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Resumo: Este trabalho consiste num esforço em fazer dialogar discussões que tradicionalmente compõem o campoda Cibercultura, especialmente o da “vida social no ciberespaço”, com a proposta de releitura mais recente da Actor-Network-Theory (ANT) especialmente rediscutida por Bruno Latour em seu Reassembling the Social: anintroduction to Actor-Network-Theory, ao resgatar os clássicos trabalhos de Gabriel Tarde. Trata-se, neste caso, deum ensaio teórico, de inspiração etnográfica, cuja pretensão não ultrapassa a mera especulação analítica em torno deuma questão central: quem, ou o que podem ser considerados atores, ou sujeitos dotados de agência no ciberespaço.Enfim, no intuito, ainda que modesto de um início de investigação, é que me proponho neste trabalho trazer umareflexão sobre o estatuto de humanos e não-humanos ciberespaço, que rompam com fronteiras entre sujeitos eobjetos, ao sugerir, de maneira mais ampla, que no ciberespaço as associações entre estes humanos e estastecnologias podem se tratar de associações entre sujeitos.

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    ENTRE SUJEITOSO Ciberespao e a ANT 1

    Jean Segata

    Doutorando em Antropologia SocialUniversidade Federal de Santa Catarina

    GrupCiber PPGAS/[email protected]

    Resumo: ste trabal!o consiste num es"or#o em "a$er dialogar discuss%es &ue tradicionalmente comp%em o campoda Cibercultura' especialmente o da (vida social no ciberespa#o)' com a proposta de releitura mais recente da Actor*

    +et,or-*!eor 0A+ especialmente rediscutida por 2runo 3atour em seu Reassembling the Social: anintroduction to Actor-Network-Theory' ao resgatar os cl4ssicos trabal!os de Gabriel arde. rata*se' neste caso' deum ensaio te5rico' de inspira#6o etnogr4"ica' cuja pretens6o n6o ultrapassa a mera especula#6o anal7tica em torno deuma &uest6o central8 &uem' ou o &ue podem ser considerados atores' ou sujeitos dotados de ag9ncia no ciberespa#o.n"im' no intuito' ainda &ue modesto de um in7cio de investiga#6o' : &ue me propon!o neste trabal!o tra$er umare"le;6o sobre o estatuto de !umanos e n6o*!umanos ciberespa#o' &ue rompam com "ronteiras entre sujeitos eobjetos' ao sugerir' de maneira mais ampla' &ue no ciberespa#o as associa#%es entre estes !umanos e estastecnologias podem se tratar de associa#%es entre sujeitos.

    Palavras-Chave8 Ciberespa#o< Cibercultura< Sujeitos< Ag9ncia +6o*=umana< Simetria.

    IntroduoA Cibercultura e a Antropologia

    alve$ possa soar como nostalgia' ou a"orismo o "ato de eu ter escol!ido entre muitoscamin!os poss7veis' invocar para in7cio desta re"le;6o' a "igura emblem4tica da&uele &ue emgrande medida abriu espa#o em muitas disciplinas para a consolidad#6o disso &ue c!amamosmuito diversamente de estudos em cibercultura8 Pierre 3:v. De antem6o' justi"ico &ue essamin!a op#6o n6o reside necessariamente no "ato de ele ter sido um dos precursores dessesestudos' mas pelo "ato de encontrar em pelo menos dois de seus importantes trabal!os' o solote5rico sobre o &ual grande da produ#6o acad9mico*cient7"ica em cibercultura' com todos os seusrompimentos e rupturas' gan!ou corpo ao longo dos >ltimos anos. m especial' re"iro*me aotratamento &ue este autor d4 ? id:ia geral de ciberespa#o e de &uem s6o a&ueles &ue nele' ou por

    ele se associam8 os !umanos. primeiro trabal!o do &ual eu gostaria de "a$er re"er9ncia : o seu (Cibercultura)' emespecial' sobre a maneira otimista pela &ual logo na introdu#6o ele nos convida a pensar acibercultura' atrav:s do recon!ecimento de dois importantes "atos8 &ue o crescimento dociberespa#o seria resultado de um certo movimento internacional de (jovens 4vidos para

    1uero agradecer as trocas' di4logos e sugest%es "eitas por meus colegas de GrupCiber no PPGAS/UFSC' a este e atantos outros de meus trabal!os' &ue s5 "i$eram enri&uecer min!as re"le;%es. m especial' &uero agradecer ao Pro".Dr. !eop!ilos Bi"iotis' coordenador do GrupCiber e orientador de min!as pes&uisas' sem o &ual muito pouco do"a#o em Antropologia e em Cibercultura seria poss7vel. Certamente' devo a ele os meus acertos.

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    e;periementar' coletivamente' "ormas de comunica#6o di"erentes da&uelas &ue as m7diascl4ssicas nos prop%em)' da mesma "orma &ue (estamos vivendo a abertura de um novo espa#o decomunica#6o) do &ual caberia (apenas a n5s e;plorar as potencialidades mais positivas desteespa#o nos planos econmico' pol7tico' cultural e !umano) 03E' HHIa' p. 11. J4 o segundo

    trabal!o sobre o &ual &uero "a$er re"er9ncia : um pouco anterior' intitulado (Kntelig9nciaColetiva)' onde 3:v 0HHIb caracteri$a o ciberespa#o como um espa#o antropol5gico' pr5priopara coletivos !umanos. +este caso' (os seres !umanos n6o !abitam apenas no espa#o "7sico ougeom:trico' vivem tamb:m' e simultaneamente' em espa#os a"etivos' est:ticos' sociais'!ist5ricos)< assim esses (espa#os antropol5gicos estendem*se ao conjunto da !umanidade)03E' HHIb' p. 1L*1M e por conseguinte a !umanidade se limita ?s e;tens%es dessesespa#os.

    +6o cabe certamente nos objetivos &ue me propon!o neste trabal!o' nem nos limitesda re"le;6o a&ui proposta' avaliar a produ#6o em "iloso"ia' sociologia' artes' antropologia e em

    maior n>mero em comunica#6o' no Nmbito disso &ue temos c!amado desde ent6o de cibercultura.Cabe antes' uma pe&uena caracteri$a#6o de como n5s' na antropologia e em especial noGrupCiber 0Grupo de Pes&uisas em Ciberantropologia do PPGAS/UFSC nos posicionamos emrela#6o a estas sugest%es gerais de 3:v 0HHIa< HHIb' para em seguida sim problemati$ar essesolo "undamental da cibercultura' inclusive as pr5prias produ#%es antropol5gicas neste campo.

    De maneira geral' em nossos trabal!os no GrupCiber' iniciados !4 pouco mais deuma d:cada' concensualmente levantamos a bandeira de &ue o ciberespa#o &ue estava sendotratado em nossos trabal!os' di"erentemente da maneira como aparece na sugest6o de 3:v0HHIa trata*se de um espao sociale n6o t6o apenas um novo espao de comunicao. Ksso' :claro' n6o signi"ica negar o e;tremo gan!o em termos comunicacionais do ciberespa#o'

    tampouco signi"ica negar &ue a comunica#6o seja tamb:m um elemento "undamental disso &ueem antropologia tratamos por rela#%es sociais' ou intera#6o. Com e"eito' signi"ica' antes de tudo'n6o redu$ir espa#os ? simples meios' tampouco redu$ir a comunica#6o ? necess4ria e;ist9nciadesses meios. Oais "ortemente' investir em estudos no ciberespa#o' compreendido como espa#ode rela#6o social' implica para n5s n6o partir de uma di"eren#a essencial entre comunica#6o eintera#6o e para mais al:m' implica tamb:m em n6o distinguir essencialmente espa#os on-linedeespa#os o!!-line' como &ue dotados de &ualidades valorativas em termos de rela#%es socias.

    6o logo' uma ve$ &ue nos situamos nestes estudos como preocupados com asintera#%es nesses espa#os' n6o nos coube tamb:m dar algum privil:gio em termos anal7ticos aosdiversos r5tulos atribu7dos ?s constitui#%es de grupos no ciberespa#o 0Bi"iotis' HH< HHInico' meio de pes&uisa) 0G3DOA+' HHL' p. 1LM. +este caso' o cerneda &uest6o reside sob uma certa disposi#6o para viver uma e;peri9ncia pessoal com determinadogrupo' com intuitos de trans"ormar essa e;peri9ncia em tema de pes&uisa &ue toma as "ormas deum te;to etnogr4"ico. m suma' nossa caracter7stica "undamental seria (o estudo das e;peri9ncias!umanas a partir de uma e;peri9ncia pessoal) 0id.' nesse caso em particular' no ciberespa#o.

    Contudo' nosso maior desa"io nesses estudos em cibercultura' n6o "oi e;tamente nosposicionarmos de maneira diversa a grande das demais disciplinas nesse campo' "oi' antes detudo' convencer a pr5pria antropologia da possibilidade de "a$er etnogra"ias no ciberespa#o. Kstopor&ue' da conviv9ncia por longo tempo' da observa#6o participante e de todas as demais

    caracter7sticas presentes na vel!a "5rmula da etnogra"ia' tem*se neste campo' em grande parte'um sens7vel di"erencial8 n6o se tratam apenas de rela#%es "ace a "ace' antes sim e em grandemedida' tratam*se de alguma "orma' de rela#%es mediadas por computador e acima de tudorela#%es em espa#os on-line. Desse di"erencial resultava a resist9ncia da antropologia em termosde con"iabilidade dos dados etnogr4"icos' uma ve$ &ue supostamente se perderiam de vista certosmodos de intera#6o n6o redut7veis ?&uelas intera#%es no ciberespa#o 0em termos de limita#6ogestual' entona#6o de vo$' entre outras' se comparados com espa#os o!!-line. m resumo' dein7cio' o tom da cr7tica reca7a em grande medida sobre um suposto papel do pes&uisador &ue seempen!a em encontrar no pes&uisado alguma l5gica &ue "oge ao pr5prio con!ecimento deste'sendo essa con"iabilidade na obten#6o dos dados uma das medidas privilegiadas para a e"ic4cia

    do nosso trabal!o. Por:m' este di"erenciador nos "e$ problemati$ar' ao contr4rio talve$ do &ue seesperasse' as pr5prias etnogra"ias "ace a "ace' de modo a &uestionar o (&u6o con"i4vel) s6o estesencontros etnogr4"icos e ainda mais "ortemente' nos levou a &uestionar se o &ue est4 em jogo naantropologia seria' de "ato' alguma ra$oabilidade de verdade' ainda mais' pensada em termos deser poss7vel ent6o de ser acessada nossujeitos' apenas em (encontros presenciais).

    Como segundo desa"io' colocado a n5s internamente' residia em responder ?s cr7ticasem rela#6o ao estatuto do pes&uisador nesse campo. Dito de lugares comuns' uma ve$ &ueaparentemente no ciberespa#o (todo mundo pode ser o &ue &uiser)' como se posicionar comopes&uisador entre os pes&uisados' de modo a ser recon!ecido como algu:m &ue est4 ali comintuitos de ("a$er algum tipo de ci9ncia)R De modo amplo' nossa resposta a esta pergunta*cr7tica'"i$emos evocando um debate &ue muito contemporaneamente na antropologia j4 est4amplamente consolidado8 do vel!o lugar de autoridade e de empoderamento do pes&uisador'tanto em campo' &uanto na sua produ#6o antropol5gica' !oje se tem como certo de &ue estar emcampo de maneira ra$oavelmente sim:trica (aos nossos nativos)' parece*nos muito maisdesej4vel do &ue um problema propriamente dito 0Cli""ord' 1I< 1L< 3atour' HHT. Para serum pouco provocativo' do (agora somos todos nativos) sugerido por Cli""ord Geert$ 0HH'nossos trabal!os camin!am mais para o (agora somos todos antrop5logos)' sugerido por Boagner 011. Dessa "orma' como muito bem resume Bi"iotis 0HHa' : neste sentido &ue at:

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    ent6o a nossa op#6o pela etnogra"ia nestes estudos em ciberespa#o' ou em cibercultura' reside nasempre busca por tentar revelar e e;plorar os limites entre investigador e investigado' emdiscursos sobre' e sobretudo' com os sujeitos pes&uisados' incorporando em nossos relatosetnogr4"icos as nossas observa#%es de campo e as (perturba#%es) produ$idas por n5s em nossas

    (intera#%es com os sujeitos da pes&uisa e a&uelas produ$idas na subjetividade do pr5prioVpes&uisadorW) 0BKFKKS' HHa' p. H' numa comple;a trama' onde ambos' como muito bemresume agner 011 se inventam.

    Contudo' min!a re"le;6o a&ui' mesmo &ue ainda em termos meramenteespeculativos' &uer ir para al:m dessa caracteri$a#6o de nossos trabal!os no GrupCiber e dascontinuidades e rupturas deste em rela#6o aos demais trabal!os neste campo. Ao partir dore"erencial te5rico daActor-Network-Theory' meu objetivo : problemati$ar n6o apenas o soloonde repousa os estudos em cibercultura' mas de maneira mais ampla' problemati$ar o solo em&ue a pr5pria antropologia se assenta' &uando proclamamos &ue o &ue nos interessa no

    ciberespa#o' ou nos estudos em cibercultura' s6o as rela"es sociais. De in7cio' come#o por&uestionar o &ue de"ine' ou o &ue comp%e esse social' para em seguida &uestionar se' ? maneira&ue proclama 3:v 0HHIb' os espa#os antropol5gicos estendem*se apenas ao conjunto da!umanidade.

    A ANT e a Antroolog!a

    +este camin!o' em lin!as gerais' a Actor-Network-Theory 0A+ : um es"or#o emtorno da sistemati$a#6o de princ7pios e regras metodol5gicas subjacentes a "ormas de tratamento

    da realidade &ue ao inv:s de e;plicar' ou interpretar o mundo a partir das grandes divis%esrecentemente contestadas 0nature$a*cultura' indiv7duo*sociedade' sujeito*objeto' prop%e*sedescrev9*lo de modo a levar em considera#6o a sua !ibridi$a#6o' partindo de um princ7pio desimetria generali$ado' onde n6o !averia di"eren#a essencial entre verdade e erro' vencedores evencidos' "atos e "eitos 0Freire' HHL< 3atour' HHH< HHT< HHM. Por alto' tudo : intera#6o8nature$a' ci9ncia' tecnologia' sociedade' pol7tica' economia' &ue antes tomados como umaesp:cie de entidades com ontologias bastante contorn4veis e auto*e;plicativas passam ent6o a servistos como coletivos !7bridos compostos por atores &ue nunca est6o essencialmente de"inidos ouest4veis e &ue se &ue se associam e se tradu$em "ormando redes &ue descentram ag9ncias'

    pure$as e universalidades.Para tanto' a A+ precisa' de modo amplo' ser considerada em dois aspectos8 o seuvalor metodol5gico e o seu valor te5rico. m primeiro lugar' tratar a A+ como teoria' tem setornado um descon"orto' inclusive para o pr5prio 3atour 01M' uma ve$ &ue pode implicar em&uatro problemas &ue precisam ser bem trabal!ados' tais como a palavra teoria' o ator' a rede e o!7"en &ue liga o ator ? rede.

    cuidado em rela#6o ? palavra teoriase "a$ necess4rio pelo "ato dela sugerir umconjunto de elementos &ue em geral lan#am de antem6o princ7pios de an4lise Q o &ue "a$ eleger o

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    vencedor e o vencido' antes do "im da lin!a< isso vem de encontro ? proposta metodol5gica dessamesma A+' cujo "oco central est4 em rastrear as constru#%es e a "abrica#6o de "atos e "eitos nointerior das teorias. J4 o atorn6o pode ser con"undido com o sentido tradicional de (ator social)'uma ve$ &ue (para 3atour ator : tudo &ue age' dei;a tra#o' produ$ e"eito no mundo' podendo se

    re"erir a pessoas' institui#%es' coisas' animais' objetos' m4&uinas) 0Freire' HHL8 TT. Da7 de serainda comum nos trabal!os de 2runo 3atour a utili$a#6o do termo actante 0no sentidosemi5tico' ou seja' da&uilo' ou da&uele &ue tem ag9ncia' ou &ue produ$ e"eitos. A reden6o podeser (colada) ? id:ia de rede' como na cl4ssica de"ini#6o cibern:tica< a id:ia de rede na cibern:ticacl4ssica se re"ere a&uilo &ue transporta in"orma#%es por longas distNncias' mantendo*a intacta'pura' ou sem &uais&uer de"orma#%es 0Freire' HHL. +o caso da rede para a A+' o &ue est4 emjogo : e;atamente o oposto8 s6o os "lu;os' as multiplicidades de cone;%es em uma rede &ue n6opode ser de"inida por super"7cies' tampouco por seus limites e;ternos. Dessa "orma' o "oco est4nos agenciamentos internos' nas alian#as entre elementos !eterog9neos 0!umanos e n6o*

    !umanos. u seja' mesmo a rede tamb:m sendo um ator' uma ve$ &ue ela produ$ e"eitos' elan6o : para a A+ uma entidade "i;a' logo' n6o : o objeto de an#lise< a an4lise recai nacapacidade &ue essas redes t9m em rede"inir' ou trans"ormar os seus componentes 0internos ee;ternos8 de modo resumido' interessam os e"eitos das redes e as suas capacidades detrans"orma#6o e cone;6o. Por "im' !4 &ue ser cauteloso em rela#6o ao !7"en &ue liga o ator ?rede' uma ve$ &ue este tem como intuito tra#ar a cone;6o entre o micro e o macro Q o ator e arede' compreendidos como duas "aces do mesmo "enmeno. +este caso' o par ator*rede n6o podeser con"undido como o par indiv7duo*sociedade 0Freire' HHL' separado pelo !7"en.

    n"im' neste sentido : &ue se deve pontuar a A+ muito mais como um es"or#ometodol5gico' do &ue como uma teoria constitu7da. +este caso' em termos de es"or#o

    metodol5gico' o trabal!o pes&uisador na A+ consiste em rastrear e descre$er sem e%plicarotrabal!o de "abrica#6o de "atos' de sujeitos e de objetos &ue se "a$ em rede' atrav:s deassocia#%es entre !umanos e n6o*!umanos 0Freire' HHL. A rede n6o pode ser redu$ida a umator' tampouco a uma rede Q s6o sempre associa#%es' entre associa#%es. Da mesma "orma' essasassocia#%es n6o podem ser tomadas como v7nculos previs7veis' &ue conectam elementosclaramente de"inidos' sejam eles sociais' ou naturais 0ali4s' n6o !4' sob esta perspectivaelementos puramente sociais' ou naturais' &ue podem a &ual&uer momento rede"inir suasidentidades e suas rela#%es' de modo a rede"inir as pr5prias associa#%es.

    odas essas discuss%es em torno da A+ passam tomar corpo a partir de meados dad:cada de 1MH' &uando David 2loor desenvolve um programa de investiga#%es sociais0Programa Forte cujo objetivo central residia em analisar o &ue "a$ certos grupos de cientistasem di"erentes :pocas selecionar certos aspectos da realidade como objeto de estudo. +a ocasi6o'isso tornou poss7vel considerar o trabal!o desses cientistas' ou mesmo a ci9ncia' em algoconstru7do sob certos aspectos internos da pr5pria comunidade cient7"ica' como igualmente'certos aspectos sociais e !ist5ricos 0Freire' HHL' ou seja' tornou poss7vel tratar a ci9ncia comouma constru#6o' ou inven#6o social 0Stengers' HH. Para tanto' David 2loor sugere para talempreito' o &ue ele c!amava deprincipio program#tico da simetria' &ue consistia basicamenteem recon!ecer (&ue os mesmos tipos de causas devem e;plicar tanto as cren#as valori$adas

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    como verdade &uanto as cren#as rec!a#adas' uma ve$ &ue n6o !4 di"eren#a essencial entreverdade e erro) 0FBKB' HHL' p. X. Sob essa inspira#6o' 3atour e Callon estendem esseprinc7pio de 2loor ?s controv:rsias entre nature$a e sociedade' &ue como a verdade e o erro'tamb:m deveriam ser tratadas sob um mesmo plano' sob umprinc&pio de simetria generali'ada'

    uma ve$ &ue para eles'

    n6o !4 de antem6o o mundo das coisas em si de um lado e o mundo dos !omens entre side outro' pois nature$a e sociedade s6o ambas e"eitos de redes !eterog9neas. Ksso n6o&uer di$er &ue suas redes sejam compostas pelos mesmos elementos' mas &ue podem serdescritas da mesma maneira' tratadas sob os mesmos termos. Dito de outro modo' o

    princ7pio de simetria generali$ada signi"ica partir da necess4ria e;plica#6o simultNnea danature$a e da sociedade' ao contr4rio do !4bito de se "a$er recair e;clusivamente sobre asociedade todo o peso da e;plica#6o' o &ue resulta na perman9ncia de um es&uemaassim:trico 0Kbid' p. X.

    Com e"eito' asimetria generali'adade 3atour e Callon' ampli"icava o potencial doprinc&pio program#tico de simetria' uma ve$ &ue esta >ltima' ainda tomava (o social) como umlugar privilegiado para se discutir as ci9ncias e a nature$a. ste : o camin!ado tra#ado para aconstitui#6o de um modo de se pensar em uma antropologia sim(trica &ue reivindica umasimetria total entre !umanos e n6o*!umanos' ultrapassando as grandes divis%es entre nature$a ecultura' entre sujeito e objeto' como projetados na modernidade' uma ve$ &ue ambos' comotamb:m a ci9ncia' n6o se constituem em id:ias' mas em pr4ticas.

    Partindo da discuss6o entre =obbes 0o cientista pol7tico e 2ole 0o cientista natural'3atour 0HHT procura mostrar &ue para os modernos a nature$a 0os objetos' ou as coisas em sin6o : constru#6o nossa e neste caso ela nos ultrapassaria por ser transcendente a n5s' en&uanto

    &ue a sociedade 0os sujeitos e as leis' tomada ent6o pelos modernos como constru#6o nossa seriaimanente ? nossa a#6o' logo lugar dos sujeitos. ntretanto' se n5s constru7mos a nature$a emlaborat5rio 0a bomba &ue reprodu$ o v4cuo' criada por 2ole' como constru#6o nossa' essanature$a seria imanente ? nossa a#6o e se n6o constru7mos a sociedade' ela : transcendente e nosultrapassa. Acima de n5s' ou al:m de n5s 0ou' para ser mais justo com 3atour YHHTZ' dosmodernos' estaria em um terceiro p5lo &ue a modernidade se encarregou de dei;ar entrepar9ntesis a "igura de Deus' cuja poder poderia amea#ar esses trabal!os de puri"ica#6o dos p5los'uma ve$ &ue a "or#a criadora dos objetos est4 nele e' ao mesmo tempo' : dele o poder do 3eviat6'&ue o representa no stado e : soberano dos sujeitos. +o entanto' !averia por outro lado umprocesso de traduo&ue permite &ue se d9 outro tratamento a este parado;o dos modernos. sta

    tradu#6o' somente : poss7vel por meio das redes' pois s6o elas &ue cru$am estes supostos p5los eos "a$ ligar' bem como ligar !umanos e n6o*!umanos dentro deles em um coletivo !7brido.

    +essa proclama#6o de &ue jamais !omos modernos abre*se esse (camin!o do meio)'&ue dilui as "ronteiras entre os p5los da nature$a e da sociedade' entre os vencedores e vencidos'

    2+este sentido : interessante a discuss6o proposta por 3atour 0HH entre!atoe!etiche. A &uest6o central do te;toest4 em como "alar simetricamente (de n5s e dos outros)' sem acreditar nem na ra$6o' nem na cren#a. A cren#a'neste trabal!o' : tratada como a&uilo &ue separa constru#6o e realidade' da7 de se propor a no#6o de !eitiche' &ue "a$ascender a dimens6o da pr4tica.

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    ou entre a verdade e erro8 !averiam apenas os !7bridos' &ue n6o estariam bem assentados nem nop5lo da nature$a' tampouco no da sociedade' nem no p5lo dos sujeitos' tampouco no dos objetos.

    De "ato' as pr4ticas de puri"ica#6o' &ue se buscava na modernidade a "im de se obtermeios pelos &uais os coletivos Q separadamente !umanos e n6o*!umanos Q pudessem se ampliar

    e progredir s5 "oi mesmo poss7vel pelo seu contr4rio8 a mistura deles' pelas pr4ticas de tradu#6o.Assim' o esse termo traduo' central nos trabal!os de 2runo 3atour' deve ser lido como oprocesso de trans"orma#6o &ue determinado "ato' "eito' ou ator vai so"rendo ao passar de m6o emm6o na rede Q e lembremos &ue as redes n6o s6o um meio para transportar algo de maneiraintacta' elas s6o trans"ormadas e trans"ormam o &ue por elas passa' j4 &ue o &ue passa' tamb:massocia e gera e"eito. radu#6o ent6o (signi"ica deslocar objetivos' interesses' dispositivos' seres!umanos. Kmplica desvio de rota' inven#6o de um elo &ue antes n6o e;istia e &ue de algumamaneira modi"ica os elementos imbricados. As cadeias de tradu#6o re"erem*se ao trabal!o pelo&ual os atores modi"icam' deslocam e transladam os seus v4rios e contradit5rios interesses)

    0Freire' HHL' p. T1. Acentue*se a&ui o potencial de a#6o presente nas redes' onde !umanos en6o*!umanos estariam agindo' trans"ormando' tradu$indo*se mutuamente.n"im' sob este prisma' as nature$as s6o t6o naturais &uanto sociais' en&uanto &ue as

    sociedades s6o t6o sociais &uanto naturais' uma ve$ &ue se medeiam' &ue promovem essescoletivos de !umanos e n6o*!umanos. Somos tentados a compreender &ue apenas um dos p5lospode se associar8 !umanos com !umanos' da mesma "orma &ue objetos' com objetos. uandoarriscamos uma associa#6o de p5los' tendemos a redu$ir um em outro. desa"io : pensarantropologicamente em coletivos de !umanos e n6o*!umanos de maneira sim:trica' semsubmiss6o' sem redu#6o e especialmente sem evocar ess9ncias. +o entanto' e em especial para aantropologia' mais do &ue considerar &ue n6o !averia separa#6o entre o p5lo da nature$a de um

    lado e a&uele das sociedades de outro' e preciso mesmo rede"inir o &ue seria uma sociedade e at:mesmo' de modo mais amplo' o social. : neste sentido &ue se tem "eito oportuno nos >ltimosanos o resgate dos trabal!os de Gabriel arde.

    "o So#!al $s Asso#!a%es

    A id:ia de sociedade' ou de maneira mais ampla' a id:ia de social' est4 presente nasCi9ncias Sociais desde o seu surgimento' at: mesmo como condi#6o para o seu surgimento. Oas

    o &ue : o social' pergunta*se 2runo 3atour 0HHMR is uma simples pergunta' cuja sombrapercorre boa parte dos trabal!os deste autor' especialmente os mais recentes. De "ato' n6o : umapergunta de resposta "4cil' pois : justamente a resposta "4cil' a&uela &ue damos prontamente' : aresposta &ue 3atour 0HHM &uer contrapor' em "avor de uma rede"ini#6o do &ue s6o la#os sociais'em especial' a partir da releitura dos trabal!os de Gabriel arde' no Nmbito mais geral da Actor-Network-Theory.

    A saber' Gabriel arde : tido como um dos mais not4veis soci5logos da Fran#a dos"ins do s:culo [K[. Sua participa#6o na constitui#6o e na emerg9ncia da sociologia nesse pa7s :

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    in&uestion4vel' tendo*se o seu ostracismo na !ist5ria do pensamento sociol5gico sidodiametralmente associado ? centralidade &ue a sociologia durkheiminiana "oi gan!ando nestepa7s na :poca 0Eargas' 1T< HHH. Com os recentes debates na antropologia' &ue t9m posto ?prova a validade anal7tica dos grandes e polivalentes conceitos &ue edi"icaram a disciplina desde

    o s:culo [EKKK' tais &uais sociedade' indiv7duo' nature$a' cultura' "undados em parte sobre osprinc7pios durkheiminianos da unidade e combinados como pares opositores' com a ascens6o doestruturalismo' na metade do s:culo [[' o resgate da obra de Gabriel arde "a$*se oportuna' umave$ &ue' entre outras coisas' na sociologia da di"eren#a desse autor' (o &ue conta n6o s6o osindiv7duos' mas as rela#%es in"initesimais de repeti#6o' oposi#6o e adapta#6o &ue se desenvolvementre ou nos indiv7duos' ou mel!or' num plano onde n6o se "a$ sentido algum distinguir o sociale o individual) 0EABGAS' HHM' p. 1H. Sua ruptura com a sociologia de Dur-!eim tra#a umadire#6o contr4ria nas Ci9ncias Sociais8 ao inv:s de se preocupar com as unidades &ue comp%eminstNncias ontol5gicas auto*perpetu4veis' arde' inspirado na monadologia de 3eibni$' se

    preocupa com a di"eren#a e com a in"initesimal possibilidade de variabilidade dos sujeitos'propondo substituir (o grande pelo pe&ueno' as totalidades e as unidades pelas multid%es) 0ibid'p. 1T.

    Para tanto' a atitude radical de inspira#6o tardeanasugere &ue se admita &ue (!4in"initamente mais agentes no mundo do &ue correntemente imaginam nossas ci9ncias !umanas)0ibid' p. 1I. m parte' para conte;tuali$ar essa discuss6o' : esta a sugest6o "undadora deetnogra"ias contemporNneas' especialmente a&uelas sobre os povos das erras Altas e 2ai;as doAma$onas' da Oelan:sia' ou do C7rculo Polar \rtico' ao demarcarem a centralidade &ue aag9ncia de outras entidades' tais os animais' os "enmenos da nature$a' ou os esp7ritos t9m nacomposi#6o das rela#%es sociais desses povos. +este caso' : preciso estar atento para o

    signi"icado peculiar &ue a palavra social tem para arde' (posto &ue n6o de"ine um dom7nioespec7"ico da realidade ou uma $ona ontol5gica particular reservada aos !umanos' mas designatoda e &ual&uer modalidade de associa#6o< de "orma &ue' em ve$ de substNncia' o social : semprerela#6o' logo' di"eren#a) 0EABGAS' HHM' p. 1.

    A de"esa de 3atour 0HHM a essa perspectiva tardeanano tratamento do social' parteda sugest6o de &ue o adjetivo (social) do (cientista social)' ou de (ci9ncia social)' n6o seriaproblem4tico se pensado nos termos originais de des7gnio de estabelecimento de a"etos' ouconjunto de la#os' ou associa#%es< o problema' segundo o autor' : &uando esse social : invocadocomo algo tang7vel e objetivo. +esse caso' seu empreito est4 em mostrar como (o social) n6o :uma entidade' ou uma constru#6o material de algum dom7nio' mas sim um estado de a"etos' umcoletivo de associa#%es' ou "lu;os. +o entanto' a primeira solu#6o &ue comumente se d4 ?&uest6o do &ue : social remete pensar em uma esp:cie de conte;to Q (conte;to social)' ou(dimens6o social)' ou (ordem social)' ou (pr4tica social)' ou (estrutura social) Q onde dom7niosda realidade' como a economia' a biologia' a geogra"ia' o direito' a psicologia' ou a comunica#6o'para citar alguns' est6o em parte situados. +este caso' o social aparece de maneira negativa'como a&uela instNncia &ue "a$ perder a pure$a de algum desses dom7nios' cuja totalidade deveprever a&uelas nuvens dos (aspectos sociais)' ou dos ("atores sociais)' &ue geralmente s6otomados como o "ator de desordem Q a&uilo &ue n6o se pode ter o controle do rigor cient7"ico'

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    justamente por n6o se saber ao certo as conse&]9ncias da&uelas dimens%es (obscuras emutantes).

    Da mesma "orma' &uando tratamos especi"icamente dos sujeitos !umanos' tomamoso cuidado de n6o es&uecer as in"lu9ncias sociais &ue estes podem receber' como nos comuns

    ditos8 (in"luenciado por determinado conte;to social o sujeito "e$...)' de maneira &ue !4aparentemente um tom de distNncia' de deslocamento da&uilo &ue : social. Somos algo' ouconjuramos um dom7nio do saber &uese relaciona com o social' de maneira a parecer &ue este :uma instNncia deslocada' e;terna e acima de tudo' auto*e;plicativa. Por outro lado' &uandoassumimos o social como algo interno' ou inerente' atribu7mos a ele um tom de tumor' como umaesp:cie de res7duo dentro de n5s' ou dentro de um dom7nio do saber. =4' assim' uma esp:cie debanali$a#6o da&uilo &ue se compreende por social. &ue comumente aparece nos discursosdesde os jornais' ?s revistas' dos discursos pol7ticos' aos discursos (cient7"icos)' nas !ist5rias deamor' na moda' ou no senso comum.

    Por outro lado' esse es"or#o mais contemporNneo em recuperar a id:ia de social'como associa#6o tem negado a e;ist9ncia de (conte;tos sociais)' ou (dimens%es sociais) comoalgo adicionado a outros campos' "eito res7duos de especialidade de soci5logos' ou antrop5logos.6o logo' en&uanto &ue muitos cientistas tendem a c!amar o (social) como uma coisa!omog9nea' em especial da ordem dos !umanos' 3atour 0HHM' sugere &ue se pense emassocia#%es entre elementos !eterog9neos. m outras palavras' a palavra (social) n6o devedesignar coisas em si' ou por si s5 (sociais)' mas deve ser pensada como o tipo de cone;6o entreelementos &ue n6o s6o sociais por si mesmos Q tanto !umanos' como n6o*!umanos'simetricamente. Ksso ajuda a compreender por&ue o (social)' ou (sociedade) para 3atour 0HHM'n6o s6o dom7nios' mas sim movimentos e conse&]entemente a sociologia' ou a antropologia

    devem ser compreendidas como a&uelas disciplinas cujos dom7nios de con!ecimento' n6o s6o umdom7nio' mas movimentos de cone;%es entre elementos' !umanos e n6o*!umanos' em intera#6oe simetricamente dotados de ag9ncia Q neste caso' n6o mais entre sujeitos e objetos' mas entresujeitos.

    Cons!dera%es &!na!sA ANT noCiberespao

    desa"io em se considerar mesmo &ue minimamente estas provoca#%es &ue a A+tem tra$ido para a antropologia no debate contemporNneo' n6o se restringem a um ou outrocampo em espec7"ico' mas e;ige descentrar o solo "irme sobre o &ual a grande maioria de nossostrabal!os tem sido !istoricamente assentada ao ponto de se sugerir uma (antropologia p5s*social). +o caso mais espec7"ico dos trabal!os em antropologia do ciberespa#o' dos &uaistamb:m "a#o parte e &ue se re"erem a um campo de estudos mais amplo' &ue denominamos a&uina AbCiber por Cibercultura' esse descentramento implica em rever a id:ia de se preocupar com(a vida social das pessoas no ciberespa#o)' uma ve$ &ue essa vida social n6o se resumiria ? vida

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    de pessoas' mas de associa#%es entre elementos !umanos e n6o*!umanos. Ainda em particularpara a comunica#6o' &ue em alguma medida tem tratado o ciberespa#o como meio e o meio' demaneira geral' n6o*!umano' como a pr5pria condi#6o para &ue !aja comunica#6o' seria precisorepensar suas pr5prias bases' uma ve$ &ue seria preciso' no m7nimo' considerar seus meios n6o

    mais como meios' mas como agentes' j4 &ue tudo : intera#6o.Desse modo' nas diversas disciplinas &ue se preocupam com o ciberespa#o' tal

    sugest6o parece romper radicalmente com as discuss%es anal7ticas &ue a partir de ent6o podemser acusadas de se tratarem de vias de m6o >nica' j4 &ue os sujeitos dessas rela#%es' dotados deag9ncia' em geral s6o apenas os !umanos' &ue acima de tudo' em grande parte de nossosdiscursos s6o a&ueles &ue t9m a possibilidade de se apropriar das tecnologias' &ue seriam' por5bvio' apenas objetos da a#6o !umana. Por alto' isso e;ige &ue mais amplamente nos&uestionemos )uem' ou o )ue' tamb:m s6o sujeitos nessas rela#%es.

    agora sim' para ser nost4lgico' ou a"orista' ao multiplicarmos ent6o estes agentes no

    mundo e em especial para n5s a&ui' no ciberespa#o' eu sugeriria &ue algo desta ordem j4 poderiaser encontrado' ainda &ue de maneira t7mida e con"usa 0ali4s' mais con"usa do &ue t7mida' emuma outra e talve$ j4 es&uecida de"ini#6o de ciberespa#o "eita por 3:v 0HHIa' salvo' : claro'todas as precau#%es a serem tomadas nesta a"irma#6o e uma certa do$e de radicalidade a ser nelainvestida. Segundo ele'

    o ciberespa#o n6o compreende apenas materiais' in"orma#%es e seres !umanos' :tamb:m constitu7do e povoado por seres estran!os' meio te;tos' meio m4&uinas' meioatores' meio cen4rios8 os programas. Um programa' ou so"t,are' : uma lista bastanteorgani$ada de instru#%es codi"icadas' destinadas a "a$er com &ue um ou mais

    processadores e;ecutem a tare"a. Atra$(s dos circuitos )ue comandam' os programas

    interpretam dados' agem sobre in"orma#%es' trans!ormam outros programas' !a'em!uncionarcomputadores e redes' acionamm4&uinas "7sicas' $iajam' reprodu'em-se' etc.03E' HHIa' p. X1 Qgri!os meus.

    A radicalidade' de modo geral' estaria em n6o atribuir ag9ncia apenas aos !umanos.=umanos e n6o*!umanos "ormam coletivos assim coletivos' onde ambos s6o simetricamentedotados de ag9ncia. Ksso implica' por alto' em se abrir para pensar &ue o pr5prio computador' atela' as teclas' ossites' osso!twares' os hardwares e tudo a&uilo &ue n6o : !umano s6o antes detudo agentes nessas associa#%es e n6o apenas cen4rios' ou meios para rela#%es entre sujeitos!umanos. m outras palavras' o social' a sociedade' o ciberespa#o' as redes e mais amplamente a

    Cibercultura' n6o podem ser tomados como entidades recipientes e auto*e;plicativas de certosmovimentos contemporNneos' tampouco' continuar demarcando "ronteiras entre espa#os on-lineeo!!-line' como uma esp:cie de pr4ticas contemporNneas de puri"ica#6o. preciso problemati$ar&ue rela#%es e movimentos s6o esses e &uem s6o os seus agentes.

    Certamente' parecer4 di"7cil se pensar em sujeitos &uando ao se ol!ar para a inter"acede um computador e observar uma s:rie de c5digos' caracteres' bits e cores. Oais ainda' &uandose abrir um computador e se pr em "rente a um amontoado de placas' "ios' transmissores eoutros tantos pe&uenos mecanismos das mais diversas ordens. Oas certamente se pode gan!ar

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    muito mais em termos anal7ticos se se admitir de"initivamente &ue (!4 sujeitos por toda a parte)0EABGAS' HHM' p. I abdicando*se de tratar &ue o &ue comp%e a (vida social) sejamelementos mais ou menos !omog9neos Q a di$er' grosso modo' sujeitos !umanos. Ksso consisteem sugerir &ue n6o !4 como continuar pensando nas coisas em si mesmas' como meros objetos'

    ou &ue elas e;istem em si mesmas e &ue as con!ecemos por &ue estamos distantes delas' no p5lodos sujeitos. Se podemos con!ec9*las e di$er algo sobre elas' : por&ue estamos mais pr5;imosdelas do &ue imaginamos' nos trans"ormando' trans"ormando elas. A"inal' estamos todosassociados' entre sujeitos*

    Re'er(n#!as )!*l!ogr+'!#as

    C3KFFBD' James. (n t!nograp!ic Aut!orit). Kn8 ^^^^^^. Reresentat!ons. Cali"ornia8

    Universit o" Cali"ornia Press' 1I' pp. 11*1XL.

    ^^^^^^. (n t!nograp!ic Allegor). Kn8 C3KFFD' J.< OABCUS' G. 0ed.. ,r!t!ng Culture8t!e poetics and politics o" et!nograp!. Cali"ornia8 Universit o" Cali"ornia Press' 1L' pp. *11.

    FBKB' 3et7cia. Segu!ndo )runo atour8 notas para uma antropologia sim:trica. +omum' v.11' n. L' HHL' pp. XL*LT.

    GB_' Cli""ord. O*ras e .!das8 o antrop5logo como autor. Bio de Janeiro8 ditora UFBJ'

    HH.

    G3DOA+' Oarcio. Alter!dade e E/er!(n#!a8 antropologia e teoria etnogr4"ica.,tnogr#!ica'Eol. [ 01' HHL' pp. 1L1*1MI.

    GUKOAB`S' JB. O4rio J. 3. .!vendo no Pala#e8 etnogra"ia de um ambiente de sociabilidadeno ciberespa#o. Disserta#6o de Oestrado Y+6o PublicadaZ. Florian5polis8 PPGAS/UFSC' HHH.

    3AUB' 2runo. 0e1note See#h8 on recalling A+. (Kntroduction an Actor*+et,or- and

    A"ter) or-s!op. eele Universit. Dispon7vel em8 !ttp8//,,,.comp.lancs.ac.u-/sociolog/stslatour1.!tml' 1M.

    ^^^^^^. C!(n#!a em Ao8 como seguir cientistas e engen!eiros mundo a"ora. S6o Paulo8 Unesp'HHH.

    ^^^^^^. Re'le/o So*re o Culto 2oderno dos "euses &e3!4t!#hes. 2auru8 dusc' HH.

    http://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/%20stslatour1.htmlhttp://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/%20stslatour1.htmlhttp://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/%20stslatour1.htmlhttp://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/%20stslatour1.htmlhttp://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/%20stslatour1.html
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    ^^^^^^. Jama!s &omos 2odernos8 ensaio de antropologia sim:trica. S6o Paulo8 ditora IX'HHT.

    ^^^^^^^. Reassem*l!ng the So#!al8 an introduction to Actor*+et,or-*!eor. ;"ord8 ;"ord

    Universit Press' HHM.

    3E' Pierre. C!*er#ultura. S6o Paulo8 ditora IX' HHIa.

    ^^^^^^. A Intel!g(n#!a Colet!va8 por uma antropologia do ciberespa#o. S6o Paulo8 3oola'HHIb.

    O\[KO' Oaria lisa. Comart!lhando Regras de &ala8 intera#6o e sociabilidade na listaeletrnica de discuss6o Cibercultura. Disserta#6o de Oestrado Y+6o PublicadaZ. Florian5polis'

    PPGAS/UFSC' HH.

    ^^^^^^. )logs: o Eu En#ena5 o Eu em Rede. Cotidiano' per"ormance e reciprocidade nas redess5cio*t:cnicas. ese de Doutorado Y+6o PublicadaZ. Florian5polis8 PPGAS/UFSC' HHL.

    BKFKKS' !eop!ilos. Antroolog!a do C!*eresao8 &uest%es te5rico metodol5gicas sobre apes&uisa de campo e modelos de sociabilidade. Antropologia em rimeira .o' n. T1.Florian5polis8 PPGAS/UFSC' HH.

    ^^^^^^. "uas ou Tr(s Co!sas So*re Elas5 as Comun!dades .!rtua!s. [[EKK ncontro Anual

    da Anpocs. Ca;ambu' YKmpressoZ' HHI.

    ^^^^^^. (Apresenta#6o). Kn8 SGAA' Jean. ontras e a Construo de aos no Or6ut 8 umaantropologia no ciberespa#o. Bio do Sul8 +ova ra' HHa' pp. 1*X.

    BKFKKS' .< 3ACBDA' J.< O\[KO' O.< SGAA' J. 0orgs.. Por uma Antroolog!a noC!*eresao8 &uest%es te5rico*metodol5gicas. Florian5polis8 dUFSC' Y+o PreloZ' HHb.

    SGAA' Jean. ontras e a Construo de aos no Or6ut8 uma antropologia no ciberespa#o.Bio do Sul8 +ova ra' HH.

    S+GBS' Ksabelle. A Inveno das C!(n#!as 2odernas. S6o Paulo8 ditora IX' HH.

    EABGAS' duardo Eiana. A 2!#rosso#!olog!a de 7a*r!el Tarde. R/+S n. M' ano 1H' 1T'pp. I*1H.

    ^^^^^^.Antes Tarde do 8ue Nun#a8 Gabriel arde e a emerg9ncia das ci9ncias sociais. Bio deJaneiro8 Contracapa' HHH.

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    ^^^^^^^. (Gabriel arde e a Di"eren#a Kn"initesimal). Kn8 ABD' Gabriel. 2onadolog!a eSo#!olog!ae outros ensaios. S6o Paulo8 Cosac +ai"' HHM' pp. M*X.

    AG+B' Bo.The Invent!on o' Culture9 C!icago8 !e Universit o" C!icago Press' 11.