que é... você falô do teu pai, que ele mora lá em São Paulo, né? Mas ele é casado também? Como é que é?F: Não... Meu pai... (inint)meu pai morava cum uma mulé aqui em Caxias. Só que num deu certo, se mete muito na vida, entendeu, ela se metia muito na vida da gente... Eu ia lá visitá meu pai (hes) eu acho o seguinte: Se... num deu certo cum a minha mãe, ele procurô ela, ele gosta dela, entendeu? Ela tinha ciúme dos próprios filhos. Eu chegava lá pra conversa (hes) eu acho que eu quero conversá cum meu pai a sós, às vezes eu tô precisano até de dinhero, tinha vergonha de pedí perto dela porque ela se metia... Era uma mulé que <fala...>: "Não, ele tá doente! Que num sei quê!". Eu num ficava um minuto sozinha cum o meu pai, que era o tempo todo ela sentada ali se metendo no nosso papo. Aí teve um dia que eu me estorei! Falei: "Oh, você num tem que se metê em papo de família porque quando você conheceu ele, você sabia que ele tinha três filhos... A minha irmã e meu irmão num precisam dele não, mas eu preciso, ainda sô de menó! E eu venho aqui num é só pra pedi dinhero, eu venho pra vê ele..." No dia dos pais eu fui, minha mãe comprô uma blusa, eu fui levá lá pra ele...se meteno: "Quem comprô pra você? Foi sua mãe, né? Sua mãe ainda gosta dele, né?" Me dava uma raiva tão grande que, às vezes, <er...> dá uma vontade de você dá uma resposta... só que por ela sê mais velha você (hes) e pelo meu pai eu tinha que engolir... Aí teve um dia que eu quase cai na porrada cum ela, quase! Aí eu levantei, comecei a falá que num era pra ela se metê aonde ela num era chamada... e se a minha mãe quisesse o meu pai era só ela fazê assim (a falante estala os dedos) que o meu pai vinha... E: Mas a Ana, a tua mãe e teu pai se dão bem?F: Conversam, mas num podem batê de frente quedá choque! E: Entendi. F: Minha mãe é muito geniosa, ela, quando bota uma coisa na cabeça, é aquilo e aquilo mesmo! Sabe, quando ela toma raiva da pessoa... ela é igual a mim! Por isso que eu falo

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que eu puxei ela. Quando ela toma raiva da pessoa... ela é aquilo: Ela conversa (hes) Meu pai liga, às vezes... : "Oh, Francisco, Andressa tá precisando disso e disso. Tá gastando muito! Dá uns conselho pra ela." Aí eles conversam! Mas quando vai (inint) na casa da minha irmã ô do meu irmão, que meu pai vem `as veze, i, aí começa o escândalo! Aí minha mãe sai, sai de lado... aí num dá não! Agora, pelo telefone eles se dão bem!E: Mas eles só têm vocês três de filhos?F: Só. E: Que bom! (riso e)F: Graças a Deus! Num tá dano nem conta dos três. Pelo menos meu irmão nunca procurô meu pai nem minha mãe. Toninho sempre foi independente. Sempre!E: Ele é o mais velho?F: É. Meu irmão tá cum <trinta...> trinta anos. Minha irmã tá cum vinte e cinco, eu cum <dezoit...>... É. Isso mesmo! Toninho sempre independente, gente! Nunca dependeu nem da minha mãe nem do meu pai pra nada. Quando meus pais se separaram e ele escolheu morá cum meu pai, sabe o quê ele fez? Ele montô um apartamento pra ele e pro meu pai. Só ele, trabalhano ali em posto de gasolina. Ele pagava aluguel, meu pai pagava, ajudava, mas ele comprô sofá, ele comprô mesa, ele comprô... sabe? Igual uma mulhé. E, tinha que vê o apartamento deles dois! A moça ia lá fazê faxina (hes)... era um (hes), CARACA, parecia apartamento de mulhé! Tinha que vê! Num parecia que morava dois home só ali não.E: E agora, ele é casado?F: Meu irmão é casado. Aí meu irmão casô, aí meu pai morô sozinho durante um tempo naquele apartamento... Só que a minha irmã foi morá cum meu pai, aí botô meu pai pro fundo do poço, depois dele tá lá em cima ele teve que vendê o apartamento que meu irmão deixô pra ele... Nem era do meu pai, era do meu irmão! Mas o meu irmão deixô ele morá... entendeu? Que agora o meu irmão poderia tá cum uma situação boa, tá morano em morro... tá morando lá no morro do Dendê mas a casa é dele, entendeu? Construiu, aumentô a casa, ele qué sai dali (hes) pra i prum negócio por causa do filho dele, (inint) é crente tamém! Aí meu pai teve que vendê o apartamento que a Andréia foi pra lá (hes) num sei quê que a Andréia faz! Que aonde ela entra ela arrasa a pessoa. Né, ela é terrível! Eu acho que sei lá! Aí começô a levá o namoradinho dela lá dentro da casa do meu pai, meu pai num gosta! Meu pai é daquela época antiga, que namoro tem que sê ali sentadinho... ele ali... Meu pai é horrível! Pro meu pai eu sô uma SANTA! (risos) Oh, eu sô uma criança ainda, tem que vê! E: Que ele mora lá e você aqui... (riso e)F: Ó, o tempo que eu passei em São Paulo cum ele... ah, eu num aguentava mais não! Eu ia no portão, meu pai ia atrás de mim. "Ó, entra porque você num conhece aqui..." Eu saía cum a minha prima, ele já ligava pro telefone dela! "Edna, Andressa tá aí?" (inint) Aí a minha prima ficava zoando ele: "Não, tio. Ela foi andano aí... Num chegô ainda não?" Ele, i, ficava preocupado!E: Oh, Andressa, mas, assim, você disse que ele num... num fala que nem paulista, né? F: Não. Meu pai fala mais prum lado minero porque ele nasceu em São Paulo aí foi morá em Minas. (inint)E: Mas também você nem tem muita convivência cum ele, né?F: Não, nem tenho. Até hoje só por telefone mesmo. Meu pai e minha mãe se separaram eu tinha cinco anos, eu acho... cinco, eu era [bem]... bem novinha, nem lembro de..., da assim, eles dois juntos; eu num lembro de nada! Quem lembra mais é

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minha irmã e (inint) e meu irmão, só eles assim. (inint) Eu lembro uma vez que ele bateu na minha irmã. Ele já separado da minha mãe (hes) aí minha irmã foi pra... a minha irmã, ela é tinhosa. Ela procura briga (hes) ela já é diferente de mim! Ela num consegue conversá cum a pessoa, o negócio dela é brigá. Igual favelada! (riso e) É. Aí minha irmã foi lá na casa do meu pai, catucá meu pai. Meu pai quietinho na dele, porque meu pai é assim: se você deixá, se você num ligá pra ele, ele num liga não! Lá em São Paulo num (inint) agora se você num pegá o telefone e ligá... "Pai, como é que tá?" "Pai, tô precisando disso!" Ele já sabe que eu ligo, eu ligo é pra pedi dinhero. "Andressa, eu num tenho dinhero não!" (riso f) Agora que a coisa tá dura e (inint) tá cumigo eu num ligo mais pra ele, aí ele fala: "Você me abandona! Quando eu tô cum dinhero você vem e me liga, que num sei quê! Quando precisa de mim..." Aí (hes) agora a minha irmã foi lá cutucá ele (inint) aí (hes), num sei quê que houve lá entre eles, minha irmã foi lá pegá a rôpa dela que ficô... aí sai meu pai pra pegá ela cum um pedaço de <pa...> cabo de vassora, atrás dela, e ela tacano coisa no meu pai... Eu pequenininha! Ela ainda me levô atrás, minha mãe trabalhano. Eu só sei que ela chegô em casa, nós chegamos em casa, minha mãe (hes) Andréia cum um galo na cabeça, meu pai ligano pra minha mãe... e falando que num queria mais a Andréia lá nem pintada de oro... que ela num era filha dele, que ela [tinha]... tinha chingado meu pai de tudo quanto é nome! Que a Andréia é assim, <te...> chinga mesmo! Chinga <mesm...> Meu pai deu um tapão nela, primera <ve...> Meu pai [nunca]... nunca me encostou um dedo! NUNCA! Nem nela, nem em mim, nem no Toninho. Só que na Andréia ele teve que encostá, a Andréia é [TERRÍVEL]... [terrível]... [terrível]... terrível! Andréia num muda nada, nunca mudô. Agora, (hes) aí eu <fale...> fico revoltada nisso, cum a família ela cresce, agora, cum o marido ela <se...> murcha. Deixa <el...>Até apanha! Quando ela é pra ela agir ela num age. (inint) me dá raiva dela! Falo: "Garota, age! Seja mulé!" "Ah, vô ficá trocano cum o André? Que num sei quê... tenho que virá as costa." Ah, nunca que eu vô deixá meu marido me chingá de vagabunda!E: Ele fala isso pra ela?F: Chinga. "Ah, tu é piranha mermo! Num sei quê..." Como? Uma menina, uma garota que fica ali, dentro de casa o dia intero... tendeu? Chega, ele chega do trabalho é comidinha no prato, [é]... é comidinha fresquinha... é casinha arrumada... Tudo bem que ela tem que zelá o quê é dela, né? Mas [eu]... eu falo: "Quando eu casá, eu não vô lavá cueca...num vô! Eu num vô lavá cueca! Eu, muito mal vô sê obrigada a lavá rôpa porque ele vai trabalhá, né? Vô lavá rôpa muito mal, e num tem nada de comidinha na mão não! Ele levanta lá, se serve... eu falo: "Eu num..." Minha mãe fala: "Ah, você vai tê que pagá tua língua!" Que nem antigamente, eu falava:"I, minha mãe vem cum esses macaco dela! (inint) de preto!" (riso e)”I, tinha que vê! "I, alá, minha mãe já vem cum esse macaco!" I, num gosto de preto! Já num bebo café e num como feijão por causa de preto. Pra num dá confiança! Aí minha mãe: "Andressa, tu vai pagá tua língua!" Hoje em dia eu só namoro preto! Só negão! (risos) Só negão mesmo! Minha mãe fala: "Olha a língua aí..." (inint)E: Tá vendo?F: Meu casamento vai sê cum um branco. (risos) Aí minha mãe fala: "Tu é preta e ainda [fica]... [fica]... fica se... fica falano de preto, num sei quê... " Eu falava tanto do meu padrasto Celso: "I, já vem esse macaco!" <Falav...> ele falava cumigo: "Ó, tá bom, tá [oh]... [oh]...oh...num se mete aqui não!" Nem olhava pra cara dele. Num olhava. Eu num comia feijão e nem bebia café. E: Por que, Andressa?

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F: (riso f) Eu aprendi cum a minha irmã, minha irmã , ela tinha mania de... "Eu num como feijão." Eu ouvino desde pequenininha ela falano isso, então quando eu cresci eu: "I, eu num quero feijão não, e nem café pra num dá confiança a preto!" Minha vó falava: “Vai, tá bebeno café vai ficá preta, hein?! Num come feijão não que tu vai ficá preta!” Que ela num gosta de feijão. Então eu ficava cum aquele negócio: "Já pensô eu ficá preta?" (risos) Aí, às vezes, eu ficava assim, eu ficava me olhano, olhava pra cor da minha mãe... quando a gente botava (hes) que a minha irmã e meu irmão é tudo branco! Eu sô a única mais escura.E: Mas você num é preta, gente!F: Meu pai que é preto. Meu pai, ele tem uma cor bonita, sabe?E: A sua irmã é branca...F: E meu irmão temém. Meu irmão, ele é branquinho cum olhos cor de mel. Clarinho os olhos dele. Meu pai é um preto cum os olhos de mel. Clarinho os olhos do meu pai tamén! (hes) Aí... eu falava assim... A minha irmã falava: "I, a Andressa tá empretecendo. Eu acho que a Andressa num é da nossa família, não!(rosos) Acho que minha mãe... I, num se lembra mãe quando você achô a Andressa na lata do lixo?" Então eu ficava puta, né? Aí eu, caraca, olhava pra cor delas, olhava pra minha cor... aí eu ia lá pro quarto chorá, aí ia meu pai, meu consolo "Olha minha cor, pára de sê boba! (risos) Que num sei <q...> Então eu num sô pai deles, que num sei quê!" Eu: "Ah, mas o Toninho tem o seu nariz, a Andréia tem seu nariz, Toninho tem seus olhos... só eu que sô assim?! Ah, não!" Aí meu pai: "Andressa, você num é preta." Até eu botá aquilo na minha cabeça...i, eu era muito nojenta. Aí eu num comia feijão e nem bebia café com medo de ficá preta!E: É. Falô, falô, falô e agora...F: Agora só negão! Ai, hoje em dia eu páro pra pensá, às vezes eu conversano cum a minha mãe, ela: "Viu" cê num pode falá nada, que num sei quê, seus preto?!" Só preto gente! Só preto até hoje. Eu nunca peguei um branco! Nunca, nunca! E, nem um moreninho clarinho não! Só preto. Sabe o quê é preto de você olhá assim até se assustá?!E: Sem preconceito!!!(riso e)F: Só preto! Caraca, às vezes eu <pens...> páro pra pensá, assim, CARACA <gent...>, aí, às vezes, eu vô assim na casa de sogra só vejo aquelas macaquinha entrano pra cima e pra baixo, (risos) aqueles pretinho que (hes)... Olha, uma vez eu fui na casa de um garoto que eu tava ficando, assim né, gente era muita criança! Muita criança, gente! Muita criança! Sabe o que é uma escadinha? E gritava um, vinha "BUM!" uma <porç...> Eu ficava assustada, gente! Eu (hes) foi aonde? Foi lá em... foi aqui... ah, esqueci o nome do lugar... Num... numa favelinha braba.(risos) Eu esqueci. Num tem ali em Del Castilho as casas que fizeram as casas nova que virô favela bairro? E: Ah, eu sei onde é!F: Eu esqueci o nome também. Ali. Fui ali. Aí né, o ambiente já num é meio chegado... e entrano aquelas criança, saino, e criança suja... Ai, gente! Num dá não, eu sô muito nojenta. Sô! E num comia nada na casa da mulé, nada. Eu via que a cozinha era limpinha... só que só d'eu vê eu num eu num como. Eu sô nojenta pra caramba! Ser eu chegá, assim, num lugá e vê, assim, ah... alguma sujerinha, assim,... eu fico assim... "Ah, não. Brigada. Eu saía cum sede da casa da <minh...> da minha tia, pô, porque era muito imunda a casa dela. (riso e) Sério. O irmão da minha mãe se casô cum uma tia minha, cum uma moça lá que se tornô tia minha, Gracinha. O nome dele é Geraldo, já até faleceu já! Morreu. Aí... ela era muito porca, agora que ela melhorô! Sabe o que é

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muito, gente?! Você chegá a casa tá alagada! Criança cagada... ai!!! Eu não comia. Olha, eu pequenininha, eu cum fome... sabe o quê eu fazia? Pegava um real na <mão...> na bolsa da minha mãe e ia lá fora, fazia um lanche, chegava, o meu prato lá na mesa... eu: "Ah, num tô cum fome, que num sei quê!" Uma vez ela num me forço a cumê um peixe?! Caraca, foi eu pegá assim o (hes) comecei a vomitá, não comi! Minha mãe fala: "Ah, você era pra sê filha de rico!" Porque eu [não como]... [não como]... [não como]... não como! Se eu vê alguma coisa, assim errado, eu não como. E, é difícil eu come na casa dos outro. Pra mim comê na casa dos outro, até na minha tia Ducarmo eu tenho que vê ela fazeno. Se eu num vê ela fazê...E: Pior é que às vezes a gente nem, né, num quer... mas o organismo mesmo rejeita.F: Ah, Ingual, assim, a casa da minha irmã, hiper limpinha, sabe, a casa, assim, das minhas tias... hiper limpa, só que eu tenho que ficá o tempo todo ali na cozinha vendo os outro fazê. Aí eu fico, (hes) minha irmã que fica: (inint) "Andréia, lava a mão... tu mexeu ali num sei aonde..." Ela: "Ó, você num vem me pertubá aqui não! Que num sei quê." Porque eu sô assim: Pra mim fazê comida eu tenho que lavá a loça toda, eu num consigo fazê comida cum a loça, cum a pia cheia! Não consigo! Aí a Andréia vem pra cá pra minha casa e criança, sabe, mexe em tudo. Aí ela vai, suja um prato deixava ali, <suj...>... Aí eu fico: "Andréia, lava a loça depois você faz isso!" "Olha, Andressa, pára de me enxê o saco! Eu sô dona de casa, você num entende de nada, que num sei quê..." Ah, não. Sô nojenta pra caramba. Eu não como! Na minha avó eu num como, eu tenho nojo da comida da minha própria avó! I: Que isso! (riso e)F: Tenho, da minha avó Maria, mãe da minha mãe e da minha tia Ducarmo, eu tenho. (hes) Ah, eu tenho, gente! Se faz [um]... um quiabo, quiabo é babento, né?! Só que você fazendo ele bem feitinho num <fic..>... Eu odeio quiabo!E: Ah, eu adoro!F: Odeio, um tal de quiabo cum galinha e angú. I, num vem cum isso não!I: Cumida de minero.E: Angú eu num suporto, mas eu gosto de quiabo cum galinha.F: Gente, minha vó veio cum aquele prato, eu pequenininha... desde esse dia eu num comia mais nada na casa dela. Me forçô a cumê, enfiano na minha guela a dento, e cum o chinelo no lado... se eu num cumesse... Aí eu: "Ah, nunca mais eu comi lá!" Agora eu vô na casa dela, bebe água, muito pôco que eu faço lá ! Só como quando tem churrasco, assim, alguma festa, assim, aí eu como! Agora, a cumida, assim, dela, não. Eu falo pra minha mãe: "Eu tenho nojo da comida da (inint)" "Comeu pra caramba quando era pequena, morô cum a tua avó, cumeu <cumid...> agora fica cum nojo?!" Eu: "Claro! Me forçá a cumê coisa que eu num gosto..."E: É. É horrível, né?F: Eu não como! Ó, eu não gosto de quiabo, eu num gosto de cenora, eu num gosto de tomate, eu não gosto de... jiló, beterraba eu num gosto...E: E doce?F: Doce eu como!(inint) Doce...E: Muito bom, né? E na Páscoa, hein?F: Minha mãe num me deu nada, num me deu nada... "Tu num vai cumê nada! Tu tá de regime... (risos)" Minha mãe é terrível! Aí a tia Sula, foi, mandê uns bombom pra mim... minha irmã tamém me deu um ovinho pequeno. Só. Tamém, [rolô]... [rolô]... rolô, mas meu padrasto (hes) eu deixo ali, eu como quando me dá vontade, sabe?! Aí vem o Marquinhos, vem aqui pega um e vai... todo dia antes dele, antes, quando ele sai

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da escola ele passa aqui cumê alguma coisa, aí ele vem leva um bombom... E meu padrasto, ele acorda de madrugada... eu só vi ele cumendo coisa. Aí bombom, o meu ovo durô até ontem, de chocolate branco Lacta... que eu adoro, só que, só como quando me dá vontade! Porque nem sempre você tá cum vontade, você num vai cumê de olho grande... E: Eu como de olho grande! Andressa, enquanto eu vejo o doce ali, eu como! Não me satisfaço enquanto eu num vê a embalagem no lixo!F: Ah, eu já não... Já num... [Como]... como pra caramba, mas eu, não muito doce; só como quando é assim, depois do almoço, aí dá uma vontade de você cumê um doce... pra tê. Antigamente eu comia (inint)[até]... até acabá tudo, agora não! Aí minha mãe <fo...> (hes) aí fui, deixei lá o <negó...> o ovo, né; não abri, só tirei o bombom de dentro pra minha mãe, que ela adora chocolate branco! (inint) segunda-feira o ovo mexido, né? “Mãe, a senhora no...?” “Eu não!” Pensei que era minha subrinha, né? Ela até (hes) abre a geladeira ela mexe em tudo. (inint) Daqui a pôco, ontem a noite, o último pedacinho do ovo (inint) tô ouvino o barulho da geladera, pensei até que era rato! (hes) Três hora da manhã eu olhei, assim, a hora aí levantei na ponta do pé, quando eu olho ele tá cumeno meu ovo... Ah, foi mutivo de guerra! "Ah, é você que tá cumeno, porque você num compra nada pra dentro da casa... que num sei quê, que num sei que lá..." Comecei a falá, minha mãe: "Por causa de chocolate?!" Eu: "Ó, tem três bombom aqui. Se eu acordá e num tivé nenhum você vai vê só..." Aí hoje minha mãe tava cumeno um, aí ela: "Eu que tô cumeno, hein!" (risos) Claro! Pede! Né?! É [terrível]... terrível!E: É. Mas é muito bom, né? Doce é uma delícia! E, fazê? Pelo menos doce, você sabe fazê?F: Sei.E: Então me dá uma receita aí dum doce. (riso e)F: Olha, que eu invento, às vezes, eu invento brigaderão. Brigadero.E: Ah, eu amo!F: Eu faço. Eu mesma.E: Como é que se faz?F: Cum leite moça, chocolate...E: Ah, e assim, o modo de fazê?F: Ah, você ó (hes) primero eu ponho, assim, leite moça, aí o chocolate mistura, aí põe uma culhé de mantega... tamém. E vô coisano até ficá duro! É só isso. Num ponho açúcar, num ponho água, num ponho nada.E: Num tem mistério...F: Num tem nenhum. Aí fico misturano até ficá duro, aí você põe num prato, espera esfriá, e (inint) E eu ponho na geladera, aquele prato que eu faço... Aí minha mãe chega, come, [eu]... eu, às vezes...I: "Num" dá tempo nem de fazê bolinha, né? Vai cumeno de culher...F: Como. I, pego na culhé mesmo, fazê bolinha nada! Eu <faç...> eu faço, eu fiz isso pro aniversário da minha subrinha! Aí fiz tamém de morango...E: Ah, é uma delícia, né?F: Cum um poquinho de Quik, aí no lugar do chocolate põe Quik... Eu <fi...> eu fiz docinho pra caramba no aniversário dela (hes) de morango, fiz de limão, cum gelatina de limão...E: Hum- hum.F: Aí eu fiz...

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