Entrevista Alessandro Cellai

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LESSANDRO CELLAI Entrevista

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Enólogo apontado como “uma das estrelas do futuro” pela revista Decanter, Alessandro Cellai é um dos grandes nomes da enologia italiana. Um verdadeiro colecionador de “Tre Bicchieri” do Gambero Rosso, ele é conhecido por elaborar vinhos incrivelmente elegantes e de grande apelo regional. Cellai é responsável pelos aristocráticos vinhos de Castellare di Castellina, pelos exuberantes vinhos de Feudi del Pisciotto na Sicilia e pelos vinhos de Rocca di Frascinello, uma join venture em Maremma com o Château Lafite. Alessandro Cellai é também enólogo de seu projeto pessoal – Podere Monastero – onde elabora além de um elegante corte bordalês, um dos mais impressionantes Pinot Noir de toda Itália. Um apaixonado por castas regionais e por vinhos repletos de finesse, é uma das personalidade mais admiradas do país.

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pela Sangiovese e as castas locais e não pelas uvas internacionais como Cabernet Sauvignon e Merlot. Em outras palavras, o prestígio dos supertoscanos ajudou na melhora da qualidade média dos vinhos de Chianti Classico, mas foram dois caminhos paralelos.

Nas boas safras, alguns dos melhores Chianti Classico e Chianti Classico Riserva podem envelhecer por vários anos. Quando você acha que seus vinhos estão no auge para serem tomados? Logo que são lançados ou após alguns anos de garrafa?Se for bem feito, um vinho elaborado com a Sangiovese pode, com certeza, envelhecer por muitos anos. Claro que para um vinho com mais corpo e estrutura, como um Riserva, o ideal é esperar para abrir a garrafa. O tempo de espera depende do estilo do vinho e de seu corte. A vinificação também é importante: um vinho que, por exemplo, é feito com um corte de uvas mais tânicas e maturado em pequenas barricas de carvalho deve demorar mais para ficar pronto em comparação a outro produzido a partir de uma abordagem mais delicada. Este pode ser tomado mais cedo. Se falarmos especificamente dos vinhos de Castellare di Castellina, eles podem ser perfeitamente bebidos assim que são lançados no mercado, mas é evidente que melhoram com o tempo. Isso é verdade tanto para o Chianti Classico Castellare di Castellina como para o Riserva.

Qual foi o vinho mais memorável que já tomou?Foi um Romanée-Conti 1984 que eu bebi há alguns anos em Las Vegas. A uva Pinot Noir tem muito em comum com a Sangiovese.

Qual vinho do seu portfólio seria uma boa introdução à sua vinícola?Eu diria que o Chianti Classico Castellare di Castellina é uma excelente introdução à vinícola, além de oferecer uma ótima relação qualidade/preço. É um belo vinho para quem quer conhecer o estilo da vinícola.

Quais são as maiores virtudes dos terroirs da Toscana?A Toscana apresenta uma diversidade imensa de terroirs, maior que a de alguns países. O que eu quero dizer é que dentro de uma pequena região podemos encontrar muitos microclimas e solos distintos. Por exemplo, a diferença de terroir entre Chianti Classico e Maremma é muito, muito grande. Mesmo dentro de uma mesma região como Chianti Classico pode haver diversas microareas com solos completamente diferentes. Um ótimo exemplo é

Na sua opinião, o que seria o Chianti Classico ideal?Um Chianti Classico é, acima de tudo, um vinho gostoso, para ser bebido com prazer. Deve ser fresco, agradável – bom para qualquer ocasião. Mesmo que a legislação permita uma pequena proporção de uvas internacionais, eu particularmente acho que o Chianti Classico deveria ser produzido com 100% de uvas autóctones da Toscana.

Quais são as maiores qualidades da uva Sangiovese?A Sangiovese é uma das grandes uvas de todo o mundo. Os vinhos elaborados com esta casta devem mostrar fundamentalmente elegância, frescor e lindos taninos.

Nem todos os vinhos de Chianti Classico são elaborados apenas com a Sangiovese. Qual é a importância das outras castas no resultado final do vinho?A Sangiovese é a alma de Chianti Classico. Como eu havia dito, acho que o Chianti Classico deve ser elaborado apenas com uvas locais que, além de uma enorme riqueza de estilos e personalidade, são de excelente qualidade. Eu acho que a adição de Canaiolo, Colorino e Cilegiolo deixam o Chianti Classico mais complexo e interessante. A Canaiolo e a Cilegiolo conferem maior estrutura, enquanto a Colorino garante uma cor mais profunda e atraente ao vinho.

A imagem dos vinhos de Chianti Classico tem ganhado muito prestígio nos últimos anos. É possível dizer que o sucesso dos supertoscanos tenha influenciado os produtores de algumas DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), como a de Chianti Classico, a investirem na qualidade dos vinhos?Na minha opinião, a imagem de Chianti Classico está intimamente ligada aos supertoscanos, que nos últimos tempos têm sido apontados entre os maiores vinhos de todo o mundo. Este sucesso trouxe bastante atenção para os vinhos da Toscana, inclusive os de Chianti Classico. Por outro lado, é sempre bom lembrar que o Chianti Classico deve ser, além de uma expressão autêntica do terroir local, um vinho de tradição. E a tradição é representada

Um apaixonado por CAstAs

rEgionAis E por vinhos rEplEtos

dE finEssE.

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a diferença entre o Chianti Classico de Castellina in Chianti, e o de Castelnuovo, em Berardegna. O de Castellina, comparado ao de Berardegna é mais leve e fresco, repleto de elegância.

Angelo Gaja já comparou a uva Nebbiolo a Marcello Mastroianni e a Cabernet Sauvignon a John Wayne. Segundo ele, a Cabernet tem uma personalidade forte, dominante e fácil de entender. A Nebbiolo, por outro lado, é comparável a uma pessoa que não se mostra tão facilmente, mais difícil de ser entendida, mas muito mais complexa e fascinante. Com qual personalidade você compararia à uva Sangiovese?Eu compararia a Vittorio de Sica, do clássico Ladrões de Bicicleta – um exemplo perfeito de elegância!

A Toscana é um dos destinos turísticos mais cobiçados em todo o mundo. Além de beber vinhos excelentes, o que é imperdível em uma viagem para a Toscana?A Toscana é uma região completa para o turismo: lindas paisagens, com belos morros e vistas fantásticas da natureza, além de vilarejos adoráveis e cheios de charme. Temos também um belo litoral, que merece ser visitado. Claro que tudo fica mais bonito e gostoso quando acompanhado de um ótimo vinho da região.

Qual você considera o maior elogio que já recebeu: ouvir Giacomo Tachis dizer que você é um produtor de “grande respeito” ou ser eleito pela revista Decanter uma das “Stars of Tomorrow” (Estrelas do Futuro)?Sem dúvida, os dois são fantásticos, mas se eu tiver que escolher um deles, com certeza, o elogio de Giacomo Tachis é o mais importante. Considero Tachis o melhor enólogo do mundo e receber dele um reconhecimento desse tipo é realmente uma grande honra, e que eu guardarei comigo durante toda a minha vida. 

Quais são as diferenças entre os vinhos de Castellare di Castellina e os de Rocca di Frassinello? Conte-nos um pouco sobre a experiência de trabalhar com Christian le Sommer, enólogo do Château Lafite.A grande diferença entre esses dois projetos é a filosofia de trabalho: em Castellare, nos mantemos fiéis à tradição, utilizando apenas uvas nativas, sem misturá-las com castas internacionais. Já em Rocca di Frassinello, que é uma join venture entre Castellare di Castellina e os Domaines Barons de Rothschild-Lafite na região de Maremma, resolvemos unir o conhecimento de ambas as

partes. A uva Sangioveto representa a alma de Castellare e as uvas francesas Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah, a grande experiência de Lafite. Ao trabalhar em parceria com Le Sommer nos primeiros 4 anos do projeto, incorporei cada vez mais esse conceito e pude aprender muito sobre a filosofia francesa de trabalho. Hoje eu administro sozinho a produção da Rocca di Frassinello.  

La Pineta é um Pinot Noir inigualável, com uma qualidade difícil de encontrar na Itália. O que é determinante nesse vinho: o terroir ou seu processo de produção?A uva Pinot Noir requer condições muito especiais para o seu cultivo, não é qualquer lugar na Itália, principalmente na Toscana, que consegue reunir a exposição solar adequada, um solo rico em calcário, grande amplitude térmica entre dia e noite, ou seja, a combinação de fatores ideias para essa uva se desenvolver plenamente. Por sorte, a minha propriedade tem tudo isso. Em relação à vinificação, a Pinot Noir também possui suas particularidades. É uma variedade muito delicada e que necessita de um grande cuidado, especialmente durante a fermentação – o controle de temperatura e o tempo de maceração são dois fatores importantíssimos na qualidade do vinho. Elaborar o La Pineta é um verdadeiro desafio e me dá enorme satisfação reparar que a cada safra ele fica melhor.            

Fale-nos um pouco sobre a Sicília, uma região italiana que está cada vez mais em evidência no cenário internacional.A Sicília é, de fato, uma região muito especial e que demonstra um enorme potencial para a produção de vinhos de qualidade. Seu grande trunfo é a abundância de sol, o que permite uma maturação perfeita das uvas. As diferentes altitudes e suas uvas autóctones são também fatores de distinção. Os vinhos da Sicília têm melhorado muito nos últimos anos e há tintos e brancos com grande tipicidade, totalmente diferentes dos elaborados na Toscana.

O que é mais importante na hora de elaborar um vinho de grande finesse? É possível um vinho ser elegante e, ao mesmo tempo, agradar a todos os gostos?Sim, um vinho elegante pode agradar multidões! A cada colheita me proponho a fazer justamente isto: elaborar vinhos concentrados e cheios de finesse. Um vinho perfeito para mim precisa ter elegância, do contrário, ele perde harmonia. O ponto principal é o vinhedo – é preciso realizar uma viticultura impecável para conseguir uvas e transmitir ao vinho tal característica.

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