Entrevista a Ana Saldanha

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Ana Saldanha responde aos alunos do 8º ano da SP do LI (2009-2010) A propósito de Uma Questão de Cor…

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Entrevista electrónica feita à escritora Ana Saldanha tendo como pano de fundo a leitura de UMA QUESTÃO DE COR.

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Ana Saldanha responde aos alunos do 8º ano

da SP do LI(2009-2010)

A propósito deUma Questão de Cor…

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SOBRE A OBRA

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1.Porque é que escolheu como tema o racismo? Por que razão o tema e a moral do seu livro estão relacionados com o racismo? (RT+lisi+tomtoms78+ eduardinho+vicky+falar verdade na vida)

Escolhi o tema do racismo porque o problema da discriminação, racial ou outra, me parece muito importante.

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2. Qual era a sua intenção ao escrever este livro? (RT+lisi)

Tentei divertir e fazer pensar os meus leitores.

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3. Inspirou-se num facto vivido quando escreveu o livro? Inspirou-se em acontecimentos vividos por amigos ou por si mesma para escrever a história? O que a inspirou a escrever uma história sobre o racismo? Inspirou-se numa experiência pessoal?(clarinha+green day+danu+youpi+eeeup2001+slb+japlli+alimacak+lolo+latoss78)

Não me inspirei num só acontecimento, mas em várias situações que fui presenciando ou que me contaram. Inspirou-me também a autobiografia de Nelson Mandela (A Long Walk to Freedom – Longo Caminho para a Liberdade), que traduzi antes de escrever Uma Questão de Cor.

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4. Identifica-se um pouco com Nina? A história desta jovem é autobiográfica? (clarinha+caro)

Um pouco, sim, mas não lhe chamaria uma história autobiográfica.

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5. A Nina, de que fala na história, é uma personagem fictícia ou existe realmente? (alimacak)

É fictícia, mas «rouba» características a várias pessoas que conheço - e também a mim própria.

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6. A Nina gosta muito dos jogos de computador. Também gosta deste tipo de tecnologia? (clarinha)

É raro eu jogar jogos de cartas no computador. Mas uso-o para vários outros fins. Por exemplo, para escrever os meus livros, obter informações, contactar amigos (e leitores) e ouvir a Rádio Four, uma estação de rádio inglesa.

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7. Daniel é um grande fã de Mandela. Porquê ter escolhido este homem? (clarinha)

Nelson Mandela é um grande herói do nosso tempo, admirado mundialmente. O Daniel anda a ler a sua autobiografia.

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8. Onde encontrou o nome das personagens da história? São amigos seus? (vicky)

Nina é o nome de uma amiga. Mais tarde, a minha sobrinha Joana deu esse nome à sua gata. Os nomes das outras personagens foram escolhidos ao acaso.

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9. Escreveu este livro para fazer passar através dele a moral de que não se deve ser racista? (caro)

Não. Só quis dar a minha opinião de que quem é racista sofre de estupidez terminal.

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10. Por que é que no seu livro Uma Questão de Cor as personagens centrais são jovens?(latoss78+falar verdade na vida)

De uma maneira geral, todas as personagens dos meus livros são adolescentes. Uma razão prática é o facto de escrever para gente nova (para que toda a gente possa ler o que escrevo, sem excluir ninguém). Mas também acredito que somos todos adolescentes até ao fim da vida. O Vítor Salema podia ter cinquenta anos e a avó da Nina dezasseis...

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11. Conhece alguém que já tenha sido discriminado por causa da cor da pele? (lolo)Se olhar à minha volta, vejo todos os dias

sinais de discriminação. Por exemplo, nas universidades portuguesas praticamente não há alunos de etnia cigana. A discriminação em Portugal é bastante subtil, não do tipo explícito da que existia na África do Sul.

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12. Por que razão Daniel mudou de escola? (eeeup2001)

O que achas? Deixei essa questão em aberto de propósito. Talvez ele tenha sido vítima de bullying, talvez fosse um aluno indisciplinado que a direcção da escola decidiu expulsar. Podes decidir tu.

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13. O exemplo de um rapaz mestiço numa escola frequentada por uma maioria branca ajudou-a a abordar o tema? De que forma? Por que é que escolheu que o Daniel fosse mestiço e não preto? (RT+ green day)

Não me baseei em nenhum caso concreto, mas o facto de o Daniel ser de etnia mista torna a discriminação de que é alvo ainda mais bizarra, se possível, principalmente numa sociedade como a portuguesa em que a «pureza racial» (que conceito mais esquisito!) não é uma preocupação dominante.

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14. Por que é que o Daniel é tão discriminado no livro? Não será exagero? (tomtoms78)

Não, não é exagero. Na sociedade portuguesa, como existe o mito de que não somos racistas, muita gente se sente autorizada a agredir verbalmente (e às vezes de outras formas também) aquelas pessoas que lhes parecem diferentes, desvios à «norma».

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15. Há alguma razão especial para que Daniel seja de Moçambique e não de outro país africano? (green day)

Não, o Daniel não é de origem moçambicana. A mãe é da África do Sul, o pai de Portugal e ambos se conheceram em Moçambique.

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16. Porquê escolher este princípio para o livro? A Nina a jogar no computador? (eduardinho)

Como o computador organiza a estrutura do livro, pareceu-me apropriado que a história começasse por ele.

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17. Não vejo a relação entre o racismo e os computadores.Pode explicar-ma? (japlli)

Não existe qualquer relação.

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18. Como é que foi escrever Uma Questão de Cor? (tomtoms78)

Foi interessante criar personagens e situações divertidas e, ao mesmo tempo, transmitir uma mensagem importante.

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19. Foi difícil criar as personagens em Uma Questão de Cor? (GS)

Algumas mais do que outras. O Vítor foi dos mais fáceis, assim como a mãe da Nina. Gostei de criar a personagem da avó e a relação entre ela e a neta.

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20. Por é que escolheu este títuloUma Questão de Corpara o seu livro? (eduardinho)

Queria aludir ao tema do livro sem revelar imediatamente qual era.

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21. Sente que há semelhanças entre si e algum personagem de Uma Questão de Cor? (danu)

Há semelhanças com todas, mesmo com as menos simpáticas ou menos admiráveis. Fui eu quem as inventei e nelas todas está um pedacinho de mim.

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SOBRE A ESCRITORA

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22. Com que idade começou a escrever? Porquê? (vicky+alimacak)

Tarde, já tinha quase trinta anos. Tinha receio de não ser capaz e não queria pôr-me à prova.

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23. De onde lhe surgiu essa paixão para escrever livros? (tomtoms78)

Da minha paixão pela leitura, principalmente. Queria (e continuo a querer) fazer aos outros aquilo que os escritores me faziam (e fazem) a mim enquanto leitora.

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24. Dedicou-se desde cedo à literatura ou teve outra profissão? (alimacak)

Fui professora. A partir de certa altura, ensinava, escrevia e traduzia. Agora, há dez anos que me dedico apenas a escrever livros e, ocasionalmente, a traduzir outros livros.

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25. Sempre quis ser escritora ou, quando era mais nova, sonhou ter outra profissão? (danu)

Quando eu era pequena, toda a gente dizia que eu ia ser advogada. Gostava de defender causas perdidas... Mas eu sempre quis ser professora e escrever, viver no meio dos livros.

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26. Qual é o seu objectivo ao escrever histórias juvenis? Gosta de escrever para crianças? (latoss78+eeeup2001)

Que toda a gente leia o que escrevo. Não quero excluir ninguém.

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27. Está neste momento a preparar algum livro novo? (slb+japlli)

Vários ao mesmo tempo. Um deles já me acompanha há alguns anos.

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28. Já escreveu outros livros que falam sobre discriminação? (slb)

Já. Em Cinco Tempos, Quatro Intervalos, a protagonista, a Dulce, é uma menina gorda a quem os colegas marginalizam e a quem chamam baleia.

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29. Quando escreve livros, tenta sempre fazer passar uma moral relacionada com o racismo? (caro)

Não. Não escrevo livros para ensinar bons princípios. Esse efeito é uma consequência das minhas convicções, não é a minha intenção principal.

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30. Como é a vida de Ana Saldanha nos tempos livres? (GS)

Adoro ler, ir ao cinema, estar com os amigos e andar de bicicleta. Quando vivia no campo, na Irlanda do Norte, dava grandes passeios de bicicleta. Agora, no centro do Porto, é mais difícil.

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31. Como é que Ana Saldanha se sentiu depois de terminar Uma Questão de Cor? (GS)

Senti o que sinto quando acabo a maior parte dos meus livros: fiquei satisfeita por ter cumprido mais ou menos o objectivo que tinha proposto a mim própria.

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32. A partir de que idade se começou a interessar pelo problema do racismo? Porquê? (youpi)

A discriminação em geral sempre me interessou (e indignou). O racismo, especificamente, tornou-se um tema mais presente quando comecei a conviver com pessoas de outras culturas.

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33. Já lhe aconteceu estar face a uma situação racista? Defendeu a pessoa vítima desse racismo? (youpi)

Até agora, só assisti a manifestações mesquinhas de racismo, principalmente através de palavras insultuosas ditas por pessoas ignorantes. Reajo sempre, por vezes com os mesmos resultados que a Nina tem quando, no autocarro, defende os direitos dos estudantes angolanos.