Entre a pedra_e_a_mulher
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ENTRE A PEDRA E A MULHER!
Puseram a mulher no meio e eles em volta,pedras, na mão,pedras no olhare o coração de pedra...
Ela, encolhida, morta de vergonha,antecipa tremendo a primeira pedrada,pensando se será na testa ou se no rosto...no rosto de que sempre ela cuidoucom tanta vaidade e com tanto esmeropara ofertar aos beijos do pecado...
Ah, que adiantam agora e de que servempétalas de flor do prazer proibido
que se vão transformar, brevemente, em pedradas?
Mas por que não começam logo a cena hedionda
em que adúlteros ferem uma adúlteraem nome da pureza, em nome de Moisés
e até em nome de Deus?...
É que foram buscar Jesus para assistircomo se faz justiça a uma pecadora.
O mestre chega e, então,um astuto judeu de longas barbas,
olhar parado e penetrante de serpente,com perfídias na voz, pergunta
sorrateiro:
"Que dizes, Mestre? Esta mulher foi presa,
ainda há pouco, em flagrante adultério!
Moisés, o nosso pai,ordenou que essa laia fosse
apedrejada".Brilha um sorriso mau em todos os
semblantes...
está pronta a armadilha:
Se ele recomendar perdão para a infeliz,agirá contra a lei das escrituras,
contra a lei de Moisés;se Ele mandar, porém, que a lei se cumpra,
as pedras voarão sobre a mulhere Ele vai fracassar diante do povo,vai perder sua fama de bondade,
tornando-se o advogado das pedradaso mesmo que se diz Paladino do amor!
E agora "Seu Jesus"?... Sai dessa se puder!
Puseram-te a perder entre a pedra e a mulher!
Jesus não se perturba. Inclina-se até o chão
e começa a escrever com o dedo sobre a areia...
Quem sabe o que escreveu?... Talvez revelações
dos pecados de todos os presentes:
talvez deixasse em letras, sobre a areia,
a maldade interior dos que ali desejavam
lavar, com mão impura, uma impureza alheia!
O certo é que ao lerem as palavrasriscadas sobre o solo,
das mãos as pedras vão caindo inofensivas,
pingando reticências de vergonhano incômodo silêncio que se fez...
E, de cabeça, a partir dos mais velhos,vão todos se afastando do locale só fica Jesus diante da mulher,
e só fica a inocência em face da impurezae só fica o pecado em face do perdão.
Cristo não faz "sermão", não diz: "Olha em que deu a falta de vergonha!
Afinal que lucraste no teu breve pecado? O prazer dura pouco,
mas é longo o remorso! Então, valeu a pena?"
Não diz isso porque seria uma pedradae não tem pedra alguma o coração de
Deus!
Ele olhou a mulher com bondade e lhe disse:
"Mulher, pobre mulher,onde é que estão agora os que te
ameaçavam?Ninguém te condenou?"
"Ninguém, Senhor", diz ela,arrancando uma voz quase inaudível
do fundo da vergonha e do arrependimento...
"Pois nem eu te condeno! Agora vai em paz.
Volta ao teu lar, mas nunca, nunca peques mais!"
Assim se desmontou uma armadilhae ficou, para sempre, comprovado
que o coração de Deus é feito de ternurae o coração humano é, às vezes, pedra
dura!
Apresentação e arranjos:Maria Salete Elizio de Carvalho
Cacoal/ROTexto: pe. Heber Salvador de
Lima