ENTRE UM SISTEMA ELEITORAL DISPERSIVO E UM … · 2017-08-14 · a Francisco da Silva Cardozo e...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
ENTRE UM SISTEMA ELEITORAL DISPERSIVO
E UM REGRAMENTO PARLAMENTAR CONCENTRADOR
O Comportamento dos Deputados Federais da 53ª Legislatura
Autor: Júlio Roberto de Souza Pinto
Brasília, 2010
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
ENTRE UM SISTEMA ELEITORAL DISPERSIVO
E UM REGRAMENTO PARLAMENTAR CONCENTRADOR
O Comportamento dos Deputados Federais da 53ª Legislatura
Autor: Júlio Roberto de Souza Pinto
Tese apresentada ao Departamento de
Sociologia da Universidade de Brasília/UnB
como parte dos requisitos para a obtenção do
título de Doutor.
Brasília, 2010
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
TESE DE DOUTORADO
ENTRE UM SISTEMA ELEITORAL DISPERSIVO
E UM REGRAMENTO PARLAMENTAR CONCENTRADOR
O Comportamento dos Deputados Federais da 53ª Legislatura
Autor: Júlio Roberto de Souza Pinto
Orientador: Prof. Doutor Caetano Ernesto Pereira de Araújo
Banca: Prof. Doutor Caetano Ernesto Pereira de Araújo (SOL/UnB)
Profª. Doutora Débora Messenberg Guimarães (SOL/UnB)
Prof. Doutor Eurico A. Gonzales Cursino dos Santos (SOL/UnB)
Prof. Doutor David Fleischer (IPOL/UnB)
Prof. Doutor Bruno Pinheiro Wanderley Reis (UFMG)
Prof. Doutor Luís Augusto Sarmento de Gusmão (SOL/UnB – Suplente)
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A Joia, minha esposa,
Esdras, Lucas e Victoria, meus filhos,
demais familiares e amigos, pelo incentivo e pela paciência;
a Voltaire, meu saudoso pai, pelo exemplo de erudição e honestidade;
a Mozart Vianna de Paiva e Fernando Sabóia Vieira, respectivamente
Secretário-Geral e Chefe da Assessoria Técnico-Jurídica
da Mesa da Câmara dos Deputados, pela generosa liberação;
a Francisco da Silva Cardozo e demais companheiros da Câmara, pela incansável ajuda;
a Caetano Ernesto Pereira de Araújo, meu orientador, e demais professores e colegas da
Universidade de Brasília, pelos instigantes e enriquecedores colóquios.
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RESUMO
Este trabalho, empregando uma metodologia construída sobre formulações feitas
por Jürgen Habermas, Pierre Bourdieu e Anthony Giddens, procura combinar uma
explicação da ação dos deputados federais da 53ª Legislatura (2007-2011), a partir de
elementos estruturais, sobretudo as constrições e as potencialidades objetivas inscritas nas
estruturas partidárias, com uma compreensão das representações que esses parlamentares
fazem da própria conduta. No curso desse processo, busca explicar/compreender a
influência da combinação presidencialismo/representação proporcional com lista aberta, de
um lado, e da combinação de poder de agenda do presidente da República/centralização
dos trabalhos da Câmara dos Deputados nas mãos dos líderes partidários, de outro, sobre o
comportamento parlamentar, assim como as ações dos deputados tendentes a reproduzir ou
transformar esse estado de coisas. Conclui que as regras políticas vigentes no Brasil,
juntamente com outros fatores, notadamente culturais, têm concorrido para a formação de
uma multiplicidade de partidos políticos fracos, com pouca capilaridade social, identidade
ideológico-programática e coesão, consistindo de políticos individualistas, particularistas,
personalistas e apartidários, bem como de lideranças parlamentares que não conseguem
influenciar, de modo decisivo, o comportamento das respectivas bancadas. Em
compensação, o governo tem ocupado todos os vazios de poder que os partidos e as
lideranças partidárias não têm sido capazes de preencher nas estruturas da Câmara dos
Deputados. Valendo-se dos poderosos recursos postos a sua disposição, o governo tem
definido a configuração do tabuleiro político da Câmara, não somente cooptando
deputados da oposição, mas também determinando a escolha e a manutenção dos líderes
das bancadas partidárias que integram sua base de sustentação. A análise comparada das
últimas tentativas de reforma do sistema eleitoral-partidário, de uma banda, e de limitação
dos poderes de agenda do presidente, de outra, deixa claro que o governo é a grande força
mobilizadora das estruturas existentes na Câmara dos Deputados.
PALAVRAS-CHAVE: Ação Parlamentar; Estrutura Partidária; Sistema Eleitoral
Dispersivo; Regramento Parlamentar Concentrador; Reforma Política; Limitação dos
Poderes Legislativos do Presidente da República.
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ABSTRACT
This study, employing a methodology built upon formulations made by Jürgen
Habermas, Pierre Bourdieu, and Anthony Giddens, seeks to combine an explanation of the
actions of the members of the Brazilian Chamber of Deputies during the 2007-2011
legislative term, taking into account structural elements, particularly the objective
constrictions and potentialities underlying the party structures, with an interpretative
understanding of the representations the deputies make of their own conduct. In the course
this process, it seeks to explain/understand the influence the combination presidential
system/open list proportional representation, on the one hand, and the combination
president‘s control of the political agenda/Chamber of Deputies centralized structure, on
the other hand, exert on parliamentary behavior, as well as the actions of the deputies
intended to reproduce or transform this state of affairs. It concludes that the existing
political rules in Brazil, together with other factors, notably cultural, have contributed to
the formation of a multiplicity of weak political parties, with little social capillarity,
ideological-programmatic identity and cohesion, consisting of individualistic,
particularistic, personalistic, and non-partisan politicians, as well as of parliamentary
leaders who cannot influence, decisively, the behavior of their own benches. In return, the
executive branch of the government has occupied all the gaps of power that parties and
party leaders have been unable to fill in the structures of the Chamber of Deputies. Taking
the advantage of powerful resources put at its disposal, the executive branch of the
government has defined the configuration of the political chessboard of the Chamber, not
only co-opting opposition deputies but also determining the choice and maintenance of the
leaders of party groups who make up its support base. Comparative analysis of recent
attempts to reform the electoral-partisan system, on the one side, and to limit the
president‘s control of the political agenda, on the other side, makes clear that the executive
branch of the government is the great mobilizing power of existing structures in the
Chamber of Deputies.
KEYWORDS: Parliamentary Action; Party Structure; Dispersive Electoral System;
Concentrative Legislative Regime; Political Reform; Limitation of Legislative Powers of
the President.
7
RÉSUMÉ
Cette étude, utilisant une méthodologie fondée sur des formulations faites par
Jürgen Habermas, Pierre Bourdieu et Anthony Giddens, cherche à combiner une
explication des actions des membres de la Chambre des députés du Brésil, 53e législature
(2007-2011), à partir d‘éléments structurels, en particulier les contraintes et les
potentialités objectives inscrites dans les structures des partis, avec une compréhension des
répresentations que les députés font de leur propre comportement. Au cours de ce
processus, il cherche à expliquer/comprendre l‘influence de la combinaison
présidentialisme/répresentation proportionnelle avec des listes ouvertes, d‘une part, et de la
combinaison puissance de l‘ordre du jour du président de la République/centralisation des
travaux de la Chambre des députés dans les mains des dirigeants de partis, d‘autre part, sur
le comportement des parlementaires, ainsi que les actions de ces députés visant à produire
ou à transformer cet état de choses. Il conclut que les règles politiques existantes au Brésil,
avec d‘autres facteurs, notamment culturels, ont contribué à la formation d‘une multiplicité
de partis politiques faibles, avec peu de capillarité sociale, de l‘identité idéologique-
programmatique et de cohésion, composés de politiciens individualistes, particularistes,
personnalistes et non-partisans, et de dirigeants parlementaires qui ne peuvent pas
influencer, de manière décisive, le comportement de leurs propres bancs. En retour, le
gouvernement a occupé tous les espaces de pouvoir que les partis et les dirigeants de partis
ont été incapables de remplir dans les structures de la Chambre des députés. Profitant des
ressources puissantes à leur disposition, le gouvernement a défini la configuration de
l‘échiquier politique de la Chambre, non seulement en cooptant les députés de l‘opposition,
mais aussi en déterminant le choix et l‘entretien des chefs de groupes politiques qui
composent sa base de soutien. L‘analyse comparative des tentatives récentes de réformer le
système électoral-partisan, d‘un côté, et de limiter les pouvoirs de l‘ordre du jour du
président, de l‘autre, indique clairement que le gouvernement est la grande force
mobilisatrice des structures de la Chambre de députés.
MOTS-CLÉS: Action Parlementaire; la Structure des Partis; Système Électoral
Dispersif; Régime Législatif Concentratif; Réforme Politique; Limitation des Pouvoirs
Législatifs du Président.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 10
CAPÍTULO 1 Agência e estrutura: superando dualismos .............................................................. 17
A teoria da ação comunicativa de Habermas ............................................................................... 19
A teoria da prática de Bourdieu .................................................................................................... 24
A teoria da estruturação de Giddens ............................................................................................ 32
CAPÍTULO 2 As estruturas sociais no interior da Câmara e o posicionamento dos deputados
nessas estruturas ............................................................................................................................... 39
As estruturas partidárias ............................................................................................................... 44
CAPÍTULO 3 A ação dos deputados federais da 53ª Legislatura, particularmente em sua relação
com a estrutura partidária – sistema eleitoral-partidário, em inter-relação com concentração dos
poderes legislativos sobretudo nas mãos do presidente da República ........................................... 126
PL nº 1210/2007 – Reforma política .......................................................................................... 130
PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República .................. 180
Análise comparada ..................................................................................................................... 221
CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 263
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INDICE DE TABELAS
Tabela 1: Partidos com funcionamento na Câmara dos Deputados na 53ª Legislatura, classificados
de acordo com seu posicionamento no espectro ideológico clássico e com seu posicionamento em
relação ao governo ........................................................................................................................... 46
Tabela 2: Estrutura do PCdoB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ................................... 47
Tabela 3: Estrutura do PDT na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ....................................... 52
Tabela 4: Estrutura do PSB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ....................................... 58
Tabela 5: Estrutura do PT na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura .......................................... 62
Tabela 6: Estrutura do PV na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ......................................... 68
Tabela 7: Estrutura do PPS na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ........................................ 71
Tabela 8: Estrutura do PSOL na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ..................................... 75
Tabela 9: Estrutura do PMDB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ................................... 79
Tabela 10: Estrutura do PMN na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura .................................... 89
Tabela 11: Estrutura do PSDB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura .................................. 91
Tabela 12: Estrutura do PP na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ........................................ 96
Tabela 13: Estrutura do PR na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ...................................... 102
Tabela 14: Estrutura do PRB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ................................... 106
Tabela 15: Estrutura do PSC na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ................................... 108
Tabela 16: Estrutura do PTB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ................................... 111
Tabela 17: Estrutura do PTC na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura ................................... 114
Tabela 18: Estrutura do DEM na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura .................................. 116
Tabela 19: Resumo comparativo das estruturas partidárias – Câmara dos Deputados – 53ª
Legislatura ...................................................................................................................................... 122
10
INTRODUÇÃO
A maioria dos estudos sobre a ação dos deputados federais brasileiros, em sua
grande parte realizados por cientistas políticos, tem procurado explicar a atuação desses
parlamentares objetivamente, a partir de elementos estruturais.
Estudiosos como Scott Mainwaring (1993) buscam explicar o comportamento
parlamentar a partir de elementos ditos ―constitucionais‖, dentre os quais se destacam os
sistemas de governo e os sistemas eleitoral-partidários.
Mainwaring entende que a combinação presidencialismo/proporcionalismo ou
multipartidarismo estimularia o radicalismo, a indisciplina partidária e o distanciamento da
vontade do eleitor na ação parlamentar.
Os sistemas proporcionais ou multipartidários facilitariam a entrada de políticos
radicais. Essa polarização ideológica tenderia a ser menor nos sistemas majoritários ou
bipartidários, devido às elevadas barreiras de entrada e à necessidade de ganhar os votos do
centro, características supostamente inerentes a esses sistemas.
Afora isso, sustenta Mainwaring, os parlamentares tenderiam a agir de forma
indisciplinada em sistemas que combinam presidencialismo com proporcionalismo ou
multipartidarismo, na medida em que nesses sistemas as coalizões interpartidárias seriam
construídas e mantidas de forma sempre precária. Uma vez que os ministros são escolhidos
pelos presidentes sem a participação efetiva dos partidos, os integrantes deste último não
estariam firmemente comprometidos a apoiar o governo. Nem mesmo quando seus
partidos detêm ministérios, os parlamentares estariam comprometidos a sustentar o
governo em uma base permanente, não sendo infrequente que governos mantenham em
ministérios membros de partidos apenas para fazer frente à oposição, no parlamento, de
grande parte desses mesmos partidos.
Por último, a responsabilização ou a accountability eleitoral seria dificultada nas
combinações presidencialismo/proporcionalismo ou multipartidarismo, dificuldade
agravada nos casos de fraca institucionalização dos partidos. De acordo com Mainwaring e
Torcal (2005), nos sistemas partidários fluidos, o personalismo, desprovido de
componentes ideológicos, programáticos ou de identificação partidária, exerceria maior
11
influência na hora do voto, é dizer, muitos eleitores seriam influenciados mais pela
personalidade do que pelo partido, políticos antipartidos teriam mais chance de ganhar
eleições, bem como o populismo e a antipolítica seriam mais comuns, tudo isso
concorrendo para uma atuação parlamentar menos comprometida com a vontade dos
eleitores.
Outros estudiosos como Argelina Figueiredo e Fernando Limongi (1999) procuram
explicar a ação dos deputados federais levando em consideração a inter-relação entre tais
elementos constitucionais e os chamados ―procedimentais‖, mantendo, porém, a mesma
perspectiva objetivista.
Figueiredo e Limongi sustentam que, se em alguns países ―elementos
constitucionais‖ como a combinação presidencialismo-proporcionalismo ou
multipartidarismo têm estimulado o radicalismo, a indisciplina partidária e o
distanciamento da vontade dos eleitores na ação parlamentar, tais efeitos, sobretudo no que
toca à indisciplina, no Brasil seriam atenuados e algumas vezes até anulados por
―elementos procedimentais‖ como o forte poder de agenda do presidente da República e a
alta centralização dos trabalhos parlamentares nas mãos dos líderes partidários.
De um lado, a Constituição de 1988 teria mantido os instrumentos introduzidos
pelos militares com vistas a garantir a preponderância do Executivo sobre o Legislativo e
uma maior presteza por parte deste último na consideração das proposições do primeiro,
tais como a iniciativa exclusiva de certas leis, a atribuição de urgência pelo presidente da
República a projetos de sua autoria e a edição pelo chefe do Executivo de medidas
provisórias com força de lei. De outro lado, os recursos legislativos colocados à disposição
dos líderes partidários teriam sido ampliados pelos novos regimentos internos das casas
legislativas. Tudo isso concorreria para uma atuação parlamentar mais disciplinada e
cooperativa. Em outras palavras, os deputados federais não encontrariam um arcabouço
institucional próprio para perseguir interesses particularistas. Ao contrário, a melhor
estratégia para a obtenção de recursos visando a retornos eleitorais seria votar com a
bancada.
Segundo Figueiredo e Limongi, a probabilidade de um deputado federal votar
contrariamente à orientação do líder de sua bancada partidária seria de 0.106 e de uma
12
proposição do Executivo ser rejeitada pelo Plenário da Câmara dos Deputados de 0.026.
Daí que 85,2% das leis brasileiras editadas no período 1988-1998 teriam sido propostas
pelo Executivo (FIGUEIREDO e LIMONGI, 1999, p. 24 e 27). Na produção dos dados
sobre a disciplina partidária, porém, somente levaram em consideração as votações
nominais e, entre estas, aquelas em que não houvera unanimidade nas orientações dos
líderes das maiores bancadas (Op. cit., p. 94-99).
Ainda outros estudiosos como Barry Ames (2000), conquanto mantenham o
enfoque objetivista, buscam explicar a ação dos deputados federais levando em conta
outros elementos. Na avaliação de Ames, o fato de deputados de um mesmo partido
votarem juntos não prova que a influência entre líderes e liderados flui de cima para baixo.
Ao contrário, esse fenômeno poderia demonstrar a ocorrência de um processo de barganha
bem-sucedido, em que quase todos os deputados estariam satisfeitos com seu ganho
individual. De qualquer modo, a análise das votações nominais somente se prestaria para
medir a força das lideranças partidárias dentro de um modelo multivariado. É dizer, para se
fazerem inferências sobre a força dos líderes das bancadas partidárias, seria preciso avaliar
a importância de outros determinantes de votação partidária, incluindo-se entre eles as
ideologias, as características do eleitorado, os benefícios decorrentes de pork-barrel1 e o
tempo de permanência no cargo.
São raros, entretanto, os estudos que procuram combinar uma explicação da ação
dos deputados federais a partir de elementos estruturais, de um lado, com uma
compreensão do sentido que os próprios atores atribuem a sua conduta, de outro. A maioria
atem-se apenas a generalizações explicativas ou a processos e circunstâncias que se
desenrolam ―nas costas‖ desses agentes, desprezando as generalizações cognitivamente
sustentadas, explícita ou tacitamente, por esses atores e recorrentemente mobilizadas na
produção cotidiana de suas condutas.
Este trabalho, todavia, empregando uma metodologia construída sobre formulações
feitas por Jürgen Habermas, Pierre Bourdieu e Anthony Giddens, procura explicar a ação
dos deputados federais da presente legislatura (2007-2011), particularmente em sua relação
1 Envolve o financiamento de programas governamentais cujos benefícios ficam circunscritos a uma área
particular, mas cujos custos são distribuídos a todos os contribuintes.
13
com a estrutura partidária, a partir das restrições e das habilitações objetivas inscritas em
seu posicionamento nessa estrutura em particular e na estrutura da Câmara em geral, ao
mesmo tempo em que busca compreender a representação que esses parlamentares podem
fazer do posicionamento deles próprios e de seus correligionários e adversários, em função
das informações que detêm e de suas estruturas cognitivas, ao pressuposto de que essa
representação é elemento constitutivo de sua conduta.2
A ação dos deputados é aqui percebida como toda e qualquer intervenção desses
agentes nos processos em curso na Câmara, definida pelo capital específico que possuem,
de maneira que seus efeitos, sem essa intervenção, não se teriam operado, tenham eles
correspondido ou escapado às intenções dos atores. Estrutura, por sua vez, é concebida
neste trabalho como campo de forças, dotado de estrutura, e campo de lutas para conservar
ou transformar esse campo de forças; como regras e recursos virtuais de conduta,
organizados como propriedades das diferentes bancadas partidárias e de outras estruturas
sociais existentes na Câmara, mas mnemonicamente estocados na cognição de seus
integrantes, e mobilizados nas práticas parlamentares. As bancadas partidárias e as demais
estruturas existentes na Câmara são espaços ou sistemas sociais criados, em suas relações e
interações, pelos próprios deputados que neles se posicionam; esses espaços ou sistemas, a
seu turno, determinam as ações parlamentares. Existem, obviamente, diferentes espaços ou
sistemas sociais no interior dos quais relações e práticas são produzidas e reproduzidas no
âmbito da Câmara dos Deputados. As bancadas partidárias, com suas propriedades
2 De acordo com Giddens, ―lay beliefs are not mderely descriptions of the social world, but are the very basis
of the constitution of that world, as the organized product of human actions (…) Sociology stands in more
complex relation to its ‗subject matter‘ – human social conduct – than natural science does. The natural world
is transformed by human activity, but it is not constituted as an object-world by human beings. The social
world, on the other hand, is constituted and reproduced through and in human action; the concepts of
‗common sense‘, and the everyday language in which they are expressed, are drawn upon by lay actors to
‗make social life happen‘ (…) Ordinary language is the medium whereby social life is organized as
meaningful by its constituent actors (…) Ordinary language is not therefore just a topic that can be made
available for analysis, but is a resource that every sociological or anthropological observer must use to gain
access to his or her researchable subject matter‖ (1995, p. 234 e 237).
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estruturais, entretanto, são aqui percebidas como os mais importantes desses espaços ou
sistemas.3
No curso desse processo explicativo/compreensivo do comportamento parlamentar,
procuraram-se respostas às seguintes questões:
I – Como o sistema eleitoral-partidário, notadamente o sistema proporcional de lista
aberta, combinado com o sistema presidencialista de governo, tem influenciado a ação dos
deputados federais na atual legislatura, particularmente em sua relação com a estrutura
partidária?
II – Como o poder de agenda do presidente da República, combinado com a
centralização das atividades da Câmara dos Deputados nas mãos dos líderes partidários,
tem confluído com aqueles elementos ditos ―constitucionais‖ em tal comportamento
parlamentar?
III – Como os deputados, por sua vez, têm agido para reproduzir ou transformar
esse estado de coisas?
No afã de se explicar/compreender a ação dos deputados federais na presente
legislatura (2007-2011), procurou-se, inicialmente, identificar todas as estruturas
partidárias em funcionamento na Câmara dos Deputados e os parlamentares a elas
relacionados, a partir de dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos
Deputados. O critério utilizado foi o estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal – STF na
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.351, em 2006, e no Mandado de Segurança nº
26.460, em 2007: têm direito a funcionamento parlamentar e, por conseguinte, fazem jus a
representação e liderança os partidos que tenham elegido para a Câmara dos Deputados e
ali mantenham filiados pelo menos três representantes de diferentes estados.
3 A diferença entre ―espaço‖, ―campo‖, ―sistema‖, ―estrutura‖ e ―propriedade estrutural‖ nem sempre é clara
no emprego que Bourdieu e Giddens fazem desses vocábulos. Giddens, por exemplo, apesar de dizer que
―sistema‖ e ―estruturação‖ são conceitos mais precisos do que ―estrutura‖, não vê, contudo, qualquer
problema em se falar em ―estrutura de classe‖ ou ―estrutura das sociedades industrializadas‖ para indicar, de
maneira geral, características institucionais de uma sociedade ou conjunto de sociedades (1986 [1984], p. 18-
19).
15
Em seguida, buscou-se definir o grau de institucionalização dessas estruturas
partidárias ou de padronização de condutas e práticas em seu interior, como os deputados
se posicionam em tais estruturas partidárias, o capital específico que esses parlamentares
aportam, bem como as relações de força instauradas no interior de cada estrutura partidária
em particular e da Câmara em geral. Para isso, procedeu-se ao levantamento de dados junto
à Secretaria-Geral da Mesa e às Lideranças Partidárias, à observação de interações no
interior das estruturas partidárias em particular e da Câmara em geral e à entrevista
semiestruturada, primeiro de servidores da Câmara, principalmente assessores das
Lideranças Partidárias, e depois de deputados. As interações que se observaram e os
assessores que se entrevistaram foram selecionados a partir da construção de um sistema
de rede, em que se buscaram, entre os servidores, ―egos focais‖ que dispusessem de
informações úteis ao mapeamento das estruturas e à decodificação de suas regras. Os
deputados entrevistados foram selecionados entre aqueles que mais se destacaram nos
processos analisados.
Por último, procurou-se explicar as ações dos deputados federais da atual
legislatura, particularmente em sua relação com as estruturas partidárias assim definidas,
levando-se em conta as constrições e as possibilidades objetivas inscritas no
posicionamento desses agentes em tais estruturas, ao mesmo tempo em que se buscou
compreender a representação que esses parlamentares fazem desse posicionamento e das
relações de força instauradas no interior de tais estruturas. Procurou-se
explicar/compreender como a combinação de presidencialismo com proporcionalismo ou
multipartidarismo e outros aspectos do sistema eleitoral-partidário, em inter-relação com a
combinação de forte poder de agenda do presidente da República com alta centralização
dos trabalhos parlamentares nas mãos dos líderes, tem influenciado o comportamento dos
deputados federais nesta legislatura, ao mesmo tempo em que se buscou
explicar/compreender as ações desses parlamentares tendentes a reproduzir ou transformar
esse estado de coisas.
As ações parlamentares assim explicadas/compreendidas, portanto, foram as
proposições (propostas de emendas à Constituição – PECs, projetos de lei complementar –
PLPs, projetos de lei ordinária – PLs, projetos de resolução – PRCs, emendas e pareceres),
os pronunciamentos nas justificações, nas discussões e nos encaminhamentos das matérias,
16
os votos nominais e as questões de ordem em torno dos seguintes eixos temáticos: (I)
sistema de governo combinado com sistema eleitoral-partidário, ou seja, presidencialismo
combinado sobretudo com proporcionalismo de lista aberta – elementos ditos
―constitucionais‖; e (II) poder de agenda do presidente da República combinado com
centralização das atividades parlamentares nas mãos dos líderes – elementos chamados
―procedimentais‖. Somente foram consideradas as proposições apresentadas na presente
legislatura e, entre essas, as que já haviam sido objeto de parecer.
Na primeira parte dessa última fase do trabalho, a parte explicativa, procedeu-se à
análise de documentos obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos
Deputados: fichas de tramitação das proposições; inteiro teor das proposições principais e
das apensadas, das emendas e dos substitutivos, assim como as redações finais; notas
taquigráficas dos pronunciamentos nas discussões e nos encaminhamentos das matérias,
bem como das questões de ordem; e resultados das votações eletrônicas.
Na segunda parte, a parte compreensiva, além da análise das justificações das
proposições e dos pronunciamentos, procedeu-se à entrevista semiestruturada dos
deputados que tiveram atuação destacada nesses processos, seja por terem sido os autores
das proposições, das emendas e das questões de ordem, seja por haverem participado das
discussões e dos encaminhamentos das matérias, seja por terem votado contra a orientação
do líder ou em divergência com a maioria da bancada. Na seleção dos deputados
entrevistados considerou-se ainda a representatividade das diferentes posições ideológicas,
do governo e da oposição, das maiores e das menores bancadas, entre outras variáveis. Os
guias das entrevistas semiestruturadas foram elaborados levando-se em conta o
posicionamento dos deputados nas estruturas partidárias e as relações de força instauradas
no interior dessas estruturas, as ações desses parlamentares tendentes a reproduzir ou
transformar as combinações presidencialismo/proporcionalismo ou multipartidarismo e
poder de agenda do presidente da República/centralização dos trabalhos parlamentares nas
mãos dos líderes, bem assim as entrevistas dos assessores das Lideranças Partidárias. As
entrevistas com os deputados foram, pois, o procedimento derradeiro.
17
CAPÍTULO 1 Agência e estrutura: superando dualismos
À medida que um dos termos da dicotomia estrutura/agência é tomado como
elemento explicativo do outro, o pensamento social clássico e contemporâneo pode ser,
grosso modo, dividido em dois conjuntos de perspectivas teóricas: de um lado, o conjunto
de perspectivas objetivistas e estruturalistas, que, a despeito de discordarem sobre questões
como a importância do consenso ou conflito no fluxo da vida social, centram sua análise
nas coerções exercidas pelas estruturas sociais sobre a conduta dos atores individuais,
caracterizando as propriedades de tais arranjos sociais como operando à revelia da vontade
dos indivíduos; de outro lado, o conjunto de abordagens subjetivistas e individualistas, que
focam nas diversas orientações subjetivas e procedimentos práticos de conduta
intencionalmente mobilizados pelos indivíduos na produção da ação e da interação social,
concebendo a ordem societária e suas instituições mais amplas como produtos contínuos e
contingencialmente modificáveis das ações de tais agentes reflexivos.
Ainda arriscando incorrer em generalização grosseira, entre as perspectivas mais
próximas ao enfoque objetivista e estruturalista, poderiam ser citados a sociologia de Émile
Durkheim, o estrutural-funcionalismo radical da última fase da obra de Talcott Parsons, a
abordagem teórico-sistêmica de Niklas Luhmann, a antropologia estruturalista de Claude
Lévi-Strauss e as diversas interpretações determinísticas do marxismo, como a de Louis
Althusser. Entre as abordagens mais próximas ao enfoque subjetivista e individualista, por
sua vez, poderiam ser mencionados o interacionismo simbólico de George Herbert Mead e
de Herbert Blumer, a microssociologia dramatúrgica de Erving Goffman, a fenomenologia
social de Alfred Schültz, a etnometodologia de Harold Garfinkel, as filosofias neo-
wittgensteinianas da ação social e, com maiores reservas, a teoria da escolha racional.
Para Jürgen Habermas, Pierre Bourdieu e Anthony Giddens, entretanto, essa
dicotomização tem causado enormes prejuízos ao desenvolvimento da teoria social.4
Entendem esses autores, cada um a sua maneira, que um esforço de síntese teórica capaz
de articular o plano das estruturas coletivas – dos padrões institucionalizados de conduta
4 « De toutes les oppositions qui divisent artificiellement la science social, la plus fondamentale, e la plus
ruineuse, est celle qui s‘établit entre le subjectivisme et l‘objectivisme » (BOURDIEU, 1980, p. 43).
18
ou de relações que atuam coercitivamente sobre a formação/socialização e sobre a contínua
ação dos agentes individuais, estendendo-se pelas coordenadas tempo-espaciais mais
amplas que conformam grupos ou sociedades inteiras e transcendendo as existências
individuais – com o plano da ação – da conduta individual cotidiana e de seus motores
subjetivos – é necessário à explicação/compreensão mais acurada da vida societária.
Habermas, Bourdieu e Giddens, estes dois últimos de modo mais claro, em suas
tentativas de superação dessas antinomias inter-relacionadas (estrutura/agência,
objetivismo/subjetivismo, estruturalismo/individualismo), construíram versões diferentes
de uma mesma perspectiva teórico-metodológica, de acordo com a qual a referência
ontológica fundamental para a investigação das entidades e dos processos constitutivos da
vida societária não é qualquer forma de totalidade coletiva concebida de modo reificado
nem a experiência subjetiva do ator individual, mas as práticas sociais desenroladas em
contextos sócio-históricos definidos, concebidas como locus fundamental de
entrelaçamento entre as dimensões objetivas e subjetivas do universo societário.
19
A teoria da ação comunicativa de Habermas
Jürgen Habermas (1988[1967]) refere-se à análise weberiana do binômio
explicação/compreensão, do qual anteriormente se ocupou Wilhelm Dilthey. Cita a
definição de sociologia que dá Max Weber no primeiro parágrafo de Economy and society,
de acordo com a qual sociologia é ―a science concerning itself with the interpretative
understanding of social action and thereby with a causal explanation of its course and
consequences‖ (p. 10), para, em seguida, destacar o tratamento ambíguo dispensado por
Weber ao assunto. Na visão habermasiana, Weber, de um lado, insistia na tarefa empírico-
analítica de explicar a ação social com a ajuda de hipóteses legaliformes acreditadas e de
fazer prognósticos condicionados. À medida que o objeto o exija, essa análise pode vir
mediada por uma compreensão do sentido das ações sociais. Mas essa intenção de entender
o sentido que o agente subjetivamente atribui a sua ação só pode ter a finalidade de dar
acesso aos fatos sociais, pois esses fatos sociais apenas são conhecidos quando a análise,
indo além de tal ―compreensão propedêutica‖, apreende os nexos legaliformes que os
regem. A intenção hermenêutica de compreender o sentido tem, portanto, um status
subordinado. Por outro lado, Weber, ainda na perspectiva habermasiana, como um bom
discípulo de Heinrich J. Rickert, não podia esgotar seu interesse na investigação de
regularidades empíricas. Daí que considerava a dedução e a comprovação de hipóteses
legaliformes, a partir das quais se possam obter recomendações técnicas, como trabalho
prévio, que, como tal, não conduz ao ―conhecimento que buscamos‖ (p. 13). É o
procedimento de explicação que é agora relegado a um status metodologicamente
subordinado. Weber, porém, na avaliação habermasiana, falhou em não pôr em conexão
essas duas intenções cognitivas contrapostas. Para Habermas, essas ―two conflicting
cognitive intentions arises in the social sciences only because there the knowing subjects
are intuitively linked with their object domain‖ (p. 14).
Para Habermas, a visão funcionalista de Talcott Parson – incluída acima entre as
abordagens que se aproximam do enfoque objetivista e estruturalista – dos sistemas sociais
como plexo funcional de instituições enfrenta uma dificuldade de princípio: a identificação
suficientemente confiável de um estado de equilíbrio. Segundo ele, a reprodução da vida
social não vem fixada, como a reprodução na vida orgânica, por valores que possam ser
apreendidos descritivamente, tampouco são encontradas, nos processos sociais, funções
20
vitais que, como as funções orgânicas nos seres vivos, bastem para definir a conservação
do sistema em um estado de equilíbrio. Não existem valores de controle a priori; no
máximo, eles podem ser politicamente construídos. Na avaliação habermasiana, a saída
dessa dificuldade seria pela via de uma ―rehistoricização da análise da sociedade‖ (p. 85).
Em conformidade com o funcionalismo, os motivos da ação se harmonizam com os valores
institucionais. Daí que as energias pulsionais não integradas não são apreendidas
analiticamente. Habermas, porém, entende que essas necessidades reprimidas têm suas
interpretações. Ou essas interpretações se disparam por cima do existente, designando,
como antecipação utópica, uma identidade grupal ainda não alcançada, ou servem, trocadas
em ideologias, tanto à justificação das instâncias repressoras das pulsações quanto a uma
satisfação substitutiva de caráter projetivo. No entanto, se não se parte de infundados
pressupostos harmonicistas, a ligação de energias pulsionais a regras e papéis está sempre
associada também à repressão das necessidades interpretadas que não podem ser integradas
nos papéis oferecidos. Assim, se tanto as interações plenas de sentido como as coações
reativas motivam igualmente o comportamento, segue-se que a instituição dos valores deve
ser entendida dialeticamente, sendo a ação social resultante de ambas. ―The ratio of action
that is merely elicited by split-off motives to action that is intentionally guided by the
communication of meaning determines the degree of freedom of the social action – the
degree of flexibility of institutions and the degree of individuation of individuals‖ (p. 88).5
Em seguida, Habermas passa a tratar dos enfoques fenomenológico, lingüístico e
hermenêutico, inseridos acima entre as perspectivas que estão próximas à abordagem
subjetivista e individualista. Na visão habermasiana, essas versões da sociologia
compreensiva estão tão preocupadas com o problema da adequada descrição das formas de
comportamento mediadas simbolicamente que suas explicações da ação social vêm a
coincidir com a aclaração compreensiva do sentido. Alfred Schütz, na perspectiva
habermasiana, faz uma tentativa sistemática de extrair do marco rickertiano a colocação
5 Para Giddens, conquanto presumidamente uma crítica da dominação, a teoria social de Habermas
surpreendentemente se aproxima do ―funcionalismo normativista‖ de Parsons, na medida em que ambos
enfatizariam as normas em detrimento do poder no exame das interações sociais. A crítica da dominação
habermasiana seria mais voltada à liberdade de comunicação ou de diálogo do que às transformações
matérias nas relações de poder (GIDDENS, 1995, p. 256).
21
que faz Weber dos problemas básicos de uma sociologia compreensiva e de situá-la no
horizonte de uma fenomenologia do mundo da vida estritamente vinculada a Edmund
Husserl. Para Schütz, o mundo da vida se articula em plexos de significados culturalmente
definidos e diferentemente distribuídos, os quais circunscrevem o campo de
intencionalidade dentro do qual se orienta a ação social. Harold Gurfinkel, seu discípulo,
vê as estruturas do mundo da vida como regras gerais de interpretação em conformidade
com as quais os agentes definem as situações cotidianas e se definem a si mesmos. Na
avaliação de Habermas, entretanto, em uma linguagem muito parecida com a de Bourdieu,
como se verá adiante,
we grasp the structure of individual lifeworlds only through communication experienced in
a social context;6 one learns the specific rules of communication through systematic
participation and not, as Schutz assumes, through phenomenological intuition or, as
Cicourel and Garfinkel assume, through phenomenologically guided experiments (...) The
empirical conditions under which transcendental rules are formed and that establish the
constitutive order of the lifeworld are themselves the result of process of socialization.
Thus I cannot see how the processes can be understood without reference to social norms.
But if this is the case, the rules of interpretation can in principle not be distinguished from
the rules of social action (...) Both are moments of the same social life-context (p. 113,
115-116).
Ainda na visão habermasiana, a análise linguística, como a fenomenológica, conduz
à fundamentação de uma sociologia compreensiva que estuda a ação social no plano da
intersubjetividade. Mas a intersubjetividade não mais se estabelece pelo recíproco
entrelaçamento de perspectivas virtualmente intercambiável de um mundo da vida. Antes,
ela vem dada como as regras gramaticais das interações regidas por símbolos. Ludwig
Wittgenstein, como representado por Habermas, entendia esses jogos de linguagem como
um complexo de linguagem e práxis. Entender a linguagem remete a saber atuar, estando
essa ação comunicativa ligada a expectativas simbolizadas de comportamentos. Em sua
6 ―Sólo podemos aprehender la estructura de los mundos individuales de la vida por vía de las
comunicaciones convertidas socialmente en hábitos‖ (La lógica de las ciencias sociales. 3ª ed. Madri:
Tecnos, 199, grifo meu).
22
segunda fase, Wittgenstein não mais buscava descobrir uma linguagem universal que
garantisse a exatidão, mas sim uma ordem imanente à linguagem natural. Na avaliação
habermasiana, porém, Wittgenstein não conseguiu responder a questão do ―jogo da
metalinguagem‖ (p. 136): se todo enunciado só tem sentido no contexto de seu jogo de
linguagem e se a análise da linguagem deixa transparentes os jogos de linguagem
monádicos, de que jogo de linguagem se serve essa análise? Para Habermas, o analista da
linguagem, no papel de intérprete corporativo, tem de pressupor sempre um conceito de
linguagem em geral e uma pré-compreensão concreta para a qual convirjam diferentes
linguagens. O intérprete estabelece uma mediação entre padrões de socialização diferentes
e, para efetuar essa tradução, apoia-se nos padrões em que ele mesmo foi socializado.
Com isso, Habermas introduz H. G. Gadamer e o campo da hermenêutica. Para
Gadamer, na perspectiva habermasiana, as próprias línguas contêm um potencial de uma
razão que, expressando-se na particularidade de uma gramática, empreende, ao mesmo
tempo, uma reflexão sobre os limites dela e os nega como particulares. O horizonte de uma
língua abrange também o que ela não é. Daí que tampouco os limites do mundo que ela
define sejam irrevogáveis. O enfrentamento do próprio com o estranho tem como
consequência, quase sempre imperceptivelmente, revisões. A tradução é o meio pelo qual
essas revisões se produzem. A hermenêutica conduz a um saber aplicativo que Gadamer
explica recorrendo à definição aristotélica de saber prático: ele é reflexivo (um saber-se),
internalizado (converte-se em parte da estrutura da personalidade) e global. Na avaliação
habermasiana, no entanto,
an interpretative sociology that hypostatizes language as the subject of life forms and of
tradition binds itself to the idealist presupposition that linguistically articulated
consciousness determines the material being of life-practice. But the objective context of
social action is not reducible to the dimension of intersubjectively intended and
symbolically transmitted meaning. The linguistic infrastructure of society is a moment in a
complex that, however symbolically mediated, is also constituted by the constraints of
reality (...) The objective context in terms of which alone social actions can be understood
is constituted conjointly by language, labor, and domination (p. 173-174).
Por isso, conclui Habermas, a sociologia não pode ser reduzida a uma sociologia
compreensiva. Ela exige um sistema de referência que, por um lado, não elimine, em
23
termos naturalistas, a mediação simbólica da ação social, a favor de um comportamento
simplesmente controlado por signos e produzido por estímulos, mas que, por outro,
tampouco caia no idealismo da linguisticidade e sublima por inteiro os processos sociais a
tradição cultural. Os limites de uma sociologia compreensiva são os limites de seu próprio
conceito de motivação: explica a ação social por motivos que coincidem com as
interpretações que da situação fazem os próprios agentes.
If we insist nevertheless on an empirical-analytic understanding of the system, we must
concern ourselves with communicative experience and accept a categorial framework that
is in principle linked to self-understanding of acting subjects and that can also be
incorporated in turn into that self-understanding (p. 187).
24
A teoria da prática de Bourdieu
Para Pierre Bourdieu (2001), por sua vez, a tradição estrutural-funcionalista da
sociologia da ciência rompeu com a visão oficial das epistemologias americanas: ela atenta
ao aspecto contingente da prática científica. Robert Merton e seus discípulos propuseram
uma descrição coerente da ciência que se caracteriza, segundo eles, pelo universalismo, o
comunismo ou o comunalismo, o desinteresse e o ceticismo organizado. Essa abordagem,
porém, na perspectiva bourdieusiana, não faz a menor referência a como os processos
científicos são regulados. Antes, aceita a definição dominante, logicista, da ciência.
Nesse quadro, avalia Bourdieu, a principal contribuição de Thomas Kuhn foi
mostrar que o desenvolvimento da ciência não é um processo contínuo, mas um processo
marcado por uma série de rupturas e pela alternância de períodos de ―ciência normal‖ e de
―revoluções‖. Com isso, ele introduziu na tradição anglo-saxônica uma filosofia
descontinuísta da evolução científica em ruptura com a filosofia positivista, que
considerava a ciência como um movimento de acumulação contínua. Além disso, ele
elaborou a ideia de ―comunidade científica‖, de acordo com a qual os cientistas formam
uma comunidade fechada cuja pesquisa tem por objeto um leque bem definido de
problemas e que utiliza métodos adaptados a esse trabalho. As ações dos estudiosos nas
ciências avançadas são determinadas por um ―paradigma‖ ou ―matriz disciplinar‖, é dizer,
um estado de realização científica que é aceita por uma fração importante dos estudiosos e
que tende a se impor sobre todos os outros. Em que pese a haver chamado a atenção para
as rupturas, para as revoluções, a descrição quase durkheimiana que faz Kuhn do mundo
científico como uma comunidade dominada por uma norma central não convenceu
Bourdieu de que tenha ele proposto um modelo coerente de explicação da mudança. Tal
modelo, todavia, pode ser construído a partir de uma leitura ―particularmente generosa‖ do
conflito interno entre a ortodoxia e a heresia, entre os defensores do paradigma e os
inovadores. Bourdieu, de fato, surpreendentemente reconheceu dever a Kuhn, por meio
dessa reinterpretação, a essência de sua representação da lógica do campo e de sua
dinâmica: «J‘ai conscience d‘avoir à Kuhn, à travers cette réinterpretation, l‘essence de ma
répresentation de la logique du champ et de sa dynamique» (p. 36). Kuhn, que nunca teve
nada de revolucionário, foi adotado, um pouco a contragosto, como um profeta por seus
25
alunos da Universidade de Columbia e integrado ao movimento da ―contracultura‖, que
rejeitava a ―racionalidade científica‖ e reivindicava a imaginação contra a razão.
Nessa esteira, continua Bourdieu, David Bloom se apoia em Ludwig Wittgestein
para fundar uma teoria da ciência em conformidade com a qual a racionalidade, a
objetividade e a verdade são normas socioculturais locais, são convenções adotadas e
impostas por grupos particulares. Para Barry Barnes, na visão bourdieusiana, os interesses
sociais suscitam as táticas de persuasão, as estratégias oportunistas e as disposições
culturalmente transmitidas que influenciam o conteúdo e o desenvolvimento do
conhecimento científico. Bourdieu atribui a Harry Collins o mérito de lembrar que o fato é
uma construção coletiva e que é na interação entre aquele que produz o fato e aquele que o
recebe e tenta replicá-lo, falsificando-o ou conformando-o, que se constrói o fato atestado,
certificado. Na avaliação de Bourdieu, entretanto, a maior limitação do chamado
―programa forte‖, representado por Bloom, Barnes e Collins, reside no fato de que
il reste enferme dans une vision interactionniste qui cherche dans les interactions entre les
agents le principe de leurs actions et ignore les structures (ou les relations objectives) et les
dispositions (le plus souvent corrélées avec la position occupée dans ces structures) qui
sont le veritáble principe des actions et, entre autres choses, des interactions elles-mêmes
(qui peuvent être la médiation entre les strucutures et les actions) (p. 46).
Ainda dentro da categoria ―relativista‖ (e que se aproxima da perspectiva
subjetivista e individualista aludida acima) – em contraste com a categoria ―logicista‖,
representada pelos mertonianos (e que, por sua vez, aproxima-se do enfoque objetivista e
estruturalista) –, Bourdieu refere-se aos trabalhos de Bruno Latour e Steve Woolgar, de
acordo com os quais os produtos da ciência são o resultado de um processo de fabricação e
o laboratório – universo artificial, isolado do mundo – é o lugar da construção ou mesmo
―criação‖ dos fenômenos. Latour e Woolgar, na avaliação bourdieusiana, querem com isso
dizer que os fatos são fictícios, não objetivos, não autênticos. Sendo os fatos científicos
construídos, comunicados e avaliados sob a forma de proposições escritas, o trabalho
científico é essencialmente uma atividade literária e interpretativa. Esse semiologismo, a
seu turno, combina-se com uma visão ―ingenuamente maquiavélica‖ das estratégias dos
estudiosos: as ações simbólicas que estes últimos perpetram para tornar reconhecidas suas
ficções são, ao mesmo tempo, estratégias de influência e de poder pelos quais eles servem
26
sua própria grandeza. Para Bourdieu, por não procurar o princípio das ações lá onde ele
realmente está – nas posições e nas disposições –, Latour não pode encontrá-lo senão nas
estratégias conscientes e mesmo cínicas de influência e de poder, regressando assim de um
finalismo dos coletivos à la Merton a um finalismo dos agentes individuais.7
7 O objetivismo, na avaliação de Bourdieu, ao ignorar aquilo que a análise fenomenológica denomina de
―experiência do mundo familiar‖, deixa de ―objetivar a relação objetivante‖. ―On ne peut donc dépasser
l‘antinomie apparente des deux modes de connaissance et en intégrer les acquis qu‘à condition de
subordonner la pratique scientifique à une connaissance du ‗sujet de connaissance‘ » (1980, p.46). O
estruturalismo de Lévi-Strauss, por exemplo, « ignore la dialectique des structures sociales et des dispositions
strutucturées et structurantes dans laquelle se forment et se transforment les schèmes de pensée (...) Il suffit
d‘ignorer la dialectique des structures objectives et des structures incorporées qui s‘opère dans chaque action
pratique pour s‘enfermer dans l‘alternative canonique qui (...) voue ceux qui entendent prendre le contrepied
du subjectivisme, comme aujourd‘hui les lecteurs structuralistes de Marx, à tomber dans le fétichisme des
lois sociales: convertir en entités transcendentes (...) les constructions auxquelles la science doit avoir recours
pour rendre raison des ensembles structurés et sensés que produit l‘accumulation d‘innombrables actions
historiques, c‘est réduire l‘histoire à un ‗processus sans sujet‘ et substituer simplement au ‗sujet créateur‘ du
subjectivisme un automate subjugué par les lois mortes d‘une histoire de la nature. Cette vision émanatiste
qui fait de la structure, Capital ou Mode de production, une entéléchie se développant elle-même dans un
processus d‘autoréalisation, réduit les agents historiques au rôle de ‗supports‘ (Träger) de la structure et leurs
actions à de simples manifestations épiphénoménales du pouvoir qui appartient à la structure de se
développer selon ses propres lois et de déterminer ou de surdéterminer d‘autres structures » (Ibidem, p. 69-
70). Não é sem razão que J. P. Sartre se insurge contra a sociologia objetivista, « qui ne peut saisir qu‘une
‗socialité d‘inertie‘ » (Ibidem, p. 73). Porém, no julgamento de Bourdieu, o voluntarismo ativista de Sartre,
―impatient de toutes les necessites transcendantes, le porte à refuser la classe comme la classe de conditions
et de conditionnnements, donc de dispositiones et de styles de vies durables, dans laquelle il voit une classe
chose, une classe essence, enfermée dans son être, réduite à l‘inertie, donc à l‘impuissance, et à laquelle il
oppose ‗le groupe totalisant dans une praxis », né de la classe chose, mais contre elle. Toutes les desciptions
‗objectives‘ de cette classe ‗objective‘ lui paraissent s‘inspirer d‘un pessimisme sournoisement
démobilisateur, qui vise à enfermer, voire à enforcer la classe ouvrière dans ce qu‘elle est et à l‘éloigner ainsi
de ce qu‘elle a à être, de la classe mobilisée, donc on pourrait dire, comme du sujet sartrien, qu‘elle est ce
qu‘elle se fait » (Ibidem, p. 73-74). Na avaliação de Bourdieu, deve-se a Sartre uma formulação ultra-
consequente da filosofia de ação que aceitam aqueles que descrevem as práticas como estratégias
explicitamente orientadas a fins expressamente postos por um livre projeto ou a reações antecipadas de
outros agentes. Esse economismo finalista ―qui, pour rendre raison dês pratiques, les rapporte de manière
directe et exclusive aux intérêts économiques traités commme fins consciemment posés a ainsi en commun
avec l‘économisme mécaniste qui les rapporte de manière non moins directe et exclusive aux intérêts
économiques définis de manière tout aussi étroite, mais traités comme causes, le fait d‘ignorer que les
27
Um dos pontos centrais que separa Bourdieu de todas as análises às quais ele se tem
referido até agora é o conceito de campo. O campo científico, como os outros campos, é
um campo de força, dotado de uma estrutura, e um campo de lutas para conservar ou
transformar esse campo de forças. Os agentes, estudiosos isolados, equipes ou laboratórios
criam, por suas relações, o espaço mesmo que os determina. Esse espaço não existe senão
pelos agentes que nele se posicionam, conferindo-lhe certa estrutura. São os agentes,
definidos pelo volume e pela estrutura do capital específico que possuem, que determinam
a estrutura do campo que os determina. O domínio de uma quantidade importante de
capital confere um poder sobre o campo e, consequentemente, sobre os agentes menos
dotados de capital, e comanda a distribuição das oportunidades de lucro. O dominante é
aquele que ocupa na estrutura um lugar tal que a estrutura age em seu favor. Cada ato
científico é, como toda prática, o produto do encontro de duas histórias, uma história
incorporada sob forma de disposições e uma história objetivada na estrutura mesma do
campo e nos objetos técnicos (nos instrumentos), nos escritos etc. «Les stratégies des
chercheurs sont orientées par les constraintes et les possibilites objectives qui son inscrites
dans leur position et par la représentation (elle-même liée à leur position) qu‘ils peuvent se
faire de leur position et de celle de leurs concurrents, en fonction de leur information et de
leurs structures cognitives» (p. 73). A margem de liberdade deixada às estratégias
dependerá da estrutura do campo, caracterizada por um grau mais ou menos elevado de
concentração de capital; mas essa estrutura se organizará sempre em torno da oposição
principal entre os dominantes e os dominados ou desafiantes. Os primeiros detêm
vantagens decisivas na competição, entre outras razões porque constituem ponto de
referência obrigatório para seus concorrentes, que, seja lá o que façam ou queiram, são
convocados a tomar posição em relação aos dominantes, ativa ou passivamente. As
pratiques peuvent avoir d‘autres principes que les causes mécaniques ou les fins conscientes et obéir à une
logique économique sans obéir à des intérêts étroitement économiques : il y a une économie des pratiques,
c‘est-à-dire une raison immanent aux pratiques, qui ne trouve son ‗origine‘ ni dans les ‗décisions‘ de la raison
comme calcul conscient ni dans les déterminations de mécanismes extérieurs er supérieurs aux agents (...) La
théorie de la pratique en tant que pratique rappelle, contre le matérialisme positiviste, que les objets de
connaissance son construits, et non passivement enregistrés, et, contre l‘idéalisme intellectualiste, que le
principe de cette construction est le système des dispositions structurées et structurantes qui se constitue dans
la pratique et qui est toujours orienté vers des fonctions pratiques» (BOUDIEU, 1980, p. 85 e 87).
28
ameaças que os desafiantes fazem pesar sobre os dominantes, porém, obrigam-nos a uma
vigilância constante, e eles não podem manter sua posição senão por uma inovação
permanente.
Em conformidade com Bourdieu, o campo científico é, como todos os outros
campos, o lugar de lógicas práticas, mas com a diferença que o habitus científico é uma
teoria realizada, incorporada. «Un savant est un champ scientifique fait homme», cujas
estruturas cognitivas são homólogas à estrutura do campo e, desse fato, constantemente
ajustadas às expectativas inscritas no campo. «Il serait sans doute vain de demander, dans
ces conditions, où est la cause et où est l‘effet et s‘il est même possible de distinguer entre
les causes de l‘action et les raisons d‘agir» (p. 84).
Para Bourdieu, o campo está submetido a pressões (exteriores) e habitado por
tensões, entendidas como forças que agem de maneira a separar as partes de um corpo.
Dizer que o campo é relativamente autônomo em relação ao universo social envolvente é
dizer que o sistema de forças que são constitutivas da estrutura do campo (tensão) é
relativamente independente das forças que se exercem sobre o campo (pressão). A
autonomia não é uma dádiva, mas uma conquista histórica, sempre passível de reversão. O
processo de autonomização está ligado à elevação do direito de entrada. O direito de
entrada é a competência, o capital científico incorporado, tornado senso do jogo, mas
também a apetência, a libido scientifica, crença não somente nas regras do jogo, mas
também no próprio jogo, no fato de que o jogo vale a pena ser jogado.
De acordo com Boudieu, o capital simbólico é um conjunto de propriedades
distintivas que existem na e pela percepção de agentes dotados de categorias de percepção
adequadas, categorias que se adquirem notadamente por meio da experiência da estrutura
da distribuição desse capital no interior do espaço social ou de um microcosmo social
particular como o campo científico. O capital científico, por sua vez, é um conjunto de
propriedades que são produto de atos de conhecimento e reconhecimento realizados por
agentes engajados no campo científico e dotados, por isso, de categorias de percepção
específicas que lhe permitem fazer as distinções pertinentes, em conformidade com o
princípio de pertinência constitutivo do nomos do campo. É, pois, produto do
reconhecimento dos pares, o qual tende a produzir um efeito de fechamento. O
conhecimento das propriedades pertinentes de um agente, de sua posição na estrutura de
29
distribuição e de suas disposições, que estão mais frequentemente correlacionadas com
suas propriedades e com suas posições, permite prever (ou pelo menos compreender) suas
tomadas de posição específicas. Isso porque a relação entre o espaço das posições e o
espaço das tomadas de posição não é uma relação de reflexo mecânico: o espaço de
posições não age sobre as tomadas de posição senão por intermédio dos habitus dos
agentes que apreendem esse espaço, suas posições nesse espaço e a percepção que os
outros agentes engajados nesse espaço têm do todo ou de parte desse espaço.
Se a análise sociológica do funcionamento do campo científico não condena a um
relativismo radical, se se pode e se deve admitir que a ciência seja um fato social histórico
sem com isso se concluir que suas produções estejam limitadas às condições históricas e
sociais de seu surgimento, argumenta Bourdieu, é porque o ―sujet‖ da ciência é não um
coletivo integrado (como pensava Durkheim e a tradição mertoniana), mas um campo, e
um campo singular, «dans lequel les rapports de force et de lutte entre les agents e les
institutions son soumis aux lois spécifiques (dialogiques et argumentative)» (p. 138). A
luta científica deve, assim, sua especificidade ao fato de que os concorrentes pelo
monopólio da representação legítima da realidade objetiva dispõem de um equipamento
coletivo de construção teórica e de verificação ou falsificação empírica, cujo domínio é
exigido de todos os participantes da competição. A objetividade é, pois, um produto social
do campo que depende de pressupostos aceitos nesse campo, notadamente no que concerne
à maneira legítima de solucionar os conflitos. Em outras palavras, objetividade é
intersubjetividade, é validação intersubjetiva. Na luta que arbitra o veredicto da
experiência, é dizer, daquilo que os pesquisadores concordam em considerar como o real, a
verdade é o conjunto de representações consideradas como verdadeiras por terem sido
produzidas em conformidade com as regras que definem a produção da verdade. Daí que a
versão de Gaston Bachelard do trabalho científico, resumida por Bourdieu, em uma de suas
primeiras obras (BOURDIEU, 1968), na fórmula «Le fait scientifique est conquis,
construit, constaté», é agora completada, em uma linguagem muito parecida com a de
Habermas:
Le fait est conquis, construit, constaté dans et par la communication dialectique entre les
sujets, c‘est-à-dire à travers le processus de vérification, de production collective de la
verité, dans et par la negotiation, la transaction et aussi l‘homologation, ractification par le
30
consensus explicitement exprimé – homologein – (et non pas seulement dans la dialectique
entre l‘hypothèse et l‘expérience) (BOURDIEU, 2001, p. 143/4).
Portanto, conclui Bourdieu, é preciso rejeitar, de um lado, o absolutismo logicista e,
de outro, o relativismo historicista. Em contrapartida, propõe uma démarche que, em um
primeiro momento, substitua as condições universais e os a priori de Kant pelas condições
e pelos a priori socialmente constituídos e, em um segundo momento, realize o processo
de historicização da interrogação kantiana em uma objetivação científica do sujeito da
objetivação, por meio do que denomina de
entreprise de reflexivité, visant à objectiver l‘inconscient transcendental que le sujet
connaissant investit sans le savoir dans ses actes de connaissance ou, si l‘on veut, son
habitus comme transcendental historique, dont on peut dire qu‘il est a priori en tant que
structure structurante qui organise la perception et l‘appréciation de toute expérience et a
posteriori en tant que structure structurée produite par toute une série d‘apprentissages
communs ou individuels (p. 154).
E, de novo usando linguagem muito semelhante à utilizada por Habermas (citando
textualmente uma conhecida expressão sua) e até mesmo reconhecendo expressamente a
possibilidade de adequação da teoria habermasiana, Bourdieu assim arremata sua proposta
de trabalho científico:
On peu sauver la raison sans invoquer, comme un Deus ex machina, telle ou telle
forme de l‘affirmation du caractère transcendental de la raison. Cela en décrivant
l‘émergence progressive d‘univers dans lesquels pour avoir raison, il faut faire valoir des
raisons, des démonstrations reconnues comme conséquentes, et où la logique des rapports
de force et des luttes d‘intérêt est ainsi réglée que la « force du meilleur argument » (dont
parle Habermas) a des chances raisonnables de s‘imposer. Les champs scientifiques sont
des univers à l‘intérieur desquels les rapports de force symboliques et des luttes d‘intérêts
qu‘ils favorisent contribuent à donner sa force au meilleur argument (et à l‘intérieur
desquels la théorie de Habermas est vrai, à ceci près qu‘elle ne pose pas la question des
conditions sociales de possibilité de ces univers et qu‘elle inscrit cette possibilité dans des
propriétés universelles du langage par une forme faussement historicisée de kantisme).8
8 Até mesmo essa ressalva que Bourdieu faz a Habermas não parece resistir ao cotejo das grandes linhas de
suas respectivas teorias acima esboçadas.
31
Il existe donc des univers dans lesquels s‘instaure un consensus social à propos de
la verité mais qui sont soumis à des constraintes sociales favorisant l‘échange rationnel et
obéissant à des mécanismes d’universalisation tels que les contrôles mutuels (p. 161-162).
32
A teoria da estruturação de Giddens
Anthony Giddens (1986 [1984]), por último, deixa claro que sua teoria da
estruturação é sensível às deficiências do ―consenso ortodoxo‖ ou à combinação
naturalismo/ funcionalismo/objetivismo representada por Talcott Parsons, bem como aos
desenvolvimentos que se seguiram a sua derrocada, cujos temas comuns incluem a ênfase
no caráter ativo e reflexivo da conduta humana, o reconhecimento do papel fundamental da
linguagem e das faculdades cognitivas na explicação/compreensão da vida social, e o
reconhecimento das profundas implicações também para as ciências sociais do declínio das
filosofias empiricistas.9
A maioria das controvérsias estimuladas pela chamada ―virada linguística‖ na teoria
social e pela emergência das filosofias de ciência pós-empiricistas, porém, no julgamento
de Giddens, tem sido excessivamente epistemológicas, deixando de lado as questões
ontológicas de que se ocupa a teoria da estruturação.
A teoria da estruturação não é, pois, uma versão da sociologia hermenêutica ou
interpretativa ou compreensiva, embora reconheça a importância da ―virada linguística‖.
Tampouco é uma sociologia estruturalista, ainda que admita não ser a sociedade criação de
sujeitos individuais. Giddens reconhece a chamada para a descentralização do sujeito, mas
não aceita que isso implique a evaporação da subjetividade em um vazio universo de
signos. Antes, considera as práticas sociais como estando na raiz da constituição tanto do
sujeito quanto do objeto social. Admite a importância central da ―virada linguística‖;
considera, porém, mais importante não a virada na direção da linguagem, mas uma nova
visão da intersecção entre dizer (ou significar) e fazer, oferecendo uma nova concepção de
práxis. ―The basic domain of study of the social sciences, according to the theory of
9 Giddens é menos assertivo do que Bourdieu quanto à contribuição de Robert Merton à teoria social. Para
Giddens, em que pese a Merton haver corretamente enfatizado a importância do estudo das consequências
não intencionadas, ele errou ao supor que a demonstração de uma relação funcional proveja uma razão para a
existência de uma prática (1986 [1984], p. 12).
33
structuration, is neither the experience of the individual actor, nor the existence of any
form of societal totality, but social practices ordered across space and time‖ (p. 2).10
De acordo com Giddens, os agentes humanos ou atores têm a capacidade de
entender o que eles fazem enquanto o fazem. Essas capacidades reflexivas do ator humano
estão continuamente envolvidas no fluxo da conduta cotidiana nos contextos da atividade
social. Mas tal reflexividade ou caráter monitorado do fluxo da vida social opera apenas
parcialmente no nível discursivo. O que os agentes sabem sobre o que eles fazem e sobre o
porquê de o fazerem – sua cognosticitividade como agentes – dá-se, em grande parte, no
âmbito da consciência prática. Consciência prática consiste em tudo aquilo que os atores
sabem tacitamente sobre como se conduzir nos contextos da vida social sem, contudo,
serem capazes de expressá-lo discursivamente; consiste no conhecimento das regras e das
táticas por meio das quais a vida social diária é constituída e reconstituída no tempo e no
espaço.11
Agência, de acordo com a teoria da estruturação, refere-se não às intenções que
as pessoas têm quando realizam coisas, mas a sua capacidade mesma de realizá-las. Daí
por que agência sempre implica poder.12
Ação é um processo contínuo, um fluxo no qual o
10
Na análise giddensiana, os individualistas metodológicos estão errados ao dizer que todas as categorias
sociais podem ser reduzidas a descrições em termos de predicados individuais, mas estão certos ao suspeitar
que a sociologia estruturalista despreze ou ao menos subestime a cognoscitividade dos agentes humanos e ao
insistir que ―forças sociais‖ são nada mais e nada menos do que combinações de consequências intencionadas
e não intencionadas de ações realizadas em contextos especificáveis. Somente indivíduos, seres que têm
existência corpórea, são agentes. ―O governo decidiu implementar a política X‖ é uma descrição simplificada
de decisões tomadas por indivíduos, mas normalmente em consulta uns com os outros ou em que a política
resultante é normativamente vinculante. As decisões que são tomadas por governos ou outras organizações
podem não representar o resultado desejado por todos ou o resultado mais desejado por qualquer dos que
delas participam. Em tais circunstâncias, os participantes ―decidem‖ (individualmente) ―decidir‖
(corporativamente) sobre um determinado curso de ação. Em outras palavras, membros individuais de um
governo podem concordar em se submeter ao resultado de uma reunião do qual eles discordam ou a uma
proposta contra a qual eles votaram, mas que obteve o apoio da maioria (1986 [1984], p. 220-221).
11 Bourdieu, diferentemente, concebia a reflexibilidade como uma retroanálise intelectualista, pausada e
abstraída das urgências da prática. Daí haver caracterizado a operação do habitus como pré-reflexiva.
12 Conforme Giddens, as concepções sobre poder nas ciências sociais tendem a refletir o dualismo
subjetivismo/objetivismo. Poder é frequentemente definido em termos de intenção ou vontade, como a
capacidade de alcançar resultados desejados ou intencionados. Outros autores, como Parsons e Michel
34
monitoramente reflexivo que o indivíduo mantém é fundamental ao controle do corpo que
os atores ordinariamente sustentam durante suas vidas cotidianas. As consequências do que
os atores fazem, intencional ou não intencionalmente, são eventos que não teriam
acontecido se um ou outro ator houvesse agido diferentemente, mas que não estão dentro
da esfera de poder do agente. Assim, conquanto tenha certo controle sobre aquilo que faz,
sobretudo nos contextos imediatos de ação e interação, o agente não tem qualquer controle
sobre as consequências daí decorrentes.13
Mas o cerne da teoria da estruturação, segundo o próprio Giddens, são os conceitos
de estrutura, sistema e dualidade de estrutura. Na visão giddensiana, os funcionalistas e a
maioria dos analistas sociais concebem estrutura como uma espécie de padronização das
relações sociais ou dos fenômenos sociais. Os estruturalistas e os pós-estruturalistas, por
sua vez, concebem-na não como uma padronização de presenças, mas como uma
interseção de presença e ausência, como códigos subjacentes às manifestações superficiais.
Esses dois aspectos da estruturação das relações sociais são, na perspectiva giddensiana,
apreendidos na teoria da estruturação por meio do reconhecimento da diferenciação entre
estrutura e sistema. Estruturas são regras e recursos, ou conjuntos de relações
transformativas, organizados como propriedades de sistemas sociais. São uma ―ordem
virtual‖ de relações transformativas, somente existindo como presença tempo-espacial em
suas instanciações nas práticas sociais e como traços de memória que orientam a conduta
de agentes humanos cognoscitivos. Sistemas sociais são relações reproduzidas entre atores
Foucault, ao contrário, veem o poder sobretudo como uma propriedade da sociedade ou da comunidade
social. Na avaliação giddensiana, não se deve enfatizar qualquer dessas concepções em detrimento da outra,
mas sim expressar sua relação como característica da dualidade de estrutura. Não se deve, pois, conceber as
estruturas de dominação embutidas nas instituições sociais como que esmagando corpos dóceis que se
comportam como autômatos, conforme sugere a ciência social objetivista. Poder dentro de sistemas sociais
que gozam de alguma continuidade no tempo e no espaço presume relações regulares de autonomia e
dependência entre atores ou coletividades em contextos de interação social. Mas todas as formas de
dependência oferecem recursos por meio dos quais aqueles que estão subordinados podem influenciar as
atividades de seus superiores. É o que Giddens denomina de ―dialética de controle‖.
13 ―Human beings, in the theory of structuration, are always and everywhere regarded as knowledgeable
agents, although acting within historically specifics bounds of the unacknowledged conditions and
unintended consequences of their acts (GIDDENS, 1995, p. 265).
35
ou coletividades, organizados como práticas sociais regulares. Não possuem estruturas; em
vez disso, exibem propriedades estruturais. Às propriedades estruturais mais profundas ou
àqueles princípios de organização das totalidades societárias, Giddens chama-as de
―princípios estruturais‖; àquelas de maior extensão tempo-espacial, de ―instituições‖.
Crucial à idéia de estruturação é o teorema da dualidade de estrutura, de acordo com o qual
as propriedades estruturais dos sistemas sociais são, ao mesmo tempo, meio e resultado das
atividades contingencialmente realizadas de atores situados. As estruturas são, pois, mais
internas do que externas aos indivíduos e tanto restritivas quanto habilitadoras.
Outro conceito vital a teoria da estruturação, de acordo com o próprio Giddens, é o
da rotinização baseada na consciência prática. Rotina é essencial tanto à continuidade da
personalidade do agente, ao se mover ao longo dos caminhos das atividades cotidianas,
quanto às instituições da sociedade, que assim se constituem somente por meio de sua
reprodução continuada. O exame da rotinização provê a chave-mestra para a explicação
das formas características da relação entre o sistema de segurança básico, de um lado, e os
processos reflexivamente constituídos, inerentes ao caráter episódico dos encontros, de
outro. A natureza psicológica da rotina é revelada nas situações em que os modos
estabelecidos de vida cotidiana costumeira são drasticamente solapados ou despedaçados.
Tais situações críticas – circunstâncias de disjunção radical de tipo imprevisível afetando
número substancial de indivíduos – ameaçam ou destroem a certeza das rotinas
institucionalizadas e provocam ansiedade. A vida social cotidiana e ordinária, por contraste
– em grau maior ou menor, dependendo do contexto e das inconstâncias da personalidade
individual – envolve uma segurança ontológica fundada na autonomia do controle corporal
em rotinas e encontros previsíveis. Na vida cotidiana, os atores têm um interesse motivado
em sustentar as formas de tato e ajuste tão bem analisados por Goffman. Porém, isso não se
deve ao fato de que a vida social é uma espécie de contrato mutuamente protetor em que os
indivíduos voluntariamente entram, como Goffman ocasionalmente sugere. Tato é antes
um mecanismo por meio do qual os agentes são capazes de reproduzir as condições de
confiança e segurança ontológica dentro das quais tensões primais podem ser canalizadas e
administradas. Há, pois, um compromisso motivacional generalizado com a integração de
práticas habituais no tempo e no espaço.
36
Para Giddens, o estudo microssociológico não trata de realidade mais substancial
do que a análise macrossociológica. Tampouco é mais efêmera a interação em situações de
copresença quando comparada à solidez das instituições de larga escala ou de longa
duração. A interação em contextos de copresença está estruturalmente implicada nos
sistemas de diferenciação tempo-espaciais mais abrangentes. A fixidez das formas
institucionais não existe a despeito ou fora dos encontros da vida cotidiana, mas está
implicada nesses encontros. Toda interação social está situada dentro de limites tempo-
espaciais de copresença. Seu caráter situado está diretamente relacionado com a natureza
indexical da comunicação mutuamente inteligível. Mas o caráter situado das interações não
se constitui em barreira à fixidez institucional demonstrada pelas ordens institucionais no
tempo e no espaço. Ao contrário, é sua condição de existência, tanto quanto as ordens
institucionais são condição de existência das formas mais transitórias de encontro social ou
conversação. O monitoramente reflexivo da conduta social é intrínseco à facticidade que as
propriedades estruturais dos sistemas sociais exibem, e não algo marginal ou adicional a
ela. Ainda na visão giddensiana, tudo aquilo que é normalmente falado sob o título de
processos micro/macro – o posicionamento do corpo no tempo-espaço, a natureza da
interação em situações de copresença e a conexão entre essas influências e aquelas
ausentes relevantes à caracterização e à explanação da conduta social – pode ser mais bem
tratado como concernindo às relações entre integração social e integração sistêmica,
integração entendida como envolvendo a reciprocidade de práticas (de autonomia e
dependência) entre atores ou coletividades. Integração social significa sistemicidade no
nível de interação face a face, ao passo que integração sistêmica refere-se a conexões com
aqueles que estão fisicamente ausentes no tempo e no espaço.
Por derradeiro, Giddens chama atenção para o fato de que, como resultado de
teorias sociais que tratam os agentes como sendo bem menos cognoscitivos do que eles
realmente são, especialmente as associadas à sociologia estruturalista, muitas pesquisas
empíricas falham em obter informação que permita o acesso a toda a extensão da
cognosticitividade dos agentes, inclusive aquela que se dá no âmbito da consciência
prática. As teorias e os achados das ciências sociais não podem ser mantidos totalmente
separados do universo de significado e de ação de que se ocupam. O sociólogo tem como
campo de estudo fenômenos já constituídos como significativos. A condição de ―entrada‖ a
esse campo é buscar conhecer o que os atores já sabem e têm de saber para conduzir suas
37
atividades diárias na vida social. As descrições sociológicas têm como tarefa a mediação
dos arcabouços de significado dentro dos quais os atores orientam sua conduta. Mas tais
descrições são categorias interpretativas que, por sua vez, demandam um esforço de
tradução dentro e fora dos arcabouços de significado envolvidos nas teorias sociológicas. É
o que Giddens denomina de ―dupla hermenêutica‖. Os atores leigos são teoristas sociais,
cujas teorias ajudam a constituir as atividades e as instituições que são objeto do estudo de
observadores sociais especializados ou cientistas sociais. As teorias estão fadadas a basear-
se em ideias – ainda que nem sempre discursivamente formuladas – já esposadas pelos
agentes aos quais elas se referem.14
Até por isso mesmo, estão igualmente condenadas a ser
críticas: ―The formulation of critical theory is not an option; theories and findings in the
social sciences are likely to have practical (and political) consequences regardless of
whether or not the sociological observer or policy-maker decides that they can be ‗applied‘
to a given practical issue‖ (p. xxxv). O teorema de Maquiavel, por exemplo, não é apenas
uma observação sobre o poder e o apoio popular na política. Ele pretendia ser, e assim tem
sido considerado, uma contribuição aos mecanismos efetivos de governo. As práticas
governamentais nunca mais foram as mesmas desde que os escritos de Maquiavel se
tornaram conhecidos. O mesmo se pode dizer das pesquisas empíricas de questões sociais
iniciadas na virada do século XVIII para o século XIX. As técnicas de pesquisa
desenvolvidas e os dados gerados imediatamente se tornaram parte da sociedade em cuja
análise foram empregados. As estatísticas oficiais são tanto sintoma quanto resultado
material desse processo.
14
―‘Understanding‘ the meaning of the actions and communications of others, as a skilled accomplishment,
is an integral element of the routine capabilities of competent social actors. Hermeneutics is no simply the
privileged reserve of the professional social investigator, but is practised by everyone; mastery of such
practices is the only avenue whereby professional social scientists, like lay actors themselves, are able to
generate the descriptions of social life they use in their analyses. One of the consequences of this, of course,
is to reduce the distance between what sociologists do in their researches, and what lay actors do in their day-
to-day activities (…) Not only is it the case that every social theorist is a member of a society, and draws
upon the skills associated with such membership as a resource in his or her investigations: it is equally
important that every member of society is a ‗practical social theorist‘. The predictability of social world does
not just happen, it is ‗made to happen‘ by lay actors‖ (GIDDENS, 1995, p. 240-241).
38
Ainda que não se encontre em Giddens nada parecido com as advertências de
Bourdieu contra os perigos e as distorções inerentes ao conhecimento e à linguagem
ordinários, essa fluidificação das fronteiras entre as ciências sociais e o senso comum não
implica a negação de qualquer papel iluminador do saber social especializado em face do
senso comum. Tal papel, todavia, não advém de uma ruptura epistemológica à la
Bourdieu, mas da explicitação discursiva de dimensões da motivação, da cognição e da
conduta dos atores sociais que operam no nível tácito ou prático, bem como da
identificação das condições não conhecidas e dos efeitos não premeditados das condutas
dos atores sociais, fatores limitadores de sua cognoscitividade. A propósito, de acordo com
Giddens, a pesquisa social, orientada pela teoria da estruturação, tem como tarefas a
elucidação hermenêutica dos arcabouços de significados, a investigação do contexto e da
forma da consciência prática, a identificação dos limites da cognoscitividade e a
especificação das ordens institucionais (1986 [1984], p. 327).
39
CAPÍTULO 2 As estruturas sociais no interior da Câmara e o
posicionamento dos deputados nessas estruturas
Os espaços, os sistemas ou as estruturas sociais no interior da Câmara dos
Deputados têm sido basicamente os mesmos desde 1946 (PINTO, 2009, p. 78-98).
Na verdade, desde a Assembleia Geral do Império do Brasil a Câmara dos
Deputados tem elegido seu presidente e demais membros da Mesa (Ibidem, p. 73-98). Na
prática corrente da Câmara, qualquer deputado pode concorrer à presidência daquela Casa,
mesmo que o partido ou o bloco parlamentar de que faça parte não tenha direito, pelo
princípio da proporcionalidade, a assento na Mesa (Ibidem, p. 88-89).
O presidente da Câmara dos Deputados sempre foi poderoso. Pelo menos desde o
alvor da República, os sucessivos presidentes têm monocraticamente designado a ordem do
dia das sessões plenárias15
e, a partir de 1946, eles têm decidido as questões de ordem
levantadas em sessão plenária e os recursos interpostos contra as decisões dos presidentes
das comissões. Além disso, desde o início do atual regime os sucessivos presidentes da
Câmara vêm designando relatores para as matérias que são submetidas ao Plenário sem
parecer de comissão (Ibidem, p. 74-98).16
15
Regimentalmente, o presidente da Câmara, ouvido o Colégio de Líderes, deveria organizar uma agenda
mensal, em conformidade com a qual ele designaria a ordem do dia das sessões plenárias. Na prática, porém,
isso não tem acontecido. No máximo, e apenas diante de matérias controversas, os sucessivos presidentes,
uns mais outros menos, têm reunido os líderes partidários em seu gabinete, para deles obter o apoio (PINTO,
2009, p. 87).
16 Iguais poderes vêm exercendo os sucessivos presidentes do Senado Federal. O speaker of the House of
Representatives dos Estados Unidos é mais poderoso do que o presidente do Senado daquele país: é ele que
controla as várias agendas da House, ao passo que as agendas do Senado são controladas pelo líder da
maioria. Nem um nem outro, contudo, decide quais matérias são submetidas à apreciação do Plenário com a
mesma discricionariedade com que o fazem os presidentes da Câmara e do Senado brasileiros. Na Espanha e
na França, a prerrogativa de fixar a ordem do dia das sessões plenárias é exercida compartilhadamente pelos
presidentes e pelos demais líderes das casas parlamentares, inclusive pelo representante do governo (PINTO,
2009, p. 63-71). Os Legislativos dos Estados Unidos, da Espanha e da França foram selecionados pelo autor
por representarem os principais sistemas de governo, respectivamente o presidencialismo, o parlamentarismo
e o semipresidencialismo (Ibidem, p. 1-2).
40
A Mesa da Câmara dos Deputados tem tido diferentes composições ao longo do
tempo. Desde o regime imediatamente anterior, precisamente com a aprovação do
Regimento Interno da Câmara dos Deputados de 1983, a mesa desta Casa tem sido
composta por um presidente, dois vice-presidentes e quatro secretários, contando ainda
com quatro suplentes de secretário. Na realidade, foi somente a partir de então que os vice-
presidentes passaram a integrar a Mesa na condição de membros titulares. Desde a
promulgação da Constituição de 1969, os membros da Mesa passaram a ser eleitos para um
mandato de dois anos, proibida a recondução. A Mesa da Câmara sempre exerceu funções
eminentemente administrativas (PINTO, 2009, p. 73-98).17
As funções propriamente legislativas, pelo menos desde a promulgação da
Constituição de 1946, têm-nas exercido, no interior da Câmara dos Deputados e sob o
comando dos sucessivos presidentes, os líderes partidários. Com efeito, pode-se dizer que a
partir de então, muito mais no período 1946-1964 do que nos dois subsequentes, as
atividades propriamente legislativas têm estado centralizadas nas mãos dos sucessivos
presidentes e dos líderes partidários (Ibidem, p. 80-93).
No período 1946-1964, essas atividades estavam bastante concentradas nas mãos
dos líderes da maioria, da minoria e dos blocos parlamentares. Por exemplo, somente esses
líderes podiam fazer uso da palavra a qualquer momento das sessões plenárias da Câmara e
apenas eles, além das comissões e de certo número de deputados, podiam requerer
urgência para tramitação de proposições e a elas apresentar emendas (Ibidem, p. 80-81).
No período 1964-1985, os blocos parlamentares foram suprimidos e os poderes
antes reservados aos líderes da maioria, da minoria e dos extintos blocos parlamentares
passaram a ser partilhados com os líderes em geral. A título de exemplo, os líderes
17
O mesmo se pode dizer da Mesa do Senado Federal, quanto a sua composição, o mandato de seus
membros e suas funções (PINTO, 2009, p. 73-89). Nem a House of Representatives nem o Senado dos
Estados Unidos tem uma Mesa Diretora. Diferentemente, tanto o Congreso de los Diputados e o Senado
espanhóis quanto a Assemblée nationale e o Senado franceses possuem, cada qual, uma Mesa. As Mesas das
câmaras espanholas e das assembleias francesas, da mesma forma, exercem funções eminentemente
administrativas (Ibidem, p. 63-71).
41
partidários passaram a poder fazer uso da palavra em defesa da respectiva linha política
durante a ordem do dia e a fazer comunicação urgente no início da ordem do dia. Os
líderes da maioria e da minoria, entretanto, mantiveram a competência, concorrente com
determinado número de deputados, de requerer urgência para a tramitação de proposições e
a elas apresentar emendas (PINTO, 2009, p. 83-84).
No período atual, conquanto tenham sido restabelecidos os blocos parlamentares,
até essa prerrogativa de requerer urgência para a tramitação de proposições e a elas
apresentar emendas passou a ser partilhada com os líderes partidários. Além disso, os
líderes de modo geral, com exceção dos do governo e da minoria, conservam o poder de
indicar os membros de suas respectivas bancadas partidárias para comporem as comissões
e de, a qualquer tempo, substituí-los, bem como de subscrever proposições de iniciativa
coletiva em nome dos membros das respectivas bancadas. Outras competências lhes foram
agregadas no atual regime, como a de registrar os candidatados do partido ou do bloco para
concorrerem aos cargos da Mesa, a de encaminhar votações para orientar sua bancada e a
de requerer a verificação de votação, esta última concorrentemente com um determinado
número de deputados (Ibidem, p. 90-93).18
18
A mesma centralização dos trabalhos nas mãos dos líderes se tem observado no Senado Federal. O voto de
líderes, já suprimido na Câmara dos Deputados, é ali mantido (PINTO, 2009, p. 80-93). Nos Estados Unidos,
há pouca centralização dos trabalhos legislativos nas mãos dos líderes. As cinco agendas da House of
Representatives e as duas do Senado são controladas, respectivamente, pelo speaker of the House e pelo líder
da maioria do Senado, mas não com a mesma discricionariedade com que os presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado brasileiros controlam as agendas únicas das respectivas câmaras (Na verdade, a partir
de 2009, por força de uma decisão do presidente Michel Temer proferida em questão de ordem, foi criada
uma nova agenda na Câmara dos Deputados). Em ambas as casas do Congresso dos Estados Unidos, são os
líderes que definem quais matérias os membros dos respectivos partidos devem apoiar, no que são assistidos
pelos whips. Do mesmo modo, os líderes partidários têm grande influência na escolha dos membros das
comissões e de seus presidentes ou de seus ranking members, conforme o caso. A House é considerada mais
partidária do que o Senado (Ibidem, p. 63-65). Na Espanha e na França, diferentemente, as atividades
legislativas estão fortemente concentradas nas mãos dos líderes. Na Espanha, com efeito, praticamente
inexiste atividade parlamentar individual. Os deputados e os senadores são obrigados a integrar um dos
grupos parlamentarios. Os que não o fazem dentro de certo prazo são incorporados ao Grupo Parlamentar
Misto. São os grupos parlamentares que apresentam as proposições de lei e as emendas. De igual maneira,
são eles que oferecem as proposições de reforma da Constituição. Somente os grupos parlamentares e o
42
Diretamente relacionada à centralização das atividades legislativas nas mãos dos
presidentes e dos líderes partidários está a pouca força das comissões da Câmara dos
Deputados.
Foi durante o regime instituído pela Constituição de 1946 que as comissões
permanentes da Câmara dos Deputados passaram a manter sua proporcionalidade
partidária e composição por toda a legislatura (PINTO, 2009, p. 81). No início do regime
atual, porém, a proporcionalidade partidária das comissões permanentes da Câmara tornou
a ser calculada e sua composição renovada no começo de cada sessão legislativa. Com a
promulgação da Resolução nº 34/2005, no entanto, a proporcionalidade partidária voltou a
ser conservada durante toda a legislatura. A composição, entretanto, segue sendo renovada
a cada sessão legislativa, o que favorece os líderes partidários e de blocos, porquanto são
eles que indicam os membros das comissões (ibidem, p. 93-94).19
Desde a promulgação da Constituição de 1934, as comissões da Câmara dos
Deputados passaram a ter iniciativa de lei e a poder convocar ministro de Estado, sob pena
de crime de responsabilidade. Foi também a partir daí que a Câmara passou a poder criar
comissões de inquérito. Contudo, o requerimento de criação, subscrito por um terço dos
deputados, tinha de ser submetido ao Plenário – portanto, à aprovação da maioria –, da
governo podem requerer a inclusão imediata de matérias na ordem do dia e apenas aqueles têm o poder de
requerer a verificação das votações no Plenário. À semelhança dos Estados Unidos e diferentemente do
Brasil, o poder de designar a ordem do dia não é exercido monocraticamente pelos presidentes das câmaras: é
partilhado com os líderes dos grupos parlamentares, no âmbito da Junta de Porta-Vozes. Finalmente, são os
grupos parlamentares que usualmente propõem a criação de comissões de investigação (Ibidem, p. 68-69). Na
França, em que pese a não serem os parlamentares obrigados a integrar um dos groupes politiques, é entre
esses grupos que é distribuído o tempo destinado à discussão das propostas legislativas, das declarações do
governo e, na Assemblée nationale, das moções de censura. À semelhança dos Estados Unidos e da Espanha
e diferentemente do Brasil, o poder de designar a ordem do dia não está concentrado nas mãos dos
presidentes das assembleias: é partilhado com os vice-presidentes das assembleias, os presidentes das
comissões e os presidentes dos grupos políticos, no âmbito da Conferência dos Presidentes (Ibidem, p. 71-
72).
19 No Senado Federal, diferentemente, a proporcionalidade partidárias das comissões permanentes continuou
e continua a ser mantida ao longo de toda a legislatura. Sua composição, no entanto, passou a ser renovada a
cada dois anos (PINTO, 2009, p. 94).
43
mesma forma que seu relatório final (Ibidem, p. 76-77). Na vigência da Constituição de
1937, porém, as comissões da Câmara dos Deputados perderam a competência de iniciar
lei e não mais detinha essa Casa a prerrogativa de instituir comissões de investigação
(Ibidem, 78). Todos esses poderes das comissões da Câmara, entretanto, foram
restabelecidos20
pela Constituição de 1946, sendo mantidos até hoje. Na verdade, durante o
regime instituído em 1964, outras competências foram acrescidas às comissões, como a de
rejeitar conclusivamente proposições quanto ao mérito e a de rejeitá-las terminativamente
por inconstitucionalidade – esta última apenas à então denominada Comissão de
Constituição e Justiça (Ibidem, p. 85). No regime atual, essas prerrogativas foram
ampliadas: as comissões de inquérito agora detêm poderes de instrução processual próprios
das autoridades judiciárias e tanto sua criação quanto seu relatório final não mais
necessitam da aprovação da maioria parlamentar. Afora isso, as comissões em geral podem
agora conclusivamente aprovar proposições.21
Contudo, as comissões seguem fragilizadas
pela facilidade com que o presidente da Câmara e os líderes partidários e de bloco, por
meio da denominada ―urgência urgentíssima‖, conseguem contorná-las, trazendo as
matérias diretamente para a esfera na qual eles têm maior controle: a do Plenário. Para
isso, formalmente bastam a assinatura de líderes que representem a maioria dos deputados
e a vontade do presidente em pautá-las (PINTO, 2009, p. 94-97).22
20
E estendidos às comissões do Senado Federal.
21 No regime anterior, essa competência era atribuída apenas a comissões especiais.
22 No Senado Federal, tais requerimentos de urgência somente necessitam do apoiamento de líderes que
representem um quarto dos senadores (PINTO, 2009, p. 184-185). As comissões do Senado, com as ressalvas
já feitas e poucas outras, apresentam basicamente as mesmas características das comissões da Câmara no que
tange à composição e às competências (Ibidem, p. 93-97). O grande poder das comissões da House of
Representantives e do Senado dos Estados Unidos é diretamente proporcional à pouca concentração das
atividades legislativas nas mãos dos líderes partidários naquele país. É verdade que tanto os membros como
os presidentes ou os ranking members das comissões permanentes são escolhidos pelas bancadas partidárias,
mas é também verdadeiro que, na escolha, tanto a antiguidade quanto a expertise dos congressistas são
critérios determinantes. Além disso, é certo que as comissões norte-americanas não têm iniciativa de lei,
tampouco detêm poder legislativo pleno. Porém, é igualmente certo que dificilmente uma proposta legislativa
vai ao Plenário sem parecer de comissão. Por último, todas as comissões norte-americanas, e não apenas
aquelas especialmente criadas para investigar determinados fatos, têm poder de convocar testemunhas, sob
44
As estruturas partidárias
Atualmente, dezessete partidos políticos têm funcionamento e, consequentemente,
detêm direito a representação e liderança na Câmara dos Deputados.23
Na Tabela 1, esses
partidos estão classificados de acordo com seu posicionamento no espectro ideológico
clássico24
e com seu posicionamento em relação ao governo. Essa classificação, porém,
pena de crime de desobediência. Podem ainda denunciar investigados por crime de perjúrio e testemunhas
por crime de falso testemunho (Ibidem, p. 65-67). As comissões do Congreso de los Diputados e do Senado
espanhóis são mais fracas do que as norte-americanas, à medida que suas atividades legislativas estão muito
mais centralizadas nas mãos dos presidentes das câmaras e dos líderes dos grupos parlamentares. Se, de um
lado, exercem poder legislativo pleno sobre certas matérias, de outro, suas reuniões, fechadas ao público,
podem ser conduzidas pelo presidente da câmara respectiva, o que as fragiliza como instâncias de poder e
como espaço privilegiado de debate com a sociedade (PINTO, 2009, p. 69-70). As comissões da Assemblée
nationale e do Senado franceses são ainda mais fracas, em que pese à menor concentração das atividades
legislativas nas mãos dos líderes. Aliás, as comissões permanentes foram deliberadamente fragilizadas pelos
idealizadores da V República. A Constituição de 1958 limitou seu número a seis em cada assembleia. Afora
isso, estabeleceu a regra segundo a qual as propostas legislativas devam ser enviadas ao exame de comissões
especiais sempre que demandado pelo governo ou por um ou mais presidentes de grupos políticos que
representem a maioria dos membros de cada assembleia. Os regimentos das assembleias foram além: as
comissões especiais podem ser criadas sempre que, requeridas por presidente de comissão permanente ou de
grupo político, não sofrerem a oposição do governo, de presidente de comissão permanente ou de presidente
de grupo político (Ibidem, p. 72).
23 Em conformidade com decisão do STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.351 e no Mandado de
Segurança nº 26.460, têm direito a funcionamento parlamentar e, por conseguinte, fazem jus a representação
e liderança os partidos que tenham elegido para a Câmara dos Deputados e ali mantenham filiados pelo
menos três representantes de diferentes estados.
24 Em 1994, Norberto Bobbio publicou o mais debatido livro sobre esquerda e direita nos últimos tempos. As
categorias de esquerda e direita, afirma Bobbio (1995[1994]), continuam a exercer influência sobre o
pensamento político, porque a política é necessariamente adversativa. A essência da política é a luta de visões
opostas. Embora aquilo que esteja à esquerda ou à direita possa mudar, nada pode estar à esquerda e à direita
ao mesmo tempo. Quando partidos ou ideologias políticas estão mais ou menos equilibrados, argumenta
Bobbio, poucos questionam a relevância da distinção entre esquerda e direita. Mas quando um ou outro se
torna tão forte que parece ser ―o único jogo na cidade‖, ambos os lados têm interesse em questionar aquela
relevância. O lado mais poderoso tem interesse em declarar que ―não há alternativa‖. Tornado impopular, o
lado mais fraco usualmente tenta assumir algumas das posições de seus oponentes e propagá-las como suas.
Depois da Segunda Guerra Mundial, com a queda do fascismo, a direita política passou por uma repaginada.
45
não é pacífica, pois as ações dos partidos nem sempre guardam coerência com as
declarações ideológicas contidas em seus estatutos e seu posicionamento em relação ao
governo nem sempre é formalizado no âmbito da Câmara. A evidência mais eloquente
dessa falta de coerência ideológica é o fato de vários partidos declaradamente de direita ou
centro-direita integrarem a base parlamentar de sustentação do governo Luís Inácio Lula da
Silva, declaradamente de esquerda ou centro-esquerda. Já a situação do Partido Socialismo
e Liberdade – PSOL é bem emblemática da ambiguidade que cerca a relação de alguns
partidos com o governo ou com a oposição: ainda que mais alinhado ideologicamente com
partidos como o PT, tem frequentemente acompanhado o Partido Popular Socialista – PPS,
o Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB e o Democratas –DEM em sua oposição
ao governo. O próprio PPS não tem muita afinidade ideológica com o DEM.25
Para sobreviver, partidos de direita tiveram de adotar alguns dos valores da esquerda e aceitar o arcabouço
básico do welfare state. Desde o início dos anos 1980s, com a ascensão ideológica do neoliberalismo e o
colapso do comunismo, Tony Blair reciclou a maioria das ideias do thatcherismo. Desta vez, é a esquerda que
tem o que ganhar arguindo que velhas categorias não mais fazem sentido. A distinção esquerda/direita
sobrevive, mas a questão fundamental é se a divisão ainda recobre a maior parte campo político. Para
Anthony Giddens (2001 [1998]), com o fim do socialismo como teoria econômica, uma das principais linhas
de divisão entre esquerda e direita desapareceu. Ninguém mais tem qualquer alternativa ao capitalismo. O
argumento que permanece refere-se à extensão e ao modo de regulamentação do capitalismo.
25 Deputado Fernando Coruja, líder da bancada do PPS: ―Nós temos uma situação sui generis. O nosso
partido é um partido de esquerda. Nós saímos do governo Lula e nós passamos... Evidentemente que, do
ponto de vista de extrema lógica, não podemos ter sintonia fina com os democratas. Mas do ponto de vista de
um grupo de oposição, aí a sintonia existe‖ (Entrevista realizada em 28/4/2010).
46
Tabela 1: Partidos com funcionamento na Câmara dos Deputados na 53ª Legislatura, classificados de acordo
com seu posicionamento no espectro ideológico clássico e com seu posicionamento em relação ao governo
Esquerda ou Centro-Esquerda Centro Centro-Direita ou Direita
Governo PCdoB, PDT, PSB, PT, PV PMDB, PMN PP, PR, PRB, PSC, PTB, PTC
Oposição PPS, PSOL26 PSDB DEM
Alguns desses partidos formam blocos parlamentares. Há atualmente na Câmara
dos Deputados dois blocos parlamentares: o bloco formado pelo Partido do Movimento
Democrático Brasileiro – PMDB e pelo Partido Trabalhista Cristão – PTC; e o bloco
formado pelo Partido Socialista Brasileiro – PSB, pelo Partido Comunista do Brasil –
PCdoB, pelo Partido da Mobilização Nacional – PMN e pelo Partido Republicano
Brasileiro – PRB.
O Partido Comunista do Brasil – PCdoB, criado em 1962, é uma dissidência do
Partido Comunista – Seção Brasileira da Internacional Comunista – PC-SBIC, formado em
1922. Em 1962, após vários conflitos internos, os stalinistas romperam com os
antistalinistas liderados por Carlos Prestes e organizam o PCdoB.27
Em 1972, o PCdoB
organizou e comandou as Forças Guerrilheiras do Araguaia contra a ditadura militar. Em
1984, participou do movimento popular pelas eleições diretas à presidência da República.
O PCdoB elegeu três deputados em 1986 e teve participação no processo de elaboração da
Constituição de 1988.28
Em 1992, defendeu o impeachment do então presidente da
26
O PSOL, na verdade, tem assumido uma posição de independência em relação tanto ao governo quanto à
oposição liderada pelo PSDB.
27 A facção liderada por Prestes desde o ano anterior passara a denominar-se de Partido Comunista Brasileiro
– PCB.
28 De acordo com o assessor do PCdoB entrevistado, o partido teria elegido cinco deputados em 1986:
Haroldo Lima e Lídice da Mata (hoje no PSB), da Bahia, Eduardo Bonfim, de Alagoas, Aldo Arantes, de
Goiás, e Edmilson Valentim, do Rio de Janeiro. Nos últimos dois anos da legislatura, Manoel Domingos se
47
República Fernando Collor de Mello. O PCdoB apoiou todas as candidaturas de Lula à
presidência da República e desde 2003 tem integrado a base de sustentação de seu governo
na Câmara dos Deputados.29
A Tabela 2 contém dados sobre a estrutura do PCdoB na Câmara dos Deputados na
atual legislatura (2007-2011).
Tabela 2: Estrutura do PCdoB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ALDO
REBELO
Superior
completo Jornalista, Redator
Vereador, Ministro da
Coordenação Política e Relações
Institucionais, Presidente da
Câmara dos Deputados
5 SP Não PCdoB 0
ALICE
PORTUGAL
Superior
completo
Analista Química,
Farmacêutica
Bioquímica
Deputada Estadual (2) 2 BA Não PCdoB 0
CHICO
LOPES
Superior
completo
Servidor Público,
Professor
Vereador (3), Deputado Estadual
(2) 1 CE Não PCdoB 0
DANIEL
ALMEIDA
Ensino Médio
completo Industriário Vereador 2 BA Não PCdoB 0
EDMILSON
VALENTIM
Superior
completo Técnico Mecânico Deputado Estadual (3) 2 RJ Não PCdoB 0
EVANDRO
MILHOMEN
Superior
completo Sociólogo
Secretário Municipal substituto,
Diretor do SINE 3 AP Não PCdoB 0
FLÁVIO
DINO
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário Juiz Federal 1 MA Não PCdoB 0
JÔ MORAES Superior
incompleto Servidora Pública Vereadora, Deputada Estadual 1 MG Não PCdoB 0
MANUELA
D'ÁVILA
Superior
completo Jornalista Vereadora 1 RS Sim PCdoB 0
OSMAR
JÚNIOR
Superior
completo
Servidor Público,
Advogado
Vereador (2), Secretário
Municipal, Presidente da
Fundação Estadual, Vice-
Governador (2)
1 PI Não PCdoB 0
PERPÉTUA
ALMEIDA
Ensino Médio
completo Bancária, Professora Vereadora 2 AC Não PCdoB 0
VANESSA
GRAZZIOTI
N
Superior
completo
Farmacêutica,
Professora Vereadora (3) 3 AM Não PCdoB 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
haveria juntado a eles. Os dados acima foram obtidos junto ao site de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html).
29 Dados obtidos nos sites do Tribunal Superior Eleitoral – TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PCdoB (http://vermelho.org.br/pcdob). Acesso em: 10 ago
2009.
48
Onze dos doze deputados que compõem a bancada do PCdoB na Câmara têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (92%). Entre as categorias
profissionais, predominam os professores (três, 27%) e os servidores públicos (três, 27%).
Todos já exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (100%):
oito somente no Legislativo (67%); dois no Legislativo e no Executivo (17%); um só no
Executivo (8%); e um no Judiciário (8%). Vale destacar que o deputado Aldo Rebelo já foi
ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais no primeiro governo Lula, bem
como presidente da Câmara dos Deputados (2005-2007), condição em que exerceu
interinamente a presidência da República. Sete já exerceram mais de um mandato na
Câmara dos Deputados (58%). Os doze deputados do PCdoB representam todas as regiões
do país, com exceção do Centro-Oeste. A representação nordestina é predominante (42%).
Onze dos doze deputados foram eleitos pelos votos da legenda (92%). A deputada Manoela
D‘Ávila foi a única a eleger-se pelos votos próprios. Nenhum dos deputados do PCdoB
mudou de partido nesta legislatura e não houve perda para outra legenda.30
Nos termos dos arts. 61 e 62 do Estatuto do PCdoB, as bancadas partidárias são
órgãos dos respectivos comitês partidários e são dirigidas pela comissão política do comitê.
As lideranças são indicadas pela comissão política após consulta aos membros da bancada.
As bancadas devem reunir-se periodicamente para discutir as proposições legislativas,
definir o posicionamento a ser adotado nas votações e propor os representantes do partido
nas comissões. As deliberações da bancada devem ser ratificadas pela comissão política.
Esse controle da direção nacional sobre a bancada na Câmara dos Deputados, a
escolha de seu líder e suas deliberações, previsto no Estatuto, é observado na prática, de
acordo com assessor do PCdoB entrevistado:31
Talvez o PCdoB seja o partido com o maior grau de coesão partidária na sua
bancada (...) Há uma relação muito íntima entre a direção nacional do PCdoB e os
30
O deputado Renildo Calheiros renunciou em 2008 para assumir o cargo de prefeito de Olinda-PE. Ocupa
sua vaga o deputado Sílvio Costa, atualmente no PTB. Essa foi, pois, a única perda do PCdoB.
31 Todos os assessores entrevistados são da confiança dos dirigentes dos partidos e das bancadas e, por isso
mesmo, têm acesso aos bastidores. Suas identidades foram, pois, preservadas. Em alguns casos, chegou-se
inclusive a descaracterizá-los.
49
membros da sua bancada. Estatutariamente, inclusive, a definição das candidaturas a
deputado federal nos estados, ela é, em última instância, atribuição da direção nacional. No
caso de alguma divergência, alguma polêmica etc., prevalece a posição da direção nacional
na indicação naquele que serão os candidatos. A bancada de deputados do partido, ela é a
principal vitrine nacional do partido. Então é tratada de uma maneira especial. A bancada
se reúne semanalmente e, na grande maioria das vezes, com a presença, senão do
presidente nacional, de algum dirigente nacional do partido. Então há essa sintonia. A
indicação do líder da bancada é feita, ouvidos os membros da bancada, mas é uma decisão
da direção nacional. Em tempos passados, a consulta pesava menos. A decisão era tomada
a partir da discussão havida na direção nacional. Hoje a direção nacional leva muito mais
em conta a opinião dos membros da bancada na definição de quem será o líder da bancada,
mas ainda é estatutariamente prerrogativa da direção nacional. Os assuntos, por exemplo,
algum tema polêmico em debate na Câmara dos Deputados que vá a votação, ele é
discutido entre a bancada e a direção nacional do partido. Porque a direção da bancada,
evidentemente ela vai trazer reflexos políticos nacionais para a legenda. Então há sempre
esse acompanhamento (...) O chefe do Gabinete da Liderança é indicação não do líder que
passa, mas da direção nacional. A equipe de funcionários, por exemplo, tem funcionários lá
que se mantêm desde a Constituinte. É um corpo mais ou menos permanente que não sofre
oscilações em função da mudança de líder (...) A ascensão, por exemplo, do líder da
bancada, isso houve tempos, no início, que eu me lembre, aí logo depois da Constituinte,
ainda era uma coisa que se limitava a dois, no máximo três deputados, que se revezavam
nessa liderança. Hoje já há a ideia de promover um rodízio maior, de fazer com que haja a
oportunidade para que mais membros da bancada possam exercer a liderança. Começam a
aparecer critérios, evidentemente. Além da condição de liderar a bancada, outros critérios
do tipo... Bom, a bancada tem doze parlamentares, cinco, se não me engano, são mulheres.
Começa a haver a preocupação também de que a bancada tenha como liderança também
uma mulher, tenha uma participação expressiva de mulheres entre os seus deputados. Então
critérios novos como esse, por exemplo, passam também a ganhar uma certa importância
(...) Acontece até mesmo surgirem mais de um nome, dois, três nomes para liderar a
bancada, e se procura tratar isso politicamente, escolher de modo a garantir a unidade na
bancada. Não tem havido problema com relação a isso. A ocupação de espaços, por
exemplo, presidência das comissões, relatorias, procura levar em conta a afinidade do
deputado com o tema de um projeto, por exemplo, para que ele possa relatar, ou com a área
de atuação, para exercer a presidência de comissão, mas procura levar em conta também
certo equilíbrio na distribuição de cargos, funções, de papéis de importância, para que o
50
conjunto da bancada possa sobressair no seu trabalho parlamentar. (...) Isso não é decidido
a partir de um jogo de força interno na bancada. Evidentemente, existem os pleitos
individuais de cada um dos deputados, mas em geral as coisas se decidem a partir da
discussão interna na bancada, com a participação da direção nacional do partido. Então isso
é que eu acho que dá essa harmonia maior e todos sabem que é assim que funciona.
Participam da bancada com plena consciência de que as coisas são assim. E acho que o
partido tem tido êxito com essa maneira de tratar as coisas no seu interior.
(...)
Há um exercício, um esforço grande de se exercitar a decisão colegiada na
bancada. Eu não me recordo, nos (...) anos que eu trabalho lá, de ter havido uma disputa
pela liderança. Até surgiram, para o mesmo ano, mais do que um nome, a cogitação de um,
dois, três nomes. Mas nunca houve disputa. Sempre se conseguiu fazer com que as coisas
fossem tratadas e decididas de forma harmônica. O poder do líder é um poder que advém
da sua indicação pela bancada, com a aprovação da direção nacional. Acho que isso
confere a ele um poder maior do que simplesmente o de um dentre os membros da bancada
que foi escolhido às vezes através de uma disputa apertada. Mas ele é também um certo
representante da direção nacional junto à bancada e um representante da bancada junto à
direção nacional. Ele faz essa ligação, o que torna o líder ainda mais forte.
(...)
Claro que há dentre os deputados, isso é natural, aqueles que têm uma maior
projeção, que têm uma maior importância política. Pega o Aldo Rebelo, que já líder do
governo, presidente da Câmara, ministro, até presidente da República por um pequeno
período, mas já foi. É claro que uma pessoa assim tem um peso dentro da bancada. Mas
isso não é usado para a indicação do líder (...) É claro que palavras de deputados como o
Aldo, por exemplo, têm um peso muito grande. Todos ouvem, levam em conta. Existem
diferenças naturais (...) Mas não no sentido em que você encontra em outros partidos, em
que você tem, digamos, os caciques, que têm um poder político e que dão uma palavra e os
outros ficam constrangidos e precisam seguir aquilo, porque afinal ali se trata de um
cacique político. Existe na bancada do PCdoB deputados que têm uma projeção maior, que
têm uma influência política maior (...) Aldo Rebelo, Flávio Dino, no que diz respeito a
mudanças na Constituição, aspectos jurídicos de um modo geral, a reforma política (...) O
que não há é essa ideia do cacique. ―Eu não sou o líder, mas eu que fiz o líder‖. Então, na
verdade, a força é dele, não é do líder. Isso é que não existe pela maneira como as coisas
51
funcionam ali. O líder é indicado porque teve o apoio da bancada, o apoio da direção
nacional, dentro de um processo de rodízio. Se chegou à conclusão que, num ano, era
importante que fosse uma mulher, por conta da força desse critério, que foi aceito (...) E ela
tem a força da liderança, não depende de arranjos internos. Isso aí simplesmente não
acontece na bancada. Diferenças existem, pesos políticos diferentes existem naturalmente.
Deputados que têm menor expressão, deputados que têm maior expressão. Uns têm mais
mandatos, outros chegaram agora. Vêm de áreas diferentes, com histórias e trajetórias
diferentes. Mas não há grupos (...) Não existem grupos de deputados mais influentes ou um
deputado que lidera um conjunto de deputados e, independente do que você esteja
discutindo, ali tem um posicionamento de grupo (...) Isso muda, dependendo do assunto.
Você vai tratar da reforma política, é claro que a posição do Flávio Dino tem um peso
específico maior do que de outros, porque ele é especialista naquilo e o que ele disser vai
ter um peso relativo maior (...) Mas isso não se dá permanentemente. Isso muda. Essas
coisas acontecem, mas acontecem pontualmente, caso a caso. A cada caso é diferente (...)
Não há grupos organizados dentro da bancada e ninguém segue uma liderança (Entrevista
realizada em 31/3/2010).
De fato, ao longo da atual legislatura, a liderança da bancada do PCdoB se vem
alternando entre um homem e uma mulher: em 2007, o líder era o deputado Renildo
Calheiros; em 2008, a deputada Jô Moraes; em 2009, o deputado Daniel Almeida. Neste
ano, a liderança está nas mãos da deputada Vanessa Grazziotin, que também é vice-líder do
bloco PSB/PCdoB/PMN/PRB. Daniel Almeida, que já ocupou o cargo no primeiro
semestre de 2008, é o atual líder do bloco. Ele (2008-2009), Flávio Dino (2008-2010), Jô
Moraes (2008-2009), Perpétua Almeida (2008-2009) e Alice Portugal têm também atuado
como vice-líderes do bloco.32
O Partido Democrático Trabalhista – PDT foi fundado em 1980, logo depois do
início do processo de abertura política da ditadura militar. Em 1979, de volta do exílio,
Leonel Brizola tentou reorganizar o antigo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB. Foi,
porém, surpreendido pela ação concorrente de Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio
Vargas, que também reivindicava para si o controle do partido. Após disputas judiciais, o
Tribunal Superior Eleitoral – TSE entregou a legenda ao grupo liderado por Ivete. À época,
32
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
52
acusou-se o general Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil, de tramar a
entrega da sigla a Ivete, para o fim de enfraquecer o grupo de Brizola. Brizola formou
então o PDT. Em 1984, o PDT participou do movimento pelas eleições diretas à
presidência da República. Em 1986, elegeu 24 deputados constituintes, que se destacaram
pela defesa de temas nacionalistas. Em 1989, o PDT lançou Brizola como candidato a
presidente da República. Derrotado no primeiro turno, Brizola apoiou Lula no segundo.
Em 1994, o PDT outra vez lançou Brizola como candidato a presidente, conseguindo
apenas a quinta colocação. Em 1998, o PDT resolveu coligar-se com o Partido dos
Trabalhadores – PT, lançando Brizola como o vice de Lula. Em 2002, formou a Frente
Trabalhista com o PPS e o PTB, a qual lançou a candidatura de Ciro Gomes à presidência
da República. No segundo turno, o PDT apoiou Lula. Com a vitória de Lula, foi convidado
a fazer parte do governo. O deputado Miro Teixeira foi nomeado ministro das
Comunicações. Depois de um ano, no entanto, o PDT rompeu com o governo, passando a
integrar a oposição. Em 2006, morto Brizola, o PDT lançou como candidato à presidente
da República o senador e ex-ministro da Educação do governo Lula, Cristovam Buarque.
Derrotado no primeiro turno, o PDT apoiou Lula no segundo. Com a reeleição de Lula, o
PDT foi outra vez convidado a integrar o governo. O presidente do partido, Carlos Lupi,
foi nomeado ministro do Trabalho e Emprego, situação que se mantém até hoje.33
A Tabela 3 contém dados sobre a estrutura do PDT na Câmara dos Deputados na
atual legislatura (2007-2011).
Tabela 3: Estrutura do PDT na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ADEMIR
CAMILO
Superior
completo Médico, Advogado Vereador (2), Vice-Prefeito 2 MG Não PDT 0
ARNALDO
VIANNA
Superior
completo Médico
Vereador, Vice-Prefeito,
Secretário Municipal, Prefeito 1 RJ Não PDT 0
BRIZOLA
NETO
Ensino Médio
completo Vereador 1 RJ Não PDT 0
DAGOBERTO Superior
completo
Advogado,
Administrador de
Empresas
Deputado Estadual, Secretário
Estadual (2) 1 MS Não PDT 0
DAMIÃO
FELICIANO
Superior
completo
Médico, Empresário,
Radialista Secretário Estadual 3 PB Não PL 2
33
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PDT (http://pdt12.locaweb.com.br/inicial.asp). Acesso em: 10
ago 2009.
53
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ENIO BACCI Superior
completo Advogado Vereador, Secretário Estadual 4 RS Não PDT 0
FERNANDO
CHIARELLI Professor Vereador 1 SP Não PDT 0
GIOVANNI
QUEIROZ
Superior
completo
Médico e
Agropecuarista Prefeito, Deputado Estadual 4 PA Não PDT 0
JOÃO DADO Superior
completo
Agente Fiscal de
Rendas 3 SP Não PDT 0
JOSÉ CARLOS
ARAÚJO
Superior
incompleto Administrador Deputado Estadual (3) 2 BA Não PL 1
JULIÃO AMIN Superior
completo Advogado
Secretário Municipal (3),
Deputado Estadual (3) 1 MA Não PDT 0
MANATO Superior
completo Médico Secretário Municipal 2 ES Não PDT 0
MARCOS
MEDRADO
Superior
completo
Administrador de
Empresa e
Radialista
Vereador, Vice-Prefeito,
Secretário Municipal, Deputado
Estadual
3 BA Não PDT 0
MÁRIO
HERINGER
Superior
completo Médico 2 MG Não PDT 0
MIRO
TEIXEIRA
Superior
completo Advogado
Secretário-Geral do Ministério da
Administração, Ministro das
Comunicações
9 RJ Não PDT 0
PAULO
PEREIRA DA
SILVA
Ensino Médio
completo
Controlador de
Qualidade,
Metalúrgico
Sindicalista 1 SP Não PDT 0
PAULO RUBEM
SANTIAGO
Superior
completo
Professor
Universitário
Vereador (2), Deputado Estadual
(2) 2 PE Não PT 1
POMPEO DE
MATTOS
Superior
completo
Advogado e
Bancário
Vereador, Prefeito, Deputado
Estadual (2) 3 RS Não PDT 0
SEBASTIÃO
BALA ROCHA
Superior
completo Médico
Deputado Estadual, Secretário
Estadual 1 AP Não PDT 0
SUELI
VIDIGAL
Superior
incompleto Servidora Pública Deputada Estadual 1 ES Não PDT 0
VIEIRA DA
CUNHA
Superior
completo Advogado
Vereador (2), Deputado Estadual
(3), Presidente da Companhia
Estadual de Energia Elétrica,
Promotor de Justiça
1 RS Não PDT 0
WILSON
PICLER 1 PR Não PDT 0
WOLNEY
QUEIROZ
Superior
completo Empresário Vereador 3 PE Não PDT 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos 23 deputados hoje integrantes da bancada do PDT na Câmara, 19 têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (83%). Entre as categorias
profissionais, destacam-se os advogados (sete, 30%), os médicos (cinco, 22%), e os
administradores (três, 13%). Vinte deputados pedetistas já exerceram cargos públicos
importantes fora da Câmara dos Deputados (87%): seis somente no Legislativo (30%);
nove no Legislativo e no Executivo (45%); três só no Executivo (15%); um no Legislativo,
no Executivo e no Ministério Público (5%); e um na estrutura sindical (5%).34
Vale
salientar que o deputado Miro Teixeira já foi ministro das Comunicações no primeiro
governo Lula. Treze pedetistas já exerceram o mandato de deputado federal mais de uma
vez (57%), estando o deputado Miro Teixeira entre os membros da Câmara com o maior
tempo de permanência no cargo. Ele e o deputado Inocêncio Oliveira, hoje do Partido da
34
A estrutura sindical é aqui considerada como integrando o setor público no sentido lato.
54
República – PR, cada um com nove mandatos, só perdem para o deputado Henrique
Eduardo Alves, do PMDB, com dez mandatos. Os 23 deputados do PDT representam todas
as regiões do país, com o predomínio do Sudeste (43%). Todos foram eleitos pelos votos
de legenda (100%), havendo três eleitos por outros partidos: um pelo Partido dos
Trabalhadores – PT e dois eleitos pelo Partido Liberal – PL, hoje PR. Portanto, dos 23
deputados que atualmente integram a bancada do PDT na Câmara, três já mudaram de
partido pelo menos uma vez nesta legislatura (13%). O PDT, por sua vez, perdeu quatro
deputados para outras legendas (17% da bancada das eleições): um para o PMDB, dois
para o PR e um para o Partido Social Cristão – PSC.
Na forma do art. 14 do Estatuto do PDT, o líder na Câmara dos Deputados e nas
demais casas legislativas é escolhido por resolução conjunta da executiva e da bancada
respectivas. A bancada apenas está obrigada a seguir o ―princípio de unidade de ação nas
votações cujo mérito esteja contido no Programa ou nos Estatutos do Partido, que tenha
sido objeto de deliberação coletiva ou emanada da direção partidária‖.
Essa relativa autonomia da bancada da Câmara dos Deputados em relação à direção
nacional do partido, prevista no Estatuto, é constatada na prática, segundo o assessor do
PDT entrevistado:
A maioria da bancada hoje não veio diretamente do PDT. Ela veio das
circunstâncias locais. E por algum motivo se aproximaram do PDT, mas não
ideologicamente (...) Não é aquela linha de confrontação que o [Leonel] Brizola defendia.
Hoje é uma bancada mais congressual do que de partido de massa, de fazer as reformas, as
transformações (...) E hoje não temos um líder de massa (...) No Parlamento, não tem mais
a figura do grande político, do grande líder. Hoje eles estão mais ou menos parecidos,
porque são muito pragmáticos e defendem, por exemplo, a questão de cargo, a questão de
emendas parlamentares. A doutrina, ela não é mais, ela não é mais a grande protagonista.
Hoje é mais a sobrevivência parlamentar. O deputado tem que ser reeleito. Tem que ter
emenda pra se reeleger. Tem que ter influência pra nomear pessoas de sua confiança, tem
que ter influência pra levar verbas e grandes projetos pros seus estados. É mais uma
atividade, além da legislativa e de fiscalização: o deputado tem que cuidar de sua base (...)
Não há mais essa preocupação ideológica, doutrinária nem programática.
(...)
55
Hoje nós temos uma liderança que eu vejo que tem mais aprofundamento e por isso
mesmo ela é mais respeitada: é a do Paulinho, da Força Sindical [deputado Paulo Pereira da
Silva]. Hoje eu diria que o Paulinho é o parlamentar que tem mais influência no PDT.
Porque ele representa uma corrente do sindicalismo que antes era confundida como
conservadora, mas hoje ela se tornou progressista. Justamente por causa dessa aproximação
do PDT (...) Ofereceram a liderança ao Paulinho e ele não quis. Porque ele não se considera
um deputado de Plenário. Ele é um homem de articulação. Não é só um deputado
congressual. Ele tem uma base popular. Ele tem uma penetração no sindicalismo (...) O
Brizola Neto também já é uma grande liderança (...) Mas também com esse corte não
revolucionário, não transformista.
(...)
[O deputado Miro Teixeira] é um grande parlamentar, fala muito bem. Ele tem
muito tempo aqui no Parlamento, conhece muito o Parlamento. Então o partido o encarrega
dessas defesas no Parlamento. Mas, ao mesmo tempo, ele tem posturas que não se
coadunam com a doutrina partidária (...) Ele não expressa a história do PDT. Ele é uma
liderança pessoal (...) Tá até meio outsider. A gente não vê ele nas reuniões da bancada (...)
Só faz o que dá na cabeça dele, ele não se afina. Por exemplo, ele não vai a uma reunião do
partido. Só vai quando precisa (Entrevista realizada em 30/3/2010).
O comportamento individualista do deputado Miro Teixeira e de outros integrantes
da bancada do PDT, criticado pelo assessor do partido, é defendido pelo próprio deputado
Miro Teixeira como indicador do amadurecimento da democracia brasileira:
Há dois anos o PDT tá fazendo um revezamento de líder por semestre, o que eu
acho um absoluto equívoco. O revezamento de líderes foi introduzido aqui pelo PT.
Quando você tinha o quadro partidário definido, que as pessoas se identificavam mesmo
com os partidos – as pessoas se diziam petebistas, peessedistas, udenistas –, os líderes de
bancada, eles surgiam, eles viam à tona pelo desempenho e permaneciam. Bom, aí veio o
Golpe de 64. Impôs o bipartidarismo. Depois a própria ditadura percebeu que tinha
organizado a frente de oposição, o MDB, e aí extingue os partidos. E nós viemos pra esse
multipartidarismo exacerbado, que não é ocasional. Isso é muito dirigido por um sistema de
dominação político-econômica. Não vamos achar que isso é paranóia, não. Existe. Bom,
então as escolhas de lideranças passaram a ser mais... quando o partido está no governo,
passaram a ser mais por essa afetividade do candidato com o governo. Quando o partido
56
está na oposição, aí a discussão é outra. São as candidaturas que podem surgir à presidência
da República, como está se vendo no PSDB, lutas internas para fazer a liderança e fazer o
mais próximo do Serra. Houve isso recentemente aqui. Então eu acho que o cenário
partidário é ruim, de modo geral. Acho que os líderes não estão representando as bancadas.
Você olha os resultados das votações nessa semana. Os líderes mandando obstruir e
ninguém obstruiu. Os líderes mandando votar ―não‖ e todo mundo votou ―sim‖. E não é
por ser ano eleitoral. É porque a democracia tá amadurecendo e o Parlamento vai se
impondo. E os mandatos também vão começando a se impor perante o seu titular. Então
chega aqui alguém eleito e acha que ele vai ter aqui o desempenho dele mesmo. Não, isso é
um mandato. Nós somos representantes, né? E tá havendo o amadurecimento da
democracia, tá havendo essa rebelião, que é um momento de transição em face dos
posicionamentos de líderes partidários.
(...)
Eu disputei a liderança esse ano [2007] para trabalhar contra isso que se
denominou de reforma política e não é nenhuma reforma política. Nós não encontramos
nesse projeto nem vestígio de reforma política. O que você encontra é uma tentativa de
alteração do sistema eleitoral de deputado, só. Chama-se reforma política a mudança do
voto proporcional para o voto em lista, que retira do eleitor a escolha. Em resumo, na
simplificação, retira o voto direto do povo no seu representante. Por isso eu fui candidato a
líder e assumi a liderança (...) Eu acho o sistema atual o único que permite o mandato livre.
Ele até pode não ser livremente exercido, mas tá à disposição para quem quiser ter o
mandato independente e prestar contas àqueles que são os titulares mesmos do direito (...)
O indivíduo é o objeto da busca política. É um equívoco contestar isso. Nada se afasta,
nada pode se afastar da participação do indivíduo, do bem-estar do indivíduo, do direito
individual, como são os direitos individuais da Constituição. E isso é citado como crítica.
Não, isso é ser evolução (Entrevista realizada em 6/5/2010).
O deputado Miro Teixeira de fato foi o líder da bancada do PDT na Câmara em
2007. Em 2008, o líder foi o deputado Vieira da Cunha. A partir de 2009, decidiu-se
alternar a liderança a cada semestre. O deputado Brizola Neto foi o líder durante o primeiro
semestre daquele ano. Desde o início do segundo semestre de 2009, a liderança tem estado
57
nas mãos do deputado Dagoberto.35
De acordo com o assessor entrevistado, o deputado
Brizola Neto deverá voltar a liderar a bancada ainda em 2010.
O Partido Socialista Brasileiro – PSB foi criado em 1947 a partir da Esquerda
Democrática, como uma alternativa ao PC-SBIC e ao PTB. Aceitava algumas teses
marxistas, como a socialização dos meios de produção, mas se opunha ao stalinismo
defendido pelo PC-SBIC. Censurava no PTB tanto a dedicação à figura de Getúlio Vargas
quanto a vinculação às estruturas sindicais herdadas do ―Estado Novo‖. Teve a adesão de
intelectuais como Rubem Braga, José Lins do Rego, Antônio Cândido, Fúlvio Abramo,
Hélio Pellegrino e Sérgio Buarque de Hollanda. Em 1953, o PSB apoiou a candidatura de
Jânio Quadros à prefeitura de São Paulo e, no ano seguinte, ao governo do Estado. Com o
passar do tempo, o ―janismo‖ passou a dominar o partido em São Paulo e no Paraná. Em
1960, a direção nacional expulsou os janistas da legenda. Como os demais partidos, o PSB
foi extinto em 1965 pela ditadura militar. Foi recriado em 1985 com a redemocratização do
país. Em 1986, elegeu apenas um constituinte. Outros aderiram ao partido ao longo do
processo de elaboração da Constituição de 1988. Em 1989, apoiou a candidatura de Lula à
presidência da República. A partir de 1990, o PSB passou a ser controlado pelo então
governador do Pernambuco Miguel Arraes, ex-PMDB. Em 1992, teve participação no
impeachment de Collor e no governo de seu sucessor, Itamar Franco. Em 1994, outra vez
apoiou a candidatura de Lula ao cargo de presidente da República. Vetou a entrada de Ciro
Gomes e novamente apoiou a candidatura de Lula em 1998. A partir de 2000, o PSB
passou ao controle do então governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, ex-PDT.
Em 2002, lançou Garotinho à presidência da República. Derrotado no primeiro turno,
apoiou Lula no segundo. Roberto Amaral, um dos refundadores do partido, foi nomeado
ministro da Ciência e Tecnologia do primeiro governo Lula, sendo sucedido por Eduardo
Campos em 2004 e Sérgio Resende em 2006, todos do PSB. Com a desfiliação de
Garotinho em 2003, o PSB voltou ao controle do grupo de Arraes. Ciro Gomes, então
35
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
58
ministro da Integração Nacional, foi finalmente admitido no partido. Em 2006, o PSB
apoiou a reeleição de Lula.36
A Tabela 4 contém dados sobre a estrutura do PSB na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
Tabela 4: Estrutura do PSB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ABELARDO
CAMARINHA
Superior
completo Advogado, Professor
Vereador, Prefeito (3),
Deputado Estadual (2) 1 SP Não PSB 0
ANA ARRAES Superior
completo
Advogada, Servidora
Pública 1 PE Sim PSB 0
ARIOSTO
HOLANDA
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Professor
Universitário
Secretário Estadual (2) 5 CE Não PSB 0
ÁTILA LIRA Superior
completo
Administrador de
Empresas,
Economista
Secretário Estadual (2),
Presidente de Fundação
Estadual (2), Secretário de
Ensino Médio e Tecnológico –
Ministério da Educação
5 PI Não PSDB 1
BETO
ALBUQUERQUE
Superior
completo Advogado
Deputado Estadual (2),
Secretário Estadual 3 RS Não PSB 0
CAPITÃO
ASSUMÇÃO 1 ES Não PSB 0
CIRO GOMES Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Prefeito, Deputado Estadual (2),
Governador, Ministro da
Fazenda, Ministro da Integração
Nacional
1 CE Sim PSB 0
DR. UBIALI Superior
completo
Médico, Contador,
Professor
Universitário
1 SP Não PSB 0
FERNANDO
COELHO FILHO
Superior
completo
Administrador de
Empresas 1 PE Não PSB 0
GIVALDO
CARIMBÃO
Ensino
Fundamental
incompleto
Comerciante, Gráfico Vereador (3), Secretário
Municipal 3 AL Não PSB 0
GLAUBER
BRAGA Secretário Municipal (4) 1 RJ Não PSB 0
GONZAGA
PATRIOTA
Superior
completo
Advogado, Contador,
Administrador de
Empresas, Jornalista
Deputado Estadual, Secretário
Nacional de Trânsito –
Ministério da Justiça
5 PE Não PSB 0
JANETE
CAPIBERIBE
Superior
incompleto
Vereadora, Deputada Estadual
(3) 2 AP Não PSB 0
JEFFERSON
CAMPOS
Superior
Completo
Pastor Evangélico,
Advogado, Radialista Vereador (2) 2 SP Não PTB 1
JÚLIO DELGADO Superior
completo Advogado Secretário Estadual adjunto 3 MG Não PSB 0
LAUREZ
MOREIRA
Superior
completo Advogado
Vereador, Deputado Estadual
(3), Procurador Estadual,
Secretário Estadual
1 TO Não PFL 1
LÍDICE DA MATA Superior
completo Economista
Vereadora, Prefeita, Deputada
Estadual (2) 2 BA Sim PSB 0
LUIZA
ERUNDINA
Superior
completo
Assistente Social,
Professora
Universitária
Vereadora, Prefeita, Deputada
Estadual 3 SP Não PSB 0
MARCELO
SERAFIM
Superior
completo
Farmacêutico
Bioquímico, Servidor
Público
1 AM Não PSB 0
MÁRCIO
FRANÇA
Superior
completo
Advogado, Servidor
Público Vereador, Prefeito 1 SP Não PSB 0
MARIA HELENA Superior
completo Advogada
Procuradora Municipal,
Secretária Municipal (2) 2 RR Não PSB 0
MAURO NAZIF Superior
completo Médico
Vereador (2), Deputado
Estadual (2) 1 RO Não PSB 0
36
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br) e do PSB (http://www.psbnacional.org.br). Acesso
em: 11 ago 2009.
59
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
RIBAMAR ALVES Superior
completo Médico Deputado Estadual 2 MA Não PSB 0
RODRIGO
ROLLEMBERG
Superior
completo Servidor Público
Deputado Estadual (2),
Secretário Estadual (2),
Secretário de Ciência e
Tecnologia para Inclusão Social
– Ministério da Ciência e
Tecnologia
1 DF Não PSB 0
SANDRA
ROSADO
Superior
completo
Assistente Social,
Advogada
Secretária Municipal, Vice-
Prefeita, Prefeita, Deputada
Estadual
2 RN Não PSB 0
VALADARES
FILHO
Superior
completo
Administrador de
Empresas 1 SE Não PSB 0
VALTENIR
PEREIRA
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário Vereador, Defensor Público 1 MT Não PSB 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
24 dos 27 deputados que hoje compõem a bancada do PSB têm escolaridade de
nível superior completo ou incompleto (93%). Entre as categorias profissionais,
predominam os advogados (doze, 44%), os professores (seis, 22%), os médicos (três, 11%)
e os administradores (três, 11%). 21 já exerceram cargos públicos importantes fora da
Câmara dos Deputados (78%): quatro somente no Legislativo (19%); onze no Legislativo e
no Executivo (52%); cinco só no Executivo (24%); e um no Legislativo e na Defensoria
Pública (5%). Vale destacar que o deputado Ciro Gomes já foi governador do Estado do
Ceará (1991-1994), ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e ministro da
Integração Nacional do primeiro governo Lula. Treze socialistas já exerceram mais de um
mandato na Câmara dos Deputados (48%). Os 27 deputados do PSB representam todas as
regiões do país, com o predomínio do Nordeste (41%). 24 dos 27 deputados foram eleitos
pelos votos de legenda (89%). Os deputados Ana Arraes, Ciro Gomes e Lídice da Mata
foram eleitos pelos votos próprios. Três deputados atualmente integrantes da bancada do
PSB foram eleitos por outros partidos: um pelo PSDB, um pelo PTB e um pelo Partido da
Frente Liberal – PFL, hoje DEM. Portanto, dos 27 deputados que atualmente compõem a
bancada do PSB na Câmara, três já mudaram de partido pelo menos uma vez nesta
legislatura (11%). O PSB, por sua vez, perdeu cinco deputados para outras legendas (18%
da bancada das eleições): um para o PMDB, um para o PSDB, um para o PP, um para o
PRB e um para o PSC.37
37
O deputado Alexandre Cardoso licenciou-se para assumir a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia
do Rio de Janeiro. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado Eduardo Lopes, que recentemente
migrou para o PRB (computado acima). O deputado Djalma Berger renunciou para exercer o cargo de
prefeito de São José-SC. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Paulo Bauer, do PSDB. Antes
60
Nos moldes do art. 56 do Estatuto do PSB, as bancadas elegem livremente seu
líder, o qual integra a comissão executiva do diretório respectivo. Não havendo acordo, o
líder é indicado pela comissão executiva.
A bancada do PSB na Câmara dos Deputados, porém, vem recebendo forte
influência do grupo liderado pelo governador do Pernambuco, Eduardo Campos,
presidente do partido, neto de Miguel Arraes e filho da deputada Ana Arraes. Deputados
como Luiza Erundina e Ciro Gomes, no entanto, gozam de relativa autonomia dentro da
bancada. Nas palavras do assessor do PSB entrevistado,
existem pessoas que têm um comportamento bem particular e independem do partido.
Poderia citar a deputada Luiza Erundina como exemplo. Ela tem uma completa autonomia.
Ela não é questionada quanto às suas posições. Uma pessoa vinda da esquerda e que
mantém fielmente o seu comportamento nesse sentido. Eu diria mais: não é nem só um
comportamento ideológico de esquerda. É um comportamento dentro de uma ideologia que
ela apregoa desde os idos do PT e por aí vai. Então ela é uma pessoa que mantém isso. Isso
é admirável. Em que pese às vezes umas teses serem passíveis de questionamento –
questão de mérito –, ela mantém e isso é formidável (...) O Ciro Gomes é outra pessoa que
também toma as suas posições bem particulares.
(...)
A bancada de Pernambuco não é uma bancada pequena (...) Além de ser o
governador, [Eduardo Campos] é o presidente do partido. Isso potencializa a sua
influência. Exerce-a diretamente com os líderes, mas os outros parlamentares tendem a
respeitá-lo muito (Entrevista realizada em 12/4/2010).
Nas duas primeiras sessões legislativas desta legislatura, ou seja, em 2007 e em
2008, a bancada do PSB na Câmara foi liderada pelo deputado Márcio França. O deputado
Rodrigo Rollemberg vem exercendo o cargo de líder desde 2009. Depois de haver liderado
de migrar para a bancada do PSB, o deputado Djalma Berger fazia parte da bancado do PSDB, partido pelo
qual foi eleito.
61
o bloco PSB/PCdoB/PMN/PRB em 2007 e em 2009,38
o deputado Márcio França deverá
voltar a fazê-lo neste ano, segundo informou o assessor entrevistado.
O Partido dos Trabalhadores – PT foi fundado em 1980 por sindicalistas,
intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação. Surgiu rejeitando
tanto o sindicalismo oficial, representado pelo PTB varguista e pelo então Comando Geral
dos Trabalhadores, atualmente Confederação Geral dos Trabalhadores – CGT, quanto os
modelos socialistas soviético e chinês. Encabeçam sua lista de fundadores Mario Pedrosa,
Antonio Candido e Sérgio Buarque de Hollanda. As ações de líderes sindicais como Lula e
Jair Meneguelli têm-se revelado mais pragmáticas do que ideológicas. Foi oficialmente
reconhecido como partido político em 1982. Em 1984, o PT participou do movimento
pelas eleições diretas à presidência da República. Em 1985, elegeu a prefeita de Fortaleza,
Maria Luíza Fontenele. Em 1988, elegeu a prefeita de São Paulo, Luíza Erundina, o
prefeito de Porto Alegre, Olívio Dutra,39
e o prefeito de Vitória, Vítor Buaiz. Em 1989,
com o apoio do PCdoB e do PSB, o PT lançou a candidatura de Lula ao cargo de
presidente da República. Em 1990, elegeu Eduardo Suplicy para o Senado Federal. Em
1992, participou do processo que resultou no impeachment de Collor, mas se recusou a
tomar parte no governo de seu sucessor, Itamar Franco. Em 1994, com o apoio do PCdoB,
do PPS, do PSB e do Partido Verde – PV, o PT outra vez lançou a candidatura de Lula a
presidente da República. Naquele ano, elegeu os governadores do Espírito Santo e do
Distrito Federal. Em 2002, com o apoio do PCdoB, do PDT e do PSB, o PT finalmente
elegeu Lula presidente da República, assim como dez senadores e 91 deputados federais.
Em 2003, João Paulo Cunha foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Nas eleições
municipais de 2004, o PT perdeu importantes centros urbanos como São Paulo e Porto
Alegre, mas o número total de prefeitos eleitos pelo partido subiu de 187 para 409. Em
2006, reelegeu Lula. O PT passou a girar cada vez mais em torno de Lula e do grupo
ideologicamente mais afinado com ele, a tendência Construindo um Novo Brasil – CNB,
que inclui José Dirceu, Marco Aurélio Garcia, Luiz Dulci, Ricardo Berzoini, Antonio
38
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
39 O PT controlou a Prefeitura de Porto Alegre por dezesseis anos, elegendo sucessivamente Tarso Genro,
Raul Pont e novamente Tarso Genro.
62
Palocci, João Paulo Cunha, José Genoíno, Luiz Sérgio e Maurício Rands. Correntes de
extrema esquerda deixaram o partido, formando o Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificados – PSTU, o Partido da Causa Operária – PCO, ambos no início dos anos 1990s,
e o PSOL, em 2004.40
A Tabela 5 contém dados sobre a estrutura do PT na Câmara dos Deputados na
atual legislatura (2007-2011).
Tabela 5: Estrutura do PT na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ANDRE
VARGAS
Superior
completo Comerciante Vereador, Deputado Estadual 1 PR Não PT 0
ANGELA
PORTELA
Superior
completo Professora
Secretária Estadual adjunta,
Secretária Estadual 1 RR Não PTC 1
ANGELO
VANHONI
Superior
completo Bancário Vereador, Deputado Estadual (3) 1 PR Não PT 0
ANSELMO DE
JESUS
Ensino
Fundamental
completo
Agricultor 2 RO Não PT 0
ANTÔNIO
CARLOS BIFFI
Superior
completo Professor Secretário Estadual (2) 2 MS Não PT 0
ANTONIO
CARLOS
BISCAIA
Superior
Completo
Advogado, Professor
Universitário
Secretário Estadual; Promotor,
Procurador e Procurador-Geral de
Justiça
3 RJ Não PT 0
ANTONIO
PALOCCI
Superior
completo Médico
Vereador, Deputado Estadual,
Prefeito (2), Ministro da Fazenda 2 SP Não PT 0
ARLINDO
CHINAGLIA
Superior
completo Médico
Secretário Municipal, Deputado
Estadual, Presidente da Câmara
dos Deputados
4 SP Não PT 0
ASSIS DO
COUTO
Ensino
Fundamental
incompleto
Agricultor 2 PR Não PT 0
BETO FARO Ensino Médio
completo Agricultor Superintendente do Incra 2 PA Não PT 0
CÂNDIDO
VACCAREZZA
Superior
completo Médico
Secretário Municipal, Deputado
Estadual (2) 1 SP Não PT 0
CARLOS
ABICALIL
Superior
completo Professor 2 MT Não PT 0
CARLOS
SANTANA
Superior
incompleto
Metalúrgico
Ferroviário 5 RJ Não PT 0
CARLOS
ZARATTINI
Superior
completo Economista
Vereador, Secretário Municipal
(2), Deputado Estadual 1 SP Não PT 0
CHICO
D'ANGELO
Superior
completo Médico
Secretário Municipal, Presidente
de Fundação Municipal 1 RJ Não PT 0
CIDA DIOGO Superior
completo Médica, Professora
Vice-Prefeita, Secretária
Municipal, Deputada Estadual (2) 1 RJ Não PT 0
DALVA
FIGUEIREDO
Superior
completo Servidora Pública Vice-Governadora, Governadora 1 AP Não PT 0
DÉCIO LIMA Superior
completo Advogado, Professor Vereador, Prefeito (2) 1 SC Não PT 0
DEVANIR
RIBEIRO
Ensino Médio
completo Aposentado Vereador (4) 2 SP Não PT 0
DOMINGOS
DUTRA
Superior
completo Advogado
Vereador (2), Vice-Prefeito,
Deputado Estadual (2) 2 MA Não PT 0
DR. ROSINHA Superior
completo
Médico, Servidor
Público Vereador, Deputado Estadual (2) 3 PR Não PT 0
40
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html), do PT (http://www.pt.org.br/portalpt/index.php) e do Construindo
um Novo Brasil (HTTP://www.construindoumnovobrasil.com.br). Acesso em: 11 ago 2009.
63
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
EDUARDO
VALVERDE
Superior
completo Servidor Público 2 RO Não PT 0
ELISMAR
PRADO
Superior
completo Sociólogo, Músico Vereador 1 MG Não PT 0
EMILIA
FERNANDES Professora
Vereadora (3), Senadora, Ministra
da Secretaria Especial de Política
para as Mulheres
1 RS Não PT 0
EMILIANO
JOSÉ
Superior
completo
Bancário, Professor
Universitário
Aposentado,
Jornalista
Vereador, Deputado Estadual (2),
Superintendente adjunto do Incra 1 BA Não PT 0
EUDES XAVIER Superior
incompleto Comerciário 1 CE Não PT 0
FÁTIMA
BEZERRA
Superior
completo Pedagoga Deputada Estadual (2) 2 RN Não PT 0
FERNANDO
FERRO
Superior
completo Engenheiro Elétrico Vereador 4 PE Não PT 0
FERNANDO
MARRONI
Superior
completo Engenheiro Elétrico Prefeito 1 RS Não PT 0
FERNANDO
MELO
Superior
completo
Administrador de
Empresas
Deputado Estadual, Diretor-Geral
do Detran, Secretário Estadual 1 AC Não PT 0
FERNANDO
NASCIMENTO Vereador 1 PE Não PT 0
FRANCISCO
PRACIANO
Superior
completo
Economista, Analista
de Sistemas Vereador (4) 1 AM Não PT 0
GERALDO
SIMÕES
Superior
completo
Administrador de
Empresas, Servidor
Público
Prefeito (2), Deputado Estadual
(2), Secretário Estadual 2 BA Não PT 0
GILMAR
MACHADO
Superior
completo Professor Deputado Estadual (2) 3 MG Não PT 0
HENRIQUE
FONTANA
Superior
completo
Médico,
Administrador de
Empresas
Vereador (2), Secretário
Municipal 3 RS Não PT 0
IRAN BARBOSA Superior
completo Professor Vereador 1 SE Não PT 0
IRINY LOPES Ensino Médio
completo 2 ES Não PT 0
JANETE ROCHA
PIETÁ
Superior
completo Arquiteta, Professora Secretária Municipal adjunta 1 SP Não PT 0
JILMAR TATTO Superior
completo Professor, Empresário
Secretário Municipal (4),
Deputado Estadual (2) 1 SP Não PT 0
JOÃO PAULO
CUNHA
Superior
incompleto Metalúrgico
Vereador, Deputado Estadual,
Presidente da Câmara dos
Deputados
4 SP Não PT 0
JORGE BOEIRA Superior
Completo
Engenheiro
Mecânico, Professor Deputado Estadual 2 SC Não PT 0
JOSÉ AIRTON
CIRILO
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Advogado
Vereador (2), Prefeito (2), Diretor
da Agência Nacional de
Transporte Terrestre
1 CE Não PT 0
JOSÉ EDUARDO
CARDOZO
Superior
completo
Advogado, Professor
universitário
Vereador (3), Secretário
Municipal 2 SP Não PT 0
JOSÉ GENOÍNO Superior
incompleto Professor 6 SP Não PT 0
JOSÉ
GUIMARÃES
Superior
completo Advogado
Deputado Estadual (3), Presidente
do Instituto de Previdência de
Fortaleza
1 CE Não PT 0
JOSÉ MENTOR Superior
completo Advogado Vereador (3), Deputado Estadual 2 SP Não PT 0
JOSEPH
BANDEIRA Prefeito (2) 1 BA Não PT 0
LEONARDO
MONTEIRO
Superior
completo Advogado 2 MG Não PT 0
LUIZ ALBERTO Superior
completo Técnico Químico Secretário Estadual 4 BA Não PT 0
LUIZ COUTO Superior
completo
Padre Católico,
Professor
Universitário
Deputado Estadual (2) 2 PB Não PT 0
LUIZ SÉRGIO Ensino Médio
completo Delineador Naval Vice-Prefeito, Prefeito 3 RJ Não PT 0
MAGELA Ensino Médio
completo Bancário
Deputado Estadual (2), Secretário
Estadual 2 DF Não PT 0
MARCO MAIA Superior
incompleto
Industriário
(Metalúrgico)
Presidente da Empresa de Trens
Urbanos de Porto Alegre,
Secretário Estadual
2 RS Não PT 0
MARIA DO
ROSÁRIO
Superior
completo Professora Vereadora (2), Deputada Estadual 2 RS Não PT 0
64
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
MAURÍCIO
RANDS
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário Secretário Municipal 2 PE Não PT 0
MIGUEL
CORRÊA
Superior
completo
Professor,
Comunicador Vereador 1 MG Não PT 0
NAZARENO
FONTELES
Superior
completo Médico
Vereador, Deputado Estadual,
Secretário Estadual 2 PI Não PT 0
NILSON
MOURÃO
Superior
completo
Professor
Universitário Deputado Estadual (2) 3 AC Não PT 0
ODAIR CUNHA Superior
completo Advogado 2 MG Não PT 0
PAULO
DELGADO
Superior
Completo Sociólogo, Professor 6 MG Não PT 0
PAULO
PIMENTA
Superior
completo
Técnico Agrícola,
Jornalista
Vereador (2), Deputado Estadual,
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal (2)
2 RS Não PT 0
PAULO ROCHA Ensino Médio
completo
Técnico em Artes
Gráficas 5 PA Não PT 0
PAULO
TEIXEIRA
Superior
completo Advogado
Vereador, Chefe de Gabinete de
Prefeitura, Secretário Municipal,
Administrador Regional do
Município de São Paulo (2),
Deputado Estadual (2)
1 SP Não PT 0
PEDRO
EUGÊNIO
Superior
completo
Economista,
Professor
Universitário
Deputado Estadual, Secretário
Estadual (3) 2 PE Não PT 0
PEDRO WILSON Superior
completo
Advogado,
Sociólogo, Professor
Universitário
Vereador, Prefeito, Reitor da UCG 3 GO Não PT 0
PEPE VARGAS Superior
completo Médico
Vereador, Deputado Estadual,
Prefeito (2) 1 RS Não PT 0
REGINALDO
LOPES
Superior
completo Economista 2 MG Não PT 0
RICARDO
BERZOINI
Superior
incompleto Bancário
Ministro da Previdência e
Assistência Social, Ministro do
Trabalho e Emprego
3 SP Não PT 0
RUBENS OTONI Superior
completo
Professor
Universitário,
Consultor Jurídico,
Consultor de
Empresas.
Deputado Estadual (2) 2 GO Não PT 0
SÉRGIO
BARRADAS
CARNEIRO
Superior
completo
Advogado,
Administrador de
Empresas
Vereador, Presidente da
Companhia Municipal, Deputado
Estadual, Secretário Estadual
3 BA Não PT 0
VANDER
LOUBET
Ensino Médio
completo
Bancário, Servidor
Público Secretário Estadual (2) 2 MS Não PT 0
VICENTINHO Superior
completo
Metalúrgico,
Advogado Sindicalista 2 SP Não PT 0
VIGNATTI Ensino Médio
completo Servidor Público Vereador (2) 2 SC Não PT 0
VIRGÍLIO
GUIMARÃES
Superior
completo Economista Vereador 4 MG Não PT 0
WASHINGTON
LUIZ
Superior
completo
Historiador, Servidor
Público 2 MA Não PT 0
ZÉ GERALDO
Ensino
Fundamental
completo
Agricultor Deputado Estadual (2) 2 PA Não PT 0
ZEZÉU
RIBEIRO
Superior
completo Arquiteto Vereador (3) 2 BA Não PT 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos 77 deputados integrantes da bancada do PT, a segunda maior na Câmara, 63
têm escolaridade de nível superior completo ou incompleto (82%). Entre as categorias
profissionais, destacam-se os professores (25, 32%), os advogados (quatorze, 18%) e
médicos (nove, 12%). 63 deputados petistas já exerceram cargos públicos importantes fora
da Câmara dos Deputados (82%): 23 somente no Legislativo (36%); 24 no Legislativo e no
Executivo (38%); quatorze só no Executivo (22%); um no Executivo e no Ministério
Público (2%); e um apenas na estrutura sindical (2%). Vale realçar que a deputada Dalva
65
Figueiredo foi governadora do Amapá, os deputados Antonio Palocci ministro da Fazenda
(2003-2006) e Emília Fernandes ministra da Secretaria Especial de Política para as
Mulheres, os deputados João Paulo Cunha e Arlindo Chinaglia presidente da Câmara dos
Deputados. 51 deputados já exerceram mais de um mandato na Câmara (66%). Os 77
deputados do PT representam todas as regiões do país, com predomínio do Sudeste (36%).
Todos forem eleitos pelos votos de legenda (100%), havendo apenas um eleito por outro
partido: o PTC. Portanto, dos 77 deputados que atualmente integram a bancada do PT na
Câmara, apenas um mudou de partido nesta legislatura (1%). O PT, por sua vez, perdeu
três deputados para outras legendas (4% da bancada das eleições): um para o PDT e dois
para o PV.41
Nos termos do art. 63 do Estatuto do PT, as bancadas parlamentares são órgão do
partido e devem subordinar-se às instâncias partidárias de direção. A escolha do líder e dos
vice-líderes deve ser feita periodicamente e comunicada à comissão executiva (art. 64). Os
integrantes das bancadas devem subordinar sua ação aos princípios doutrinários e
programáticos, às diretrizes e às deliberações das instâncias de direção partidária (art. 66).
O ―fechamento de questão‖ deve decorrer de decisão conjunta da bancada parlamentar com
a comissão executiva e deve ser aprovada pela maioria absoluta de votos. Somente
excepcionalmente e por decisão conjunta da bancada e da comissão executiva, o
parlamentar pode ser dispensado da decisão coletiva (art. 67, §§ 1º e 2º). Os líderes das
41
O deputado Juvenal teve a perda do mandato decretada. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o
deputado Silas Brasileiro, do PMDB. O deputado Guilherme Menezes renunciou para assumir o cargo de
prefeito de Vitória da Conquista-BA. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Uldurico Pinto,
atualmente no PHS. A deputada Maria do Carmo Lara renunciou para assumir o cargo de prefeita de Betim-
MG. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Marcos Lima, do PMDB. O deputado Antonio José
Medeiros se afastou do exercício do mandato para assumir o cargo de secretário de Estado da Educação do
Piauí. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado Eliseu Aguiar, do PTB. O deputado Jorge
Bittar se afastou do exercício do mandato para assumir o cargo de secretário municipal. Ocupa sua vaga, em
caráter de substituição, o deputado Glauber Braga, do PSB. O deputado José Pimentel se afastou do exercício
do mandato para assumir o cargo de ministro da Previdência Social. Ocupa sua vaga, em caráter de
substituição, o deputado Pastor Pedro Ribeiro, atualmente no PR. Portanto, além das três vagas acima, outras
seis foram perdidas: uma para o PHS e duas para o PMDB, em caráter definitivo; uma para o PSB, uma para
o PR e uma para o PTB, em caráter precário e reversível.
66
bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal fazem parte da Comissão
Executiva Nacional (art. 111).
A ascendência da tendência Construindo um Novo Brasil – CNB, a que pertence o
presidente Lula, sobre as demais correntes no âmbito do PT também se reflete na esfera da
bancada daquele partido na Câmara dos Deputados. Nas duas primeiras sessões legislativas
da atual legislatura, a bancada vinha sendo liderada por integrantes do CNB: Luiz Sérgio,
em 2007, e Maurício Rands, em 2008. Em 2009, pela primeira vez desde 1999, a liderança
da bancada foi objeto de disputa: ganhou o deputado Cândido Vaccarezza, de Um Novo
Rumo para o PT, corrente aliada ao CNB. O atual líder da bancada é o deputado Fernando
Ferro, d‘O Movimento PT – MPT, a segunda maior tendência dentro do PT, que tem como
princípio básico a defesa do caráter socialista do PT e como principais integrantes os
deputados Arlindo Chinaglia, Maria do Rosário e Fátima Bezerra.
Consoante o assessor do PT entrevistado,
até 99, a lógica das correntes predominava muito dentro da bancada. Era um negócio
terrível. Tudo o que era feito era apenas obedecendo a lógica das correntes (...) De 99 pra
frente, com Jacques Wagner, isso foi diminuindo (...) Voltou um pouco agora. Tanto é que
você vê, de 99 até o ano passado, a liderança do PT ficou sendo escolhida por
unanimidade, sem ter disputa (...) Foi ter voto agora. O [Cândido] Vaccarezza disputou
com o Paulo Teixeira.
(...)
O líder, conforme o assunto, ele toma as decisões. Determinada coisas ele já faz. É
da função mesma. Não está escrito em lugar nenhum, mas é da função mesma e ele faz.
Avalia, consulta um ou outro parlamentar, mas formalmente ele não faz uma reunião pra
poder deliberar sobre aquilo. Por exemplo, ―Vamos preencher os cargos das comissões
permanentes‖. Se tiver tudo tranquilo, ele vai fazendo (...) Ele tem legitimidade pra isso,
inclusive pra contrariar interesses. Ninguém vai brigar (...) As decisões políticas de maior
monta. Por exemplo, estamos lá agora com essa estória dos bingos. Ele não pode tomar
uma decisão como essa sozinho. Se ele tomar, ele vai arrumar confusão na certa com o
governo, com a bancada, com a Igreja. Aqui ele começa a ouvir (...) Ontem, por exemplo,
teve uma reunião da bancada pra tratar desse assunto. Terça-feira vai ter outra (...) Nós
temos três instâncias (...) Tem os núcleos temáticos. Tem o núcleo da cultura, de finança e
67
tributação, o núcleo de saúde e previdência, o núcleo do trabalho. Os assuntos relativos a
eles, eles resolvem, encaminham esses assuntos nas comissões (...) A outra instância que
nós temos é a coordenação da bancada. A coordenação é formada pelos vice-líderes (...)
Reúne toda semana e faz a discussão da pauta legislativa e política da semana. Isso é
religioso. Não falha (...) A composição da coordenação da bancada, na hora de compor o
líder vem e fala assim: ―Nós temos 21 vice-líderes: três vai ser da DS,42
nove vai ser do
CNB, três do MPT. DS, vocês têm direito a três. Quem vocês vão designar? MPT, vocês
têm direito a três. Arlindo [Chinaglia], quem você vai mandar? CNB, João Paulo Cunha,
quem vocês vão mandar?‖ (Entrevista realizada em 31/3/2010).
O Partido Verde – PV foi criado em 1986 por ambientalistas e outros ativistas de
movimentos sociais. Em 1989, lançou a candidatura de Fernando Gabeira para o cargo de
presidente da República. De 1995 a 2003, o deputado Fernando Gabeira foi seu único
representante no Congresso Nacional. Em 1998, lançou Alfredo Sirkis como candidato
presidente da República. Desde 2003 integra a base parlamentar de sustentação ao governo
Lula. O ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, é membro do partido. Em 2008, elegeu a
prefeita de Natal, Micarla de Sousa, ainda no primeiro turno. Em 2009, recebeu a
importante adesão da senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente do governo
Lula.43
A Tabela 6 contém dados sobre a estrutura do PV na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
42
A Democracia Socialista – DS, organização política marxista trotskista, existiu como uma agremiação
política independente até 1986, ano em que passou a integrar o PT ao lado de outras tendências partidárias.
Defende a subordinação da luta institucional à luta de massas – a necessidade da ruptura revolucionária e da
destruição do Estado burguês; a organização do PT como partido militante e dirigente; e a constituição de um
núcleo dirigente capaz de unificar os revolucionários no interior do PT, inclusive setores da corrente
dirigente.
43 Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PV (http://www.pv.org.br). Acesso em: 13 ago 2009.
68
Tabela 6: Estrutura do PV na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ANTÔNIO
ROBERTO
Superior
completo
Administrador,
Consultor Empresarial
em Comportamento
Humano
1 MG Não PV 0
CIRO
PEDROSA
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário Secretário Municipal 1 MG Não PV 0
DR. TALMIR Superior
completo Médico 1 SP Não PV 0
EDIGAR MÃO
BRANCA 1 BA Não PV 0
EDSON
DUARTE
Superior
completo
Técnico em
Agropecuária,
Pedagogo
Vereador, Deputado Estadual (2) 2 BA Não PV 0
FÁBIO
RAMALHO
Superior
completo Empresário Prefeito 1 MG Não PV 0
FERNANDO
GABEIRA
Ensino Médio
completo Jornalista 4 RJ Sim PV 0
HENRIQUE
AFONSO
Superior
completo Professor Vereador 2 AC Não PT 1
JOSÉ
FERNANDO
APARECIDO
DE OLIVEIRA
Superior
completo Advogado Prefeito (2) 1 MG Não PV 0
JOSÉ PAULO
TÓFFANO
Superior
incompleto
Professor, Educador
Ambiental, Empresário Secretário Municipal 1 SP Não PV 0
LINDOMAR
GARÇON
Superior
incompleto Comerciante Vereador, Prefeito (2) 1 RO Não PV 2
LUIZ BASSUMA Superior
completo Engenheiro Vereador, Deputado Estadual 2 BA Não PT 1
MARCELO
ORTIZ
Superior
completo
Advogado e Professor
Universitário 2 SP Não PV 0
ROBERTO
SANTIAGO Ensino Médio Comerciário
Sindicalista,Superintendente do
INSS-SP 1 SP Não PV 0
SARNEY FILHO Superior
completo Advogado
Deputado estadual, Secretário
Estadual, Ministro do Meio
Ambiente
7 MA Não PV 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Doze dos quinze deputados que compõem a bancada do PV na Câmara têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (80%). Entre as categorias
profissionais, predominam os advogados (três, 20%) e os professores (três, 20%). Dez já
exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (67%): três somente
no Legislativo (30%); dois no Legislativo e no Executivo (20%); quatro só no Executivo
(40%); e um no Executivo e na estrutura sindical (10%). Vale destacar que o deputado
Sarney Filho foi ministro do Meio Ambiente (1999-2002). Seis já exerceram mais de um
mandato na Câmara dos Deputados (40%). Os quinze deputados verdes representam
somente as regiões Norte, Nordeste e Sudeste: não há representação das regiões Centro-
Oeste e Sul. A representação do Sudeste é predominante (60%). Quatorze dos quinze
deputados foram eleitos pelos votos de legenda (93%). Só o deputado Fernando Gabeira
foi eleito pelos votos próprios. Dois deputados atualmente integrantes da bancada do PV
foram eleitos por outro partido: o PT. Três já mudaram de partido nesta legislatura (20%):
os dois egressos do PT e o deputado Lindomar Garçon, que, conquanto tenha sido eleito
pelo PV, mudou para o PR e, posteriormente, voltou para o PV. O PV, por sua vez, perdeu
um deputado para o PP (8% da bancada das eleições).
69
Na forma do art. 79 do Estatuto do PV, as bancadas elegem livremente seu líder.
Somente no caso de não haver acordo, ele é indicado pela comissão executiva. O
parlamentar que se opuser, por atitude ou voto, às diretrizes do partido, tem seu direito de
voto suspenso temporariamente nas reuniões dos órgãos partidários a que pertença (art.
80).
Essa relativa autonomia da bancada na Câmara em relação à direção nacional do
PV, prevista no Estatuto, é verificada na prática, conforme o assessor do partido
entrevistado:
O PV tem uma particularidade: é um dos poucos [partidos] em que a direção, ela
não é composta de membros do Parlamento (...) Esse é um vetor que em parte justifica o
fato de que a decisão da liderança, do líder, tende a ser menos influenciada pela questão
partidária. Há naturalmente uma certa influência. Todavia, me parece que o processo, ele
tende a ser resolvido mais internamente, mais no âmbito da bancada, do que em outro
âmbito.
(...)
Do ponto de vista de influência, naturalmente alguns nomes, pela própria trajetória
política, têm uma ascensão diferenciada. O próprio Fernando Gabeira, por conta do capital
político-eleitoral que ele tem. O Sarney Filho, também pelo capital político e eleitoral que
tem (...) Essa ascendência tem diminuído ao longo do tempo, porque naturalmente cada
parlamentar busca o seu espaço, tem trabalhado e tem demonstrado as suas habilidades e
competência e com isso galgado mais espaço dentro da estrutura de bancada. E a
ascendência, que antes era talvez até mais formal – se é que cabe classificar dessa maneira
–, eu tenho percebido que ela deixa de ter esse condão e passa a ser uma ascendência mais
consultiva. Há uma estrutura partidária, além da diversidade de ideias, uma estrutura que
tem respeitado uma diversidade de liderança (...) A ascendência continua, desses ícones,
mas muito mais no sentido consultivo hoje, do que formalmente de poder, de ascensão, de
definição de como a bancada vai se comportar.
(...)
O líder tende a ser escolhido por um consenso de maioria, portanto uma coisa que
vem da base e não uma coisa que é imposta, e, nessa perspectiva, ele tende a representar os
interesses da base (...) Aquele que exerce a liderança tem decorrido de um consenso de
70
maioria que se forma no interior da bancada, com pouca influência de outros atores (...) Por
todo o capital eleitoral e político que o deputado Gabeira detém, ele muitas vezes... coloca
sua posição individual (...) Ele tem certa independência (...) O PV, ainda que tenha havido
alguns hiatos aí, mas, na maioria do tempo, ele fez parte da base de sustentação do governo
Lula e o Gabeira tem posições claramente antagônicas ao governo Lula em diversas áreas.
Portanto, ele conquistou e tende a preservar essa independência. E isso até dificulta que ele
próprio queira atuar como líder. Numa perspectiva de que, enquanto a maioria quer
caminhar num sentido e ele tem posição diversa, ele muitas vezes não se coloca como
alguém que pleiteia a liderança. Até para que ele possa assegurar essa liberdade (Entrevista
realizada em 14/4/2004).
Com efeito, o deputado Fernando Gabeira não tem exercido a liderança da bancada
do PV nesta legislatura. Em 2007, o líder foi o deputado Marcelo Ortiz; e em 2008 e em
2009, o deputado Sarney Filho. O deputado Edson Duarte é o atual líder da bancada.44
O Partido Popular Socialista – PPS, antigo Partido Comunista Brasileiro – PCB,45
mudou de denominação em 1992, a partir da decisão de parte da Executiva Nacional,
liderada pelo então senador Roberto Freire, de romper com o socialismo revolucionário e
abraçar a social democracia.46
O PCB elegeu três deputados em 1986 e participou do
processo de elaboração da Constituição de 1988.47
Em 1989, lançou Roberto Freire como
candidato ao cargo de presidente da República e, tanto em 1998 como em 2002, já como
44
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
45 O PCB foi fundado em 1922 como Partido Comunista – Seção Brasileira da Internacional Comunista –
PC-SBIC. Um ano antes da saída da facção que formou o PCdoB em 1962, o PC-SBIC passou a denominar-
se Partido Comunista Brasileiro – PCB.
46 Nos termos do art. 2º do Estatuto do PPS de 2002, o partido tem ―por fundamento o regime participativo,
representativo e democrático, baseado na pluralidade de partidos e na garantia dos direitos humanos, e por
objetivo a ampliação da democracia e a valorização da cidadania, no processo de construção de uma
sociedade socialista, ecologicamente equilibrada e auto-sustentável, humanista e libertária‖. Ainda na forma
do artigo seguinte, ―o Partido exclui dogmatismo e sectarismos, e se concebe como um organismo aberto à
renovação das idéias e dos métodos, em um marco de respeito à pluralidade das concepções‖.
47 De acordo com informante ligado ao partido, esses deputados constituintes foram Roberto Freire, Augusto
Carvalho e Fernando Santana.
71
PPS, lançou Ciro Gomes como candidato ao mesmo posto, nesta última feita com o apoio
do PDT e do PTB. No segundo turno de 2002, apoiou Lula. Inicialmente, participou da
base parlamentar de sustentação ao primeiro governo Lula. Atritos com o PT, entretanto,
levou o PPS a deixar a base governista. Em 2006, apoiou a candidatura de Geraldo
Alckmin, do PSDB. Naquele ano, para superar a cláusula de desempenho eleitoral ou
barreira ao funcionamento parlamentar contida na atual Lei dos Partidos Políticos (Lei nº
9.096/1995), fundiu-se com o PMN e o Partido Humanista da Solidariedade – PHS para
formar um novo partido: a Mobilização Democrática – MD. Com a declaração de
inconstitucionalidade da cláusula de desempenho ou barreira pelo STF (Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 1351), o PMN desligou-se da MD, extinguindo assim o novo
partido. O PPS, portanto, voltou a existir como uma agremiação política isolada.48
A Tabela 7 contém dados sobre a estrutura do PPS na Câmara dos Deputados na
atual legislatura ((2007-2011).
Tabela 7: Estrutura do PPS na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ALEXANDRE
SILVEIRA
Superior
completo Servidor Público Diretor Geral do DNIT 1 MG Não PPS 0
ARNALDO
JARDIM
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Professor
Deputado Estadual (4), Secretário
Estadual 1 SP Não PPS 0
CEZAR
SILVESTRI
Superior
completo Engenheiro Deputado Estadual (3) 2 PR Não PPS 0
DIMAS
RAMALHO
Superior
completo
Advogado,
Professor
Universitário
Secretário Municipal, Deputado
Estadual (3), Secretário Estadual
adjunto, Secretário Estadual, Vice-
Presidente da Nossa Caixa, Nosso
Banco, Promotor de Justiça, Procurador
de Justiça
2 SP Não PPS 0
FERNANDO
CORUJA
Superior
completo
Médico, Advogado,
Professor
Universitário
Vereador, Prefeito, Secretário Estadual 3 SC Não PPS 0
GERALDO
THADEU
Superior
completo Odontólogo Prefeito 2 MG Não PPS 0
HUMBERTO
SOUTO
Superior
completo
Contador,
Advogado
Vereador, Deputado Estadual, Ministro
do Tribunal de Contas da União – TCU,
Ministro Corregedor do TCU,
Presidente do TCU
7 MG Não PPS 0
ILDERLEI
CORDEIRO
Superior
incompleto Empresário Vice-Prefeito 1 AC Não PPS 0
LEANDRO
SAMPAIO
Superior
completo
Engenheiro
Agrônomo
Vice-Prefeito, Prefeito, Deputado
Estadual (2), 1 RJ Não PPS 0
MARINA
MAGGESSI
Superior
incompleto Policial Civil 1 RJ Não PPS 0
MOREIRA
MENDES
Superior
completo
Advogado,
Agropecuarista
Senador, Secretário Estadual,
Procurador da Assembleia Legislativa 1 RO Não PPS 0
48
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PPS (http://portal.pps.org.br). Acesso em: 13 ago 2009.
72
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
NELSON
PROENÇA
Superior
completo
Administrador de
Empresas,
Empresário
Secretário Estadual (3) 5 RS Não PPS 0
RAUL
JUNGMANN
Ensino Médio
completo
Secretário Estadual, Presidente do
Ibama, Presidente do Incra, Ministro
Extraordinário de Política Fundiária,
Ministro do Desenvolvimento Agrário
2 PE Não PPS 0
WILLIAM
WOO
Superior
completo
Policial Civil,
Engenheiro
Mecânico,
Advogado
Vereador (2) 1 SP Não PSDB 1
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos quatorze deputados hoje integrantes da bancada do PPS, treze têm escolaridade
de nível superior completo ou incompleto (93%). Entre as categorias profissionais,
destacam-se os advogados (quatro, 28%), os engenheiros (quatro, 28%) e os professores
(três, 21%). Treze já exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos
Deputados (93%): dois somente no Legislativo (15%); cinco no Legislativo e no Executivo
(38%); cinco só no Executivo (38%); e um no Legislativo e no Tribunal de Contas (8%).
Vale salientar que o deputado Alexandre Silveira foi Diretor Geral do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT (2004-2005) e deputado Raul
Jungmann, presidente do Ibama (1995-1996), ministro extraordinário de Política Fundiária
(1996-1999), presidente do Incra (1996-1999) e ministro do Desenvolvimento Agrário
(1999-2002). Sete deputados já exerceram mais de um mandato na Câmara (50%). Os
quatorze deputados do PPS representam todas as regiões do país, com exceção do Centro-
Oeste. A representação do Sudeste é predominante (57%). Todos foram eleitos pelos votos
de legenda (100%), havendo apenas um eleito por outro partido: o PSDB. Portanto, dos
quatorze deputados que integram a bancada do PPS, um mudou de partido nesta legislatura
(7%). O PPS, por sua vez, perdeu nove deputados para outras legendas (41% da bancada
das eleições): quatro para o PMDB, quatro para o PR e um para o PSC.49
Nos moldes do art. 29, § 1º do Estatuto do PPS, o líder é escolhido em reunião
conjunta da comissão executiva com a bancada, sob a forma de rodízio anual. Os líderes
das bancadas são membros natos do diretório (art. 19, § 9º).
49
O deputado Augusto Carvalho se afastou do exercício do mandato para assumir o cargo de secretário de
Saúde do Distrito Federal. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado José Edmar, hoje no PR.
Portanto, além das nove vagas referidas acima, mais uma foi perdida, esta, todavia, em caráter precário e
reversível.
73
O deputado Fernando Coruja, no entanto, tem sido reconduzido à liderança da
bancada do PPS na Câmara desde 2006. Esse fato se deve, de um lado, à vigorosa
influência do presidente nacional do partido, Roberto Freire, e, de outro, ao eficiente
suporte de um corpo de assessores formado pelo líder. De acordo com o assessor do PPS
entrevistado,
a gente costuma dizer que comunista autêntico a gente só tem o Augusto Carvalho, que é
um deputado que veio do PCB. Comunista autêntico a gente considera aquele que veio do
PCB pro PPS. Os demais deputados entraram todos já no PPS (...) Os deputados seguem o
princípio, o programa do partido (...) O partido é um partido humanista (...) Então todos os
projetos que vão nessa direção, a gente é favorável (...) A gente faz um parecer técnico e
leva pro líder, que o líder vai... já ter mais ou menos a ideia da bancada. Quando existe um
problema sério, como por exemplo dos bingos, então tem muitos deputados que, até por
questões regionais e de igreja, são contra os jogos. E já tem a outra linha que ―Ah não, mas
vai dá emprego?‖ Entendeu? Aí quando existem essas divergências, aí se discute
exaustivamente. Não se chegando a uma conclusão (...) então você libera o voto. O líder
tem uma grande influência, capacidade de articulação com as demais lideranças e com o
presidente da Casa (...) O Fernando Coruja é um sujeito que se diferencia um pouco da
média dos deputados. Primeiro, a gente tem um líder que discute com a assessoria todos os
projetos (...) E ele procura conhecer todos os assuntos profundamente (...) A primeira
pergunta que ele faz é isso: ―Como era e como pretende ser? Isso vai causar o quê? Um
problema pra quem?‖ O problema nosso é que seja humanista, social e tal (...) Eu, com (...)
anos na Casa, líder como Fernando Coruja eu nunca tive (...) Tanto que ele tá com nós,
como líder, no quinto ano dele (...) Como ele tem uma ascendência muito grande, mostra
muito conhecimento do que ele tá falando, então ele tem uma efetiva liderança (...) Pra
eleger o Fernando Coruja, o cara que ia mesmo botar um padrão completamente diferente,
foi difícil. Isso precisou realmente da interferência do presidente do partido [Roberto
Freire] (...) Nós temos deputados muito trabalhadores, como o Raul Jungmann, como o
Moreira Mendes, como o Humberto Souto. Muito trabalhadores. Mas são projetos deles
(...) Mas, assim, de visão geral e que consegue liderar por isso [só o Fernando Coruja] (...)
A bancada não fica dividida (...) A bancada do PPS, com todo o problema que a influência
do Roberto Freire tinha, como uma pessoa do centralismo democrático, que os deputados
ficavam revoltados, que colocava a vontade dele aqui... O Coruja, ele conseguiu trazer a
vontade do partido de uma forma... não de cima pra baixo. ―Vamos estudar todo mundo
junto? Vamos entender o que que tá acontecendo?‖ (...) E também essa questão dele
74
conseguir trazer isso pro Colégio de Líder. ―Olha, o PPS pensa deste jeito‖. Não com
aquela revolta (...) Há uma unidade em torno do nome dele. O dia em que ele sair... Tanto
que ele é mantido por isso. A figura dele é a figura responsável pela união (Entrevista
realizada em 5/4/2010).
O próprio deputado Fernando Coruja, no entanto, sopesa com menos entusiasmo a
força de sua liderança:
Há uma dificuldade entre o que pensa muitas vezes o partido como uma entidade e
a bancada. Porque a bancada, às vezes ela é formada por pessoas que nunca tiveram uma
vivência partidária. Nós não temos um sistema partidário forte. Então às vezes há uma
dissintonia. E nós temos uma deliberação, aí sim do partido, da Executiva Nacional do
partido, de liberdade do parlamentar quando não há fechamento. Então os nossos
parlamentares sabem que eles são livres pra votar como eles quiserem, né? A não ser
quando o partido feche questão (...) O nosso partido, ele... raramente ele fecha questão em
alguma coisa. A não ser quando seja um assunto... programático.
(...)
O líder, ele não chega lá e orienta sem conversar. Ele leva a orientação da bancada
(...) A orientação é uma orientação de uma decisão coletiva da bancada. Assuntos
complexos, a bancada evidentemente se reúne pra discutir. Agora quando é assuntos mais
corriqueiros, às vezes prevalece a orientação do líder, que toma uma decisão naqueles
tempos (Entrevista realizada em 28/4/2010).
O Partido Socialismo e Liberdade – PSOL foi criado em 2004, após a expulsão de
Heloísa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro do PT. Abriga diversas tendências de
esquerda, como a Ação Popular Socialista – APS, liderada pelo deputado Ivan Valente, a
Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST, liderada pelo ex-deputado Babá, o
Movimento Esquerda Socialista – MES, liderado pela deputada Luciana Genro, e
dissidências do PSTU. O PSOL ganhou novas e importantes adesões em 2005, decorrentes
da crise política causada por denúncias de um esquema de pagamento a congressistas para
votarem de acordo com os interesses do governo, conhecido como ―escândalo do
Mensalão‖. Em 2006, o PSOL lançou a então senadora Heloísa Helena como candidata a
75
presidente da República. Heloísa Helena foi a terceira candidata mais votada, havendo
superado o senador Cristovam Buarque, candidato do PDT.50
A Tabela 8 contém dados sobre a estrutura do PSOL na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
Tabela 8: Estrutura do PSOL na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos
Exercidos
Nº
Mandatos UF
Eleito Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº Mudanças
Partido
CHICO
ALENCAR
Superior
completo
Professor
Universitário
Vereador (2), Deputado
Estadual 2 RJ Não PSOL 0
IVAN
VALENTE
Superior
completo
Matemático,
Engenheiro Deputado Estadual (2) 4 SP Não PSOL 0
LUCIANA
GENRO
Superior
incompleto Professora de Inglês Deputada Estadual (2) 2 RS Não PSOL 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Todos os três deputados que compõem a bancada do PSOL na Câmara têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (100%). Entre as categorias
profissionais, predominam os professores (dois, 67%). Todos já exerceram cargos públicos
importantes fora da Câmara dos Deputados (100%), mas somente no Legislativo. Todos já
exerceram mais de um mandato de deputado federal (100%). Os três deputados do PSOL
representam apenas as regiões Sudeste e Sul, com o predomínio da primeira (67%). Todos
foram eleitos pelos votos da legenda (100%) e nenhum mudou de partido nesta legislatura
(2007-2011) nem houve perda para outras agremiações.
Nos termos do art. 18 do Estatuto do PSOL, ao Diretório Nacional cabe decidir
sobre os casos e as situações de infidelidade partidária envolvendo parlamentares. Apenas
excepcionalmente e por decisão conjunta da bancada e da comissão executiva, o
parlamentar pode ser dispensado do cumprimento de decisão coletiva, diante de graves
objeções de natureza ética, filosófica ou religiosa, ou de foro íntimo (art. 22). Compete
ainda ao Diretório Nacional orientar as bancadas, subsidiando a escolha de suas lideranças,
que deve ser nomeada mediante acordo entre o Diretório Nacional e a bancada (art. 40, d).
50
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br) e do PSOL (http://www.psol.org.br/nacional).
Acesso em: 14 ago 2009.
76
O líder da Bancada Federal compõe a Comissão Executiva Nacional, mas só tem direito de
voto se aprovado pelo Congresso do partido (art. 84, a).
Na prática, porém, a pequeníssima bancada do PSOL na Câmara parece gozar de
relativa autonomia em relação à direção nacional do partido. Pelo menos, essa é a
percepção do assessor daquele partido entrevistado:
Como temos essa deficiência de operar o partido, pelas questões financeiras e tal,
ela [a bancada na Câmara] não tem um stand by direto com a base partidária. Então muitas
vezes o partido grande, que ele tem que se posicionar em determinada matéria, ele... o
diretório nacional, a base política dele, pra ser o reflexo aqui no Parlamento. A gente faz
mais ou menos o inverso: a gente toma a posição aqui, pra depois responder à base, o
diretório, porque que a gente se posicionou daquela forma (...) Cada matéria em Plenário é
decidido pela decisão da maioria dos deputados. Não é tomada pela posição única do líder
que vai lá e orienta, como acontece com outros partidos (Entrevista realizada em
14/4/2010).
Até mesmo por ser de pequeno porte o PSOL e exercerem o mandato de deputado
federal seus principais líderes, as mesmas correntes ideológicas que dividem o partido
recortam sua bancada na Câmara. No julgamento do mesmo assessor,
como todo outro partido que tem disputa interna, isso não é estampado na mídia (...) O que
vai pra população é só o resultado da disputa, o que eles acordaram daquilo ali. Com essas
três tendências, sendo o partido pequeno, há uma disputa muito intensa. Correntes que
pensam diferentemente, mas que no final, por votação e tal, pelas deliberações, acaba
saindo uma ideia homogênea do partido. Por exemplo, tem corrente dentro do partido que
defende uma revolução de hoje pra amanhã. Uma ala mais radical do partido que, por
exemplo, não aceitaria num cenário de uma eleição presidencial, apoio de um partido que
apoiou este governo. Já existe outra que defende: ―Não, não é bem assim. Não podemos ser
radical ao extremo. E também teríamos que pensar no momento de transição: partidos que
apoiam esse governo, partidos que não sejam de fachada, poderiam, sim, participar desse
novo momento político (...) Parlamentares que têm uma certa coerência, que têm uma
história e não se mancharam ao longo dos anos, poderiam participar desse momento de
transição: o Paulo Rubens Santiago, a Luiza Erundina, o Nazareno Fonteles, o Domingos
Dutra. Então tem ainda personagens que não se deixaram manchar com a imagem do PT,
que poderiam participar desse momento de transição‖. Então, tem uma ala mais radical,
77
uma menos radical (...) O MES, da deputada Luciana Genro, seria mais radical. Temos uma
outra ala, que é a APS, que seria uma ala menos radical, que é o Ivan Valente, que defende
justamente esse modelo de transição pra chegar ao poder. E teria a CST, que ficaria no
meio (...) O Chico Alencar, ele tem uma visão mais independente do partido, mais ou
menos como se fosse uma quarta corrente, a dos sem correntes (...) Ora pensa com a APS,
ora pensa com o MES, ora pensa com o CST. Seria o parlamentar que busca mais a
unidade do partido. ―Se vamos trabalhar para os trabalhadores, se vamos construir uma
partido que seja voltado para os trabalhadores, então esse partido teria que ser único.‖ Só
que, de um tempo pra cá, tem se posicionado mais com a corrente do Ivan Valente, que é a
APS (...) A Heloísa Helena é mais pelo MES, da Luciana Genro. Até mesmo por ter
vindo... por ter sido expulsa com a Luciana na época da expulsão do PT.
(...)
O PSOL, desde quando surgiu com sete deputados, eles estabeleceram o critério de
rodízio. Por aí já passou a Maninha, já passou o Babá, já passou o Fantazini, aí o Chico
Alencar, a Luciana, o Ivan (...) Dentro daquele um ano, cada um ficou mais ou menos, dois
meses, e seria o último ano de mandato. Depois que foram eleitos os três, estabeleceram o
mesmo critério de rodízio. Cada um fica um ano e no último ano a gente divide. Cada um
assume um pedaço (Entrevista realizada em 14/4/2010).
Na realidade, conquanto tenha o deputado Chico Alencar exercido a liderança em
2007 e a deputada Luciana Genro em 2008, o deputado Ivan Valente, da APS, tendência
menos radical, tem sido o líder da bancada desde 2009.51
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, sucessor do Movimento
Democrático Brasileiro – MDB, legenda de oposição ao regime militar de 1964, foi
fundado em 1980. É o partido que tem o maior número de filiados, vereadores, prefeitos e
governadores, além de possuir a maior representação no Congresso Nacional. Nunca,
contudo, elegeu um presidente da República. Em 1965, o Ato Institucional nº 2 – AI-2
extinguiu os treze partidos então existentes. No ano seguinte, o Ato Complementar nº 4
determinou ao Congresso Nacional a criação de organizações com atribuições de partidos
políticos, o que deu origem à Aliança Renovadora Nacional – Arena e ao MDB. Ante a
51
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
78
nova realidade, a maioria dos políticos da União Democrática Nacional – UDN e do
Partido Social Democrático – PSD migrou para a Arena. A maior parte dos políticos do
Partido Trabalhista Brasileiro – PTB e alguns do PSD ingressaram no MDB, legenda que
também abrigou políticos dos clandestinos PCB e PCdoB. Na década de 1970, os
emedebistas estavam divididos entre os moderados, entre os quais se achavam Tancredo
Neves e Tales Ramalho, e os autênticos, entre os quais se encontravam Fernando Lyra,
Chico Pinto e Lisânias Maciel. Os moderados defendiam negociações pontuais com o
governo, enquanto os autênticos pregavam a derrubada do regime, mesmo que à força. O
PMDB surgiu em 1980, logo após a nova Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 6.767/1979)
haver extinguido a Arena e o MDB e restabelecido o pluripartidarismo. Foram então
formados o Partido Popular – PP, por Tancredo Neves e outros moderados, o PTB, o PDT
e o PT. O antigo MDB perdia assim o monopólio das oposições. Em 1982, o PMDB elegeu
nove governadores, entre os quais Franco Montoro, em São Paulo, e Tancredo Neves, em
Minas Gerais,52
nove senadores, duzentos deputados federais, 404 deputados estaduais e
1.377 prefeitos. Em 1984, liderou o movimento pelas eleições diretas à presidência da
República. Em 1985, a chapa Tancredo Neves, do PMDB/José Sarney, da Frente Liberal,
venceu Paulo Maluf, do Partido Democrático Social – PDS, herdeiro e sucessor da Arena,
nas eleições indiretas para a presidência da República. Com a morte de Tancredo Neves,
Sarney, já no PMDB, assumiu o governo. Em 1986, o PMDB elegeu 22 governadores,
sendo derrotado apenas em Sergipe. Conquistou 38 das 49 vagas abertas no Senado
Federal (77%) e 260 das 487 cadeiras da Câmara dos Deputados (53%). Majoritário na
Assembleia Nacional Constituinte instalada em 1987, o PMDB elegeu Ulysses Guimarães
para presidência dos trabalhos. A multiplicidade de tendências e posicionamentos
ideológicos no interior do partido, entretanto, neutralizou sua força majoritária. Um grande
número deixou o partido em 1988 para formar o PSDB. Nesse mesmo ano, conquanto
tenha elegido o maior número de prefeitos (1.606), o PMDB conquistou apenas quatro
capitais: Teresina, Fortaleza, Salvador e Goiânia. Nas eleições presidenciais de 1989,
Ulysses Guimarães obteve pouco mais de três milhões de votos. Com o desgaste do
governo José Sarney, o PMDB viu seu número de governadores cair para somente oito em
52
Com a instituição do voto vinculado pelo governo militar, Tancredo Neves e os outros integrantes do PP
resolveram incorporar-se ao PMDB.
79
1990. No Congresso Nacional, recuo peemedebista também foi significativo: obteve
apenas oito das 31 vagas abertas no Senado (26%) e 108 das 503 cadeiras da Câmara
(21%). Em 1992, teve participação no impeachment de Collor e no governo de seu
sucessor, Itamar Franco. Nas eleições de 1994, Orestes Quércia, candidato peemedebista à
presidência da República, obteve menos de três milhões de votos. Durante os dois
mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, o PMDB se manteve dividido entre a
oposição e o governo. A ala governista conservou duas pastas ao longo dos dois mandatos
de FHC: os Ministérios da Justiça e dos Transportes. Em 2002, aliado ao PSDB, o PMDB
lançou Rita Camata como vice na chapa de José Serra, candidato tucano a presidente da
República. Desde 2004, o PMDB tem participado da base parlamentar de apoio ao governo
Lula. No primeiro mandato de Lula, foram-lhe dados os Ministérios das Comunicações,
das Minas e Energia e da Previdência Social. No segundo mandato, o partido perdeu o
Ministério da Previdência Social, mas ganhou os Ministérios da Integração Nacional, da
Defesa, da Agricultura e da Saúde. No entanto, senadores como Pedro Simon e Jarbas
Vasconcelos se mantêm na oposição. Desde o final do regime militar, o PMDB tem
comandado pelo menos uma das casas do Congresso Nacional. Entre 1985 e 1993, presidiu
simultaneamente a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, situação que se repete
desde 2009.53
A Tabela 9 contém dados sobre a estrutura do PMDB na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
Tabela 9: Estrutura do PMDB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ACÉLIO
CASAGRANDE
Vereador, Secretário Municipal (4),
Secretário Estadual 1 SC Não PMDB 0
ALEXANDRE
SANTOS
Superior
completo Empresário 4 RJ Não PMDB 0
ANDRE
ZACHAROW
Superior
Completo
Administrador,
Professor Universitário
Presidente da Companhia de
Desenvolvimento de Curitiba,
Diretor de Banco de
Desenvolvimento do Paraná (2),
2 PR Não PMDB 0
ANÍBAL GOMES Superior
completo
Cirurgião-Dentista,
Agropecuarista Prefeito 4 CE Não PMDB 0
ANTÔNIO
ANDRADE
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Produtor Rural Prefeito, Deputado Estadual (3) 1 MG Não PMDB 0
ASDRUBAL
BENTES
Superior
completo
Advogado, Servidor
Público Prefeito, Superintendente do Incra 5 PA Não PMDB 0
53
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PMDB (http://www.pmdb.org.br). Acesso em: 17 ago 2009.
80
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ÁTILA LINS Superior
completo
Advogado,
Economista, Auditor
do TCE-AM
Deputado Estadual 5 AM Não PMDB 0
BEL MESQUITA Superior
completo Psicóloga, Professora Prefeita (2) 1 PA Não PMDB 0
BERNARDO
ARISTON
Superior
completo Advogado, Radialista Secretário Municipal 2 RJ Não PMDB 0
CAMILO COLA
Ensino
Fundamental
completo
Empresário de
Transporte, Industrial,
Administrador Rural
1 ES Não PMDB 0
CARLOS
BEZERRA
Superior
completo
Advogado, Professor,
Industrial
Prefeito (2), Deputado Estadual,
Governador, Senador 2 MT Não PMDB 0
CELSO
MALDANER
Superior
completo
Economista,
Empresário Prefeito (3), Secretário Estadual 1 SC Não PMDB 0
COLBERT
MARTINS
Superior
completo Médico
Deputado Estadual, Secretário
Estadual adjunto 3 BA Não PPS 1
DARCÍSIO
PERONDI
Superior
completo Médico 4 RS Não PMDB 0
EDGAR MOURY Superior
completo Advogado, Empresário
Secretário Municipal, Deputado
Estadual (4), Secretário Estadual (2) 1 PE Não PMDB 0
EDINHO BEZ Superior
completo Contador, Bancário
Deputado Estadual, Secretário
Estadual 4 SC Não PMDB 0
EDIO LOPES Ensino Médio
completo Servidor Público
Vereador, Deputado Estadual (4),
Secretário Estadual 1 RR Não PMDB 0
EDSON
EZEQUIEL
Superior
completo
Engenheiro, Professor
Universitário
Prefeito (2), Deputado Estadual,
Presidente do Metrô, Secretário
Estadual
3 RJ Não PMDB 0
EDUARDO
CUNHA
Superior
completo Economista
Deputado Estadual, Secretário
Estadual adjunto, Presidente da
Telerj, Presidente da Cehab
2 RJ Não PMDB 0
ELCIONE
BARBALHO
Superior
completo Pedagoga 3 PA Não PMDB 0
ELISEU
PADILHA
Superior
completo Advogado
Prefeito, Secretário Estadual,
Ministro dos Transportes 3 RS Não PMDB 0
EUNÍCIO
OLIVEIRA
Superior
completo
Empresário,
Agropecuarista Ministro das Comunicações 3 CE Sim PMDB 0
FÁTIMA
PELAES
Superior
completo Socióloga Secretária Estadual (2) 4 AP Não PMDB 0
FERNANDO
LOPES
Superior
completo
Economista, Professor
Universitário
Deputado Estadual, Secretário
Estadual (5) 5 RJ Não PMDB 0
FLAVIANO
MELO
Superior
completo Engenheiro Civil Prefeito (2), Governador, Senador 1 AC Não PMDB 0
FLÁVIO
BEZERRA
Superior
completo
Professor de Educação
Física, Pastor
Evangélico, Pescador,
Empresário.
1 CE Não PMDB 0
FRANCISCO
ROSSI
Superior
completo
Advogado, Empresário
na Área de
Comunicação
Prefeito (2), Secretário Estadual 3 SP Não PMDB 0
GERALDO
RESENDE
Superior
completo Médico
Vereador (2), Deputado Estadual,
Secretário Estadual 2 MS Não PPS 1
HENRIQUE
EDUARDO
ALVES
Superior
completo Advogado Secretário Estadual 10 RN Não PMDB 0
HERMES
PARCIANELLO
Superior
completo Contador Vereador (3) 4 PR Não PMDB 0
IBSEN
PINHEIRO
Superior
completo Advogado, Jornalista
Vereador (2), Deputado Estadual,
Promotor de Justiça, Procurador de
Justiça, Presidente da Câmara dos
Deputados, Presidente da República
interino
4 RS Não PMDB 0
ÍRIS DE ARAÚJO Superior
incompleto Administradora Pública Senadora 1 GO Sim PMDB 0
JACKSON
BARRETO
Superior
completo
Advogado, Servidor
Público
Vereador (2), Prefeito (2), Deputado
Estadual 4 SE Não PTB 1
JADER
BARBALHO
Superior
completo Empresário
Vereador, Deputado Estadual,
Governador (2) Senador, Presidente
do Senado Federal, Ministro da
Reforma e Desenvolvimento
Agrário, Presidente do Incra,
Ministro da Previdência e
Assistência Social
4 PA Sim PMDB 0
JOÃO
MAGALHÃES
Ensino Médio
incompleto Pecuarista, Cafeicultor 4 MG Não PMDB 0
JOÃO MATOS Superior
completo
Administrador de
Empresas, Professor
Secretário Municipal, Deputado
Estadual (2), Secretário Estadual 4 SC Não PMDB 0
JOAQUIM
BELTRÃO
Superior
completo
Engenheiro Eletricista,
Agricultor Prefeito (2) 1 AL Não PMDB 0
81
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
JURANDIL
JUAREZ
Superior
completo
Economista, Professor
Universitário Vereador (2), Secretário Estadual (3) 3 AP Não PMDB 0
LEANDRO
VILELA
Superior
incompleto Comerciante Vereador (2) 2 GO Não PMDB 0
LELO COIMBRA Superior
completo Médico
Deputado Estadual (2), Vice-
Governador 1 ES Não PMDB 0
LEONARDO
QUINTÃO
Superior
completo
Administrador de
Empresas, Economista Vereador, Deputado Estadual 1 MG Não PMDB 0
LUIZ
BITTENCOURT
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Professor Universitário
Deputado Estadual (2), Secretário
Estadual 3 GO Não PMDB 0
LUPÉRCIO
RAMOS
Superior
Completo Jornalista, Redator Deputado Estadual (4), Governador 2 AM Não PMDB 0
MANOEL
JUNIOR
Superior
completo Médico
Vice-Prefeito, Prefeito (3), Deputado
Estadual 1 PB Não PSB 1
MARÇAL FILHO
Vereador 3 MS Não PMDB 0
MARCELO
ALMEIDA
Superior
completo Engenheiro Civil
Vereador (2), Diretor do Detran,
Secretário Estadual 1 PR Não PMDB 0
MARCELO
CASTRO
Superior
completo
Médico Psiquiatra,
Professor Universitário
Deputado Estadual (3), Secretário
Estadual 3 PI Não PMDB 0
MARCELO
GUIMARÃES
FILHO
Superior
completo Advogado Vereador 2 BA Não PFL 1
MARCELO
MELO
Ensino Médio
completo Empresário Deputado Estadual (2) 1 GO Não PMDB 0
MARCOS LIMA Superior
completo Engenheiro Civil
Presidente da Fundação
Universidade de Itaúna, Diretor de
Furnas
6 MG Não PMDB 0
MARIA LÚCIA
CARDOSO
Superior
completo Diretora de Empresas Secretária Estadual 3 MG Não PMDB 0
MARINHA
RAUPP
Superior
completo
Psicóloga, Professora,
Servidora Pública Secretária Estadual (2) 4 RO Não PMDB 0
MAURO
BENEVIDES
Superior
completo
Advogado,
Administrador,
Jornalista, Professor
Vereador, Deputado Estadual (4),
Governador, Senador (2), Presidente
do Senado Federal, Presidente da
República interino
3 CE Não PMDB 0
MAURO LOPES Superior
completo Advogado, Empresário
Secretário Estadual, Diretor Geral da
Polícia Rodoviária Federal 4 MG Não PMDB 0
MENDES
RIBEIRO FILHO
Superior
completo Advogado
Vereador, Deputado Estadual (2),
Secretário Estadual adjunto,
Secretário Estadual (3)
4 RS Não PMDB 0
MICHEL TEMER Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Secretário Estadual (2), Procurador-
Geral do Estado, Presidente da
Câmara dos Deputados (3),
Presidente da República interino
6 SP Não PMDB 0
MOACIR
MICHELETTO
Superior
completo
Engenheiro Agrônomo,
Administrador Rural,
Extensionista Agrícola
5 PR Não PMDB 0
MOISES
AVELINO
Superior
completo
Médico,
Agropecuarista Prefeito, Governador 2 TO Não PMDB 0
NATAN
DONADON
Ensino Médio
completo Servidor Público 2 RO Não PMDB 0
NELSON
BORNIER
Superior
completo Advogado Prefeito (2), Secretário Estadual 4 RJ Não PMDB 0
NELSON TRAD Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Vice-Prefeito, Deputado Estadual
(2), Procurador-Geral do Estado,
Secretário Estadual
5 MS Não PMDB 0
ODÍLIO
BALBINOTTI
Ensino Médio
completo
Agropecuarista,
Empresário Vereador, Prefeito (2) 4 PR Não PMDB 0
OLAVO
CALHEIROS
Superior
completo Engenheiro Agrônomo
Secretário Municipal, Secretário
Estadual (3) 5 AL Não PMDB 0
OSMAR
SERRAGLIO
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário Vice-Prefeito, 3 PR Não PMDB 0
OSVALDO
BIOLCHI
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário 3 RS Não PMDB 0
OSVALDO REIS Ensino Médio
completo Empresário 5 TO Não PMDB 0
PAULO
HENRIQUE
LUSTOSA
Superior
completo
Administrador,
Consultor, Professor
Universitário
1 CE Não PMDB 0
PAULO PIAU Superior
completo Engenheiro Agrônomo
Secretário Municipal (2), Deputado
Estadual (3) 1 MG Não PPS 1
PAULO RATTES
Vice-Prefeito, Prefeito (3),
Secretário Estadual (3) 3 RJ Não PMDB 0
PEDRO CHAVES Superior
completo Engenheiro Civil
Deputado Estadual, Secretário
Estadual 3 GO Não PMDB 0
82
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
PEDRO NOVAIS Superior
completo Advogado
Deputado Estadual, Secretário
Estadual 6 MA Não PMDB 0
PROFESSOR
SETIMO
Superior
completo Professor Vereador, Secretário Municipal 1 MA Não PMDB 0
PROFESSOR
VICTORIO
GALLI
1 MT Não PMDB 0
RAUL HENRY Superior
completo Economista
Vice-Prefeito, Presidente de
Fundação Municipal, Secretário
Municipal (2), Deputado Estadual,
Secretário Estadual (2)
1 PE Não PMDB 0
RODRIGO
ROCHA LOURES
Superior
completo Administrador Secretário Estadual 1 PR Não PMDB 0
ROSE DE
FREITAS
Superior
incompleto
Professora, Radialista,
Jornalista , Desenhista
– Projetista,
Agrimensora
Deputada Estadual, Diretora da
Embratur 5 ES Não PMDB 0
SARAIVA
FELIPE
Superior
completo
Médico, Professor
Universitário
Secretário Municipal, Secretário
Estadual, Secretário Nacional de
Serviços Médicos (MPAS),
Secretário da Ciência e Tecnologia
(MS), Ministro da Saúde
4 MG Não PMDB 0
SEVERIANO
ALVES
Superior
completo
Advogado, Servidor
Público Prefeito 3 BA Não PDT 1
SILAS
BRASILEIRO
Ensino Médio
completo
Empresário, Produtor
Rural Prefeito, Secretário Estadual 4 MG Não PMDB 0
SOLANGE
ALMEIDA
Superior
completo Veterinária Vereadora (2), Prefeita (2) 1 RJ Não PMDB 0
TADEU
FILIPPELLI
Superior
completo
Engenheiro Elétrico,
Servidor Público
Deputado Estadual, Secretário
Estadual (2) 3 DF Não PMDB 0
VALDIR
COLATTO
Superior
completo
Engenheiro Agrônomo,
agropecuarista
Secretário Estadual adjunto,
Secretário Estadual 5 SC Não PMDB 0
VELOSO Superior
completo
Advogado, Professor e
Comunicador de Rádio Vereador (3), 1 BA Não PPS 1
VITAL DO RÊGO
FILHO
Superior
completo Advogado, Médico Vereador (2), Deputado Estadual (2) 1 PB Sim PMDB 0
WALDEMIR
MOKA
Superior
completo Médico, Professor Vereador, Deputado Estadual (2) 3 MS Não PMDB 0
WILSON BRAGA Superior
completo Advogado
Vereador, Prefeito, Deputado
Estadual (5), Governador 7 PB Não PMDB 0
WILSON
SANTIAGO
Superior
completo Advogado Deputado Estadual (2) 2 PB Sim PMDB 0
WLADIMIR
COSTA
Ensino Médio
completo
Locutor e Comentarista
de Rádio e Televisão 2 PA Sim PMDB 0
ZÉ GERARDO Ensino Médio
completo Empresário Deputado Estadual (2) 3 CE Não PMDB 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos 89 noves deputados hoje integrantes da bancada do PMDB, a maior da
Câmara, 75 têm escolaridade de nível superior completo ou incompleto (84%). Entre as
categorias profissionais, destacam-se os advogados (25, 28%), os professores (24, 27%), os
empresários (22, 25%), os engenheiros (treze, 15%) e os médicos (12, 13%). 76 já
exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (85%): treze
somente no Legislativo (17%); 35 no Legislativo e no Executivo (46%); 27 só no
Executivo (36%); e um no Legislativo, no Executivo e no Ministério Público (1%). Vale
destacar que os deputados Carlos Bezerra, Flaviano Melo, Jader Barbalho, Lelo Coimbra,
Lupércio Ramos, Mauro Benevides, Moisés Avelino e Wilson Braga já foram
governadores, respectivamente, do Mato Grosso, do Acre, do Pará, do Espírito Santo, do
Amazonas, do Ceará, de Tocantins e da Paraíba. O deputado Eliseu Padilha já foi ministro
83
dos Transportes; o deputado Eunicio Oliveira, ministro das Comunicações; o deputado
Jader Barbalho também foi ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrário e da
Previdência e Assistência Social, além de presidente do Senado Federal; e o deputado
Saraiva Filipe, ministro da Saúde. O deputado Ibsen Pinheiro já foi presidente da Câmara
dos Deputados e, nessa condição, assumiu interinamente a presidência da República; o
deputado Mauro Benevides também já foi presidente do Senado Federal e presidente da
República interino; e o deputado Michel Temer, atual presidente da Câmara, já exerceu
esse cargo duas outras vezes, durante uma das quais assumiu interinamente a presidência
da República. 64 integrantes da bancada do PMDB já exerceram mais de um mandato de
deputado federal (72%). Henrique Eduardo Alves é o deputado com o maior tempo de
permanência no cargo: dez mandatos. Os 89 deputados peemedebistas representam todas
as regiões do país, com predomínio do Nordeste (26%). 83 foram eleitos pelos votos de
legenda (93%). Os deputados Eunicio Oliveira, Iris de Araújo, Jader Barbalho, Vital do
Rêgo Filho, Wilson Santiago e Wladimir Costa foram eleitos pelos votos próprios. Oito
foram eleitos por outros partidos: um pelo PDT, um pelo PSB, quatro pelo PPS, um pelo
PTB e um pelo PFL/DEM. Portanto, dos 89 deputados que atualmente integram a bancada
do PMDB, oito já mudaram de partido pelo menos uma vez nesta legislatura (9%). O
PMDB, por sua vez, perdeu dez deputados para outras legendas (11% da bancada das
eleições): dois para o PSDB, três para o PR, um para o PRB e quatro para o PSC.54
Na forma do art. 10 do Estatuto do PMDB, as bancadas constituem suas lideranças
de acordo com seus regimentos, os quais dependem da aprovação do diretório
correspondente. O ―fechamento de questão‖ decorre de decisão tomada em reunião
conjunta com a comissão executiva correspondente, aprovada pela maioria absoluta de
cada órgão (bancada e comissão executiva). Os parlamentares que, por motivo de
54
O deputado Fernando Diniz faleceu. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Paulo Delgado,
do PT. O deputado Geddel Vieira Lima se afastou do exercício do mandato para assumir o cargo de ministro
da Integração Nacional. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado Edigar Mão Branca, do PV.
O deputado Mauro Mariani se afastou do exercício do mandato para assumir o cargo de secretário de Estado
de Infraestrutura de Santa Catarina. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado José Carlos
Vieira, atualmente no PR. Portanto, além das dez vagas acima, outras três foram perdidas: uma para o PT, em
caráter definitivo; uma para o PV e uma para o PR, em caráter precário e reversível.
84
consciência ou de convicção religiosa, pretendam ter posição diversa, devem submeter
suas razões à referida reunião, que decide por maioria absoluta de cada órgão (art. 47).
Tanto o PMDB quanto sua bancada na Câmara dos Deputados estão profundamente
marcados por clivagens regionais. Na percepção do assessor do PMDB entrevistado, o
grupo do Rio de Janeiro exerce uma crescente influência sobre os demais grupos regionais
dentro da bancada do partido na Câmara:
O PMDB em cada estado, ele tem um grande cacique. Em algumas situações esses
caciques chegam a se comportar como donos do partido. E aqui dentro esses grupos se
juntam (...) O Rio de Janeiro e Minas têm a maior bancada dentro do PMDB (...) O grupo
talvez mais interessante hoje, com atuação mais interessante (...) é o grupo do Rio de
Janeiro. Na verdade, ele não é um grupo do Rio de Janeiro. É um grupo que se criou em
torno do [Anthony] Garotinho, via Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha é um deputado que
tem uma atuação muito forte, um parlamentar muito forte, inclusive uma das exceções de
atuação no processo legislativo. A grande força dele vem da atuação dele no processo
legislativo. Ele usa o processo legislativo, e usa de uma forma muito forte, pra atingir os
objetivos políticos dele. Em princípio agrupou em torno dele os deputados ligados ao
Garotinho e à igreja evangélica do Rio de Janeiro. Não necessariamente só deputados do
PMDB. Se cê pegar o Geraldo Pudim hoje... A turma que foi pro PR foi capitaneada pelo
Garotinho, mas joga muito com o Eduardo Cunha. Cê tem, por exemplo, o Carlos Willian,
que já teve no PMDB e é do PTC, joga com o Eduardo Cunha. Então, na verdade, em torno
do grupo do Rio, cê tem não só políticos do PMDB. Mas cê tem vários políticos,
principalmente ligados às igrejas evangélicas, que o Garotinho tem influência, não a Igreja
Universal (...) Na última grande migração, os evangélicos foram pra duas direções: eles
foram pro PRB, que foram os deputados ligados mais à Igreja Universal do Reino de Deus,
e foram pro PR capitaneados pelo Garotinho. Deve achar aí uns bons cinco, seis nomes que
foram pro PR. E esse nomes são ligados a esse grupo (...) O Eduardo Cunha cresceu e hoje
ele tem asas próprias (...) Essa turma do Rio, como eles agem muito forte, tem algum
outros deputados que se juntam a eles meio que pra pegar a força e, consequentemente, pra
levar vantagem (...) O grupo do Eduardo Cunha, via [Leonardo] Picciani, controlou a
CCJ[C – Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania] no primeiro ano. Pra isso eles
contaram com um golpe de sorte, eu diria. A CCJ tava comprometida com o Mendes
Ribeiro [Filho], do Rio Grande do Sul. O Mendes Ribeiro teve um princípio de aneurisma
cerebral. Teve de ser operado. Com isso o Mendes não pôde assumir a CCJ. O grupo do
85
Rio se posicionou de uma forma muito forte e exigiu o comando da CCJ, que foi dado a
ele. Na época eles tinham algo em torno de doze, treze parlamentares dentro de uma
bancada de 85, 86. Então eles podiam desequilibrar... Como era muito dividido o PMDB
nessa época, eles podiam desequilibrar a liderança. Eles podiam influenciar prum lado ou
pro outro, colocando um líder pró-PSDB ou pró-PT, conforme o interesse deles. O líder da
época indicou o Picciani como presidente da CCJ. Com isso aí eles conseguiram um espaço
muito importante na máquina administrativa. Eles botaram um pé na área de energia no
Brasil. Durante a gestão Picciani-Eduardo Cunha eles seguraram, seguraram literalmente, a
PEC da CPMF. O Picciani indicou o Eduardo Cunha, no primeiro ano, como relator. Não
apresentaram o relatório da PEC da CPMF enquanto o governo não cedeu Furnas pro
grupo. A partir daí eles conseguiram mais espaço no governo. A partir desse acordo
governo-grupo do Rio, o grupo do Eduardo Cunha passou a trabalhar de uma forma bem
clara pro governo PT (...) O Picciani é filho de um político do Rio de Janeiro que era
presidente, até pouco tempo, da Assembleia Legislativa. Ele vem da Baixada Fluminense.
O pai dele tem uma influência muito grande dessa região da Zona Norte do Rio e ele era
ligado à turma do Garotinho. Então eles têm algo em comum na origem.
(...)
Em Minas eles se agrupam mais ou menos em torno de... não de um líder aqui
dentro, mas eles se agrupam. Difícil vê um líder dentro da bancada do PMDB de Minas
Gerais. Embora seja um deputado o presidente do PMDB de Minas, mas não o vejo, o
Antônio Andrade, como o líder desse grupo. Mas eles se juntam, eles jogam juntos. Cê
tem, por exemplo, o estado do Pará, que também eu diria que tem essa característica. O
grupo se junta em torno do Jader Barbalho, embora o Jader seja uma figura atualmente
muito discreta dentro do Parlamento. Mas ele agrupa esse pessoal, eu diria que ele agrupa
esse pessoal. Outra bancada grande que tem dentro do PMDB é o Paraná. É dividido. O
Paraná, cê tem uma ala bem governista, ou melhor, muito interessada em conseguir
liberações de verbas ou às vezes benefícios pra algum grupo, como por exemplo o grupo
ruralista. E cê tem um percentual considerável na bancada que é contra o governo. Então cê
não tem uma liderança no Paraná que junta esse pessoal todo. O próprio nome do Paraná
que virou ministro, ele não saiu necessariamente porque a bancada se juntou em torno do
nome dele. Foi mais um acidente o Reinhold Stephanes virar ministro (...) Então no Paraná,
eu não vejo um líder. O último nome que eu diria que aglutinava a bancada do Paraná, e
talvez aglutina até agora, não tá mais no PMDB, que é o Zé [José] Borba. O [Roberto]
86
Requião hoje controla a legenda lá, mas ele não aglutina essa bancada aqui dentro. Ela é
bem dividida.
(...)
A grande parte dos deputados tem uma atuação voltada pros interesses locais. Eu
diria que são vereadores federais. Tão aqui pra conseguir verbas pras bases, pra conseguir
apoio dos prefeitos (...) Tem alguns que têm uma atuação mais forte, que conseguem
brigar, alguns grupos, patrocinados principalmente pela direção do PMDB, leia-se grupo do
Michel Temer, que têm maior projeção, que conseguem brigar por cargos do primeiro
escalão. Cê consegue dentro do PMDB identificar vários deputados que são ligados a
grupos de atuação, a grupos de interesse. A bancada ruralista, eu diria que de noventa cê
pode identificar uma boa dúzia, até uns quinze deputados, que são ligados à bancada
ruralista, que estão no PMDB mas a atuação deles são pautadas pelos interesses da bancada
ruralista. Eles fecham com o trabalho da Confederação Nacional de Agricultura aqui o
tempo inteiro. Paulo Piau, Celso Maldaner, [Moacir] Micheletto e vários outros. Tem
alguns que são bem voltados para os interesses legislativos mesmos, que não são muitos.
Mas a grande maioria tem essa linha de ação, interesses, verbas em ministérios, se puder
indicar nomes segundo, terceiro escalão, pra conseguir algum espaço pra benefícios
políticos voltados pra base.
(...)
O PMDB é um partido fracionado. Eu diria que se pode identificar 27 grupos
dentro do PMDB, um em cada estado (...) Não tem nada ideológico aqui. Com raras
exceções, não tem (...) Nenhum líder do PMDB, se pegar os últimos, o Eunicio Oliveira,
depois o Borba, seguido pelo Wilson Santiago, que foi o mais fraco politicamente deles, e o
Henrique Eduardo Alves, nenhum tem de fato poder de liderança. Uma das características
do líder do PMDB é o líder que não é forte. Ele é fraco. Ele não pode ser forte, porque se
ele tentar liderar o partido, são tantas facções, tantos agrupamentos que vão ser
contrariados, que ele não fica. Então, na minha opinião, estes últimos líderes da era PT,
eles são fracos. Eles são líderes porque interessa aos vários grupos ter alguém que atenda a
todo mundo e que não contrarie ninguém. Eu diria que essa característica se estende
também ao presidente do partido, o Michel Temer. Ele é alguém que consegue conciliar as
partes, mas sem imprimir o ar de liderança (...) O Henrique Eduardo Alves, ele tem
também essa característica. Se pegar o anterior a ele, foi o Wilson Santiago. O Wilson
Santiago foi colocado porque o Borba teve de sair por causa do escândalo do Mensalão. O
87
Borba era um grande conciliador. Ele não era líder. Ele tava ali pra atender os interesses
dos vários deputados (...) O Wilson Santiago foi um mandato-tampão que acabou durando
muito, mas que não tinha representatividade política nenhuma. E ele foi colocado ali
exatamente por isso, porque ele não contrariava ninguém. Era uma figura neutro (...) É o
líder que não é líder. Ele tava ali pra atender a todos e não contrariar ninguém. E o
Henrique Eduardo Alves segue mais ou menos essa linha. Ele não é uma figura que lidera,
que se impõe, não. Ele é um grande conciliador (Entrevista realizada em 29/4/2010).
Tanto a clivagem regional quanto a ascendência do grupo do Rio, comandado pelo
deputado Eduardo Cunha, foram confirmados pelo deputado Raul Henry, do Pernambuco:
Em Pernambuco, o PMDB tem uma posição diferenciada do PMDB nacional. Nós
acompanhamos [José] Serra em 2002. Acompanhamos [Geraldo] Alckmin em 2006.
Temos um alinhamento político com o PSDB e com essa aliança que governou o Brasil no
período Fernando Henrique Cardoso. Então nós votamos aqui alinhados com essa posição
política. Daí eu votar, em muitas ocasiões, de maneira divergente da bancada do PMDB.
Entendemos que a adesão do PMDB ao governo aqui se deu muito mais pelo caminho do
fisiologismo, da troca de apoio político por espaço na administração pública federal, como
foi o caso claro e evidente de Furnas. Nós discordamos disso. Nós tivemos a posição aqui
que apresentamos ao eleitorado de Pernambuco na última eleição, ou seja, a nossa primeira
fidelidade, a nossa primeira relação de legitimidade é com o eleitor que nos mandou aqui
pra ser oposição.
(...)
Qualquer pessoa que acompanha a vida aqui da Câmara, que acompanha sobretudo
o comportamento do PMDB, vai constatar sem grande esforço que o deputado Eduardo
Cunha e que essa bancada do Rio de Janeiro têm uma grande influência nas decisões da
liderança do partido. Isso é indiscutível. A jornalista Dora Kramer perguntou – isso tá
escrito na coluna dela –, perguntou ao deputado Henrique Eduardo Alves por que o
deputado Eduardo Cunha tinha uma influência tão grande que chegava a interferir
diretamente – interferiu durante esta legislatura – na escolha dos presidentes da Comissão
de Constituição e Justiça [e de Cidadania], e o deputado Henrique Eduardo Alves disse à
jornalista que o deputado Eduardo Cunha tinha dezoito deputados na bancada. E ela
perguntou a ele como é que um deputado possui outros dezoito deputados. É uma resposta
que eu não tenho como lhe dar essa resposta. Agora é evidente, pra quem acompanha os
88
fatos aqui, é evidente a liderança que esse grupo tem sobre o comportamento do PMDB
(Entrevista realizada em 11/5/2010).
O próprio deputado Leonardo Picciani, ainda que muito cautelosamente, confirmou
a prevalência do grupo do Rio sobre os demais grupos regionais que integram a bancada do
PMDB na Câmara: ―O PMDB é um partido muito plural, muito grande de liderança. É um
partido que tem a característica de ser uma federação regional. Então todas as regiões
têm... muitos estados têm peso dentro do partido (...) A bancada do Rio é a maior e tem
unidade‖ (Entrevista realizada em 25/5/2010).
O deputado Henrique Eduardo Alves vem exercendo o cargo de líder da bancada do
PMDB e do bloco PMDB/PTC desde 2007.55
O Partido da Mobilização Nacional – PMN foi criado após a abertura democrática.
Em 1984, seu antecessor, o Movimento da Mobilização Nacional, pregava a reforma
agrária, a moratória conjunta dos países da América Latina e o rompimento com o Fundo
Monetário Internacional – FMI. Em 1989, lançou Celso Brant como candidato a presidente
da República. Em 2002, apoiou a candidatura de Lula à presidência, passando a integrar a
base parlamentar de sustentação a seu governo. Em 2006, não conseguiu superar a cláusula
de desempenho eleitoral ou barreira ao funcionamento parlamentar instituída pela
legislação eleitoral. Em decorrência disso, fundiu-se com o PPS e com o PHS para formar
a Mobilização Democrática – MD. Com a declaração de inconstitucionalidade da cláusula
de desempenho ou barreira pelo STF, o novo partido foi desfeito, voltando o PMN a existir
como uma agremiação política isolada.56
A Tabela 10 contém dados sobre a estrutura do PMN na Câmara dos Deputados na
atual legislatura (2007-2011).
55
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
56 Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br) e do PMN (http://www.pmn.org.br/pmn). Acesso
em: 17 ago 2009.
89
Tabela 10: Estrutura do PMN na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos
Exercidos
Nº
Mandatos UF
Eleito Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº Mudanças
Partido
FÁBIO FARIA Superior completo Administrador de Empresas 1 RN Não PMN 0
FRANCISCO
TENORIO Superior completo
Agricultor, Bancário,
Delegado de Polícia
Deputado
Estadual (3) 1 AL Não PMN 0
SERGIO
PETECÃO
Ensino Médio
completo
Técnico em Contabilidade,
Empresário
Deputado
Estadual 1 AC Não PMN 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dois dos três deputados que compõe a bancada do PMN na Câmara têm
escolaridade de nível superior (67%). Não há predomínio de categoria profissional. Dois já
exerceram cargo público importante fora da Câmara dos Deputados (67%), mas somente
no Legislativo. Todos estão no exercício do primeiro mandato de deputado federal. Os três
deputados da bancada do PMN representam apenas as regiões Norte e Nordeste, com
predomínio da última (67%). Todos foram eleitos pelos votos da legenda (100%). Nenhum
dos três deputados do PMN mudou de partido nesta legislatura. O PMN perdeu dois
suplentes efetivados para outras legendas: um para o PHS e outro para o PTB.
Nos moldes do art. 89 do Estatuto do PMN, os integrantes da bancada se
subordinam, na atitude e no voto, aos princípios doutrinários, ao programa, aos estatutos e
às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de deliberação partidária. O PMN só reconhece o
―voto de consciência‖ quando a matéria envolve convicção religiosa ou direito à vida. A
escolha do líder e de vice-líderes é prerrogativa do órgão de direção partidária na esfera
correspondente à bancada.57
O deputado Fábio Faria é o líder da bancada do PMN e o deputado Francisco
Tenório é um dos vice-líderes do bloco PSB/PCdoB/PMN/PRB.58
O Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB foi fundado em 1988 por um
grupo de dissidentes do PMDB. Entre os fundadores PSDB estavam Franco Montoro, José
Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Fora de São Paulo, o novo partido
arregimentou Pimenta da Veiga, Eduardo Azeredo, Célio de Castro, Aécio Neves, Artur da
57
Alguns desses dispositivos foram considerados incompatíveis com a Constituição e com a atual Lei dos
Partidos Políticos (Lei nº 9.096/1995) pelo TSE.
58 Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
90
Távola, Afonso Arinos, José Richa, Teotônio Vilela Filho, Tasso Jereissati, Arthur
Virgílio, entre outros. Posteriormente, outros políticos, como Ciro Gomes, migraram para o
partido. Com esse núcleo partidário, o PSDB sofreu a influência de diferentes pensamentos
políticos contemporâneos: trabalhismo, socialismo, comunismo e catolicismo personalista.
Já em 1988, apesar de recém-constituído e com organização provisória, o PSDB participou
das eleições municipais, elegendo Pimenta da Veiga prefeito de Belo Horizonte. Ao todo,
dezoito prefeitos e 214 vereadores tucanos foram eleitos naquele ano. Em 1989, lançou
Mário Covas como candidato a presidente da República, obtendo quase oito milhões de
votos. No segundo turno, o PSDB apoiou Lula. Em 1992, participou do processo que
resultou no impeachment de Collor e do governo de seu sucessor, Itamar Franco. Fernando
Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, pôs em execução o Plano Real. Em 1994,
com o apoio do então PFL hoje DEM e o sucesso do Plano Real, o PSDB elegeu FHC
presidente da República, reelegendo-o quatro anos depois. Em 1996, conquistou 921
prefeituras e elegeu 8.368 vereadores, estabelecendo-se como um dos maiores partidos do
país. Em 2002, o candidato do PSDB a presidente da República, José Serra, foi derrotado
pelo petista Lula. Nas eleições estaduais, no entanto, o PSDB manteve relativa força, tendo
elegido Geraldo Alckmin governador de São Paulo, Aécio Neves governador de Minas
Gerais e Marconi Perillo governador de Goiás. A derrota para Lula se repetiu em 2006,
tendo então Geraldo Alckmin como candidato. O PSDB, entretanto, elegeu José Serra
governador de São Paulo, consolidando o domínio da legenda naquele estado, a qual, no
final do mandato de Serra, terá completado ali dezesseis anos de poder. Elegeu ainda
outros cinco governadores.59
A Tabela 11 contém dados sobre a estrutura do PSDB na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
59
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PSDB (https://www2.psdb.org.br/home/index.php). Acesso em:
18 ago 2009.
91
Tabela 11: Estrutura do PSDB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
AFFONSO
CAMARGO
Superior
completo Engenheiro Civil
Vice-Governador, Senador (2),
Secretário Estadual (2),
Presidente de Banco Estadual,
Ministro dos Transportes (2)
4 PR Não PSDB 0
ALBANO
FRANCO
Superior
completo Advogado, Empresário
Deputado Estadual,
Governador, Senador 1 SE Não PSDB 0
ALFREDO
KAEFER
Superior
completo Industrial 1 PR Não PSDB 0
ANDREIA ZITO Superior
completo Advogada Deputada Estadual (2) 1 RJ Sim PSDB 0
ANTONIO
CARLOS
MENDES THAME
Superior
completo Professor Universitário Prefeito, Secretário Estadual 5 SP Não PSDB 0
ANTONIO
CARLOS
PANNUNZIO
Superior
completo
Engenheiro
Metalúrgico, Professor
Universitário
Secretário Municipal, Prefeito 4 SP Não PSDB 0
ARNALDO
MADEIRA
Superior
completo
Sociólogo, Professor
Universitário,
Administrador de
Empresas
Vereador (3), Secretário
Municipal, Secretário Estadual 4 SP Não PSDB 0
BONIFÁCIO DE
ANDRADA
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Vereador, Deputado Estadual
(4), Secretário Estadual (3) 8 MG Não PSDB 0
BRUNO ARAÚJO Superior
completo Advogado Deputado Estadual (2) 1 PE Não PSDB 0
BRUNO
RODRIGUES
Superior
incompleto Empresário
Vereador (2), Deputado
Estadual (2) 1 PE Não PSDB 0
CARLOS
ALBERTO
LERÉIA
Ensino
Fundamental
completo
Radialista Deputado Estadual (3) 2 GO Não PSDB 0
CARLOS
BRANDÃO
Superior
completo Empresário
Secretário Estadual adjunto,
Secretário Estadual (3) 1 MA Não PSDB 0
CARLOS
SAMPAIO
Superior
completo Advogado
Vereador, Deputado Estadual
(2), Secretário Municipal,
Promotor de Justiça
2 SP Não PSDB 0
CLÁUDIO DIAZ Superior
completo Veterinário Vereador (2), Prefeito 2 RS Não PSDB 0
DUARTE
NOGUEIRA
Superior
completo
Engenheiro Agrônomo,
Agropecuarista
Deputado Estadual (3),
Secretário Estadual (2) 1 SP Não PSDB 0
EDSON
APARECIDO
Superior
completo Historiador Deputado Estadual 1 SP Não PSDB 0
EDUARDO
BARBOSA
Superior
completo Médico Secretário Estadual 4 MG Não PSDB 0
EDUARDO
GOMES
Superior
incompleto Servidor Público
Vereador (2), Secretário
Municipal (4), Prefeito 2 TO Não PSDB 0
EMANUEL
FERNANDES
Superior
completo
Engenheiro
Aeronáutico, Servidor
Público
Prefeito, Secretário Estadual 2 SP Sim PSDB 0
FERNANDO
CHUCRE
Superior
completo
Arquiteto, Urbanista,
Empresário 2 SP Não PSDB 0
GERVÁSIO
SILVA
Superior
incompleto
Contador, Corretor de
Imóveis, Empresário
Vereador (2), Vice-Prefeito,
Secretário Municipal (2),
Prefeito
3 SC Não PFL 1
GUSTAVO
FRUET
Superior
completo Advogado Vereador 3 PR Sim PSDB 0
JOÃO ALMEIDA Superior
completo Geólogo Deputado Estadual 5 BA Não PSDB 0
JOÃO CAMPOS Superior
completo
Delegado de Polícia,
Pastor Evangélico 2 GO Não PSDB 0
JOSÉ ANÍBAL Superior
completo
Economista, Professor,
Empresário Vereador, Secretário Estadual 4 SP Não PSDB 0
JOSÉ C.
STANGARLINI
Superior
completo Advogado Deputado Estadual (2) 1 SP Não PSDB 0
JULIO
SEMEGHINI
Superior
completo Engenheiro Eletrônico 3 SP Não PSDB 0
JUTAHY JUNIOR Superior
completo Advogado
Deputado Estadual, Secretário
Estadual, Ministro do Bem-
Estar Social
6 BA Não PSDB 0
LEONARDO
VILELA
Superior
completo Médico Secretário Estadual (2) 2 GO Não PSDB 0
LOBBE NETO Superior
completo Biomédico
Vice-Prefeito, Deputado
Estadual (4) 2 SP Não PSDB 0
LUIZ CARLOS
HAULY
Superior
completo Economista, Professor
Vereador, Prefeito, Secretário
Estadual 5 PR Não PSDB 0
LUIZ PAULO
VELLOZO
LUCAS
Superior
completo Engenheiro
Prefeito (2), Secretário
Estadual (2), Secretário
Nacional de Acompanhamento
Econômico (MF)
1 ES Não PSDB 0
MANOEL
SALVIANO
Superior
completo Médico, Industrial Prefeito (2), Deputado Estadual 3 CE Não PSDB 0
MARCELO
ITAGIBA
Superior
completo
Advogado, Delegado
de Polícia Federal
Superintendente da Polícia
Federal, Secretário Estadual
adjunto, Secretário Estadual
1 RJ Não PMDB 1
NARCIO
RODRIGUES
Superior
incompleto Jornalista 4 MG Não PSDB 0
92
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
NILSON PINTO Superior
completo Professor Universitário
Reitor da UFPA, Secretário
Estadual (2) 3 PA Não PSDB 0
OTAVIO LEITE Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Vereador (3), Vice-Prefeito,
Secretário Municipal,
Deputado Estadual,
1 RJ Não PSDB 0
PAULO ABI-
ACKEL
Superior
completo Advogado Juiz do TRE-MG 1 MG Não PSDB 0
PINTO
ITAMARATY
Superior
completo
Administrador de
Empresas Vereador (2) 1 MA Não PSDB 0
PROFESSOR RUY
PAULETTI
Superior
completo Professor Universitário Deputado Estadual, Senador 1 RS Não PSDB 0
PROFESSORA
RAQUEL
TEIXEIRA
Superior
completo
Professora
Universitária Secretária Estadual (2) 2 GO Não PSDB 0
RAFAEL
GUERRA
Superior
completo
Médico, Professor
Universitário Secretário Estadual 3 MG Não PSDB 0
RAIMUNDO
GOMES DE
MATOS
Superior
completo Médico
Prefeito (2), Secretário
Estadual (2) 4 CE Não PSDB 0
RENATO AMARY Superior
completo Advogado, Empresário Prefeito (2), Deputado Estadual 1 SP Não PSDB 0
RICARDO
TRIPOLI
Superior
completo Advogado
Vereador, Secretário Municipal
(2), Deputado Estadual (5) 1 SP Não PSDB 0
RITA CAMATA Superior
completo Jornalista Secretária Estadual 5 ES Não PMDB 1
ROBERTO
ROCHA
Superior
completo
Administrador de
Empresa Deputado Estadual 3 MA Não PSDB 0
RODRIGO DE
CASTRO
Superior
completo
Advogado,
Administrador de
Empresas
1 MG Sim PSDB 0
ROGÉRIO
MARINHO
Superior
completo
Economista,
Administrador Público,
Professor
Vereador (2) 1 RN Não PSB 1
RÔMULO
GOUVEIA
Superior
incompleto Servidor Público
Vereador (2), Prefeito,
Deputado Estadual (2),
Governador interino
1 PB Não PSDB 0
SILVIO LOPES
Ensino
Fundamental
incompleto
Empresário,
Comerciante Prefeito (3) 2 RJ Não PSDB 0
SILVIO TORRES Superior
completo Jornalista, Empresário Prefeito, Deputado Estadual 4 SP Não PSDB 0
THELMA DE
OLIVEIRA
Superior
completo Enfermeira
Secretária Municipal,
Presidente de Fundação
Estadual
2 MT Não PSDB 0
URZENI ROCHA Superior
completo Médico
Vereador, Deputado Estadual
(3) 1 RR Não PSDB 0
VANDERLEI
MACRIS
Superior
completo
Advogado,
Microempresário
Vereador, Deputado Estadual
(7) 1 SP Não PSDB 0
WANDENKOLK
GONÇALVES
Superior
completo Engenheiro Agrônomo
Deputado Estadual (2), Diretor-
Presidente de Empresa
Estadual, Secretário Estadual
(3)
1 PA Não PSDB 0
ZENALDO
COUTINHO
Superior
completo Advogado
Vereador (2), Deputado
Estadual (2) 3 PA Não PSDB 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos 57 deputados hoje integrantes da bancada do PSDB na Câmara, 55 têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (96%). Entre as categorias
profissionais, destacam-se os advogados (dezesseis, 28%), os professores (doze, 21%), os
empresários (doze, 21%), os médicos (sete, 12%) e os engenheiros (sete, 12%). 51 já
exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (88%): quinze
somente no Legislativo (29%); dezenove no Legislativo e no Executivo (38%); quinze só
no Executivo (29%); um no Executivo e no Ministério Público (2%); e um apenas no
Judiciário (2%). Vale destacar que o deputado Albano Franco já foi governador de Sergipe;
o deputado Affonso Camargo, ministro dos Transportes por duas vezes (1985-1986, 1992);
e o deputado Jutahy Junior, ministro do Bem-Estar Social (1992-1993). 34 já exerceram
mais de um mandato de deputado federal (60%). Os 57 deputados tucanos representam
93
todas as regiões do país, com o predomínio do Sudeste (49%). 53 foram eleitos pelos votos
de legenda (93%). Os deputados Andreia Zito, Emanuel Fernandes, Gustavo Fruet e
Rodrigo de Castro foram eleitos pelos votos próprios. Quatro foram eleitos por outros
partidos: um pelo PSB, dois pelo PMDB e um pelo PFL/DEM. Portanto, dos 57 deputados
que atualmente integram a bancada do PSDB na Câmara, quatro já mudaram de partido
pelo menos uma vez nesta legislatura (7%). O PSDB, por sua vez, perdeu oito deputados
para outras legendas (12% da bancada das eleições): um para o PSB, um para o PPS, cinco
para o PR e um para o PTB.60
Nos termos do art. 17, III, do Estatuto do PSDB, as bancadas parlamentares são
órgãos do partido. As bancadas escolhem seus líderes de acordo com os regimentos, os
quais dependem da aprovação dos diretórios correspondentes. Os integrantes da bancada
devem subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às
diretrizes estabelecidos pelos órgãos de direção do partido. O ―fechamento de questão‖
decorre de decisão tomada em reunião conjunta com a comissão executiva correspondente,
aprovada pela maioria absoluta de cada órgão. Os parlamentares que pretendam ter, por
motivo de consciência ou convicção religiosa, posição diversa, devem submeter suas
razões à referida reunião, que decide por maioria absoluta de cada órgão. Os parlamentares
estão sujeitos, além das medidas disciplinas básicas, às penas de desligamento temporário
da bancada, suspensão do direito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as
prerrogativas, cargos ou funções que exerçam em decorrência da representação e da
proporção partidária, a serem aplicadas pelo líder, após regular processo conduzido pelo
conselho de ética e disciplina. Em caso de descumprimento de decisão relativa a
―fechamento de questão‖, a pena é aplicada pelo líder independentemente de processo (art.
60
O deputado Custódio Mattos renunciou para assumir o cargo de prefeito de Juiz de Fora-MG. Ocupa sua
vaga, em caráter de sucessão, o deputado Jairo Ataíde, do DEM. O deputado Ronaldo Cunha Lima
renunciou. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Major Fábio, do DEM. O deputado Waldir
Neves renunciou para assumir o cargo de conselheiro do TCE-MS. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão,
o deputado Marçal Filho, do PMDB. O deputado Walter Feldman se afastou do exercício do mandato para
assumir o cargo de secretário de Esportes, Lazer e Recreação do Município de São Paulo. Ocupa sua vaga,
em caráter de substituição, o deputado Milton Vieira, do DEM. Portanto, além das oito vagas acima, outras
quatro foram perdidas: uma para o PMDB e duas para o DEM, em caráter definitivo; e uma para o DEM, em
caráter precário e reversível.
94
49). Os líderes das bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal são membros
natos do Diretório Nacional, da Comissão Executiva Nacional, do Conselho Político
Nacional e do Conselho Nacional de Ética e Disciplina (arts. 62, 63, 72 e 74).
O PSDB continua sendo um partido essencialmente paulista. Os deputados
paulistas, dezesseis ao todo, são o maior e mais influente grupo dentro da bancada tucana
na Câmara, seguido pelo grupo mineiro, com seis deputados. Desde a disputa interna entre
José Serra e Geraldo Alckmin pela candidatura a prefeito de São Paulo em 2004, o grupo
paulista na Câmara tem estado dividido entre aqueles dois políticos: de um lado, os
serranos comandados por Antonio Carlos Pannunzio, Arnaldo Madeira e Fernando Chucre;
de outro, os alckminianos capitaneados por José Aníbal, Duarte Nogueira e Julio
Semeghini. Esses dois subgrupos se têm alternado na liderança da bancada ao longo da
presente legislatura: em 2007, o comando da bancada estava nas mãos do deputado
Antonio Carlos Pannunzio e do subgrupo serrano; em 2008 e 2009, passou às mãos do
deputado José Aníbal e do subgrupo alckiminiano. O atual líder da bancada, o deputado
baiano João Almeida, eleitor do deputado José Aníbal nos anos anteriores, concorreu com
o candidato dos alckminianos, Duarte Nogueira, tendo recebido apoio dos serranos. O
grupo de Minas Gerais, menos influente do que o grupo de São Paulo, é controlado pelo
governador mineiro Aécio Neves.
Nas palavras do atual líder João Almeida, da Bahia,
a bancada tem basicamente dois grupos mais estruturados, que são mais expressivos em
termos de número. Os outros, as outras bancadas quase que não atuam como forças
regionais. Três talvez: São Paulo, com um número muito grande de deputados; Minas, em
segundo lugar; e terceiro, Goiás. As outras bancadas são pouco representativas em número
e as próprias contradições existentes no seio da bancada de cada Estado não asseguram
uma atuação da bancada estadual com esse caráter (Entrevista realizada em 29/4/2010).
O deputado Bonifácio de Andrada, de Minas Gerais, foi mais direto: ―As lideranças
paulistas dominam o partido‖ (Entrevista realizada em 5/5/2010).
Nesse contexto de clivagens regionais e subgrupos, o poder do líder, de acordo com
o assessor do PSDB entrevistado,
95
nada mais é do que fazer representar o interesse médio de cada grupo (...) O bom líder é
aquele que consegue expressar o pensamento médio (...) Não há muito espaço, no meu
ponto de vista, não há muito espaço de o líder impor uma determinada linha, discurso,
programa, encaminhamento, sem que aquilo seja o pensamento médio da bancada.
(...)
Pouquíssimas as decisões de líder, essencialmente no PSDB, onde eu conheço
melhor o seu funcionamento, a sua forma de escolha, são pouquíssimas as decisões
monocráticas da liderança. Cada líder tem seu grupo de deputados que funciona como uma
espécie de conselheiros. O líder ao tomar uma decisão de indicar um deputado para exercer
uma posição importante na Câmara, seja presidente de comissão, seja relator de projeto
importante, ouve um determinado grupo conselheiro ao seu redor, faz consulta aos
principais deputados que têm influência em relação à matéria, à área. Muito poucas
decisões são monocráticas (...) Não adianta o líder tomar uma decisão monocrática e não
ter sustentação política pra ela. Ela se torna inviável, ela se torna ineficaz, no ponto de
vista de partido. Você não consegue construir um discurso único, uma diretriz única (...) A
não ser as decisões administrativas da liderança. Em geral, são monocráticas.
(...)
A composição dos cargos aos quais cabem ao partido na Casa, ela é uma discussão
muito mais ampla, uma discussão que corre em conjunto com a eleição do líder. O líder, ao
se eleger, já tem em mente, quer dizer, o grupo de sustentação daquela liderança (...) já tem
em mente os seus principais postos a ser ocupados, os nomes indicados. Isso leva-se em
conta a regionalização, quer dizer, a composição das diversas regiões e das diversas
correntes, mesmo dentro do mesmo estado (Entrevista realizada em 24/3/2010).
O Partido Progressista – PP, uma das principais forças políticas de direita do país,
teve sua origem no PDS e em sua antecessora, a Arena. A escolha de Paulo Maluf em 1985
como candidato do PDS a presidente da República resultou na divisão do partido e na
formação da Frente Liberal, mais tarde Partido da Frente Liberal – PFL, atual Democratas
– DEM. Empurrado para a oposição pela vitória da chapa Tancredo Neves (MDB)/José
Sarney (Frente Liberal), o PDS viu reduzir, a cada eleição, seu número de governadores,
prefeitos e parlamentares. O próprio Maluf sofreu uma série de reveses: foi derrotado nas
eleições para governador de São Paulo em 1986, para prefeito de São Paulo em 1988, para
96
presidente da República em 1989 e novamente para governador de São Paulo em 1990.
Mesmo tendo vencido o senador petista Eduardo Suplicy no segundo turno das eleições
para prefeito de São Paulo em 1992, Maluf percebeu a necessidade de inserir uma nova
legenda no quadro partidário nacional e assim manter-se influente no cenário nacional
como político de direita, sobretudo após o impeachment de Collor, de cujo governo o PDS
participou. Em 1993, o PDS se fundiu com o Partido Democrata Cristão, formando o
Partido Progressista Reformador – PPR. Em 1994, lançou Espiridião Amin como
candidato ao cargo de presidente da República. Em 1995, o PPR se fundiu com o primeiro
Partido Progressista, fundado em 1993 após a fusão de duas outras legendas, dando origem
ao Partido Progressista Brasileiro – PPB, desde logo comprometido com o Plano Real e
com o governo FHC. Em 2003, findo o segundo mandato de FHC, o partido resolveu
alterar seu nome para Partido Progressista – PP, denominação com que passou a integrar a
base parlamentar de apoio ao governo Lula.61
A Tabela 12 contém dados sobre a estrutura do PP na Câmara dos Deputados na
atual legislatura (2007-2011).
Tabela 12: Estrutura do PP na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
AFONSO HAMM Superior
completo Engenheiro Agrônomo
Vereador, Secretário
Municipal, Diretor
Administrativo de Empresa
Estadual
2 RS Não PP 0
ALINE CORRÊA Ensino Médio
completo Empresária 1 SP Não PP 0
ANGELA AMIN Superior
completo
Professora, Servidora
Pública Vereadora, Prefeita (2) 2 SC Não PP 0
ANTONIO CRUZ Superior
completo Médico Vereador 3 MS Não PP 0
BENEDITO DE
LIRA
Superior
completo Advogado
Vereador (3), Prefeito,
Deputado Estadual (3),
Governador (2)
3 AL Não PP 0
BETO MANSUR Superior
completo
Engenheiro Eletrônico
Radialista, Empresário Vereador, Prefeito (2) 3 SP Não PP 0
CELSO
RUSSOMANNO
Superior
completo
Advogado, Apresentador
de Televisão, Repórter 4 SP Sim PP 0
CIRO
NOGUEIRA
Superior
completo Advogado, Empresário 4 PI Não PP 0
DILCEU
SPERAFICO
Superior
completo
Advogado, Filósofo,
Agropecuarista,
Industrial
4 PR Não PP 0
DR. NECHAR Superior
completo
Médico, Administrador
de Empresas Vereador 1 SP Não PV 1
61
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br) e do PP (http://www.pp.org.br). Acesso em: 18
ago 2009.
97
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
EDUARDO DA
FONTE
Ensino Médio
completo Empresário 1 PE Não PP 0
ELIENE LIMA Superior
completo
Engenheira Civil,
Professora
Vereadora, Deputada Estadual
(3) 1 MT Não PP 0
EUGÊNIO
RABELO
Ensino Médio
completo
Servidor Público,
Empresário Prefeito (2) 1 CE Não PP 0
GERSON PERES Superior
completo
Advogado, Jornalista,
Educador
Deputado Estadual (6), Vice-
Governador, Secretário
Estadual
6 PA Não PP 0
GLADSON
CAMELI
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário 1 AC Não PP 0
JAIR
BOLSONARO
Superior
completo Militar Vereador 5 RJ Não PP 0
JAIRO
CARNEIRO
Superior
Completo Advogado, Professor
Diretor Administrativo de
Empresa Estadual, Secretário
Estadual
6 BA Não PFL 1
JOÃO
PIZZOLATTI
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Servidor Público 4 SC Não PP 0
JOSÉ LINHARES Superior
completo
Padre Católico, Filósofo,
Psicólogo, Professor,
Pedagogo,
Administrador
5 CE Não PP 0
JOSÉ OTÁVIO
GERMANO
Superior
completo Advogado
Vereador, Deputado Estadual
(2), Secretário Estadual (2),
Secretário Nacional do Esporte,
Ministro do Esporte e Turismo
interino
2 RS Sim PP 0
LÁZARO
BOTELHO
Superior
completo Empresário, Pecuarista Secretário Municipal (2) 1 TO Não PP 0
LUIS CARLOS
HEINZE
Superior
completo
Engenheiro Agrônomo,
Produtor Rural Secretário Municipal, Prefeito 3 RS Sim PP 0
LUIZ
FERNANDO
FARIA
Superior
completo
Engenheiro Mecânico,
Empresário,
Agropecuarista
Deputado Estadual (3) 1 MG Não PP 0
MÁRCIO
REINALDO
MOREIRA
Superior
completo
Economista, Analista de
Orçamentos
Diretor-Executivo do Fundo
Nacional de Saúde, Secretário
Geral do Ministério da Saúde,
Secretário Geral do Ministério
da Integração Regional
4 MG Não PP 0
MÁRIO
NEGROMONTE
Superior
completo Advogado
Secretário Municipal,
Deputado Estadual 4 BA Não PP 0
NELSON
MEURER
Ensino
Fundamental
completo
Agropecuarista 4 PR Não PP 0
NEUDO
CAMPOS
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário
Secretário Estadual,
Governador (2) 1 RR Não PP 0
PAULO MALUF Superior
completo
Engenheiro Civil,
Industrial
Prefeito, Secretário Estadual,
Governador (2), Presidente da
Caixa Econômica Federal
2 SP Sim PP 0
PEDRO HENRY Superior
completo Médico Vice-Prefeito 4 MT Não PP 0
REBECCA
GARCIA
Superior
completo Economista 1 AM Não PP 0
RENATO
MOLLING
Superior
completo Administrador, Professor Prefeito (2) 1 RS Não PP 0
RICARDO
BARROS
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário Prefeito 4 PR Não PP 0
ROBERTO
BALESTRA
Superior
completo
Advogado,
Agropecuarista,
Industrial
Secretário Estadual (3) 6 GO Não PP 0
ROBERTO
BRITTO
Superior
completo
Médico, Professor
Universitário Prefeito (2) 1 BA Não PP 0
RODOVALHO Superior
completo
Pastor Evangélico,
Professor Universitário,
Comunicador, Escritor,
Empresário
Secretário Estadual 1 DF Não PFL 1
SANDES JÚNIOR Superior
completo Advogado, Radialista
Vereador, Deputado Estadual
(3) 2 GO Não PP 0
SIMÃO SESSIM Superior
completo Advogado, Professor
Secretário Municipal,
Procurador Geral Municipal,
Prefeito
8 RJ Não PP 0
VADÃO GOMES Ensino Médio
incompleto Empresário, Pecuarista Vice-Prefeito 5 SP Não PP 0
98
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
VILSON
COVATTI
Superior
completo Advogado
Vereador, Deputado Estadual
(3) 1 RS Não PP 0
ZONTA Superior
completo
Agricultor
Cooperativista
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal, Prefeito (2),
Deputado Estadual (2),
Secretário Estadual
2 SC Não PP 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
35 dos quarenta deputados hoje integrantes da bancada do PP na Câmara têm
escolaridade de nível superior (87%). Entre as categorias profissionais, predominam os
empresários (dezoito, 45%, dos quais oito estão relacionados à agropecuária), os
advogados (doze, 30%), os engenheiros (dez, 25%), os professores (nove, 22%), os
comunicadores (quatro, 10%) e os médicos (quatro, 10%). Trinta já exerceram cargos
públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (75%): sete somente no Legislativo
(23%); oito no Legislativo e no Executivo (27%); e quinze só no Executivo (50%). Vale
salientar que os deputados Benedito de Lira, Neudo Campos e Paulo Maluf já foram, por
duas vezes cada um, governadores, respectivamente, de Alagoas, Roraima e São Paulo. 26
já exerceram o mandato de deputado federal mais de uma vez (65%). Os quarenta
deputados do PP representam todas as regiões do país, com predomínio do Sul (28%). 36
foram eleitos pelos votos de legenda (90%). Os deputados José Otávio Germano, Luís
Carlos Heinze, Paulo Maluf e Celso Russomanno foram eleitos pelos votos próprios. Três
foram eleitos por outros partidos: um pelo PV e dois pelo PFL/DEM. Portanto, dos
quarenta deputados que atualmente integram a bancada do PP na Câmara, três já mudaram
de partido pelo menos uma vez nesta legislatura (7%). O PP, por sua vez, perdeu um
deputado para o PRB (2% da bancada das eleições).62
Nos moldes do art. 7º do Estatuto do PP, as bancadas parlamentares são órgãos do
partido. Os líderes das bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal integram o
Diretório Executivo Nacional (art. 37) e a Comissão Executiva Nacional (art. 87). As
62
O deputado Nélio Dias faleceu. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Betinho Rosado, do
DEM. O deputado Carlos Souza renunciou para assumir o cargo de prefeito de Manaus. Ocupa sua vaga, em
caráter de sucessão, o deputado Lupércio Ramos, do PMDB. O deputado Waldir Maranhão se afastou do
exercício do mandato para assumir o cargo de secretário de Estado de Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e
Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado
Washington Luiz, do PT. Portanto, além da vaga acima, outras três foram perdidas: uma para o PMDB e uma
para o DEM, em caráter definitivo, e uma para o PT, em caráter precário e reversível.
99
bancadas estão subordinadas aos princípios doutrinários, ao programa e as diretrizes
regularmente estabelecidas pelos órgãos partidários. Por iniciativa própria ou por meio de
proposta do líder da bancada ou de um terço de seus membros, pode o diretório fechar
questão sobre determinada proposição em exame no Legislativo, mediante a manifestação
da maioria, sujeitando-se às sanções previstas no estatuto o parlamentar que descumprir a
diretriz assim estabelecida (art. 84). O líder é eleito pela bancada mediante voto secreto e
maioria absoluta (art. 85).
De acordo com o assessor do PP entrevistado,
o PP era chamado de ―partido do Maluf‖. A influência dele era muito grande, uma
influência que dividia a bancada. E dividia em muito. E a bancada era bem grande.
Chegamos a ter noventa, oitenta e tantos deputados. O Maluf naquela outra legislatura, ele
conseguiu fazer com que a bancada partisse pela metade (...) Ele era muito autoritário com
relação à bancada e vários deputados não aceitavam essa imposição, essa influência, que,
pra muitos, foi uma influência danosa. Tanto assim que a metade caiu fora. Os que
ficaram... Ficou tudo contornado e tal. Ele foi perdendo a influência. Depois não conseguiu
se eleger deputado. E aí a coisa mudou, começou a mudar. Hoje é um deputado como
qualquer outro na bancada. Não se fala mais de ―partido do Maluf‖ (...) O Sul, de certa
forma, eu não vou dizer que predomina, mais ele tem uma voz bastante acentuada, porque
há um número muito maior de deputados. Tem o problema do agronegócio, que é uma
força. O partido, essa parte de agronegócio e tudo, ele é bem, bem influente, totalmente
influente. Eles conseguem que a bancada se converta, se dirija aos interesses deles, porque
o agronegócio é forte. Então o Sul tem essa vantagem (...) O Jair Bolsonaro, ele diz que é o
líder da oposição dentro do partido. Mas é uma pessoa que é autêntica. Ele é da direita
direitíssima. Não abre mão disso. Ele é essencialmente contra o PT. Ele não vota no PT
absolutamente. Mas é uma pessoa que a bancada sabe, o líder do partido sabe, o presidente
do partido sabe que não vai mudar. E é assim que ele se mantém (...) É a bandeira dele,
como tínhamos a bancada do Amaral Neto, que era a da pena de morte.
(...)
Com o líder Mário Negromonte, nesta legislatura, a bancada foi governo de olhos
fechados, com naturalmente votos contrários, mas silenciosos. Com este líder atual, o
deputado João Pizzolatti, ele tem tido um cuidado maior na orientação da bancada. Ele tem
feito reuniões semanais pra discutir a pauta. Ele tem conseguido fazer com que a bancada
100
opine realmente sobre as matérias e que haja, inclusive, divergências. Se a maioria diverge,
ele mantém a divergência da maioria. Ele não é governo de olhos fechados. Ele é líder da
bancada e segue aquilo que a bancada, na sua maioria, decide. Tem sido assim. Tanto que,
de um tempo pra cá, mesmo menos de mês, a bancada tem votado contra o governo em
determinada matéria (...) No caso do Negromonte, ele pegou exatamente a fase mais difícil
da bancada, que foi do Mensalão... Era o Zé [José] Janene o líder... O Janene teve muita
dificuldade com aquele problema todo. Ficou muito envolvido, pelo menos a mídia o
envolveu. E o Mário Negromonte foi um deputado que acompanhou toda essa trajetória do
Mensalão e depois foi capaz de mudar a coisa... toda essa situação difícil do Mensalão. E
realmente ele conseguiu... limpar essa parte de Mensalão. E ele partiu pra um lado, que
nem todos fazem com tanta segurança e com tanto empenho, que é de a bancada ser
atendida pelo governo, em todas as suas reivindicações, sejam elas em termos de emenda
parlamentar, seja em termos de cargo em seus estados (...) O Mário Negromonte, ele nunca
foi de discurso. Ele não era de discursar, não é de discursar. Não é e não foi líder de
empenho dentro do Plenário. O primeiro vice-líder é que era o porta-voz da bancada, das
decisões da bancada. Ele fazia também reuniões da bancada, mas o papel dele foi muito
mais de atendimento aos interesses dos deputados, dos seus estados, do que propriamente
lutar em Plenário e tal (...) E com pressão. Ele não era ―maria-vai-com-as-outras‖. Ele
realmente lutava e impunha muita coisa: ―Isso aqui, se não atender, nós estamos fora‖.
Porque o PP tem sido o fiel da balança, no caso da base. Dependendo do tipo de matéria,
dependendo de quorum necessário para determinada matéria, o PP é o fiel da balança. Hoje
nós passamos – o pessoal contou –, 41 deputados, com a volta do Ricardo Barros. Então é
uma bancada grande. E o governo sempre teve medo. Já tivemos votação, no tempo ainda
do Mário, de o governo perder porque o PP caiu fora, por não atendimento a suas
reivindicações. Por exemplo, o Marcio Fortes, que é o ministro das Cidades, foi uma
indicação do PP. Na época o Ministério das Cidades era o que tinha menos verbas. Hoje o
que tem mais verba é o Ministério da Cidade. Então o Mário Negromonte conseguiu fazer
isso. E essa união que ele conseguiu, essa situação toda de melhorar a bancada, de unir,
facilitou e muito o trabalho do atual líder, João Pizzolatti. Agora como ele conseguiu ficar
o tempo todo? Primeiro, sob esse aspecto de fazer com que a imagem de Mensalão saísse
do PP, como realmente saiu. Hoje os deputados que porventura tenham participado, são
acusados de participação, mas é ele, deputado, não a bancada. Hoje não se fala mais: ―O PP
foi a bancada do Mensalão‖, porque o Mário Negromonte conseguiu acabar com a essa
imagem. E ele conseguiu. Exatamente por isso – a eleição é de ano em ano – ele conseguiu
ser eleito nesses quatro anos por aclamação. Houve apenas um caso, na última eleição dele,
101
no ano passado, que o deputado Gerson Peres, jurista e tudo... Porque na verdade o Estatuto
do partido prevê eleições e não listas de adesão... E o Gerson Peres, como é muito legalista,
ele entrou com recuso na Justiça contra a recondução do Mário Negromonte. Conseguiu
ganhar na primeira instância, mas perdeu na segunda. Mas ele fez isso não porque era
contra o Negromonte; ele era contra essa situação, porque ele achava que todos tinham
direito de se candidatara a líder. Mas ficou assim a coisa meio difícil entre ele o Mário
Negromonte, até que veio a eleição do... (...) Com o Mário Negromonte, tinha um grupo
mais influente, um grupo bem mais influente junto ao Mário Negromonte. O João
Pizzolatti... houve a eleição, uma eleição mesmo, quer dizer, tinha inscrição de candidatos.
Então eram três candidatos, ele, o... Bom, eram três candidatos. E o Pizzolatti sempre foi
muito querido por todo mundo, porque ele é uma joia de pessoa, um gentleman, um sujeito
alegre, competente, inteligente. Então ele conquista a amizade de todo mundo (...) Ele é
muito festeiro, sempre fez muita festa na casa dele, muito antes de pensar em liderança (...)
No dia da eleição, os outros dois candidatos abriram mão da candidatura em benefício dele.
Ele conquistou a liderança, o que prova que ele realmente é líder (Entrevista realizada em
8/4/2010).
O deputado Mário Negromonte liderou a bancada do PP de 2006 a 2009. O atual
líder do PP é o deputado João Pizzolatti.63
O Partido da República – PR foi fundado em 2006. É resultado da fusão do Partido
Liberal – PL e do Partido da Reedificação da Ordem Nacional – PRONA. O PR adotou a
base programática do PL, qual seja, o liberalismo social. Apoia o governo Lula. O ministro
dos Transportes Alfredo Nascimento, os deputados Inocêncio de Oliveira e Valdemar
Costa Neto, o senador Magno Malta e o governador do Mato Grosso Blairo Maggi estão
entre seus filiados mais conhecidos.64
A Tabela 13 contém dados sobre a estrutura do PR na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
63
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
64 Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br) e do PR
(http://www.partidodarepublica.org.br/PR22). Acesso em: 19 ago 2009.
102
Tabela 13: Estrutura do PR na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
AELTON FREITAS Superior
completo
Engenheiro Agrônomo,
Empresário, Produtor
Rural
Prefeito, Senador (2) 1 MG Não PL 0
AIRTON ROVEDA Superior Minerador, Pecuarista,
Comerciante Prefeito 3 PR Não PPS 1
ARACELY DE
PAULA
Superior
completo Advogado
Vereador (2), Prefeito (2),
Secretário Estadual 5 MG Não PL 0
BILAC PINTO Superior
completo Advogado
Deputado Estadual (3),
Secretário Estadual 1 MG Não PL 0
CHICO DA
PRINCESA
Ensino Médio
completo Contador Vereador 4 PR Não PL 0
DAVI ALVES SILVA
JÚNIOR
Ensino Médio
completo 1 MA Não PDT 3
DR. ADILSON
SOARES
Superior
completo Consultor Econômico Vereador 1 RJ Não PL 0
DR. PAULO CÉSAR Superior
completo Médico Vereador 1 RJ Não PTB 1
EDMAR MOREIRA Superior
completo
Militar, Empresário,
Produtor Rural 4 MG Não PFL 1
GERALDO PUDIM Superior
incompleto
Técnico em Edificações,
Administrador Público
Vereador (2), Vice-Prefeito,
Secretário Municipal (3) 1 RJ Sim PMDB 1
GIACOBO Ensino Médio
completo Empresário 2 PR Não PL 0
GORETE PEREIRA Superior
completo
Fisioterapeuta
Ocupacional, Professora
Universitária
Vereadora (2), Deputada
Estadual 2 CE Não PL 0
HOMERO PEREIRA Superior
completo
Técnico em
Agropecuária, Produtor
Rural
Deputado Estadual 1 MT Não PPS 1
INOCÊNCIO
OLIVEIRA
Superior
completo Médico
Presidente da Câmara dos
Deputados, Presidente da
República interino
9 PE Sim PL 0
JAIME MARTINS Superior
completo
Engenheiro, Advogado
Empresário 4 MG Não PL 0
JOÃO CARLOS
BACELAR
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário 1 BA Não PL 0
JOÃO MAIA Superior
completo Economista
Secretário Municipal,
Secretário Estadual,
Secretário Nacional de
Economia (MF)
1 RN Não PL 0
JOFRAN FREJAT Superior
completo Médico
Secretário Estadual, Ministro
da Previdência e Assistência
Social interino
5 DF Não PTB 1
JOSÉ CARLOS
VIEIRA
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Professor Universitário
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal (2), Deputado
Estadual, Presidente da Cia
Estadual de Água e Esgoto
3 SC Não PFL 1
JOSÉ ROCHA Superior
completo Médico Deputado Estadual (4) 4 BA Não PFL 1
JOSÉ SANTANA DE
VASCONCELLOS
Superior
completo Pecuarista Deputado Estadual (4) 6 MG Não PL 0
LEO ALCÂNTARA Superior
completo Advogado, Empresário 3 CE Não PSDB 1
LINCOLN
PORTELA
Superior
completo
Radialista,
Comunicador. Secretário Municipal adjunto 3 MG Não PL 0
LUCENIRA
PIMENTEL
Superior
completo
Técnica em
Secretariado Secretária Municipal 1 AP Não PPS 1
LUCIANA COSTA Superior
completo
Cirurgiã Dentista,
Professora de Educação
Física
1 SP Não PRONA 0
LUCIANO CASTRO Superior
completo
Administrador,
Economista Secretário Estadual 5 RR Não PL 0
LÚCIO VALE Superior
completo
Administrador de
Empresas 1 PA Não PMDB 1
MARCELO
TEIXEIRA
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Engenheiro Químico,
Professor Universitário
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal (4) 4 CE Não PSDB 1
MAURÍCIO
QUINTELLA LESSA
Superior
completo Servidor Público
Vereador (2), Secretário
Municipal, Secretário
Estadual (2)
2 AL Não PDT 1
MAURÍCIO
TRINDADE
Superior
completo Médico Dentista Vereador (3) 1 BA Não PL 0
MILTON MONTI Superior
completo Economista
Prefeito, Deputado Estadual
(2), Secretário Estadual 3 SP Não PL 0
103
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
NEILTON MULIM Superior
completo Professor
Vereador (2), Presidente de
Fundação Municipal,
Secretário Municipal (2)
1 RJ Não PPS 1
NELSON GOETTEN Ensino Médio
completo
Agricultor, Empresário
Industrial
Vereador, Prefeito, Deputado
Estadual (2) 1 SC Não PFL 1
NILMAR RUIZ Superior
completo Professora
Secretária Municipal,
Prefeita, Secretária Estadual
(3)
2 TO Não PFL 1
PASTOR MANOEL
FERREIRA
Superior
completo
Pastor Evangélico,
Advogado 1 RJ Não PTB 1
PASTOR PEDRO
RIBEIRO
Superior
Incompleto Pastor Evangélico Vereador 2 CE Não PMDB 1
SANDRO MABEL Superior
completo Empresário Deputado Estadual 3 GO Não PL 0
SUELY Ensino Médio
completo Vereadora 1 RJ Não PRONA 0
TONHA
MAGALHÃES
Ensino Médio
completo Comerciante Vereadora, Prefeita (2) 1 BA Não PFL 1
VALDEMAR COSTA
NETO
Superior
completo
Administrador de
Empresas
Secretário Municipal (2),
Diretor-Presidente de Cia
Municipal, Diretor
Administrativo de Cia
Estadual
5 SP Não PL 0
VICENTE ARRUDA Superior
completo
Advogado, Cientista
Político, Jornalista 4 CE Não PSDB 1
VICENTINHO
ALVES
Superior
completo
Agropecuarista,
Empresário, Piloto
Comercial
Prefeito, Deputado Estadual
(2), Governador interino 1 TO Não PSDB 1
WELLINGTON
ROBERTO
Superior
incompleto Empresário Senador 2 PB Não PL 0
ZÉ VIEIRA
Vereador, Prefeito (2),
Secretário Estadual 1 MA Não PSDB 2
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos 44 deputados que atualmente integram a bancada do PR na Câmara, 37 têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (84%). Entre as categorias
profissionais, destacam-se os empresários (dezoito, 41%, dos quais sete estão relacionados
à agropecuária), os médicos (seis, 14%), os professores (seis, 14%), os advogados (cinco,
11%) e os engenheiros (cinco, 11%). 33 já exerceram cargos públicos importantes fora da
Câmara dos Deputados (75%): doze somente no Legislativo (36%); onze no Legislativo e
no Executivo (34%); e dez só no Executivo (30%). Vale realçar que o deputado Inocêncio
Oliveira já foi presidente da Câmara dos Deputados e, nessa condição, presidente da
República interino. 24 já exerceram o mandato de deputado federal mais de uma vez
(54%), estando o deputado Inocêncio Oliveira entre os deputados com o maior tempo de
permanência no cargo. Ele e o deputado Miro Teixeira, do PDT, cada um com nove
mandatos, só perdem para o deputado Henrique Eduardo Alves, líder da bancada do
PMDB, com dez mandatos. Os 44 deputados do PR representam todas as regiões do país,
com leve predomínio do Sudeste (36% – a representação nordestina corresponde a 34%).
42 foram eleitos pelos votos de legenda (95%). Os deputados Inocêncio Oliveira e Geraldo
Pudim foram eleitos pelos votos próprios. 23 foram eleitos por outros partidos: dois do
PDT, quatro do PPS, três do PMDB, cinco do PSDB, três do PTB e seis do PFL/DEM.
104
Portanto, dos 44 deputados que atualmente integram a bancada do PR na Câmara, 23
mudaram de partido pelo menos uma vez nesta legislatura (52%). O PR, por sua vez,
perdeu três deputados para outras legendas (12% da bancada das eleições): dois para o
PDT e um para o PRB.65
Nos termos do art. 6º do Estatuto do PR, as bancadas parlamentares são órgão do
partido. Os líderes das bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal integram a
Comissão Executiva Nacional (art. 22). O líder da bancada da Câmara é eleito por maioria
absoluta. Em caso de empate no segundo turno, é considerado eleito o candidato com mais
tempo de filiação. O mandato tem a duração de uma sessão legislativa, admitida reeleição
para a sessão legislativa subsequente. O líder pode ser destituído a qualquer tempo por
deliberação da maioria absoluta da bancada e consequente aprovação da Comissão
Executiva Nacional (art. 28). Está sujeito às penalidades previstas no estatuto o
parlamentar que votar contra decisão tomada pelo órgão de execução de seu nível (art. 48,
§ 10, VII).
No julgamento do assessor do PR entrevistado, o deputado Valdemar Costa Neto,
em que pese a não mais ser formalmente presidente ou líder, ainda controla tanto o partido
quanto a bancada na Câmara:
O deputado Valdemar [Costa Neto] (...) apesar de ele não ser presidente e tudo,
mas ele é a cabeça do partido, né? (...) A estrutura partidária é o deputado Valdemar. E ele
é que comanda o partido mesmo. Não tem uma hierarquia (...) É um partido de apoio à
base. Foi fundado pra isso. Teve o apoio do governo pra ter essa movimentação de
deputados vindos pra cá (...) São Paulo, Minas, Ceará e Bahia são os grupos regionais
dentro da bancada mais influentes. Os parlamentares... Tem o deputado Luciano, que é lá
na parte norte, que é só um ponto fora. Mas a gente tem São Paulo, com o deputado
Valdemar e o deputado Milton Monti, que hoje é o presidente da Comissão de Transporte –
nosso foco principal é a Comissão de Viação e Transporte; o DNIT é do partido, o
65
O deputado Neucimar Fraga renunciou para assumir o cargo de prefeito de Vila Velha-ES. Ocupa sua
vaga, em caráter de sucessão, o deputado Capitão Assumção, do PSB. O deputado Wellington Fagundes se
licenciou por 122 dias a partir de 15/7/2009. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado
Professor Victorio Galli, do PMDB. Portanto, além das vagas acima, outras duas foram perdidas: uma para o
PSB, em caráter definitivo; e uma para o PMDB, em caráter temporário.
105
Ministério e algumas agências –; Minas, o deputado Zé [José] Santana [de Vasconcellos],
que disputou a liderança, Lincoln [Portela], que é o primeiro vice-líder. Na Bahia, a gente
tinha o deputado Zé [José] Carlos Araújo, que era o presidente do Conselho: saiu. O
deputado Zé [José] Rocha, que é uma pessoa muito influente. Tem também uma influência
que sofre aqui dentro: é a influência do Senador César Borges, que comanda a bancada da
Bahia (...) Existe também a liderança dos ex-líderes, que eles também são muito ouvidos. O
Valdemar [Costa Neto] foi líder durante muito tempo. Aí o Valdemar saiu entrou o Sandro
Mabel. Quando o Sandro Mabel saiu, entrou o Luciano Castro. A gestão dele foi muito boa
pros deputados, pra bancada. Vamos dizer assim que o índice de insatisfação dos
deputados era muito baixa. Então por isso ele se tornou uma pessoa muito ouvida hoje. Ele
é vice-líder do governo também. Agora com a reassunção do Sandro, esses dois continuam
sendo muito ouvidos.
(...)
A alternância de líderes, não teve muita, né? Era Sandro, quando era PL. Aí,
Luciano. Aí quando mudou de PL pra PR, o Luciano aproveitou... O nosso Estatuto só
permite um ano, com uma recondução. Mas como houve um novo, aproveitou e ficou três
anos. O Sandro Mabel, de novo. Nesta última eleição, uma nova liderança tentou surgir
[deputado José Santana de Vasconcellos, de Minas Gerais]: não teve êxito. O não êxito
dessa nova liderança teve influência de ex-presidente [Valdemar Costa Neto] pra não
eleger essa nova liderança (...) Como base do governo, a gente tem as nossas obrigações.
Mas também a bancada, quando não tá sendo cumprido os acordos e tudo, ela bate o pé e
briga. E aí é quando a bancada dá direção pro líder tomar à frente (...) A gente tem um
problema, porque foi exatamente com a cláusula da fidelidade partidária que a contagem e
distribuição de comissões... Nossa contagem aqui dentro da Câmara, a proporcionalidade,
contava o resultado das urnas. E o nosso resultado foi muito baixo. Foi 23 PL e dois do
Prona. Eram 25. Então nosso resultado foi muito baixo. E isso demanda muito do líder
fazer as negociações pra conseguir encaixar todos os deputados nas comissões, nas suas
preferências e tudo.66
O deputado Luciano conseguiu fazer isso com sucesso muito bom. O
66
Nos termos do art. 26, § 4º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, na redação dada pela
Resolução nº 35/2005, ―o número de vagas de cada representação partidária [nas Comissões] será fixada pelo
resultado final obtido nas eleições e permanecerá inalterado durante toda a legislatura‖. Daí lideranças de
bancadas partidárias como a do PR, com grande número de deputados eleitos por outras legendas, terem
dificuldade de acomodarem esses parlamentares migrantes nas comissões.
106
líder Sandro Mabel também esse ano ele teve um sucesso muito bom, nos cargos na Mesa,
na presidência da Comissão e tudo (...) Também a liberação das emendas, que são um
ponto principal, que é o combustível pra alimentar a satisfação dos deputados (...) Você
quer deixar um governo bem aqui dentro da Câmara é você alimentar esse combustível pro
parlamentar. Se ele tá com isso aí saindo, sendo empenhado, chegando, liberando na
caixa... Tanto que um dos principais trabalhos que é feito dentro da Liderança é isso, é o
acompanhamento semanal pra ver ―Tá liberando? Não tá? Tá empenhando? Não tá?‖
(Entrevista realizada em 9/4/2010).
O deputado Luciano Castro liderou a bancada do PR de 2007 a 2008. Desde de
2009, o deputado Sandro Mabel vem exercendo a liderança da bancada daquele partido.67
O Partido Republicano Brasileiro – PRB foi registrado junto ao TSE em 2005. Até
2006, chamava-se Partido Municipalista Renovador – PMR. Seu membro mais destacado é
o vice-presidente da República, José Alencar.68
A Tabela 14 contém dados sobre a
estrutura do PRB na Câmara dos Deputados na atual legislatura.
Tabela 14: Estrutura do PRB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos
Exercidos
Nº
Mandatos UF
Eleito Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº Mudanças
Partido
ANTONIO
BULHÕES
Superior
incompleto
Teólogo, Pastor Evangélico,
Apresentador de Televisão,
Administrador
1 SP Não PMDB 1
CLEBER
VERDE
Superior
completo
Advogado, Professor, Servidor
Público Vereador (3) 1 MA Não PAN 1
EDUARDO
LOPES Radialista, Diretor de Empresa 1 RJ Não PSB 1
GEORGE
HILTON
Superior
incompleto
Teólogo, Radialista, Apresentador
de Televisão, Animador
Deputado
Estadual (2) 1 MG Não PP 1
LÉO VIVAS Ensino Médio
completo Pastor Evangélico
Vereador,
Deputado
Estadual
1 RJ Não PRB 0
MÁRCIO
MARINHO Pastor Evangélico, Radialista
Deputado
Estadual 1 BA Não PL 1
MARCOS
ANTONIO
Superior
completo Músico, Compositor, Cantor 1 PE Não PSC 3
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Quatro dos sete deputados hoje integrantes da bancada do PRB na Câmara têm
escolaridade de nível superior, completo ou incompleto (57%). Entre as categorias
profissionais, predominam os pastores evangélicos (quatro, 57%) e os comunicadores
67
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
68 Dados obtidos no site do TSE (http://www.tse.gov.br). Acesso em: 19 ago 2009.
107
(quatro, 57%). Quatro já exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos
Deputados, mas apenas no Legislativo (57%). Todos estão no exercício do primeiro
mandato de deputado federal. Os sete deputados do PRB representam apenas as regiões
Nordeste e Sudeste, com o predomínio desta última (57%). Todos foram eleitos pelos
votos de legenda (100%), sendo que seis foram eleitos pelos votos de outros partidos: um
pelo PSB, um pelo PMDB, um pelo PP, um pelo PL (hoje PR), um pelo PSC, um pelo
Partido dos Aposentados da Nação – PAN (hoje incorporado ao PTB). Na verdade, apenas
um foi eleito pelo PRB. Portanto, dos sete deputados do PRB, seis já mudaram de partido
pelo menos uma vez nesta legislatura (85%). O PRB não perdeu deputado para outras
legendas.
Nos moldes do art. 12 do Estatuto do PRB, as bancadas parlamentares são órgãos
do partido. Os líderes das bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
integram a Comissão Executiva Nacional (art. 33). As bancadas constituem suas lideranças
de acordo com as determinações da respectiva comissão executiva (art. 44). Os eleitos pelo
partido são punidos por advertência, suspensão ou expulsão se votarem contra as
determinações legalmente adotadas pela liderança da bancada ou da executiva do partido
(art. 56).
O deputado Léo Vivas foi o representante da bancada de 2007 a 2008. Em 2009, a
representação da bancada passou para as mãos do deputado Cleber Verde. Neste ano, com
a aquisição do direito de funcionamento parlamentar pelo PRB, Cleber Verde foi alçado à
condição de líder da bancada. Ele, Léo Vivas e George Hilton são vice-líderes do bloco
PSB/PCdoB/PMN/PRB.69
O Partido Social Cristão – PSC obteve registro definitivo junto ao TSE em 1990.
Incorporou as ideias e os princípios do extinto Partido Democrático Republicano – PDR.70
A Tabela 15 contém dados sobre a estrutura do PSC na Câmara dos Deputados na atual
legislatura (2007-2011).
69
Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
70 Dados obtidos no site do TSE (http://www.tse.gov.br). Acesso em: 24 ago 2009.
108
Tabela 15: Estrutura do PSC na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
CARLOS
ALBERTO
CANUTO
Superior
completo Médico, Agropecuarista Prefeito (2) 1 AL Não PMDB 1
LAERTE BESSA Superior
completo Delegado de Polícia
Diretor-Geral da Polícia
Civil do DF 1 DF Não PMDB 1
CARLOS
EDUARDO
CADOCA
Superior
completo Advogado
Vereador (3), Secretário
Municipal, Deputado
Estadual, Secretário Estadual
3 PE Não PMDB 1
TAKAYAMA Superior
incompleto
Pastor Evangélico,
Professor, Empresário
Vereador, Deputado
Estadual (2) 2 PR Não PMDB 2
RATINHO
JUNIOR
Superior
completo
Empresário, Diretor de
Empresas, Comunicador Deputado Estadual 1 PR Sim PPS 1
MARCONDES
GADELHA
Superior
completo Médico Senador 6 PB Não PSB 1
MILTON
BARBOSA
Superior
incompleto
Pastor Evangélico,
Contador, Empresário 6 BA Não PSC 0
JURANDY
LOUREIRO
Ensino
Fundamental
incompleto
Empresário de
Transportes
Vereador (3), Deputado
Estadual 1 ES Não PSC 2
MÁRIO DE
OLIVEIRA
Ensino
Fundamental
incompleto
Pastor Evangélico 6 MG Não PSC 0
ZEQUINHA
MARINHO
Superior
completo Bancário, Pedagogo Deputado Estadual (2) 2 PA Não PSC 2
FILIPE
PEREIRA
Superior
completo
Administrador de
Empresas, Empresário Deputado Estadual 1 RJ Não PSC 0
HUGO LEAL Superior
completo Militar, Advogado
Secretário Estadual (2),
Diretor do Detran 1 RJ Não PSC 0
DELEY Superior
completo
Atleta Profissional -
Futebol, Técnico de
Futebol
Secretário Municipal 2 RJ Não PSC 0
EDUARDO
AMORIM
Superior
completo Médico Secretário Estadual 1 SE Não PSC 0
REGIS DE
OLIVEIRA
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário,
Administrador de
Empresas
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal, Juiz de Direito,
Desembargador
2 SP Não PSC 0
SILAS CÂMARA Superior
completo Empresário 3 AM Não PTB 2
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Dos dezesseis deputados que atualmente integram a bancada do PSC na Câmara,
quatorze têm escolaridade de nível superior completo ou incompleto (87%). Entre as
categorias profissionais, destacam-se os empresários (sete, 44%), os pastores evangélicos
(três, 19%), os advogados (três, 19%) e os médicos (três, 19%). Treze já exerceram cargos
públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (81%): seis somente no Legislativo
(46%); um no Legislativo e no Executivo (8%); cinco só no Executivo (38%); e um no
Executivo e no Judiciário (8%). Nove já exerceram o mandato de deputado federal mais de
uma vez (56%). Os dezesseis deputados do PSC representam todas as regiões do país, com
predomínio do Sudeste (38%). Quinze foram eleitos pelos votos de legenda (94%). Apenas
o deputado Ratinho Junior foi eleito pelos votos próprios. Sete foram eleitos por outros
partidos: um pelo PSB, um pelo PPS, quatro pelo PMDB e um pelo PTB. Portanto, dos
dezesseis deputados que atualmente integram a bancada do PSC na Câmara, sete mudaram
109
de partido pelo menos uma vez nesta legislatura (44%). O PSC, por sua vez, perdeu um
deputado para o PRB (11% da bancada das eleições).71
Nos termos do art. 16, III, do Estatuto do PSC, os líderes das bancadas da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal compõem a Comissão Executiva Nacional.
Na avaliação do assessor do PSC entrevistado,
o PSC, ele tem uma vertente muito cristã. São cinco ou seis parlamentares de uma bancada
de dezesseis, até talvez um pouco mais que são pastores, membros de igrejas, evangélicas,
que são engajadas nessa vertente cristã. O vice-presidente do partido é pastor, Pr. Everaldo
[Dias Pereira]. Então essa é uma linha muito definida. A gente observa que isso realmente
tem uma influência significativa, embora alguns parlamentares, como por exemplo o
deputado Regis de Oliveira, que não é cristão – não tenho muita certeza, mas parece até
que ele é espírita –, mas que convive tranquilamente, e que respeita e que, vamos dizer,
acata essa ênfase do partido, dessa visão mais cristã. Então esse é um foco que a gente
observa, tendo em vista... em razão dessa predominância não só de evangélico como até
mesmo de católicos. Por exemplo, o líder, deputado Hugo Leal, ele é católico e tem uma
atuação expressiva, importante até na cúpula da Igreja Católica. Ele tem uma interação
muito boa com a CNBB. E isso é respeitado. Eu não vejo choques dentro do partido por
isso, por alguns deputados, por exemplo, serem católicos ou evangélicos ou até espíritas.
Eles convivem muito bem. Não há qualquer choque em relação a isso.
(...)
O presidente é o Vitor Nósseis, mas quem é o que tá mais à frente, politicamente
falando, é o Pr. Everaldo (...) Ele é o vice-presidente. Já foi inclusive subsecretário do
governo Garotinho (...) Tá toda semana aqui, se reúne com a bancada, conversa com os
deputados (...) O Pr. Everaldo é da Igreja Assembleia de Deus (...) Ele formou o partido, o
PSC. Começou com uma bancada de nove parlamentares e no ano passado ele cresceu
expressivamente por conta da migração de parlamentares de outros partidos pro PSC (...) A
participação do Pr. Everaldo é significativa. Esse poder que ele tem sobre a bancada. Seria
o homem forte do partido.
71
O deputado Costa Ferreira se afastou do exercício do mandato para assumir o cargo de secretário de Estado
do Maranhão. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição, o deputado Bene Camacho, do PTB. Portanto,
além da vaga acima, outra foi perdida para o PTB, mas em caráter precário, reversível.
110
(...)
A escolha geralmente é feita, pelo que a gente fica sabendo, a gente não
acompanha, mas é entre a direção do partido mesmo. A direção do partido é que acaba
definindo quem vai ser o líder. Tanto é que ano passado, por exemplo, quase que ele [Hugo
Leal] deixou de ser líder. Ia entrar um outro parlamentar. E na última hora, coisa que até
surpreendeu o outro deputado... Mas na realidade quem acaba, vamos dizer assim,
determinando é o próprio partido. Seria o Pr. Everaldo e talvez outro (Entrevista realizada
em 9/4/2010).
O deputado Hugo Leal tem exercido a liderança do PSC na Câmara desde 2007.72
O Partido Trabalhista Brasileiro – PTB foi criado em 1945 sob a inspiração de
Getúlio Vargas. Sua base eleitoral era o operariado urbano, com forte ligação com os
sindicatos. O PTB era eleitoralmente forte quando coligado com o PSD, outro partido
formado por simpatizantes de Vargas, mas sustentado principalmente pelas classes médias
e pelo empresariado, portanto mais conservador. Em 1965, o AI-2 extinguiu o PTB
juntamente com outros doze partidos então existentes. No ano seguinte, o Ato
Complementar nº 4 determinou ao Congresso Nacional a criação de organizações com
atribuições de partidos políticos, o que deu origem à Arena e ao MDB. A maioria dos
petebistas que não foram cassados ou exilados ingressou no MDB. Em 1979, de volta do
exílio, Leonel Brizola tentou reorganizar o partido. Foi, porém, surpreendido pela ação
concorrente de Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas, que também reivindicava
para si o controle do partido. Após disputas judiciais, o TSE deu ganho de causa ao grupo
liderado por Ivete. O PTB foi registrado em 1980. Em 2003, incorporou o PSD e, em 2007,
o PAN. Na prática, o atual PTB tem cooperado com os sucessivos governos, desde João
Baptista Figueiredo, passando por Sarney, Collor, Franco e FHC, até chegar a Lula.
Recentemente, aceitou a filiação do ex-presidente Collor, eleito senador de Alagoas pelo
minúsculo Partido Renovado Trabalhista Brasileiro – PRTB. Voltou a ser presidido pelo
ex-deputado federal Roberto Jefferson, cassado pela Câmara dos Deputados após
denunciar o Mensalão.73
De acordo com o assessor do PTB entrevistado,
72
Dado obtido junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
73 Dados obtidos no site do TSE (http://www.tse.gov.br). Acesso em: 24 ago 2009.
111
essa criação do PTB na época, essa rusga jurídica que houve entre Leonel Brizola e a Ivete
Vargas na época, isso claro que foi uma jogada da ditadura, mais precisamente do general
Golbery, que queria um partido... Apesar de já ter dissolvido os dois partidos, o
partidarismo, cria logo mais um partido de apoio no Congresso. Haja vista uma declaração
do deputado Gastone Righi na época, que o PTB era um partido de governo, sempre ia tá
do lado do governo, podia ser quem fosse. É o que a gente vê hoje (Entrevista realizada em
14/4/2010).
A Tabela 16 contém dados sobre a estrutura do PTB na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
Tabela 16: Estrutura do PTB na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos
Exercidos
Nº
Mandatos UF
Eleito Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº Mudanças
Partido
ALEX CANZIANI Superior
completo Registrador de Imóveis
Vereador (2), Prefeito (2),
Secretário Estadual 3 PR Não PTB 0
ANTONIO CARLOS
CHAMARIZ Empresário 1 AL Não PTB 0
ARMANDO ABÍLIO Superior
completo Médico
Vice-Prefeito, Deputado
Estadual, Secretário
Estadual
4 PB Não PSDB 1
ARMANDO
MONTEIRO
Superior
completo
Advogado, Administrador
de Empresas, Empresário 3 PE Sim PTB 0
ARNALDO FARIA
DE SÁ
Superior
completo
Advogado, Contabilista,
Professor, Radialista Secretário Municipal (2) 6 SP Não PTB 0
ARNON BEZERRA Superior
completo Médico
Secretário Municipal,
Deputado Estadual 4 CE Não PTB 0
AUGUSTO FARIAS
Secretário Estadual,
Presidente da COHAB-AL 4 AL Não PTB 0
BENE CAMACHO
1 MA Não PTB 0
CHARLES LUCENA Superior
completo
Médico, Empresário,
Educador
Vereador (4), Secretário
Municipal (4) 2 PE Não PTB 0
ELIZEU AGUIAR
Vereador (2) 1 PI Não PTB 0
ERNANDES
AMORIM
Superior
completo Pecuarista
Prefeito (2), Deputado
Estadual (2), Senador 1 RO Não PTB 0
JOSÉ CHAVES Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário
Deputado Estadual,
Secretário Municipal 4 PE Não PTB 0
JOVAIR ARANTES Superior
completo Cirurgião-Dentista
Vereador, Vice-Prefeito,
Secretário Municipal
Deputado Estadual
4 GO Não PTB 0
LUIZ CARLOS
BUSATO
Superior
completo
Arquiteto, Professor
Universitário, Corretor de
Imóveis
Vereador, Secretário
Municipal (3) 1 RS Não PTB 0
NELSON
MARQUEZELLI
Superior
completo Empresário Vereador 5 SP Não PTB 0
PAES LANDIM Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Prefeito, Deputado
Estadual 6 PI Não PTB 0
PAULO ROBERTO
PEREIRA
Superior
completo
Teólogo, Comunicador de
Rádio, Apresentador de
Televisão
1 RS Não PTB 0
PEDRO
FERNANDES
Superior
completo Engenheiro Civil, Bancário
Vereador, Presidente de
Cia Municipal, Secretário
Municipal (2)
3 MA Não PTB 0
ROBERTO ALVES
Metalúrgico Deputado Estadual 1 SP Não PTB 0
SABINO CASTELO
BRANCO
Ensino Médio
completo
Empresário, Apresentador
de Televisão 1 AM Não PFL 1
SÉRGIO MORAES Ensino Médio
incompleto Comerciante
Vereador (2), Prefeito (2),
Deputado Estadual (2) 1 RS Não PTB 0
SILVIO COSTA
1 PE Não PMN 1
TATICO Ensino Médio
completo Comerciante
Vereador, Deputado
Estadual 2 GO Não PTB 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
112
Quatorze dos 23 deputados hoje integrantes da bancada do PTB na Câmara têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (61%). Entre as categorias
profissionais, predominam os empresários (nove, 39%), os professores (quatro, 17%), os
médicos (quatro, 17%), os comunicadores (três, 13%) e os advogados (três, 13%).
Dezessete já exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (74%):
quatro somente no Legislativo (23%); onze no Legislativo e no Executivo (65%); e dois só
no Executivo (12%). Treze já exerceram o mandato de deputado federal mais de uma vez
(56%). Os 23 deputados do PTB representam todas as regiões do país, com predomínio do
Nordeste (52%). 22 foram eleitos pelos votos de legenda (96%), somente o deputado
Armando Monteiro tendo sido eleito pelos votos próprios. Três foram eleitos por outros
partidos: um pelo PMN, um pelo PSDB e um pelo PFL/DEM. Portanto, dos 23 deputados
que hoje integram a bancada do PTB na Câmara, três mudaram de partido pelo menos uma
vez nesta legislatura (13%). O PTB não perdeu deputado para outra legenda.
Na forma do art. 49 do Estatuto do PTB, os membros das bancadas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal são membros natos do Diretório Nacional. Os respectivos
líderes são membros natos da Comissão Executiva Nacional (art. 62). As bancadas
parlamentares constituem suas lideranças de acordo com as normas regimentais das casas
legislativas a que pertençam (art. 72). Dependem de deliberação conjunta da bancada com
a comissão executiva as decisões que envolvam diretrizes políticas e partidárias no âmbito
da bancada, orientação do voto em relação a questões consideradas relevantes e
fechamento de questão (art. 74).
Essa relativa autonomia da bancada em relação à direção nacional do partido,
prevista no Estatuto, é verificada na prática, segundo o assessor do PTB entrevistado:
O presidente [Roberto Jefferson], até que ele não influencia, não tem muita
influência dentro da bancada (...) Ele não interfere muito no funcionamento da bancada no
Congresso. Não interfere, não. Deixa mais por conta dos parlamentares (...) O Jovair
Arantes, o Arnaldo Faria de Sá, que defende muito os aposentados. O [Nelson] Marquezelli
defende muito os industriais. O Armando Monteiro também, os industriais pesados, a
classe empresarial. O [Luiz Carlos] Busato também é um camarada bastante influente. Ele
defende os produtores rurais do Rio Grande do Sul.
(...)
113
Depois que ele [Jovair Arantes] veio pro PTB, quando ele chegou mais à vontade
na bancada e com uma certa influência dentro do partido, eles acharam por bem colocá-lo
como líder após a saída do – ele já era vice-líder –, após a saída do ministro do TCU José
Múcio Monteiro. Aí efetivaram ele como líder (...) Como lá dentro do PTB tem diversas
correntes, digo assim as correntes de defesa, os diversos interesses, eu acho que ali ele
chega numa síntese, ele sintetiza aquilo tudo, aquelas correntes todas que tem ali dentro
(Entrevista realizada em 14/4/2010).
O deputado Jovair Arantes tem exercido a liderança da bancada do PTB na Câmara
desde 2007.74
O Partido Trabalhista Cristão – PTC foi fundado em 1985 com o nome de Partido
da Juventude – PJ, havendo participado com essa denominação das eleições de 1985, 1986
e 1988. Neste último ano, lançou Arnaldo Faria de Sá como candidato a vice-prefeito de
São Paulo na chapa de Paulo Maluf, pleito vencido por Luíza Erundina. No início de 1989,
foi renomeado como Partido da Reconstrução Nacional – PRN, ano em que lançou
Fernando Collor de Mello como candidato a presidente da República e Itamar Franco a
vice, graças às articulações de Arnaldo Faria de Sá. A chapa sagrou-se vitoriosa, mas em
1992 Collor sofreu impeachment. Franco presidiu o país até 1994. Em 2000, o partido
mudou outra vez de nome, daquela feita para Partido Trabalhista Cristão – PTC. Apesar da
nova denominação, o partido sempre defendeu o liberalismo, a economia de mercado e o
livre comércio. O PTC lançou, sem sucesso, a candidatura do cineasta José Mojica Marins,
o ―Zé do Caixão‖, a vereador de São Paulo. O falecido estilista e apresentador de TV
Clodovil Hernandez foi eleito deputado federal pela legenda.75
A Tabela 17 contém dados sobre a estrutura do PTC na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
74
Dado obtido junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
75 Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do PTC (http://www.ptcnacional.com.br). Acesso em: 25 ago
2009.
114
Tabela 17: Estrutura do PTC na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito Voto
Próprio
Partido na
Eleição
Nº Mudanças
Partido
ANTONIO
FEIJÃO
Superior
completo Geólogo, Professor
Presidente de Instituto
Estadual (2), Secretário
Estadual
3 AP Não PSDB 1
CARLOS
WILLIAN
Superior
completo Advogado Vereador 2 MG Não PTC 0
PAES DE
LIRA
Superior
completo Militar
Comandante da Polícia Militar
(5) 1 SP Não PTC 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
Os três deputados que atualmente integram a bancada do PTC na Câmara têm
escolaridade de nível superior (100%). Não há categoria profissional predominante. Todos
já exerceram cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (100%): um
somente no Legislativo (33%) e dois só no Executivo (67%). Dois já exerceram o mandato
de deputado federal mais de uma vez (67%). Os três deputados do PTC representam
apenas as regiões Norte e Sudeste, com o predomínio da última (67%). Todos foram eleitos
pelos votos de legenda (100%), havendo um sido eleito pelo PSDB. Portanto, dos três
deputados do PTC, um mudou de partido pelo menos uma vez nesta legislatura (33%). O
PTC, por sua vez, perdeu uma deputada para o PT (33% da bancada das eleições).
Nos moldes do art. 10 do Estatuto do PTC, as bancadas parlamentares são órgãos
do partido. Os líderes das bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
integram a Comissão Executiva Nacional (art. 32). Por iniciativa própria ou por meio de
proposta do líder da bancada ou de um terço de seus membros, o diretório pode fechar
questão sobre determinada proposição em exame no Legislativo, mediante manifestação da
maioria, sujeitando-se às sanções previstas no estatuto o parlamentar que descumprir a
diretriz assim estabelecida. O líder é eleito pela bancada, mediante voto aberto e maioria
simples (art. 71).76
O deputado Carlos Willian tem representado a da bancada do PTC desde 2007 e
nenhum integrante do partido sequer figura como vice-líder do bloco PMDB/PTC.77
O Democratas – DEM teve sua origem no PDS, sucessor da Arena. A escolha de
Paulo Maluf como candidatado do PDS a presidente da República em 1985 resultou na
76
A maioria absoluta é, no entanto, exigida pelo Regimento Interno da Câmara dos Deputados (art. 9º, § 2º).
77 Dados obtidos junto à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados em 6/4/2010.
115
divisão do partido e na formação da Frente Liberal. A Frente Liberal lançou José Sarney
como candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Tancredo Neves, do PMDB.
Dias depois da vitória da chapa Tancredo Neves/José Sarney em 1985, surgia o Partido da
Frente Liberal – PFL. Em 1986, o PFL elegeu 118 deputados federais e 231 deputados
estaduais. Em 1988, elegeu 1.058 prefeitos. Em 1989, o PFL lançou Aureliano Chaves
como candidato a presidência da República. A tibieza da campanha de Chaves levou
muitos pefelistas a apoiarem a candidatura de Fernando Collor, do PRN. No segundo
turno, o PFL aliou-se a Collor contra Lula. Participou do governo Collor e, após o
impeachment deste, do governo Itamar Franco. Em 1994 e em 1998, o PFL apoiou FHC,
garantindo, assim, o cargo de vice-presidente a Marco Maciel. Próximo às eleições de
2002, uma operação da Polícia Federal prejudicou a pré-candidatura de Roseane Sarney a
presidente da República e fez o PFL romper com o governo do PSDB. Em 2006,
novamente coligado aos tucanos, lançou José Jorge como candidato a vice-presidente na
chapa de Geraldo Alckmin. Nesse mesmo ano, o PFL assistiu à posse de Cláudio Lembo
como governador de São Paulo diante da renúncia de Alckmin para disputar a presidência
da República e de Gilberto Kassab como prefeito da capital paulista em face da renúncia
de José Serra para concorrer ao governo do Estado de São Paulo. Entretanto, elegeu apenas
65 deputados federais, um governador e 118 deputados estaduais. Em 2007, em vista dos
péssimos resultados das eleições do ano anterior, resolveu mudar o nome para Democratas
– DEM. A mudança, porém, não se limitou à denominação. A escolha do jovem deputado
fluminense Rodrigo Maia para a presidência do partido marcou a transição do núcleo da
legenda do Nordeste para o Sudeste, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo.78
A Tabela 18 contém dados sobre a estrutura do DEM na Câmara dos Deputados na
atual legislatura.
78
Dados obtidos nos sites do TSE (http://www.tse.gov.br), de Jairo Nicolau
(http://jaironicolau.iuperj.br/index.html) e do DEM (http://www.democratas.org.br/default.asp). Acesso em:
27 ago 2009.
116
Tabela 18: Estrutura do DEM na Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
ABELARDO
LUPION
Superior
incompleto
Empresário,
Agropecuarista 5 PR Não PFL 0
ALBERTO FRAGA Superior
completo Militar
Comandante da Polícia Militar
(7), Secretário Estadual (2) 3 DF Não PFL 0
ALCENI GUERRA Superior
completo Médico
Prefeito, Secretário Municipal,
Secretário Estadual (2),
Ministro da Saúde
3 PR Não PFL 0
ANDRÉ DE PAULA Superior
completo Advogado
Vereador, Deputado Estadual
(2), Secretário Estadual 3 PE Não PFL 0
ANTONIO
CARLOS
MAGALHÃES
NETO
Superior
completo Advogado 2 BA Sim PFL 0
AROLDE DE
OLIVEIRA
Superior
completo
Militar, Engenheiro,
Economista, Professor
Universitário
Secretário Municipal,
Secretário de
Telecomunicações do
Ministério das Comunicações
7 RJ Não PFL 0
BETINHO
ROSADO
Superior
Completo
Engenheiro Agrônomo,
Economista, Professor
Universitário
Secretário Estadual (3) 4 RN Não PFL 0
BISPO GÊ
TENUTA
Pastor Evangélico,
Comunicador de Rádio e
Televisão, Empresário
Têxtil
Deputado Estadual 1 SP Não PFL 0
CARLOS MELLES Superior
completo
Engenheiro Agrônomo,
Empresário Ministro do Esporte e Turismo 4 MG Não PFL 0
CLAUDIO
CAJADO
Superior
completo Advogado Vereador, Prefeito 4 BA Não PFL 0
CLÓVIS FECURY Superior
completo Engenheiro Civil 2 MA Não PFL 0
EDUARDO
SCIARRA
Superior
completo Engenheiro 2 PR Não PFL 0
EFRAIM FILHO Superior
completo Advogado 1 PB Não PFL 0
ELEUSES PAIVA
Médico, Professor
Universitário 1 SP Não PFL 0
FÁBIO SOUTO Superior
completo Economista Deputado Estadual 2 BA Sim PFL 0
FELIPE MAIA Superior
completo Advogado, Empresário 1 RN Não PFL 0
FÉLIX
MENDONÇA
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Construtor Prefeito, Deputado Estadual 6 BA Não PFL 0
FERNANDO DE
FABINHO
Superior
completo
Administrador de
Empresas, Radialista,
Comerciante
Prefeito, Deputado Estadual 2 BA Não PFL 0
FRANCISCO
RODRIGUES
Superior
completo Engenheiro Agrônomo Vereador, Secretário Estadual 5 RR Não PFL 0
GERMANO
BONOW
Superior
completo Médico
Deputado Estadual (4),
Secretário Estadual 1 RS Não PFL 0
GUILHERME
CAMPOS
Superior
completo Empresário, Comerciante
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal 1 SP Não PFL 0
INDIO DA COSTA Superior
completo Advogado, Empresário
Vereador (3), Secretário
Municipal 1 RJ Não PFL 0
JAIRO ATAIDE Superior
completo
Cirurgião-Dentista,
Empresário Rural Prefeito (2), Deputado Estadual 1 MG Não PFL 0
JERÔNIMO REIS Ensino Médio
completo Empresário, Comerciante
Vice-Prefeito, Secretário
Municipal (2), Prefeito (2),
Deputado Estadual
3 SE Não PFL 0
JOÃO BITTAR Superior
incompleto Empresário
Vereador (3), Deputado
Estadual 1 MG Não PFL 0
JOÃO OLIVEIRA Superior
completo
Administrador de
Empresas Prefeito, Deputado Estadual (3) 1 TO Não PFL 0
JORGE KHOURY Superior
completo
Engenheiro Civil,
Professor Universitário
Prefeito, Secretário Estadual
(2) 5 BA Não PFL 0
JORGINHO
MALULY
Superior
completo
Engenheiro, Empresário,
Agropecuarista Vereador, Prefeito (2) 1 SP Não PFL 0
JOSÉ CARLOS
ALELUIA
Superior
completo
Engenheiro Elétrico,
Professor Universitário Presidente da CHESF 5 BA Não PFL 0
JOSÉ CARLOS
MACHADO
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário, Pecuarista
Secretário Municipal,
Deputado Estadual (3), Vice-
Governador, Secretário
Estadual (2)
2 SE Não PFL 0
JOSÉ MAIA
FILHO Prefeito (2) 1 PI Não PFL 0
JOSÉ MENDONÇA
BEZERRA
Superior
completo
Advogado, Empresário,
Avicultor, Pecuarista Deputado Estadual (3) 8 PE Não PFL 0
JÚLIO CESAR Superior
completo
Advogado, Professor,
Produtor Rural
Secretário Municipal, Prefeito
(2), Secretário Estadual (2) 3 PI Não PFL 0
LAEL VARELLA Ensino Médio
completo Empresário 6 MG Não PFL 0
LIRA MAIA Superior
completo Engenheiro Agrônomo
Secretário Municipal, Prefeito
(2), Deputado Estadual,
Secretário Estadual
1 PA Não PFL 0
117
Deputado Escolaridade Profissão Cargos Públicos Exercidos Nº
Mandatos UF
Eleito
Voto
Próprio
Partido
na
Eleição
Nº
Mudanças
Partido
LUIZ CARLOS
SETIM
Superior
completo
Advogado Administrador
de Empresas,
Agropecuarista.
Prefeito (2) 1 PR Não PFL 0
LUIZ CARREIRA Superior
completo Administrador Secretário Estadual 2 BA Não PFL 0
MAJOR FÁBIO
Militar 1 PB Não PFL 0
MARCIO
JUNQUEIRA
Ensino Médio
completo Radialista 1 RR Não PFL 0
MARCOS
MONTES
Superior
completo
Médico, Professor
Universitário
Secretário Municipal, Prefeito
(2), Secretário Estadual 1 MG Não PFL 0
MENDONÇA
PRADO
Superior
completo Advogado
Vereador (3), Secretário
Estadual 2 SE Não PFL 0
MILTON VIEIRA
Deputado Estadual (2) 1 SP Não PFL 0
NICE LOBÃO Ensino Médio
completo Servidora Pública Secretária Estadual 3 MA Não PFL 0
ONYX
LORENZONI
Superior
completo Veterinário, Empresário Deputado Estadual (2) 2 RS Não PFL 0
OSÓRIO
ADRIANO
Superior
completo
Engenheiro Civil,
Empresário 5 DF Não PFL 0
PAULO
BORNHAUSEN
Superior
completo Advogado Deputado Estadual 2 SC Não PFL 0
PAULO
MAGALHÃES
Superior
completo
Administrador de
Empresas Deputado Estadual (2) 3 BA Não PFL 0
ROBERTO
MAGALHÃES
Superior
completo
Advogado, Professor
Universitário
Prefeito, Vice-Governador,
Secretário Estadual,
Governador
4 PE Não PFL 0
RODRIGO MAIA Superior
incompleto Analista Financeiro Secretário Municipal 3 RJ Sim PFL 0
ROGERIO LISBOA Superior
completo Advogado
Vereador (3), Secretário
Municipal 1 RJ Não PFL 0
RONALDO
CAIADO
Superior
completo
Médico, Professor
Universitário, Produtor
Rural
4 GO Não PFL 0
SOLANGE
AMARAL
Superior
completo Psicóloga
Secretário Municipal,
Deputada Estadual, Secretária
Estadual
1 RJ Não PFL 0
VIC PIRES
FRANCO
Superior
completo
Jornalista, Apresentador
de Telejornal Vereador 4 PA Não PFL 0
VITOR PENIDO Superior
completo
Empresário Rural,
Avicultor, Pecuarista,
Comerciante
Prefeito (4), Secretário
Estadual adjunto 1 MG Não PFL 0
WALTER IHOSHI Superior
completo Administrador Público 1 SP Não PFL 0
Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Atualizado até 23/10/2009.
46 dos 55 deputados hoje integrantes da bancada do DEM na Câmara têm
escolaridade de nível superior completo ou incompleto (84%). Entre as categorias
profissionais, destacam-se os empresários (21, 38%, dos quais nove estão relacionados à
agropecuária), os advogados (treze, 24%), os engenheiros (doze, 22%), os professores
(nove, 16%), os médicos (sete, 13%) e os administradores (seis, 11%). 42 já exerceram
cargos públicos importantes fora da Câmara dos Deputados (76%): nove somente no
Legislativo (21%); dezesseis no Legislativo e no Executivo (38%); e dezessete só no
Executivo (41%). 33 já exerceram o mandato de deputado federal mais de uma vez (60%).
Os 55 deputados do DEM representam todas as regiões do país, com predomínio do
Nordeste (42%). 52 foram eleitos pelos votos da legenda (95%). Os deputados Antonio
Carlos Magalhães Neto, Fábio Souto e Rodrigo Maia foram eleitos pelos votos próprios.
Nenhum mudou de partido nesta legislatura. Somente nesta legislatura, o DEM perdeu
quatorze deputados para outras legendas (21% da bancada das eleições): um para o PSB,
118
um para o PMDB, um para o PSDB, dois para o PP, seis para o PR, um para o PRB e dois
para o PTB.79
Nos termos dos arts. 50 e 57 do Estatuto do DEM, os líderes da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal integram o Diretório Nacional. As bancadas constituem
suas lideranças de acordo com as normas regimentais das casas legislativas a que
pertençam. Devem obedecer aos princípios doutrinários e programáticos do partido, às
normas estatutárias e às diretrizes baixadas pela comissão executiva. Podem fechar questão
e estabelecer diretrizes a serem seguidas por seus membros (art. 78).
Consoante o assessor do DEM entrevistado,
o partido tem um presidente e tem dezenas de vice-presidentes distribuídos em várias áreas.
Mais ou menos tenta atender a todos os parlamentares, nas áreas fortes dos parlamentares.
O partido faz uma reunião por semana. Reunião partidária. Geralmente quinta-feira de
manhã, onde discute os assuntos nacionais mais importantes, em relação a fechamento de
questão (...) Tem fechamento de questão. São momentos raros. Mas teve o caso da CPMF,
por exemplo. O partido fechou questão. Todo o partido tinha que votar contra a
prorrogação do imposto. Ao parlamentar que descumprisse o fechamento da questão,
caberia penalidade, inclusive de expulsão. Isso é o partido. Vamos pra Liderança (...) Na
Liderança, cê tem o líder (...) É inacreditável o respeito à hierarquia. O deputado Paulo
Bornhausen, que é o atual líder, ele é novo, jovem. Já teve em outros mandatos, mas não
teve no último. Foi candidato ao Senado e perdeu. Então tá aqui agora. E você pega
parlamentares que estão aqui há seis legislaturas e é interessante como abaixa a cabeça:
―Sim, senhor líder‖. A hierarquia é fundamental (...) Os deputados não querem determinada
comissão. A gente fala: ―Deputado, tem que ir. É missão partidária. O líder mandou‖.
Então vai e é ―Sim, senhor‖ (...) Uma coisa bem militar mesmo. Então, na Liderança cê tem
79
O Deputado Gerônimo da Adefal faleceu. Ocupa sua vaga, em caráter de sucessão, o deputado Augusto
Farias, do PTB. O deputado Cassio Taniguchi se afastou do exercício do mandato para ocupar o cargo de
secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do DF. Ocupa sua vaga, em caráter de substituição,
o deputado Airton Roveda, hoje no PR. O deputado Davi Alcolumbre se afastou do exercício do mandato
para assumir o cargo de secretário de Obras e Serviços Públicos de Macapá-AM. Ocupa sua vaga, em caráter
de substituição, o deputado Antonio Feijão, hoje no PTC. Portanto, além das vagas acima, outras três foram
perdidas: uma para o PTB, em caráter definitivo; uma para o PR e uma para o PTC, em caráter precário e
reversível.
119
o líder. Cê tem os vice-líderes (...) Atualmente temos quatorze vice-líderes. A gente tenta
distribuí-los por assunto, distribuí-lo por comissões e também por interesse de atuar em
Plenário. Porque o líder não pode estar todo lugar ao mesmo tempo. O partido precisa de
vice-líderes atuantes, pra poder representar melhor a Liderança e o partido. O líder é a voz
do partido dentro da Câmara, no caso. Estrutura, então, partido/liderança é líderes e vice-
líderes. Fora isso você tem os presidentes de comissão... (...) Hoje a bancada dos
democratas tem 56. Então a gente tenta arrumar 56 bons lugares pra atender esses
parlamentares (...) Temos um mapa de distribuição, de maneira que ninguém é
superatendido e outro subatendido.
(...)
Mesmo a gente tentando a atender todos os parlamentares, eles têm... são pessoas
diferentes e natural que um ou outro se destaque mais, que teve mais sorte e principalmente
competência, né? O caso do ACM Neto na CCJ[C] e na CPI dos Correios. É o caso do
Rodrigo Maia, que fez uma excelente liderança, mesmo não sendo um bom parlamentar de
Plenário – ele é de bastidor –, conseguiu ser o presidente do partido (...) Além do trabalho
interno aqui da Câmara (...) vai depender da votação que ele teve (...) Às vezes até
hereditariedade, né? (...) Vários filhos de político. O próprio Rodrigo Maia, filho do César
Maia. O ACM Neto. O Fábio Souto, filho do ex-governador Paulo Souto. O Paulo
Bornhausen, filho do Jorge Bornhausen. O Filipe Maia, filho do Zé [José] Agripino Maia.
Tem mais do que eu imaginava. O Efraim Filho, filho do senador Efraim [Morais] (...) A
atuação na Câmara também. Não adianta a pessoa ser de uma família boa, ter dinheiro, e
aqui não se projetar.
(...)
Deixa eu voltar pra legislatura passada (...) O primeiro líder foi o [José Carlos]
Aleluia, que foi líder dois anos. Depois veio o Rodrigo Maia, que foi líder dois anos
também. O Estatuto do partido diz que o líder pode ser líder por um ano, prorrogado por
mais um. Isso no Estatuto, mas nem sempre funciona (...) Nesta legislatura falamos:
―Vamos dar mais rotatividade, mais oportunidade‖. Mesmo sabendo que pode ser
prorrogado por um, foi feito um por ano, um pra cada sessão legislativa (...) Como é que
foi escolhido o primeiro líder desta legislatura? Tanto o ACM Neto como o Onyx
Lorenzoni trabalharam... Não eram grupos antagônicos, mas eram dois jovens. Quando cê
tem um parlamentar novo e um mais velho, eles estão muito bem, porque eles não vão
competir entre si. Quando você pega dois jovens – e o Onyx tem cinquenta e poucos anos,
120
mas tem a cabeça ultrajovem. Ele é um cara jovem, mais jovem do que o ACM Neto, que
tem trinta e poucos. Então eles competiram entre si e ambos arrumaram mais ou menos o
mesmo número de votos. Pro partido não sair rachado, o Rodrigo Maia soube conduzir isso
aí muito bem, soube ouvir todos os deputados. Fez uma consulta a todos: ―Quem você
votaria?‖ E fechou o seguinte acordo: o Onyx Lorenzoni vai ser o primeiro líder; o ACM
Neto vai ser o primeiro vice-líder – que não tem força nenhuma pelo Regimento; é só coisa
de status. No ano seguinte, o ACM Neto assumiria a liderança (...) Tinha uma situação
também em relação ao ACM Neto, que é um parlamentar novo. Podia representar coisa do
velho. Tem aquela carga toda do senador Antônio Carlos Magalhães. Então tinha um grupo
mais ao sul que não queria que fosse o ACM Neto. Então fechou esse acordo que seria o
ACM Neto mesmo e no outro ano o Ronaldo Caiado. E aí a coisa da hierarquia: o Caiado é
um superparlamentar, já foi candidato a presidente da República em 89. Tem um passado
enorme (...) ―ACM, que que eu faço em tal lugar?‖ ACM diz: ―Faz isso, faz isso, faz isso,
faz isso‖. ―Sim, senhor‖ (...) E o Caiado... Fechou-se que seria o Paulo Bornhausen (...)
Quase não foi o Paulo Bornhausen o líder neste ano. O deputado [Abelardo] Lupion, até os
44 do segundo tempo, ia disputar com ele.
(...)
No caso do DEM , o partido não vai ter nenhum dono, não. Tanto que o presidente
do partido apoiava o Lupion, que perderia pro Paulo Bornhausen (...) Sempre nas decisões
polêmicas – sempre não, mas na maior parte das vezes –, o líder ouve a bancada nas
reuniões de bancada de terça-feira. Toda terça-feira, às 11h30 (...) num plenário de
comissão, geralmente o Plenário IV, a bancada se reúne com o líder pra tratar de matérias
importantes, atualizar todo mundo e tratar das matérias que devem ser votadas na semana
(...) Geralmente, nos temas polêmicos, ele sempre consulta. E é prudente ele consultar, até
pra ele não ser desautorizado e derrubarem ele, pra metade mais um, a maioria absoluta da
bancada não se juntar e indicar outro líder (...) Agora isso é quando é coisa que dê pra
discutir. Porque quando é coisa que já tá enraizada no partido, algum aumento de imposto,
aí não tem nem discussão (...) Quando é matéria pesada, como a CPMF, o partido lá em
cima pode fechar questão. Aí só comunica à Liderança (...) A gente comunica os
deputados, que tendem a seguir a orientação fechada. Agora é comum deputados procurem
o líder e falarem: ―Líder, eu respeito muito o senhor, mas no assunto tal eu vou votar
diferente, porque é sobrevivência partidária‖. Tranquilo, desde que não seja nada dentro do
fechamento de questão (Entrevista realizada em 14/4/2010).
121
O deputado Ronaldo Caiado também se referiu ao rodízio de líderes. Além disso,
falou da visibilidade que o parlamentar ganha ao assumir a liderança da bancada:
Anteriormente era PFL e atualmente Democratas. O que existia anteriormente?
Existia um sentimento de que o líder poderia permanecer por vários anos à frente da
liderança, o que, sem dúvida alguma, causava um constrangimento enorme, porque o líder,
no exercício da sua função, ele tinha uma capacidade de poder aglutinar também apoios
pra que continuasse e aí não produzisse aquilo que é mais salutar, que é a oxigenação do
partido, no sentido de dar oportunidade a outras lideranças que existem, poderem também
ter o seu espaço no Plenário, discutir com o partido, ao mesmo tempo se posicionar dentro
de cada um, tendo o seu estilo, a sua metodologia. Lógico que tudo isso respeitando a
doutrina e o programa partidário. Mas cada um tem a sua maneira de agir, de articular, de
poder priorizar temas. Então isso é que trouxe um outro sentimento na bancada. A bancada
se sentiu então, a partir daí, com o compromisso nosso de que nenhum líder mais repetiria
o mandato. Se o período de liderança encerraria ao final de um ano, isso causou um
movimento interessante dentro do partido. Várias pessoas começaram a ver essa
possibilidade pelos seus méritos e não pelo tamanho da sua bancada. Anteriormente, era
muito comum dizer: ―O líder vai ser o representante do estado que tem o maior número de
deputado‖. Normalmente, ele se mantinha internamente ou quando ele acoplava essas
bancadas em torno dele. Hoje não. Eu, por exemplo, do Estado de Goiás, sou o único
deputado federal do meu estado e, no entanto, fui um líder que sequer cheguei a disputar
liderança com outros: foi por unanimidade. Consegui isso, lógico, depois de quinze anos
como deputado federal. Mas inicialmente eu me insurgir contra aquilo que existia. Desde
que eu entrei no PFL, eu resistia muito essa tese de não ter essa alternância na liderança. As
pessoas ficam, sem dúvidas, acomodadas, ficam com vários cacoetes. Sem dúvida
nenhuma, começam a enxergar muito mais os seus interesse estaduais, os seus problemas
pessoas e não dá um atendimento, uma abrangência maior do partido em torno do contexto
dos deputados federais. Então a liderança, ela sendo alternada, ela podendo ser substituída
a cada final de ano, ela exige de você mais empenho. Você ao mesmo tempo quer
demonstrar que você atendeu os seus colegas. Você se empenha para que as matérias sejam
discutidas com conteúdo no Plenário. Lógico, você vai buscar mais espaço na mídia.
Enfim, todas as ações, elas deverão ou poderão acontecer no sentido de valorizar o seu
trabalho e com isso você também tem a oportunidade de ter um outro espaço que lhe é
concedido junto à mídia, porque você é a pessoa consultada no momento daquelas
votações, nos grandes temas nacionais. Então você tem aí dois momentos: o momento do
122
Congresso, o momento das bancadas; e você tem um grande momento, que é uma
verdadeira alavancada, um upgrade, pra que você possa discutir os temas nacionais e se
posicionar naquilo que é importante pro partido. Então a liderança é uma ferramenta
extremamente importante. Eu diria a você que eu sempre trabalhei pra um dia poder chegar
à liderança. Eu exerci a liderança no seu total período, tempo integral, avançando até altas
horas da noite, trabalhando diuturnamente (Entrevista realizada em 5/5/2010).
A Tabela 19 resume os dados até agora produzidos sobre as estruturas partidárias
existentes no interior da Câmara dos Deputados.
Tabela 19: Resumo comparativo das estruturas partidárias – Câmara dos Deputados – 53ª Legislatura
PCdoB PDT PSB PT PV PPS PSOL PMDB PMN PSDB PP PR PRB PSC PTB PTC DEM
Deputa
dos 12 23 27 77 15 14 3 89 3 57 40 44 7 16 23 3 55
Escolar
idade
Superio
r
92% 83% 93% 83% 80% 93% 100% 84% 67% 96% 87% 84% 57% 87% 61% 100% 84%
Catego
rias
Profissi
onais
Predo
minant
es
Profess
ores e
Servido
res
Público
s (27%)
Advoga
dos
(30%),
Médico
s (22%)
Advoga
dos
(44%),
Profess
ores
(22%)
Profess
ores
(32%)
Advoga
dos e
Profess
ores
(20%)
Advoga
dos e
Engenh
eiros
(28%)
Profess
ores
(67%)
Advoga
dos
(28%),
Profess
ores
(27%),
Empres
ários
(25%)
-
Advoga
do
(28%),
Profess
ores e
Empres
ários
(21%)
Empres
ários
(45%),
Advoga
dos
(30%),
Engenh
eiros
(25%),
Profess
ores
(22%)
Empres
ários
(41%)
Pastores
Evangél
icos e
Comuni
cadores
(57%)
Empres
ários
(44%)
Empres
ários
(39%)
-
Empres
ários
(38%),
Advoga
dos
(24%),
Engenh
eiros
(22%)
Cargos
Público
s fora
da
Câmar
a dos
Deputa
dos
(Predo
minant
es)
100%
(Legisla
tivo
67%)
87%
(Legisla
tivo
30%;
Legislat
ivo e
Executi
vo
45%)
78%
(Legisla
tivo e
Executi
vo
52%)
82%
(Legisla
tivo
36%;
Legislat
ivo e
Executi
vo
(38%)
67%
(Legisla
tivo
30%;
Executi
vo
40%)
93%
(Legisla
tivo e
Executi
vo 38%,
Executi
vo
38%)
100%
(Legisla
tivo
100%)
85%
(Legisla
tivo e
Executi
vo 46%;
Executi
vo
36%)
67%
(Legisla
tivo
100%)
88%
(Legisla
tivo e
Executi
vo
38%)
75%
(Execut
ivo
50%)
75%
(Legisla
tivo
36%;
Legislat
ivo e
Executi
vo
34%;
Executi
vo
30%)
57%
(Legisla
tivo
100%)
81%
(Legisla
tivo
46%;
Executi
vo
38%)
74%
(Legisla
tivo e
Executi
vo
65%)
100%
(Legisla
tivo
33%;
Executi
vo
67%)
76%
(Legisla
tivo e
Executi
vo 38%;
Executi
vo
41%)
Mais
de um
Manda
to de
Deputa
do
Federal
58% 57% 48% 66% 40% 50% 100% 72% 0% 60% 65% 54% 0% 56% 56% 67% 60%
Regiões
Repres
entadas
(Predo
minant
es)
Todas,
com
exceção
do
Centro-
Oeste
(Nordes
te 42%)
Todas
(Sudest
e 43%)
Todas
(Nordes
te 41%)
Todas
(Sudest
e 36%)
Norte,
Nordest
e e
Sudeste
(Sudest
e 60%)
Todas,
com
exceção
do
Centro-
Oeste
(Sudest
e 57%)
Sudeste
e Sul
(Sudest
e 67%)
Todas
(Nordes
te 26%)
Norte e
Nordest
e
(Nordes
te 67%)
Todas
(Sudest
e 49%)
Todas
(Sul
28%)
Todas
(Sudest
e 36%)
Nordest
e e
Sudeste
(Sudest
e 57%)
Todas
(Sudest
e 38%)
Todas
(Nordes
te 52%)
Norte e
Sudeste
(Sudest
e 67%)
Todas
(Nordes
te 42%)
Votos
de
Legend
a
92% 100% 89% 100% 93% 100% 100% 93% 100% 93% 90% 95% 100% 94% 96% 100% 95%
Mudan
ça de
Partido
0% 13% 11% 1% 20% 7% 0% 9% 0% 7% 7% 52% 85% 44% 13% 33% 0%
Perda
para
outros
Partido
s
0% 17% 18% 4% 8% 41% 0% 11% 67% 12% 2% 12% 0% 11% 0% 33% 21%
Levando-se em conta que a média do tamanho das bancadas na Câmara é de 29,88
deputados, pode-se dizer que apenas seis dos dezessete partidos políticos com
funcionamento na Câmara dos Deputados estão acima da média, dos quais apenas um é de
esquerda ou centro-esquerda (PT), dois são de centro (PMDB e PSDB) e três são de
centro-direita ou direita (PP, PR e DEM). Essas seis maiores bancadas partidárias, no
entanto, correspondem a 71% da composição da Câmara. As bancadas de esquerda ou
123
centro-esquerda (do PCdoB, do PDT, do PSB, do PT, do PV, do PPS e do PSOL)
correspondem a 34% da composição da Câmara, as bancadas de centro (do PMDB, do
PMN e do PSDB) a 29% e as bancadas de centro-direita e direita (do PP, do PR, do PRB,
do PSC, do PTB, do PTC e do DEM) a 37%. Ou seja, a composição da Câmara dos
Deputados nesta legislatura (2007-2011) é predominantemente de centro-direita ou direita.
As bancadas partidárias que integram a base de sustentação do governo Lula (do PCdoB,
do PDT, do PSB, do PT, do PV, do PMDB, do PMN, do PP, do PR, do PRB, do PSC, do
PTB e do PTC), por sua vez, correspondem a 75% da composição da Câmara. Apenas 40%
dessa base são de esquerda ou centro-esquerda. Além disso, vale destacar o alto número e a
elevada diversidade ideológica das bancadas partidárias que compõem a base governista.
415 dos 508 deputados federais atualmente em exercício têm escolaridade de nível
superior completo ou incompleto (82%).80
As bancadas do PV (esquerda ou centro-
esquerda), do PMN (centro), do PRB e do PTB (centro-direita ou direita), todas
governistas, estão abaixo dessa marca.
Entre as categorias profissionais, destacam-se os advogados, os professores e os
empresários. Os advogados são predominantes na maior parte das bancadas,
independentemente de seu posicionamento no espectro ideológico. Os professores
predominam em três bancadas de esquerda ou centro-esquerda (do PCdoB, do PT e do
PSOL), além de terem destaque em duas outras delas (do PSB e do PV). Já os empresários
reinam absolutos em todas as bancadas de centro-direita ou direita, à exceção da bancada
do PRB, que é controlado por pastores da Igreja Universal do Reino de Deus. Os
empresários, ademais, têm presença importante nas principais bancadas de centro (do
PMDB e do PSDB).
413 dos 508 deputados federais atualmente em exercício já ocuparam cargos
públicos importantes fora da Câmara (81%). As bancadas do PSB e do PV (esquerda ou
centro-esquerda), do PMN (centro), do PP, do PR, do PRB, do PTB e do DEM (centro-
direita ou direita) estão abaixo dessa marca. Ou seja, entre os deputados federais desta
legislatura com menor experiência no setor público, destacam-se os integrantes das
80
Foram levados em conta os dados consolidados até 23 de outubro de 2009.
124
bancadas de centro-direita ou direita. Entre os deputados com experiência no setor público,
salientam-se aqueles que já exerceram cargos públicos importantes tanto no Legislativo
quanto no Executivo. Estes predominam entre os integrantes das bancadas de esquerda ou
centro-esquerda, ao passo que aqueles com experiência apenas no Executivo prevalecem
entre os membros das bancadas de centro-direita ou direita.
305 dos 508 deputados federais atualmente em exercício do mandato já estiveram
nessa condição mais de uma vez. É dizer, 60% dos deputados federais em exercício já
foram membros da Câmara em outras legislaturas. Apenas as bancadas do PT e do PSOL
(esquerda ou centro-esquerda), do PMDB e do PSDB (centro), do PP, do PTC e do DEM
(centro-direita ou direita) alcançaram essa marca, em sua maioria partidos bem
estabelecidos e de grande porte.
De todos os partidos políticos representados na Câmara dos Deputados nesta
legislatura, levando-se em conta a correlação entre essa representação na Câmara e a
distribuição do eleitorado brasileiro por região, pode-se dizer que somente o PDT e o PT
(esquerda ou centro-esquerda), o PSDB (centro), o PR e o PSC (centro-direita ou direita)
são agremiações efetivamente nacionais. De acordo com dados obtidos no site do TSE,81
o
eleitorado brasileiro está assim distribuído: 7% no Norte, 27% no Nordeste, 7% no Centro-
Oeste, 44% no Sudeste e 15% no Sul. As bancadas do PCdoB, do PV, do PPS e do PSOL
(esquerda ou centro-esquerda), do PMN (centro), do PRB e do PTC (centro-direita ou
direita) não representam todas as regiões do país. Já as bancadas do PSB (esquerda ou
centro-esquerda), do PMDB (centro), do PTB e do DEM (centro-direita ou direita) são
predominantemente nordestinas e a do PP (centro-direita ou direita) prevalentemente
sulista.
Apenas as bancadas do PDT, do PT, do PPS, do PSOL (esquerda ou centro-
esquerda), do PMN (centro), do PRB e do PTC (centro-direita ou direita) foram
inteiramente eleitas pelos votos de legenda. É dizer, entre os deputados eleitos pelos votos
de legenda, prevalecem os integrantes das bancadas de esquerda ou centro-esquerda.
Entretanto, a bancada em que se acha o maior número relativo de deputados eleitos pelos
81
<http://www.tse.gov.br/internet/index.html>. Acesso em: 31 ago 2009.
125
votos próprios é o PSB, partido de esquerda ou centro-esquerda sucessivamente controlado
por personalidades como Jânio Quadros, Miguel Arraes e Anthony Garotinho.
As bancadas partidárias com os maiores números relativos de deputados eleitos por
outras legendas e que, portanto, registraram as maiores porcentagens de mudança de
partido foram as do PDT, do PSB e do PV (esquerda ou centro-esquerda), do PR, do PRB,
do PSC, do PTB e do PTC (centro-direita ou direita), todas governistas. Ou seja, as
bancadas governistas foram as que mais receberam deputados de outras bancadas
partidárias, com destaque para as bancadas de centro-direita ou direita. Mais da metade dos
integrantes da bancada do PR e três quartos da bancada do PRB são oriundos de outras
bancadas partidárias.
Entre as bancadas partidárias com as maiores perdas relativas de deputados para
outras legendas, encontram-se a do PDT, do PSB e do PPS (esquerda ou centro-esquerda),
do PMDB, do PSDB (centro), do PR, do PSC, do PTC e do DEM (centro-direita ou
direita). Todas registraram mais perdas do que ganhos, com exceção das bancadas do PR e
do PSC, que ganharam muito mais do que perderam, do PTC, que perdeu tanto quanto
ganhou, e do DEM, que só perdeu. No caso do PPS, do PSDB e do DEM, a quase
totalidade das perdas foi para partidos governistas, notadamente para o PR.
126
CAPÍTULO 3 A ação dos deputados federais da 53ª Legislatura,
particularmente em sua relação com a estrutura partidária – sistema
eleitoral-partidário, em inter-relação com concentração dos poderes
legislativos sobretudo nas mãos do presidente da República
Como se viu, Scott Mainwaring e outros estudiosos do comportamento parlamentar
entendem que a combinação brasileira do sistema presidencialista de governo com o
sistema proporcional de eleição para a Câmara dos Deputados ou o multipartidarismo teria
estimulado, entre outras mazelas, a indisciplina partidária no interior da Câmara dos
Deputados e o distanciamento da vontade do eleitor nas deliberações havidas naquela
Casa. As coalizões governistas seriam construídas e mantidas de forma sempre precária e o
controle dos eleitores sobre os eleitos seria dificultado, mormente em casos de fraca
institucionalização dos partidos políticos, como o brasileiro (MAINWARING, 1993;
MAINWARING e TORCAL, 2005).
Para Octavio Amorim Neto e Gary Cox (1997), no mesmo sentido, a adoção do
proporcionalismo de lista aberta em uma sociedade tão heterogênea como a brasileira teria
concorrido para a alta fragmentação partidária verificada no interior da Câmara dos
Deputados. Essa elevada fragmentação da legislatura dificultaria tanto a tomada de
decisões e a formação de pactos para a sustentação de planos econômicos como a
responsabilização ou a accountability governamental (AMORIM NETO, 2007). De acordo
com Jairo Nicolau (1996), tal fragmentação também estaria associada à facilidade com que
se pode criar um partido, os partidos podem coligar-se e os deputados podem mudar de
partido.
Ainda no julgamento de Nicolau (2006), o sistema proporcional de lista aberta
estimularia também a competição intrapartidária. Como os partidos não controlam as
candidaturas, os colegas de legenda tenderiam a disputar acirradamente os votos dos
simpatizantes daquela agremiação. Nessa disputa, em lugar de defender a ideologia e o
programa de seu partido, o postulante a um assento na Câmara dos Deputados enfatizaria
as características que o diferenciam de seus colegas de legenda. Tal competição
intrapartidária seria transportada para o interior da Câmara, com reflexos no
comportamento parlamentar.
127
Observou-se também que estudiosos como Argelina Figueiredo e Fernando
Limongi, em uma vertente mais otimista, sustentam que os efeitos perversos da
combinação de presidencialismo com proporcionalismo de lista aberta, sobretudo a
indisciplina partidária, seriam atenuados e muitas vezes até anulados pela confluência do
forte poder de agenda do presidente da República, de um lado, e da alta centralização dos
trabalhos da Câmara dos Deputados nas mãos dos líderes partidários, de outro. Conquanto
estimulados à competição intrapartidária e ao individualismo pelo arranjo institucional que
combina presidencialismo com proporcionalismo de lista aberta, os deputados não
encontrariam no interior da Câmara e em sua relação com o Executivo arcabouço
institucional próprio para perseguir interesses particularistas. Ao revés, a melhor estratégia
para obtenção de recursos com vistas à reeleição seria votar com a bancada. A partir da
análise de votações nominais em que não teria havido unanimidade na orientação dos
líderes das maiores bancadas no período 1988-1998, concluem ser bastante baixa a
probabilidade de um deputado votar contrariamente à orientação de seu líder partidário
(FIGUEIREDO e LIMONGI, 1999).
Viu-se ainda que Barry Ames e outros estudiosos contestam a conclusão a que
chegam Figueiredo e Limongi, ao argumento de que o fato de deputados de um mesmo
partido votarem em uma mesma direção não basta para provar a existência de disciplina
partidária. Esse fenômeno poderia simplesmente demonstrar a ocorrência de um processo
de barganha bem-sucedido, em que quase todos os deputados estariam satisfeitos com seu
ganho individual. Tal disciplina somente poderia ser inferida se também se levassem em
consideração outros determinantes como as ideologias, as características do eleitorado, os
benefícios decorrentes do pork-barrel e o tempo de permanência no cargo (AMES, 2000).
Na avaliação de Bruno P. W. Reis, mesmo se confirmado o diagnóstico de
Figueiredo e Limongi, ainda assim remanesceria um problema:
Se, para mantermos funcionando o sistema presidencialista, multipartidário (...)
proporcional caracterizado por Abranches (e com lista aberta), o preço a ser pago é
concentrar de maneira dramática o controle da agenda legislativa nas mãos de uns poucos
atores estratégicos (sobretudo nas do próprio presidente da República), qual é o propósito
de se manter tudo isso?
128
(...)
Figueiredo e Limongi nos mostraram de maneira convincente que o governo
brasileiro consegue de fato as maiorias necessárias para governar – a um custo praticável,
pelo menos no curto prazo. Talvez, porém, esse custo ainda seja relativamente alto, ou –
dito de outra forma – talvez haja razões para crer que ele possa ser significativamente
reduzido, pois receio que o preço pago por nossa ―governabilidade‖ nos moldes atuais seja
a concentração da competência legislativa na figura do presidente da República a um ponto
que roça o aviltamento da atividade parlamentar e arrisca desmoralizar gravemente o
Congresso Nacional aos olhos da opinião pública, o que, patentemente, já está
acontecendo.
(...)
Não se pode imaginar que a melhor forma de equilibrar o sistema político possa
consistir na produção de uma compensação extremada entre um sistema eleitoral
fortemente inclinado à dispersão do poder no preenchimento das cadeiras parlamentares, de
um lado, e regras fortemente concentradoras na regulação da operação do Congresso e de
sua relação com o Executivo, de outro (REIS, 2007, p. 82, 84 e 85).
Este trabalho procura explicar/compreender como a combinação de sistema
presidencialista de governo com sistema proporcional de lista aberta e outros aspectos do
sistema eleitoral-partidário, em inter-relação com a combinação de poder legislativo do
presidente da República com centralização dos trabalhos na Câmara, tem influenciado a
ação dos deputados na presente legislatura (2007-2011), particularmente em sua relação
com as estruturas partidárias, e como esses parlamentares têm agido para reproduzir ou
transformar esse estado de coisas.
Além de se buscar explicar tais ações a partir das constrições e das potencialidades
estruturais, procura-se também compreender o sentido que os próprios atores a elas
atribuem explícita ou tacitamente, ao pressuposto de que essa representação é elemento
constitutivo de tais condutas.
As ações parlamentares aqui analisadas são aquelas relacionadas ao sistema
eleitoral-partidário e à concentração de poderes legislativos nas mãos do presidente da
República e dos líderes da Câmara dos Deputados. É dizer, o exame da influência da
129
combinação de presidencialismo com proporcionalismo de lista aberta e outros aspectos do
sistema eleitoral-partidário, em inter-relação com a combinação de poder de agenda do
presidente da República com concentração dos trabalhos da Câmara nas mãos dos líderes,
sobre o comportamento dos deputados, tem como locus privilegiado as ações mesmas
desses parlamentares tendentes a reproduzir ou transformar essa situação.
130
PL nº 1210/2007 – Reforma política
De acordo com Caetano E. P. Araújo (2008), na 50ª Legislatura (1995-1999), por
iniciativa das lideranças das bancadas que integravam a base de sustentação do governo
FHC, foram criadas comissões especiais tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado
Federal para examinar o sistema político vigente e propor eventuais mudanças. A
Comissão do Senado, única a concluir os trabalhos, propôs um conjunto de alterações, na
forma de propostas de emendas à Constituição e de projetos de lei, que incluíam a
proibição de coligações nas eleições proporcionais, a substituição do sistema proporcional
pelo sistema distrital misto, o financiamento de campanha exclusivamente público e o
estabelecimento de uma cláusula de desempenho eleitoral ou de barreira ao funcionamento
parlamentar. No final daquela legislatura, porém, todas as proposições foram arquivadas.
Na legislatura seguinte (1999-2003), continua Araújo, as lideranças governistas mudaram
de estratégia: em vez de propor alterações que implicariam emendamento da Constituição e
portanto quorum qualificado, resolveram apresentar, por meio de projetos de lei, somente
modificações de caráter infraconstitucional. No lugar do voto distrital misto, propuseram o
voto proporcional em lista fechada. Além disso, juntamente com a vedação das coligações
nas eleições proporcionais, propuseram a instituição das federações de partidos. Vários
desses projetos de lei foram aprovados pelo Senado Federal e remetidos à Câmara dos
Deputados. No início da 52ª Legislatura (2003-2007), no primeiro ano do governo Lula,
nova comissão especial foi criada na Câmara dos Deputados para examinar as várias
propostas de reforma política em tramitação naquela Casa, inclusive as oriundas do Senado
Federal. O PL nº 2679/2003, apresentado por aquela Comissão no final de 2003, na
avaliação de Araújo teria sofrido significativa influência dos projetos do Senado.
Ao longo da presente legislatura (2007-2011), diferentes propostas de mudança do
sistema político adotado no Brasil têm sido apresentadas pelos deputados federais. Entre
essas inúmeras proposições, somente analisaram-se preliminarmente aquelas que foram
objeto de parecer. Deu-se especial destaque ao PL nº 1210/2007, seja por reproduzir o
inteiro teor do PL nº 2679/2003, da Comissão Especial da Reforma Política (cf. os Inteiros
Teores do PL nº 2679/2003 e do PL nº 1210/2007), seja pelo alto interesse que despertou
nos deputados dos diferentes partidos, ideologias e regiões do país – interesse demonstrado
131
na intensa participação desses parlamentares na forma de emendas, pronunciamentos e
questões de ordem –, seja por sua ampla repercussão na sociedade.
O PL nº 1210/2007 propunha, entre outras alterações ao sistema eleitoral-partidário
vigente, a proibição das coligações partidárias nas eleições proporcionais, a instituição de
uma federação de partidos com duração mínima de três anos, a substituição da lista aberta
pela lista fechada nas eleições proporcionais, o financiamento de campanha
exclusivamente público e o estabelecimento de uma cláusula de desempenho por força da
qual somente teriam direito a funcionamento parlamentar os partidos que, a cada eleição
para a Câmara dos Deputados, houvessem obtido ao menos 2% dos votos apurados
nacionalmente. Nos termos da justificação, a proposta visava a
sanar alguns problemas cruciais, de longa data apontados no sistema eleitoral
brasileiro, os quais afetam não apenas o comportamento dos candidatos durante as
campanhas, mas também os próprios partidos políticos. Esses problemas têm, igualmente,
profundos reflexos no funcionamento das Casas Legislativas, dos órgãos governamentais
nos três níveis de governo e, até mesmo, no relacionamento entre os Poderes.
(...)
No sistema proporcional, a regra de conversão de votos em cadeiras parlamentares
estipula que se guarde a proporcionalidade entre o tamanho da bancada que um partido
conquista e o número de votos por ele recebido. No Brasil, essa proporcionalidade se faz
dentro dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. É usada a fórmula do "quociente
eleitoral", somente podendo ter representantes eleitos o partido que conquistar votos que
alcancem pelo menos uma vez o valor desse quociente.
A exigência não é atendida por muitos partidos, os quais, para contorná-la, se
coligam com outros, estratégia que lhes permitem superar a barreira do quociente. Os votos
dos partidos coligados se totalizam em nível de coligação e, na atribuição das cadeiras,
segue-se a ordem de votação nominal dos candidatos, como se apenas de um partido se
tratasse.
A mecânica mencionada é habitualmente ignorada pelo eleitor, que sufraga um
candidato, sem saber que o voto que a ele confere pode, na verdade, vir a eleger candidato
de outro partido. Não raro, um candidato da agremiação maior na coligação deixa de ser
132
eleito, porque vem a ser preterido pelo da agremiação menor. Esta, sem a coligação, não
teria alcançado o quociente.
A prática dilui as diferenças entre os partidos, parecendo servir apenas de
expediente para burlar a barreira legal. Além disso, a não permanência da coligação após o
pleito, no trabalho legislativo, acentua o caráter oportunista e episódico da aliança.
Da perspectiva do eleitor comum, portanto, subtrai-se inteligibilidade ao sistema e,
no médio prazo, pode afetar-se a própria legitimidade da representação.
(...)
Contudo, pequenas agremiações, de caráter histórico, que legitimamente se
propõem a difundir suas idéias e princípios na vida política, reivindicam o direito de
subsistir como tais. Com o fim das coligações, a fórmula das federações, sobre a qual
dispõe o projeto, permitirá aos pequenos partidos contornar o obstáculo do quociente
eleitoral, desde que haja o compromisso, legalmente estabelecido, de estabilidade da
aliança pelo período mínimo de três anos, pois funcionarão eles como um só partido.
Outrossim, a união de partidos em federações permitir-lhes-á satisfazer as
exigências da Lei dos Partidos no que respeita ao funcionamento parlamentar, uma vez que
seus votos são somados como se de um único partido se tratasse.
(...)
Outro aspecto problemático do sistema eleitoral brasileiro que acima apontamos
reside na personalização do voto. Uma característica da maioria das democracias que
adotam o sistema eleitoral proporcional é o voto em listas fechadas, ou seja, listas,
definidas pelos partidos antes das eleições, em que os candidatos vêm apresentados na
seqüência em que os partidos os querem eleitos (...)
No Brasil, optou-se por uma espécie rara de sistema proporcional, a lista aberta, em
que o voto é dado ao candidato, não à legenda. Ainda que se permita o voto de legenda, ele
ainda é minoritário. É somado ao total de votos conferidos aos candidatos, para efeito do
cálculo do quociente eleitoral.
O voto em candidato, em vez de em partido, tem sido diagnosticado, de longa data,
inclusive por eminentes líderes políticos, como nocivo à disciplina e coesão partidárias. Na
medida em que boa parcela de nossa representação política enfrenta o desafio eleitoral
133
através de esforços e estratégias individuais, inclusive no financiamento de campanhas,
certamente seu comportamento com relação ao partido não terá as mesmas características
que teria, caso o partido fosse relevante para a escolha dos eleitores.
(...)
O atual sistema eleitoral não só é corrosivo para os partidos, mas é também
obstáculo à implantação do financiamento público de campanhas eleitorais.
(...) Hoje em dia, as campanhas se tornaram caríssimas, o que leva à necessidade de
abundantes recursos financeiros, em geral não disponíveis para partidos e candidatos.
A necessidade de recursos é suprida seja pelas contribuições privadas, de cidadãos
e, sobretudo, de grandes empresas, seja pelo uso da máquina administrativa. Em ambos os
casos, são maculadas a normalidade e a legitimidade das eleições. Na primeira situação,
gera-se dependência da representação com respeito aos seus financiadores, o que não é
sadio para a vida democrática. Na segunda, configura-se uma deturpação do princípio
republicano, desigualando os competidores e criando-se uma patrimonialização da coisa
pública em proveito de poucos.
(...)
Não menos significativo em nossa vida política tem sido o problema da
fragmentação do quadro partidário, já implicitamente mencionado quando falamos do tema
das coligações nas eleições proporcionais. Diagnósticos de faz alguns anos viam como
extremamente negativa a proliferação de legendas, propiciada por normas legais demasiado
permissivas para a criação de partidos (Inteiro Teor do PL nº 1210/2007).
134
PL nº 2679/2003
2003 2004 2005 2006 2007
O PL nº 2679/2003, de que, como se viu, o PL nº 1210/2007 é cópia fiel, foi
apresentado pela Comissão Especial da Reforma Política em 3 de dezembro de 2003. Em
junho do ano seguinte, a pedido do relator da matéria na Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania – CCJC, deputado Rubens Otoni, do PT, foi apensado ao PL nº
5268/2001. A CCJC aprovou o parecer do relator pela rejeição do PL nº 5268/2001 e pela
aprovação do PL nº 2679/2003 em junho de 2005. Com a eclosão da crise política de 2005,
conhecida como o ―Escândalo do Mensalão‖, tanto seus defensores históricos quanto o
próprio governo Lula trataram de dar maior agilidade à apreciação do PL nº 2679/2003. A
matéria foi pela primeira vez incluída na ordem do dia do Plenário da Câmara logo no
início da atual legislatura (2007-2011) e do segundo mandato do presidente Lula,
precisamente em 26 de fevereiro de 2007 (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 5268/2001).
Por força de acordo de líderes conduzido pelo então presidente da Câmara,
deputado Arlindo Chinaglia, da tendência O Movimento do PT – MPT, em 21 de maio de
2007 o PL nº 2679/2003, juntamente com dezenas de outras proposições, foi apensado ao
PL nº 8039/1986, oriundo do Senado Federal, em atendimento a requerimento subscrito
pelo deputado Miro Teixeira, então líder da bancada do PDT. Em 30 de maio de 2007, o
PL nº 8039/1986, com todos seus apensados, entre eles o PL nº 2679/2003, foi rejeitado.
Em seu lugar, com o apoio da maioria absoluta dos deputados, na mesma sessão foi
apresentado o PL nº 1210/2007, que, como se observou, reproduz, na íntegra, o teor do PL
Apresentação
Apensação
ao PL nº
5268/2001
Parecer da CCJC
pela rejeição do PL
nº 5268/2001 e
aprovação do PL nº
2679/2003
Eclosão do
Escândalo do
Mensalão
Inserção na
pauta do
Plenário
Apensação ao PL nº
8039/1986. Rejeição do
PL nº 8039/1986 com
todos seus apensados,
inclusive o PL 2679/2003
135
nº 2679/2003 (cf. Fichas de Tramitação do PL nº 5268/2001 e do PL nº 1210/2007).82
Listas de apoiamento já circulavam entre as bancadas partidárias fazia alguns dias. É
possível que o presidente Arlindo Chinaglia e os líderes partidários, com essa manobra,
tenham pretendido obter o chancela da maioria dos deputados desta legislatura antes de
efetivamente submeter a reforma política proposta à deliberação do Plenário.
PL nº 1210/2007
28 mai a 1º jun 07 4 a 8 jun 07 11 a 15 jun 07 18 a 22 jun 07 25 a 29 jun 07
O deputado Regis de Oliveira figura como autor do PL nº 1210/2007 pelo simples
fato de a bancada do PSC ter sido a segunda bancada partidária a apoiar a reapresentação
da matéria. Na realidade, quem deveria figurar como autor – e inicialmente figurou nessa
condição – era o deputado Miro Teixeira, que encabeçava a lista da bancada do PDT, a
primeira bancada partidária a prestar tal apoiamento. Em vista da retirada do apoiamento
por parte de todos os integrantes da bancada do PDT, sob a alegação de que nem o então
líder Miro Teixeira nem qualquer outro membro daquela bancada partidária poderiam
figurar como ―autor de uma proposta que tira o voto direto do povo e ainda o faz pagar
pela eleição‖, o deputado Regis de Oliveira, um tanto a contragosto, assumiu aquela
condição, depois que os integrantes da bancada do PSC que o precediam na lista daquela
82
Nos termos do art. 67 da Constituição Federal, ―a matéria constante de projeto de lei rejeitado somente
poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta
dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional‖.
Apresentação com
apoiamento da maioria
absoluta dos deputados e
aprovação de urgência
pela mesma maioria
absoluta
Início da fase de
discussão e de
apresentação de
emendas
Discussão
propriamente
dita
Encerramento
da fase de
discussão e de
emendamento
Apresentação do
parecer do relator,
rejeição da preferência
à emenda aglutinativa
e, em seguida, da lista
fechada
4 ago 07, logo
após o recesso:
inadmissão da
emenda
aglutinativa
global e virtual
arquivamento da
reforma política
136
bancada também retiraram o apoiamento (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária
de 30/5/2007).83
Em seguida, ainda na mesma sessão de 30 de maio de 2007, foi aprovado, pela
mesma maioria absoluta, requerimento de urgência oferecido pelo deputado Onyx
Lorenzoni, então líder da bancada do DEM, e por outros líderes de bancadas partidárias, de
83
Vale registrar que o deputado Luiz Sérgio, então líder da bancada do PT, comentou na ocasião que, tendo
sido o deputado Miro Teixeira o principal articulador do referido acordo havido entre os líderes quanto aos
procedimentos a serem adotados na apreciação da matéria, seria justo que ele figurasse como seu autor (cf.
Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 30/5/2007). Eis a interpretação do próprio deputado Miro
Teixeira sobre o incidente: ―O projeto do Senado tinha uma precedência e consequentemente os apensados a
ele, mesmo que originários da Câmara, seriam examinados e voltariam pro Senado, que daria a palavra final.
Então quando eu me insurjo – e claramente dizendo que era por isso –, eu achava que o projeto, qualquer
projeto eleitoral no Brasil, ao longo dos tempos, surgiu na Câmara dos Deputados para acabar na Câmara dos
Deputados. E esse se concluiria no Senado. Por isso, foram apensados, rejeitados e surge o PL 1210 da
Câmara dos Deputados. Isso foi uma batalha enorme para se assegurar que essa discussão seria concluída na
Câmara dos Deputados, caso passasse pela primeira etapa aqui. Bom, quando surge o 1210 e tendo ali... eu
para fazer essa proposta, eu demonstrei que não havia nenhuma esperteza nisso, que ia ser o projeto a íntegra
do que era antes o substitutivo do [Ronaldo] Caiado. Quer dizer, não era uma forma de fazer um ‗gol de
mão‘. Quer dizer, ‗Não, aí nessa mudança a gente mexe‘. Não, não. Assumimos todos aqui o compromisso
desse projeto ser o substitutivo do Caiado. Aí o Caiado formaliza como projeto, vêm as assinatura e eu
assino. Então, em função desse acordo de procedimentos que eu propus ali. Como eu era contra o projeto, o
que que de repente se armou ali no Plenário? Me concederam essa honra entre aspas de ficar com a autoria e
aí eu ficaria numa posição contraditória. Bom, e aquilo ali foi uma articulação, a rigor, pra me neutralizar.
Ao me deferir a honra formidável de ser o autor da reforma política... ‗Isso não é uma reforma política. Eu
não quero ser autor disso aí porque eu não reconheço isso como reforma política‘ (...) É uma coisa louca, né?
A vaidade é a única virtude que o diabo gosta. Olha como virtude a vaidade. Veja só, foi uma luta no
Plenário. ‗Eu não sou o autor disso, não.‘ Aí passou a ser o Regis de Oliveira, né?‖ (Entrevista realizada em
6/5/2010). Na verdade, como se observou, foi o próprio deputado Miro Teixeira quem requerera a apensação
do PL nº 2679/2003, da Comissão Especial da Reforma Política, juntamente com dezenas de outras
proposições, ao PL nº 8039/1986, oriundo do Senado Federal. E isso aconteceu depois que as listas de
apoiamento da reapresentação da matéria já circulavam entre as bancadas partidárias, o que leva
forçosamente à conclusão de que a inclusive a apensação era parte do acordo do então presidente Arlindo
Chinaglia com os líderes. Tudo isso pode ser explicado pela pretensão de se obter a chancela da maioria dos
deputados desta legislatura antes de se submeter efetivamente a matéria à deliberação do Plenário. Mas como
compreender a atuação destacada do deputado Miro Teixeira, que sempre foi contra a reforma política
proposta, em todo esse processo?
137
maneira a possibilitar a imediata inclusão do PL nº 1210/2007 na ordem do dia do
Plenário. O requerimento foi submetido a votação nominal em razão de divergência aberta
pelo deputado Arnaldo Faria de Sá, do PTB.84
Ainda em virtude do mencionado acordo, todos os líderes orientaram suas bancadas
ou blocos a votar a favor da urgência. 47 deputados, entretanto, votaram contrariamente à
orientação de seus líderes partidários: cinco do PDT (25% do total de votantes daquele
partido), cinco do PSB (18%), sete do PT (10%), quatro do PV (33%), um do PPS (9%),
nove do PMDB (11%), quatro do PMN (80%), três do PSDB (6%), três do PP (9%), três
do PTB, inclusive o deputado Arnaldo Faria de Sá (18%), um do PTC (50%) e dois do
DEM (6%). É preciso registrar que esses integrantes do PMN e do PTC, conquanto tenham
votado contra a orientação dos líderes dos blocos parlamentares de que fazem parte tais
partidos, não divergiram, todos eles, de suas bancadas partidárias.85
No caso do PMN,
somente um deputado divergiu de sua bancada, o que equivale a apenas 20%. Assim,
considerando que o índice médio de incongruência86
naquela votação foi de 18%, pode-se
dizer que as bancadas do PDT, do PSB, do PV, do PMN, do PTB e do PTC foram as que
se mostraram menos coesas na decisão de atribuir urgência à apreciação da reforma
política proposta por meio do PL nº 1210/2007 (cf. Lista de Votantes por Partido).
No dia subsequente, em 31 de maio de 2007, teve início a fase de discussão para
fins de emendamento do PL nº 1210/2007. A discussão propriamente dita, no entanto,
somente começou em 13 de junho do mesmo ano. O PCdoB e o PT fecharam questão a
favor da matéria. O anúncio da decisão do PCdoB foi feito pela deputada Vanessa
Grazziotin, atual líder da bancada daquele partido:
84
Deputado Arnaldo Faria de Sá: ―Eu lembro que à época o presidente Arlindo Chinaglia ficou até
contrariado comigo, porque ele queria tentar um acordo e eu disse que acordo só se fosse por unanimidade. E
não haveria jamais unanimidade porque eu era contra, discordante‖ (Entrevista realizada em 25/5/2010).
85 O PMN até hoje participa do bloco PSB/PCdoB/PMN/PHS/PRB, então
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PAN/PHS/PRB, e o PTC do bloco PMDB/PTC, à época PMDB/PTB/PSC/PTC.
86 Cf. explicitação do conceito de índice de incongruência adotado neste trabalho no final deste capítulo, na
seção Análise comparada.
138
(...) Sr. Presidente, o PCdoB fechou questão a favor do voto na lista preordenada.
Não há mecanismo nem caminho melhor para o fortalecimento dos partidos políticos.
Levanto alguns argumentos daqueles que têm vindo à tribuna falar contra a lista partidária.
Dizem que, a partir do estabelecimento da lista preordenada, não haverá mais eleição para
Deputados, haverá na Casa Deputados biônicos, e os eleitores não terão mais em quem
votar. Não é verdade, Sr. Presidente. Com a lista preordenada, faremos a campanha do
partido, do programa, das idéias, em torno da figura dos candidatos que a compõem.
Inúmeros Deputados e Vereadores tiveram votos da população suficientes para se eleger,
mas não chegaram ao Congresso Nacional ou à Câmara de Vereadores. E a razão disso é
muito simples, Sr. Presidente: além do voto no candidato, há o chamado quociente
eleitoral. O candidato a Vereador pode ter sido o mais votado de seu município, mas se seu
partido ou coligação não atingiu o quociente, ele não se elegerá. Trata-se de balela dizer
que, com a lista preordenada, haverá Parlamentares biônicos. E, com a aprovação da lista
preordenada, deveremos aprovar o financiamento público de campanha. Tenho convicção
de que não resolveremos todos os problemas de corrupção estabelecidos no País, mas
resolveremos grande parte deles. Daremos maior segurança não só aos Parlamentares, mas
à Câmara dos Deputados, que está sujeita a atos e ações do poder econômico e financeiro
do setor privado. Os candidatos, na sua grande maioria, a fim de conseguir financiamento
para as suas campanhas, recorrem ao setor privado, o que faz com que haja no Congresso
Nacional grande lobby a favor do setor A, B, ou C. Por essas razões, acredito que,
aprovando a lista preordenada, não aprovaremos a proposta perfeita, mas contribuiremos
para fortalecer a democracia e a representação partidária nesta Casa (Notas Taquigráficas
da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 9h6min).87
87
Deputado Flávio Dino: ―Na verdade, é algo que já vinha desde a legislatura anterior. O deputado Haroldo
Lima tinha tido um papel grande historicamente nessa questão da reforma política, depois o deputado
Renildo Calheiros. E no PCdoB, a bancada atua em estreita sintonia com a direção partidária, até pelas
características históricas do partido. Nesse caso, a bancada desta legislatura, da 53ª legislatura, foi meio que
herdeira de uma memória, que era essa memória da nossa atuação parlamentar na 52ª legislatura e depois
também pela memória da definição da direção partidária, da definição inclusive programática – integra nosso
programa – em torno das teses centrais do PL 1210, que era a lista fechada e o financiamento público de
campanha. Então digamos que não houve assim um intenso processo de debate na 53ª legislatura porque
digamos que eram quase que pressupostos partidários, na medida em que são questões programáticas e
evidentemente o partido tinha que guardar uma coerência com a atuação parlamentar anterior‖ (Entrevista
realizada em 11/5/2010).
139
O deputado Gerson Peres, do PP, partido que integra a base de sustentação do
governo, foi quem primeiro trouxe ao Plenário a notícia de que o PT havia fechado questão
a favor da reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007. Fê-lo, porém, no
bojo de um apelo a que os petistas revisassem sua posição:
(...) Declarou o Presidente Lula que a reforma política é assunto dos Parlamentares
e que o Governo não interferirá, porque essa é uma questão de consciência parlamentar.
Hoje, divulga a imprensa que o PT fechou questão a respeito, apesar de mais de 40
Parlamentares do partido serem contra a lista fechada. Então, faço um apelo aos Líderes do
Partido dos Trabalhadores, sobretudo quando 9 dos seus 12 Senadores são declaradamente
contrários à lista fechada, no sentido de que revejam a posição, a fim de rejeitarmos essa
matéria, que não condiz com os princípios da Constituição (Notas Taquigráficas da Sessão
Extraordinária de 13/6/2007, 9h6min).88
No mesmo dia 13 de junho de 2007, na sessão extraordinária seguinte, o próprio
líder da bancada do PT à época, deputado Luiz Sérgio, da tendência Construindo um Novo
Brasil – CNB, anunciou a decisão daquele partido:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, falo em nome da bancada do Partido dos
Trabalhadores, respaldado pela Direção Nacional do Partido. Precisamos deixar claro para
esse Plenário e para aqueles que nos assistem que a lista não resolve todos os problemas do
País nem está imune a erros, mas é muito melhor. Existem hoje o voto nominal, a lista
aberta e o financiamento privado. Isso nos leva, numa campanha política, a disputar mesmo
entre nós, do mesmo partido, e faz com que muitos de nós tenhamos de nos humilhar em
busca de recursos privados para o financiamento da campanha. A crise que vivemos no
passado e envolveu muitos Parlamentares pode repetir-se, caso mantenhamos a atual regra
estabelecida que, indiscutivelmente, tem na sua raiz muito dos problemas aqui
evidenciados e que demonstram claramente que o sistema atualmente estabelecido
apodreceu. Precisamos da grandeza e da coragem de elaborar outra legislação no lugar. A
88
Assessor do PT: ―Nós fizemos um questionário contendo todos os temas da reforma. Mandamos pros
deputados. Aí nós tabulamos isso... O deputado Pepe Vargas que coordenou... E as respostas foram levadas
ao Diretório Nacional. E nessa reunião com o Diretório Nacional fechou-se toda a questão em torno dos
pontos que nós iríamos defender na reforma política (...) Não são quarenta. São 26 deputados que fizeram um
manifesto e entregaram para o partido dizendo que eram contrários à lista fechada‖ (Entrevista realizada em
31/3/2010).
140
lista preordenada – não perdemos a esperança de encontrar um caminho para estabelecê-la
– privilegia o projeto partidário, projetos e programas de governo e, o que é muito
importante, viabiliza o financiamento público de campanha, que dará dignidade aos
Parlamentares e aos partidos políticos, além de independência ao exercício do mandato.
Sem dúvida, o financiamento público de campanha, ao unificar as campanhas, que serão
conduzidas unicamente pelos partidos, facilitará o controle, a fiscalização e, acima de tudo,
barateará muito as campanhas políticas (...) O PT, meu partido, em toda a sua trajetória e
história, todas as vezes que esteve entre o dilema do público e do privado ficou com o
público; todas as vezes que esteve diante do dilema entre o coletivo e o individual ficou
com o coletivo (...) Aquilo que é antipartido e anticoletivo é o individualismo que o nosso
partido nega na sua essência, uma vez que sempre lutou contra (...) Eu não acredito e não
posso compreender, diante de um sistema que faliu e apodreceu, de uma crise profunda dos
partidos que teve no seu interior muito do processo dos financiamentos privados, que nós
iremos aqui perder a oportunidade histórica de fazer avançar a democracia, a transparência
e a independência para o exercício do mandato, encontrando, acima de tudo, um caminho
para viabilizar a reforma política possível. Essa reforma precisa reafirmar, acima de tudo, a
democracia, a transparência, o controle sobre os gastos, a moralização da campanha e a
dignidade para o exercício do mandato (...) (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária
de 13/6/2007, 15h2min).89
O PSDB, que inicialmente tinha fechado questão a favor da reforma política
proposta por meio do PL nº 1210/2007, mudou de posição. Nas palavras do atual líder João
Almeida,
lá atrás (...) o partido fechou questão exatamente no sentido contrário, em favor da lista
partidária. E essa posição eu fui autorizado – não era líder, mas fui autorizado – pela
Executiva Nacional e pela bancada a negociar essa posição, né? E vínhamos mantendo essa
posição. Quando o projeto voltou a ser apresentado, no começo das discussões, o partido
estava inclinado à lista, mas subitamente houve uma mudança de posição muito brusca e
89
De acordo com o deputado Domingos Dutra, o fechamento de questão a favor da reforma política proposta
por meio do PL nº 1210/2007 deu-se em meio a forte divisão no interior das bancadas congressuais e mesmo
da Executiva Nacional do PT: ―Na verdade, esse foi o momento de maior tensão na bancada, e na bancada
com a executiva do partido. Porque a bancada rachou ao meio. A executiva do mesmo jeito. O mesmo efeito
teve no Senado‖ (Entrevista realizada em 5/5/2010).
141
acabou resultando no que deu: o partido fechou questão no sentido contrário (Entrevista
realizada em 29/4/2010).
A mudança de posição por parte do PSDB foi comemorado pelo deputado Arnaldo
Faria de Sá, do PTB, na mesma sessão extraordinária de 13 de junho de 2007:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, entre a sessão da manhã e esta sessão
ocorreu um fato novo e positivo: o PSDB fechou questão e vai votar contrariamente à lista
preordenada de candidatos. Somadas as posições majoritárias do PP, do PR, do PTB e de
dissidências do PMDB, o número que se obtém pode impedir a instituição em nosso País
da bolsa-voto (...) (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
Ao longo de todo aquele dia, vários deputados, de diferentes partidos,
manifestaram-se sobre a matéria em plenário. Pronunciaram-se contrariamente a um ou
mais itens da reforma política proposta por intermédio do PL 1210/2007 os deputados
Pompeo de Mattos e Sebastião Bala Rocha, do PDT; Julio Delgado,90
Rodrigo Rollemberg,
Rogério Marinho91
e Dr. Ubiali, do PSB; Nazareno Fonteles e Domingos Dutra,92
do PT;
Leonardo Picciani,93
Rodrigo Rocha Loures, Marcelo Almeida e Moisés Avelino, do
PMDB; Sílvio Costa, então do PMN hoje do PTB;94
Arnaldo Madeira, Leonardo Vilela,
William Woo,95
Duarte Nogueira, Luiz Carlos Hauly, Antonio Carlos Mendes Thame,
Urzeni Rocha, João Campos, Edson Aparecido, José Aníbal e Alfredo Kaefer, do PSDB;
90
Já tinha votado ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
91 Hoje integrante da bancada do PSDB.
92 Já se havia abstido de votar o requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
93 Já tinha votado ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
94 Já havia votado ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
95 Já tinha votado ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido). O deputado William Woo hoje é membro da bancada do PPS.
142
Gerson Peres,96
do PP; Lincoln Portela e José Carlos Araújo, do PR;97
o próprio ―autor‖ da
proposição, Regis de Oliveira, do PSC; Pedro Fernandes98
e Arnaldo Faria de Sá,99
do
PTB; e Gervásio Silva, então do DEM hoje do PSDB (cf. Notas Taquigráficas da Sessão
Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
Já os deputados Flávio Dino, Vanessa Grazziotin, Jô Moraes e Manuela D‘Ávila,
do PCdoB; Luiza Erundina, do PSB; Eduardo Valverde, André Vargas, Pepe Vargas,
Edson Santos, Walter Pinheiro, José Eduardo Cardozo e Fátima Bezerra,100
do PT; Raul
Jungmann e Pedro Piau,101
do PPS; Ibsen Pinheiro, do PMDB; João Almeida, do PSDB;
Maurício Quintella Lessa, do PR; e João Oliveira, do DEM, manifestaram-se a favor da
matéria (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
Vê-se, pois, que as maiores bancadas partidárias da Câmara, à exceção do PP,102
encontravam-se, naquela fase, relativamente divididas em torno dos principais itens da
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, notadamente a lista fechada,
inclusive as bancadas do PT e do PSDB, que, como se observou, haviam fechado questão
sobre a matéria.
96
Já havia votado ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
97 O deputado José Carlos Araújo hoje integra a bancada do PDT.
98 Já se tinha abstido de votar o requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
99 Já havia votado ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
100 Curiosamente, votara ―não‖ ao requerimento de urgência, contrariando a orientação do líder (cf. Lista de
Votantes por Partido).
101 Hoje integrante da bancada do PMDB.
102 Na fase de discussão, o único membro da bancada do PP a pronunciar-se sobre a matéria, fê-lo em sentido
contrário.
143
Tal era o convencimento do deputado Domingos Dutra, do PT, em desfavor da lista
fechada e de outros itens da reforma proposta que se dizia disposto a enfrentar até mesmo a
Comissão de Ética daquele partido:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, este é um momento importante para a
sociedade brasileira e principalmente para este Parlamento, no que diz respeito a sua
reafirmação. Quero inicialmente desmitificar algumas inverdades sobre a lista fechada. Não
é verdade que a derrota da lista fechada significa o fim da reforma política. Vamos derrotar
a lista fechada e discutir fidelidade partidária, fim de coligações, federação, financiamento
público. Precisamos derrotar a lista fechada para democratizar a reforma política. Essa
reforma não é democrática. Nem a militância dos partidos tem feito esse debate. Desafio os
presidentes de partido a dizer que Vereadores, Prefeitos, Deputados Estaduais, Vice-
Prefeitos, militantes de base estão discutindo o assunto nos seus partidos. Querem nos
empurrar isso goela abaixo, como tentaram ainda há pouco (Palmas). Os Líderes definem a
pauta e ainda querem monopolizar a discussão aqui. É hora de os bagrinhos levantarem o
punho e dizer que este Parlamento não é só das grandes lideranças. Derrotar a lista fechada,
Deputado Vicentinho, é democratizar a reforma política. Se ela for derrotada, vamos
discutir a lista flexível. Vamos discutir uma transição. Por que não se estende para 2014 a
lista fechada? (Muito bem.) Por que não se estabelecer financiamento público em 2008
enquanto trabalhamos um teto para as candidaturas proporcionais? Por que não discutimos
a reforma sem atalho? Ninguém quer discutir a suplência de Senador. É um escândalo
Senador sem voto. (Muito bem.) É um escândalo Senador com 8 anos de mandato e nós,
Deputados Federais, com 4 anos. Se quisermos igualar o nosso mandato ao de Senador,
teremos que ralar para vencer 2 eleições. Por isso eu, Deputado nordestino, estou aqui para
fazer um apelo. Vamos derrotar a lista fechada para democratizar essa reforma política.
Quero dizer também desta tribuna, pedindo licença ao meu partido e ao meu Líder, que
fecharam questão, que vou enfrentar a Comissão de Ética do PT, mas não voto a favor
dessa lista. (Muito bem.) (Palmas.) (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de
13/6/2007, 15h2min).
É verdade que também os deputados petistas Walter Pinheiro e José Eduardo
Cardozo, embora se tenham manifestado a favor do PL nº 1210/2003, deixaram claro sua
preferência, respectivamente, pela lista flexível e pelo voto distrital misto (cf. Notas
Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
144
O deputado João Almeida, atual líder da bancada do PSDB, por sua vez, em que
pese a seu partido haver mudado de posição, manteve-se favorável à reforma política
proposta por intermédio do PL nº 1210/2007:
(...) Quero refrescar a memória dos que aqui estão há 4, 5 Legislaturas, como eu, e
passar algumas informações aos que chegaram mais recentemente. Desde a promulgação
da Constituição, vimos modelando o nosso sistema partidário e eleitoral de acordo com o
novo texto constitucional (...) O que produzimos? Produzimos a Lei dos Partidos, a nova
Lei das Eleições e diversas modificações nessas leis que nos levaram à judicialização
excessiva do processo eleitoral — tiramos a eleição do povo e dos partidos e a transferimos
aos juízes e à Polícia. Elevamos brutalmente o custo das campanhas, ampliamos os
conflitos interpartidários e intrapartidários (...) Por que fizemos isso? Porque não
enfrentamos a questão essencial, o sistema eleitoral. Ele é modelador de tudo o mais. Este
modelo que temos está em perfeito equilíbrio com as leis que produzimos aqui. Ele está
também em perfeito equilíbrio com a elaboração orçamentária que realizamos, com as
soluções que temos dado para os grandes problemas do País, com os escândalos sucessivos
que aparecem, relacionados a atitudes de Deputados. Se não quebrarmos isso, se não
alterarmos o sistema eleitoral, não teremos possibilidade de mudanças. De modo que esta é
uma oportunidade singular. Não vamos ceder aos argumentos dos que não querem esse
modelo porque pretendem outro muito melhor. Em nenhum lugar do mundo se fez uma
reforma profunda do sistema eleitoral, senão quando aconteceu uma catástrofe no país ou
um processo constitucional. Esta é a oportunidade que temos por meio de lei ordinária. Se a
perdermos, dificilmente teremos outra (...) Pode não ser a melhor reforma, mas é um passo
mudar o sistema eleitoral para termos possibilidade, a partir daí, de promover uma reforma.
Nossos partidos também são perfeitamente adequados ao atual sistema eleitoral (...) Nele
só há competitividade com infidelidade, com mudança de partidos, com mudança de lado
de governo para outro (...) É o sistema eleitoral que vai remodelar os partidos, a relação
entre nós, a forma de elaborar o Orçamento, vai promover uma verdadeira reforma (...)
(Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
Já entre as bancadas partidárias menores, à exceção do PSB, a indefinição quanto à
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007 parecia ser menor àquela altura.
Todas as manifestações dos integrantes das bancadas do PDT, do PMN, do PSC e do PTB
foram contrárias à matéria, ao tempo que lhe foram favoráveis os membros das bancadas
do PCdoB e do PPS a se pronunciar. Os integrantes das bancadas do PV, do PSOL, do
145
PRB e do PTC não se manifestaram.103
É necessário anotar que o deputado Flávio Dino, do
PCdoB, conquanto se houvesse manifestado em tese favoravelmente à lista fechada e ao
financiamento exclusivamente público, chamou atenção para algumas dificuldades práticas
envolvidas na reforma proposta:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero defender 2 premissas. Primeira: não
há sistema isento de corrupção. É ilusão acreditar que um ou outro ponto da reforma pode
determinar o fim da corrupção eleitoral. Segunda: não estamos discutindo tese acadêmica,
mas, sim, textos já divulgados. Embora eu seja a favor da reforma política, a favor da tese
da lista fechada e do financiamento público de campanhas, não posso deixar, por
honestidade a esta Casa e aos meus eleitores, de dizer que o texto em debate, se aprovado,
não resolverá nossos problemas centrais. Como fazer o financiamento público de campanha
sem deixar claro de quem será a iniciativa do Orçamento? Isso não está no texto. Ela será
do Executivo ou do Judiciário? Como compatibilizar a consignação de recursos para o
financiamento público ao Tribunal Superior Eleitoral com a regra do art. 168 da
Constituição, que diz que os recursos do Poder Judiciário são repassados em duodécimos?
O texto da lei não nos responde. Como compatibilizar o texto do projeto com o art. 17 da
Lei de Responsabilidade Fiscal? Também não encontramos essa resposta. Como será feita
a lista fechada, Sras. e Srs. Deputados? O texto também não responde a isso. Como
compatibilizar lista fechada com coligação, que hoje tem natureza constitucional — art. 17,
§1º? Como definir a ordem dos candidatos numa coligação? Como acabar com coligação
por lei, se ela é um instituto constitucional? Também não encontrei essa resposta.
Quais serão os critérios de formação da lista? A votação? Muito bem. Sabemos que a
Constituição de 1988 transformou os partidos em pessoas jurídicas de Direito Privado.
Antes, a Justiça Eleitoral fiscalizava as convenções. Todos nós nos lembramos disso.
Agora, não é mais possível. Então, por quem serão resolvidas as contendas no curso de
uma convenção partidária? Pela Justiça comum? O texto não responde. Pergunto: será a
Justiça Eleitoral ou a Justiça comum? Ou será a Polícia, a delegacia de Polícia da esquina
que resolverá as inevitáveis contendas existentes no curso de uma convenção?
(...) (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
Na mesma sessão extraordinária da tarde de 13 de junho de 2007, a certa altura dos
debates, foi apresentado um requerimento de encerramento da discussão. Ao encaminhar a
103
À época, o PRB possuía apenas um representante na Câmara, o deputado Léo Vivas.
146
matéria, o deputado Arnaldo Faria de Sá, do PTB, declarou-se contrário ao requerimento.
Em suas palavras, ―a tentativa de encerramento da discussão visa evitar o aumento do
desgaste, progressivo, daqueles que defendem a adoção da lista fechada e do financiamento
público de campanhas‖ (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007,
15h2min).
O deputado Lincoln Portela, do PR, seguindo a mesma lógica, acreditava que, com
o avançar dos debates, o Plenário tenderia a rejeitar a reforma proposta:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Partido da República se plantou aqui desde
9h. Às 11h, a perspectiva de aprovação da lista era plenamente factível. Com o decorrer
dos debates, começamos a perceber que grande parte dos Parlamentares que acreditavam
no voto em lista está mudando de opinião – é o que ouvimos à boca pequena. Precisamos
discutir mais profundamente a matéria. Há pelo menos 225 emendas até agora. O Partido
da República, que percebeu que o jogo está mudando, quer ouvir e discutir mais o assunto.
Somos contra o encerramento da discussão (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária
de 13/6/2007, 15h2min).
Orientaram suas bancadas a votarem contra o requerimento de encerramento da
discussão os líderes do então PSB/PDT/PCdoB/PMN/PHS/PRB,104
do PSOL, do PSDB, do
PP, do PR e do PTB. Já os líderes do PT, do PV, do PPS, do PMDB/PSC/PTC105
e do
DEM orientaram as respectivas bancadas a votarem a favor do requerimento. O então vice-
líder da minoria, deputado Paulo Abi-Ackel, do PSDB, liberou as bancadas da oposição
(Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 15h2min).
O requerimento de encerramento da discussão foi rejeitado por 245 a 194. Quatro
deputados presentes se abstiveram de votar. O deputado Arnaldo Faria de Sá, do PTB, de
novo festejou, desta vez acompanhado de um número visivelmente maior de colegas
contrários à reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007: ―Acabou a lista!
104
Hoje PSB/PCdoB/PMN/PRB.
105 Atualmente PMDB/PTC. Note-se que o PTB, àquela altura, já se tinha desligado do bloco e passava a
assumir posição contrária.
147
Rasga a lista! (Palmas.)‖ (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007,
15h2min).
De um total de 443 deputados, 82 votaram contrariamente à orientação de suas
lideranças partidárias: dez do PCdoB (91% do total de votantes daquele partido), um do
PDT (5%), um do PSB (4%), 28 do PT (39%), sete do PV (54%), quatro do PPS (31%),
treze do PMDB (16%), sete do PSDB (13%), um do PP (3%), um do PR (3%), seis do PSC
(100%), um do PTB (6%) e dois do DEM (4%). Cumpre registrar, entretanto, que esses
integrantes do PCdoB, do PV e do PSC, conquanto hajam votado contra a orientação das
lideranças partidárias ou dos blocos parlamentares, não divergiram, todos eles, de suas
bancadas.106
Com efeito, somente um deputado do PCdoB e seis do PV divergiram de suas
bancadas, o que corresponde, respectivamente, a 9% e 46%, enquanto que a bancada do
PSC se mostrou absolutamente coesa. Considerando-se, então, que o índice médio de
incongruência partidária naquela votação foi de 15%, pode-se dizer que as bancadas do PT,
do PV, do PPS e do PMDB foram as que se revelaram menos coesas àquela altura do
processo de apreciação da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2003 (cf.
Lista de Votantes por Partido). A consistência demonstrada pela bancada do PPS nos
debates no Plenário parece explicar-se pelo fato de os únicos dois membros daquela
bancada a se manifestar naquela oportunidade não representarem a opinião da totalidade de
seus correligionários.
A discussão do PL nº 1210/2007 foi finalmente encerrada em 21 de junho de 2007.
Durante aquela fase, foram apresentadas 346 emendas alterando os principais itens da
reforma proposta. A supressão de toda e qualquer restrição à possibilidade de os partidos
se coligarem nas eleições, ou seja, a manutenção da situação atual, foi proposta pelos
deputados Renildo Calheiros (EMP nº 46), Flávio Dino (EMP nº 115) e Vanessa
Grazziotin (EMP nº 266), do PCdoB; e Luciano Castro, então líder da bancada do PR
(EMP nº 158) (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das
emendas).
106
O PCdoB faz parte do bloco PSB/PCdoB/PMN/PRB, então PSB/PDT/PCdoB/PMN/PHS/PRB, e o PSC,
do bloco PMDB/PTC, à época PMDB/PSC/PTC.
148
Os deputados Flávio Dino, do PCdoB (EMP nº 115), e Luciano Castro, então líder
da bancada do PR (EMP nº 158), coerentemente, também propuseram a supressão da
federação de partidos, proposta igualmente feita pelo deputado João Almeida, atual líder da
bancada do PSDB (EMP nº 178)107
(cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros
Teores das emendas).
A constituição das coligações como federações de partidos foi ao final proposta
pelo deputado Luiz Sérgio, então líder bancada do PT (EMP nº 345), como uma forma de
sanear o alegado vício de inconstitucionalidade da proposta original, consistente em
restringir as coligações às eleições majoritárias108
(cf. Ficha de Tramitação do PL nº
1210/2007 e Inteiro Teor da EMP nº 345).
A lista fechada foi seguramente o item da reforma política proposta por intermédio
do PL nº 1210/2007 que mais reação provocou. Os deputados Sebastião Bala Rocha, do
PDT (EMP nº 210); Mauro Nazif, do PSB (EMP nº 121); Cândido Vaccarezza, atual líder
107
O deputado João Almeida tinha anteriormente apresentado a EMP nº 175, de acordo com a qual as
federações partidárias somente poderiam ser constituídas ou desconstituídas nas convenções realizadas
quatro anos depois da eleição para a qual se formassem. De acordo com o parlamentar, ―a lista partidária, ela
tem que ajudar a evitar a pulverização partidária. A federação de partidos, como concebida pelo projeto, é
uma garantia de continuidade da pulverização, não é? Quer dizer, os partidos se juntam numa federação,
constituem uma federação, mas continuam existindo autonomamente. E isso é uma coisa muito ruim. Partido
é parte. Não pode ser uma parte sem significância. Partido há que ter representatividade. Não tem sentido
esse sistema partidário que nós temos que só facilita as transações de interesses de grupos. São partidos que
não têm representatividade, que não têm visão de conjunto. Falta até em muitos casos espírito público, né? É
muito ruim a negociação com partidos de pequena representação ou nulos de representação, não é? Servem
também a acirrar os problemas regionais, locais, né? E a federação de partidos garante, de alguma forma, a
continuidade desses partidos. De modo que a organização da lista partidária com candidatos do partido só,
que seja capaz de ter ideias a apresentar à população, propostas claras, é uma coisa diferente dessas listas
partidárias compostas por federações de partidos‖ (Entrevista realizada em 29/4/2010).
108 Na forma do art. 17, § 1º, da Constituição Federal, na nova redação dada pela Emenda Constitucional nº
52/2006, ―é assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento, e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária‖. Alegou-se, por conseguinte,
que qualquer restrição às coligações somente poderia ser operada por força de emenda à Constituição.
149
do governo (EMP nº 22),109
e Carlos Zarattini (EMP nº 33), do PT; Fábio Ramalho, do PV
(EMP nº 117); William Woo, então do PSDB hoje do PPS (EMP nº 37); Léo Vivas, do
PRB (EMP nº 161); e Paes Landim, do PTB (EMP nº 45), propuseram sua supressão pura
e simples, é dizer, a conservação do status quo (cf. Ficha de Tramitação do PL nº
1210/2007 e Inteiros Teores das emendas).
A adoção de alguma forma de voto distrital chegou a ser proposta pelos deputados
Miro Teixeira, então líder da bancada do PDT (EMP nº 336),110
Sandro Mabel, atual líder
da bancada do PR (EMP nº 142), e Solange Amaral, do DEM (EMP nº 34), apesar de sua
flagrante inconstitucionalidade111
(cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros
Teores das emendas).
Os deputados Bonifácio de Andrada (EMP nº 17)112
e Antonio Carlos Mendes
Thame (EMP nº 93),113
do PSDB, propuseram uma combinação de proporcionalismo com
109
Mais tarde, o deputado Cândido Vaccarezza veio a apresentar a EMP nº 344, propondo a flexibilização da
lista partidária ou uma forma de lista flexível.
110 O deputado Miro Teixeira também apresentou a EMP nº 215, propondo a implantação da lista fechada
somente se referendada pelo povo.
111 Nos moldes do caput do art. 45 da Constituição Federal, ―a Câmara dos Deputados compõe-se de
representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito
Federal‖. Logo, a substituição do sistema proporcional por qualquer outro não pode ser operado por força de
norma infraconstitucional. A substituição do sistema proporcional por um sistema misto, majoritário e
proporcional (distrital misto), veio a ser regularmente proposto pelo deputado Roberto Magalhães, do DEM,
por meio da PEC nº 365/2009, a qual, juntamente com várias outras de igual objeto, encontra-se apensada à
PEC nº 10/1995, pendente do parecer da Comissão Especial (ainda não constituída nem instalada).
112 O deputado Bonifácio de Andrada também apresentou a EMP nº 13, propondo uma combinação de lista
fechada com candidatura independente.
113 Essa mesma proposta, o deputado Antonio Carlos Mendes Thame a apresentou à época na forma do PL nº
1297/2007, apensado ao PL nº 7537/2006, do mesmo autor e de igual objeto.
150
circunscrições eleitorais menores (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros
Teores das emendas).114
A implantação futura e/ou dependente de referendo popular da lista fechada foi
proposta pelos deputados Renildo Calheiros (EMP nº 54)115
e Flávio Dino (EMP nº 102),
do PCdoB; Miro Teixeira, do PDT (EMP nº 215);116
Domingos Dutra (EMP nº 41)117
e
Reginaldo Lopes (EMP nº 167),118
do PT; Roberto Britto (EMP nº 200) e João Leão (EMP
nº 246), do PP; e Luciano Castro, então líder da bancada do PR (EMP nº 112 e EMP nº
141) (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das emendas).
Por fim, os deputados Renildo Calheiros (EMP nº 329 e EMP nº 330),119
então líder
da bancada do PCdoB; Maria do Rosário (EMP nº 4), Cândido Vaccarezza (EMP nº
344),120
Pepe Vargas (EMP nº 100), Cida Diogo (EMP nº 110), Reginaldo Lopes (EMP nº
314),121
Virgílio Guimarães (EMP nº 204),122
Magela (EMP nº 225), Janete Rocha Pietá
114
De acordo com a proposta do deputado Bonifácio de Andrada, esse proporcionalismo poderia ser de lista
fechada.
115 Posteriormente, o deputado Renildo Calheiros apresentou a EMP nº 329 e a EMP nº 330, propondo a
flexibilização da lista partidária. Na realidade, chegou a propor duas diferentes formas de lista flexível.
116 Como já se viu, o deputado Miro Teixeira também apresentou a EMP nº 336, propondo o voto distrital
misto a partir de 2010.
117 O mesmo que, na discussão da matéria, se havia declarado tão contrário à reforma proposta por intermédio
do PL nº 1210/2007, sobretudo a lista fechada, que estava disposto a enfrentar a Comissão de Ética de seu
partido.
118 Mais tarde, o deputado Reginaldo Lopes veio a apresentar a EMP nº 314, propondo a lista flexível.
119 Como se viu, o deputado Renildo Calheiros já tinha apresentado a EMP nº 54, propondo a lista fechada a
partir de 2012.
120 Como se observou, o deputado Cândido Vaccarezza já havia apresentado a EMP nº 22, propondo a
supressão da lista fechada.
121 Como se viu, o deputado Reginaldo Lopes já tinha apresentado a EMP nº 167, propondo a implantação da
lista fechada somente se referendada pelo povo.
151
(EMP nº 243), Paulo Teixeira (EMP nº 301) e Iriny Lopes (EMP nº 319), do PT; José
Fernando Aparecido de Oliveira, do PV (EMP nº 269); Humberto Souto, do PPS (EMP nº
339); Chico Alencar, então líder da bancada do PSOL (EMP nº 90); Rita Camata (EMP nº
9), do PMDB;123
Bonifácio de Andrada (EMP nº 13),124
Claudio Diaz (EMP nº 223) e Luiz
Carlos Hauly (EMP nº 239), do PSDB; e Jovair Arantes, líder da bancada do PTB (EMP nº
337), propuseram a flexibilização da lista partidária ou a adoção de alguma forma de lista
flexível (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das emendas).
O financiamento de campanha exclusivamente público foi outro item bastante
controverso da reforma política proposta pelo PL nº 1210/2007. Propuseram sua supressão
pura e simples os deputados Cândido Vaccarezza, do PT (EMP nº 22), Otavio Leite, do
PSDB (EMP nº 108), e Gervásio Silva, então do DEM hoje do PSDB (EMP nº 120) (cf.
Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das emendas).
Os deputados Flávio Dino, do PCdoB (EMP nº 103), Roberto Britto (EMP nº 200)
e João Leão EMP nº 246, do PP, propuseram a implantação futura e/ou dependente de
referendo popular do financiamento de campanha exclusivamente público (cf. Ficha de
Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das emendas).
Finalmente, a flexibilização do financiamento público de campanha foi proposta
pelos deputados Humberto Souto, do PPS (EMP nº 341); Carlos Zarattini (EMP nº 32) e
Domingos Dutra (EMP nº 39 e EMP nº 43), do PT; e Léo Vivas, do PRB (EMP nº 159) (cf.
Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das emendas).
Por último, o outro item da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007
que veio a ser objeto de significativa quantidade de emendas foi a cláusula de desempenho
eleitoral. Nos moldes da proposta original, somente teriam direito a funcionamento
122
O deputado Virgílio Guimarães também apresentou a EMP nº 206, propondo que esta e qualquer outra
alteração na legislação eleitoral somente fossem implantadas se referendadas pelo povo.
123 Hoje integrante da bancada do PSDB.
124 Como se observou, o deputado Bonifácio de Andrada também apresentou a EMP nº 17, propondo uma
combinação de proporcionalismo de lista fechada com circunscrições eleitorais menores dos que as atuais.
152
parlamentar os partidos que, a cada eleição para a Câmara dos Deputados, houvessem
obtido ao menos 2% dos votos apurados nacionalmente. Os deputados Renildo Calheiros
(EMP nº 47) e Vanessa Grazziotin (EMP nº 263), do PCdoB; Luiza Erundina, do PSB
(EMP nº 123); Pepe Vargas, do PT (EMP nº 95); Chico Alencar, então líder da bancada do
PSOL (EMP nº 81 e EMP nº 82); e João Almeida, do PSDB (EMP nº 182), propuseram a
supressão de toda e qualquer cláusula de desempenho eleitoral ou de barreira ao
funcionamento parlamentar (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores
das emendas).
O aumento da percentagem mínima de votação ou do desempenho eleitoral
necessário ao funcionamento parlamentar foi proposto pelos deputados Julio Delgado, do
PSB (EMP nº 27), Magela, do PT (EMP nº 228), e Miro Teixeira, então líder da bancada
do PDT (EMP nº 214) (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros Teores das
emendas).
Por derradeiro, os deputados Renildo Calheiros, então líder da bancada do PCdoB
(EMP nº 48),125
e Luiz Carlos Busato, do PTB (EMP nº 197), propuseram a redução da
porcentagem ou do desempenho (cf. Ficha de Tramitação do PL nº 1210/2007 e Inteiros
Teores das emendas).
Observe-se que, em que pesasse ao partido ter fechado questão e a bancada se haver
mantido relativamente coesa a favor da reforma política proposta por intermédio do PL nº
1210/2007, deputados do PCdoB apresentaram emendas visando à supressão de toda e
qualquer restrição à possibilidade de os partidos se coligarem nas eleições, bem como à
supressão ou à redução da barreira proposta ao funcionamento parlamentar das legendas, o
que se pode explicar pelo pequeno porte da agremiação comunista e por sua baixa
representatividade nacional. Como se viu, a bancada do PCdoB na Câmara não possui
qualquer representante do Centro-Oeste e é predominantemente nordestina. Além disso, o
deputado Flávio Dino apresentou emendas no sentido de adiar a implantação tanto da lista
fechada (EMP nº 102) como do financiamento de campanha exclusivamente público (EMP
nº 103). Por sua vez, o deputado Renildo Calheiros, então líder da bancada, depois de
125
Como se viu, o deputado Renildo Calheiros já tinha apresentado a EMP nº 47, propondo a supressão de
toda e qualquer restrição ao funcionamento parlamentar.
153
também haver apresentado emenda visando ao adiamento da implantação da lista fechada
(EMP nº 54), apresentou emendas na direção de uma lista partidária mais flexível (EMP nº
329 e EMP nº 330). Tais movimentos podem ser compreendidos como tentativas de
viabilizar a aprovação desses dois itens da reforma política considerados centrais. Essa
também foi a percepção do assessor do PCdoB entrevistado:
Quando você fala de reforma política, 90% é a favor. Mas quando você vai tratar
de qual reforma, você não consegue o mínimo de consenso (...) Como é que você vai fazer
com que os deputados, que hoje se elegem dentro de uma determinada regra, possam se
sentir confortáveis de mudar a regra sem colocar em risco seu mandato. Então uma maneira
de dar mais tranquilidade, de que o processo de mudança na regra eleitoral tivesse um
período de transição, era fazendo com que a regra valesse apenas para o período futuro,
para que houvesse tempo de os partidos se ajustarem, se adequarem, e com isso criar as
condições pra aprovar a reforma (...) Uma tática pra viabilizar a reforma, porque a
correlação de forças não permitia que isso fosse feito de pronto (Entrevista realizada em
31/3/2010).
A interpretação do próprio deputado Flávio Dino foi no mesmo sentido:
Logo na retomada do PL 1210, houve um fato inesperado e, na nossa opinião,
inusitado, que foi a mudança de posição do PSDB. O PSDB participou do entendimento
anterior e por motivos, a meu ver, fincados mais na conjuntura política, no interesse de
formar um campo político... O PSDB, na verdade, constituiu naquele momento a coluna
vertebral do processo de resistência do PL 1210, aglutinando em torno de si o PP, o PTB e
o PR. Isso fez com que nós tivéssemos de um lado, convictamente a favor da reforma, o
DEM, o PT e nós, o PCdoB. Um quadro de muita divisão nos demais partidos. Eram
basicamente DEM, PT e PCdoB tentando conduzir o processo. O PMDB e o PSB muito
divididos em torno dessas duas teses centrais [lista fechada e financiamento de campanha
exclusivamente público]. E o PDT contra, representado na época pelo Miro [Teixeira]. Em
razão da mudança de opinião do PSDB, a nossa maioria escapou por entre os dedos. Então
nós precisávamos reconstruir a maioria. E o elemento que nós procuramos apresentar para
reconstruir a maioria foi exatamente a criação de... Na verdade um duplo movimento: um
que eu fiz intensamente de um modo quase solitário a partir de um certo momento, que foi
a apresentação de modelos mistos, tentativa de conjugar financiamento público com lista
aberta, tentativa de adotar a chamada lista fechada móvel ou lista móvel, lista flexível.
Então essa uma tentativa de construir uma maioria. E de outro lado, no mesmo sentido, um
154
movimento paralelo criando regimes de transição, alongados, que pudessem quebrar
resistências, fundados mais no imediatismo. Já se imaginava então que isso iria refletir
imediatamente na eleição municipal de 2008 e havia cinquenta, sessenta pré-candidatos a
prefeito naquele momento em 2007 entre os deputados. Então foi essa a razão: foi a
necessidade de... o desejo de construir uma maioria política, em razão da mudança de
orientação do PSDB (Entrevista realizada em 11/5/2010).
Membros da bancada do PDT, coerentemente com a oposição que até então vinham
fazendo à reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, apresentaram emendas
visando à supressão da lista fechada ou a sua substituição pelo voto distrital ou à
submissão da lista fechada a consulta popular. O deputado Miro Teixeira, então líder da
bancada, na contramão, apresentou emenda no sentido de aumentar a barreira ao
funcionamento parlamentar das legendas. No julgamento do assessor do PDT entrevistado,
essa questão da lista, é o espírito de corpo do Parlamento. Ninguém quer saber de lista,
porque acha que a lista acaba beneficiando as cúpulas partidárias e os deputados ficam de
fora, perdem o poder por isso.
(...)
O Miro é um parlamentar que não tem doutrina. Ele é um homem que defende a
instituição, a democracia e tudo. Mas ele não tem um corte ideológico muito nítido. As
posições dele são meio erráticas. Nessa cláusula de barreira, por exemplo, isso aí ia
prejudicar o PDT, porque o PDT, também pragmaticamente, era contra essa cláusula de
barreira, porque ele podia não voltar. Apesar de o partido tradicionalmente ter preenchido
todas as quotas, mas na última quota ele quase não veio (...) Nesse caso aí o PDT era
contra, apesar de ser a favor da reforma no todo. Não dizia isso publicamente, mas era
contra, porque o partido podia não voltar. Corria o risco de ser banido legalmente
(Entrevista realizada em 29/3/2010).
Na verdade, como se observou no Capítulo 2, o deputado Miro Teixeira é crítico do
que ele chama, no trecho da entrevista ali reproduzido, de ―multipartidarismo exacerbado‖.
Em outra passagem da mesma entrevista, ele se refere ao sistema partidário brasileiro nos
seguintes termos: ―Um sistema presidencialista suprapartidário, over, supra, não sei dizer,
multipartidário, né? – não há um pluripartidarismo; há um exagero enorme de partidos
políticos‖ (Entrevista realizada em 6/5/2010).
155
Da mesma forma, em harmonia com a oposição menos coesa até então feita à
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, integrantes da bancada do PSB
apresentaram emendas visando à supressão da lista fechada e da cláusula de desempenho
eleitoral ou de barreira ao funcionamento parlamentar. O deputado Julio Delgado, no
contrafluxo, apresentou emenda no sentido de aumentar ainda mais a barreira ao
funcionamento parlamentar (EMP nº 27).
De igual modo, a bancada do PT seguia comportando-se de maneira pouco coesa,
sem embargo de haver fechado questão a favor da reforma política proposta por intermédio
do PL nº 1210/2007. Deputados petistas apresentaram emendas alterando todos os
principais itens da reforma. Mais interessantemente, apresentaram emenda para suprimir
três desses itens: a lista fechada, o financiamento de campanha exclusivamente público e a
cláusula de desempenho eleitoral. É verdade que o deputado Luiz Sérgio, então líder da
bancada, como se viu, apresentou emenda com a intenção de sanear o vício de
inconstitucionalidade de que supostamente padecia a proposta original de restrição das
coligações (EMP nº 345). É também verdadeiro que o deputado Cândido Vaccarezza, atual
líder do governo, depois de ter apresentado emenda visando à supressão da lista fechada
(EMP nº 22), perto do fim da fase de discussão apresentou emenda no sentido de
flexibilizar a lista partidária (EMP nº 344) e, assim, viabilizar a reforma política. O próprio
deputado Domingos Dutra, que inicialmente se havia mostrado tão intransigentemente
contrário à reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007 a ponto de se declarar
disposto a enfrentar a Comissão de Ética de seu partido, revelava-se então pronto a aceitar
uma implantação futura da lista fechada (EMP nº 41) e uma forma flexibilizada do
financiamento público de campanha (EMP nº 39 e EMP nº 43). Enfim, os petistas pareciam
evoluir para um comportamento um pouco menos incongruente.
Integrantes da bancada do PV, bancada que também se vinha mostrando pouco
coesa em relação à reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007,
apresentaram emendas objetivando tanto a supressão da lista fechada quanto sua
substituição por uma lista partidária mais flexível.
A bancada do PPS parecia estar trilhando um caminho oposto ao da bancada
petista: de uma posição menos incongruente para uma mais inconsistentemente favorável à
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007. Ao mesmo tempo em que votou,
156
juntamente com outros três integrantes da bancada, perfazendo 31% dos presentes, contra o
encerramento da discussão, portanto posicionando-se ao lado dos que eram contra a
reforma proposta, o deputado Humberto Souto apresentou emendas propondo a
flexibilização tanto da lista partidária (EMP nº 339) como do financiamento público de
campanha (EMP nº 341), com o aparente fim de viabilizar esses dois itens mais centrais da
reforma.
Entre as menos incongruentes em torno da reforma política proposta por intermédio
do PL nº 1210, figurava a bancada do PSOL. Seu líder, o deputado Chico Alencar,
apresentou emendas no sentido de flexibilizar a lista partidária (EMP nº 90) e suprimir toda
e qualquer barreira ao funcionamento parlamentar (EMP nº 81 e EMP nº 82). Esta última
proposta se pode explicar pelo pequeno porte do partido e por sua baixa representatividade
nacional. Como se observou, os únicos três deputados integrantes da bancada do PSOL
representam apenas o Sudeste e o Sul.
A bancada do PMDB, até hoje a maior entre todas as bancadas partidárias da
Câmara, também vinha superando todas as demais em indefinição quando o assunto era a
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007. Curiosamente, os deputados
peemedebistas foram proporcionalmente os que menos se pronunciaram nos debates no
Plenário e os que uma quantidade menor de emendas apresentaram, pelo menos em relação
aos principais itens da reforma proposta. A emenda apresentada pela deputada Rita
Camata, hoje integrante da bancada do PSDB, visava à flexibilização da lista partidária
(EMP nº 9). Na avaliação do assessor do PMDB entrevistado,
o Plenário não é o palco que a maioria dos parlamentares do PMDB tem o maior interesse.
A atuação das lideranças do PMDB no Plenário é algo que chama a atenção. Os líderes têm
uma atuação muito fraca. No caso do PMDB, a grande maioria da bancada, ela atua aqui
voltada para os interesses da base, leia-se prefeitos. Dentro do Plenário ou no processo
legislativo, eu diria que na bancada do PMDB tem um número muito pequeno de
deputados interessados no processo legislativo. Cê teria o Ibsen [Pinheiro], que é
interessado no processo legislativo, Colbert Martins. Cê teria o Eduardo Cunha. No grupo
do Eduardo Cunha, Geraldo Pudim. Ou alguns parlamentares ligados a grupos, classes.
Poucos deputados eleitos pelo PMDB. Por exemplo, os dois delegados que saíram
defendem interesses corporativistas, [Marcelo] Itagiba e Laerte Bessa. Você tem alguns
157
deputados com atuação parlamentar, mas a grande maioria, eu não tenho dúvida, agem
como vereadores federais (...) Aqui a grande maioria segue a orientação do líder. Por quê?
Porque aquela atuação ali é atividade-meio, não é atividade-fim para ele (...) Por ter uma
liderança fraca, a atuação no Plenário do PMDB é fraca. Às vezes não tem quem oriente a
bancada, quem encaminhe uma votação. Por quê? Porque o grande interesse da bancada
não é o processo legislativo. É só dá uma analisada no tipo de assessoria que os
parlamentares mantêm nos gabinetes. A grande maioria não tem um assessor pra cuidar
tecnicamente dos projetos, pra analisar os projetos, mas em compensação tem dois, três
funcionários, às vezes pessoas que entendem muito de orçamento, pra acompanhar os
projetos, principalmente as medidas provisórias de crédito extraordinário, que passam pelo
Congresso, e pra analisar o orçamento, pra saber onde tá empenhando, onde não tá, onde
tá liberando, onde tá pagando (Entrevista realizada em 29/4/2010).
Os tucanos, que inicialmente tinham fechado questão a favor da reforma proposta
por meio do PL nº 1210/2007 e depois vieram a mudar de posição, continuavam revelando-
se relativamente pouco coesos quanto à matéria. Em que pesasse a haverem apresentado
emendas visando à supressão dos principais itens da reforma proposta, integrantes da
bancada do PSDB, na contramão, propuseram uma combinação de proporcionalismo de
lista fechada com circunscrições eleitorais menores (deputado Bonifácio de Andrada –
EMP nº 17),126
assim como uma flexibilização da lista partidária (inclusive o mesmo
deputado Bonifácio de Andrada – EMP nº 13), com a aparente finalidade de viabilizar
alguma mudança no sistema eleitoral.
Entre as maiores, a bancada do PP era a que se vinha revelando um pouco menos
incongruente em sua oposição à reforma política proposta por intermédio do PL nº
1210/2007. Juntamente com os peemedebistas e talvez pela mesma razão, os integrantes da
bancada do PP estavam proporcionalmente entre os que menos se pronunciaram nos
debates no Plenário e os que a menor quantidade de emendas apresentaram, pelo menos em
relação aos itens principais da reforma proposta. As duas emendas apresentadas, de autoria
dos deputados Roberto Britto (EMP nº 200) e João Leão (EMP nº 246), visavam, ambas, à
126
O deputado Antonio Carlos Mendes Thame, como se viu, também propôs o redimensionamento das
circunscrições eleitorais, mas com a manutenção do sistema proporcional atual (EMP nº 93).
158
implantação futura, a depender de referendo popular, tanto da lista fechada como do
financiamento de campanha exclusivamente público.
A bancada do PR vinha ganhando consistência em sua oposição à reforma política
proposta por meio do PL nº 1210/2007. O deputado Luciano Castro, seu então líder,
apresentou emenda no sentido de suprimir tanto a restrição ao funcionamento das
coligações quanto a instituição das federações de partidos (EMP nº 158). Não se pode
olvidar que, conquanto seja uma das maiores bancadas da Câmara, mais da metade da
bancada do PR é feita de deputados eleitos sob outras legendas.
O único representante do PRB à época, o deputado Léo Vivas, apresentou emendas
visando à supressão da lista fechada (EMP nº 161) e à flexibilização do financiamento
público de campanha (EMP nº 159). Como se observou, os seis demais integrantes da atual
bancada do PRB foram todos eleitos sob outras legendas.
A bancada do PSC, malgrado um de seus integrantes figurar como autor do PL nº
1210/2007, até então vinha mostrando certa coesão em sua oposição à reforma política
proposta por intermédio daquela proposição. Como se viu, dos dezesseis deputados que
atualmente integram aquela bancada partidária, sete foram eleitos sob outras legendas. Os
membros da bancada do PSC não apresentaram qualquer emenda relacionada aos
principais itens da reforma proposta.
Integrantes da bancada do PTB – uma das mais ostensivas em sua oposição à
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, oposição muitas vezes e de muitas
maneiras manifestada no Plenário pelo deputado Arnaldo Faria de Sá127
– apresentaram
emendas visando à supressão da lista fechada (deputado Paes Landim – EMC nº 45) e à
redução da barreira ao funcionamento parlamentar (deputado Luiz Carlos Busato – EMC
nº 197). O líder Jovair Arantes curiosamente apresentou emenda no sentido de flexibilizar
127
Ao longo do processo de apreciação do PL nº 1210/2007 pelo Plenário, o deputado Arnaldo Faria de Sá se
destacou pelos pronunciamentos contrários à matéria e pelos reiterados recursos a medidas obstrucionistas,
tais como questões de ordem seguidas de recursos contra as decisões do presidente da Câmara, requerimentos
de retirada de pauta, de adiamento de votação e de verificação de votação (cf. Ficha de Tramitação do PL nº
1210/2007).
159
a lista partidária (EMP nº 337), com o aparente fim de viabilizar alguma alteração no
sistema eleitoral.
Por fim, conquanto um de seus integrantes, o deputado Ronaldo Caiado, tenha sido
nada mais e nada menos que o próprio relator não só do PL nº 1210/2007, mas também da
Comissão Especial da Reforma Política que deu origem àquela proposição, e malgrado seu
então líder, o deputado Onyx Lorenzoni, haver-se destacado na defesa da reforma política
proposta por intermédio do PL nº 1210/2007, a bancada do DEM, em seu conjunto, vinha
revelando-se pouco coesa em torno da matéria. Emblematicamente, deputados democratas
apresentaram emendas propondo, como alternativa à lista fechada, o voto distrital
(deputada Solange Amaral – EMP nº 34) e a supressão do financiamento de campanha
exclusivamente público (deputado Gervásio Silva, hoje integrante da bancada do PSDB –
EMP nº 120), os dois itens mais centrais da reforma proposta.
Encerrados, pois, a fase de discussão e o prazo para emendamento, em 27 de junho
de 2007 o deputado Ronaldo Caiado, do DEM, relator da matéria, apresentou parecer pela
rejeição de algumas emendas e aprovação de outras, na forma de substitutivo por ele então
oferecido. Na realidade, de todas as emendas relacionadas aos principais itens da reforma
proposta por meio do PL nº 1210/2007, o deputado Ronaldo Caiado somente acolheu as
que propunham a supressão da cláusula de desempenho eleitoral ou de barreira ao
funcionamento parlamentar:
(...) aprovamos as emendas que propõem a retirada da nova redação proposta para
o art. 13 da Lei dos Partidos Políticos, a chamada cláusula de desempenho.
(...)
Dessa forma, a nosso sentir, as emendas que procuram instituir diferentes
modalidades de lista flexível desvirtuam as vigas mestras do projeto. Reintroduzem, pela
porta dos fundos, a competição individual entre os candidatos proporcionais.
(...)
A possibilidade de consulta popular é proposta por algumas emendas. Embora a
idéia nos parece simpática a um primeiro exame, forçoso reconhecer que, para sua adoção,
necessário se faz a apresentação de projeto de decreto legislativo, conforme exige o art. 49,
160
inciso XV da Constituição Federal. Ademais, por se tratar de tema de tal complexidade, a
matéria não é daquelas que se prestam a uma consulta popular, devendo ser analisada em
profundidade pelos representantes do povo.
Outro tema que mereceu especial interesse dos ilustres Pares foi a tentativa de
restaurar as coligações nas eleições proporcionais. No entanto, conforme cabalmente
demonstrado no curso das discussões da Comissão Especial, a aplicabilidade simultânea
das listas preordenadas fechadas e das coligações nas eleições proporcionais mostra-se
totalmente inexeqüível, desnaturando a essência do sistema proporcional.
(...)
O chamado presidencialismo de coalizão, aqui praticado pela necessidade de
agregar múltiplos partidos na formação de uma maioria parlamentar de apoio ao governo,
tem-se efetivado em detrimento do desempenho, pelas agremiações, de importantes outros
papéis, sobretudo na interface com o eleitorado. Os índices de comportamento disciplinado
dos partidos da chamada ―base do governo‖, a centralização do poder no âmbito do
Congresso e os poderes de agenda do Executivo e seu poder de decreto, por via das
medidas provisórias, têm permitido a aprovação de boa parte das propostas
governamentais, que avassalam a pauta deliberativa parlamentar.
Mesmo confinando nossa visão aos mecanismos legais, que permitem a
governabilidade – deixando, pois, de lado os que se fazem à margem da lei – não se pode
omitir o cataclísmico das trocas de partido que temos presenciado nos últimos anos.
Deflagram-se mal encerradas as eleições, e prosseguem ao longo das legislaturas, bem
ilustrando a anomalia no sistema partidária no tocante a outras essenciais funções dos
partidos dentro do sistema político democrático (...) A presente conexão entre os sistema
eleitoral, partidário e de decisão legislativa restringe os vínculos entre eleitor e
representante às trocas clientelísticas, em que o partido é figura secundária (...)
Ora, o cerne da proposta da Comissão Especial, consensual até poucos dias atrás, é
a articulação entre o mecanismo das listas fechadas e o financiamento público (...)
Reforçar os partidos também na fase eleitoral é o escopo da votação em listas
partidárias preordenadas. A lista preordenada permitirá aos partidos dar destaque às
lideranças que melhor expressem os valores propugnados pela agremiação e os interesses
que se dispõe a representar e defender.
161
(...)
A proposta de financiamento público exclusivo se articula com a das listas
partidárias preordenadas, condição para que ele seja implantado (...) No Brasil, já
conseguimos assegurar o direito igual ao voto, mas o peso da riqueza privada é um claro
impedimento a que o direito de ser votado seja também garantido igualmente a todos (...)
(Parecer do Relator às Emendas de Plenário).
Em vista disso, o deputado Flávio Dino, do PCdoB, apresentou uma emenda
aglutinativa resgatando propostas anteriores de constituição das coligações na forma de
federações de partidos e de flexibilização da lista partidária e do financiamento público (cf.
Inteiro Teor da EMA nº 1). Tratava-se, nas palavras do próprio deputado Flávio Dino, de
uma
tentativa de salvar o processo. O deputado Ronaldo Caiado fez um excelente trabalho, não
há dúvida. A questão é que ele estava, na minha percepção, naquele momento preso aos
acordos da legislatura anterior. Só que esses acordos foram desmontados por dois motivos:
o primeiro, se cuidava de outra legislatura; o segundo, o PSDB, que era o partido influente
– e é, obviamente –, havia mudado de opinião. Então essa inflexibilidade era adequada na
52ª legislatura, mas na 53ª ela era totalmente inviável. Daí porque eu fiz esse esforço de
apresentar aglutinativas. Mas havia uma concordância tácita do deputado Caiado. Ele sabia
dessa movimentação. E havia também uma concordância do líder do DEM, o deputado
Onyx Lorenzoni (...) Havia um núcleo, se formou ali um núcleo. Quando se configurou
esse quadro de resistência, surpreendente para muitos, se definiu ali um núcleo, mais ou
menos engajado na tentativa de salvar alguma coisa desse carro-chefe: financiamento
público e lista fechada. E o próprio relator, deputado Caiado, fazia parte disso, embora ele
dissesse: ―Olha, eu não vou fazer porque eu já dei meu parecer‖. Quer dizer, como se ele
tivesse preso, se sentisse preso a sua própria obra, digamos assim. Mas ele participava das
reuniões, ele, o deputado Lorenzoni com grande presença, o deputado Ibsen Pinheiro...
algumas pessoas do PT. Havia ali um núcleo de cinco, seis pessoas que tentavam naquele
instante viabilizar a aprovação da lista fechada e do financiamento público de campanha
(Entrevista realizada em 11/5/2010).
O próprio deputado Ronaldo Caiado admitiu o erro de avaliação:
162
O PSDB se alinhou conosco na Comissão Especial. Ele votou conosco na
Comissão Especial. Na hora da votação do texto do financiamento público, ele votou
contrário (...) A Comissão Especial deveria ser o retrato o que cada partido deveria ter
proporcionalmente nas votações em Plenário (...) Na Comissão Especial, parece que nós
tivemos 27 votos favoráveis e 8, 9 votos contra, mais ou menos assim, não me lembro
mais. Se você trouxer esse percentual aqui para os partidos, nós seríamos vitoriosos (...) O
que nos derrotou foi a posição do PSDB. As outras posições, eram posições esperadas,
porque nós já tínhamos um radiografia na Comissão Especial (Entrevista realizada em
5/5/2010).
Na sessão extraordinária seguinte, no mesmo dia, encaminharam a votação
contrariamente tanto ao substitutivo do relator como à emenda aglutinativa (EMA nº 1) e a
lista flexível nela resgatada, por eles apelidada de ―lista Frankstein‖, os deputados Pompeo
de Mattos, do PDT, e Lincoln Portela, do PR. Os deputados Henrique Fontana, do PT, e
Ibsen Pinheiro, do PMDB, encaminharam a votação favoravelmente à emenda aglutinativa
e à lista flexível. O pronunciamento do deputado Ibsen Pinheiro, em especial, reflete a
evolução por que passavam as bancadas partidárias na tentativa de ―salvar‖ a reforma
política:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, meu partido, o PMDB, foi autor de uma
proposta original, autorizada por dois terços da bancada, em votação secreta, em favor da
lista preordenada, a lista fechada plenamente. Esta era a posição do PMDB, do PT, dos
Democratas e de muitas Lideranças de outros partidos. Em homenagem ao Plenário,
evoluímos para outra posição. O argumento de que se estava sonegando ao eleitor a
oportunidade de definir a ordem dos eleitos nos levou a caminhar para a proposta, cujo
encaminhamento faço neste momento, e da qual o PMDB é co-autor, com o PT, os
Democratas, o PPS, o Partido Socialista e o PCdoB. Trata-se de uma proposta que se
constitui, na prática, numa homenagem ao Plenário. Foi este Plenário que manifestou às
Lideranças partidárias a necessidade de respeitar-se a tradição do voto individual. E se
produziu a proposta, que votaremos daqui a pouco, pela preferência que ora se encaminha.
Por esta proposta, Sr. Presidente, teremos um avanço absolutamente substancial: o voto
partidário, que todos os quadros políticos repetimos ser a essência do regime democrático,
uma vez que a democracia é o regime dos partidos. Mas este voto partidário haverá de
conjugar-se com o voto individual na escolha do seu candidato, constituindo, sim, uma lista
aberta, uma lista livre (...) Sr. Presidente, o País reclama uma reforma dos costumes
163
políticos e uma reforma do processo eleitoral. Este é um sentimento absolutamente
unânime. Embora este sentimento não nos diga exatamente qual é o teor da reforma
pretendida, ele nos diz claramente que não quer mais o quadro atual, não quer mais o
sistema de privatização do mandato, não quer mais o sistema da individualização da
política, mas da sua conjugação entre a representação individual, que se preserva, e a
representação partidária, que se constrói inovadoramente (...) (Notas Taquigráficas da
Sessão Extraordinária de 27/6/2007, 19h35min).
Na mesma sessão extraordinária, o deputado Henrique Eduardo Alves, líder do
então PMDB/PSC/PTC,128
requereu preferência para a votação da emenda aglutinativa
apresentada pelo deputado Flávio Dino, do PCdoB (EMA nº 1), em relação ao substitutivo
oferecido pelo deputado Ronaldo Caiado, do DEM, relator da matéria. O deputado
Ronaldo Caiado encaminhou a votação contrariamente ao requerimento de preferência. A
favor da preferência à emenda aglutinativa, além de seu próprio autor, o deputado Flávio
Dino, manifestou-se também o deputado Onyx Lorenzoni, o então líder da bancada do
DEM e o grande defensor da reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007:
Sr. Presidente, volto para tentar deixar claro o que está proposto nessa emenda
aglutinativa que o Deputado Flávio Dino construiu conosco (...)
Esta é a construção da fronteira necessária entre o público e o privado, e é a transição
possível (...) construímos uma mudança de cultura, um fortalecimento dos partidos e
estabelecemos um processo de identidade entre o que o partido propõe e o que o eleitor
deseja (...) Esse sistema permitirá o financiamento público exclusivo para as eleições
majoritárias (...) hoje, é useiro e vezeiro comprar, por meio do apoio financeiro, futuros
favores a que os detentores de cargos executivos, em grande parte, acabam se submetendo
(...) O financiamento público também atenderá a toda a campanha institucional da lista: o
programa de rádio e televisão, os materiais que os partidos farão, como a bandeira, a placa,
o adesivo. Há no texto a vedação de que qualquer dinheiro público possa ser transferido ao
candidato. Então, com todo o respeito, admiração e amizade que tenho pelo bravo
Deputado Ronaldo Caiado, não consigo encontrar nessa fórmula nenhuma brecha para uso
do dinheiro público ou para que ela encubra qualquer tipo de problema (...) E para
justamente evitar aquilo que o Deputado Ronaldo Caiado mencionou, a mistura do público
e privado, de maneira transparente, de mãos limpas, com clareza, nós, candidatos, iremos
128
Hoje PMDB/PTC.
164
buscar o financiamento privado tal como é feito hoje: com clareza, obedecendo a um limite
que se traduz na média das contribuições recebidas pelos Deputados eleitos na eleição
anterior (...) Portanto, esse sistema respeita, primeiro, a mudança de cultura; segundo, a
cultura brasileira do voto nominal, porque permite a escolha do candidato para,
eventualmente, alterar a lista partidária (...) (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária
de 27/6/2007, 19h35min).
Os líderes do então PSB/PDT/PCdoB/PMN/PHS/PRB,129
do PV, do PSDB, do PP,
do PR e do PTB orientaram suas bancadas a votar ―não‖ à preferência da emenda
aglutinativa (EMA nº 1) em relação ao substitutivo do relator, ao passo que orientaram as
respectivas bancadas a votar ―sim‖ os líderes do PCdoB,130
do PT, do PPS, do PSOL, do
então PMDB/PSC/PTC131
e do DEM. O líder da minoria liberou as bancadas de oposição.
O mesmo procedimento adotou o líder do governo em relação às bancadas governistas, ao
argumento de que ―caberá aos partidos definir a situação política do País‖ (Notas
Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 27/6/2007, 19h35min).
O requerimento de preferência para a votação da emenda aglutinativa (EMA nº 1)
em relação ao substitutivo do relator foi rejeitado por 240 a 203. De um total de 443
deputados, 39 votaram contrariamente à orientação das respectivas lideranças: três do PDT
(14% do total de votantes daquele partido), um do PSB (4%), um do PT (1%), cinco do
PPS (50%), dezessete do PMDB (22%), dois do PSDB (4%), um do PSC (20%) e nove do
DEM (18%). Considerando que o índice médio de incongruência naquela votação foi 17%,
pode-se dizer que as bancadas do PPS, do PMDB, do PSC e do DEM foram as que se
mostraram menos coesas àquela altura (cf. Lista de Votantes por Partido).
Ato contínuo, ainda na mesma sessão extraordinária, os deputados Luciano Castro,
então líder da bancada do PR, e Miro Teixeira, então líder da bancada do PDT, requereram
que o substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, relator da matéria, fosse votado em grupo
129
Atualmente PSB/PCdoB/PMN/PRB.
130 O PCdoB seguia, coerentemente, votando contra a orientação da liderança do bloco parlamentar que
integra, a favor da reforma política.
131 Hoje PMDB/PTC.
165
de artigos, figurando em primeiro lugar os artigos relacionados à lista fechada. Fruto de
acordo, o requerimento foi aprovado em votação simbólica (cf. Notas Taquigráficas da
Sessão Extraordinária de 27/6/2007, 19h35min).132
Submeteu-se, então, a votação o primeiro grupo de artigos do substitutivo do
relator, os artigos relacionados à lista fechada. Orientaram suas bancadas a votar
contrariamente à lista fechada os líderes do então PSB/PDT/PCdoB/PMN/PHS/PRB,133
do
PV, do PSDB, do PP, do PR e do PTB, ao tempo que orientaram as respectivas bancadas a
votar favoravelmente à lista fechada os líderes do PCdoB,134
do PT, do PSOL e do DEM.
132
Segundo o deputado Miro Teixeira, sua proposta aqui tinha caráter obstrucionista. Mas o que dizer dos
demais líderes, notadamente aqueles que eram favoráveis à reforma? Eis a interpretação do próprio deputado
Miro Teixeira: ―E eu tinha uma posição que cada vez eu me convenço mais. E ao longo dos trabalhos eu
participo desse mecanismo de obstrução, que é a votação por grupos de artigo. Isso é uma forma... Eu queria
ganhar tempo, porque ganhando tempo eu inviabilizava, em último caso, a aplicação naquela eleição. E daria
tempo depois de rever isso aí quando tudo estivesse mais esclarecido. Porque houve – eu participei disso, não
vou dizer que eu fui o autor –, houve uma mudança de posicionamento até de opinião pública, que era a favor
da reforma política. Por onde você ia, se ouviu falar da reforma política. E o pior castigo que se pode dar a
alguém que fale de reforma política é tempo, é dar tempo pra pessoa dizer que reforma pensa. ‗Tem duas
horas para explicar a sua reforma política.‘ Não tem conteúdo normalmente, como não tinha naquela época.
Naquela época, era mais um avanço da partidocracia que se organizou no Brasil. Os mandatos deixariam de
ser absolutamente representantivos do povo e o mandatário passaria a ser um sabujo do partido, porque as
burocracias partidárias é que diriam como seria o voto. E num país em que teve todas essas revelações do
comportamento das cúpulas partidárias, como se pode ver no processo do Mensalão. Ali estão as cúpulas
partidárias. Ali estão comprometimento de cúpulas partidárias, não de pessoas que foram comprometidas em
razão do seu mandato, mas das cúpulas partidárias. Bom, mas um passo seria, para completar, seria a cereja,
o voto em lista, que num sistema presidencialista, suprapartidário, over, supra, não sei dizer, multipartidário,
né? – não há um pluripartidarismo; há um exagero enorme de partidos políticos – teria tudo pra facilitar
todos os mecanismos de corrupção e de dominação sobre os resultados das votações antes que eles
ocorressem. Controle absoluto dos resultados das votações. Isso vale muito no mundo dos negócios. E o povo
perde, perde o direito da escolha do representante e perde porque seus próprios interesses não são... deixam
de ser prioritários‖ (Entrevista realizada em 6/5/2010).
133 Atualmente PSB/PCdoB/PMN/PRB.
134 A bancada do PCdoB seguia, coerentemente, votando contra a orientação da liderança do bloco
parlamentar de que faz parte aquele partido e a favor da reforma política.
166
Os líderes do PPS e do então PMDB/PSC/PTC135
, que até então vinham orientando suas
bancadas a votar a favor da reforma política proposta por meio do PL nº 121/2007,
resolveram finalmente liberá-las, no que foram acompanhados pelos líderes do governo e
da minoria (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 27/6/2007, 19h35min).
A lista fechada foi rejeitada por 252 a 181. Três deputados se abstiveram de votar.
De um total de 436 parlamentares, 66 votaram contrariamente à orientação de seus líderes:
quatro do PSB (18% do total de votantes daquele partido), dois do PT (3%), oito do PSDB
(16%), dois do PP (5%), um do PTB (6%) e nove do DEM (18%). Liberados pelas
respectivas lideranças, somente quatro deputados do PPS (40% do total de votantes
daquele partido) e 33 peemedebistas (43%) votaram favoravelmente à lista fechada.
Considerando que o índice de incongruência partidária naquela votação foi de 18%, pode-
se dizer que as bancadas do PSB, do PPS, do PMDB e do DEM foram as que, ao final,
revelaram-se menos coesas (cf. Lista de Votantes por Partido).
Em 4 de agosto de 2007, em uma derradeira tentativa de aprovar os demais itens –
já flexibilizados – da reforma política, rejeitou-se, por votação simbólica, o segundo grupo
de artigos do substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, do DEM, relator da matéria, e
retirou-se de tramitação a EMA nº 1 para, em seguida, submeter-se a votação a EAG nº 2,
emenda aglutinativa global apresentada pelo deputado Flávio Dino, do PCdoB, e elaborada
com a ajuda do próprio deputado Ronaldo Caiado, entre outros interessados. Por meio
dessa emenda aglutinativa global, propunham-se o financiamento exclusivamente público
somente para as eleições majoritárias e a proibição de integrar nova bancada partidária ao
parlamentar que, no curso do mandato, se desfiliasse ou fosse desfiliado do partido de
eleição (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 4/8/2007, 14h30min).
A EAG nº 2, porém, não pôde ser admitida em razão de conter matéria nova ou não
encontrada nem no projeto original nem nas muitas emendas a ele apresentadas,
irregularidade suscitada, em questão de ordem, pelo deputado Arnaldo Faria de Sá, do PTB
(cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 4/8/2007, 14h30min). Foi o
melancólico fim da reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007, um dos
135
Hoje PMDB/PTC.
167
raros casos de proposições que, submetidas ao Plenário da Câmara, não resultaram
aprovadas. Indagado quanto à intencionalidade do efeito, o deputado Flávio Dino
respondeu:
Eu tinha e tenho convicção que a emenda aglutinava era correta, que ela... dentro
evidentemente de uma certa interpretação regimental, porque o conceito regimental de
emenda aglutinativa é repleto de conceitos jurídicos indeterminados, né? Então eu tinha
convicção de que a emenda era regimental, como eu tenho até hoje. Na verdade ali foi um
gesto político – quando eu digo político não significa um juízo depreciativo –, foi um gesto
político do presidente Arlindo [Chinaglia]. Naquele momento, acho que ele já estava
convencido de que não ia adiante, que tava prolongando a agonia, que ia ficar o ônus
político pra ele, já que a tentativa de retomada foi patrocinada por ele. Foi ele que chamou
pra si, ele que assumiu, ele que coordenou nos momentos iniciais. E naquele instante, acho
que ele já via que não havia condições de aprovar um texto que fosse adiante viabilizado,
né? Um texto que fosse viável depois ser discutido no Senado. É interessante notar que
naquele instante havia também muita resistência dos chamados ―formadores de opinião‖,
de analistas, mundo acadêmico, editorialistas, jornalistas, que é um dos aspectos mais
peculiares e curiosos da reforma política. Quando ela não é feita, há um discurso desses
setores dizendo: ―O Congresso não faz porque não quer‖. E quando qualquer coisa é
pautada, essa qualquer coisa é objeto de críticas, na maioria das vezes, na minha avaliação,
disparatadas, como se houvesse aqui um amontoado de mal-intencionados ou ignorantes,
que não tivessem a menor noção do que seria uma verdadeira reforma política. A questão
que entre ter metafisicamente, idealmente, uma noção do que seria a reforma política e
viabilizá-la aqui concretamente, no mundo material, com todas as suas contradições, há
uma distância enorme. Naquele momento, havia um... Nós estávamos em minoria também
na sociedade. Não na sociedade, o povo. Porque o povo não acompanha o tema de reforma
política, um tema para iniciados. Infelizmente é um tema muito distante da maioria do
povo. Mas entre esses segmentos acadêmicos, jornalistas. Eu lembro de editoriais dizendo
que seria eleição indireta, que iria privar o cidadão do direito ao voto, que o financiamento
público seria desperdiçar dinheiro que poderia ir para o combate à fome, para construir
casa para o povo. E esse aspecto também, na minha avaliação, influiu nessa decisão do
presidente Arlindo (Entrevista realizada em 11/5/2010).
Ao longo de todo o processo de apreciação da reforma política proposta por meio
do PL nº 1210/2007, as bancadas do PSB, do PPS, do PMDB, do PSDB e do DEM foram
168
as que se mostraram menos coesas. No outro extremo, as bancadas que se revelaram menos
incongruentes em torno da matéria foram as do PCdoB, do PDT, do PSOL, do PR e do
PSC. As bancadas do PT, do PV, do PP e do PTB, em uma zona intermediária,
comportaram-se de forma mais ou menos inconsistente.
As poucas bancadas partidárias que até o fim se mostraram favoráveis à reforma
política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007, à exceção do DEM, comportaram-se
de modo relativamente coeso. Foram elas as bancadas do PCdoB, do PSOL e do PT – as
duas primeiras mais congruentemente do que a última –, todas bancadas de esquerda ou
centro-esquerda. Esse fato talvez se explique pela razão aduzida pelo então líder da
bancada do PT, deputado Luiz Sérgio, para justificar o fechamento de questão daquele
partido a favor da reforma proposta: os partidos de esquerda costumam preferir as ações
coletivas às individuais.136
Tal razão também explicaria por que pequenas bancadas
partidárias como as do PCdoB e do PSOL se dispuseram a votar a favor de uma reforma
política que, em seu conjunto, penalizaria as agremiações menores. Uma coisa parece
muito clara: os dirigentes do PCdoB, do PSOL e do PT sabiam e sabem que não poderão
sobreviver por muito tempo como partidos que privilegiam as ações coletivas em um
136
Para Anthony Giddens (2001 [1988]), o socialismo começou como um corpo de pensamento em oposição
ao individualismo; sua preocupação em desenvolver uma crítica ao capitalismo veio depois. Antes que ele
assumisse um significado específico com o surgimento da União Soviética, o comunismo se sobrepunha ao
socialismo na defesa do primado do social e do comunal. O socialismo foi primeiro que tudo, continua
Giddens, um impulso filosófico e ético, mas bem antes de Marx ele começou a assumir uma roupagem de
doutrina econômica. Foi Marx, entretanto, quem dotou o socialismo de uma teoria econômica elaborada. De
acordo com Marx, o socialismo se manteria em pé ou cairia por sua capacidade de produzir uma sociedade
que gerasse mais riqueza do que o capitalismo e de distribuir aquela riqueza de modo mais equânime. Se o
socialismo morreu, avalia Giddens, é precisamente porque falhou no cumprimento dessa dupla missão. O
socialismo no Ocidente foi dominado pela social democracia – socialismo moderado e parlamentarista,
construída com a promessa de consolidar o welfare state. Desde meados dos anos 1970s, bem antes da queda
da União Soviética, prossegue Giddens, a social democracia foi crescentemente desafiada por filosofias do
livre comércio, em particular pelo surgimento do thatcherismo ou reaganismo, genericamente descrito como
neoliberalismo. No julgamento de Giddens, todavia, a social democracia clássica ou a velha esquerda
continua defendendo o coletivismo e o igualitarismo, enquanto que o neoliberalismo ou a nova direita segue
indiferente às desigualdades.
169
sistema político que induz a um comportamento individualista, particularista, personalista
– enfim, antipartidário e antipolítico.
Como, então, explicar/compreender, de um lado, a ação das demais bancadas de
esquerda ou centro-esquerda, que se revelaram contrárias à reforma política, e, de outro, o
comportamento da bancada do DEM, que, sendo de direita ou centro-direita, mostrou-se
favorável à reforma, ainda que de forma pouco coesa?
Viu-se que tanto a bancada do PDT, mais consistentemente, como as bancadas do
PV, do PSB e do PPS, de maneira menos sólida, todas de esquerda ou de centro-esquerda,
votaram contrariamente à reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007. De
acordo com o assessor do PDT entrevistado, em que pesasse à direção do partido ser
favorável à reforma proposta, a bancada na Câmara era contra, e isso por razões bem
pragmáticas:
É o espírito de corpo do Parlamento. Ninguém quer saber de lista, porque acha que
a lista acaba beneficiando as cúpulas partidárias e os deputados ficam de fora, perdem o
poder por isso (...) Eu vou separar as coisas, a cúpula do partido e a sua bancada (...) A
bancada é contra, porque aquilo ali implicava sua própria sobrevivência (Entrevista
realizada em 20/3/2010).
Esse mesmo temor foi manifestado pelo deputado Miro Teixeira: ―Ora, como é que
seriam organizadas essas listas? Os mais submissos à frente, botando talvez um notável na
cabeça da lista e depois o pessoal que tem o contracheque do partido‖ (Entrevista realizada
em 6/5/2010).
O mesmo se pode dizer da pequena bancada do PV, integrada por deputados de
tradições políticas as mais diversas, como é o caso do deputado Sarney Filho, que já esteve
filiado à Arena, ao PDS/PP e ao PFL/DEM antes de aderir aos verdes: cada qual estava
mais preocupado em garantir a própria sobrevivência política. Na avaliação do assessor
entrevistado,
o tema a reforma política, com o perdão da palavra, é alguma coisa que cada um conhece
muito bem e sabe onde que aperta, onde que afrouxa, aonde que seu umbigo pode ir, aonde
não pode. Eu diria que a coisa se capilariza a ponto de as questões regionais, paroquiais, até
as questões que envolvem seu bairro, seu distrito, passam a ser muito mais relevantes do
170
que qualquer questão nacional, partidária. Então essa característica do tema faz com que,
num primeiro momento, você não tenha bancada, não tenha nem partido; você tenha a
realidade e lógica do parlamentar. Então, quando se falam os vários temas que à época
eram elencadas – lista aberta, lista fechada, financiamento público, financiamento privado
–, todos esses temas são muito sensíveis a cada um deles. E nessa hora, cada um vê a sua
realidade (Entrevista realizada em 14/4/2010).
Além disso, não se pode esquecer que o PV foi um dos partidos que, na presente
legislatura, mais ganharam deputados de outras legendas. Ou seja, o PV só lucrou com o
atual sistema eleitoral-partidário.
Já as bancadas do PSB e do PPS estavam mais seriamente divididas em torno da
reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007. Uns poucos integrantes da
bancada do PSB, como a deputada Luiza Erundina, ao longo de todo o processo se
posicionaram a favor da reforma proposta. A maioria, porém, nas palavras do assessor
entrevistado, estava
voltada a sua realidade lá, dentro do partido lá em seus estados (...) É uma coisa bem do
parlamentar mesmo. Cada um sabe onde está apertando seu calo... Cláusula de barreira,
coligações... (...) A discussão dela [Luiza Erundina], como a dos outros que defenderam
veementemente essa questão, tava além disso. Não tava muito focada nessa questão da sua
sobrevivência (...) Vai muito da capacidade e da condição de cada parlamentar – no caso,
exemplifico com a própria deputada Luiza Erundina – de sair um pouco desse processo e
ver como isso pode trazer mais benefício, ainda que seu seja alijado do processo a
posteriori (...) Eu acho que essa questão da sobrevivência foi o foco mesmo (Entrevista
realizada em 12/4/2010).
Não se pode olvidar que o PSB vem sendo sucessivamente controlado por
personalidades como Jânio Quadros, Miguel Arraes e Anthony Garotinho, e que a bancada
daquele partido é a que, atualmente, possui o maior número relativo de deputados eleitos
por votos próprios. Os socialistas não parecem, pois, estar muito incomodados com o
personalismo a que induz o sistema eleitoral-partidário vigente.
A bancada do PPS, que, juntamente com as bancadas do PSDB e do DEM, tem
perdido deputados para bancadas governistas, no início, embora pouco coesamente, vinha
posicionando-se favoravelmente à reforma política. Ao final, mostrou-se tão severamente
171
fragmentada que seu líder, o deputado Fernando Coruja, viu-se forçado a liberá-la.
Também aqui a maior parte da bancada revelou-se finalmente muito mais preocupada com
a própria sobrevivência política: 60% votaram contra a reforma. No julgamento do
assessor do PPS entrevistado,
a questão realmente foi a lista fechada. E a lista por causa do presidente do partido, que era
considerado... Aquele problema: ―Espera aí, se o Roberto Freire for o que vai indicar o
deputado, nós...‖ Por exemplo, o Humberto Souto, que tem uma história de líder do
[Fernando] Collor [de Mello] e tal, seria um dos primeiros a não serem beneficiados nessa
lista fechada (...) A maioria dos deputados, eles são contra. Eles querem ter o direito deles
colocarem... não ser aquela coisa centralizadora. ―O partido pensa assim, então eu vou ser
banido se eu falar diferente disso‖ (...) Foi várias vezes discutido na executiva do partido e
não foi uma coisa que o partido disse: ―Vai ter que votar desta forma‖ (...) Como eu te
disse, a gente só tem o Augusto [Carvalho] de DNA comunista. O resto vem depois, do
PPS. As origens deles não são de esquerda (...) O Humberto Souto especialmente, que era
da Arena, PDS, foi líder do Collor, lutou contra o impeachment e agora tá com a gente no
PPS (...) A questão estaria na lista. Porque eles imaginaram: ―Pronto, só vão ter
dinossauros, né?‖ O esqueleto do Partido Comunista ainda é o mesmo, né? O Roberto
Freire e companhia limitada, que vêm desde lá atrás. Então todos eles, inclusive o Raul
Jungmann, que é um cara superpartido, todos eles tiveram receio.
(...)
A lista, o tempo todo a gente trabalhou com ideia – o líder falava isso pros
deputados e o partido falava isso em suas reuniões da executiva e tal – que a lista estava
ligada ao financiamento público. Então, uma coisa ética. Ela vai contra a compra do voto.
Porque o sujeito não vai precisar vender o seu nome pro empreiteiro (...) Teoricamente, nós
não vamos ter caixa-dois, nós não vamos ter que depois pagar a nossa campanha. Porque
nós vamos todos entrar aqui, teoricamente, ideologicamente (...) Isso só tem como você
trabalhar com a lista fechada (...) Mas como temos um bancada super-heterogênea, criou
esse problema (...) Bom, tudo bem. Todo mundo a fim do financiamento público. Porque...
o rico ganha e o pobre entra já devendo pra pagar até a quinta geração (...) Quando a lista
fechada, ela foi colocada individualmente. Ela não foi colocada junto com o financiamento
público (...) Então não tinha mais como uma coisa estar ligada à outra (...) Poderia passar a
lista fechada e não o financiamento público (...) O calcanhar de Aquiles da reforma política
é a lista fechada. A não ser que tivesse uma ligação com o financiamento público. Aí os
172
deputados se tornam mais flexíveis. Mas nenhum deles queria que um presidente de um
partido, seja lá qual ele for, decida quais seus deputados que podem e ponto (Entrevista
realizada em 5/4/2010).
Essa também foi a avaliação do próprio deputado Fernando Coruja:
Sempre é difícil fazer reforma política no momento em que não há uma ruptura
nacional, quando a reforma política não tem uma perspectiva no tempo, feita pra valer no
futuro. Então a verdade... nós, no caso específico da reforma política, a bancada se reuniu,
mas decidiu deixar livre pras pessoas votarem como quisessem. Aí acaba prevalecendo o
interesse individual de cada parlamentar, de cada parlamentar. Eu, por exemplo, trabalhei
muito na discussão pra tentar mostrar... Mas as pessoas têm a perspectiva muitas vezes
do... não só do mandato individual, mas é a coisa histórica que elas vivem muito tempo.
Acabam sendo um pouco relutantes da mudança (...) Nós tínhamos um acordo de liberdade
nessa matéria. O partido não fechou questão (...) A bancada não tinha uma opinião coesa
nessa questão. Eu, individualmente como parlamentar, tinha essa opinião. Mas lá, quando
cê vai orientar, cê não orienta: ―Eu acredito nisto. Tô orientando você a votar nisto‖ (...)
Então, nesse caso da reforma política, a bancada já tinha discutido e não tinha chegado a
uma uniformidade de posição (...) A orientação política partidária nossa era a favor da
reforma com lista fechada e financiamento público. Embora o partido não tenha fechado
questão sobre isso, era a visão majoritária dentro do nosso partido.
(...)
Quando você fala reforma, você não tem noção do que vai ser votado ainda.
Primeiro, quando se fala em reforma, a tendência das pessoas é ser a favor. Quando vai se
tratar da reforma especificamente, as pessoas começam a analisar. E durante o processo,
vai mudando. Tem emenda aqui, emenda acolá. Tira uma coisa aqui, tira outra coisa acolá.
As pessoas começam a ouvir as pessoas. Há um problema no Brasil também que é a
reforma política, ela... A evolução do financiamento público e lista fechada, ela não tem
aceitação da população. Então quando cê vai pras bases discutir isso, a tendência normal
das pessoas é ficarem contra o financiamento público e lista, quer dizer, o eleitor não
escolher o candidato (...) A população, de maneira geral, ela tem uma visão contrária a essa
reforma, foi isso que as pesquisas mostraram e cê sente no dia a dia. Parece que ia tirar um
direito dele e além de botar mais dinheiro do governo pra fazer campanha política.
(...)
173
Um dos principais problemas desse sistema eleitoral, como não há partidos e a
pessoa não é eleita por uma lista partidária fechada, fica muito difícil cê ter aglutinação,
mesmo que o partido decida uma coisa. A não ser que ele feche a questão (...) as pessoas
tendem a votar como elas querem. Não há uma responsabilidade com o partido. Não há
uma responsabilidade com a mudança. O sistema eleitoral leva a uma irresponsabilidade do
Parlamento. A única responsabilidade que o parlamentar tem (...) é com a própria reeleição.
Ele não tem responsabilidade com o governo. Esse troço não é parlamentarista. Logo ele
não tem responsabilidade. Ele não tem responsabilidade com o partido, porque ele não é
eleito pelo partido. Ele tende a votar de acordo com os seus interesses, o interesse dos seus
eleitores especificamente. Se ele é religioso, ele vai votar de acordo com a sua religião. Se
ele representa uma corporação, ele vota com sua corporação. Ele não vota com o partido.
Ele não vota com o partido, ele vota com a corporação, ele vota com a religião. E os
partidos também não podem fechar questão a cada incidente ou a cada mudança (...) Na
reforma política, não houve esse fechamento. É um assunto de grande grau de
complexidade (...) Como não tem partidos, fica difícil ter coesão na votação. Como não
tem coesão na votação, fica difícil fazer reforma. No Brasil, se não fizer reforma não tem
partido. Cada parlamentar é uma instituição (...) Isso eu debati várias vezes, temos que
acordar uma reforma política que ela vai valer daqui dez anos (...) Como é que cê vai pedir
que um sujeito que é ligado a uma igreja, vote a favor da reforma política em lista? Não
vota. Contraria os interesses dele e dos eleitores dele. Só um maluco iria votar contra os
interesses dele e dos eleitores (Entrevista realizada em 28/4/2010).
Como no caso do PDT, percebe-se no PPS uma clara divisão entre, de um lado,
dirigentes partidários, preocupados com a continuidade do partido como uma agremiação
política que privilegia as ações coletivas, favoráveis, por conseguinte, à mudança das
regras políticas atuais, que induzem a um comportamento individualista, particularista e
antipartidário, e, de outro, integrantes de bancadas parlamentares sem muito compromisso
ideológico-programático com o partido, a maioria dos quais com um longo histórico de
migração partidária.
E quanto à bancada do DEM, o que a teria levado, ainda que incongruentemente, a
se posicionar a favor da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007?
Dissidente do PDS, partido que sucedeu a Arena, portanto arraigada na tradição liberal, a
maioria democrata que votou a favor da reforma proposta, inclusive sua nova liderança
mais ao sul, não deve havê-lo feito motivada por uma preferência pelas ações coletivas. Da
174
mesma forma, a bancada do DEM não se deve ter posicionado favoravelmente à reforma
política apenas porque ela beneficiaria os maiores partidos. Outras grandes bancadas, como
a do PR, mais coesamente, e as do PP, do PSDB e do PMDB, de modo menos congruente,
votaram contrariamente à reforma. Talvez a resposta possa ser encontrada no fato de ser o
DEM o partido de grande porte que mais tem perdido com as regras políticas atuais. Como
se viu, foi a legenda de grande porte que mais deputados perdeu para outras siglas, em sua
maioria governistas,137
sem ganhar um sequer em troca. Além disso, a nova liderança mais
ao sul, conforme declaração do deputado Ronaldo Caiado adiante transcrita, acreditava que
a reforma proposta emanciparia o DEM da tutela do PSDB, possibilitando-lhe lançar, em
paridade de condições com os outros partidos maiores, candidato próprio a presidente da
República.
No lado oposto, encontravam-se os partidos que só têm lucrado com o atual sistema
eleitoral-partidário e, por conseguinte, têm interesse em conservá-lo. Como se observou, o
PR, o PSC, o PP, o PTB e o PV – cujas bancadas se posicionaram, as duas primeiras mais,
as três últimas um pouco menos consistentemente, contra a reforma política proposta por
meio do PL nº 1210/2007 – foram os partidos que, nesta legislatura, mais ganharam
deputados de outras legendas, sem perder nenhum ou quase nenhum. Não deve ter sido por
outra razão que o deputado Luciano Castro, então líder do PR – poucos dias depois de o PL
nº 2679/2003, de que o PL nº 1210/2007 é cópia fiel, haver sido incluído na ordem do dia
do Plenário da Câmara –, apresentou tanto o PLP nº 35/2007, que estabelece, em sua
versão original, a inelegibilidade como a única penalidade a ser aplicada aos parlamentares
que troquem de partido, quanto o PRC nº 45/2007, que determina que a proporcionalidade
para fins de composição da Mesa e das comissões da Câmara deva ser aferida no início de
cada sessão legislativa, revertendo assim os efeitos da Resolução nº 34/2005.138
No
julgamento do assessor do PR entrevistado,
137
Como se observou, dos quatorze deputados que o DEM perdeu nesta legislatura, apenas um foi para um
partido de oposição: o PSDB.
138 Antes da Resolução nº 34/2005, a proporcionalidade para fins de composição da Mesa e das comissões da
Câmara era aferida no início de cada sessão legislativa, de maneira que as bancadas partidárias que tinham
recebido deputados de outras pudessem ser beneficiadas. A Resolução nº 34/2005, com a finalidade de coibir
o troca-troca de partido, veio a estabelecer que a proporcionalidade para fins de composição da Mesa e das
175
isso aí foi uma demanda que houve dentro do partido, dos deputados, porque, analisando
você vê que, nesse período pós-Mensalão e tudo, nós elegemos só 25. Aí depois acho que
tomaram posse 37 ou 38, algo assim. E foi, se não tô enganado, até 53. Isso aí teve uma
demanda dentro da bancada de você organizar a vida dos deputados aqui dentro (...) O PLP
[nº 35/2007] era criando uma janela pra movimentação parlamentares dentro do partido
(...) e a Resolução [PRC nº 45/2007], ele tentava acomodar os deputados dentro das
comissões, mas ele fazia ressalva que não tinha alteração nas presidências das comissões.
Isso foi tentado pra conseguir o apoio das bancadas que tinham conseguido o maior
número de deputados das eleições (...) Eu acho que você não pode dizer que o partido é um
―partido legislativo‖. É um pouco disso, mas também ele é um partido de origem nas urnas,
mas também dos interesses daqueles deputados que se elegem por um outro partido, até
mesmo por um problema local, e depois querem as benesses do governo. Então eles têm
que migrar pra um partido pra que possam ter essa opção. E os partidos que existiam na
época, creio eu que a melhor escolha teria sido o PR. Porque o PTB, a gente sabe que teve
um problema. O presidente continuava tendo problema com o atual governo. O PP poderia
ser uma escolha também. Mas os principais três partidos eram esses e o movimento foi pra
dentro do PR, né? Então eu acho que existia esse problema de eleição... Um exemplo claro
foi na eleição de 2006, que a gente tinha uma bancada de Minas, seis ou sete. Só que a
gente não conseguia eleger esses seis ou sete. Então houve a saída. Nós ficamos, acho, com
três ou quatro. Conseguimos reeleger três e depois esses que saíram voltaram de novo pro
partido. Exatamente pelo quociente partidário na eleição local. Então tem essa acomodação
(...) Então tem esse jogo político também visando à eleição. É muito o processo legislativo,
mas também é muito a eleição. Porque o deputado sabe que se tiver seis, sete grandes
deputados disputando uma eleição ele não... fica mais difícil pra ele dentro dum partido
que não tenha tanto deputado que contém um número de voto (Entrevista realizada em
9/4/2010).
Afora isso, à exceção do PV, esses partidos são todos de direita ou centro-direita, o
que também pode explicar o fato de se terem posicionado contra uma reforma política que
privilegiava as ações coletivas. Como se viu, o Partido Social Cristão – PSC incorporou as
ideias e os princípios do extinto Partido Democrático Republicano – PDR, e o atual Partido
Trabalhista Brasileiro – PTB pode ter sido fruto da tentativa do governo militar de
comissões da Câmara deva ser aferida no início de cada legislatura, levando, pois, em conta apenas as
bancadas partidárias egressas das eleições.
176
enfraquecer o grupo político de Brizola. O próprio deputado Arnaldo Faria de Sá, em 1988,
então filiado ao Partido da Juventude – PJ, posteriormente denominado de Partido da
Reconstrução Nacional – PRN, atualmente Partido Trabalhista Cristão – PTC, concorreu
ao cargo de vice-prefeito de São Paulo na chapa de Paulo Maluf. Foi o mesmo Arnaldo
Faria de Sá quem articulou a candidatura a presidente da República, pelo então PRN hoje
PTC, de Fernando Collor de Mello.139
Assim, apesar da denominação, tanto o PSC quanto
o PTB têm suas raízes fincadas numa tradição individualista, particularista, personalista e
antipartidária.
E o quer dizer das bancadas partidárias de centro? O que teria levado as bancadas
do PSDB e do PMDB, ainda que pouco coesamente, a se posicionarem contra a reforma
política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007? O PSDB, que, como o PPS e o
DEM, tem perdido deputados sobretudo para partidos governistas,140
inicialmente havia
fechado questão a favor da reforma política. Inaugurada a discussão no Plenário, no
entanto, a pretexto de compromisso com a chamada ―distritalização do voto‖,141
o PSDB
139
Collor, hoje senador, está atualmente filiado ao PTB.
140 Como se viu, dos oito deputados que o PSDB perdeu nesta legislatura, apenas um foi para outro partido de
oposição: o PPS.
141 Nos termos do Programa Partidário do PSDB, aprovado no III Congresso Nacional daquele partido,
realizado em 23 de novembro de 2007, portanto depois de efetivamente encerrado o processo de apreciação
do PL nº 1210/2007, ―o sistema de eleições proporcionais com lista aberta enfraquece os partidos e, o que é
pior, cria distância crescente entre o eleitor e seus representantes – vereadores, deputados estaduais e
federais. Faz das eleições uma corrida desesperada entre candidatos de um mesmo partido, em vez de uma
competição entre partidos com propostas diferentes. Deixa a maioria dos eleitores, principalmente nos
grandes colégios, sem saber quem é afinal o ‗seu‘ representante, porque vota num candidato e acaba
ajudando a eleger outro, às vezes de outro partido. Desse modo, não facilita a criação de vínculos de
responsabilidade entre representantes e representados. Gera, em vez disso, dependência dos candidatos em
relação aos ‗grandes eleitores‘ – empresas, sindicatos, igrejas, grupos econômicos ou políticos capazes de
financiar, direta ou indiretamente, legal ou ilegalmente, campanhas cada vez mais caras. O sistema
proporcional com lista fechada ou preordenada, em que o eleitor vota somente no partido, e não num
candidato, acabaria com alguns desses problemas mas criaria outro: a possibilidade de manipulação das
eleições por cúpulas partidárias com controle sobre as convenções que decidiriam a ordem dos candidatos na
lista, logo suas chances de eleição. Por tudo isso, o debate interno do PSDB tem apontado para diferentes
alternativas de distritalização do voto: o sistema distrital majoritário, em que cada distrito elege um
representante; o sistema distrital misto, em que metade dos representantes é eleita por distritos majoritários e
177
mudou de posição, chegando inclusive a fechar questão em sentido contrário. Sem
embargo de serem críticos do sistema eleitoral-partidário vigente, os tucanos paulistas – o
maior e mais influente grupo dentro do partido e da bancada – convenceram-se de que as
regras atuais seriam mais favoráveis à formação de uma base de apoio à candidatura de
José Serra a presidente da República (cf. a seção Análise comparada adiante, em que se
examina a influência do grupo paulista no processo de persuasão da bancada tucana). Na
avaliação do atual líder João Almeida, da Bahia,
lá atrás, quando o [José] Serra era candidato, era presidente do partido, o partido fechou
questão exatamente no sentido contrário, em favor da lista partidária. E essa posição eu fui
autorizado – não era líder, mas fui autorizado – pela Executiva Nacional e pela bancada a
negociar essa posição, né? E vínhamos mantendo essa posição. Quando o projeto voltou a
ser apresentado, no começo das discussões, o partido estava inclinado à lista, mas
subitamente houve uma mudança de posição muito brusca e acabou resultando no que deu:
o partido fechou questão no sentido contrário. E isso foi o motivo da derrota da proposta. A
posição do PSDB é que foi definidora do resultado, né? Eu não procurei identificar bem
isso, mas veio muito da bancada de São Paulo, pelo peso que tem a bancada de São Paulo,
que mudou de posição. E eu acho que até por, de certo modo, por influência de novo agora
do Serra no sentido contrário. Eu não sei... circunstância do momento. Mas como temos o
hábito ruim de pensar nessas questões que são, digamos assim, permanentes da política
vinculadas a circunstância eleitoral que tá muito próxima. Esta é a dificuldade que temos
de fazer uma reforma política, mesmo a reforma eleitoral: a projeção do resultado daquilo
na eleição que vai acontecer proximamente, né? Então, dificulta. E eu acho que foi um
pouco por aí. Embora agora tenha ouvido já de alguns que tomaram aquela posição, e do
próprio Serra, arrependido, achando que quem tinha razão era eu, em defender a lista
(Entrevista realizada em 29/4/2010).
metade por lista partidária; um sistema proporcional semelhante ao atual, mas com a subdivisão dos estados
em colégios eleitorais menores, com em torno de quatro representantes cada. Qualquer dessas alternativas é
preferível ao sistema proporcional vigente, porque ancora a representação política num local determinado,
seja ele uma grande cidade ou um grupo de municípios. Desse modo, encurta a distância entre representantes
e representados. E leva os partidos a se enraizarem por todo o país, fortalecendo-se sem se subjugar a
caciques ou ‗máquinas‘ partidárias‖.
178
O julgamento do deputado Bonifácio de Andrada, de Minas Gerais, é no mesmo
sentido:
Mas depois as lideranças paulistas, que dominam o partido, ficaram muito contra a
lista, porque acham que o atual sistema é favorável para eles (...) Digamos que era o grupo
paulista que estava querendo nos impor uma fórmula que convinha mais – não sei por que
– às exigência do desenvolvimento político deles, dentro do partido (Entrevista realizada
em 5/5/2010).
Na mesma direção também a avaliação do deputado Flávio Dino, do PCdoB, que
teve uma atuação destacada em todo o processo, inclusive nos bastidores da Câmara:
Logo na retomada do PL 1210, houve um fato inesperado e, na nossa opinião,
inusitado, que foi a mudança de posição do PSDB. O PSDB participou do entendimento
anterior e por motivos, a meu ver, fincados mais na conjuntura política, no interesse de
formar um campo político... O PSDB, na verdade, constituiu naquele momento a coluna
vertebral do processo de resistência do PL 1210, aglutinando em torno de si o PP, o PTB e
o PR (Entrevista realizada em 11/5/2010).
No julgamento do deputado Ronaldo Caiado, do DEM, a estratégia dos tucanos
paulistas de formar uma base de apoio à candidatura do tucano José Serra a presidente da
República incluía a manutenção dos democratas sob a tutela do PSDB:
O PSDB se alinhou conosco na Comissão Especial. Ele votou conosco na
Comissão Especial. Na hora da votação do texto do financiamento público, ele votou
contrário. Por quê? Porque o financiamento público, ele dá aos maiores partidos uma
igualdade na distribuição do dinheiro e com isso você viabiliza a candidatura de todos esses
partidos à presidência da República. Dentro do atual sistema, você só viabiliza a campanha
eleitoral quem tem a máquina do governo hoje, que é o presidente, ou senão quem tem o
comando dos grandes estados do Brasil, com grande poder de gasto. Então essas são as... os
mecanismos aonde emergem os candidatos no Brasil. Por que que o Ciro não é candidato?
Não é candidato porque não tem o governador de nenhum estado economicamente
independente, capaz de sustentar a sua campanha. Como ele é de um partido onde as
estruturas dependem da simpatia, do humor e da vontade do presidente da República, ele
viu a sua candidatura sucumbir (...) Quando o PSDB veio com a tese do voto distrital, ele
veio única e exclusivamente para derrubar aquilo que criava uma condição que os partidos,
179
principalmente o Democratas, o PSDB, o PT e o PMDB, eles teriam tempo de televisão
próximos, quase idênticos, e nós teríamos uma distribuição em dinheiro também com
pouca diferença. Então todos os quatro partidos, eles teriam total independência para lançar
candidato. Ora, o voto distrital ele não é impeditivo de que numa primeira etapa você coíba
essa cultura da corrupção e da compra de voto, e depois amanhã você possa discutir por
uma PEC – aí seria uma emenda constitucional – uma modificação da distribuição dos
votos de acordo com os distritos (Entrevista realizada em 5/5/2010).
Finalmente, o PMDB. Do início ao fim do processo de apreciação do PL nº
1210/2007, a bancada peemedebista foi a que se comportou de forma menos coesa em
torno da reforma política proposta. Tão severa foi a fratura dos deputados do PMDB que o
líder Henrique Eduardo Alves, depois de haver, ao longo de todo o processo, orientado a
bancada a votar a favor da reforma, foi compelido, ao final, a liberá-la. 57% deles votaram
contra a lista fechada. O comportamento da bancada peemedebista, contudo, não
surpreende. Como se observou, o PMDB é o partido que mais tem lucrado com as regras
políticas atuais. É a agremiação política brasileira que tem o maior número de filiados,
vereadores, prefeitos e governadores, além de possuir a maior quantidade de deputados
federais e senadores. A par de seis ministérios do governo Lula, comanda ainda a Câmara
dos Deputados e o Senado Federal. Não tem interesse em alterar o status quo.
180
PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República
Assim como aconteceu em relação ao sistema eleitoral-partidário, diversas
propostas de mudança da distribuição de poderes legislativos têm sido apresentadas por
deputados federais na atual legislatura (2007-2011). Entre todas as proposições
previamente analisadas, este trabalho dá especial enfoque à PEC nº 511/2006 e suas
apensadas, basicamente pelas mesmas razões que destacou o PL nº 1210/2007 ao examinar
as ações dos deputados federais relacionadas ao sistema eleitoral-partidário: além de ter
sido a única de tais proposições a ser apreciada pelo Plenário, foi a que mais despertou o
interesse dos deputados, interesse demonstrado na intensa participação desses
parlamentares inclusive na forma de emendas e pronunciamentos.
Os poderes do Legislativo brasileiro, notadamente em relação ao Executivo, têm
sofrido severas e cíclicas limitações ao longo da história. Na verdade, o Legislativo
brasileiro já nasceu fraco em sua relação com o Executivo. O imperador, além do poder
executivo, detinha também o poder moderador, no exercício do qual controlava a então
Assembleia Geral, podendo inclusive dissolver a Câmara dos Deputados (PINTO, 2009, p.
26-27).
Já em 1930, havia menos de quarenta anos da promulgação da Constituição de 1891
– que ampliara os poderes do então denominado ―Congresso Nacional‖, equilibrando assim
a relação de força entre este e o presidente da República –, o movimento ―revolucionário‖
encabeçado por Getúlio Vargas pôs abaixo a Velha República, instituindo um governo
provisório. Até a promulgação da Constituição de 1934, Vargas governou por decretos-
leis. Esta última Constituição, por sua vez, elaborada sob os auspícios de Vargas e a
influência nazi-fascista, debilitou o Legislativo em sua relação com o Executivo. Os
representantes do povo passaram a disputar espaço com os representantes das categorias
profissionais no interior da Câmara dos Deputados e o orçamento passou a ser proposto
pelo presidente da República, o qual passou a deter a iniciativa exclusiva de certas leis
(Ibidem, p. 31-33). Finalmente, a Constituição de 1937, outorgada por Vargas, a par de
haver intensificado esse processo de enfraquecimento do Legislativo em face do
Executivo, dissolveu a Câmara dos Deputados e o Senado Federal e autorizou o presidente
da República a governar por decretos-leis, o que Vargas voltou a fazer até ser destituído
pelos ministros militares em 29 de outubro de 1945 (Ibidem, p.35-40).
181
Outra vez, depois de menos de vinte anos de vigência da Constituição de 1946 –
que restabelecera o equilíbrio da relação de força entre o Legislativo e o Executivo –, sob o
comando dos militares operou-se a transferência de importantes competências legislativas
do Congresso Nacional para o presidente da República. O chefe do Executivo voltou a
baixar decretos-leis, adquiriu a prerrogativa de atribuir urgência aos projetos de sua
autoria, e tais decretos-leis e projetos de lei, inclusive orçamentária, passaram a ser
aprovados por decurso de prazo. De fato, a partir de 1978 o orçamento passou a ser
aprovado por decreto-lei, que não podia sofrer emenda parlamentar (PINTO, 2009, p. 45-
51).
Por último, a Constituição de 1988 – produzida pelos deputados e pelos senadores
convocados por uma emenda à Constituição anterior a se reunir em Assembleia Nacional
Constituinte, sob o beneplácito do governo de transição – restabeleceu o equilíbrio na
relação de força entre o Legislativo e o Executivo. No entanto, esse equilíbrio jamais
alcançou os níveis verificados nos períodos 1891-1930 e 1946-1964. O presidente da
República continua editando decretos-leis, agora denominados ―medidas provisórias‖,
inclusive em matéria orçamentária, assim como mantém amplos poderes de iniciar lei com
exclusividade. Além disso, a prerrogativa dos deputados e dos senadores de emendar as
medidas provisórias e os projetos de lei do Executivo segue sofrendo importantes
limitações. Por derradeiro, tanto as medidas provisórias como os projetos de lei de autoria
do presidente da República continuam tendo preferência sobre as proposições apresentadas
pelos membros do Congresso (PINTO, 2009, p. 52-60).142
142
É verdade que institutos como as medidas provisórias, a iniciativa legislativa exclusiva do Executivo, as
restrições ao emendamento parlamentar e a preferência dos projetos de lei de autoria do Executivo,
inexistentes nos Estados Unidos presidencialistas, encontram paralelo na Espanha e na França,
respectivamente parlamentarista e semipresidencialista. Contudo, nesses países, em maior grau na Espanha
do que na França, tanto a formação do governo quanto sua mantença dependem da aprovação do parlamento.
É dizer, se nesses países, de um lado, o governo detém relevantes poderes legislativos, de outro, o Parlamento
dispõe de eficientes instrumentos de controle do governo, tais como as reuniões plenárias de questões ao
governo, os votos de confiança e as moções de censura. Além disso, tanto os decretos-leyes espanhóis quanto
seu equivalente francês são editados pelo governo – não por seu chefe –, e sob responsabilidade política.
É igualmente certo que os sucessivos presidentes dos Estados Unidos têm contornado o poderoso
United States Congress, inclusive expedindo executive orders que exorbitam de sua esfera meramente
182
Na forma do art. 62 da Constituição da República Federativa do Brasil, em caso de
relevância e urgência o presidente da República pode adotar medidas provisórias com força
de lei. Em outras palavras, as medidas entram em vigor na data de sua publicação.
Inicialmente, não havia qualquer restrição material à adoção dessas medidas, que perdiam
a eficácia se não fossem aprovadas pelo Congresso Nacional ou convertidas em lei no
prazo de trinta dias contado de sua publicação. Foi suprimida, destarte, a possibilidade de
aprovação tácita. O Presidente, todavia, podia reeditar infinitamente a medida provisória
que perdesse a eficácia por decurso de prazo, o que, na prática, resultava no mesmo
(PINTO, 2009, p. 56).
Mais adiante, entretanto, a Emenda Constitucional nº 32/2001 impôs várias
limitações ao poder do chefe do Executivo de adotar tais medidas. Elas não mais podem
dispor sobre nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral; direito penal, processual penal e processual civil; organização do Judiciário e do
Ministério Público, carreira e garantia de seus membros; planos plurianuais, diretrizes
orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares. Também não podem visar
à detenção ou ao sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo
financeiro. Por último, não podem versar sobre matéria reservada à lei complementar ou já
disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou
veto do presidente da República. A emenda, porém, contrariando entendimento
anteriormente firmado pelo STF, permitiu a instituição ou majoração de impostos por meio
de medidas provisórias. Da mesma forma, a Emenda Constitucional nº 32/2001 ampliou
para 120 dias o prazo dentro do qual o Congresso Nacional deve apreciar as medidas
regulamentar e encaminhando, por meio de executive communications, minutas de projetos de lei ao speaker
of the House ou ao presidente do Senado, assim como é verdade que parte das reuniões plenárias de
interpelaciones y preguntas ou questions au gouvernement, em que os chefes dos governos da Espanha e da
França se apresentam pessoalmente perante os Parlamentos desses países para responder a questões e
interpelações feitas por seus membros, não passa de encenação dramática e que as moções de censura ao
governo dificilmente são aprovadas. Sem embargo, o fato de que o presidente dos Estados Unidos
formalmente não tem qualquer competência legislativa e que os chefes dos governos espanhol e francês têm
de comparecer pessoalmente perante os Parlamentos desses países, sob pena de demissão, tem um valor
simbólico incontestável. ―Afinal, o que é a política senão a dramatização dos conflitos sociais? E não estaria
justamente aí o começo da composição desses conflitos?‖ (PINTO, 2009, p. 7-23, 175).
183
provisórias.143
Estabeleceu, no entanto, que, não examinadas no prazo de 45 dias, as
medidas entram em regime de urgência, sobrestando todas as demais deliberações
legislativas.144
Semelhantemente, a emenda determinou que as medidas provisórias devam
ser apreciadas separadamente pelos Plenários de cada Casa do Congresso Nacional, a
começar pela Câmara dos Deputados. Por último, a Emenda Constitucional nº 32/2001
vedou expressamente a reedição, na mesma sessão legislativa, de medidas provisórias que
tenham sido rejeitadas ou que hajam perdido sua eficácia por decurso de prazo (PINTO,
2009, p. 56-57).145
Na prática, contudo, o presidente da República, por meio de medidas provisórias,
vem legislando sem a efetiva participação do Congresso Nacional, uma vez que o alto
custo político, envolvido tanto na rejeição de um provimento legislativo já em vigor quanto
na paralisação decorrente do trancamento da pauta por inumeráveis medidas com prazo
esgotado, tem forçado a Câmara dos Deputados e o Senado Federal a aprová-las, não raro
açodadamente (Ibidem, p. 57).146
Ante todo estado de coisas, na forma originalmente aprovada pelo Senado Federal,
a PEC nº 511/2006 propunha, em suas grandes linhas, que as medidas provisórias editadas
143
Na verdade, a Emenda Constitucional nº 32/2001 fixa o prazo de sessenta dias, prorrogável por igual
período. Porém, como essa prorrogação é automática, o prazo efetivamente é de 120 dias.
144Esses prazos não correm durante os períodos de recesso. De qualquer modo, o atual presidente da Câmara,
deputado Michel Temer, do PMDB, ao resolver a Questão de Ordem nº 411/2009, firmou o entendimento
segundo o qual somente ficam sobrestadas as deliberações legislativas relacionadas a matérias que podem ser
objeto de medidas provisórias. Desde então, mesmo com a pauta ―trancada‖ por medidas provisórias com
prazo esgotado, o Plenário da Câmara vem apreciando, em sessões extraordinárias, propostas de emenda à
Constituição, projetos de lei complementar, projetos de decreto legislativo, projetos de resolução e até
mesmo projetos de lei ordinária dispondo sobre matéria que não possa ser objeto de medida provisória.
145Curiosamente, a Emenda Constitucional nº 32/2001 proibiu a reedição de medida provisória rejeitada ou
caduca, mas não a edição de medida provisória que disponha de forma ligeiramente diferente sobre a mesma
matéria.
146 A pressão exercida pelo travamento da pauta, como se viu, foi aliviada pela decisão do presidente Michel
Temer, na QO nº 411/2009.
184
pelo presidente da República somente ganhassem força de lei depois de admitidas pela
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC da Casa do Congresso
Nacional em que iniciassem sua tramitação; que, além de não poderem dispor sobre
matéria tributária, as medidas provisórias tivessem objeto único, não podendo conter
matéria estranha a esse objeto; e que somente entrassem em regime de urgência,
sobrestando as demais deliberações legislativas, após transcorridos dois terços do prazo
assinado a cada Casa Congressual.
PEC nº 511/2006
Fev 08 Mar 08 Abri 08 Mai 08 Jun 08 Ago 08 Set 08 Out 08 Nov 08 Dez 08
A PEC nº 511/2006, oriunda do Senado Federal, foi apresentada ao Plenário da
Câmara dos Deputados em 9 de fevereiro de 2006. Em maio do mesmo ano, a ela foram
apensadas mais de uma dezena de PECs que já tramitavam na Casa. Outras propostas de
emenda à Constituição foram apensadas à PEC nº 511/2006 no início da presente
legislatura (2007-2011). No começo de outubro de 2007, a PEC nº 511/2006 e suas
apensadas foram admitidas pela CCJC. A Comissão Especial, criada no final daquele mês
9 fev 06:
apresentaçã
o
Mai 2006:
apensação
de dezenas
de PECs.
Mai a set
07: novas
apensações
CE:
final do
prazo de
emenda
mento
CE:
votos
em
separ
ado
Instalação
da
Comissão
Especial e
novas
apensações
CE:
apresentação do
parecer do
relator pela
aprovação na
forma de
substitutivo
CE:
compleme
ntação de
voto pelo
relator e
aprovação
do parecer
Plenário:
rejeição de
requerimentos
obstrucionista
s e aprovação
do
encerramento
da discussão
Plenário:
rejeição de
requeriment
o
obstrucionis
ta e
aprovação
do
substitutivo
Plenário:
aprovação
de destaque
do PSDB e
do PSB,
rejeição de
destaque do
DEM
Plenário:
aprovação de
destaque do
PSDB e de
destaque do
PSB de
interesse da
oposição
17 fev 09: aprovação da
redação do vencido em
primeiro turno
17 mar 09: decisão do
presidente Michel Temer
185
para examinar o mérito da matéria, somente foi constituída em fevereiro de 2008.147
Àquela época, ainda outras propostas de emendas à Constituição foram apensadas à PEC
nº 511/2006, totalizando trinta PECs apensadas. Também trinta foram as emendas
apresentadas à Comissão Especial até o final do prazo de emendamento, em março daquele
ano (cf. Ficha de tramitação da PEC nº 511/2006).148
A supressão pura e simples do instituto das medidas provisórias foi proposta pelo
deputado Zonta, do PP (PEC nº 155/2003) (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006 e
Inteiro Teor da PEC nº 155/2003).149
Os deputados Miro Teixeira, à época ex-líder da bancada do PDT (PEC nº
234/2008), e Michel Temer, do PMDB, atual presidente da Câmara (PEC nº 420/2005),
propuseram a responsabilização política do presidente da República, o primeiro no caso de
efeitos irreversíveis ―ao pacto federativo, à divisão e independência dos poderes, aos
direitos políticos individuais e sociais e à probidade administrativa‖ ou de ―danos à ordem
e à segurança jurídica do País‖ (Inteiro Teor da PEC nº 234/2008; cf. também a Ficha de
Tramitação da PEC 511/2006) e o segundo na hipótese de rejeição ao fundamento de
inexistência de urgência:
A medida provisória foi introduzida no nosso regime jurídico pela Constituição de
1988. Instrumento mais autoritário que o decreto-lei podia versar, na sua origem, sobre
toda e qualquer matéria.
147
Nos termos do art. 202, § 2º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, depois de admitida pela
CCJC, o mérito da PEC deve ser examinado por Comissão Especial para esse fim criada, em um prazo de
quarenta sessões. Após criada por ato do presidente da Câmara, a Comissão Especial é por ele constituída
mediante indicação dos líderes partidários (Regimento Interno, art. 33, § 1º).
148 Ainda na forma do art. 202, § 3º, do Regimento Interno, ―somente perante a Comissão Especial poderão
ser apresentadas emendas, com o mesmo quórum mínimo de assinaturas de Deputados (...), nas primeiras dez
sessões do prazo que lhe está destinado para emitir parecer‖.
149 O deputado Regis de Oliveira, do PSC, também apresentou emenda propondo a supressão do instituto das
medidas provisórias. Mas, em compensação, pretendia que projetos de lei apresentados pelo presidente da
República, se por ele solicitado e aprovado por comissão mista do Congresso Nacional, fossem antecipada e
precariamente convertidos em lei (EMC nº 2).
186
Em 2001 a Emenda Constitucional n. 32 restringiu o conteúdo material da medida
provisória. E, objetivando evitar que o instrumento vigorasse por tempo indeterminado sem
o exame do Legislativo, estabeleceu que, 45 dias após a sua publicação, ficam sobrestadas
todas as deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando, até que ultimada a
votação ou transcorrido o prazo para a perda de sua eficácia.
Importante relembrar que a nossa medida provisória foi inspirada no direito
italiano, cujo regime de governo é parlamentarista. Diz a Constituição italiana que o
Governo pode adotá-la em casos de urgência e relevante interesse público, mas sob a sua
responsabilidade. A ―responsabilidade‖ de que fala a Constituição italiana é a política. Se o
governo italiano – o gabinete chefiado pelo primeiro ministro – editar inconseqüentemente
medida provisória, corre o risco de ser responsabilizado e cair.
No sistema brasileiro, inexiste a responsabilização política do chefe do governo
relativamente à edição de medidas provisórias. A par disso, o Executivo, em detrimento do
processo legislativo ordinário, tem sistematicamente desrespeitado os pressupostos
constitucionais de relevância e urgência quando de sua expedição, editando torrencial e
ilimitadamente medidas provisórias sobre todo e qualquer assunto. De instrumento
excepcional que deveria ser, pela vontade do constituinte, o instituto transformou-se em
recurso legiferante ordinário, do qual a Presidência da República se vale a todo momento
para as questões mais rotineiras, ferindo o princípio constitucional da separação dos
poderes.
O furor legiferante do Executivo, a par do processamento da medida provisória tal
como estabelecido, vem impedindo, na prática, o pleno e regular funcionamento do
Congresso Nacional. Tranca a pauta e paralisa as atividades normais das suas duas Casas,
limita a liberdade do Legislativo impondo à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal o
que votar e quando, com o conseqüente atraso do exame de matérias importantíssimas para
o país, como ocorreu com a reforma do Judiciário. O Parlamento tem sua agenda paralisada
e submete-se prioritariamente à pauta do Executivo, apreciando quase que exclusivamente
medidas provisórias. É nítido o incômodo dos parlamentares com a condição de meros
aprovadores de medidas provisórias e com os sérios prejuízos causados à imagem do
Legislativo.
Mudanças urgentes se impõem nesse quadro institucional que, além de pouco
democrático, muito contribui para o desapreço popular ao Congresso. É preciso buscar
fórmula capaz de, sem prejudicar sua eficácia, restringir o uso de medida provisória aos
187
casos extraordinários de necessidade e urgência, como quer a Constituição. Temos de
procurar solução que imponha o exame veloz pelo Legislativo e a responsabilização do
Executivo por atos reconhecida e exacerbadamente praticados sem o requisito da urgência
(Inteiro Teor da PEC nº 420/2005; cf. também a Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006).
Na direção contrária, a supressão do dispositivo da PEC nº 511/2006 em virtude do
qual as medidas provisórias editadas pelo chefe do Executivo somente adquiririam força de
lei depois de admitidas pela CCJC da Casa do Congresso Nacional em que iniciassem sua
tramitação foi proposta pelos deputados Márcio França, então líder da bancada do PSB
(EMC nº 14),150
e José Eduardo Cardozo, do PT (EMC nº 28) (cf. Ficha de Tramitação da
PEC nº 511/2006 e Inteiros Teores das emendas). Ao justificar sua emenda, o deputado
José Eduardo Cardozo argumenta que,
embora estribada no nobre propósito de limitar o uso e o abuso das medidas provisórias
pelo Poder Executivo, substituindo o Poder Legislativo na função legislativa, e suprir
falhas da Emenda Constitucional nº 32, de 2001, a Proposta de Emenda à Constituição nº
511, de 2006, do Senado Federal, acarretará sérios problemas à governabilidade do país, se
aprovada nos termos em que foi formulada e enviada a esta Casa.
(...) comete o equívoco de submeter as medidas provisórias a um juízo de
admissibilidade prévio à sua vigência, a ser exarado por comissão da Casa em que se
iniciar a sua apreciação e que, se concluir pela inadmissibilidade da medida provisória é
passível de recurso não suspensivo ao Plenário, o qual, se não apreciado, implica na
inadmissibilidade da medida provisória. Embora seja necessário e mesmo indispensável
que o Congresso se manifeste sobre a existência dos requisitos de urgência e relevância das
Medidas Provisórias – o que, historicamente, não tem ocorrido desde 1988 – esse juízo não
pode, por definição, ser prévio à vigência da medida provisória. Imagine-se uma medida
provisória que, tratando de matéria relativa a tema de interesse público e que deva ser
imediatamente implementada, sob pena de ineficácia, tenha sua vigência condicionada à
admissibilidade: quando aprovada esta, ela já estará comprometida e irremediavelmente
inutilizada. Ainda que sejam poucos e excepcionais os casos em que isso possa ocorrer, o
decurso desse prazo poderia ainda permitir movimentos especulativos cujos efeitos sobre a
economia ou sobre o exercício de direitos e obrigações acarretaria sérias conseqüências,
150
O deputado Márcio França, na realidade, queria mais: pretendia que as medidas provisórias cuja admissão
não fosse decidida em certo prazo fossem consideradas admitidas.
188
cuja intensidade não podemos sequer aferir. A atual sistemática, no ponto, é mais
adequada: se o Congresso julgar que a medida provisória não pode ser admitida, tem todos
os meios para assim decidir (Inteiro Teor da EMC nº 28).
No tocante à limitação material do poder concedido ao presidente da República
para editar medidas provisórias, os deputados Miro Teixeira, à época ex-líder da bancada
do PDT (PEC nº 234/2008), Fernando Coruja, líder da bancada do PPS (EMC nº 16),
Antonio Carlos Mendes Thame, do PSDB (PEC nº 213/2003), João Magalhães, do PMDB
(EMC nº 6), e José Carlos Aleluia, do DEM (EMC nº 19 e EMC nº 20), propuseram sua
ampliação para além inclusive das questões de ordem tributária (cf. Ficha de Tramitação da
PEC nº 511/2006 e Inteiros Teores das PECs apensadas e das emendas). Ao fundamentar
sua proposta, o deputado Miro Teixeira alega que
as medidas provisórias, assim como os decretos-lei do passado, violam o princípio da
tripartição dos Poderes, conhecido por Teoria da Independência, cuja origem refletiu a
tentativa de se restringir o uso do poder, dividindo-o entre diferentes detentores de poder,
objetivando, assim, que uns fiscalizassem o exercício do poder por parte dos outros,
evitando-se os abusos.
Ainda que a detenção de uma função não exclua outras, esta, no entanto, não
podem ser ampliadas a ponto de interferir em outro poder, como acontece com o
instrumento de medida provisória usada pelo presidente da República desmedidamente,
cuja prática deveria restringir-se às matérias de caráter excepcional.
O art. 62 da Carta Magna, hoje, consagra os pressupostos legitimadores dessa ação
cautelar legislativa, quais sejam, relevância e urgência.
Ao avocar esses pressupostos constitucionais, o presidente da República não está
exercendo tal prerrogativa em seu nome, mas sim, em nome de todos os brasileiros,
configurando mais um motivo para que tal direito seja respeitado, conforme dita a
Constituição.
É por isso que a presente proposta delimita os casos em que o presidente da
República poderá editar medida provisória, com força de lei, estabelecendo
inequivocamente a pressuposição da ocorrência de caso extraordinário, onde a necessidade
e a urgência exijam providência imediata (cf. Inteiro Teor da PEC nº 238/2008).
189
No sentido oposto, a supressão do dispositivo da PEC nº 511/2006 que proibia a
edição de medidas provisórias em matéria tributária foi proposta pelos deputados Flávio
Dino, do PCdoB (EMC nº 15), Márcio França, então líder da bancada do PSB (EMC nº
14), e José Eduardo Cardozo, do PT (EMC nº 28) (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº
511/2006 e Inteiros Teores das emendas).151
Em defesa de sua emenda, o deputado José
Eduardo Cardozo aduz que
o texto do Senado Federal veda a edição de medida provisória sobre matérias tributárias,
exceto para extinguir ou reduzir tributos. É um contra-senso, cujos efeitos seriam ainda
mais perversos e contrários ao interesse público, pois mesmo em situação de calamidade
pública ou urgente necessidade não seria possível instituir ou aumentar tributos. Lembre-se
que o § 2º do art. 62 já requer que a medida provisória que implique instituição ou
majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, para
produzir efeitos no exercício financeiro seguinte, seja convertida em lei até o último dia
daquele em que foi editada. Homenageia-se, assim, o princípio a anualidade, sem por outro
lado, vulnerar-se, no caso das contribuições, o da anterioridade nonagésima. Caso
vigorasse a norma proposta, não poderia o Poder Executivo, como recentemente ocorreu,
estabelecer fontes compensatórias para a perda de receita oriunda da rejeição da
prorrogação da CPMF, com efeitos imediatos, ficando na dependência da conclusão do
processo legislativo ordinário, com sérias conseqüências para o equilíbrio fiscal. Mais uma
vez, o juízo de admissibilidade é o que se impõe, para reprimir os excessos, ademais
quando a Constituição, por meio das cláusulas pétreas do art. 150 e 151, já estabelece sérias
limitações ao poder de tributar (cf. Inteiro Teor da EMC nº 28).
Já no que toca à limitação formal do poder conferido ao presidente da República
para editar medidas provisórias, os deputados Flávio Dino, do PCdoB (EMC nº 15), Mauro
Nazif, do PSB (PEC nº 111/2007), João Almeida, atual líder do PSDB (PEC nº 384/2005 e
EMC nº 29), Carlos Souza, do PP (PEC nº 54/2007), Clóvis Fécury (PEC nº 336/2004) e
Lira Maia (PEC nº 118/2007), do DEM, propuseram o estabelecimento de um número
máximo que poderia ser editado a cada ano (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006 e
Inteiros Teores das PECs apensadas e das emendas).
151
Em contrapartida, o deputado José Eduardo Cardozo propôs a ampliação da limitação material à edição de
medidas provisórias, nela incluindo fixação e a alteração de vencimentos, remuneração e subsídio de cargo e
função públicos quando houvesse aumento de despesa (cf. Inteiro Teor da EMC nº 28).
190
Ainda no que concerne à limitação formal, a substituição do dispositivo da PEC nº
511/2006 por força do qual as medidas provisórias não poderiam ter mais do que um
objeto, por dispositivo em virtude do qual as medidas provisórias simplesmente deveriam
ter ―homogeneidade temática‖, foi proposta pelo deputado Flávio Dino, do PCdoB (cf.
Inteiro Teor da EMC nº 15).
Os deputados José Guimarães, do PT (EMC nº 12), Marcelo Ortiz, ex-líder da
bancada do PV (EMC nº 3), Roberto Magalhães (PEC nº 514/2006 e EMC nº 18) e José
Carlos Aleluia (EMC nº 26), do DEM, propuseram a supressão pura e simples do instituto
do sobrestamento, por força do qual medidas provisórias não apreciadas em certo prazo
trancam a pauta da Casa do Congresso Nacional em que estivessem tramitando (cf. Ficha
de Tramitação da PEC nº 511/2006, bem como os Inteiros Teores da PEC nº 514/2006 e
das emendas).
A supressão do instituto do sobrestamento, acompanhada da criação de um
mecanismo que garantisse sua aplicação a casos específicos, sempre que requerido pela
maioria dos membros da Casa em que estivesse tramitando determinada medida provisória
ou por líderes que representassem esse número e aprovado pela maioria dos deputados ou
dos senadores, foi proposta pelo deputado José Genoíno, do PT (cf. Inteiro Teor da EMC
nº 11).
Reversamente, o deputado José Eduardo Cardozo, também do PT, propôs a
mantença do instituto do sobrestamento, com a possibilidade de sua não aplicação, por até
duas sessões, a casos específicos, sempre que requerido pela maioria absoluta até certa
altura da tramitação (cf. Inteiro Teor da EMC nº 18).
A vedação da revogação de medida provisória foi proposta pelos deputados Flávio
Dino, do PCdoB (EMC nº 15), e Júlio Delgado, do PSB (EMC nº 13) (cf. Ficha de
Tramitação da PEC nº 511/2006 e Inteiros Teores das emendas).
Por fim, os deputados Júlio Delgado, do PSB (EMC nº 13), Fernando Coruja, líder
da bancada do PPS (EMC nº 16), e Roberto Magalhães, do DEM (EMC nº 24),
propuseram a proibição da edição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória
191
contendo matéria que tenha sido objeto de outra rejeitada ou caduca (cf. Ficha de
Tramitação da PEC nº 511/2006 e Inteiros Teores das emendas).152
Em posição intermediária, o deputado José Eduardo Cardozo, do PT, propôs fosse
permitida uma única reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória caduca
(cf. Inteiro Teor da EMC nº 27).
Note-se que o único integrante da bancada do PCdoB, de esquerda ou centro-
esquerda governista, a apresentar proposta de emenda à Constituição ou emenda à PEC nº
511/2006 relacionadas aos itens destacados acima foi o deputado Flávio Dino. Por meio da
EMC nº 15, esse parlamentar comunista propôs a supressão do dispositivo da PEC nº
511/2006 por força do qual o presidente da República não mais poderia editar medidas
provisórias em matéria tributária. Ou seja, queria a mantença da competência do chefe do
Executivo de, por intermédio de medidas provisórias, instituir ou majorar impostos, taxas
ou contribuições. Na mesma direção e pelo mesmo meio, o deputado Flávio Dino propôs a
substituição do dispositivo da PEC nº 511/2006 por força do qual o presidente não mais
poderia editar medida provisória com mais de um objeto, por dispositivo que simplesmente
exigia ―homogeneidade temática‖. Em outras palavras, o chefe do Executivo podia
continuar editando medida provisória com mais de um objeto, desde que entre eles
houvesse a tal homogeneidade temática. Na contramão, porém, o mesmo deputado Flávio
Dino propôs o estabelecimento de uma quantidade máxima de medidas provisórias que
pudessem ser editadas a cada ano e a vedação de sua revogação. Na interpretação do
próprio deputado Flávio Dino,
a PEC 511, ela atravessa um processo similar ao PL 1210: a proposta que nasce forte e
depois vai perdendo força, né? A PEC 511, ela nasceu bastante forte, com patrocínio
pessoal ali do [então presidente] Arlindo [Chinaglia], tanto que foi um deputado
ligadíssimo a ele, hoje o líder do governo Cândido Vaccarezza, que foi presidir a
Comissão. O relator era o deputado Leonardo Picciani, que tinha naquele momento um alto
protagonismo no PMDB, porque era muito ligado ao deputado Eduardo Cunha, o PMDB
do Rio de Janeiro. Quer dizer, eram parlamentares que tinham muita força política em suas
bancadas, né? Se produziu algo semelhante, quer dizer, a PEC chegou a ser aprovada por
152
Que tenha perdido a eficácia por decurso de prazo.
192
unanimidade na Comissão Especial, com louvação de todos os líderes. Eu me recordo bem
da sessão da Comissão Especial. Praticamente todos os líderes foram. O próprio Arlindo,
salvo engano, foi. E todos festejaram ali naquele momento. E depois quando chegou no
Plenário começaram a surgir as resistências, né? Inclusive resistências advindas do governo
naquele instante, né? (...) Havia uma lógica ali similar ao [PL nº] 1210: flexibilizar um
pouco pra viabilizar a proposição, quer dizer, pra tentar salvar o processo. Porque eu tinha
convicção de que a PEC 511, ela avançaria em muitos aspectos, ela avançava em muitos
aspectos, sobretudo naquela questão da possibilidade de remover o trancamento de pauta.
Esse pra mim era o ponto principal. Você constrói uma maioria e consegue remover o
trancamento, né? Havia uma diminuição também de prazo. Então havia ganhos concretos
ali. Tanto havia ganhos que depois, por outro caminho, um caminho mais inventivo, mais
criativo, mais ousado, esse objetivo acabou sendo atingido pelo presidente Michel [Temer],
sem a votação da PEC. Uma interpretação, não há dúvida, uma interpretação... bastante
criativa, que criou um novo texto para o art. 62 da Constituição.153
Então era em nome
desses dois avanços que nós mirávamos isso, o PCdoB e eu particularmente.
(...)
Havia um processo de construção de um texto. Eu não participava desse processo.
Eu sequer era da Comissão Especial. O Arlindo, o presidente Arlindo, um dia me chama e
pede pra que eu entre na Comissão Especial. O bloco já havia feito as suas indicações,
tanto que, salvo engano, eu era suplente. Na Comissão Especial eu já entrei de última hora,
já no processo do meio pro fim. E naquele instante o Vaccarezza e o Picciani já com essa
perspectiva: como é que a gente coloca algumas restrições ao presidente da República, mas
sem inviabilizar que ele governe? Eu não posso te afirmar que a maior parte, mas muitas
dessas emendas foram combinadas com o Vaccarezza e com o Picciani. Eu apresentava
emendas pra viabilizar passos que eram necessários na interlocução com o governo. Então
digamos que ali eu atuava nesse sentido da construção da maioria. Então muitas dessas
emendas eu apresentei a pedido deles próprios, não diretamente do governo, mas a pedido
dos dois condutores do processo, que precisavam ali de alguém que fizesse esse papel de
apresentar ideias que fosse agregando gente e evitando crises com o governo, né? Porque
eram dois parlamentares da base do governo. Evidentemente eu achava que era necessário
153
O deputado Flávio Dino se refere aqui e no final do próximo parágrafo a decisão do atual presidente da
Câmara dos Deputados, deputado Michel Temer, em sede de questão de ordem, discutida no final desta
seção.
193
restringir os poderes do presidente da República no estabelecimento da agenda
parlamentar. Esse era o foco. E o principal instrumento que havia de condicionamento da
agenda parlamentar, a ponto de gerar quase que uma irritação coletiva, era o mecanismo de
trancamento. Então a partir dum certo momento, aquele era o alvo número um. ―Vamos
fazer aqui as flexibilizações necessárias, por exemplo na questão da retirada, por exemplo
na situação da MP revogadora, na própria questão dos créditos extraordinários. Vamos
fazer aqui as negociações necessárias com o Poder Executivo, com a burocracia do Estado‖
– porque as MPs não são uma questão apenas de governo, são uma questão de Estado: a
burocracia da Esplanada, de um modo geral, ama as medidas provisórias e isso exerce uma
força material sobre o presidente da República, qualquer que seja ele. Então era uma
espécie de concessão a esses setores, governo e burocracia de Estado, pra viabilizar o passo
que era, na minha avaliação, o mais importante, que era o fim do trancamento, a
possibilidade de fim do trancamento. Nós temos o mecanismo na Casa de afastar o
trancamento (...) Ele é casuístico, gerou um enorme desacerto na composição da pauta, né?
Hoje é mais fácil você votar uma PEC do que um projeto de lei, em razão exatamente pelo
fato de que a PEC não fica trancada pelas medidas provisórias e o projeto de lei ordinária
fica. Então se você pensasse como um analista, friamente, em termos teóricos, isso é
insano, concretamente insano, e gera uma série de problemas. Uma pressão permanente
pela votação de PECs, porque afinal é onde o Parlamento faz a sua agenda, em razão da
interpretação do presidente Michel [Temer]. O instrumento da PEC 511 era mais
sofisticado, porque ele previa a formação de uma maioria, que aí ditaria efetivamente a
agenda parlamentar, seja PL, lei complementar, PEC, enfim qualquer que seja a espécie
legislativa. Então me agradava muito aquela ideia, da possibilidade do destrancamento. E
essa foi a razão pela qual eu apresentei emendas, muito nesse sentido de ajudar o
Vaccarezza e o Picciani e, por conseguinte, de diminuir a resistência do governo, e também
com esse caráter de tentar viabilizar a votação da PEC 511 (Entrevista realizada em
11/5/2010).
De igual modo, o deputado Miro Teixeira foi o único membro da bancada do PDT,
outra bancada de esquerda ou centro-esquerda governista, a apresentar proposta ou emenda
pertinente aos itens da PEC nº 511/2006 enfocados acima (PEC nº 234/2008). O deputado
pedetista, à época ex-líder da bancada, propôs a responsabilização política do presidente da
República sempre que houvesse efeitos irreversíveis ―ao pacto federativo, à divisão e
independência dos poderes, aos direitos políticos individuais e sociais e à probidade
administrativa‖ ou ―danos à ordem e à segurança jurídica do País‖, assim como a
194
enumeração taxativa das matérias sobre as quais o chefe do Executivo, excepcionalmente,
pudesse dispor por meio de medidas provisórias.
A bancada do PSB, também de esquerda ou centro esquerda e governista, mostrou-
se pouco coesa. De um lado, o então líder Márcio França propôs a supressão dos
dispositivos da PEC nº 511/2006 por força dos quais as medidas provisórias editadas pelo
presidente da República só passariam a ganhar força de lei depois de admitidas pela CCJC
da Casa do Congresso Nacional em que iniciassem sua tramitação e o chefe do Executivo
não mais poderia editar medidas provisórias em matéria tributária (EMC nº 14). Ou seja, o
então líder dos socialistas queria que as medidas provisórias seguissem ganhando força de
lei tão logo fossem publicadas no Diário Oficial da União e que o presidente da República
mantivesse a competência de, por esse meio, dispor sobre matéria tributária. De outro lado,
o deputado Mauro Nazif propôs a estipulação de uma quantidade máxima de medidas
provisórias que o presidente da República pudesse editar a cada ano (PEC nº 111/2007) e o
deputado Júlio Delgado, a vedação tanto da revogação de medidas provisórias quanto da
edição, na mesma sessão legislativa, de medidas provisórias contendo matéria que já
tivesse sido objeto de outras rejeitadas ou caducas (EMC nº 13).
Outra bancada partidária a revelar-se pouco congruente na fase inicial de
apreciação da PEC nº 511/2006 foi a do PT, agremiação política de esquerda ou centro-
esquerda a que pertence o presidente Lula. Por meio da EMC nº 28, o deputado José
Eduardo Cardozo propôs a supressão dos dispositivos da PEC nº 511/2006 em virtude dos
quais as medidas provisórias editadas pelo presidente da República somente passariam a
adquirir força de lei depois de admitidas pela CCJC da Casa Congressual em que
começassem sua tramitação e o chefe do Executivo não mais poderia editá-las em matéria
tributária. Além disso, por intermédio de outra emenda, a EMC nº 27, o deputado José
Eduardo Cardozo queria garantir, ao presidente da República, a possibilidade de editar,
uma única vez, medida provisória contendo matéria que já tivesse sido objeto de outra já
rejeitada ou caduca. No contrafluxo, o deputado José Guimarães propôs a supressão pura e
simples do sobrestamento por medidas provisórias (EMC nº 12). Seu irmão, o deputado
José Genoíno apresentou proposta intermediária: supressão do sobrestamento em geral,
mas possibilidade de sua aplicação a casos específicos, mediante requerimento da maioria
absoluta ou de líderes que representassem esse número e aprovação pela mesma maioria
195
qualificada (EMC nº 11). Menos transigente, o deputado José Eduardo Cardozo propôs a
conservação do sobrestamento, com a possibilidade de sua não aplicação a casos
específicos, a requerimento da maioria absoluta (EMC nº 18).
O único integrante da bancada do PV, igualmente de esquerda ou centro esquerda e
governista, a apresentar emenda relacionada aos itens destacados da PEC nº 511/2006 foi o
deputado Marcelo Ortiz, ex-líder da bancada. O parlamentar verde propôs a supressão pura
e simples do sobrestamento ou trancamento da pauta por medidas provisórias.
A outra bancada partidária de esquerda ou centro-esquerda a se manifestar naquela
fase inicial de apreciação da PEC nº 511/2006 e suas apensadas foi a do PPS. Diferente das
demais, entretanto, a bancada do PPS é de oposição ao governo Lula. O líder Fernando
Coruja foi o único membro daquela bancada partidária a apresentar emenda pertinente aos
itens enfocados acima. Por meio da EMC nº 16, propôs a enumeração taxativa das matérias
sobre as quais o presidente da República, excepcionalmente, poderia dispor por intermédio
de medidas provisórias e a proibição da edição de medidas provisórias contendo matérias
que já tivessem sido objeto de outras rejeitadas ou caducas.
Integrantes da bancada do PMDB, bancada partidária de centro e governista,
propuseram a responsabilização política do presidente da República em caso de rejeição de
medida provisória por inexistência de urgência (deputado Michel Temer – PEC nº
420/2005) e a ampliação da limitação material ao poder outorgado ao presidente da
República para editar medidas provisórias (deputado João Magalhães – EMC nº 6).
A outra bancada de centro cujos membros apresentaram propostas ou emendas
relacionadas aos itens destacados da PEC nº 511/2006 foi a do PSDB. Ao contrário da
bancada peemedebista, no entanto, a bancada tucana é de oposição ao governo. O deputado
Antonio Carlos Mendes Thame propôs a ampliação da limitação material à competência do
presidente da República de editar medidas provisórias (PEC nº 213/2003) e o deputado
João Almeida, atual líder da bancada, a fixação de um número máximo de medidas
provisórias que o chefe do Executivo pudesse editar a cada ano (PEC nº 384/2005 e EMC
nº 29).
196
Integrantes da bancada do PP, de direita ou centro-direita e governista, propuseram
a supressão pura e simples das medidas provisórias (deputado Zonta – PEC nº 155/2003) e
o estabelecimento de uma quantidade máxima de medidas provisórias que pudessem ser
editadas a cada ano (deputado Carlos Souza – PEC nº 54/2007).
Por último, membros da bancada do DEM – também de direita ou centro-direita,
mas de oposição ao governo – propuseram a ampliação da limitação material à
prerrogativa do presidente da República de editar medidas provisórias (deputado José
Carlos Aleluia – EMC nº 19 e EMC nº 20), a estipulação do número máximo de medidas
provisórias que o chefe do Executivo pudesse editar a cada ano (deputados Clóvis Fécury –
PEC nº 336/2004 – e Lira Maia – PEC nº 118/2007), a supressão pura e simples do
sobrestamento (deputados Roberto Magalhães – PEC nº 514/2006 e EMC nº 18 – e José
Carlos Aleluia – EMC nº 26) e a proibição da edição de medidas provisórias contendo
matérias que já tivessem sido objeto de outras rejeitadas ou caducas (deputado Roberto
Magalhães – EMC nº 24).
Encerrado o prazo de emendamento na Comissão Especial, em 1º de abril de 2008 o
deputado Leonardo Picciani, do PMDB, relator da matéria, apresentou parecer à Comissão
pela aprovação da PEC nº 511/2006, de suas apensadas e de todas as emendas, na forma de
substitutivo por ele então oferecido (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006). Nas
palavras do parlamentar peemedebista,
vivemos hoje uma crise institucional pela descaracterização das funções dos Poderes da
República, tal como tradicionalmente concebidos. O Poder Executivo, como temos
inúmeros exemplos, não apenas executa administrativamente as políticas públicas. Assume
também, com tenacidade, a atividade legislativa sobretudo com a edição de tantas medidas
provisórias, haja vista, inclusive, devemos reconhecer, a inércia ou a timidez no exercício
dos controles constitucionais que podem inibir excessos, mas que não são exercidos pelo
Congresso Nacional e, menos ainda, pelo Poder Judiciário.
Na verdade, a prática constitucional desde a promulgação da Constituição Cidadã,
em 1988, evidencia a gradual prevalência da Presidência da República sobre o Congresso
Nacional no exercício da função legislativa. Concebidas originalmente como um
instrumento legislativo ágil, posto à disposição do chefe do Executivo, e respondendo ao
imperativo de criar um substituto para o velho decreto-lei ditatorial, as medidas provisórias
197
foram substancialmente alteradas em seu alcance e sentido por um conjunto de práticas das
quais tiveram parte cada um dos três Poderes – na maioria das vezes, em detrimento do
Legislativo. Com efeito, a sintética redação original do art. 62 ensejou uma série de
mutações constitucionais que permitiram a paulatina – mas inexorável – ampliação das
prerrogativas legislativas do Poder Executivo, não obstante a intervenção congressual
expressa na Emenda Constitucional nº 32, de 2001.
(...)
As razões para o excesso de medidas provisórias são várias, e apontamos aqui
apenas as mais importantes. Em primeiro lugar, destacamos a inexistência de
responsabilidade política do Presidente da República pela edição de medidas provisórias
em razão do sistema de governo aqui adotado. A importação do decreto-legge italiano
(Constituição italiana de 1947, art. 77) na Constituinte de 1988 deu-se num contexto até
então parlamentarista – regime onde a colaboração entre o Executivo e o Legislativo
tornam o primeiro politicamente responsável pela sua produção normativa extraordinária,
sob pena de queda do Gabinete. A posterior adoção do presidencialismo pela Constituição
Cidadã suprimiu essas conseqüências políticas da edição de medidas provisórias, retirando
do cenário a moção de desconfiança, própria do parlamentarismo para o qual foram aquelas
concebidas. Desobrigado de negociar apoio prévio no Congresso Nacional, e livre de
qualquer sanção política pelo emprego sem respaldo de uma medida legislativa de exceção,
o Executivo viu-se com suas prerrogativas constitucionais significativamente ampliadas.
Em segundo lugar, é forçoso reconhecer que o Poder Legislativo não soube, ou não
pôde, frear os excessos do Executivo na edição de medidas provisórias. Lembramos que o
Congresso Nacional recebeu em 1988 um papel de grande relevância no controle do poder
do Presidente da República na matéria. Cabe às suas Casas reapreciar o cumprimento dos
requisitos constitucionais de relevância e urgência, assim como mérito das medidas,
podendo aprová-las, com ou sem alterações, ou rejeitá-las, expressa ou tacitamente. Mais: a
Carta Política de 1988 não acolheu a aprovação por decurso de prazo do decreto-lei
ditatorial, excluindo assim a possibilidade da existência de uma norma permanente sem a
aprovação do Parlamento.
Entretanto, firmou-se no Judiciário e no próprio Legislativo o entendimento de que
a não-apreciação por esse último não impediria a edição de sucessivas medidas provisórias
reproduzindo o mesmo conteúdo. Consolidou-se assim a possibilidade da criação de um
―contínuo legislativo‖, convalidando-se os efeitos das precedentes que perderam sua
198
eficácia. O que era emergencial e precário tornou-se então duradouro e rotineiro, com a
virtual exclusão, por longuíssimos períodos de tempo, da apreciação parlamentar da
matéria.
(...)
De outra parte, os pressupostos constitucionais de relevância e urgência nem
sempre foram efetivamente controlados pelo Congresso Nacional, que deixou, na prática,
somente ao chefe do Poder Executivo decidir sobre a relevância e a urgência a fundamentar
a edição dessas normas (...)
No âmbito normativo, a inovação expressa na Emenda Constitucional nº 32, de
2001, revelou-se fonte de males ainda mais graves, visto que limitou a reedição das
medidas provisórias, mas retirou do Congresso o controle de sua pauta legislativa (...)
O resultado desse processo histórico é conhecido. Vivemos hoje uma situação
insustentável onde o Congresso atua predominantemente ao sabor das prioridades ditadas –
ainda que segundo a letra da Constituição – pelo Presidente da República.
(...)
Qual a conseqüência óbvia dessa ordem de fatores? Hoje nós, parlamentares, não
temos mais espaço para votar as proposições originadas pelo Poder Legislativo. Nosso
tempo e paciência são empregados exclusivamente na análise de medidas provisórias não
raro formuladas pelo segundo escalão da administração por agentes, concursados ou não,
sem representatividade popular (...) as medidas provisórias, apesar de chanceladas pelo
Presidente da República, são elaboradas por quem não teve que se submeter ao crivo
popular, única fonte legitimadora para o exercício de tão relevante mister legislativo. E,
com isso, os anelos sociais dos eleitores das mais diversas regiões do país ficam relegados,
colocados em um plano secundário. Será que os redatores das medidas provisórias
conhecem as reais necessidades dos cidadãos nas pequenas cidades de nossos Estados?
(...)
De toda sorte, é certo também que o país não pode prescindir de um instrumento
que dê agilidade à gestão dos interesses públicos, notadamente às necessidades prementes
que ocorrem no cotidiano da Nação. O preço a pagar, entretanto, nunca poderá ser a
submissão de um Poder a outro, ou o apequenar-se do Congresso Nacional no exercício de
199
sua função precípua, qual seja a de produzir normas gerais e abstratas que vinculem
democraticamente toda a Nação brasileira num processo de debates e de construção de
consenso.
Portanto, entre tantas considerações, temos uma certeza: o instituto da medida
provisória deve continuar existindo, porém não mais nos moldes atuais. Urge alterar a
sistemática que se encontra em vigor (Parecer do Relator).
A despeito do percuciente diagnóstico da situação, o deputado Leonardo Picciani,
do PMDB, relator da matéria na Comissão Especial, não acatou o dispositivo da PEC nº
511/2006 em virtude do qual as medidas provisórias editadas pelo presidente da República
somente ganhariam força de lei depois de admitidas pela CCJC da Casa do Congresso
Nacional em que iniciassem sua tramitação nem a proposta, inclusive de seu colega de
bancada, o deputado Michel Temer, atual presidente da Câmara, de acordo com a qual o
chefe do Executivo poderia responder por crime de responsabilidade caso medida
provisória por ele editada fosse rejeitada por Casa Congressual em razão da inexistência de
urgência. Tampouco acolheu o deputado Leonardo Picciani qualquer das propostas de
ampliação da limitação material do poder do presidente da República de editar medidas
provisórias nem de estabelecimento de uma quantidade máxima de medidas provisórias
que poderiam ser editadas a cada ano. Afora isso, em lugar do dispositivo da PEC nº
511/2006 em virtude da qual o chefe do Executivo não poderia editar medida provisória
com mais de um objeto, o relator acolheu a proposta do deputado Flávio Dino, do PCdoB,
que simplesmente vedava a falta de ―homogeneidade temática‖ entre seus vários objetos.
As únicas propostas de limitação do poder do presidente da República de editar
medidas provisórias efetivamente acatadas pelo deputado Leonardo Picciani foram a que
suprimia o trancamento da pauta e a que proibia a revogação. Entretanto, até mesmo o
acolhimento da proposta de supressão do travamento da pauta restou ambíguo no
substitutivo do relator: ―Considerada admissível, ou não tendo sido apreciada a
admissibilidade dentro do prazo, a medida provisória entrará em regime de urgência,
passando a ocupar o primeiro lugar na Ordem do Dia do Plenário nas sessões ordinárias e
extraordinárias‖ (Parecer do Relator). É difícil imaginar outro efeito da pretendida
precedência das medidas provisórias senão o do trancamento da pauta. Ademais, o
substitutivo do deputado Leonardo Picciani suprimiu a vedação constitucional da abertura
200
de crédito suplementar por meio de medida provisória e acrescentou: ―O projeto de lei de
crédito suplementar e especial que, após decorrido o prazo de setenta e cinco dias de seu
envio pelo Poder Executivo, não tenha sido incluído na Ordem do Dia do Congresso
Nacional, poderá ser objeto de medida provisória‖ (Ibidem). Observe-se que, longe de
limitar o poder do presidente da República de editar medidas provisórias, o substitutivo do
relator está aqui ampliando essa competência, para incluir a possibilidade de o chefe do
Executivo, por meio desse expediente, abrir crédito suplementar e até mesmo crédito
especial.
Percebendo a ambiguidade do substitutivo do deputado Leonardo Picciani no que
tange ao sobrestamento ou ao trancamento da pauta, o deputado Flávio Dino, do PCdoB,
em voto em separado apresentado no dia 7 do mesmo mês, propôs a supressão da
expressão ―entrará em regime de urgência‖. Não resolveu, contudo, o problema. Além
disso, propôs fosse o presidente da República autorizado a retirar medidas provisórias já
em vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional (cf. Ficha de Tramitação da
PEC nº 511/2006 e Voto em Separado do deputado Flávio Dino).
Na mesma toada, o deputado José Eduardo Cardozo, do PT, também em voto em
separado apresentado no dia seguinte, reiterou a proposta contida na EMC nº 18, por ele
anteriormente oferecida, por força da qual a não apreciação de medida provisória em
determinado prazo resultaria no trancamento da pauta da Casa Congressual em que
estivesse tramitando, com a possibilidade de esse travamento ser suspenso mediante
requerimento apresentado e aprovado pela maioria absoluta ou por líderes que
representassem essa maioria (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006 e Voto em
Separado do deputado José Eduardo Cardozo).
Em resposta, no dia 16 o deputado Leonardo Picciani, do PMDB, apresentou uma
complementação de voto, incorporando ao substitutivo anteriormente ofertado parte das
propostas dos deputados Flávio Dino, do PCdoB, e José Eduardo Cardozo, do PT. Assim,
o substitutivo do relator passou a dispor, de maneira persistentemente ambígua, que
considerada admissível, ou não tendo sido apreciada a admissibilidade dentro do prazo,
será indicado o relator para, em cinco dias, manifestar-se quanto ao mérito, bem como
quanto à admissibilidade no caso de não apreciação, após o que a medida provisória entrará
201
em regime de urgência, passando a ocupar, salvo deliberação contrária da maioria absoluta
da Casa, o primeiro lugar na Ordem do Dia do Plenário nas sessões ordinárias e
extraordinárias, não sobrestando a pauta de deliberação (Complementação do Voto do
Relator; cf. também a Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006).
Da mesma forma, o substitutivo do deputado Leonardo Picciani, do PMDB, passou
a conter dispositivo permitindo ao presidente da República, dentro de determinado prazo,
retirar medida provisória já em vigor e submetida à apreciação congressual (cf.
Complementação de Voto do Relator).
O parecer do relator, com a complementação de voto, foi aprovado à unanimidade
pela Comissão Especial no mesmo dia (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006).
A PEC nº 511/2006 e suas apensadas começaram a ser efetivamente apreciadas
pelo Plenário da Câmara, em primeiro turno, em 19 de novembro de 2008.154
Na sessão
extraordinária realizada na manhã daquele dia, o deputado Jorginho Maluly, do DEM,
apresentou um requerimento obstrucionista de retirada de pauta, que veio a ser rejeitado.
Em consequência, foram tidos por prejudicados os requerimentos de adiamento de
discussão apresentados pelos deputados Luciana Genro, então líder da bancada do PSOL,
Emanuel Fernandes, do PSDB, e Guilherme Campos, do DEM, todos igualmente
obstrucionistas. O deputado José Carlos Aleluia, do DEM, encaminhou a votação
favoravelmente ao requerimento de retirada de pauta nos seguintes termos:
Sr. Presidente, trabalhávamos com a hipótese de preservar o Poder Legislativo
mudando o rito das medidas provisórias. Já fizemos isso um tempo atrás, quando, de
maneira equivocada, estabelecemos a obstrução da pauta, que terminou fazendo com que o
Executivo pautasse o Legislativo durante todo esse período.
Nós trabalhamos nessa PEC que está sendo votada e ela tinha alguns pontos
positivos, que já não tem mais. Ela, agora, além de permitir que o Poder Executivo paute o
Legislativo, permite que ele mude a pauta do Legislativo.
154
Nos moldes do art. 60, § 2º, da Constituição, ―a proposta será discutida e votada em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, considerada aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos
respectivos membros‖.
202
Na posição atual, apenas a medida provisória tranca a pauta. Com esse projeto que
se quer votar, o Poder Executivo, com a sua Maioria, terá o poder de trancar ou destrancar
a pauta. É evidente que se trata de um retrocesso, sobretudo diante da decisão do Supremo
Tribunal Federal referente aos créditos.
(...)
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não vejo nenhuma vantagem em votarmos
esse projeto. Não só os Deputados da Oposição, mas também os Deputados do Governo,
que querem continuar merecendo o mínimo de confiança, o mínimo de consideração do
Poder Executivo, não podem votar esse projeto.
Observem como é o jogo Parlamentar: a Oposição tem posição divergente da do
Governo, e essa postura das oposições fortalece os Deputados da base do Governo. Se
permitirmos que o Governo manipule a pauta, como está querendo esta emenda
constitucional, a Oposição ficará enfraquecida, mas ficarão muito mais enfraquecidos os
Deputados e Senadores da base do Governo, que agora não serão nem mais recebidos por
Ministro, uma vez que Poder Executivo vai depender muito menos do Poder Legislativo
(Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 19/11/2008, 9h).
Já o deputado Emanuel Fernandes, do PSDB, menos intransigente, ainda
vislumbrava a possibilidade de acordo que viabilizasse a aprovação da PEC nº 511/2006 e
suas apensadas, na forma do substitutivo aprovado pela Comissão Especial:
Nós, do PSDB, estamos analisando todos os pontos, os prós e contras, mas, neste
momento, nós vamos acompanhar os democratas exatamente para tentar encontrar um
acordo. Há certos avanços nessa proposta com certeza, mas há aspectos a serem
observados. Portanto, precisamos ganhar um certo tempo (Notas Taquigráficas da Sessão
Extraordinária de 19/11/2008, 9h).
Em que pese à posição um tanto conciliatória do PSDB, já aqui se percebe como
que uma polarização das bancadas partidárias em relação ao governo: as bancadas
governistas começam a se posicionar a favor do substitutivo da Comissão Especial à PEC
nº 511/2006, enquanto que as bancadas de oposição ao governo se posicionam contra essa
proposição ou pelo menos contra alguns de seus dispositivos, a bancada do PSOL entre
elas – sem embargo também das PECs e emendas anteriormente apresentadas por
integrantes de bancadas governistas tendentes a reduzir o poder concedido ao presidente da
203
República para editar medidas provisórias e dos votos favoráveis dos deputados da
oposição ao substitutivo do deputado Leonardo Picciani, do PMDB, no âmbito da
Comissão Especial.
Na mesma sessão extraordinária de 19 de novembro de 2008, foi igualmente
rejeitado, por meio de votação nominal, outro requerimento obstrucionista apresentado
pelo deputado Guilherme Campos, do DEM, daquela vez solicitando a discussão por grupo
de artigos. Os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB,155
do PT, do PV, do PMDB/PTC,
do PP, do PR, do PSC e do PTB orientaram suas bancadas a votar ―não‖ ao requerimento,
ao passo que orientou a votar ―sim‖ a líder do PSOL. As bancadas do PPS, do PSDB e do
DEM entraram em obstrução, para negar quorum à votação.156
De um total de 257,
somente um deputado, do PMDB, votou contra a orientação da liderança, o que equivale a
2% dos votantes da bancada peemedebista. Já entre as bancadas que estavam em
obstrução, a divergência foi um pouco maior. De um total de 44, três votaram, contrariando
assim a deliberação das respectivas bancadas: um do PSDB votou ―não‖ ao requerimento
obstrucionista (5% dos tucanos presentes) e dois do DEM votaram em sentidos diferentes
(5%, tendo em conta que apenas o que votou ―não‖ efetivamente divergiu da maioria da
bancada). Considerando que o índice médio de incongruência foi de 4%, pode-se dizer que
as bancadas do PSDB e do DEM, que vinham fazendo oposição ao substitutivo da
Comissão Especial, foram as que se mostraram menos coesas naquela votação (cf. Lista de
Votantes por Partido).
De igual modo, ainda outro requerimento obstrucionista de retirada de pauta,
apresentado pelo deputado Jorginho Maluly, do DEM, foi rejeitado, mediante votação
nominal, na sessão extraordinária da tarde daquele mesmo dia. Orientaram suas bancadas a
155
Hoje PSB/PCdoB/PMN/PRB.
156 Nos termos do art. 47 da Constituição Federal, ―salvo disposição constitucional em contrário, as
deliberações de cada Casa e de suas comissões serão tomadas por maioria de votos, presente a maioria
absoluta de seus membros‖. Assim, para que se proceda a uma votação na Câmara dos Deputados ou no
Senado Federal para a qual não se exija quorum qualificado, é necessária a presença da maioria absoluta de
seus membros. As bancadas partidárias, portanto, entram em obstrução para negar quorum a determinada
votação, inviabilizando-a.
204
votar contra o requerimento obstrucionista os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB,157
do PT, do PV, do PSOL, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do PTB e do governo, ao
tempo que as bancadas do PPS, do PSDB e do DEM outra vez entraram em obstrução. De
um total de 258, só um deputado, do PV, não seguiu a orientação da liderança, o que
corresponde a 8% dos votantes verdes. Entre os deputados cujas bancadas estavam em
obstrução, dois votaram contra o requerimento, todos do DEM (9% dos democratas
presentes) (cf. Lista de Votantes por Partido).
Na mesma sessão extraordinária da tarde de 19 de novembro de 2008, na fase de
discussão da PEC nº 511/2006 e suas apensadas, os deputados João Oliveira, José Carlos
Aleluia e Jorginho Maluly, todos do DEM, manifestaram-se pela rejeição do substitutivo
da Comissão Especial, enquanto que se pronunciaram por sua aprovação os deputados
Flávio Dino, do PCdoB, José Genoíno, do PT, Leonardo Picciani, do PMDB, e Arnaldo
Faria de Sá, do PTB (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 19/11/2008,
14h16min).
O encerramento da discussão, requerido pelo deputado José Genoíno, do PT, foi
aprovado, mediante votação nominal, na mesma sessão extraordinária vespertina.
Coerentes com o modo como se vinham comportando até então, os líderes do
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB, do PT, do PV, do PSOL, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do
PSC, do PTB e do governo orientaram suas bancadas a votar ―sim‖, ao passo que entraram
em obstrução as bancadas do PPS, do PSDB, do DEM e da minoria. Na oportunidade, a
então líder do PSOL, deputada Luciana Genro, deixou claro que, conquanto estivesse
orientando a bancada a votar favoravelmente ao encerramento da discussão, aquela
bancada iria votar contra o substitutivo da Comissão Especial (cf. Notas Taquigráficas da
Sessão Extraordinária de 19/11/2008, 14h16min). De um total de 294, apenas um deputado
do PDT votou contra a orientação da liderança, o que equivale a 5% dos votantes
pedetistas. Entre as bancadas que estavam em obstrução, cinco deputados votaram: dois do
PPS e um do PSDB votaram ―não‖, não tendo havido, portanto, real divergência com a
maioria das respectivas bancadas; e dois do DEM votaram em sentidos diferentes (5%,
157
Hoje PSB/PCdoB/PMN/PRB.
205
tendo em conta que somente o que votou ―sim‖ efetivamente divergiu da maioria da
bancada) (cf. Lista de Votantes por Partido).
No dia 25 do mesmo mês, iniciada a fase de votação, os deputados Duarte Nogueira
e Paulo Abi-Ackel, ambos do PSDB, encaminharam-na contrariamente ao substitutivo da
Comissão Especial à PEC nº 511/2007 e suas apensadas, ao tempo que encaminharam
favoravelmente os deputados Flávio Dino, do PCdoB, e Arnaldo Faria de Sá, do PTB.
Naquela oportunidade, o deputado Duarte Nogueira, do PSDB, denunciou o que
considerava ―atropelamento‖ da minoria pelo governo:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, vamos encaminhar contrariamente à
matéria, tendo em vista que, na tarde de hoje, o PSDB e os partidos de oposição estão
sendo atropelados pelo açodamento da base governista, na direção de procurar, na nossa
opinião, sem a devida amplitude ao respeito ao contraditório, impor a vontade pela maioria,
sem a discussão democrática necessária que deve haver em qualquer Parlamento.
Em primeiro lugar, somos favoráveis à alteração do rito das medidas provisórias.
No entanto, aproveitaremos as ofertas de sugestão feitas por nós, da Oposição –
PSDB, DEM e PPS –, para tentar, junto com o que foi apresentado pelo Relator, o nobre
Deputado Leonardo Picciani, com o qual mantemos um excelente diálogo e bom convívio
nesta Casa, aperfeiçoar o texto, tendo em vista que o intuito do Parlamento, ao alterar o rito
das medidas provisórias, é fortalecer a instituição e não ficar, como tem acontecido quase
que semanalmente nesta Casa, à mercê da vontade legiferante do Poder Executivo, que, de
maneira quase semelhante aos famigerados decretos-lei, impõe à sociedade brasileira a sua
vontade sem passar pelo crivo daqueles que representam a população no Poder Legislativo
para oferecer o contraditório, aperfeiçoar a matéria ou até vir a rejeitá-la, partindo do
pressuposto de que alterar o art. 62 da Constituição, conjugado com o art. 167, requer um
ajustamento fino. Dependendo da maneira como fizermos essas mudanças, Deputado
Edinho Bez, estaremos produzindo um texto pior do que o que hoje tanto criticamos e que
tem feito o trancamento da pauta desta Câmara e do Congresso Nacional, a cada 45 dias,
prorrogáveis a cada 90 dias, impondo uma agenda que não é legislativa do País e sim a
agenda legislativa do Palácio do Planalto, que nem sempre deve ser considerada como a
agenda prioritária do Brasil.
(...)
206
Não é dessa maneira que se faz o debate nesta Casa, ou seja, atropelando como um
trator a Minoria, da maneira como o Governo aqui está fazendo, sendo que poderíamos ter
feito isso estabelecendo uma pauta mais tranqüila, evitando o processo de obstrução,
evitando um desgaste desnecessário e, ao mesmo tempo, convergindo para aquilo que nos é
comum. Qual seja, produzir, ao final, uma mudança no rito das medidas provisórias, mas
com um texto constitucional melhor do que aquele com que hoje somos obrigados a
conviver por força do que reza a Constituição.
Falo em nome do PSDB, externo a nossa opinião e, ao longo do encaminhamento e
do restante das deliberações, estaremos aqui afinando ainda mais os nossos... (O microfone
é desligado.) (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 25/11/2008, 17h4min).
Um requerimento obstrucionista de votação artigo por artigo, apresentado pelo
deputado Guilherme Campos, do DEM, foi rejeitado, por votação nominal, logo em
seguida, na mesma sessão extraordinária de 25 de novembro de 2008. Orientaram suas
bancadas a votar contra o requerimento os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB,158
do
PT, do PV, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do PTB e do governo, ao tempo que a
líder do PSOL orientou sua bancada a votar a favor. As bancadas do PPS, do PSDB e do
DEM entraram em obstrução. De um total de 263, somente dois deputados do PMDB
votaram contrariamente à orientação de seu líder, o que corresponde a 3% dos votantes
peemedebistas. Já entre as bancadas que estavam em obstrução, três deputados votaram,
todos do DEM: dois ―não‖ e um ―sim‖ (8% dos democratas presentes, considerando que
apenas os dois que votaram ―não‖ divergiram da maioria da bancada). Portanto, a bancada
do DEM, que vinha fazendo a oposição mais ostensiva ao substitutivo da Comissão
Especial, foi a que se revelou menos coesa naquela votação (cf. Notas Taquigráficas da
Sessão Extraordinária de 25/11/2008, 17h4min, e Lista de Votantes por Partido).
Finalmente, na mesma sessão extraordinária de 25 de novembro de 2008, foi
submetido a votação o substitutivo da Comissão Especial à PEC nº 511/2006 e suas
158
Hoje PSB/PCdoB/PMN/PRB.
207
apensadas, ressalvados os destaques.159
Naquela vez, só os líderes do PSOL e do DEM
orientaram as respectivas bancadas a votar contrariamente à matéria. Os líderes do PPS e
do PSDB, acompanhando os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB,160
do PT, do PV, do
PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do PTB e do governo, orientaram suas bancadas a
votar favoravelmente. Em que pesasse a terem acompanhado os democratas em várias
tentativas de obstruir a votação e haverem denunciado o ―atropelamento‖ da minoria pelo
governo, os tucanos votaram a favor do substitutivo da Comissão Especial na expectativa
de poder ―aperfeiçoá-lo‖ por meio de destaques. Pelo menos foi isso que anunciou o
deputado Duarte Nogueira: ―É claro, porém, que queremos aperfeiçoar o texto por meio
dos destaques que apresentaremos ao longo do restante da votação‖ (Notas Taquigráficas
da Sessão Extraordinária de 25/11/2008, 17h4min).161
O substitutivo da Comissão Especial à PEC nº 511/2006 e suas apensadas,
ressalvados os destaques, foi aprovado em primeiro turno por 363 a 50 – 55 a mais do que
é necessário à aprovação de PEC.162
De um total de 414, só 14 deputados votaram contra a
159
Nos termos do art. 191, incisos II e IV, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, ―o substitutivo
da Comissão tem preferência na votação sobre o projeto; aprovado o substitutivo, ficam prejudicados o
projeto e as emendas a ele oferecidas, ressalvadas as emendas ao substitutivo e todos os destaques‖.
160 Hoje PSB/PCdoB/PMN/PRB.
161 De acordo com o deputado Fernando Coruja, líder do PPS, ―obstrução muitas vezes não se tá a falar do
mérito. O que tá em jogo são outras coisas. Muitas vezes cê tá obstruindo ali pra que não se vote outra
matéria. Então não dá pra fazer uma relação entre a obstrução... ‗Cê tá obstruindo tal projeto porque cê é
contra aquele projeto‘. Essa relação, cê não pode fazer. Porque a obstrução, ela tem a ver com outros fatores.
Houve um problema aí nessa PEC que no meio da PEC o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão.
Quando o Supremo Tribunal apreciava o mérito de uma medida provisória, ele acabou decidindo pela
inconstitucionalidade de uma relativo a crédito extraordinário. Isso também alterou o quadro. No começo
podia às vezes ser um avanço a PEC. Depois ela foi associando um retrocesso. Mas o nosso posicionamento
ali não era um posicionamento em relação à PEC como regra geral, que era uma PEC que se percebia que
não ia votar (...) Às vezes cê quer votar pra apressar, pra votar outra matéria. A PEC, quando cê vê que ela
não vai votar, então às vezes vota a favor pra liberar rápido ali (Entrevista realizada em 28/4/2010).
162 Na forma do art. 60, § 2º, da Constituição, somente se considera aprovada a PEC que obtiver, em dois
turnos, três quintos dos votos dos membros de cada Casa do Congresso. Assim, para ser aprovada pela
Câmara, uma PEC necessita de no mínimo 308 votos favoráveis.
208
orientação de seus líderes: um do PPS (11% dos votantes daquele partido), um do PSOL
(33%), seis do PSDB (12%), um do PMDB (1%) e cinco do DEM (11%). Note-se que as
bancadas menos coesas naquela votação – do PPS, do PSOL, do PSDB e do DEM –, foram
justamente as que vinham fazendo oposição ao substitutivo da Comissão Especial (cf. Lista
de Votantes por Partido).
O destaque da bancada do PSDB que pretendia manter a proibição constitucional da
abertura de crédito suplementar por meio de medida provisória, suprimida no substitutivo
da Comissão Especial, foi submetida a votação em 4 de dezembro de 2008. Encaminharam
a votação contrariamente à manutenção da vedação os deputados José Genoíno e Maurício
Rands, do PT, enquanto que o deputado Emanuel Fernandes, do PSDB, encaminhou
favoravelmente. A votação do destaque, porém, somente foi concluída no dia 9 do mesmo
mês. Os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB, do PT, do PV, do PMDB/PTC, do PP, do
PR, do PSC, do PTB e do governo orientaram suas bancadas a votar contra a mantença da
proibição constitucional da abertura de crédito suplementar por intermédio de medida
provisória, portanto a favor do dispositivo destacado do substitutivo que a havia suprimido,
ao passo que orientaram as respectivas bancadas a votar a favor da manutenção da vedação
constitucional, por conseguinte contra o dispositivo destacado do substitutivo, os líderes do
PPS, do PSOL, do PSDB, do DEM e da minoria (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº
511/2006 e Notas Taquigráficas da Sessão Ordinária de 9/12/2008).
O dispositivo destacado do substitutivo recebeu 306 votos favoráveis e 91
contrários. Tratando-se de dispositivo de PEC, precisava de no mínimo 308 votos
favoráveis para que fosse mantido. Foi acatada, pois, a pretensão do PSDB de manter a
proibição constitucional da abertura de crédito suplementar por meio de medida provisória.
De um total de 397, dez deputados votaram contrariamente à orientação de seus líderes:
um do PT (1% dos votantes petistas), um do PSDB (2%), dois do PP (7%), um do PSC
(11%), um do PTB (6%) e quatro do DEM (11%). Considerando que o índice médio de
incongruência foi de 6%, pode-se dizer que as bancadas do PP, do PSC, do PTB e do DEM
foram as que se mostraram menos coesas naquela votação (cf. Lista de Votantes por
Partido).
Na mesma sessão ordinária de 9 de dezembro de 2008, foi submetido a votação um
outro destaque, então da bancada do DEM, que pretendia a supressão da expressão ―salvo
209
deliberação contrária da maioria absoluta da Casa‖, constante do substitutivo da Comissão
Especial (cf. Ficha de Tramitação da PEC nº 511/2006). Ou seja, o DEM não queria
conceder à maioria o poder de destrancar a pauta sempre que lhe conviesse. É dizer, não
desejava perder, como integrante da minoria, a possibilidade de fazer obstrução com o
objetivo de marcar suas posições perante o eleitorado. Isso já havia sido apontado pelo
deputado democrata José Carlos Aleluia ao encaminhar a votação favoravelmente a um dos
requerimentos obstrucionistas de retirada de pauta: ―Na posição atual, apenas a medida
provisória tranca a pauta. Com esse projeto que se quer votar, o Poder Executivo, com a
sua Maioria, terá o poder de trancar ou destrancar a pauta‖ (cf. transcrição do
pronunciamento acima). Em outras palavras, conquanto houvesse apresentado emenda
propondo a supressão do sobrestamento ou trancamento da pauta (EMC nº 26), o deputado
José Carlos Aleluia não queria outorgar à maioria o poder de destrancá-la a seu bel prazer,
eliminando assim a possibilidade da minoria de fazer obstrução.
Os deputados Maurício Rands, então líder da bancada do PT, e Leonardo Picciani,
do PMDB, encaminharam a votação contrariamente à pretensão do DEM, ao tempo que
encaminharam favoravelmente os deputados democratas Ronaldo Caiado e Paulo
Bornhausen. Este último deixou ainda mais explícita a pretensão do DEM e da minoria:
Sr. Presidente, Srs. Deputados, este tema é fundamental para o funcionamento da
democracia. Eu vou explicar o porquê.
Diferente do que alguns pensam e acham, a democracia não é democracia pela
existência de uma maioria. Ela é democracia porque os direitos das minorias são
preservados no regime democrático e fazem com que, a partir daí, exista o equilíbrio de
forças. É fácil pensar que, se tivesse uma maioria, você seria o dono da democracia. Quem
tem maioria manda, quem tem minoria fica quieto. E esse não é o espírito nem da
Constituição nem do regime democrático. Nós precisamos ter esta atenção.
Vejo aqui a bancada do PT. Eu ouvi atentamente o Deputado Maurício Rands.
Aqui nesta Casa, e na democracia assim o é, há o regime da alternância: hoje é Governo,
amanhã é Oposição.
Nós não podemos, sob pena de estar mexendo no equilíbrio do regime
democrático, subtrair, em nome da agilidade, ou o que for, aquilo que não é um
210
pressuposto do Parlamento. O Parlamento não é em si uma Casa da agilidade. É uma Casa
da contradição, do contraditório, da discussão. Por isso que se vota aqui, por isso que aqui
se discute à exaustão. Nós não podemos querer dar ao Parlamento a agilidade que
cobramos do Executivo. Não é isso. Mas o Parlamento nunca se furta de dar resposta à
sociedade, em tudo aquilo que a sociedade reclama. Mas tudo no seu tempo. Às vezes a
sociedade reclama, pedindo um tempo menor, certa pressa, mas ocorre que o sistema
democrático é imperfeito por si só – e ainda assim é o melhor regime para todos nós.
Fazer obstrução – e aqui vejo novamente o PT – é da prática do Regimento Interno,
da prática do funcionamento desta Casa. Aqui, quando fomos Governo, juntamente com o
PSDB, travamos batalhas históricas, Deputado Maurício Rands. Não porque o PT não
quisesse votar uma matéria de interesse para o País. Não é isso. É porque ele tinha um
ponto de vista divergente, e queria chamar, como minoria, a atenção da sociedade
brasileira, o tempo que fosse preciso, possível e necessário para que aquilo que o partido, e,
portanto, parte da sociedade, não queria que fosse realizado por uma maioria, porque isso
poderia estar ofendendo o direito das minorias.
Esta é uma questão fundamental.
Portanto, o que o Democrata procura fazer – e aqui disse bem o Deputado Caiado –
é que possamos manter este equilíbrio entre Maioria e Minoria, com o instituto, sim, da
obstrução, que é um instituto extremo. E neste momento fazemos uso da obstrução,
principalmente, o DEM, o PSDB e o PPS, já que somos Oposição, porque temos uma
minoria, temos um número de Deputados menor do que pressupõe a sociedade com relação
às maiorias. A Oposição que está aqui hoje não é a que foi eleita pelo voto popular; ela era
muito maior do que a que está aqui hoje. Porque houve uma migração de Parlamentares
que foram eleitos por partidos de oposição. E mais: de partidos que não participaram da
eleição ao lado do Governo, mas que fizeram legitimamente acordos de participação;
alguns estavam sozinhos, e outros, em outro lado (cf. Notas Taquigráficas da Sessão
Ordinária de 9/12/2008).
Orientaram suas bancadas a votar contra a manutenção da expressão ―salvo
deliberação contrária da maioria absoluta da Casa‖ no texto do substitutivo aprovado,
portanto a favor da pretensão dos democratas, os líderes do PPS, do PSOL, do PSDB, do
211
DEM e da minoria, enquanto que os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB,163
do PT, do
PV, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do PTB e do governo orientaram as
respectivas bancadas a votar a favor da mantença da expressão, por conseguinte contra a
pretensão do DEM, na sessão extraordinária realizada na tarde do dia seguinte (cf. Notas
Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 10/12/2008, 15h).
A expressão ―salvo deliberação contrária da maioria absoluta da Casa‖, constante
do substitutivo da Comissão Especial, foi mantida por 325 a 106. Não foi, pois, acolhida a
pretensão do DEM. De um total de 431, onze deputados votaram contra a orientação de
seus líderes: um do PPS (10% dos votantes daquele partido), três do PMDB (4%), três do
PP (9%) e quatro do DEM (9%). Tendo em conta que o índice médio de incongruência foi
de 6%, pode-se dizer que as bancadas do PPS, do PP e do DEM foram as que se mostraram
menos congruentes naquela votação (cf. Lista de Votantes por Partido).
Na sessão extraordinária realizada na noite daquele mesmo dia, ou seja, de 10 de
dezembro de 2008, foi costurado um acordo para a votação dos destaques remanescentes,
por força do qual alguns desses destaques foram retirados. Em seguida, foi submetido a
votação um destaque do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB que pretendia suprimir o dispositivo
do substitutivo aprovado em virtude do qual o presidente da República não mais poderia
revogar medidas provisórias. Encaminharam a votação contra a pretensão do
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB os deputados Fernando Coruja, líder da bancada do PPS, e
Onyx Lorenzoni, ex-líder da bancada do DEM, ao passo que os deputados José Genoíno,
do PT, e Miro Teixeira, ex-líder da bancada do PDT, encaminharam a favor. Os líderes do
PPS, do PSOL, do PSDB, do DEM e da minoria orientaram suas bancadas a votar
contrariamente à pretensão do bloco parlamentar governista, ao tempo que orientaram as
respectivas bancadas a votar a favor os líderes do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB, do PT, do
PV, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do PTB e do governo (cf. Notas Taquigráficas
da Sessão Extraordinária de 10/12/2008, 20h4min).
O dispositivo do substitutivo aprovado que vedava a revogação de medidas
provisórias recebeu 91 votos favoráveis e 293 contrários. Não foi, portanto, mantido. Ou
163
Hoje PSB/PCdoB/PMN/PRB.
212
seja, prosperou a pretensão do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB de suprimir o dispositivo do
substitutivo que proibia a revogação de medidas provisórias. De um total de 384, doze
deputados votaram contra a orientação de seus líderes: um do PSB (6% dos votantes
daquele partido), quatro do PMDB (6%), três do PP (10%) e quatro do DEM (10%).
Considerando que o índice médio de incongruência foi de 7%, pode-se dizer que as
bancadas do PP e do DEM foram as que se revelaram menos coesas naquela votação (cf.
Lista de Votantes por Partido).
Outro destaque da bancada do PSDB, que pretendia a supressão do dispositivo do
substitutivo aprovado que permitia o presidente da República retirar medidas provisórias já
em vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional, foi submetido a votação em
16 de dezembro de 2008. Encaminhou a votação contra a pretensão do PSDB o deputado
Antonio Carlos Biscaia, do PT, enquanto que os deputados tucanos Duarte Nogueira e
Zenaldo Coutinho encaminharam a favor (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária
de 16/12/2008). Na sessão extraordinária realizada na manhã do dia seguinte, os líderes do
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB, do PT, do PV, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do
PTB e do governo orientaram suas bancadas a votar contrariamente à supressão da
autorização para retirar medidas provisórias, ao tempo que orientaram as respectivas
bancadas a votar favoravelmente os líderes do PPS, do PSOL, do PSDB, do DEM e da
minoria (cf. Notas Taquigráficas da Sessão extraordinária de 17/12/2008, 9h).
O dispositivo do substitutivo aprovado que permitia o presidente da República
retirar medidas provisórias já em vigor e submetidas à apreciação congressual recebeu 294
votos favoráveis e 113 contrários. Um deputado se absteve de votar. Não foi, pois,
mantido. Ou seja, foi acatada a pretensão do PSDB. De um total de 409, vinte deputados
votaram contra a orientação de seus líderes: um do PCdoB (8% dos votantes comunistas),
dois do PDT (9%), onze do PSB (46%), um do PV (9%), cinco do PMDB (7%), três do PP
(9%), um do PR (3%), um do PTB (6%) e cinco do DEM (12%) – à exceção dos
democratas, todos integrantes de bancadas governistas. Note-se que as bancadas
governistas, ressalvada somente a bancada petista,164
mostraram-se especialmente incertas
quando o assunto foi outorgar ao presidente da República poder para retirar medidas
164
E as minúsculas bancadas do PMN, do PRB e do PTC.
213
provisórias já em vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional. Tendo em conta
que o índice médio de incongruência foi de 12% – excluído do cálculo o índice de
incongruência do PSB, extremamente alto naquela votação – pode-se dizer que as
bancadas do PCdoB, do PDT, do PSB, do PP e do DEM foram as que se revelaram menos
coesas (cf. Lista de Votantes por Partido).
Por último, outro destaque do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB foi submetido a
votação na sessão extraordinária na tarde daquele mesmo dia, é dizer, de 17 de dezembro
de 2008. O bloco parlamentar – especialmente o PCdoB e o deputado Flávio Dino –
pretendia suprimir dispositivo do substitutivo aprovado que deixava claro que o presidente
da República somente pode abrir crédito extraordinário por meio de medida provisória
―para atender despesas imprevisíveis e urgentes decorrentes de guerra, comoção interna ou
calamidade pública‖. Inadvertidamente, porém, destacou um dispositivo mais abrangente,
que incluía também a permissão de abertura de crédito especial e suplementar por
intermédio de medida provisória no caso de projeto de lei de mesmo objeto não ser
apreciado pelo Congresso Nacional em determinado prazo. Percebendo tardiamente o erro,
o deputado Dr. Ubiali, do PSB, tentou debalde retirar o destaque. Não tendo notado o
imbróglio, o deputado Fernando Coruja, líder da bancada do PPS, encaminhou a votação
favoravelmente à manutenção do dispositivo constante do substitutivo aprovado:
Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, um dos principais pontos de dúvida na
interpretação da Constituição a respeito das matérias sobre as quais pode ser editada
medida provisória diz respeito a este § 3º do art. 167.
O texto da Constituição diz:
"Art. 167.............................................................................................
§ 3º A abertura de crédito extraordinário somente será admitida
para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de
guerra, comoção interna ou calamidade pública (...)"
Então, utiliza a palavra ―como‖. Em função disso, têm-se editado muitos créditos
chamados extraordinários, mas não o são.
214
Os créditos adicionais se dividem em suplementares, para suplementar algum
projeto em andamento; especiais, para criar uma nova atividade; e extraordinários. Os
extraordinários não dependem nem de receita, de dotação orçamentária. O extraordinário,
como o próprio nome diz, é extraordinário. E a Constituição diz: “como os de guerra,
comoção interna ou calamidade pública”.
O que fez a nossa proposta de emenda constitucional, votada por unanimidade na
Comissão? Tirou a palavra ―como‖, para ficar claro que crédito extraordinário é apenas
para calamidade pública, guerra ou comoção interna. Logo, eu não posso ter crédito
extraordinário para o que não é extraordinário, para o que é ordinário; eu não posso ter
crédito extraordinário para uma obra qualquer. Se a obra está em andamento, é crédito
suplementar. Se eu vou fazer uma nova obra, é crédito especial, precisa ser objeto de
projeto de lei.
Nós tiramos a palavra ―como‖ para ficar mais fácil a interpretação. Mas quando a
Constituição diz ―como―, não significa que pode ser para qualquer coisa, como os governos
fazem, utilizam o crédito extraordinário para qualquer coisa, para as coisas mais comuns,
previsíveis, ordinárias. É o que o Governo tem feito sempre. Crédito extraordinário tem de
ser pela exceção. Por isso, foi retirada a palavra ―como‖.
O que se quer agora com esse destaque? Tirar o texto, para voltar o texto da
Constituição e manter a palavra ―como‖, como se aquilo fosse exemplificativo. Não é
exemplificativo, é numerus clausus. São apenas estas 3 situações: comoção interna, guerra
e calamidade pública.
Por isso, é preciso manter esse texto, deixar sem a palavra ―como‖, para ficar claro
para o Supremo Tribunal Federal, para o Congresso Nacional ou para qualquer simples
mortal deste País, de maneira que todos entendam o texto da Constituição. Nesses casos, é
crédito extraordinário, só nesses 3 casos que estão listados. Não é exemplificativo.
O PPS orienta o voto ―sim‖, para manter o texto (Notas Taquigráficas da Sessão
Extraordinária de 17/12/2008, 15h10min).
Encaminhou no mesmo sentido, mas por razão diferente, o deputado José Genoíno,
do PT, na expectativa de reverter a situação quando da apreciação do próximo destaque:
(...) Aproveito para encaminhar a posição da bancada. A bancada vota ―sim‖, mas o
argumento é diferente do argumento da Oposição. A Oposição propõe manter o texto da
215
Constituição; o Deputado Flávio Dino e o Bloco propõem retirar todo o art. 3º do art. 167.
Nós queremos manter o § 3º do art. 3º e, em seguida, vamos votar o destaque do § 5º, e
discutiremos em outra oportunidade.
Para ter a oportunidade de votar o § 5º do art. 167, encaminhamos ―sim‖, para
manter o texto do art. 3º, porque o destaque suprime todo o art. 3º.
Portanto, nós vamos votar ―sim‖ (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de
17/12/2008, 15h10min).
Os deputados Zenaldo Coutinho, do PSDB, e Ronaldo Caiado, do DEM, é lógico,
encaminharam a votação contrariamente ao dispositivo do substitutivo destacado pelo
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB. Ou seja, não pretendiam fosse o presidente da República
autorizado, em hipótese alguma, a abrir crédito especial e suplementar por meio de medida
provisória (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 17/12/2008, 15h10min).
Orientaram suas bancadas a votar contra a manutenção do dispositivo do
substitutivo da Comissão Especial os líderes do PSOL e do PSDB, enquanto que os líderes
do PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB, do PT, do PV, do PMDB/PTC, do PP, do PR, do PSC, do
PTB e do governo orientaram as respectivas bancadas a votar a favor da mantença do
dispositivo do substitutivo. As bancadas do PPS e do DEM entraram em obstrução para
negar quorum à aprovação do dispositivo destacado, mas só fizeram isso depois que seus
líderes se asseguraram de que haveria quorum para a votação. Observe-se que o
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB, o PT e o PPS mudaram de posição (cf. Notas Taquigráficas
da Sessão Extraordinária de 17/12/2008, 15h10min).
O dispositivo do substitutivo da Comissão Especial que deixava claro que o
presidente da República somente pode abrir crédito extraordinário por intermédio de
medida provisória em caso de guerra, comoção interna ou calamidade pública, mas que
permitia ao chefe do Executivo abrir crédito especial e suplementar por aquela via sempre
que um projeto de lei de igual objeto não fosse apreciado pelo Congresso Nacional em
determinado prazo, recebeu 301 votos favoráveis e 57 contrários. Não foi, portanto,
mantido. De um total de 340, nove deputados votaram contrariamente à orientação de seus
líderes: um do PV (9% dos votantes verdes), dois do PMDB (3%), um do PSDB (3%), três
do PP (11%), um do PSC (11%) e um do PTB (6%). Entre as bancadas que entraram em
216
obstrução, vinte deputados votaram: dois do PPS votaram contra o dispositivo do
substitutivo, não tendo havido, por conseguinte, real divergência com a bancada; dezoito
do DEM, sete contra e onze a favor – consequentemente, só onze divergiram da bancada, o
que equivale a 35%. Considerando-se que o índice médio de incongruência foi de 11%,
pode-se dizer que as bancadas do PP, do PSC e do DEM foram as que se mostraram menos
coesas naquela votação (cf. Lista de Votantes por Partido).
Em decorrência da insubsistência do dispositivo do substitutivo da Comissão
Especial que deixava claro que o presidente da República somente pode abrir crédito
extraordinário por meio de medida provisória em caso de guerra, comoção interna ou
calamidade pública, mas que também autorizava o chefe do Executivo a abrir crédito
especial e suplementar por aquela via sempre que projeto de lei de mesmo objeto não fosse
apreciado pelo Congresso Nacional em determinado prazo, foi havido por prejudicado o
destaque da bancada do PSDB que pretendia suprimir justamente esta última parte do
dispositivo, e com ele restou igualmente prejudicada a expectativa do deputado José
Genoíno de reverter a situação (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de
17/12/2008, 15h10min).
Ao fim e ao cabo, o texto da PEC nº 511/2006 aprovado em primeiro turno pela
Câmara dos Deputados não representa qualquer avanço efetivo no sentido de limitar o
poder legislativo do presidente da República em geral e sua prerrogativa de editar medidas
provisórias em particular. Ao contrário, reduz o tempo que as Casas do Congresso
Nacional dispõem para apreciar as medidas provisórias antes que elas passem a trancar a
pauta e dá à maioria, em regra governista, a possibilidade de destrancá-la sempre que lhe
convier.
Desde a aprovação da redação do vencido em primeiro turno em 17 de fevereiro
2009, a PEC nº 511/2006 ainda não foi submetida à apreciação em segundo turno. Talvez
por ter perdido a importância em face da decisão do atual presidente da Câmara, deputado
Michel Temer, do PMDB, proferida um mês depois, em 17 de março de 2009, nos autos da
Questão de Ordem nº 411/2009, por força da qual as medidas provisórias não apreciadas
no prazo constitucional apenas sobrestam as deliberações sobre matérias que possam ser
objeto de medidas provisórias, não alcançando, portanto, propostas de emenda à
Constituição – PECs, projetos de lei complementar – PLPs, projetos de decreto legislativo
217
– PDCs, projetos de resolução – PRCs e até mesmo projetos de lei – PLs dispondo sobre
matérias que não possam ser objeto de medidas provisórias. Observe-se que, com uma
―canetada‖ só, o presidente da Câmara fez o que os deputados, sobretudo os da oposição,
não conseguiram fazer durante mais de três anos. Não se esqueça que Michel Temer,
constitucionalista respeitado, presidente do PMDB, deputado federal pela sexta vez e pela
terceira vez presidente da Câmara, já havia dado sinal de descontentamento com aquilo que
denominou de ―desigualdade entre os poderes‖ (cf. Decisão da Presidência na Questão de
Ordem nº 411/2009): propusera a responsabilização política do presidente da República
sempre que uma medida provisória fosse rejeitada pelo Congresso Nacional por
inexistência de urgência (PEC nº 420/2005, apensada à PEC nº 511/2006).
Curiosamente, a contestação da decisão do presidente Michel Temer veio
justamente dos deputados da oposição. Os deputados Fernando Coruja, José Aníbal e
Ronaldo Caiado, respectivamente, líderes das bancadas do PPS, do PSDB e do DEM,
impetraram um mandado de segurança junto ao STF, requerendo, cautelarmente, fosse o
presidente da Câmara impedido de pautar PECs, PLPs, PLs, PDCs e PRCs até o
julgamento definitivo do writ.165
No início do processo de apreciação da PEC nº 511/2006
e suas apensadas, os deputados Roberto Magalhães e José Carlos Aleluia, do DEM,
apresentaram emendas (respectivamente, a EMC nº 18 e a EMC nº 26) propondo a
supressão do sobrestamento por medida provisória com prazo esgotado. Contudo, a partir
de certa altura do processo, notadamente a partir da inserção no substitutivo do deputado
Leonardo Picciani, do PMDB, por proposta do deputado José Eduardo Cardozo, do PT, de
dispositivo que permitia à maioria afastar o sobrestamento, os democratas passaram a
perceber que o fim do sobrestamento ou, sobretudo, a possibilidade de seu afastamento por
deliberação da maioria enfraqueceria seu poder de obstrução. Já os tucanos, sempre na
expectativa de voltar a governar, veem no sobrestamento um importante mecanismo de
contenção da ―irresponsabilidade fiscal‖ do Congresso Nacional.166
A liminar foi
165
Fato ainda mais curioso: o advogado-geral da União, representando o presidente da República no processo
em tramitação no STF, defendeu a decisão do presidente da Câmara e requereu a denegação da segurança.
166 Na avaliação do deputado João Almeida, atual líder da bancada do PSDB, ―isso é um atestado de falência
do Poder Legislativo, porque, para conter o Poder Legislativo nas suas tentações de gastança, nós utilizamos
um instrumento que deforma o Poder Legislativo. Quer dizer, é sinal que isso aqui tá precisando de uma
218
indeferida em 27 de março de 2009 (cf. Cautelar em Mandado de Segurança nº 27.931-1
Distrito Federal). Desde então, sem embargo de a pauta estar trancada por medidas
provisórias com prazo esgotado, a Câmara dos Deputados vem apreciando, em sessões
extraordinárias, PECs, PLPs, PLs dispondo sobre matérias que não possam ser objeto de
medidas provisórias, PDCs e PRCs.
No decorrer de todo o processo de apreciação em primeiro turno da PEC nº
511/2006, que se arrastou por mais de três anos, as bancadas do PDT, do PPS, do PSDB,
do PP, do PSC e do DEM foram as que se mostraram menos coesas. No outro extremo, as
bancadas que se revelaram mais congruentes foram as do PT, do PMDB, do PR e do PRB,
todas governistas e favoráveis ao substitutivo aprovado pela Comissão Especial. Em uma
zona intermediária, comportaram-se um pouco menos consistentemente as bancadas do
PCdoB, do PSB, do PV, do PSOL e do PTB.
Note-se que as bancadas oposicionistas – do PPS, do PSDB e do DEM –167
comportaram-se de modo menos coeso, notadamente na votação mesma do substitutivo da
Comissão Especial, ocasião em que também foi verificada a maior porcentagem média de
incongruência das bancadas. As bancadas do PPS e do PSDB chegaram inclusive a mudar
de posição, vindo a votar favoravelmente ao substitutivo.
revisão geral, com que eu concordo absolutamente. Não gosto do processo legislativo. Mas sobretudo a
necessidade de rever o sistema eleitoral pra ver se melhora a qualidade dos parlamentares, não é? Reduzir a
força das corporações e dos grupos de pressão que se organizam aqui. Trazer para o Parlamento deputados
comprometidos com o ideário partidário e que se expressem em função disso e não do interesse
circunstancial que montam. Isso é que vem deformando o Legislativo. A quantidade de proposta que temos
aqui de interesse corporativo, pra ampliar os gastos do governo, sem nenhum benefício pra população, é uma
tragédia. Justamente por quê? Porque cada parlamentar desse age em função de seu interesse corporativo,
porque não ele tem compromisso partidário. Ele foi eleito lá por uma clientela, em que predomina uma
corporação dessa, e ele veio praqui pra defender os interesses dessa clientela, exclusivamente, que nem
sempre coincide com os interesses público, no sentido amplo, embora possa ser essa sua clientela, essa sua
corporação expressiva numericamente (Entrevista realizada em 29/4/2010).
167 Com as quais se alinhou a bancada independente do PSOL.
219
O PSDB, como se sabe, já governou o país e sempre trabalha com a possibilidade
de voltar a ser governo. Costuma, portanto, fazer uma oposição um tanto mais responsável.
Além disso, no julgamento do assessor do PSDB entrevistado,
a questão do sobrestamento da pauta por medida provisória é uma questão em debate, tanto
nas bancadas governistas quanto nas bancadas de oposição. Nas bancadas governistas, é o
poder do presidente de equilibrar a pauta. Nas bancadas de oposição, hoje isso tem como
um antídoto para a permissividade do Parlamento. Hoje convém, em determinados
momentos (...), a pauta estar trancada, para não se vê matérias indesejadas, em especial de
aumento de despesa, que uma das preocupações de quem quer a ascensão ao governo pegar
uma máquina (...) O trancamento da pauta é uma estabilidade dada pra futuros governos
(Entrevista realizada em 29/3/2010).
O PPS usualmente acompanha o partido dos tucanos. Além disso, na avaliação do
assessor do PPS entrevistado,
no limite, ficou um pouco difícil de explicar pra sociedade porque que o PPS também era
contra (...) A gente esticou a corda até aonde pôde. Teve um momento que estava difícil a
gente explicar que era contra a reforma da medida provisória (...) Normalmente quem
continua é o DEM, que faz uma oposição petista, né? (Entrevista realizada em 5/4/2010).
De fato, os democratas, de longe os menos consistentes ao longo de todo o processo
de apreciação em primeiro turno da PEC nº 511/2006, fizeram uma oposição igualmente
menos consequente: estiveram à testa de quase todas as medidas obstrucionistas
aparelhadas contra a votação do substitutivo e dos vários destaques.168
168
No julgamento do deputado Flávio Dino, ―a oposição, naquele momento, eles... Primeiro, eles tinham uma
expectativa de poder, e têm. O que explicava a mudança de orientação de muita gente. Eu lembro de debates
no Plenário, debates informais ali, em que eu dizia isso pro pessoal do PSDB: ‗Vem cá, vocês tão certo de
que já ganharam a eleição? Querem preservar o poder do [José] Serra, do Aécio [Neves], de editar as
medidas?‘ E havia também um entusiasmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal relativa a créditos
extraordinários. E eles tinham a partir dali uma ideia de que, via Supremo, eles iam conseguir podar alguns
poderes excessivos do presidente da República, sobretudo no que se refere a créditos. E portanto aquilo tudo
se tornava dispensável (...) Como o DEM vive uma permanente crise de identidade – um partido inviável em
todos os sentidos e depois as crises posteriores, sobretudo aqui no Distrito Federal, tornaram mais aguda essa
inviabilidade –, eles tendem a adotar, em determinados momentos, gestos que, se você olhar a lógica geral da
história, você não compreende, mas que muitas vezes é movido por um sentimento, entre aspas – e não é
220
Já as bancadas governistas, em sua grande maioria, comportaram-se de maneira
mais coesa a favor do substitutivo da Comissão Especial, em que pesasse ao fato de
integrantes de um número considerável delas, inclusive da bancada do PT, haver
apresentado PECs ou emendas propondo a redução do poder do presidente de editar
medidas provisórias. Com efeito, todas as bancadas governistas – apenas três de forma
menos congruente: PDT, PP e PSC –, seguindo a orientação do líder do governo, votaram
favoravelmente ao substitutivo e contrariamente a todos os requerimentos obstrucionistas e
os destaques da oposição.
depreciativo –, por um sentimento juvenil de autoafirmação, às vezes até em relação ao próprio PSDB, né? E
nesse processo de apreciação da PEC 511 houve muito isso‖ (Entrevista realizada em 11/5/2010).
221
Análise comparada
As bancadas partidárias da Câmara dos Deputados, em geral, comportaram-se de
modo visivelmente mais coeso no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, das
medidas provisórias, do que no do PL nº 1210/2007, da reforma política. Ao tempo que o
índice médio de incongruência nas votações referentes a esta última proposição alcançou
18%,169
atingiu apenas 8% nas votações atinentes à primeira. Além disso, algumas
bancadas evoluíram ao longo do processo de apreciação da reforma política proposta por
meio do PL nº 1210/2007: algumas de uma posição favorável para uma contrária à reforma
– as bancadas do PPS, do PMDB e do PSDB; outras ganharam consistência – as bancadas
do PT e do PSOL a favor da reforma e a bancada do PV contra; ainda outra perdeu solidez
– a bancada do DEM favoravelmente à reforma (cf. as seções PL nº 1210/2007 – Reforma
política e PEC nº 511/2006 - Limitação dos poderes legislativo do presidente da
República, acima).
Mas não apenas isso. Houve uma maior articulação entre as bancadas no processo
de apreciação da PEC nº 511/2006 do que no do PL nº 1210/2007. Aliás, na apreciação do
PL nº 1210/2007, não se percebeu qualquer articulação entre as bancadas partidárias:
bancadas de esquerda ou centro-esquerda e de direita ou centro direita, grandes e pequenas,
governistas e oposicionistas, votaram umas favorável e outras contrariamente à reforma
política proposta (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima).
Já na apreciação da PEC nº 511/2006, à exceção da fase de emendamento na
Comissão Especial, desde o início do processo constatou-se uma clara articulação entre as
bancadas partidárias: as bancadas governistas, de esquerda ou centro-esquerda, de centro e
de direita ou centro-direita, grandes e pequenas, todas invariavelmente se posicionaram a
169
Percentagem não desprezível, considerando que o máximo de incongruência a que uma bancada pode
chegar em uma votação ―sim‖ ou ―não‖ é de 50%. Por exemplo, no processo de apreciação do PL nº
1210/2007, a bancada do PPS, que inicialmente era favorável à reforma política proposta, vinha apresentando
os seguintes índices de incongruência nas votações nominais: 9%, 31% e 50%. Na última votação, a da lista
fechada, ocasião em que o líder a liberou, a bancada do PPS apresentou um índice de 60%. Na verdade, a
bancada, em sua maioria, mudou de posição em relação à reforma proposta: de favorável a contrária. No
caso, o índice de incongruência da bancada do PPS, em seu novo posicionamento – contrário à reforma – foi
de 40%.
222
favor do substitutivo da Comissão Especial, ao passo que se posicionaram contra o
substitutivo todas as bancadas de oposição.170
A bancada do PSOL, independente em
relação tanto ao governo como à oposição, alinhou-se com esta última contra o substitutivo
(cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da
República, acima).
Esse contraste verificado no comportamento das bancadas partidárias nos dois
processos legislativos se explica sobretudo pelo fato aduzido pelo deputado Gerson Peres,
do PP, no início da discussão do PL nº 1210/2007: ―Declarou o Presidente Lula que a
reforma política é assunto dos Parlamentares e que o Governo não interferirá, porque essa
é uma questão de consciência parlamentar‖ (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma
política, acima). A decisão do governo de não interferir no processo de apreciação da
reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007 foi posteriormente anunciada
por seu líder na Câmara, ao liberar as bancadas que lhe dão sustentação naquela Casa: ―Sr.
Presidente, a liderança do Governo não tem posição sobre a matéria. Caberá aos partidos
definir a situação política do País‖ (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima,
e as Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 27/6/2007, 19h35min). Na realidade,
de acordo com o deputado Raul Henry, do PMDB, o governo estava sob forte pressão de
vários partidos que compõem sua base de sustentação na Câmara:
Houve inicialmente uma tendência pró-reforma política. O deputado Ibsen Pinheiro
teve um papel... Posteriormente o tapete dele foi puxado aqui com a reorientação da
bancada, com o pretexto de que isso ia criar problemas pra base do governo, que os
partidos pequenos aqui da base do governo – o PP, o PTB, o PR – não queriam essa
reforma. E colocar esse tema em votação, colocar esse tema na agenda daqui, ia criar
problemas pra base do governo‖ (Entrevista realizada em 11/5/2010).
Essa pressão exercida notadamente pelo PP, pelo PR, pelo PTB e por parte do
PMDB – o grupo do Rio, como se verá à frente – sobre o governo foi confirmada pelo
deputado Ronaldo Caiado, do DEM:
170
Sem embargo de as bancadas do PPS e do PSDB, depois de terem acompanhado a bancada do DEM em
várias manobras obstrucionistas, haverem votado favoravelmente ao substitutivo da Comissão Especial,
fizeram-no na expectativa de podar seus excessos a favor do Executivo quando da apreciação dos destaques.
223
Foi uma pressão para que o modelo não fosse alterado, comandada por uma
rebelião na base do governo. Isso foi citado na reunião de líderes pelo PP, pelo PR, pelo
PTB, com conivência do PMDB. Isso foi o fato que resistiu e que impactou negativamente
a reforma. Eles ameaçavam sair da base do governo ou votar favoravelmente às CPIs. Essa
é que é a realidade. Quem encabeçou, quem botou a cara para poder derrubar o projeto
foram esses partidos, o PTB, o PR, o PP, aí acrescido com uma dissidência dentro do
PMDB (Entrevista realizada em 5/5/2010).
Por sua vez, no que toca à PEC nº 511/2006, percebeu-se uma ostensiva atuação do
governo tanto pela aprovação do substitutivo da Comissão Especial, que ampliava seus
poderes de agenda, quanto pela rejeição dos destaques das bancadas de oposição, que
pretendiam podar-lhe os excessos. Diferentemente do que aconteceu no decorrer do
processo de apreciação do PL nº 1210/2007, nas votações do substitutivo à PEC nº
511/2006 e de seus vários destaques, o governo nunca deixou de orientar as bancadas que
lhe dão sustentação (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do
presidente da República, acima).
Fica, pois, evidente que as bancadas partidárias da Câmara dos Deputados se
comportam internamente de maneira mais coesa e mais articulada entre si quando há um
claro interesse do governo em jogo.171
Dependendo do grau desse interesse, o governo não
costuma encontrar, no interior da Câmara dos Deputados, resistência importante a suas
pretensões. Pelo menos foi esse o caso da PEC nº 511/2006. Todos os integrantes de
bancadas governistas que haviam apresentado PECs conexas e inicialmente ofereceram
emendas à PEC nº 511/2006 propuseram, de um modo ou de outro, a redução do poder do
presidente da República de editar medidas provisórias. A despeito disso, uma vez iniciado
171
É lógico que a pouca coesão e a desarticulação das bancadas partidárias nas votações atinentes ao PL nº
1210/2007 podem ser adicionalmente explicadas pelo fato de a reforma política por intermédio dele proposta
não ter sido objeto de prévio exame por comissão na presente legislatura. Não se pode esquecer, entretanto,
que a reforma proposta fora amplamente discutida ao longo de toda a legislatura anterior. Tal fator talvez
tenha sido o mais determinante, isto sim, da evolução constatada no posicionamento das bancadas ao longo
do processo de apreciação da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007. Como as diversas
bancadas partidárias, por intermédio de seus representantes, não tiveram, na presente legislatura, a
oportunidade de, com mais vagar, examinar previamente a matéria em comissão, teriam chegado ao Plenário
sem uma posição minimamente firmada.
224
o processo de apreciação pelo Plenário, todas essas bancadas – umas poucas de maneira
incongruente, mas todas invariavelmente – passaram a votar de acordo com a orientação do
líder do governo, a favor da manutenção ou mesmo da ampliação dessa prerrogativa do
chefe do Executivo (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do
presidente da República, acima).
Ademais, o governo conseguia votos até mesmo dentro da bancada que mais se
destacou na oposição ao substitutivo da Comissão Especial: a do DEM. Além de haver
previamente atraído para suas fileiras – aliás, para bancadas que lhe dão sustentação,
notadamente a do PR – 21% dos deputados eleitos sob aquela legenda (cf. Capítulo 2), o
governo obtinha, a cada votação referente à PEC nº 511/2006, uma quantidade
significativa de votos entre os democratas. Em uma das votações – a do destaque que
permitiria ao presidente da República abrir créditos especiais e suplementares por meio de
medidas provisórias –, o governo chegou a obter 35% dos votos da bancada do DEM (cf. a
seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República,
acima).
Nesta quadra, vale recordar as reclamações feitas por deputados da oposição no
decorrer do processo de apreciação da PEC nº 511/2006. O deputado Duarte Nogueira, do
PSDB, protestou contra o fato de o governo estar ―atropelando como um trator a Minoria‖.
Denunciou, por sua vez, o deputado Paulo Bornhausen, do DEM: ―Temos um número de
Deputados menor do que pressupõe a sociedade com relação às maiorias. A Oposição que
está aqui hoje não é a que foi eleita pelo voto popular; ela era muito maior do que a que
está aqui hoje. Porque houve uma migração de Parlamentares que foram eleitos por
partidos de oposição‖ (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do
presidente da República, acima).
A pequena bancada do PCdoB comportou-se de modo coeso no decorrer dos dois
processos legislativos. Foi mais congruente, porém, no processo de apreciação da reforma
política proposta por meio do PL nº 1210/2007. Parece que a bancada comunista alcança
maior consistência quando atua motivada por razões ideológicas.172
O PCdoB desde logo
172
De acordo com o deputado Flávio Dino, no caso da reforma política, ―havia uma definição programática.
Inclusive havia uma convicção, que hoje é ainda maior, de que o financiamento público era uma medida
225
fechou questão a favor da reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007,
em que pesasse ao deputado Flávio Dino tê-la considerado de difícil operacionalização e,
divergindo de sua bancada e das demais favoráveis à reforma política, haver votado contra
o requerimento de encerramento da discussão – foi o único integrante da bancada do
PCdoB a fazê-lo (cf. Lista de Votantes por Partido).173
A despeito disso, o deputado Flávio
Dino veio a desempenhar um importante papel na tentativa de ―salvar‖ a reforma: diante da
intransigência do deputado Ronaldo Caiado, do DEM, relator da matéria, ele apresentou
uma emenda aglutinativa flexibilizando a proposta (EMA nº 1). Mais tarde, em face da
rejeição do grupo de artigos do substitutivo do deputado Ronaldo Caiado atinente à lista
fechada, o deputado Flávio Dino, com a ajuda do próprio deputado Ronaldo Caiado e de
outros interessados, apresentou uma emenda aglutinativa global flexibilizando o
financiamento público e proibindo o ingresso em nova bancada do parlamentar que, no
curso do mandato, se desfiliasse ou fosse desfiliado do partido de eleição (EAG nº 2). A
EAG nº 2, no entanto, não pôde ser admitida em razão de conter matéria nova ou não
encontrada nem no projeto original nem nas muitas emendas a ele apresentadas (cf. a seção
PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima).
O mesmo protagonismo teve o deputado Flávio Dino no processo de apreciação da
PEC nº 511/2006, em favor da qual se posicionou a bancada do PCdoB desde o início,
ainda que não com a mesma coesão. Na verdade, a única vez em que houve divergência na
bancada do PCdoB ao longo de todo o processo de apreciação da PEC nº 511/2006 foi na
ocasião da apreciação do destaque da bancada do PSDB que pretendia suprimir a
fundamental para a sanidade, idoneidade e legitimidade do sistema político. Hoje nós temos um sistema
produtor de escândalo, pra usar a terminologia atual, um sistema produtor de ―fichas sujas‖. Então a gente
naquele momento distinguiu o que que era principal, o que que era acessório. Nós havíamos na mesa de
negociação conseguido retirar a questão da cláusula de desempenho e também nós tínhamos melhorado a
questão da federação: deixado a federação com uma característica quase que de coligação, né?‖ (Entrevista
realizada em 11/5/2010).
173 Eis a interpretação do próprio deputado Flávio Dino: ―Eu votei porque naquele momento eu já tinha
convicção de que era impossível aprovar o texto. Então achava que se encerrasse – achava e acho –, se
encerrasse a discussão naquele instante iria aumentar ainda mais as resistências que já eram crescentes. Então
eu achava que encerrar iria, ao contrário de viabilizar a maioria, iria inviabilizar totalmente a construção da
maioria. Por isso eu votei contra‖ (Entrevista realizada em 11/5/2010).
226
prerrogativa, concedida ao presidente da República pelo substitutivo aprovado, de retirar
medidas provisórias já em vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional: o
deputado Evandro Milhomen votou a favor da supressão (cf. Lista de Votantes por
Partido). Vale lembrar que esse dispositivo que autorizava o chefe do Executivo a retirar
medidas provisórias havia sido introduzido no substitutivo por proposta do deputado
Flávio Dino, em voto em separado apresentado à Comissão Especial. Recorde-se,
igualmente, que o deputado Flávio Dino estava por detrás do destaque feito por sua
bancada, com a pretensão de suprimir, do substitutivo aprovado, dispositivo que deixava
claro que o presidente da República somente pode abrir crédito extraordinário por meio de
medida provisória ―para atender despesas imprevisíveis e urgentes decorrentes de guerra,
comoção interna ou calamidade pública‖. Inadvertidamente, porém, o destaque incluiu um
dispositivo que permitia a abertura de crédito especial e suplementar por intermédio de
medida provisória caso projeto de lei de igual objeto não fosse apreciado pelo Congresso
Nacional em determinado prazo. Tendo percebido o erro, a bancada comunista – inclusive
o deputado Flávio Dino – votou contra o próprio destaque (cf. a seção PEC nº 511/2006 –
Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima).
No exercício de seu primeiro mandato, a atuação destacada do deputado Flávio
Dino nesses e noutros processos legislativos deve-se sobretudo a suas competências
políticas e jurídicas, desenvolvidas durante o tempo em que esteve filiado ao PT (1987-
1994) e foi vice-presidente do Diretório Municipal daquele partido em São Luís-MA, bem
como ao longo do tempo em que militou na advocacia, foi juiz federal no Maranhão e no
Distrito Federal (1994-1996), atuou como juiz convocado no Tribunal Regional Federal da
1ª Região (2004-2005), e ensinou Direito nas Universidades Federais do Maranhão e de
Brasília. O deputado Flávio Dino tem sido vice-líder do bloco PSB/PCdoB/PMN/PRB
desde 2008.174
Na avaliação do assessor do PCdoB entrevistado,
guardadas as proporções, é o mesmo que aconteceu com o Nelson Jobim quando ele
chegou na Constituinte. O Flávio Dino é um estudioso da matéria constitucional, vem do
meio jurídico. Ele é um especialista em matérias dessa natureza e tem uma capacidade
pessoal também importante. É alguém que sabe agir também nos bastidores, nas
174
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados. O bloco, como se viu, já incluiu o PDT.
227
negociações, ceder quando tem que ceder. Sabe argumentar. Então ele é um quadro político
importante. Navegando em águas que ele conhece muito bem, ele naturalmente acabou se
destacando. Hoje é, sem dúvida nenhuma, na bancada do PCdoB, a pessoa que mais
entende, que mais se destaca sempre que o assunto seja reforma política, sempre que o
assunto seja alguma questão constitucional. Sempre é ele que desponta (Entrevista
realizada em 31/3/2010).
Esse julgamento é confirmado pelo próprio deputado Flávio Dino:
Eu sempre procuro construir consenso, construir uma maioria. Nessa breve
passagem aqui pela Câmara, que já caminha pro seu final, eu procurei imprimir essa marca,
né? Exatamente por ser de um partido pequeno, que define sua influência a partir da
qualidade da sua intervenção. E o que tá no cerne dessa qualidade, talvez singularidade, é
ser um partido que age coeso e que procura ver naquele momento qual é a maioria que
consegue se formar pra avançar. Então a marca da história do PCdoB, também é uma
marca pessoal, uma crença pessoal, de que essa é a atuação parlamentar mais produtiva,
né? Há vários modelos de atuação parlamentar: há o parlamentar da denúncia, há o
parlamentar da tribuna, há o parlamentar dos serviços e há o parlamentar do processo
legislativo, que procura chegar ao resultado final do processo legislativo. E essa foi a
minha atuação dentro dos dois processos. O que explicar alguns movimentos, que não são
movimentos – pra ser uma pouco weberiano –, não são muito da ética das convicções; são
da ética da responsabilidade, né? Quais os meios necessários ali pra atingir aqueles fins
que são possíveis? (Entrevista realizada em 11/5/2010).
A pequena bancada do PDT, igualmente, foi mais coesa em sua oposição à reforma
política proposta por meio PL nº 1210/2007 do que em seu apoio ao substitutivo da PEC nº
511/2006 e a seus vários destaques. No entanto, a maior congruência relativa alcançada
pela bancada pedetista no processo de apreciação da reforma política, como se viu, não foi
devida a razões propriamente ideológicas. Em que pesasse a ter sido o principal articulador
do acordo havido entre o então presidente Arlindo Chinaglia e os líderes partidários em
virtude do qual o PL nº 8039/1986 e seus apensados, entre eles o PL nº 2679/2003, foram
rejeitados e o inteiro teor do PL nº 2679/2003 foi reapresentado por meio do PL nº
1210/2007, o então líder Miro Teixeira se recusou a figurar como primeiro signatário
daquela proposição, por ele naquela ocasião descrita como ―uma proposta que tira o voto
direto do povo e ainda o faz pagar pela eleição‖ (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma
228
política, acima). Mais tarde, depois de haver apresentado emendas propondo ao mesmo
tempo a substituição da lista fechada pelo voto distrital e a submissão da lista fechada a
consulta popular, o deputado Miro Teixeira propôs o aumento da barreira ao
funcionamento parlamentar. Mais adiante, requereu, juntamente com o deputado Luciano
Castro, então líder da bancada do PR, fosse o substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, do
DEM, votado em grupos de artigos, a começar com o que se referia à lista fechada, o item
mais controverso da reforma política proposta. Ele próprio admitiu o caráter obstrucionista
da manobra. Três integrantes da bancada – Vieira da Cunha, líder em 2008, Brizola Neto,
líder em 2009, e Severiano Alves –, no entanto, contrariando a orientação do então líder
Miro Teixeira, votaram a favor do requerimento de preferência para a votação da emenda
aglutinativa do deputado Flávio Dino, do PCdoB, em relação ao substitutivo do deputado
Ronaldo Caiado. Segundo o assessor do PDT entrevistado, esses três parlamentares
pedetistas agiram em nome da cúpula do partido. Ao final, no momento de apreciar o
grupo de artigos do substitutivo referente à lista fechada, contudo, a bancada do PDT, de
maneira absolutamente consistente, votou ―não‖ (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma
política, acima).
Já no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do PDT foi menos
coesa, assim como foi menos conspícua a atuação do deputado Miro Teixeira, à época ex-
líder da bancada.175
O deputado Miro Teixeira, à época ex-líder da bancada, por meio de
175
O deputado Miro Teixeira atribui esse duplo fato à irrelevância da discussão: ―Eu não achei essa
discussão aí uma discussão de grande relevo. Não se levava em conta o fim das medidas provisórias. É
preciso acabar com a medida provisória. O sistema é presidencialista. Você tem que ter uma espécie de
decreto emergencial para os casos de calamidade, guerra (...) Se você falar que o presidente precisa, numa
emergência financeira, quando se tratar de moeda, de um instrumento para agir rapidamente, isso é o Banco
Central que faz hoje. O Banco Central legisla muito, muito mais do que o Congresso Nacional até. Qual é
outra razão que leva a essa relevância e urgência para edição de medida provisória? O presidente tem
mecanismo de urgência constitucional. Aqui existe o mecanismo da urgência urgentíssima. Bom, a medida
provisória entra em vigor na data da sua publicação, essa é a questão. Mas, quando você olha as medidas
provisórias, você repara o seguinte: não há tema que tenha sido descoberto três dias antes da sua edição. Os
temas passaram já a ser trabalhados para que se edite uma medida provisória daqui a cinco meses, daqui a
seis meses. Então isso não traz a característica da urgência. É muito curioso, né? Você vê até nas exposições
de motivos: ‗Não, mas isso é um trabalho consolidado durante um ano e meio no Executivo‘. Bom, então por
que a medida provisória? (...) Por isso você tem o presidencialismo imperial. O presidente edita a lei, a lei de
229
PEC apensada propôs a responsabilização política do presidente da República no caso de
efeitos irreversíveis ―ao pacto federativo, à divisão e independência dos poderes, aos
direitos políticos individuais e sociais e à probidade administrativa‖ ou de ―danos à ordem
e à segurança jurídica do País‖. Propôs ainda a enumeração taxativa das matérias acerca
das quais o chefe do Executivo pudesse dispor por intermédio de medidas provisórias. A
despeito disso, o deputado Miro Teixeira e todos seus colegas de bancada votaram a favor
do substitutivo e dos destaques que mantinham ou mesmo ampliavam o poder do
presidente da República de editar medidas provisórias. Todavia, o destaque do PSDB que
pretendia suprimir, do substitutivo, o dispositivo que autorizava o chefe do Executivo a
retirar medidas provisórias já em vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional
recebeu o voto favorável de dois deputados pedetistas (cf. a seção PEC nº 511/2006 –
Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima).
A atuação destacada do deputado Miro Teixeira nesses e noutros processos
legislativos deve-se, em grande medida, a sua formação jurídica e jornalística, a sua
experiência como ministro de Estado das Comunicações, no primeiro governo Lula
(janeiro de 2003 a janeiro de 2004), e sobretudo ao longo tempo de permanência na
Câmara: ele e o deputado Inocêncio de Oliveira, hoje do PR, cada um com nove mandatos,
só perdem em antiguidade na Casa para o deputado Henrique Eduardo Alves, líder da
bancada do PMDB, com dez mandatos. O deputado Miro Teixeira já esteve filiado a
diversos partidos: MDB/PMDB (1966-1979); PP (1980-1981); PDT (1989-2004); PPS
(2004-2005); PT (2005); e PDT (desde 2005). Várias vezes líder do PDT (1995, 1998-
um homem só, que entra em vigor no dia da publicação, que é a medida provisória. O presidente da
República manda a proposta orçamentária como o Executivo tem que mandar (...) Deveria ser a única lei de
iniciativa do presidente da República: o orçamento (...) Mas e esse orçamento, que é autorizativo e o
presidente executa ou não? Então a democracia aqui é uma falsa ideia, desde a administração até a escolha de
candidato. Como é que são escolhidos os candidatos, hein? (...) E aí nessa discussão de medidas provisórias,
como não tinha chance de acabar com as medidas provisórias, o resto era o resto‖ (Entrevista realizada em
6/5/2010). O deputado Miro Teixeira, curiosamente, nunca propôs a supressão do instituto das medidas
provisórias. Além disso, não mostrou tanto desinteresse assim pela matéria, haja vista ter encaminhado a
votação a favor do destaque que pretendia suprimir, do substitutivo da Comissão Especial, dispositivo que
proibia a revogação de medidas provisórias (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política acima).
230
2002, 2006-2007), foi vice-líder do PT e líder do governo em 2005.176
O deputado Miro
Teixeira é considerado herdeiro político de Chagas Freitas, governador da Guanabara
(1971-1975) e do Rio de Janeiro (1979-1983). Em 1979, com o fim do bipartidarismo,
Ulisses Guimarães vetou o ingresso de Chagas Freitas no PMDB devido a suas boas
relações com o regime militar. Migrou, então, para o PP de Tancredo Neves, que
representava uma oposição moderada aos militares. Com a incorporação do PP ao PMDB
em 1981, Chagas Freitas retornou a este último partido. Em 1982, lançou a candidatura de
Miro Teixeira a governador do Rio de Janeiro, derrotado por Leonel Brizola. Mais tarde,
Miro Teixeira ajudou Leonel Brizola a consolidar o PDT no Rio de Janeiro. Chagas Freitas
era acusado por adversários políticos de distribuir cargos públicos a cabos eleitorais,
prática que ficou conhecida como ―política da bica d‘água‖.
A pequena bancada do PSB foi pouco coesa em ambos os processos legislativos.
De fato, no decorrer de todo o processo de apreciação da reforma política proposta por
meio do PL nº 1210/2007, a bancada do PSB figurou entre as mais incongruentes. Na fase
de discussão, ao tempo em que o deputado Julio Delgado e outros três integrantes da
bancada se manifestaram contra a reforma política proposta, a deputada Luiza Erundina
pronunciou-se a favor dela. Até o encerramento daquela etapa inicial, enquanto que a
deputada Luiza Erundina apresentou emenda propondo a supressão da cláusula de
desempenho eleitoral ou de barreira ao funcionamento parlamentar, tornando assim a
reforma política proposta mais palatável às pequenas bancadas, o deputado Julio Delgado,
na direção contrária, ofereceu emenda propondo a elevação da barreira. Ao longo do
processo, sempre um ou outro deputado do PSB votava favoravelmente à reforma política
proposta, contrariando assim a orientação do líder e, mais importante, divergindo da
maioria da bancada. Na apreciação do grupo de artigos do substitutivo do deputado
Ronaldo Caiado, do DEM, atinente à lista fechada, quatro deputados do PSB – entre eles a
deputada Luiza Erundina – ou 18% dos presentes votaram ―sim‖ (cf. a seção PL nº
1210/2007 – Reforma política, acima).
Por sua vez, no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do PSB não
se revelou tão incongruente quanto no processo legislativo anterior. Na realidade,
176
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
231
ressalvando a PEC apensada e as emendas pouco consistentes, a bancada do PSB somente
veio revelar pouca solidez em duas ocasiões: na apreciação do destaque do próprio bloco
parlamentar que pretendia suprimir, do substitutivo aprovado, o dispositivo que proibia a
revogação de medidas provisórias – um deputado (6% dos integrantes da bancada
presentes), contrariando a orientação do líder Márcio França, votou contra a supressão da
proibição; e na apreciação do destaque do PSDB que pretendia suprimir, do mesmo
substitutivo, o dispositivo que permitia a retirada de medidas provisórias já em vigor e
submetidas à apreciação do Congresso Nacional – onze deputados (46% ou quase a metade
dos membros da bancada presentes), entre os quais os deputados Luiza Erundina e Julio
Delgado, outra vez contrariando a orientação da liderança, votaram a favor da supressão da
permissão. Curiosamente, o deputado Julio Delgado votou a favor do destaque de seu
bloco que pretendia suprimir a vedação da prática recorrente da revogação de medidas
provisórias, em que pesasse a haver apresentado emenda em sentido contrário (cf. a seção
PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima, e
Lista de Votantes por Partido).
A atuação pouco coesa da bancada do PSB nos dois processos legislativos se
explica pelo perfil um tanto personalista do partido, o que também dá conta do
posicionamento da maioria de seus integrantes contra a reforma política e a favor do
fortalecimento dos poderes legislativos do presidente da República. Já o comportamento da
deputada Luiza Erundina, notadamente seu apoio à reforma política em contraposição à
maioria de sua bancada, pode ser compreendida à luz de sua trajetória política. Assistente
social e professora universitária, tanto na Paraíba, seu estado de origem, quanto em São
Paulo, esteve filiada ao PT de 1980 a 1997, ano em que migrou para o PSB. A deputada
Luiza Erundina foi líder do PT na Câmara de 1983 a 1988. Afora a tradição política de
esquerda, ela estava especialmente interessada na maior inclusão da mulher na política,
interesse a que, acreditava ela, a lista fechada podia atender: ―Nós, mulheres, temos
interesses específicos. Defendemos lista preordenada que contemple a presença de um
homem e de uma mulher, alternadamente, o que corresponde à nossa presença na
sociedade‖ (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 9h). Sua
atuação um tanto autônoma em relação à bancada partidária se explica, de um lado, pela
pouca congruência e pelo acentuado personalismo do PSB e, de outro, por sua experiência
232
tanto no Legislativo como no Executivo, já tendo sido vereadora e prefeita de São Paulo, a
par de estar em seu terceiro mandato como deputada federal.177
A bancada do PT, diferentemente das bancadas do PCdoB e do PDT, mostrou-se
mais coesa no processo da PEC nº 511/2006, que envolvia interesse do governo, do que no
do PL nº 1210/2006.178
Em que pesasse a desde logo ter fechado questão a favor da
reforma política proposta pelo PL nº 1210/2006, a bancada petista foi ganhando
congruência à medida que o processo se encaminhava para o fim. Na fase de discussão, os
deputados Nazareno Fonteles e Domingos Dutra se manifestaram contra a reforma
proposta, ao passo que outros sete parlamentares petistas se pronunciaram a favor dela.
Naquela etapa inicial, vários deputados petistas apresentaram emendas alterando todos os
principais itens da reforma. Mais interessantemente, apresentaram emenda para suprimir
três desses itens: a lista fechada, o financiamento de campanha exclusivamente público e a
cláusula de desempenho eleitoral. A despeito disso, o deputado Luiz Sérgio, então líder da
bancada, apresentou emenda com a intenção de sanear o vício de inconstitucionalidade de
que padecia a proposta original de restrição das coligações. De igual modo, o deputado
Cândido Vaccarezza, atual líder do governo, depois de ter apresentado emenda visando à
supressão da lista fechada, perto do fim daquela fase apresentou nova emenda no sentido
de flexibilizar a lista partidária e, assim, talvez, viabilizar a reforma política. O próprio
deputado Domingos Dutra, que nos debates no Plenário se havia mostrado tão
intransigentemente contrário à reforma política proposta por intermédio do PL nº
1210/2007, sobretudo a lista fechada, a ponto de se declarar disposto a enfrentar a
177
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
178 Na avaliação do assessor do PT entrevistado, ―aquilo foi o maior erro do governo, do Arlindo [Chinaglia].
Nós compramos uma pauta que era da minoria (...) Mas como esta minoria tem síndrome de maioria e tem...
eles conseguem fazer deliberar tantos interesses deles. Isso nem interesse nacional era, esse negócio das
medidas provisórias (...) Serviu pra quê? Pra estremecer as relações do presidente da Câmara com o governo
(...) O empenho foi grande, porque foi um erro político a gente ter aceitado a pauta da minoria. Aí chegou
num momento nós tínhamos que liquidar aquele assunto e tirar aquilo da pauta, local onde ele nunca deveria
ter estado (...) O governo mobilizou as forças e exigiu, não só da bancada como da base inteira, que
sepultassem aquele assunto ou então que concluíssem logo aquela votação, mas que não deixasse o governo
sem os instrumentos de governabilidade mínima dentro desse instituto aí das medidas provisórias‖ (entrevista
realizada em 31/3/2010).
233
Comissão de Ética de seu partido, revelava-se então pronto a aceitar uma implantação
futura da lista fechada e uma forma flexibilizada do financiamento público de campanha.
Na apreciação dos vários requerimentos e do grupo de artigo do substitutivo atinente à lista
partidária, alguns deputados do PT – em número cada vez menor à proporção que o
processo se encaminhava a seus ulteriores termos – votaram contrariamente à orientação
do líder Luiz Sérgio e em divergência com a maioria de seus colegas de bancada.
Conquanto tenham votado contra o encerramento da discussão, os deputados Nazareno
Fonteles, Domingos Dutra e Cândido Vaccareza, ao final, votaram a favor da lista fechada.
Na realidade, os únicos deputados petistas a votar contra a lista fechada foram o acreano
Henrique Afonso e o baiano Joseph Bandeira – este último já havia votado em desfavor do
encerramento da discussão (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima, e Lista
de Votantes por Partido).
Já no que concerne à PEC nº 511/2006, não obstante o deputado José Guimarães
haver apresentado emenda propondo a supressão do sobrestamento ou trancamento da
pauta, a bancada do PT – notadamente os deputados José Eduardo Cardozo e José Genoíno
– atuou solidamente para manter ou mesmo ampliar o poder do presidente da República de
editar medidas provisórias. A única vez em que houve divergência na bancada petista foi
na apreciação do destaque do PSDB que pretendia manter a vedação constitucional de
abertura de crédito suplementar por intermédio de medida provisória, suprimida no
substitutivo aprovado: um único deputado, José Mentor, votou a favor do destaque tucano
(cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da
República, acima, e Lista de Votantes por Partido).
A divergência inicialmente aberta pelo deputado Domingos Dutra no processo de
apreciação da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, foi mais tarde por
ele próprio interpretada:
Eu sou fundador do PT. Tô há trinta anos. E lá no Maranhão nós fundamos um
grupo, uma tendência local chamada ―PT de Aço‖. Primeiro, em função de que a gente
sempre recusou a vinculação com tendências nacionais, do eixo centro-sul, que não tenha o
mesmo conteúdo da nossa realidade e que muitas das vezes fazem os nordestinos
simplesmente como soldados. Então nós fundamos essa tendência com esse objetivo. O
segundo, em função de uma realidade à época muito violenta, que era a luta pela terra.
234
Como o nosso grupo todo tinha, tem um compromisso muito grande com a reforma agrária,
a gente ideologicamente entendia e entende que os camponeses não podem ser massa de
manobra, né? Simplesmente servir de bucha pro operariado urbano, e depois que acontece
as transformações, ele leva o azar. E nós botamos o nome de PT de Aço, que é Ação
Camponesa Operária, o inverso da Ação Operária Camponesa. Só que a tendência acabou...
Teve um impacto bastante forte, mas depois ela não teve a capacidade de teorizar (...) Ela
existe hoje, mas não tem a mesma força. Nacionalmente, a gente sempre se relacionou com
a esquerda do PT, com a Força Socialista e outros grupos. Atualmente, eu pessoalmente
tenho uma relação com O Movimento PT, que é mais de centro, por uma necessidade de
sobrevivência. E a minha relação com o CNB [Construindo um Novo Brasil, corrente
majoritária do PT] hoje é muito restrita. No CNB local, nós somos adversários ferrenhos,
porque eles são ligados ao [José] Sarney, e eu e os outros companheiros somos
radicalmente contra a oligarquia. E por conta desse conflito local, como o CNB é a única
tendência hoje organizada dentro do PT, de norte a sul do país, isso acaba contaminando a
relação com os líderes nacionais, por um lado, e por outro, em função do papel do Sarney,
do poder que ele tem, da chantagem que ele faz com o governo e do que ele extrai do
governo federal, a relação com esses líderes nacionais é muito forte. Isso também acaba me
distanciando das principais lideranças do CNB. Mas tenho relação com outros tantos,
relação boa.
(...)
Na verdade, esse foi o momento de maior tensão na bancada, e na bancada com a
executiva do partido [momento em que o PT fechou questão a favor da reforma política
proposta por meio do PL nº 1210/2007]. Porque a bancada rachou ao meio. A executiva do
mesmo jeito. O mesmo efeito teve no Senado. Eu pelo menos fui um que usei a tribuna
num horário bem nobre da Câmara e detonei. Me submeti a punição, mas não aceitava a
reforma como tava sendo proposta. Não que eu seja contra. Eu sou a favor. Só que a gente
tava mentindo pra sociedade. Primeiro que uma reforma política dessa magnitude não pode
ser obra dos políticos. Têm que ser obra principalmente da sociedade. E a sociedade tava
distante. Não havia discussão. Segundo, nem no interior dos partidos, os diretórios
municipais, os diretórios estaduais, os vereadores, estavam participando, né? Então era
reforma de mentira. Terceiro, do jeito que tava sendo pensada a reforma, com votação em
lista, isso ia dar um poder enorme pras direções partidárias, que hoje já têm um poder
enorme sobre as direções inferiores. Os partidos políticos no Brasil, com raríssimas
exceções – o PT é uma delas, mas mesmo assim já tá muito piorado –, as direções
235
partidárias têm um poder muito grande. O grande capital define o que que as direções
fazem. Imagine voto em lista. Ia levar pra dentro dos partidos a corrupção eleitoral. E aí só
ia ser eleito quem tivesse dinheiro. E aí a reforma foi pro beleléu. Não saiu por causa desse
método autoritário, sem discutir com a sociedade e sem ter um período de transição (....)
Então por isso que nós fomos contra, a bancada rachou e eu acho que isso foi bom pra todo
mundo (...) Não era do mérito em si. Era por conta da forma açodada, de cima pra baixo,
pra atender apenas as lideranças e as burocracias dos partidos. E o meu medo, que sou do
Nordeste, do Maranhão, é de que, com a reforma política, se tornaria muito difícil, quem
não tem estrutura nenhuma, conseguir convencer a militância a referendar o parlamentar. E
a minha percepção naquele momento tá se confirmando. Porque nesse momento nós
estamos enfrentando no Maranhão e no Brasil uma pressão muito grande do PMDB, que
faz chantagem com o governo, faz chantagem com o PT pra apoiar a ministra Dilma. E lá
no Maranhão querem dar o PT pro Sarney. Então é uma contradição. Os que defendiam a
reforma política agora querem entregar os partidos do mesmo jeito que fazem os partidos
velhos. Ou seja, a direção nacional entrega a direção estadual pra quem quer, por cima; as
direções estaduais entregam os grupos políticos, as direções municipais... Nem avisam
quem tá na direção. O partido que ainda não tinha feito isso, que não fez ainda, foi o PT.
Mas o PCdoB faz, o PSB faz, o PDT faz – isso partidos de esquerda! Muda a direção
partidária e não comunica nem quem está. De repente o cara é surpreendido com outra
pessoa que tá na comissão provisória. Então, sem vir de baixo pra cima, era uma fantasia
(Entrevista realizada em 5/5/2010).
Em que pesasse a estar filiado ao PT desde 1980, ter presidido tanto o Diretório
Municipal de São Luís como o Diretório Estadual do Maranhão,179
o deputado Domingos
Dutra não havia conquistado espaço correspondente em nível nacional, não obstante estar
no exercício de seu segundo mandato como deputado federal. Pelo menos, não integrava as
principais tendências do partido. Temia que, fortalecido pela reforma política pretendida, a
corrente majoritária passasse a dirigir o partido, a seu ver, de modo ainda mais autoritário.
Mais: receava que, por conta de aliança celebrada em nível nacional com os Sarney, seus
adversários políticos no Maranhão, seu nome fosse deixado de fora de eventual lista
partidária. Ao final, como se observou, o deputado Domingos Dutra foi enquadrado: votou
a favor da lista fechada.
179
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
236
Por sua vez, a atuação destacada do metalúrgico da indústria naval Luiz Sérgio no
mesmo processo se deveu ao fato de ser à época o líder da bancada do PT, posição a que
chegou depois de ter sido prefeito de Angra dos Reis (1993-1996) e um dos dirigentes do
partido no Estado do Rio de Janeiro (1995-199). Além disso, está filiado ao PT desde
1983, integra a tendência Construindo um Novo Brasil – CNB, corrente dirigente do
partido, e está no exercício de seu terceiro mandato como deputado federal. O mesmo se
diga do médico Cândido Vaccarezza, que, conquanto estivesse em seu primeiro mandato
como deputado federal, já havia sido por duas vezes deputado estadual e secretário-geral
do Diretório Estadual do PT em São Paulo (1990-1992), bem como secretário-geral
nacional do partido (1997-1998). O deputado Cândido Vaccarezza está filiado ao PT desde
1981 e integra a tendência Um Novo Rumo para o PT – NR, aliada ao CNB. Não foi por
outras razões que ele veio a ser o líder da bancada daquele partido na Câmara em 2009 e é
atualmente o líder do governo naquela Casa.180
A seu turno, a destacada atuação do deputado petista José Eduardo Cardozo no
processo de apreciação da PEC nº 511/2006 e em outros processos legislativos pode ser
explicado por seu notório saber jurídico e larga experiência política. É mestre em Direito
Civil e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O deputado José
Eduardo Cardozo já foi por três vezes vereador em São Paulo, bem como membro do
Diretório Estadual do PT naquele estado. No exercício do segundo mandato como
deputado federal, já foi vice-líder da bancada petista na Câmara de 2004 a 2008. O
deputado José Eduardo Cardozo está filiado ao PT desde 1980. Já o protagonismo do
deputado José Genoíno naquele e noutros processos legislativos deve-se sobretudo a sua
antiguidade tanto no PT como na Câmara. Filiado ao PT desde 1981 e integrante do CNB,
corrente majoritária do partido, já foi membro do Diretório Nacional (1986-2005) e da
Executiva Nacional (1995-2001), bem como presidente do Diretório Nacional (2003-2005)
daquele partido. Afora isso, ele e seu colega Paulo Delgado são os deputados do PT mais
antigos na Casa, cada qual no exercício do sexto mandato.181
A atuação mais destacada
desses ―pesos pesados‖ do partido no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, em
180
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
181 Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
237
contraste com sua participação mais discreta no processo do PL nº 1210/2007, aliada ao
comportamento mais coeso no primeiro processo do que no último, aponta para o fato de
que o PT estava muito mais interessado em manter ou até mesmo ampliar o poder do
presidente da República de editar medidas provisórias do que em reformar o sistema
eleitoral-partidário. Não se olvide que o deputado José Eduardo Cardozo declarara sua
opção pelo voto distrital misto:
Tivesse eu a possibilidade de optar, optaria hoje pelo voto distrital misto que,
pessoalmente, é o que mais me agrada. Porém, diante do quadro apresentado, das
possibilidades existentes, acho que o projeto que será votado hoje significa um avanço.
Não o considero o sistema ideal, porque, repito, defendo outra forma de concepção
sistêmica, mas este projeto é um avanço, porque faz verdadeira ruptura na cultura
individualista da política brasileira (Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de
13/6/2007, 15h2min).
A pequena bancada do PV comportou-se de maneira mais ou menos coesa nos dois
processos legislativos. No que tange à reforma política proposta por meio do PL nº
1210/2007, a bancada verde ganhou maior congruência à medida que o processo se
encaminhava para o fim. Quatro deputados do PV ou 33% dos presentes, contrariando a
orientação do líder, votaram em desfavor da atribuição de urgência à tramitação do PL nº
1210/2007. Em seguida, outra vez contrariando a orientação da liderança, sete deputados –
entre eles Fernando Gabeira – ou 54% dos verdes presentes votaram em desfavor do
encerramento da discussão. Na realidade, coerentemente com seu comportamento ao longo
do processo, a maioria da bancada do PV, a exemplo das demais bancadas que se opunham
à reforma política, pretendia ganhar tempo, já que, como alertaram os deputados Arnaldo
Faria de Sá, do PTB, e Lincoln Portela, do PR, com o avançar dos debates o Plenário
tendia a rejeitar a proposta. Assim, os deputados verdes que de fato divergiram naquela
votação foram seis ou 46% dos votantes. Naquele caso, foi o então líder Marcelo Ortiz – e
não os deputados que, contrariando sua orientação, votaram em desfavor do encerramento
–, que divergiu da maioria da bancada. Até o final da discussão, o deputado Fábio Ramalho
apresentou emenda propondo a supressão da lista fechada, ao passo que a flexibilização da
lista foi proposta pelo deputado José Fernando Aparecido de Oliveira. Dali em diante, a
bancada do PV posicionou-se consistentemente contra a reforma política e a lista fechada,
inclusive o deputado Fernando Gabeira. Integrada por políticos de diferentes tradições, a
238
bancada do PV foi uma das que, na presente legislatura, mais ganharam deputados de
outras. Não tem, pois, interesse em mudar o sistema eleitoral-partidário (cf. a seção PL nº
1210/2007 – Reforma política, acima).
Por sua vez, no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do PV se
revelou algo incongruente do começo ao fim. Ainda na fase de emendamento na Comissão
Especial, o ex-líder Marcelo Ortiz apresentou emenda propondo a supressão do
sobrestamento ou do trancamento da pauta por medida provisória. Mais adiante, o
deputado Fernando Gabeira, contrariando a orientação do líder Sarney Filho, absteve-se de
votar em desfavor do requerimento obstrucionista de pauta apresentado pelo deputado
Jorge Maluly, do DEM. Ao final, o deputado Fernando Gabeira, novamente contrariando a
orientação do líder, votou a favor tanto do destaque da bancada do PSDB que pretendia
suprimir, do substitutivo aprovado, a permissão ali concedida ao presidente da República
para retirar medidas provisórias já em vigor e submetidas à apreciação do Congresso
Nacional, quanto do destaque que autorizava o chefe do Executivo a abrir créditos
especiais e suplementares por meio de medidas provisórias caso projeto de lei de igual
objeto não fosse apreciado pelo Congresso Nacional em determinado prazo (cf. a seção
PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima).
A atuação do deputado Fernando Gabeira um tanto autônoma em relação à bancada
do PV – notadamente em relação à liderança – explica-se, de um lado, pela pouca
consistência ideológica dos verdes e, de outro, pelo perfil do próprio parlamentar. Membro
do PV desde sua criação em 1986, o jornalista carioca presidiu aquele partido até 1989,
ano em que foi lançado como candidato a presidente da República. De 1995 a 2003, o
deputado Fernando Gabeira foi o único representante do PV no Congresso Nacional. Em
seu quarto mandato como deputado federal, tem sido vice-líder da bancada verde na
Câmara desde 2005. O deputado Fernando Gabeira foi eleito pelos votos próprios, ou seja,
não precisou dos votos da legenda. Esteve filiado ao PT de 2001 a 2003.182
Particularmente
no que se refere ao processo da PEC nº 511/2006, no julgamento do assessor do PV
entrevistado, ―essa posição do Gabeira foi uma posição de oposição claramente. Ele não
182
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
239
queria fortalecer um governo do qual ele é um opositor na maioria das matérias‖
(Entrevista realizada em 14/4/2010).
Como a bancada do PSB, a pequena bancada do PPS foi pouco coesa nos dois
processos legislativos. Com efeito, ao longo do processo de apreciação da reforma política
proposta por intermédio do PL nº 1210/2007, a bancada do PPS também figurou entre as
mais incongruentes. Diferentemente da bancada do PSB, entretanto, a bancada do PPS
evoluiu de uma posição crescentemente incongruente a favor da reforma política para uma
altamente inconsistente contra a reforma. Inicialmente, somente um deputado do PPS,
contrariando a orientação do líder, votou em desfavor da atribuição de urgência à
tramitação do PL nº 1210/2007. Na fase de discussão, os únicos dois deputados do PPS que
se manifestaram, fizeram-no favoravelmente à reforma política proposta. Já se percebe
uma pequena evolução nas emendas apresentadas pelo deputado Humberto Souto: o
parlamentar propôs a flexibilização tanto da lista partidária quanto do financiamento
público da campanha. Mas a divisão da bancada do PPS em torno da reforma só veio à
tona a partir da apreciação do requerimento de encerramento da discussão: quatro
deputados – entre eles Humberto Souto – ou 31% dos integrantes da bancadas presentes,
contrariando a orientação do líder Fernando Coruja, votaram em desfavor do encerramento
da discussão. Mais adiante, outra vez contrariando a orientação da liderança, cinco
deputados – Humberto Souto novamente entre eles – ou 50% dos presentes votaram em
desfavor do requerimento de preferência para votação da emenda aglutinativa do deputado
Flávio Dino, do PCdoB, em relação ao substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, do DEM,
relator da matéria. Havendo atingido o índice máximo de incongruência a que uma
bancada pode chegar em uma votação ―sim‖ ou ―não‖, o líder Fernando Coruja, que até
então vinha orientando a favor da reforma política, viu-se forçado a liberar a bancada na
apreciação do primeiro grupo de artigos do substitutivo, atinente à lista fechada. Resultado:
seis deputados – entre eles outra vez Humberto Souto – ou 60% dos presentes votaram
contra a lista fechada. Com efeito, houve aqui uma verdadeira debandada: de
incongruentemente favorável à reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, a
bancada do PPS passou a ser inconsistentemente contrária a ela. Ao fim e ao cabo, como
declararam, cada um a sua maneira, tanto o assessor quanto o líder Fernando Coruja,
preocupações pragmáticas com a sobrevivência política de cada um prevaleceram sobre
240
razões ideológicas e partidárias (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima, e
Listas de Votantes por Partido).
Já no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do PPS foi um pouco
menos incongruente. Ao lado das demais bancadas da oposição – do PSDB e do DEM –,
do começo ao fim do processo a bancada do PPS procurou, de um lado, estabelecer limites
ao poder do presidente da República de editar medidas provisórias e, de outro, resistir às
investidas oportunistas das bancadas do governo – notadamente a do PT – no sentido de
ampliar essa prerrogativa do chefe do Executivo. Na verdade, as únicas ocasiões em que
houve alguma divergência foram as apreciações do substitutivo da Comissão Especial e do
destaque do DEM que pretendia suprimir, do substitutivo aprovado, expressão que
permitia à maioria destrancar a pauta a seu livre alvedrio: em ambas as oportunidades o
deputado Raul Jungmann votou em sentido contrário a seus colegas de bancada, na
primeira a favor e na segunda contra. Na votação do substitutivo, o líder Fernando Coruja
resolveu acompanhar o PSDB a favor do substitutivo, na expectativa de podar seus
excessos por meio dos destaques (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes
legislativo do presidente da República, acima).
O comportamento do deputado Humberto Souto, um tanto autônomo em relação à
bancada e a seu líder, pode ser compreendido à luz de seu perfil. Advogado e contador, o
deputado Humberto Souto já foi vereador em Montes Claros (1962-1965) e deputado
estadual (1971-1973) em Minas Gerais pela Arena, bem como ministro corregedor (1999-
2000) e presidente (2001-2002) do Tribunal de Contas da União. Além da Arena, já esteve
filiado ao PDS/PP (1980-1984) e ao PFL/DEM (1984-2007). Humberto Souto está em seu
sétimo mandato como deputado federal.183
Como lembrou o assessor do PPS entrevistado,
foi líder do governo Collor e lutou contra o impeachment. O mesmo se diga do deputado
Raul Jungmann, que, conquanto esteja em seu segundo mandato na Câmara, já foi
secretário de Estado no Pernambuco, presidente do Ibama (1995-1996), ministro
extraordinário de Política Fundiária (1996-1999), presidente do Incra (1996-1999) e
183
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
241
ministro do Desenvolvimento Agrário (1999-2002). A partir 1992, tem transitado entre o
MDB/PMDB e o PPS, permanecendo neste último partido desde 2003.184
A bancada do PSOL, uma das menores da Câmara dos Deputados, comportou-se de
maneira coesa nos dois processos legislativos. Assim como as bancadas do PCdoB e do
PDT, mostrou-se mais congruente no processo de apreciação da reforma política proposta
por meio do PL nº 1210/2007 do que no da PEC nº 511/2006. Na fase discussão, o então
líder da bancada, deputado Chico Alencar, apresentou emendas propondo a flexibilização
da lista partidária e a supressão de toda e qualquer barreira ao funcionamento parlamentar.
Esta última proposta se explica pelo pequeno porte do partido e por sua baixa
representatividade nacional. Os três únicos integrantes da bancada do PSOL na Câmara
representam apenas o Sudeste e o Sul. A despeito disso, os três deputados do PSOL
votaram invariavelmente a favor da reforma política (cf. a seção PL nº 1210/2007 –
Reforma política, acima).
Por sua vez, no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, o comportamento da
bancada do PSOL não foi tão coeso quanto no processo de apreciação do PL nº 1210/2007.
Na realidade, a única vez em que a bancada se comportou de maneira incongruente foi na
apreciação do substitutivo da Comissão Especial: o deputado Ivan Valente, da APS,
tendência menos radical, votou a favor do substitutivo, o que talvez se justifique pela
ambiguidade da situação. O PSOL vinha acompanhando o PPS, o PSDB e o DEM em sua
oposição ao substitutivo da Comissão Especial. No último instante, porém, as lideranças do
PPS e do PSDB, na expectativa de podar seus excessos por intermédio dos destaques,
resolveram orientar a favor do substitutivo, ao tempo que a liderança do DEM se manteve
em oposição (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do
presidente da República, acima).
A bancada do PMDB, a maior de todas as bancadas partidárias da Câmara dos
Deputados, foi muito mais incongruente no processo de apreciação da reforma política
proposta por intermédio do PL nº 1210/2007 do que no da PEC nº 511/2006. Aliás, a
bancada peemedebista figurou entre as mais inconsistentes no processo de apreciação da
184
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
242
reforma política. Como a pequena bancada do PPS, a bancada do PMDB evoluiu de uma
posição pouco coesa a favor da reforma para uma altamente inconsistente contra ela.
Inicialmente, nove deputados – entre eles os deputados Eduardo Cunha e Leonardo
Picciani; curiosamente, apenas um desses nove deputados não era do Rio de Janeiro – ou
11% dos peemedebistas presentes, contrariando a orientação do líder, deputado Henrique
Eduardo Alves, do Rio Grande do Norte, votaram contra a atribuição de urgência à
tramitação do PL nº 1210/2007. Na fase de discussão, quatro deputados do PMDB se
manifestaram contra um ou mais itens da reforma política proposta – o deputado Leonardo
Picciani outra vez entre eles –, enquanto que apenas o deputado Ibsen Pinheiro se
pronunciou a favor. Mais tarde, na apreciação do requerimento de encerramento da
discussão, treze deputados peemedebistas – entre eles novamente Eduardo Cunha,
Leonardo Picciani e outros três deputados do Rio de Janeiro – ou 16% dos presentes,
contrariando a orientação do líder, votaram ―não‖, posicionando-se ao lado dos que não
queriam a reforma. A deputada Rita Camata foi a única a apresentar emenda relacionada
aos principais itens da reforma política em discussão: propôs a flexibilização da lista
partidária. Mais adiante, o deputado Ibsen Pinheiro encaminhou a votação favoravelmente
à emenda aglutinativa do deputado Flávio Dino, do PCdoB, e à lista flexível. Em seguida,
na apreciação do requerimento de preferência para a votação da emenda aglutinativa,
apresentado pelo próprio líder Henrique Eduardo Alves, dezessete deputados – dois
deputados do Rio de Janeiro entre eles; naquela vez o deputado Eduardo Cunha não
divergiu e o deputado Leonardo Picciani não compareceu – ou 22% dos presentes,
contrariando a orientação do líder, votaram contra a preferência. Finalmente, na apreciação
do grupo de artigos do substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, do DEM, referente à lista
fechada, diante da notória fragmentação da bancada, o líder foi compelido a liberá-la.
Resultado: 44 deputados – entre eles Eduardo Cunha, Leonardo Picciani e outros sete
deputados do Rio de Janeiro; é dizer, todos os peemedebistas do Rio – ou 57% dos
presentes votaram contra a lista fechada. Como aconteceu com a pequena bancada do PPS,
houve uma verdadeira debandada na maior bancada da Câmara: pressionada pelo grupo do
Rio, um dos maiores e mais poderosos grupos regionais dentro da bancada peemedebista
naquela Casa hoje,185
de uma posição crescentemente incongruente a favor da reforma
185
Os outros grupos regionais peemedebistas com maior número de representantes na Câmara são o de Minas
Gerais, com nove deputados, e o do Paraná, com sete.
243
política proposta por meio do PL nº 1210/2007 a bancada do PMDB passou para uma
posição altamente inconsistente contra a reforma proposta. Com o maior número de
filiados, vereadores, prefeitos e governadores, além da maior bancada no Congresso
Nacional, e no comando de seis ministérios do governo Lula, afora a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal, o PMDB é o partido que mais lucrou com o sistema
eleitoral-partidário atual. Não tem, pois, interesse em alterar o status quo (cf. a seção PL nº
1210/2007 – Reforma política, acima).
Já no tocante ao processo de apreciação da PEC nº 511, a bancada do PMDB
figurou entre as mais coesas. O deputado Michel Temer, atual presente da Câmara,
apresentou PEC apensada propondo a responsabilização política do presidente da
República em caso de rejeição de medida provisória por inexistência de urgência. Na fase
de emendamento na Comissão Especial, o deputado João Magalhães ofereceu emenda
propondo a ampliação da enumeração das matérias sobre as quais o chefe do Executivo
não poderia dispor por meio de medidas provisórias. Nada obstante, o deputado Leonardo
Picciani, relator da matéria na Comissão Especial, em que pese a haver criticado o excesso
de medidas provisórias, não acatou a maior parte das PECs e emendas, inclusive de seus
colegas de bancadas, que pretendiam pôr algum limite no poder do presidente da República
de editar medidas provisórias. Ao contrário, o substitutivo ao final proposto pelo deputado
Leonardo Picciani e aprovado pela Comissão Especial, não somente mantinha, mas até
mesmo ampliava essa prerrogativa do chefe do Executivo. A partir daí, a bancada
peemedebista – inclusive os deputados Michel Temer e João Magalhães –, passou a atuar
solidamente a favor do substitutivo da Comissão Especial e dos destaques das bancadas
governistas, contra os requerimentos obstrucionistas e os destaques das bancadas de
oposição: somente um deputado peemedebista (2% dos presentes) votou a favor do
requerimento obstrucionista de discussão por grupo de artigos apresentado pelo deputado
Guilherme Campos, do DEM; só dois (3%) – os deputados Edgar Moury e Raul Henry, os
dois únicos peemedebistas do Pernambuco – votaram a favor do requerimento
obstrucionista de votação artigo por artigo apresentado pelo mesmo parlamentar
democrata; apenas um (1%) – novamente o pernambucano Edgar Moury – votou contra o
substitutivo; somente três (4%) – entre eles, outra vez Edgar Moury e Raul Henry –
votaram a favor do destaque da bancada do DEM que pretendia suprimir, do substitutivo,
expressão que permitia à maioria destrancar a pauta a seu livre talante; só quatro (6%) –
244
Raul Henry novamente entre eles – votaram contra o destaque do
PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB que pretendia suprimir, do substitutivo, a proibição da
revogação de medidas provisórias; apenas cinco (7%) – entre eles, outra vez Raul Henry –
votaram a favor do destaque da bancada do PSDB que pretendia suprimir, do substitutivo,
dispositivo que autorizava o presidente da República a retirar medidas provisórias já em
vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional; e somente dois (3%) – novamente
Raul Henry entre eles – votaram a favor do destaque que pretendia suprimir, do
substitutivo, dispositivo que permitia a abertura de créditos especiais e suplementares por
meio de medidas provisórias caso projeto de lei de igual objeto não fosse apreciado pelo
Congresso Nacional em determinado prazo (cf. Listas de Votantes por Partido). Ao final, o
deputado Michel Temer, atual presidente da Câmara, em decisão monocrática proferida em
resposta a questão de ordem, fez o que as bancadas de oposição não conseguiram fazer:
virtualmente suprimiu o sobrestamento ou o trancamento de pauta por medida provisória.
Por força dessa decisão, a Câmara dos Deputados vem apreciando PECs, PLPs, PLs
dispondo sobre matérias que não possam ser objeto de medidas provisórias, PDCs e PRCs
em sessões extraordinárias, não obstante a pauta estar trancada por medidas provisórias
com prazo esgotado (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do
presidente da República, acima).
O comportamento da bancada do PMDB, o maior partido político do Brasil, nos
dois processos legislativos, trouxe à superfície suas profundas clivagens regionais. Com
efeito, sua atuação tanto num como noutro processo se deve, em grande medida, ao hoje
poderoso grupo do Rio de Janeiro. Como se viu, contrariando a orientação do líder, o
decano Henrique Eduardo Alves, do Rio Grande do Norte, um número cada vez maior de
deputados peemedebistas – entre os quais se destacavam representantes do Rio,
notadamente Eduardo Cunha e Leonardo Picciani – vinha votando em desfavor da reforma
política, até que, ao final, liberada pelo líder, a maioria da bancada – e a totalidade dos
integrantes do grupo do Rio – votou contra a lista fechada. Por sua vez, no decorrer de todo
o processo de apreciação da PEC nº 511/2006, os deputados peemedebistas do Rio de
Janeiro, desde algum tempo fiéis aliados do presidente Lula, distinguiram-se na defesa das
prerrogativas do chefe do Executivo. Interessantemente, ao longo desse processo, os
deputados Edgar Moury e Raul Henry, os únicos dois representantes de Pernambuco,
destacaram-se entre os poucos peemedebistas a divergir da bancada, comportamento que se
245
explica pelo fato de o PMDB pernambucano ser controlado pelo atual senador e ex-
governador Jarbas Vasconcelos, um dos poucos peemedebistas a fazer oposição aberta ao
governo Lula. Na avaliação do assessor do PMDB entrevistado,
na reforma política, eu diria que tem dois grupos... eu acho que eu consigo ver dois grupos
nítidos dentro do PMDB (...) um desde o início e o outro que foi crescendo mais tarde, que
foram contra essa reforma. O primeiro grupo é o grupo ligado à igreja evangélica (...)
Naquele momento, a estratégia partidária das igrejas evangélicas era determinar que um
candidato fosse prum partido onde localmente ele tivesse mais chance em função das
coligações. Então não interessava às igrejas evangélicas de maneira geral qualquer coisa
que engessasse essa mobilidade. Então eu acho que dá pra identificar um grupo de ação
contra a reforma coordenado pelas igrejas evangélicas (...) Então nesse momento,
provavelmente a turma do Rio atuou seguindo os interesses da igreja evangélica. O outro
grupo dentro do PMDB, que esse ficou no início meio perdido, mas depois eles se
juntaram, que são os deputados peemedebistas – e eu imagino que isso aconteceu também
em outros partidos – bons de voto (...) Deputados como o Eunicio Oliveira, que atinge mais
do que um coeficiente eleitoral lá no Ceará, Vital do Rêgo Filho, que teve mais de uma vez
e meia o coeficiente eleitoral, Wilson Santiago, que é governista, mas que tem uma vez e
meia o coeficiente eleitoral, esses deputados não queriam ficar na mão das lideranças. Eles
iam ficar na dependência de ter os nomes colocados numa lista? Eles não iam se submeter a
isso. Então os deputados bons de voto, mas não tão bons de articulação em termos de
liderança partidária, pouco a pouco eles foram ficando contra a reforma. E os evangélicos,
logo de início a ação deles foi contrária a qualquer coisa que engessasse a mobilidade dele.
(...)
Essa PEC [PEC nº 511/2006] foi relatada no momento que o grupo, esse grupo do
PMDB, o grupo que gira em torno do Eduardo Cunha, ele passou a atuar de uma forma
clara e definida pró-governo. Até a votação da admissibilidade da PEC dos Precatórios,
esse grupo criava dificuldades pro governo. A partir do momento que parte desse grupo, a
cúpula desse grupo foi contemplada, quando eles ganharam a direção de Furnas, esse grupo
passou a atuar pró-governo. Eu diria que a estratégia desse grupo pra ganhar força foi criar
dificuldades pra vender facilidades.
(...)
246
No caso da reforma política, uma questão meio que de sobrevivência política do
grupo evangélico. E no caso da PEC 511, já tinha interesse de agradar o governo, porque
eles já tavam totalmente integrados à base do governo (...) Eles tiveram um papel talvez
mais marcante na PEC 511, que eles controlaram o processo nas comissões e chegaram
aqui com um substitutivo feito sob os auspícios desse grupo.
O julgamento do deputado Raul Henry vai na mesma direção:
Nessa reforma política ficou muito claro... o Plenário se dividiu entre aqueles
deputados que acham que o sistema eleitoral brasileiro atual tá esgotado, sobretudo o
modelo de financiamento privado, e aqueles que queriam manter o atual sistema. E aí a
clivagem não foi nem partidária. Havia deputados aqui do DEM, do PCdoB, do PT, do
PMDB, do PSDB, PPS, que achavam que esse sistema tinha que mudar, que não dá mais
pra o sistema eleitoral ficar apoiado nas relações, muitas delas incestuosas, com o poder
econômico. Então esse grupo, ele se alinhou por cima de orientações partidárias e se
manteve fiel à ideia de que era absolutamente necessária uma reforma política. Outros, não.
Outros ficaram naquela posição, que nós entendemos que é lamentável pro país, de querer
que as coisas continuem no rumo que elas vão. E na bancada do PMDB esse movimento
foi claro. Houve inicialmente uma tendência pró-reforma política. O deputado Ibsen
Pinheiro teve um papel... Posteriormente o tapete dele foi puxado aqui com a reorientação
da bancada, com o pretexto de que isso ia criar problemas pra base do governo, que os
partidos pequenos aqui da base do governo – o PP, o PTB, o PR – não queriam essa
reforma. E colocar esse tema em votação, colocar esse tema na agenda daqui, ia criar
problemas pra base do governo. Esse foi o pretexto, que nós entendemos equivocado. O
que eles querem de fato é que o sistema eleitoral brasileiro continue nesse rumo que vai,
que dependendo basicamente hoje de relações com o poder econômico.
(...)
Quando eu cheguei aqui em 2007, eu encontrei aqui um ambiente de muita
frustração pelo excesso de poder, pelo abuso do presidente da República em relação ao
critério de urgência e relevância pra mandar medidas provisórias pra Câmara. Se a gente
fizer um balanço do que aconteceu no ano de 2007 aqui, praticamente a gente ficou aqui
prisioneiro de votações de medidas provisórias. Então havia um entendimento aqui dentro
do Plenário de que era preciso estabelecer um limite pra isso. Era preciso que o Congresso
Nacional cumprisse seu papel e debatesse temas de relevância, temas que tivesse
ressonância na sociedade brasileira. Isso ficava praticamente impedido pelo excesso de
247
medidas provisórias aqui, muitas vezes com esse argumento de relevância e urgência
extremamente inconsistente. Então esse era o nosso entendimento aqui e no processo de
votações eu mantive esse posicionamento. A bancada do PMDB, que originalmente tinha
uma posição também nessa direção, que era quase que consensual aqui – no Senado eu tive
conhecimento que o sentimento era o mesmo –, e no meio do caminho ela mudou de
posição. Eu continuei, como continuei com o mesmo entendimento, permaneci votando em
favor das limitações desses poderes presidenciais.
(...)
A bancada do Rio, ela tem influenciado muito a bancada do PMDB nesse
departamento das piores práticas. É uma bancada que tem levado a bancada do PMDB
sempre aqui a se posicionar contrariamente àquelas aspirações da sociedade brasileira (...)
Furnas é o marco. Foi na CPMF.
(...)
Nós fizemos questão de deixar claro isso, perante o eleitorado de Pernambuco
inclusive. O presidente da República tem uma grande aprovação. Ele é natural de lá. Nós
saímos do processo eleitoral lá derrotados, dizendo à população que íamos cumprir o papel
que ela nos deu, que foi de fazer oposição. Em qualquer democracia do mundo, quem
ganha é pra ser governo, quem perde é pra fazer oposição, pra fiscalizar o Poder
Executivo, pra fiscalizar o governo. Isso é uma coisa fundamental na democracia: o
conceito de peso e contrapeso. Só que o que a gente vê aqui é uma coisa diferente: uma
prática de adesismo. Nós sabemos que não passa pelo argumento político nem pela adesão
ao programa. Passa pelo adesismo a partir da piores práticas, não só dentro do PMDB, mas
como de outros partidos que compõem essa base do governo. Daí entender que a reforma
política é importante, até para que a governabilidade se dê com base em diretrizes
programáticas, não nesse tipo de adesismo político (Entrevista realizada em 11/5/2010).
O deputado Leonardo Picciani, ainda que com grande cautela, reconheceu o
protagonismo do grupo do Rio no processo que resultou na rejeição da reforma política
proposta por meio do PL nº 1210/2007:
A reforma política, quando ela começou a ser discutida internamente na bancada,
ela começou sem uma minoria de apoio, mas com o apoio dos líderes da bancada, da
cúpula partidária: o presidente do partido, que era é o deputado federal hoje presidente da
248
Câmara, do líder da bancada, de figuras de notoriedade como o Ibsen Pinheiro. Naquele
momento, que ocupava uma posição de relevo dentro da Câmara naquele momento, tinha
uma posição contrária dentro da bancada eu, que era presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, que divergia. No início, a bancada tava contra. Depois, se fez um
acordo de liderança, que trouxe o projeto ao Plenário, e se tentou votar numa espécie de
―rolo compressor‖. Muitos deputados que tinham inicialmente a posição contrária – como
aconteceu com o projeto ―Ficha Limpa‖, só que na reforma política se reverteu –, muitos
deputados que tinham posição em contrário, ao vir o projeto em pauta, encaminhado pelos
líderes como se fosse uma coisa que ia passar sem..., no primeiro momento recuaram. A
bancada do Rio, que tem uma posição de mais independência e estava respaldada na
posição do presidente da Comissão de Justiça, foi contra porque sabia que haveria
resistência ao projeto (...) A opinião, ela já existia. O que não existia era a segurança e a
autonomia pra defender a posição. Eu acho que o papel que nós tivemos foi um papel de
resistência ao que seria um ―rolo compressor‖. Um projeto que veio ao Plenário feito num
acordo de liderança... Quinze, vinte pessoas se reuniram e disseram: ―Vamos fazer‖. Só que
esqueceram que precisavam ter o voto no Plenário (Entrevista realizada em 25/5/2010).
O economista Eduardo Cunha já foi presidente da Telerj (1991-1993), sub-
secretário de Estado da Habitação do Rio de Janeiro (1999), presidente da Cehab (1999-
2000) e deputado estadual pelo PPB/PP (2001-2003). Em seu segundo mandato como
deputado federal – a primeira vez, pelo PPB/PP (2003-2007); atualmente, pelo PMDB –,
em 2009 Eduardo Cunha veio a ser presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania – CCJC, a mais importante comissão da Câmara. O jovem advogado Leonardo
Picciani, no exercício de seu segundo mandato como deputado federal, era o presidente da
CCJC no ano em que a reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007 era objeto
de deliberação na Câmara. Em 2009, esteve afastado do exercício do mandato para exercer
o cargo de secretário de Estado da Habitação do Rio de Janeiro. O advogado e empresário
Edgar Moury, filiado ao MDB/PMDB desde 1986, já foi quatro vezes deputado estadual
por aquele partido e duas vezes secretário de Estado do Pernambuco. Está no exercício de
seu primeiro mandato como deputado federal. O economista Raul Henry já foi duas vezes
secretário municipal do Recife e secretário de Estado de Pernambuco, vice-prefeito do
Recife e deputado estadual (2003-2007), e ora se encontra no exercício de seu primeiro
249
mandato como deputado federal, sempre pelo PMDB, partido a que está filiado desde
1988.186
A bancada do PSDB foi pouco coesa nos dois processos legislativos. No início do
processo de apreciação da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, três
deputados ou 6% dos presentes, contrariando a orientação do então líder Antonio Carlos
Pannunzio, paulista serrano, votaram contra a atribuição de urgência à tramitação da
matéria. Mais tarde, na fase de discussão, em que pesasse ao PSDB ter mudado de posição
de favorável para contrário à reforma política proposta, o deputado baiano João Almeida,
atual líder na bancada fez calorosa defesa da reforma do sistema eleitoral.187
Na apreciação
186
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
187 ―Isso eu defendo até hoje‖, declarou o líder João Almeida em entrevista realizada em 29/4/2010. ―Eu acho
que o que tem de verdadeiro e absoluto é que o sistema eleitoral nosso é péssimo, ele não atende as
necessidades de constituição de uma base para o governo que se instala, seja ele federal ou municipal ou
estadual, especialmente federal, para garantir governabilidade com qualidade. O que que eu chamo de
governabilidade com qualidade? É fundada na realização de um programa de governo, tá? Quer dizer, a
forma como se constitui essa maioria hoje, dada essa pulverização partidária, que resulta do nosso sistema
eleitoral, é de muito baixa qualidade e é muito suscetível de mudanças de acordo com os humores
momentâneos do Congresso, de certos grupos de pressão do Congresso. E os entendimentos que fazem os
governantes com os partidos não dão estabilidade ao processo. A cada votação, há que se fazer uma nova
negociação, não é? Garantir a participação dos partidos no governo, com posições de destaque, ministérios
etc., não garante nada. Nas votações, todas... a maioria das votações críticas, importantes, que significam
mudança de rumo, reforma etc., tem que negociar, e negociar com cada deputado, com cada grupo de pressão
que se organiza aqui dentro. Isso é uma tragédia para o processo legislativo, para a governabilidade por
conseguinte e para o governo poder realizar metas de médio e longo prazos (...) Isso tem sido um ―ovo
areado‖ no partido. Acho, por exemplo, hoje uma nova votação nesse sentido aí 70% da bancada votaria a
favor da lista. É tanto que tô pensando até em propor a discussão do tema novamente depois da eleição, não
é? E aí não será restrito à bancada: será envolvendo o Congresso todo. Porque é o único momento que não foi
testado até hoje: a tentativa de fazer reforma eleitoral depois da eleição geral e antes da posse dos novos
eleitos. Outros momentos nós já testamos: o primeiro ano da legislatura; a véspera de eleição, próximo da
eleição, sempre vem o tema; o terceiro ano da legislatura já testamos. Mas esse intervalo nós nunca testamos.
Eu tô querendo propor aqui ao Congresso que testemos agora. Porque é um momento especial, porque os
deputados são saídos da eleição com conhecimento da última eleição, com os elementos todos vivos na
cabeça, as dificuldades que enfrentaram, os defeitos e as virtudes do sistema. E, de outro lado, eles estão
muito independentes pra votar, porque alguns estarão derrotados, outros deixaram a carreira política, outros
foram para outras funções. Então estão, por conta disso, livres pra tomar uma decisão muito mais coerente
250
do requerimento de encerramento da discussão, sete deputados – entre eles os mineiros
Bonifácio de Andrada e Paulo Abi-Ackel; nenhum paulista – ou 13% dos tucanos
presentes, outra vez contrariando a orientação do então líder Antonio Carlos Pannunzio,
votaram ―sim‖. Ao tempo que alguns deputados tucanos apresentaram emendas propondo a
supressão dos principais itens da reforma política, outros, como Bonifácio de Andrada,
propuseram uma combinação de proporcionalismo de lista fechada com circunscrições
eleitorais menores do que as atuais e uma flexibilização da lista partidária. Mais adiante, os
deputados Bonifácio de Andrada, de Minas Gerais, e Manoel Salviano, do Ceará, ou 4%
dos tucanos presentes, contrariando a orientação do líder, votaram a favor do requerimento
de preferência para a apreciação da emenda aglutinativa do deputado Flávio Dino, do
PCdoB, em relação ao substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, do DEM, relator da
matéria. Finalmente, na apreciação do grupo de artigos do substitutivo do relator referente
à lista fechada, oito deputados – entre eles outra vez os mineiros Bonifácio de Andrada e
Paulo Abi-Ackel, e o baiano João Almeida; nenhum paulista – ou 16% dos tucanos
presentes, de novo contrariando a orientação da liderança, votaram ―sim‖ (cf. a seção PL nº
1210/2007 – Reforma política, acima, e Listas de Votantes por Partido). Houve, pois, ao
longo do processo de apreciação do PL nº 1210/2007, certa clivagem entre o grupo
majoritário de São Paulo, contrário à reforma política proposta, e os demais grupos
regionais, sobretudo o de Minas Gerais, favoráveis. De acordo com o deputado Bonifácio
de Andrada, de Minas Gerais,
as lideranças paulistas, que dominam o partido, ficaram muito contra a lista, porque acham
que o atual sistema é favorável para eles. Essa é minha leitura. E influíram muito dentro do
partido para que se combatesse a lista. Houve um debate muito grande. Eu fui dissidência.
Eu com mais dez deputados fomos dissidência e o partido não se opôs. Fechou a questão,
mas aceitou a dissidência. Eu praticamente chefiei e acompanharam mais dez deputados.
Mas nós perdemos no Plenário. O voto de lista perdeu. Os partidos menores ficaram
assustados, se uniram e nos derrotaram. Mas, indiscutivelmente, isso revela uma tendência
com o que possa ser útil e concordante, digamos assim, com a posição de espírito público, do que a própria
eleição. E, de outro lado, estão muito distantes da próxima eleição. E seria bom que pudéssemos fazer isso
porque a configuração da governabilidade dos governos que assumirão depois já levará em conta o sistema
eleitoral modificado. Então nós podemos, sem ter feito a reforma política para a eleição, usufruir dos seus
eventuais benefícios na instalação dos novos governos. Vamos ver se dessa vez conseguimos sucesso.‖
251
– que eu digo assim mais como observador, não entro como homem político –, é uma
tendência dos grupos econômicos. Aos grupos econômicos interessa o atual sistema,
porque eles elegem, eles compram a eleição dos deputados que eles querem. Já no sistema
de lista não poderia haver isso, porque eles não poderiam influir dentro dos partidos como
eles influem no processo eleitoral. Então os grupos econômicos ficaram contra e
manipularam os partidos pequenos... Eu sou favorável inclusive ao financiamento de
campanha... Votei favorável ao financiamento de campanha. É uma maneira de você
libertar de fato os partidos pra disputar as eleições em igualdade de posição (Entrevista
realizada em 5/5/2010).
No processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do PSDB mostrou-se
igualmente pouco coesa. Em que pese à congruência demonstrada nas emendas por eles
apresentadas – todas, inclusive a de autoria do deputado João Almeida, propunham limites
ao poder do presidente da República de editar medidas provisórias –, os tucanos revelaram
pouca consistência, sobretudo na apreciação do substitutivo da Comissão Especial. Depois
de a bancada ter acompanhado os democratas em várias manobras obstrucionistas e de os
deputados Duarte Nogueira e Paulo Abi-Ackel haverem encaminhado a votação em
sentido contrário, no último instante, seguindo a orientação do então líder José Aníbal,
paulista alckmiano, os tucanos resolveram votar a favor do substitutivo, na expectativa de
podar seus excessos por intermédio dos destaques. Seis deputados ou 12% dos tucanos
presentes, no entanto, votaram contra, entre eles o ex-líder Antonio Carlos Pannunzio e
Arnaldo Madeira, paulistas serranos, e o atual líder, o baiano João Almeida (cf. Lista de
Votantes por Partido). Mais adiante, os tucanos voltaram a divergir na apreciação de dois
destaques: tanto na apreciação do destaque da própria bancada tucana, que pretendia
manter a proibição constitucional de abertura de crédito suplementar por meio de medida
provisória, suprimida no substitutivo, quanto na apreciação do destaque que pretendia
suprimir, do substitutivo, dispositivo que permitia ao chefe do Executivo abrir créditos
especiais e suplementares por intermédio de medida provisória sempre que projeto de lei
de igual teor não fosse apreciado pelo Congresso Nacional em determinado prazo, um
deputado tucano votou contra a orientação do líder (cf. a seção PEC nº 511/2006 –
Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima). Ainda segundo o
deputado Bonifácio de Andrada,
252
na realidade o PSDB, o governo, valeu-se muito das medidas provisórias. O presidente
Fernando Henrique Cardoso baixou várias medidas provisórias. E há pouco tempo,
ouvindo uma palestra que ele fez aqui em Brasília, ele defende as medidas provisórias.
Então a posição oficial de alguns grupos do PSDB é a favor das medidas provisórias. E há
grupos liberais democráticos, como é o meu caso, que não aceitam as medidas provisórias
de forma nenhuma. Medida provisória é um atentado à democracia. E não só é um atentado
à democracia. A medida provisória ela emperra e dificulta o próprio funcionamento do
Legislativo. Por isso é que eu pessoalmente aplaudi muito a decisão do presidente Michel
Temer quando ele deu aquela decisão de ordem, porque essa questão eu já tinha levantado
quando era presidente o Severino Cavalcanti. Eu levantei e defini de certa maneira aquela
decisão de ordem que o Michel Temer mais tarde iria tomar (...) O partido em relação à
medida provisória, porque ele valeu-se muito da medida provisória no governo Fernando
Henrique Cardoso, o partido se sente assim um pouco vinculado, tem como que uma
vinculação a esse péssimo instituto pra nossa vida democrática (Entrevista realizada em
5/5/2010).
Uma grande parte dos integrantes do PSDB, notadamente os paulistas, convencidos
de que as regras atuais fossem mais favoráveis à formação de uma base de apoio à
candidatura de José Serra a presidente da República, levou o partido a fechar questão e a
maioria da bancada na Câmara a votar contra a reforma política proposta por meio do PL
nº 1210/2007. Todavia, ao longo do processo uma parcela de deputados tucanos defendeu a
adoção do proporcionalismo com lista fechada, entre os quais os mineiros Bonifácio de
Andrada e Paulo Abi-Ackel, assim como o baiano João Almeida. Estes dois últimos
tucanos também tiveram uma atuação destacada no processo de apreciação da PEC nº
511/2006. O advogado e professor universitário Bonifácio de Andrada já foi vereador pela
UDN (1954-1958) em Barbacena, duas vezes deputado estadual pela UDN (1959-1963 e
1963-1967) e duas vezes pela Arena (1967-1971 e 1971-1975), uma vez deputado federal
pela Arena (1979-1983), três vezes pelo PDS/PP (1983-1987, 1987-1991 e 1991-1995),
uma vez pelo PTB (1995-1999) e três vezes pelo PSDB (1999-2003, 2003-2007 e 2007-
2010). Está, portanto, em seu oitavo mandato como deputado federal. Além disso, o
deputado Bonifácio de Andrada já foi três vezes secretário de Estado de Minas Gerais e
presidente da CCJC da Câmara dos Deputados em 2005. Já o advogado Paulo Abi-Ackel
está em seu primeiro mandato como deputado federal. Também esteve filiado ao PDS/PP
(1986-2000) e ao PTB (2000-2005), antes de ingressar no PSDB. Tendo herdado o capital
253
político de seu pai, Ibrahim Abi-Ackel, já foi várias vezes vice-líder da bancada do PSDB
e da minoria. Por sua vez, o geólogo baiano João Almeida está em seu quinto mandato
como deputado federal, já tendo sido deputado estadual pelo PMDB, partido a que esteve
filiado de 1970 a 1997. Já foi líder da bancada do PMDB e do governo na Câmara e, desde
que ingressou no PSDB em 1997, vice-líder da bancada daquele partido na Casa. O
deputado João Almeida é o atual líder da bancada do PSDB na Câmara.188
A bancada do PP se comportou de modo menos incongruente no processo de
apreciação da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007 do que no da PEC nº
511/2006. O deputado Gerson Peres, que tentou persuadir o PT a rever sua decisão de
fechar questão a favor da reforma política proposta, foi o único integrante da bancada do
PP a se manifestar na fase de discussão: pronunciou-se contra a reforma. A despeito disso,
contrariando a orientação do líder Mário Negromonte, o deputado José Otávio Germano
(representando 3% dos parlamentares do PP presentes) votou a favor do encerramento da
discussão, posicionando-se ao lado dos que queriam a reforma. Ao final, na apreciação do
grupo de artigos do substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, do DEM, atinente à lista
fechada, outra vez contrariando a orientação da liderança, o deputado José Otávio
Germano e outro membro da bancada do PP (representando 5%) votaram ―sim‖ (cf. a
seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima, e Lista de Votantes por Partido). Na
avaliação do deputado José Otávio Germano, a decisão da maioria absoluta da bancada de
seu partido de votar contra a reforma política proposta por intermédio do PL nº 1210/2007
foi um erro. Eu fui uma das vozes discordantes. Eu via naquele momento a chance real de
nós modificarmos aquilo que, no meu modo de ver, é um sistema vencido, ultrapassado,
falido eleitoral brasileiro. E esta própria eleição, este período de pré-eleição que nós
estamos vivendo, tá mostrando que nós, que votamos a favor da reforma eleitoral, tínhamos
razão. Não é mais possível conviver com essa maneira de eleição, com essa forma de
financiamento especialmente. O financiamento privado, ao contrário do que muitos
pensam, acaba se confundido muitas vezes com o financiamento público, acabam os
interesses de grupos ou de empresas se sobrepondo, acabam na verdade fazendo com que o
financiamento privado, ele se desvirtue na sua essência, no seu modo original de financiar
as campanhas. Este modelo atual, ele estimula a disputa interna dentro dos partidos, facilita
188
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
254
a não se ter uma convivência e uma vivência partidária. Então eu acho que nós perdemos, o
Congresso perdeu, a Câmara dos Deputados perdeu uma grande oportunidade de mudar a
sistemática eleitoral no Brasil quando não aprovou... Acho que o PP teve uma postura
equivocada, errada naquele momento, ao não aceitar o desafio de mudar o sistema eleitoral
(Entrevista realizada em 5/11/2010).
No processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do PP revelou-se ainda
menos consistente. Deputados do PP apresentaram PECs apensadas propondo a supressão
pura e simples do instituto das medidas provisórias ou a limitação da quantidade de
medidas provisórias que o presidente da República pudesse editar a cada ano. Sem
embargo, uma vez iniciado o processo de apreciação pelo Plenário, os integrantes da
bancada do PP, invariavelmente, votaram contra todos os requerimentos obstrucionistas
apresentados pela oposição e a favor do substitutivo da Comissão Especial, que não
somente mantinha, mas até mesmo ampliava o poder do chefe do Executivo de editar
medidas provisórias. Contudo, na etapa final, a cada destaque submetido à apreciação do
Plenário, alguns deputados do PP (entre 7 a 11% dos presentes) – José Otávio Germano e
Angela Amin, na maioria das vezes – votavam contra a orientação do líder (cf. a seção
PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima, e
Listas de Votantes por Partido). De novo, no julgamento do deputado José Otávio
Germano, a maioria da bancada de seu partido agiu
de maneira equivocada. Na verdade, a intenção era oferecer exatamente condições para que
houvesse uma limitação desse poder amplificado que hoje existe com relação às medidas
provisórias. Graças a uma interpretação do presidente Temer é que nós temos hoje a
condição de não ver obstruída permanentemente a pauta da Câmara dos Deputados (...) Eu
acho que nesta votação da PEC houve uma influência maior do Poder Executivo. Eu acho
que houve aí um interesse de governo e não de Estado prevalente e acabou se perdendo de
novo uma oportunidade ímpar de se aumentar as prerrogativas do próprio Congresso
Nacional. Na verdade, eu acho que não houve uma manifestação adequada, correta, em
ambos os casos, do partido e a minha voz discordante é exatamente em razão de que, na
minha convicção pessoal, seria muito melhor para a convivência nacional se nós
tivéssemos adotado posição diferente (Entrevista realizada em 5/11/2010).
Os deputados José Otávio Germano e Angela Amin se destacaram – o primeiro nos
dois processos legislativos, a última no processo de apreciação da PEC nº 511/2006 –,
255
notadamente por sua independência em relação ao então líder Mário Negromonte e à
bancada. O advogado e professor universitário gaúcho José Otávio Germano já foi
vereador em Cachoeira do Sul, duas vezes deputado estadual e está em seu segundo
mandato como deputado federal, sempre pelo PDS/PPR/PPB/PP, partido a que está filiado
desde 1980. Já foi duas vezes secretário de Estado do Rio Grande do Sul, bem como
secretário-executivo, secretário nacional do Esporte e Turismo e ministro substituto do
Ministério do Esporte e Turismo em 2000. O deputado José Otávio Germano foi eleito
pelos próprios votos, é dizer, não necessitou dos votos da legenda para se eleger deputado
federal. A professora catarinense Angela Amin, também filiada ao PDS/PP desde 1980, já
foi vereadora e duas vezes prefeita de Florianópolis (1997-2000 e 2001-2004). Está
igualmente em seu segundo mandato como deputada federal. É casada com Espiridião
Amin, que já foi duas vezes governador de Santa Catarina, senador e presidente nacional
do PP.189
A bancada do PR foi um das poucas bancadas partidárias que se mostraram
altamente coesas nos dois processos legislativos. Foi a bancada de grande porte que mais
ganhou deputados de outras – 52% dos deputados que hoje integram a bancada do PR
foram eleitos por outros partidos, notadamente da oposição: não tem, portanto, interesse
em reformar o sistema eleitoral-partidário. Além disso, o PR foi assim formado para dar
sustentação ao governo Lula – o que explica a alta congruência alcançada no decorrer de
todo o processo de apreciação da PEC nº 511. Com efeito, ao longo de todo o processo de
apreciação da reforma política proposta por intermédio do PL 1210/2007, as únicas duas
vezes em que houve qualquer divergência na bancada do PR foram na fase de discussão,
ocasião em que o deputado Maurício Quintella Lessa se manifestou a favor da reforma
política proposta, e na apreciação do requerimento de encerramento de discussão,
oportunidade em que o deputado Inocêncio de Oliveira, acompanhando os parlamentares
favoráveis à reforma, votou ―sim‖ (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima,
e Lista de Votantes por Partido). No julgamento do assessor do PR entrevistado,
o Maurício Quintella, a opinião dele era favorável àquela reforma. Ele falou pro líder,
conversou. Ele disse que queria votar, porque achava interessava e tudo, apesar de ir contra
189
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
256
a orientação (...) Se não tô enganado, ele é o único do estado dele, parlamentar do estado
dele. Pra ele não teria problema nenhum.190
O presidente Inocêncio é uma pessoa atípica
aos parlamentares. Tem a sua opinião. É que nem um Arnaldo Faria de Sá dentro do PTB,
o Miro [Teixeira] dentro do PDT... São pessoas diferenciadas. Têm aquele privilégio,
vamos dizer assim, entre aspas, de expressar sua opinião (Entrevista realizada em
9/4/2010).
A bancada do PR se revelou igualmente coesa no decorrer de todo o processo de
apreciação da PEC nº 511/2006. A única vez em que ocorreu qualquer divergência foi na
apreciação do destaque da bancada do PSDB que pretendia suprimir, do substitutivo da
Comissão Especial, dispositivo que permitia o presidente da República retirar medidas
provisórias já em vigor e submetidas à apreciação do Congresso Nacional: o deputado
Jofran Frejat votou a favor do destaque da bancada tucana (cf. a seção PEC nº 511/2006 –
Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima, e Lista de Votantes
por Partido).
O deputado Luciano Castro, líder da bancada à época, teve atuação destacada na
oposição à reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007. Poucos dias depois de
o PL nº 2679/2003 – de que o PL nº 1210/2007 é cópia fiel – haver sido incluído na ordem
do dia do Plenário da Câmara, ele apresentou tanto o PLP nº 35/2007, que estabelece, em
sua versão original, a inelegibilidade como a única penalidade a ser aplicada aos
parlamentares que troquem de partido, quanto o PRC nº 45/2007, que determina que a
proporcionalidade para fins de composição da Mesa e das comissões da Câmara deva ser
aferida no início de cada sessão legislativa, revertendo assim os efeitos da Resolução nº
34/2005.191
Afora haver apresentado várias emendas atacando itens importantes da reforma
política proposta, o deputado Luciano Castro, juntamente com o deputado Miro Teixeira,
190
O deputado Maurício Quintella Lessa, de fato, é o único representante de Alagoas a integrar a bancada do
PR na Câmara (cf. Capítulo 2).
191 Antes da Resolução nº 34/2005, a proporcionalidade para fins de composição da Mesa e das comissões da
Câmara era aferida no início de cada sessão legislativa, de maneira que as bancadas partidárias que tinham
recebido deputados de outras pudessem ser beneficiadas. A Resolução nº 34/2005, com a finalidade de coibir
o troca-troca de partido, veio a estabelecer que a proporcionalidade para fins de composição da Mesa e das
comissões da Câmara deve ser aferida no início de cada legislatura, levando, pois, em conta apenas as
bancadas partidárias egressas das eleições.
257
do PDT, requereu fosse o substitutivo do deputado Ronaldo Caiado votado em grupo de
artigos, figurando em primeiro lugar os artigos relacionados à lista fechada, o item mais
controverso da reforma, medida claramente obstrucionista, conforme reconheceu o
deputado Miro Teixeira (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima). O
comportamento do deputado Luciano Castro se explica por sua carreira política.
Economista e administrador, o cearense está em seu quinto mandato como deputado
federal por Roraima. Sempre ao lado do governo, o deputado Luciano Castro já esteve
filiado ao PFL/DEM (1988-1993), ao PPR/PPB/PP (1993-1995), ao PSDB (1995-1999) e
outra vez ao PFL/DEM (1999-2003), antes de migrar para o PL/PR em 2003.192
A pequena bancada do PSC figurou, ao mesmo tempo, entre as mais coesas no
processo do PL nº 1210/2007 e entre as mais incongruentes no processo da PEC nº
511/2006. No decorrer de todo o processo de apreciação da reforma política proposta por
intermédio do PL nº 1210/2007, a única vez em que houve qualquer divergência na
bancada do PSC foi na apreciação do requerimento de preferência para a votação da
emenda aglutinativa do deputado Flávio Dino, do PCdoB, em relação ao substitutivo do
deputado Ronaldo Caiado, do DEM: um deputado (20% dos presentes) votou a favor da
preferência (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima).
Já no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a pequena bancada do PSC, em
duas ocasiões, figurou entre as bancadas partidárias mais inconsistentes: tanto na
apreciação do destaque da bancada do PSDB que pretendia manter a vedação
constitucional de abertura de crédito suplementar por meio de medida provisória como na
apreciação do destaque que pretendia suprimir, do substitutivo, dispositivo que autorizava
o presidente da República a abrir créditos especiais e suplementar por aquela via, o
deputado Regis de Oliveira divergiu de seus colegas de bancada (cf. a seção PEC nº
511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima, e Listas
de Votantes por Partido). Na avaliação do assessor do PSC entrevistado, ―deputado Regis,
ele é um deputado muito by myself (...) Ele é um parlamentar que tem ideias próprias. Às
vezes ele não concorda com certos posicionamentos do partido e vota de acordo com o que
ele acha‖ (Entrevista realizada em 9/4/2010).
192
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
258
A pequena bancada do PTB comportou-se de modo pouco coeso nos dois processos
legislativos. Três deputados – entre eles Arnaldo Faria de Sá – ou 18% dos petebistas
presentes, contrariando a orientação do líder Jovair Arantes, votaram ―não‖ à atribuição de
urgência à tramitação do PL nº 1210/2007. Na apreciação do requerimento de
encerramento da discussão, rejeitado em grande parte devido à atuação do deputado
Arnaldo Faria de Sá, o deputado Armando Monteiro, contrariando a orientação do líder e
divergindo da bancada, votou ―sim‖, posicionando-se ao lado dos que queriam a reforma.
Naquela fase, enquanto que alguns integrantes da bancada do PTB apresentaram emendas
propondo a supressão da lista fechada e a redução da barreira ao funcionamento
parlamentar, o próprio líder Jovair Arantes propôs a flexibilização da lista partidária. Ao
final, o deputado Armando Monteiro, outra vez contrariando a orientação do líder e
divergindo da bancada, votou a favor da lista fechada (cf. a seção PL nº 1210/2007 –
Reforma política, acima, e Listas de Votantes por Partido).
No processo de apreciação da PEC nº 511/2006, conquanto tenham invariavelmente
votado contra os requerimentos obstrucionistas da oposição e a favor do substitutivo da
Comissão Especial, os deputados petebistas entraram em divergência na apreciação de três
destaques. O próprio deputado Arnaldo Faria de Sá, que na fase de discussão se tinha
manifestado a favor do substitutivo e mais à frente havia encaminhado a votação no
mesmo sentido, contrariando a orientação do líder Jovair Arantes e divergindo da bancada,
votou a favor do destaque da bancada do PSDB que pretendia manter a proibição
constitucional, suprimida no substitutivo, de abertura de crédito suplementar por meio de
medida provisória. Mais tarde, foi a vez do deputado Ernandes Amorim: contrariando a
orientação do líder e divergindo da bancada, ele votou a favor tanto do destaque da
bancada do PSDB que pretendia suprimir, do substitutivo, dispositivo que permitia o
presidente da República retirar medidas provisórias já em vigor e submetidas à apreciação
do Congresso Nacional, quanto do destaque que suprimia, do substitutivo, dispositivo que
autorizava o chefe do Executivo a abrir créditos especiais e suplementares por intermédio
de medida provisória sempre que projeto de lei de igual objeto não fosse apreciado pelo
Congresso em determinado prazo (cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes
legislativo do presidente da República, acima, e Listas de Votantes por Partido).
259
O deputado Arnaldo Faria de Sá foi o mais ferrenho opositor da reforma política
proposta por meio do PL nº 1210/2007. Posicionou-se contra o acordo inicialmente
costurado para apreciar a proposição em regime de urgência. Comemorou ao tomar
conhecimento de que o PSDB tinha fechado questão contra a reforma política proposta. Na
fase de discussão, jocosamente apelidou os principais itens da reforma de ―lista do jogo do
bicho‖ e ―bolsa-voto‖ (cf. Notas Taquigráficas da Sessão Extraordinária de 13/6/2007, 9h).
Mais tarde, festejou com maior euforia a rejeição do requerimento de encerramento da
discussão: ―Acabou a lista! Rasga a lista!‖ Por último, questionou a emenda aglutinativa
global do deputado Flávio Dino, em decorrência do que a reforma política foi virtualmente
arquivada. Além disso, ao longo do processo lançou mão de várias medidas
obstrucionistas, tais como questões de ordem seguidas de recursos contra a decisão do
presidente da Câmara, requerimentos de retirada de pauta, de adiamento e de verificação
de votação. Eis a interpretação do próprio deputado Arnaldo Faria de Sá:
Eu basicamente tinha duas divergências fundamentais com a essa reforma política:
contra a lista fechada e contra o financiamento público. Lista fechada, você ficaria ainda
mais submisso à ditadura do comando partidário; e financiamento público é positivo, mas
num país de tantas carências você não pode se dar o luxo de usar o dinheiro público quando
falta dinheiro pra saúde, pra educação, pra previdência. Essa foi a razão básica pela qual
eu me insurgir contra a reforma política. Logicamente, meu destaque estava por cima de
questões partidárias. Por conhecer bem o Regimento Interno, eu fui a pessoa que conseguir
travar essa tramitação, entendeu? Eu lembro que à época o presidente Arlindo Chinaglia
ficou até contrariado comigo, porque ele queria tentar um acordo e eu disse que acordo só
se fosse por unanimidade. E não haveria jamais unanimidade porque eu era contra,
discordante. E, sem dúvida nenhuma, quando eles apresentaram emendas aglutinativas, eu
consegui derrotar as emendas aglutinativas, porque todas elas não tinham sido originárias
do texto principal e das emendas apresentadas (...) A partir daí a reforma política acabou
sendo sepultada (Entrevista realizada em 25/5/2010).
Já no que tange ao processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a atuação do
deputado Arnaldo Faria de Sá foi mais discreta. Em que pesasse a se ter, na fase de
discussão, pronunciado a favor do substitutivo da Comissão Especial e, mais adiante, haver
encaminhado a votação no mesmo sentido, votou favoravelmente ao destaque da bancada
260
do PSDB que pretendia manter a proibição constitucional, suprimida no substitutivo, de
abertura de crédito suplementar por meio de medida provisória.
A virulência com que o deputado Arnaldo Faria de Sá se opôs a uma reforma que
buscava sobretudo fortalecer os partidos políticos pode ser compreendida à luz de sua
carreira política. Advogado e radialista paulista, está em seu sexto mandato como deputado
federal. O deputado Arnaldo Faria de Sá já esteve filiado ao PJ/PRN/PTC (1988-1991),
época em que concorreu ao cargo de vice-prefeito de São Paulo na chapa de Paulo Maluf e
articulou a candidatura de Fernando Collor de Mello a presidente da República, e ao
PPR/PPB/PP (1993-2001), antes de migrar para o PTB em 2001.
Por derradeiro, a bancada do DEM. Uma das mais aguerridas nos dois processos
legislativos, foi igualmente uma das bancadas mais incongruentes tanto no processo do PL
nº 1210/2007 como no da PEC nº 511/2006. O deputado democrata Ronaldo Caiado foi o
relator tanto da Comissão Especial da Reforma Política, instituída na legislatura passada,
quanto do PL nº 1210/2007. O deputado Onyx Lorenzoni, então líder da bancada do DEM,
foi o primeiro líder de bancada partidária a subscrever o requerimento de urgência de modo
a possibilitar a inclusão imediata daquela proposição na ordem do dia do Plenário. A
despeito disso, os deputados Edmar Moreira e Félix Mendonça, este último da Bahia (6%
dos democratas presentes), votaram contra a atribuição de urgência à apreciação da
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007. Na fase de discussão, ao tempo
que o deputado João Oliveira se manifestou favoravelmente, o deputado Gervásio Silva,
hoje integrante da bancada do PSDB, pronunciou-se contrariamente à reforma política
proposta. Em seguida, contrariando a orientação do líder, o mesmo deputado baiano Félix
Mendonça e o deputado Silvinho Piccioli (4% dos democratas presentes) se abstiveram de
votar a favor do requerimento de encerramento da discussão, posicionando-se, portanto, ao
lado daqueles que não queriam a reforma. Até o final daquela etapa, a deputada Solange
Amaral apresentou emenda propondo, como alternativa à lista fechada, o voto distrital e o
deputado Gervásio Silva propôs a supressão do financiamento exclusivamente público, os
itens mais centrais da reforma. Mais tarde, na apreciação do requerimento de preferência
para a votação da emenda aglutinativa do deputado Flávio Dino, do PCdoB, em relação ao
substitutivo do deputado Ronaldo Caiado, enquanto que este último encaminhou a votação
em sentido contrário, o líder Onyx Lorenzoni manifestou-se favoravelmente à emenda
261
aglutinativa, deixando claro ter, ele próprio, participado de sua elaboração. Entretanto,
contrariando a orientação do líder, nove deputados – entre eles Edmar Moreira, Félix
Mendonça e Paulo Magalhães, estes dois últimos da Bahia, Júlio Cesar, do Piauí, e
Silvinho Piccioli, além de Gervásio Silva e, é claro, Ronaldo Caiado – ou 18% dos
democratas presentes votaram contra a preferência. Mais adiante, rejeitado o requerimento
de preferência para a votação da emenda aglutinativa, o líder Onyx Lorenzoni orientou a
bancada a votar favoravelmente ao grupo de artigos do substitutivo atinente à lista fechada.
No entanto, contrariando a orientação do líder, nove deputados – Edmar Moreira, Félix
Mendonça e Paulo Magalhães, estes dois últimos da Bahia, Júlio Cesar, do Piauí, e
Silvinho Piccioli, afora Gervásio Silva, outra vez entre eles – ou 18% dos democratas
presentes votaram em desfavor da lista fechada. Finalmente, rejeitada a lista fechada, o
próprio deputado Ronaldo Caiado ajudou o deputado Flávio Dino, do PCdoB, a elaborar
uma emenda aglutinativa global, a qual, por conter matéria nova ou não encontrada nem no
projeto original nem nas muitas emendas a ele apresentadas, não pôde ser admitida (cf. a
seção PL nº 1210/2007 – Reforma política, acima, e Listas de Votantes por Partido).
No que concerne ao processo de apreciação da PEC nº 511/2006, a bancada do
DEM superou todas as demais em inconsistência. A única vez em que a bancada
democrata mostrou coesão no decorrer de todo o processo foi na fase de emendamento na
Comissão Especial: todas as emendas apresentadas pelos democratas propunham, de uma
forma ou de outra, a redução do poder do presidente da República de editar medidas
provisórias. A partir daí, em que pesasse a ter sido a opositora mais contundente do
substitutivo da Comissão Especial, não houve ocasião alguma em que a bancada do DEM
não se revelasse incongruente. Os democratas – entre eles Jerônimo Reis, de Sergipe (três
vezes), Júlio Cesar, do Piauí (duas vezes), e Betinho Rosado, do Rio Grande do Norte –
divergiam até mesmo nas manobras obstrucionistas protagonizadas pelos deputados
Jorginho Maluly e Guilherme Campos, seus colegas de bancada. Além disso, cinco
deputados – os nordestinos Jerônimo Reis, Júlio Cesar e Betinho Rosado novamente entre
eles – ou 11% da bancada, contrariando a orientação do líder, votaram a favor do
substitutivo da Comissão Especial. Por último, um número considerável de democratas –
entre eles outra vez os nordestinos Jerônimo Reis (quatro vezes), Júlio César (cinco vezes),
Betinho Rosado (cinco vezes) e Félix Mendonça, além de Lael Varella (cinco vezes) –
divergiu na apreciação de todos os destaques, inclusive da própria bancada. No derradeiro
262
destaque, onze deputados ou 35% dos democratas presentes divergiram (cf. a seção PEC nº
511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República, acima, e Listas
de Votantes por Partido).
No decorrer dos dois processos legislativos, entre os democratas que divergiram
predominaram representantes do Nordeste, notadamente no processo de apreciação da PEC
nº 511/2007. É evidente que a maioria nordestina, tradicionalmente personalista e
governista, ainda não se afinou com a nova liderança mais ao sul, pretensamente mais
partidária e oposicionista. Na avaliação do assessor do DEM entrevistado,
a eleição prum deputado no Nordeste, deputado que é de oposição ao governo federal, é
muito mais difícil (...) É muito difícil um deputado do Nordeste fazer oposição ao governo.
Por isso que essa decisão do TSE houve uma debandada pros partidos da base. Não que
eles sejam maus (...) É que eles são dependentes do governo federal (...) O deputado
Betinho Rosado, que é nosso grande norte, ele vota constantemente com o governo (...)
Deputados do Nordeste são mais dependentes em relação à liberação de emendas (...) E o
governo monitora isso tudo. Deputados chegam pra mim e falam: ―Eu vou ter que votar
sim, porque senão não vão liberar‖. O governo joga sujo (Entrevista realizada em
14/4/2010).
O goiano Ronaldo Caiado, integrante dessa nova liderança mais ao sul, teve uma
atuação destacada na defesa da reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007.
Afinal, foi o relator tanto da Comissão Especial da Reforma Política, instituída na
legislatura passada, quanto do próprio PL nº 1210/2007. Sem embargo de haver sido um
dos mais calorosos opositores do substitutivo da Comissão Especial à PEC nº 511/2007, o
deputado Ronaldo Caiado foi um dos impetrantes do mandado de segurança contra a
decisão do presidente da Câmara por força da qual as medidas provisórias com prazo
esgotado somente passaram a sobrestar proposições dispondo sobre matérias passíveis de
ser objeto de medidas provisórias. Médico, professor universitário e produtor rural,
Ronaldo Caiado foi candidato a presidente da República pelo PSD em 1989 e está em seu
quarto mandato como deputado federal. Desde 1992, vem exercendo o cargo de vice-líder
da bancada do PFL/DEM, tendo sido o líder daquela bancada em 2009.193
193
Dados obtidos junto à Câmara dos Deputados.
263
CONCLUSÃO
Este trabalho, empregando uma metodologia construída sobre formulações feitas
por Jürgen Habermas, Pierre Bourdieu e Anthony Giddens, procurou combinar uma
explicação das ações dos deputados federais da presente legislatura (2007-2011), a partir
de elementos estruturais, sobretudo as constrições e as potencialidades objetivas inscritas
nas estruturas partidárias, com uma compreensão das representações que esses
parlamentares fazem da própria conduta.
Análises como a de Argelina Figueiredo e Fernando Limongi, além de ignorar essa
dimensão subjetiva elementar, constitutiva da ação em geral e do comportamento
parlamentar em particular, somente levam em conta as votações nominais em que não há
unanimidade nas orientações dos líderes (cf. Introdução). Ora, o exame dos processos de
apreciação do PL nº 1210/2007 e da PEC nº 511/2006, objeto deste trabalho, deixa claro
que a mera análise de atos isolados desses e de outros processos não é capaz de capturar
aspectos elementares, constitutivos, envolvidos inclusive nas votações. Como disse o
assessor do PMDB, muitas vezes o parlamentar segue a orientação do líder porque não tem
o menor interesse na matéria (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política do Capítulo
3) ou, como afirmou o deputado Fernando Coruja, líder da bancada do PPS, sabendo que a
matéria não vai prosperar, quer simplesmente apressar sua apreciação para ―limpar‖ a
pauta:
Obstrução muitas vezes não se tá a falar do mérito. O que tá em jogo são outras
coisas. Muitas vezes cê tá obstruindo ali pra que não se vote outra matéria. Então não dá
pra fazer uma relação entre a obstrução... ―Cê tá obstruindo tal projeto porque cê é contra
aquele projeto‖. Essa relação, cê não pode fazer. Porque a obstrução, ela tem a ver com
outros fatores (...) [Outras] vezes cê quer votar pra apressar, pra votar outra matéria. A
PEC, quando cê vê que ela não vai votar, então às vezes vota a favor pra liberar rápido ali
(cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da
República do Capítulo 3).
Outras vezes é o líder que está em divergência com a maioria da bancada e não uma
parte da bancada que está a divergir do líder, como aconteceu com o PV por ocasião da
apreciação do requerimento de encerramento de discussão do PL nº 1210/2007:
264
contrariando a orientação do líder Marcelo Ortiz, 54% dos verdes presentes votaram ―não‖.
Coerentemente com seu comportamento ao longo daquele processo, a maioria da pequena
bancada do PV, a exemplo das demais bancadas que se opunham à reforma política, queria
ganhar mais tempo, já que, como haviam alertado os deputados Arnaldo Faria de Sá, do
PTB, e Lincoln Portela, do PR, o Plenário tendia a rejeitar a proposta. Naquele caso, foi
evidentemente o líder – e não os deputados que votaram contra sua orientação –, que
divergiu da maioria da bancada (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política do
Capítulo 3).
No curso do processo explicativo-compreensivo das ações dos deputados federais
desta legislatura, ficou evidente que o sistema político adotado no Brasil, sobretudo a
combinação de presidencialismo com proporcionalismo de lista aberta, tem exercido
considerável influência sobre o comportamento parlamentar. As regras políticas vigentes
têm concorrido – juntamente com outros fatores, notadamente culturais – para a formação
de uma multiplicidade de partidos fracos, com pouca capilaridade social, identidade
ideológico-programática e coesão. Essas agremiações, em geral, são constituídas de
políticos individualistas, particularistas, personalistas e com longo histórico de migração
partidária. Nesta legislatura, em que pese à decisão do Tribunal Superior Eleitoral – TSE
(Resolução nº 22.610/2007), em resposta à Consulta nº 1.398/2007, do PFL/DEM,
referendada pelo STF (Mandado de Segurança nº 26.602), por força da qual perde o cargo
eletivo o mandatário que, sem justa causa, desfiliar-se do partido, somente as bancadas do
PCdoB, do PSOL, do PMN e do DEM não receberam deputados eleitos por outras
legendas. Respectivamente, 52, 85 e 44% das atuais bancadas do PR, do PRB e do PSC
migraram de outras siglas (cf. Capítulo 2). Partidos com essas características dificilmente
conseguem fechar questão em torno de qualquer assunto. No processo de apreciação da
reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, como se viu, somente o PCdoB, o
PT e o PSDB foram capazes de fazê-lo. Isso, no entanto, não garantiu que todos os
integrantes das bancadas desses partidos na Câmara dos Deputados seguissem a orientação
de seus líderes em todas as votações havidas (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma
política do Capítulo 3). Nas últimas duas eleições gerais, agremiações como o PMDB, o
PP, o PR e o PTB não lançaram candidato ao cargo de presidente da República, havendo
apoiado os diferentes grupos que se alternaram no poder (cf. Capítulo 2).
265
A fragilidade, o pragmatismo e a incongruência dos partidos, bem como o
individualismo, o particularismo e o apartidarismo dos integrantes de suas bancadas
congressuais são tamanhos que o governo, a cada votação importante, tem de negociar com
sua base de sustentação, muitas vezes num plano individual. Como disse o deputado João
Almeida, líder da bancada do PSDB,
o sistema eleitoral nosso é péssimo, ele não atende as necessidades de constituição de uma
base para o governo que se instala, seja ele federal ou municipal ou estadual, especialmente
federal, para garantir governabilidade com qualidade. O que que eu chamo de
governabilidade com qualidade? É fundada na realização de um programa de governo, tá?
Quer dizer, a forma como se constitui essa maioria hoje, dada essa pulverização partidária,
que resulta do nosso sistema eleitoral, é de muito baixa qualidade e é muito suscetível de
mudanças de acordo com os humores momentâneos do Congresso, de certos grupos de
pressão do Congresso. E os entendimentos que fazem os governantes com os partidos não
dão estabilidade ao processo. A cada votação, há que se fazer uma nova negociação, não é?
Garantir a participação dos partidos no governo, com posições de destaque, ministérios
etc., não garante nada. Nas votações, todas... a maioria das votações críticas, importantes,
que significam mudança de rumo, reforma etc., tem que negociar, e negociar com cada
deputado, com cada grupo de pressão que se organiza aqui dentro. Isso é uma tragédia para
o processo legislativo, para a governabilidade por conseguinte e para o governo poder
realizar metas de médio e longo prazos (cf. a seção Análise comparada do Capítulo 3).
Na mesma direção, como se observou, a avaliação do deputado Fernando Coruja,
líder da bancada do PPS:
Um dos principais problemas desse sistema eleitoral, como não há partidos e a
pessoa não é eleita por uma lista partidária fechada, fica muito difícil cê ter aglutinação,
mesmo que o partido decida uma coisa (...) as pessoas tendem a votar como elas querem.
Não há uma responsabilidade com o partido. Não há uma responsabilidade com a mudança.
O sistema eleitoral leva a uma irresponsabilidade do Parlamento. A única responsabilidade
que o parlamentar tem (...) é com a própria reeleição. Ele não tem responsabilidade com o
governo. Esse troço não é parlamentarista. Logo ele não tem responsabilidade. Ele não tem
responsabilidade com o partido, porque ele não é eleito pelo partido. Ele tende a votar de
acordo com os seus interesses, o interesse dos seus eleitores especificamente. Se ele é
religioso, ele vai votar de acordo com a sua religião. Se ele representa uma corporação, ele
vota com sua corporação. Ele não vota com o partido. Ele não vota com o partido, ele vota
266
com a corporação, ele vota com a religião (...) Como não tem partidos, fica difícil ter
coesão na votação (...) Cada parlamentar é uma instituição (cf. a seção PL nº 1210/2007 –
Reforma política do Capítulo 3).
De tal monta é a debilidade, o déficit ideológico-programático e a inconsistência
dos partidos, bem assim o individualismo, o particularismo e o antipartidarismo dos
membros de suas bancadas parlamentares que o deputado Ronaldo Caiado, do DEM, o
relator da proposta de reforma política que visava a imprimir um caráter mais partidário à
ação política e parlamentar, mostrou-se absolutamente cético quanto à possibilidade de se
proceder ao estudo do comportamento parlamentar elegendo-se como unidade de análise as
bancadas partidárias:
Eu acho que a análise, ela tem que ser feita com essa visão mais ampla da
característica de um a um e não de bancada. Você não tem o perfil único de bancada. Você
tem pessoas. E dentro dessas pessoas, por não ser questão fechada em nenhum partido. ―Eu
vou ter 70, 80% no Democratas, mas eu vou ter 20% contra; eu vou ter 30, 40% no PMDB,
mas vou ter 70% contra‖. Essa variação, ela não é partidária; ela é da pessoa (Entrevista
realizada em 5/5/2010).
Essa fraqueza dos partidos políticos se reflete na fragilidade das lideranças
partidárias nas Casas Legislativas em geral e na Câmara dos Deputados em particular. Ao
contrário do que acreditam Argelina Figueiredo e Fernando Limongi (cf. Introdução), em
que pese aos instrumentos regimentais postos a sua disposição, os líderes partidários não
influenciam, de modo decisivo, o comportamento das respectivas bancadas. Até mesmo
essa estrutura de lideranças partidárias, como se viu, não está tão concentrada hoje quanto
já esteve no regime militar e, mais ainda, no regime de 1946 a 1964 (cf. Capítulo 2). A
escolha do líder, na maioria das vezes, é objeto de acirrada disputa. Com a escolha do líder,
é comum já ficar definido quem participará dessa ou daquela comissão e, em alguns casos,
quem presidirá a comissão tal ou qual. As indicações que faz o líder, portanto, costumam
ser meramente formais. Até mesmo na reunião de líderes, a força da opinião de cada um é
medida pela percepção de todos de quão representativa essa opinião é dos sentimentos da
bancada. O parecer de líder que não é percebido como representativo dos sentimentos da
maioria da bancada ou do grupo que controla a bancada não é usualmente levado a sério.
Afinal, o presidente não quer correr o risco de submeter ao Plenário uma proposta que não
267
tem o apoio das principais forças políticas existentes na Casa. O mesmo se dá no que
concerne às orientações dos líderes no Plenário. Como declarou o deputado Fernando
Coruja, líder da bancada do PPS, ―o líder, ele não chega lá e orienta sem conversar. Ele
leva a orientação da bancada (...) A orientação é uma orientação de uma decisão coletiva
da bancada‖ (cf. Capítulo 2). Até mesmo o assessor do DEM, malgrado todo esforço para
realçar a força da liderança da bancada dos democratas, deixou transparecer que o líder
pode ser substituído caso ele contrarie a maioria da bancada:
Sempre nas decisões polêmicas – sempre não, mas na maior parte das vezes –, o
líder ouve a bancada nas reuniões de bancada de terça-feira. Toda terça-feira, às 11h30 (...)
num plenário de comissão, geralmente o Plenário IV, a bancada se reúne com o líder pra
tratar de matérias importantes, atualizar todo mundo e tratar das matérias que devem ser
votadas na semana (...) Geralmente, nos temas polêmicos, ele sempre consulta. E é
prudente ele consultar, até pra ele não ser desautorizado e derrubarem ele, pra metade mais
um, a maioria absoluta da bancada não se juntar e indicar outro líder (cf. Capítulo 2).
O assessor do PMDB resumiu bem o papel do líder das bancadas partidárias,
notadamente as governistas: O líder está ―ali pra atender a todos e não contrariar ninguém‖
(cf. Capítulo 2).
Não foi por outro motivo que, depois de vir orientando a favor da reforma política
ao longo de todo processo, ao final, na votação do grupo de artigos do substitutivo do
deputado Ronaldo Caiado referente à lista fechada, os líderes Fernando Coruja, do PPS, e
Henrique Eduardo Alves, do PMDB, sentiram-se compelidos a liberar as respectivas
bancadas (cf. a seção PL nº 1210/2007 – Reforma política).
É lógico que, assim como certos partidos são menos fracos do que outros,
determinados líderes são menos frágeis do que outros. Quanto menos fraco for o partido,
menos frágil tenderá a ser seu líder de bancada.
Em um ponto, pelo menos, Figueiredo e Limongi têm razão: o presidente da
República e a burocracia governamental têm ocupado todos os vazios de poder que os
partidos e as lideranças partidárias não têm sido capazes de preencher na estrutura do
Congresso Nacional em geral e da Câmara dos Deputados em particular. Ademais de
instrumentos constitucionais como a iniciativa exclusiva de algumas leis, inclusive as
268
orçamentárias, a prerrogativa de atribuir urgência a projetos de lei de sua autoria e a edição
de medidas provisórias com força de lei, por meio dos quais controla a pauta das Casas
congressuais, o chefe do Executivo dispõe também de eficientíssimos mecanismos de
cooptação de parlamentares: detém o controle do orçamento da União e de milhares de
cargos na administração pública, direta e indireta (cf. a seção PEC nº 511/2006 –
Limitação dos poderes legislativo do presidente da República).
O governo, como se observou, tem desempenhado um papel determinante na
configuração do tabuleiro político na Câmara dos Deputados, atraindo para as bancadas
dos partidos que lhe dão sustentação parlamentares eleitos por legendas de oposição. Na
presente legislatura, o PPS, o PSDB e o DEM perderam, respectivamente, 41, 12, e 21% de
suas bancadas de eleição, dos quais 100, 88 e 93% migraram para partidos que integram a
base governista na Câmara, notadamente o PR. Vale lembrar as palavras do assessor
daquele partido: O PR ―é um partido de apoio à base. Foi fundado pra isso. Teve o apoio
do governo pra ter essa movimentação de deputados vindos pra cá‖ (cf. Capítulo 2). Não é
por outra razão que, no processo de apreciação da PEC nº 511/2006, ao encaminhar a
votação de destaque feito por sua bancada, o deputado Paulo Bornhausen, atual líder da
bancada do DEM, desabafou: ―Temos um número de Deputados menor do que pressupõe a
sociedade com relação às maiorias. A Oposição que está aqui hoje não é a que foi eleita
pelo voto popular; ela era muito maior do que a que está aqui hoje. Porque houve uma
migração de Parlamentares que foram eleitos por partidos de oposição‖ (cf. a seção PEC nº
511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da República do Capítulo 3).
Mas isso não é tudo. O governo tem influenciado até mesmo a escolha e a
manutenção dos líderes das bancadas dos partidos que lhe dão sustentação naquela Casa.
Isso ficou bastante evidente nas entrevistas. De acordo com o deputado Miro Teixeira, do
PDT, ―as escolhas de lideranças passaram a ser mais... quando o partido está no governo,
passaram a ser mais por essa afetividade do candidato com o governo. Quando o partido
está na oposição, aí a discussão é outra‖. Segundo o assessor do PR, essa ―afetividade‖ do
líder com o governo, a que se referiu o deputado Miro Teixeira, é medida por sua
habilidade em obter a liberação de verba: ―A liberação das emendas, que são um ponto
principal, que é o combustível pra alimentar a satisfação dos deputados (...) Tanto que um
dos principais trabalhos que é feito dentro da Liderança é isso, é o acompanhamento
269
semanal pra ver ‗Tá liberando? Não tá? Tá empenhando? Não tá?‘‖. Por exemplo,
consoante o assessor do partido, o deputado Fernando Gabeira, líder natural do PV, não
tem comandado a bancada daquele partido na Câmara devido a suas ―posições claramente
antagônicas ao governo Lula em diversas áreas‖ (cf. Capítulo 2).
O poder que o governo exerce sobre as estruturas da Câmara dos Deputados,
notadamente sobre as bancadas e as lideranças partidárias, inclusive de oposição, restou
patenteado na análise comparada dos processos do PL nº 1210/2007, da reforma política, e
da PEC nº 511/2006, das medidas provisórias. Constatou-se ali que as bancadas partidárias,
independentemente de seu posicionamento no espectro ideológico clássico ou em relação
ao governo, comportaram-se internamente de modo mais coeso e mais articulado entre si
no processo da PEC nº 511/2006 do que no do PL nº 1210/2007, porque no primeiro
processo legislativo, em que se pretendia pôr algum limite no poder do presidente da
República de controlar a pauta das Casas do Congresso Nacional e, portanto, havia claro
interesse do governo em jogo, este interveio vigorosamente. Nas bancadas governistas,
essa intervenção se deu basicamente por meio das estruturas de liderança; nas bancadas de
oposição, sobretudo na do DEM, diretamente, cooptando deputados personalistas,
dependentes do governo, notadamente do Nordeste (cf. Capítulo 3). A intervenção do
governo no processo da PEC nº 511/2006 foi tão avassaladora que, como se viu, o
deputado Duarte Nogueira a isso se referiu como que ―um trator atropelando a minoria‖
(cf. a seção PEC nº 511/2006 – Limitação dos poderes legislativo do presidente da
República do Capítulo 3).
Este trabalho, contudo, não se propôs a explicar/compreender somente a influência,
sobre o comportamento da atual legislatura, do sistema eleitoral-partidário, notadamente o
proporcionalismo de lista aberta, combinado com o sistema presidencialista de governo,
em inter-relação com o poder de agenda do presidente da República, combinado com a
centralização das atividades da Câmara nas mãos dos líderes partidários. Pretendeu
explicar/compreender, igualmente, as ações dos deputados tendentes a reproduzir ou
transformar esse estado de coisas. Aliás, foi sobretudo por meio da
explicação/compreensão destas últimas ações que se buscou explicar/compreender a
influência, sobre o comportamento parlamentar, da combinação sistema
270
político/concentração de poderes legislativos notadamente nas mãos do presidente da
República.
Como se observou, o PL nº 1210/2007 representou a mais importante tentativa de
alteração das regras políticas nesta legislatura. As lideranças das bancadas do PCdoB, do
PT, do PPS, do PSOL, do PMDB, do PSDB e do DEM no começo se posicionaram a favor
da reforma política proposta. O PCdoB, o PT e o PSDB inclusive fecharam questão neste
sentido. Já as lideranças das bancadas do PDT, do PSB, do PV, do PP, do PR, do PSC e do
PTB desde o início eram contrárias. No caso específico do PDT, restou claro que havia
uma diferença de posição entre a direção nacional do partido e sua bancada na Câmara,
inclusive seu então líder, deputado Miro Teixeira. De acordo com o assessor do PDT, a
direção nacional do partido era favorável aos principais itens da reforma política (cf. a
seção PL nº 1210/2007 – Reforma política do Capítulo 3). Na contramão, o próprio
deputado Miro Teixeira declarou ter disputado a liderança da bancada do PDT em 2007
com o objetivo de obstruir a reforma: ―Eu disputei a liderança esse ano para trabalhar
contra isso que se denominou de reforma política e não é nenhuma reforma política‖ (cf.
Capítulo 2).
Com o início da discussão no Plenário, influenciado pelo grupo paulista o PSDB
mudou de posição. O partido chegou até mesmo a outra vez fechar questão, daquela feita
contra a reforma proposta. As lideranças tucanas se convenceram que as regras políticas
vigentes de algum modo seriam mais favoráveis à formação de uma base de apoio à
candidatura de José Serra a presidente da República. Alguns deputados do PSDB de outras
regiões do país, entretanto, mantiveram-se favoráveis à reforma. Ao mesmo tempo, as
lideranças do PP, do PR e do PTB, com a conivência da liderança do PMDB,
crescentemente tensionada pelo grupo do Rio de Janeiro, comandado pelo deputado
Eduardo Cunha, contrárias à reforma pressionavam o governo. Conforme relatou o
deputado Ronaldo Caiado, do DEM, esses líderes partidários, em reunião com presidente
da Câmara, ameaçaram deixar a base governista ou votar a favor das CPIs se o governo
viesse a apoiar a reforma política proposta por meio do PL nº 1210/2007, fato igualmente
testemunhado pelo deputado Raul Henry, do PMDB (cf. a seção Análise comparada do
Capítulo 3). Com a mudança de posição do PSDB e com a crescente pressão do PP, do PR,
271
do PTB e do grupo do Rio, os líderes do PSB e do PMDB ao final liberaram as bancadas.
Resultado: a lista fechada foi rejeitada e com ela foi virtualmente arquivada a reforma.
Eis aí a expressão máxima da influência do sistema político sobre o comportamento
parlamentar: partidos fracos, com pouca capilaridade social, identidade ideológico-
programática e coesão, constituídos de políticos individualistas, particularistas, apartidários
e governistas, bem adaptados, portanto, às regras políticas vigentes, não querem e
dificilmente poderiam mudá-las.
Já no caso da PEC nº 511/2006, a principal tentativa desta legislatura de pôr algum
limite ao poder legiferante do presidente da República e assim equilibrar as relações entre
o Legislativo e o Executivo, ficou evidente que o governo é a principal força mobilizadora
das estruturas da Câmara dos Deputados. Diferentemente do processo do PL nº 1210/2007,
em que o governo não interferiu ao menos abertamente, no processo de apreciação da PEC
nº 511/2006, desde o começo da discussão no Plenário as bancadas partidárias se
comportaram internamente de maneira mais coesa e mais articulada entre si: posicionaram-
se, de um lado, as bancadas governistas, em geral mais congruentemente a favor do
substitutivo da Comissão Especial, da lavra do deputado Leonardo Picciani, do grupo do
Rio, que ampliava o controle do presidente da República sobre a pauta das Casas do
Congresso Nacional, e contra os destaques das bancadas de oposição, que pretendiam
podar-lhe os excessos, e, de outro lado, as bancadas de oposição, menos consistentemente
contra os excessos do substitutivo. Irritado com a falha de seus líderes na Câmara,
inclusive o então presidente Arlindo Chinaglia, em haver pautado uma matéria que era do
interesse da oposição, o governo não mediu esforços para rapidamente fazer aprovar um
texto que lhe favorecesse.
Assim, em que pese à fraqueza dos partidos e das lideranças partidárias,
indubitavelmente a ingovernabilidade não figura entre os efeitos do sistema político
adotado no Brasil. Resta saber, entretanto, se o preço pago – a excessiva concentração de
poderes legislativos nas mãos do presidente da República e o consequente aviltamento do
Congresso Nacional – é compatível com a democracia.
272
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