Entrevista a Luís de Camões

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8 Entrevista a Luís Vaz de Camões 13-05-2022 Professor: Paula Rebelo

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Entrevista realizada na aula de Português por alunos do 10º ano

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IntroduçãoO nosso entrevistado de hoje é o poeta Luís Vaz de Camões, um dos

melhores e mais conhecidos a nível nacional e mesmo mundial. Vamos fazer um balanço de questões sobre a sua vida e obras.

Entrevistador: Alguma vez pensou que as suas obras lhe permitissem chegar onde chegou?

Luís de Camões: Não, nunca. Mas só depois de morto é que o meu talento foi reconhecido pelas belíssimas obras que leguei às gerações. Mas… enfim. Em Portugal é assim. Só depois de morrerem é que as pessoas são reconhecidas. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. É mesmo assim. É o país que temos. Quem diria que tantos anos depois o dia da minha morte fosse comemorado como um feriado: o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas! Até eu fico surpreendido!

Entrevistador: Sabemos que foi muito requisitado pela corte para escrever lindos poemas a belas damas. Conte-nos um pouco sobre isso.

Luís de Camões: É um talento natural que nasceu comigo! Esse talento foi reconhecido por reis e condes da corte que me pediram que escrevesse poemas para impressionar as suas donzelas. Por causa disso, muitos também ficaram meus inimigos, por não conseguirem atingir esta minha perfeição! Não foi difícil escrever para tão belas damas. Um 24-04-2023

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dos exemplos mais belos foi este mote que me foi apresentado por um conde e que depois eu desenvolvi:

Verdes são os campos

Da cor do limão;

Assi são os olhos

Do meu coração.

Para desenvolver o poema inspirei-me na natureza e comparei-a ao verde dos lindos olhos da dama.

Escrevi para D. Catarina de Ataíde, dama do Paço, uma das minhas paixões. Nesse tempo reinava D. João II e, como eu era fidalgo, podia frequentar as festas e saraus da corte no palácio real. E foi lá que conheci D. Catarina. No entanto, a rigorosa tradição da corte obrigou a que eu me afastasse desta linda menina, da minha Natércia que serviu de inspiração para tantos poemas! Quem pode livre ser, gentil Senhora, vendo-vos com juízo sossegado; Se o menino que de olhos é privado nas meninas de vossos olhos mora?

Entrevistador: Foi um homem de grandes paixões. Quer falar-nos sobre elas?

Luís de Camões: Ui! Isso daria pano para mangas! Amei muito mas sofri outro tanto! No final… posso concluir que tudo não passou de uma ilusão, um sonho não concretizado. Os amores que vivi, as paixões que senti… foram ilusões que depois se transformaram em fortes e inesquecíveis desilusões. De amor não vi senão breves enganos.

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Entrevistador: Apesar de tudo isso viveu um grande amor no Oriente. Quer-nos descrever o que sentia pela sua cativa?

Luís de Camões: Um grande amor só se vive uma vez na vida! É bem verdade, Dinamene conquistou o meu coração e levou-o com ela no momento em que morreu naquele maldito mar. Ah minha Dinamene! Assi deixaste quem não deixara nunca de querer-te! Repousa lá no céu eternamente e viva eu cá na terra sempre triste. Era e é, ainda hoje, a mulher da minha vida, aquela que preenchia e preenche todos os meus pensamentos e me dava inspiração para os meus poemas. Nunca amei ninguém como a amei a ela, como amei a minha Dinamene. Quem me dera tê-la aqui comigo. Alma minha gentil que te partiste tão cedo deste mundo descontente.

Entrevistador: Tantas paixões, tantos amores. No final de tudo, como descreve o amor?

Luís de Camões: O amor?! O amor é o sentimento que mais controvérsia gera nos corações das pessoas. Tanto nos faz sorrir numa hora, como chorar no momento seguinte. É um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É querer a pessoa amada e só pensar nela; é sentirmo-nos sós no meio de uma multidão. É um cuidar que ganha em se perder. Temos vontade de estarmos presos e de servirmos a pessoa que mais amamos. O que não estendo no amor é a forma como ele nos faz sofrer… Sendo ele um sentimento que nos faz tão feliz, não percebo como também nos consegue fazer tão infelizes…

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Entrevistador: Mas, para escrever os seus poemas, não se inspirou apenas no amor… teve outras inspirações. Quais foram elas?

Luís de Camões: Não, não foi só no amor que me inspirei. É certo que maior parte dos meus poemas também acabam por envolver esse sentimento tão estranho, mas também escrevi sobre outros temas como, por exemplo, o desconcerto do mundo: Os bons vi sempre passar no mundo graves tormentos; e, para mais m’espantar, os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos.

Entrevistador: Inspirou-se num grande poeta e humanista do Renascimento: Petrarca. Em que medida este poeta influenciou os seus poemas?

Luís de Camões: Petrarca influenciou os meus poemas na atitude perante a mulher amada: ela era vista como uma fonte de perfeição moral, despertando em mim um amor platónico. A mulher é idealizada, bela, imaculada, perfeita, e faz sofrer porque está longe, por isso, desabafei as minhas mágoas à solidão da natureza, que se tornou o reflexo do meu estado de alma e a minha confidente. Silvestres montes, ásperos penedos, compostos em concerto desigual, sabei que, sem licença de meu mal, já não podeis fazer meus olhos ledos. Do amor também falei nos meus poemas da saudade, do prazer do sofrimento amoroso, da insatisfação do amante e dos efeitos contraditórios do amor. Tanto de meu estado me acho incerto, que, em vivo ardor, tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio, o mundo todo abarco e nada aperto.

Entrevistador: Para além da veia poética, foi também um grande patriota. Fale-nos das batalhas que travou e do que sentiu.

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Luís de Camões: Eu sempre amei a nossa pátria e, apesar de o meu engenho nunca ter sido devidamente reconhecido, nunca desisti de lutar para defender Portugal. Fui sempre um grande soldado! Defendi Portugal tanto nas guerras em África como na Ásia. Em Ceuta, na Batalha de Alcácer Quibir (1547), aventurei-me demais e acabei por me ferir a sério. Fiquei sem o meu olho direito mas não me arrependo. Se fosse hoje tudo teria feito, da mesma maneira!

Entrevistador: A sua estada no Oriente foi muito importante para si. Quer dizer-nos porquê?

Luís de Camões: Foi sim muito importante… pelo lado positivo e pelo negativo! Perdi a minha Dinamene o que me marcou muito e me entristece ainda hoje. Mas, quis o destino que conhecesse, em Macau, um grande companheiro de vida que, desde então, nunca mais me deixou só. Foi Jau António. Fez-me companhia enquanto cantava os seis cantos da minha linda epopeia numa gruta em frente ao mar. Quando morri, foi graças a ele que tive um funeral digno de uma pessoa. Eu vivia na miséria mas ele angariou esmolas e fez-me o enterro. Realmente, na vida nada acontece por acaso e ter conhecido o meu amigo Jau também não o foi!

Entrevistador: Fale-nos agora sobre aquela que é considerada uma das melhores obras épicas de sempre, Os Lusíadas, da sua autoria. O que sentiu ao escrever esta obra?

Luís de Camões: Nos Lusíadas eu canto o esforço formidável de um povo audacioso e persistente, que foi capaz de vencer os difíceis obstáculos da travessia para a Índia de 24-04-2023

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forma pioneira. O nosso povo português nunca desistiu e eu senti necessidade de retratar esse mesmo esforço, essa mesma realidade! Com um pouco de engenho e arte tudo se fez! Não pensei nunca que esta obra fosse tão apreciada por todos mas o resultado foi bastante positivo! Sobre vencerdes, pois, tanto inimigo, e por armas fazer que sem segundo no mundo o vosso nome ouvido seja!

Entrevistador: No entanto, passou por vários percalços que quase o fizeram perder a sua preciosa obra. Quer contar-nos?

Luís de Camões: Pois foi. Foi um episódio muito marcante da minha vida. Já tinha começado a escrita da minha obra épica quando se deu um naufrágio da embarcação onde eu seguia a caminho da Índia. Foi junto à foz do rio Mekong e, por isso, fui obrigado a nadar com apenas um braço e salvar a minha epopeia com o outro! Foi um grande esforço mas valeu a pena!

Entrevistador: Que balanço tem a fazer da sua vida, tanto a nível pessoal como profissional? Das suas obras, dos seus amores, das suas experiências de vida…

Luís de Camões: Oooh, foi uma vida muito triste! Não desejo o que vivi a ninguém, nem aos meus inimigos… e olhe que não tenho poucos! Até a minha vida boémia me fazia sofrer. Não fui feliz em nenhuma parte da minha vida. Como já disse, nem quando amei fui completamente feliz. Erros meus, má fortuna, amor ardente, em minha perdição se conjuraram. Por um lado, foram as más decisões que tomei. Todas elas me fazem, agora, crer que mereci tudo que de mal me aconteceu pois desafiei tudo e todos. Fiz tudo que 24-04-2023

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de errado havia para fazer. Por outro lado, foi a pouca sorte que tive. Nada me corria bem. Se virmos, nem depois dos Lusíadas a minha vida melhorou; continuei a viver na mais pobre das misérias e assim foi até morrer. Para piorar tudo, veio o amor. Para mim, só o amor chegava para desgraçar a minha vida. As magoadas iras me ensinaram a não querer já nunca ser contente. Pois é. Chega-se a uma fase da vida em que já não se acredita na felicidade. É uma atitude pessimista, é certo, mas é também a reacção possível a tudo de mau que nos acontece. Como pode ver, a minha vida não foi muito feliz…

Entrevistador: Obrigada por esta entrevista Sr. poeta Luís de Camões. Ficámos a conhecer melhor a sua história de vida e as duras realidades que enfrentou. Foi muito gentil da sua parte.

Luís de Camões: Ora, o prazer foi todo meu! A minha vida não é um segredo fechado e não é incómodo nenhum falar sobre ela! Até à próxima!

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Trabalho elaborado por: Carolina Pereira Nº2António Fernandes Nº5 Bernardo Rebelo Nº6José António Nº15

10ºA

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