Entendendo o Resseguro

23
Entendendo o resseguro: Como os resseguradores criam valor e administram riscos

Transcript of Entendendo o Resseguro

Page 1: Entendendo o Resseguro

Entendendo o resseguro:Como os resseguradores criam valor e administram riscos

Page 2: Entendendo o Resseguro

Índice

Sumário executivo 3

Fundamentos do resseguro 4 O que é resseguro?Quem oferece resseguro?Quem faz resseguro?Benefícios do resseguroO resseguro torna o seguro mais estável e mais atraente

Como os resseguradores administram riscos 9Conceito de gestão de riscoSubscrição – análise, alocação de capacidade e fixação de preçosGestão de ativosGestão de capitalDiversificação e gestão de riscos

Condições necessárias para que o resseguro cumpra o seu papel 15

Apêndice 1 16Como os seguradores transferem riscos aos resseguradores

Apêndice 2 18 Dados estatísticos de resseguradoras

Apêndice 3 20Referências bibliográficas

Page 3: Entendendo o Resseguro
Page 4: Entendendo o Resseguro

O resseguro é uma das principais ferramentas de gestão de risco e capital à disposiçãodas companhias de seguro. Entretanto, fora do mercado segurador, ele é pouco conheci-do. Esta publicação tem a finalidade de contribuir com os esforços do setor em explicaros aspectos básicos do resseguro a um público bem mais amplo. Ela descreve, portanto,os fundamentos do resseguro de vida e não-vida; porque os seguradores se beneficiamao adquirir coberturas de resseguro e como os resseguradores lidam com os riscos.Finalmente, fornece uma visão geral das condições necessárias para que o ressegurocumpra eficientemente a sua função.

O resseguro é o seguro das seguradoras, para cobrir riscos que elas mesmas não podemou não desejam garantir sozinhas. Os resseguradores ajudam as seguradoras a darproteção a um grande espectro de riscos, incluindo os maiores e mais complexos riscoscobertos pelo mercado segurador. As seguradoras também se beneficiam do auxílio de capital, do desenvolvimento de novos produtos e do conhecimento sobre riscos, proporcionados pelos resseguradores. Desse modo, o resseguro constitui uma parteindispensável da atividade seguradora, tornando-a mais segura e menos onerosa, bene-ficiando também os segurados, que recebem maior proteção a um custo menor.

Da mesma forma como ocorre no seguro, o resseguro é basicamente o compromisso de pagar no futuro um possível sinistro, contra o pagamento antecipado de um prêmio.Os resseguradores adotam sofisticados processos de gestão de riscos, para assegurarque esse compromisso seja cumprido. Tais processos - incluindo monitoramento emodelagem de riscos – garantem que a base de capital e os riscos assumidos sejamcompatíveis. Geralmente, os resseguradores possuem uma base de capital com excelen-te grau de classificação de risco: a maioria dos resseguradores possui uma classificaçãode, pelo menos, um “A”, conferido pela Standard & Poor’s. Foram poucos os casos deinsolvência de resseguradores no passado.

Pela sua natureza, o resseguro é uma operação comercial global, que aloca capital emdiferentes áreas geográficas e em diversos ramos de negócio. Para que funcione eficien-temente, necessita de um sistema jurídico que proporcione segurança e que assegure a liberdade contratual. Além disso, o resseguro precisa de um ambiente regulatório quepossibilite aos resseguradores acesso ao mercado, para que possam prestar seusserviços com livre fluxo de recursos e redução das exigências de capital, reconhecendo-se a ampla diversificação do resseguro em termos de ramos de negócio e áreasgeográficas, e sua maior capacidade de administrar riscos.

Sumário executivo

3Entendendo o resseguro

Page 5: Entendendo o Resseguro

Fundamentos do resseguro

4 Entendendo o resseguro

Em 2003, os prêmios de resseguro somaram USD 176 bilhões

Dos dez maiores resseguradores, a maior parte deles possui um bom rating de solidez financeira

O modelo comercial da seguradora determina a sua necessidade por resseguro

O que é resseguro?O resseguro é o seguro das seguradoras. É um contrato entre uma seguradora (cedente)e um ressegurador, o qual concorda em indenizar a cedente relativamente a uma parteou a todo o dano que ela tenha de cobrir em decorrência de suas apólices de seguro. Emcontrapartida, a cedente paga uma remuneração, tipicamente um prêmio de resseguro,e fornece informações necessárias para a análise, fixação do preço e gestão dos riscoscobertos pelo contrato de resseguro.

Quem oferece resseguro? Na edição de 2004 da Global Reinsurance Highlights, a Standard & Poor’s arrola aproxi-madamente 250 entidades resseguradoras de 50 países. Além dessas, há um grandenúmero de pequenas empresas e também de seguradoras oferecendo resseguro. Em2003, os prêmios (cessões) somaram USD 176 bilhões. Os prêmios do resseguro não-vida atingiram USD 146 bilhões, equivalentes a 13,7% de todo o prêmio subscrito pelomercado segurador não-vida global (para mais informações, ver Figura 1 e Apêndice 2).No resseguro de vida, a cifra de prêmio correspondente é de aproximadamente USD 30bilhões ou 1,9% do total dos prêmios do seguro de vida. O volume de negócios de vidacedidos aos resseguradores é menor, pois normalmente apenas os riscos de mortalidadee invalidez são ressegurados, ao passo que a grande proporção da parcela de poupançados negócios é retida pelas próprias seguradoras. Em termos de volume de prêmios, a participação de mercado das dez maiores resseguradoras atinge cerca de 54%.

O patrimônio líquido dos 40 maiores grupos resseguradores internacionais somou cercade USD 249 bilhões, em 2003, segundo a Standard & Poor’s. A solidez de capital dosresseguradores encontra-se geralmente acima do grau de risco de investimento. Confor-me a avaliação da Standard & Poor’s, dos dez maiores grupos resseguradores, seis delespossuem uma classificação de solidez financeira de pelo menos “AA”. Isto é, “segurançafinanceira muito grande” para honrar todos os termos de suas apólices e contratos. A estabilidade e solidez da base de capital da atividade resseguradora encontra-setambém refletida no pequeno número de insolvências do setor: entre 1980 e junho de2003, somente 24 resseguradoras quebraram. Nenhuma delas possuía porte significa-tivo: o volume de prêmios envolvido corresponde a apenas a 0,24% do total de cessõesefetuadas naquele período.

Quem faz resseguro?Os resseguradores negociam com empresas profissionais, tais como seguradoras, corre-toras, seguradoras cativas de corporações multinacionais e bancos. A maioria dos clientesdas resseguradoras são as seguradoras, que operam nos mais variados ramos de seguro.

O modelo comercial da seguradora, sua solidez de capital e seu apetite por riscos sãocritérios que, dependendo das condições de mercado, irão determinar em que medidaos seus negócios deverão ser ressegurados. Especialmente:■ Seguradoras cujas carteiras de apólices estejam muito expostas a catástrofes naturais

necessitam muito mais de cobertura de resseguro.■ Pequenas seguradoras locais precisam de mais cobertura de resseguro do que os

grandes grupos seguradores internacionais, que podem diversificar seus riscos deseguro através de uma base de clientes mais ampla.

■ Os seguradores que operam em diversos ramos de seguro normalmente contam comuma carteira de negócios mais balanceada do que aqueles seguradores especializa-dos, que se concentram em poucos ramos ou em apenas um determinado grupo desegurados. As seguradoras multi-ramos necessitam, portanto, de uma cobertura deresseguro relativamente menor.

■ Carteiras de ramos com um pequeno número de riscos de grande exposição (comoaeronáuticos ou industriais) precisam de mais resseguro do que as carteiras com umgrande número de riscos pequenos e homogêneos (tais como o seguro de automóveis).

Page 6: Entendendo o Resseguro

■ Seguradoras de vida com uma maior proporção de contratos contendo riscos demortalidade ou de invalidez tendem a ceder mais ao resseguro do que aquelas segu-radoras com um alto nível de prêmios de poupança.

■ Os seguradores que expandem seus produtos ou que entram em novas regiõescomumente utilizam o resseguro para aproveitar a experiência e capacidade finan-ceira do ressegurador. Isto é particularmente importante no resseguro vida.

■ Os seguradores que estão saindo de um mercado ou de algum ramo de seguro freqüen-temente usam o resseguro de run-off para transferir ao ressegurador certos negócioscuja responsabilidade permanece ainda existente conforme os respectivos contratos.

■ As considerações e exigências das autoridades e das agências de classificação de riscotambém influem significativamente na demanda individual por cobertura de resseguro,que constitui um meio de proporcionar auxílio de capital e reforço do balanço patrimonial.

Origem geográfica das cessõesO resseguro não-vida é predominante, compreendendo mais de 80% de todas ascessões (ver Figura 1). Os números do resseguro de vida são proporcionalmentemenores, pois consistem principalmente em produtos de poupança, com um pequenocomponente de risco atuarial. Por conseguinte, normalmente não são ressegurados. A distribuição geográfica do resseguro não-vida mostra que cerca da metade de todasas cessões provém da América do Norte. A participação da Europa Ocidental nascessões de 2003 foi de 34%. Os restantes 17% provieram em sua maior parte daÁsia. No mercado de resseguro de vida, a proporção quase não se altera, entretanto aliderança da América do Norte é ainda mais pronunciada: dois terços de todos os prê-mios cedidos foram subscritos nesse continente. Já a Europa Ocidental somou 25%, e o restante ficou por conta dos demais continentes.

A América do Norte domina o resseguro não-vida, devido à sua alta exposição acatástrofes naturais e ao peso do resseguro das coberturas de responsabilidade civilcontra terceiros nos EUA. Nos mercados de resseguro de vida dos EUA e do ReinoUnido, uma grande parcela dos negócios de mortalidade provém de seguradoras quepreferem se concentrar em produtos de investimento.

Fonte: Swiss Re Economic Research & Consulting

5Entendendo o resseguro

A América do Norte domina o mercado de cessões

Figura 1Em 2003, a maior parte das cessões originou-se na América do Norte

Fundamentos do resseguro

Restante 4%Ásia 3%Europa Ocidental 25%América Latina 1%América do Norte 67%

Cessões não-vida: USD 146 bilhões Cessões vida: USD 30 bilhões

Restante 5%Ásia 9%Europa Ocidental 34%América Latina 3%América do Norte 49%

Page 7: Entendendo o Resseguro

6 Entendendo o resseguro

A estabilização dos resultados de subscrição, a flexibilidade financeira e a transferência de conhecimentos são os principais benefíciosdo resseguro

Estabilização dos resultados de subscrição é um fator determinante para seguradoras não-vida fazerem resseguro

Figura 2O efeito de estabilização do resseguro sobreos resultados de subscrição dos seguradoresnão-vida franceses

Fundamentos do resseguro

Mercado não-vida total em EUR bilhões

Tempestade Lothar

–9

–8

–7

–6

–5

–4

–3

–2

–1

0

1

Resultado de subscrição com resseguroResultado de subscrição sem resseguro

20

03

*

20

02

20

01

20

00

199

9

199

8

1997

199

6

199

5

199

4

199

3

199

2

1991

199

0

Benefícios do resseguroO resseguro proporciona importantes benefícios para as seguradoras:■ Menor volatilidade dos resultados de subscrição.■ Auxílio de capital e financiamento flexível.■ Acesso à experiência e aos serviços do ressegurador, especialmente no

desenvolvimento de produtos, na taxação, subscrição e gestão de sinistros.

Estes benefícios abrangem tanto o seguro de vida quanto o não-vida. Entretanto, devido aofoco diferenciado, a importância dos muitos benefícios varia conforme o respectivo setor.

Seguro não-vida: resultados de subscrição menos voláteis e maior capacidadeUma das principais razões para seguradores fazerem resseguro é proteger seu capital degrandes variações causadas por sinistros previsíveis. Isto é ainda mais importante no casode grandes catástrofes. Por exemplo, foi somente em virtude do resseguro que a atividadeseguradora não vivenciou um sério infortúnio e uma possível onda de insolvências, quandoas tempestades Lothar e Martin golpearam a Europa Ocidental, em dezembro de 1999,ou quando enchentes devastaram o centro e o leste da Europa, em agosto de 2002.

A Figura 2 ilustra como o resseguro estabilizou os resultados de subscrição líquidos, istoé, resultados realizados de operações de seguro após o resseguro, de seguradoras deproperty e casualty francesas, durante a última década. O efeito benéfico do ressegurofoi especialmente verificado no ano das tempestades de inverno (1999). Para uma únicaseguradora, esse efeito suavizador pode facilmente significar um valor equivalente a50% ou mais de todos os seus prêmios.

* Os dados de 2003 são ainda provisórios.

Fontes: Autoridades de Supervisão, Swiss Re Economic Research & Consulting

Page 8: Entendendo o Resseguro

7Entendendo o resseguro

O resseguro permite que as seguradoras aproveitem economias de escala

Os conhecimentos dos resseguradoresauxiliam as seguradoras a administrar seus riscos

O resseguro proporciona segurança de longoprazo em benefício das seguradoras de vida

O principal motivo para fazer resseguro de vida é beneficiar-se dos conhecimentosespecializados do ressegurador

Um outro benefício do resseguro é permitir que seguradoras não-vida aceitem maisriscos com o mesmo montante de capital. Ao adquirirem cobertura de resseguro, asseguradoras transferem riscos ao resseguro e, por conseguinte, não necessitam alocarcapital para os mesmos. A capacidade de assumir mais riscos, com um mesmo nível decapitalização, possibilita às seguradoras distribuírem suas despesas – custos de redesde distribuição, administrativos, de regulação de sinistros – através de um amplo lequede negócios, beneficiando-se assim de economias de escala.

Os resseguradores desempenham um importante papel na avaliação e subscrição de riscos e no desenvolvimento de cláusulas contratuais. No passado, os resseguradorescriaram um instrumental que assegurou uma disponibilidade contínua de capacidade de seguro em épocas difíceis para o mercado. Um bom exemplo foi o crescimento e aevolução do mercado de resseguro em Bermudas, como resposta à crise do mercadoamericano de responsabilidade civil, nos anos 80, durante a qual os prêmios do segurodireto aumentaram 300% e as coberturas eram cada vez mais difíceis de serem obtidas.

Em virtude de sua longa experiência internacional, os resseguradores auxiliam tambémos seguradores em seus esforços de regular sinistros de modo eficiente. A participaçãodos resseguradores em regulações de sinistros pode contribuir substancialmente paradiminuir e limitar eficientemente as perdas, em benefício das seguradoras e dos própriossegurados.

Benefícios para as seguradoras de vida: controles de acúmulos, conhecimentosespecializados e financiamentosAs seguradoras de vida fazem resseguro para minimizar o impacto potencialmente nega-tivo de grandes riscos. Por exemplo, as seguradoras de vida desejam freqüentemente limi-tar a sua exposição a altos valores segurados em riscos individuais ou evitar o acúmulo deriscos de mortalidade, particularmente no caso de planos de seguro em grupo, que pro-porcionam proteção como parte do pacote de benefícios de empregados espalhadospor todo o mundo. Tais contratos de proteção são especialmente comuns na Europa e noJapão, auxiliando as seguradoras a estabilizarem seus resultados. Além disso, contratosde resseguro de longo prazo protegem os seguradores contra variações na sinistralidade,por exemplo, alterações nas taxas de mortalidade durante um determinado lapso detempo.

Planos de resseguro de vida são firmados freqüentemente para permitir o acesso aosconhecimentos especializados do ressegurador quanto à subscrição e gestão desinistros, assim como em matéria de taxação e desenvolvimento de produtos. Normal-mente, os resseguradores operam globalmente e, por isso, possuem um amplo e profun-do conhecimento dos mercados e seus produtos, assim como possuem dados de umgrande número de populações seguradas. Isto lhes permite auxiliar as seguradoras atra-vés de excelentes ferramentas de subscrição, treinamento de subscritores das segurado-ras e em outras necessidades. O mesmo se aplica à gestão de sinistros: diretrizes sobreavaliação de sinistros e os treinamentos são benefícios importantes para os seguradorese, por conseguinte, para os próprios segurados. Os profundos conhecimentos técnicosdo ressegurador podem auxiliar também as seguradoras a desenvolverem e taxaremadequadamente os novos produtos. Por exemplo, desenhando produtos com classes derisco melhor definidas. A diferenciação entre indivíduos fumantes e não fumantes consti-tui um bom exemplo disso. Dessa forma, surgem inovações e, ao mesmo tempo, asseguradoras recebem apoio para minimizar possíveis riscos decorrentes dos novos pro-dutos. Em mercados que se concentram principalmente em operações de investimentoe poupança, como no Reino Unido e nos EUA, o resseguro de vida permite que osseguradores transfiram uma proporção, algumas vezes significativa, dos componentesdos riscos de mortalidade e de invalidez das apólices, possibilitando que as empresas seconcentrem em seus produtos de investimento.

Fundamentos do resseguro

Page 9: Entendendo o Resseguro

Como em operações não-vida, a transferência de riscos e a possibilidade de se bene-ficiar dos conhecimentos especializados do ressegurador permite aos seguradores devida reduzir as suas exigências de capital, liberando recursos para cumprir suas metas,por exemplo, para expandir as operações em novas linhas de negócios ou áreas geo-gráficas. As coberturas de vida geram uma considerável demanda por capital. As reser-vas iniciais exigidas pela lei, o capital de solvência e as comissões podem equivaler avárias vezes o prêmio do primeiro ano, particularmente no caso de operações deproteção. O resseguro pode auxiliar a superar essa dificuldade de capital.

O resseguro torna o seguro mais estável e mais atraente

Por fim, o resseguro permite que as seguradoras administrem os seus riscos e o seucapital da maneira mais eficiente, tornando a atividade seguradora mais segura e menoscara (ver Figura 3). Ao mesmo tempo, ele amplia a oferta de produtos e de coberturasdas seguradoras. O resseguro melhora a estabilidade da atividade seguradora, permitin-do que as empresas protejam os seus balanços patrimoniais contra prejuízos inesperados,ao compreenderem melhor os negócios assumidos mediante uma correta avaliação etaxação dos riscos. Em conseqüência, os resultados dos seguradores tornam-se menosvoláteis, reduzindo significativamente a probabilidade de que um único evento possadestruir o capital de uma seguradora. As entidades de supervisão e de classificação derisco reconhecem o efeito de estabilização proporcionado pelo resseguro, ao concede-rem às seguradoras crédito por resseguro, quando calculam as exigências de capital dasmesmas.

Por possibilitar aos seguradores aproveitar economias de escala, o resseguro permiteque os seguradores utilizem eficientemente o seu capital, oferecendo assim aos segura-dos um mesmo nível de segurança por um preço mais acessível. Além disso, sem oresseguro, muitos riscos grandes e complexos não seriam seguráveis. O benefício finaldo resseguro não está restrito às seguradoras e aos seus segurados. Possibilitando ino-vações e assegurando que os riscos estejam distribuídos do modo mais eficiente possí-vel entre os diversos segmentos da economia, o resseguro constitui uma importanteparcela da contribuição da atividade seguradora para o crescimento econômico e obem-estar social.

8 Entendendo o resseguro

O resseguro auxilia os seguradores em suasdificuldades de capital

Figura 3Micro e macro dimensões do resseguro

O resseguro permite uma eficiente gestão de risco e capital

O resseguro proporciona crescimento da economia e bem-estar social

Fundamentos do resseguro

Indústria segura

Resseguro

Segura-bilidade

aumentada

Produtos de seguro mais acessíveis

Crescimento mais sólido

Companhia de seguro

Maior rentabilidade

Menor custo de capital

Economia em geral

Page 10: Entendendo o Resseguro

9Entendendo o resseguro

Como os resseguradores administram riscos

A gestão de riscos é a principal atribuição de qualquer ressegurador

Figura 4Gestão de riscos é uma atividade interativa

Figura 5Quais riscos afetam um ressegurador?

Exposição a riscos não modelados

Subscrição

Gestão de risco

Gestão de recursosGestão de capital

Risco do seguro

Risco de crédito

Risco de mercado

Risco operacional Epidemiade gripeInflação

Taxas de juros

Mercado de ações Taxas de câmbio Ciclones tropicais

Terremotos

TerrorismoRisco de crédito

Conceito de gestão de riscoQuando os seguradores cedem uma parte de seus negócios aos resseguradores estãoreduzindo o seu risco de subscrição. Por outro lado, assumem o risco de crédito da outra parte contratante, isto é, o risco de que o ressegurador não possa honrar os seuscompromissos financeiros. Por conseguinte, é crucial para os seguradores que os seusresseguradores sejam financeiramente seguros.

Os resseguradores desenvolveram sofisticados processos de gestão de risco, paraassegurar que possam honrar as suas obrigações financeiras. A meta final da gestão deriscos é garantir em longo prazo a sobrevivência da companhia de resseguros. O papelda gestão de riscos é identificar, controlar e modelar os riscos e suas interdependências,garantindo que os mesmos possam ser cobertos pela companhia. Para cumprir essatarefa, é fundamental uma estreita cooperação entre as unidades de subscrição, degestão de recursos e de capital.

Modelagem de riscos: a base da gestão de riscosNa modelagem de riscos são empregadas diferentes formas de análises quantitativase qualitativas. A Figura 5 mostra uma série de riscos que afetam os resseguradores.Com base na análise desses riscos, é escolhida uma subsérie suficientemente repre-sentativa, projetada através de processos estocásticos, que levam em conta possíveisinterdependências entre as várias fontes de risco. Finalmente, esses modelos são utili-zados para quantificar o impacto de diversos fatores de risco no balanço patrimonialdo ressegurador.

A modelagem quantitativa deverá ser complementada por outras análises de risco,que são menos apropriadas à modelagem formal. Elas incluem riscos sócio-políticos,riscos regulatórios e, principalmente, riscos operacionais. O risco operacional é oeventual prejuízo decorrente de processos internos, pessoas e sistemas inadequadosou deficientes, ou ainda de eventos externos como incêndios ou interrupções nofornecimento de energia. Para minimizar tais riscos são utilizadas diretrizes internas e processos gerenciais apropriados.

Page 11: Entendendo o Resseguro

Subscrição – análise, alocação de capacidade e fixação de preçosSubscrição1 é o processo de examinar, classificar e taxar riscos, por exemplo, umacarteira de seguros de automóveis, ou um risco individual proposto por uma seguradorapara resseguro, assim como a conclusão de um contrato aceitando cobrir tais riscos. (Notexto a seguir o termo ”risco” é empregado para descrever uma carteira de riscos ou umrisco individual). As principais atribuições do processo de subscrição são assegurar que: ■ os riscos sejam bem analisados e que os termos e condições sejam apropriados;■ sejam respeitados os limites de capacidade estabelecidos para os riscos;■ existam controles de acúmulos e de limite máximo;■ a taxação e as cláusulas contratuais sejam adequadas.

Análise de risco, termos e condiçõesA análise de risco inicia com a avaliação da documentação fornecida pela seguradora e com a decisão de solicitar ou não mais informações sobre as pessoas ou objetos segu-rados. No resseguro não-vida, abrange informações sobre o local, o valor e a exposição doobjeto aos riscos. Por exemplo, a exposição de um determinado prédio a uma inundaçãoé avaliada através de mapas de zonas de inundação, que mostram níveis de enchentes,a velocidade de fluxo e outras informações. No resseguro de vida, a análise de risco iráconsiderar informações que ajudem a precisar o risco de morte ou de enfermidade, taiscomo idade, sexo, fumante ou não, e os aspectos médicos e de estilo de vida.

Somente os riscos que apresentam condições gerais de segurabilidade (ver quadroabaixo) podem ser (res)segurados. Os termos e as condições sob os quais os riscosserão segurados têm uma importante função em torná-los seguráveis, pois limitam acobertura concedida de modo a satisfazer princípios de segurabilidade.

Princípios de segurabilidadeO (res)seguro apenas pode funcionar dentro de limites de segurabilidade. A segura-bilidade não possui uma fórmula determinada, mas constitui um conjunto de critériosbásicos, que devem ser cumpridos pelo risco para que o mesmo seja (res)segurável.Tais critérios podem ser classificados, de um modo geral, da seguinte forma:■ Estimativa: deve ser possível quantificar a probabilidade de ocorrência do evento

segurável, assim como a sua gravidade, para poder calcular o potencial deexposição e o prêmio necessário para cobri-lo. Além disso, deve ser possívelencaixar o sinistro em um determinado período de seguro.

■ Aleatoriedade: não se deve poder prever quando o evento de sinistro ocorrerá, e a sua ocorrência não pode depender da vontade do segurado.

■ Eficiência econômica: as seguradoras e os resseguradores devem poder cobrar umpreço proporcional ao risco aceito.

Alocação de capacidade, controles de acúmulos e limite máximoOs resseguradores aceitam apenas riscos que estejam em consonância com os limitesde capacidade estabelecidos. A capacidade é o valor máximo de cobertura que podeser oferecido por um ressegurador para um determinado período de tempo. No caso deriscos com um baixo potencial de acúmulos, tais como carteiras com diferentes apólicesde incêndio, os subscritores geralmente podem conceder um valor definido de capaci-dade para uma certa linha de produtos ou para determinados clientes/países. Os riscosque normalmente demandam maior capacidade são submetidos à aprovação específicapor parte de certas instâncias de subscrição ou comitês de risco.

10 Entendendo o resseguro

A subscrição é o primeiro passo para determi-nar se o ressegurador pode cobrir o risco

Informação é fundamental para analisar corretamente os riscos

Termos e condições são essenciais para tornar os riscos seguráveis

Os limites de capacidade determinam omontante de risco que pode ser aceito

Como os resseguradores administram riscos

1 Para facilitar a leitura, emprega-se a terminologia não-vida. Em alguns casos, por exemplo, a expressão“subscrição” não tem o mesmo significado no resseguro de vida. Contudo, a idéia básica é a mesma.

Page 12: Entendendo o Resseguro

11Entendendo o resseguro

Riscos existentes deverão ser identificados

Figura 6Potencial de danos das cinco maiorescatástrofes naturais em USD bilhões, em 2004

Como os resseguradores administram riscos

4055

Terremoto na Califórnia

2030

Terremoto no Meio-Oeste norte-americano

35

Tempestade na Europa Ocidental

6075

Terremoto no Japão

85

120

Furacão na Costa Leste norte-americana

Potencial de danos segurados em USD bilhões:

200 anos de período de recuperação

500 anos de período de recuperação

1000 anos de período de recuperação

Alguns riscos, principalmente decorrentes da natureza, possuem um potencial deacúmulos bem maior. O acúmulo decorre da dependência entre os riscos individuais.Pode derivar de uma concentração de riscos, por exemplo, casas ou automóveis quepossam ser atingidos por um mesmo evento de sinistro, como tempestades; ou umaconcentração de participações em um mesmo grande risco, por exemplo, em empresasdo ramo farmacêutico, através de diferentes tratados de resseguro, tornando assim oressegurador mais exposto a uma única ocorrência de sinistro. Para controlar com êxitoesses riscos, é importante que os mesmos estejam identificados e sejam consideradosno processo de subscrição. A alocação de capacidade é uma importante medida pararestringir a exposição aos riscos de acúmulos: em um processo descendente, determina-da capacidade para um certo risco da natureza é alocada a um mercado específico (cen-tros de lucro) e a zonas de acúmulos. As diretrizes de subscrição e os sistemas de com-pensação – que mostram o total de cobertura dada a um risco individual dentro de todaa companhia – são medidas adicionais para evitar a exposição a acúmulos e mantê-ladentro de limites máximos.

Potencial de danos das catástrofes naturaisEm escala mundial, a exposição a catástrofes naturais está crescendo devido à maiordensidade populacional em lugares sujeitos a riscos da natureza, bem como emdecorrência do ambiente econômico cada vez mais complexo. Essa evolução encon-tra-se refletida em um enorme potencial de danos para o mercado segurador. A Figura6 mostra o potencial de danos das cinco maiores catástrofes naturais seguradas nomundo, variando de USD 20 bilhões a USD 120 bilhões, dependendo do risco e con-siderado o período de recuperação. Os resseguradores desempenham um importantepapel na gestão desses riscos.

Fonte: Swiss Re market research and cat modelling

Page 13: Entendendo o Resseguro

Taxação e cláusulas contratuaisO preço deverá ser suficiente para cobrir o custo esperado relativo à aquisição de negó-cios, sua administração e pagamento de sinistros. O prêmio deve também proporcionarclaramente ao ressegurador um retorno sobre o capital alocado para o risco. Para chegarao preço, os subscritores utilizam modelos baseados na experiência e na exposição.Modelos baseados na experiência analisam o histórico de sinistralidade em relação àsituação atual. Para que tais modelos funcionem, são necessários dados suficientes econfiáveis sobre os sinistros. Os modelos baseados na experiência são empregados parataxar riscos como incêndio – onde existe uma longa história de ocorrências – ou comomortalidade, onde o preço pode se basear em tábuas de mortalidade e em estudossobre a sinistralidade. Quando não existem tais informações, por exemplo, no caso dascatástrofes naturais, pois os eventos são relativamente raros, o preço correto deve serdeterminado com base no modelo baseado na exposição. Estes modelos utilizam infor-mações científicas e o parecer de especialistas. A experiência de sinistros, nestes casos,é apenas utilizada para controlar e calibrar o modelo.

Quando a seguradora aceita o preço, os termos e as condições oferecidas pelo ressegu-rador, é elaborado um contrato entre as partes, que descreve os direitos e as obrigaçõesdos contratantes, assim como os correspondentes termos e condições estabelecidos.Com a celebração desse acordo de interesses, o risco é aceito na carteira do ressegura-dor (o Apêndice 1 apresenta uma breve descrição dos diferentes tipos de contratos deresseguro de property e casualty).

Cobertura do risco de terremotoOs grandes terremotos são riscos muito severos e de baixa freqüência, isto é, são rela-tivamente raros, mas quando ocorrem, causam enormes prejuízos. Para poder oferecercobertura a tais riscos catastróficos, é necessária uma sofisticada modelagem de risco.

Os resseguradores tiveram um importante papel em tornar segurável o risco de terre-moto: nos anos 70, após os terremotos da Nicarágua e da Guatemala, um grupo deresseguradores e seguradores criou a CRESTA (Catastrophe Risk Evaluating andStandardising Target Accumulations). Essa organização vem estabelecendo, desdeentão, padrões sobre forma e conteúdo da política de informação relativa a riscos da natureza. A disponibilidade de dados mais precisos e detalhados da exposição aosriscos, juntamente com técnicas mais avançadas, possibilitaram uma evolução da modelagem de risco baseada na exposição, permitindo assim aos resseguradoresfornecer maior cobertura para terremotos.

Gestão de ativosOs prêmios que receberam pelas coberturas de resseguro os resseguradores investemno mercado de capitais; uma tarefa realizada pela área de gestão de ativos. A gestão deativos é uma parte do processo de gestão de riscos, ao fornecer dados de portfólio à gestão de riscos e, como ocorre com a subscrição – deve respeitar limites e diretrizessobre onde investir os capitais. Isso assegura que os ativos sejam alocados de formacompatível com as características das correspondentes obrigações.

12 Entendendo o resseguro

O preço apropriado para os riscos baseia-se na experiência de sinistros e na exposição

Quando o ressegurador e o resseguradoconcordam com os termos do contrato o riscoé aceito no portfólio de resseguro

A gestão de ativos investe os prêmiosconforme diretrizes e limites

Como os resseguradores administram riscos

Page 14: Entendendo o Resseguro

A gestão coordenada de ambos os lados do balanço patrimonial é conhecida comogestão do ativo e passivo ou ALM (Asset and Liability Management). No processo de ALM devem ser obtidas inicialmente as informações sobre as obrigações. Assim, sãoda maior importância tanto a quantificação da exposição cambial quanto o tipo depagamentos. A próxima etapa é identificar os fatores de risco financeiros, que afetem asobrigações, especificamente alterações em taxas de juros, em valores patrimoniais ou nopreço dos imóveis, assim como inflação e risco de crédito. Quando esses fatores tiveremsido identificados, serão determinados os ativos que correspondam às característicasdas obrigações.

Gestão de capitalO capital de um ressegurador deve ser apropriado ao seu perfil de risco específico e àsua disposição para assumir riscos. O capital é necessário para aquelas situações adver-sas, quando os pagamentos excedem à receita de prêmios e ao lucro financeiro, ouquando ocorrem choques decorrentes de provisionamento inadequado ou de prejuízospatrimoniais, como a abrupta queda de valor das ações, ocorrida de 2001 a 2003. Ocapital atua, portanto, como uma proteção contra prejuízos inesperados.

No processo de gestão de riscos, a gestão de capital tem a importante tarefa de harmo-nizar o capital com os riscos assumidos através de coberturas de seguro e de atividadesde investimento. Se o controle de riscos revelar um desequilíbrio entre os riscos assumi-dos e o quanto pode ser garantido através da base de capital existente, será necessárioum aumento de capital ou uma redução dos riscos de subscrição ou de investimentos.Tal redução poderá ser obtida com uma retração da capacidade de subscrição ou deinvestimento, ou mediante transferência dos riscos para fora da empresa, através deretrocessão ou securitização (ver quadro abaixo).

Equilíbrio entre riscos retidos e transferidosOs resseguradores podem desejar transferir para fora da empresa alguns dos riscosassumidos. Para isso, podem utilizar os tradicionais contratos de retrocessão ou algumadas modernas técnicas do mercado de capitais, como a securitização, por exemplo.

RetrocessãoA retrocessão é a transferência a outros resseguradores ou mesmo seguradores deprêmios que lhe haviam sido cedidos. A retrocessão proporciona ao ressegurador umaforma de pulverizar os seus riscos de modo mais amplo, mas isso envolve assumirtambém um risco de crédito. É fundamental uma boa avaliação do outro contratante,para garantir que a diminuição do risco técnico não seja anulada pelo risco de créditoa ser assumido.

SecuritizaçãoUma alternativa à retrocessão é a securitização, através da qual os riscos extremos são transferidos ao mercado de capitais na forma de títulos negociáveis. No caso do resseguro, a securitização tem sido utilizada para exposições a catástrofes naturais,como furacões, tempestades, terremotos ou para riscos extremos de mortalidade,como epidemias letais.

13Entendendo o resseguro

Como os resseguradores administram riscos

ALM oferece orientação sistemática de como os riscos interagem

O capital funciona como um anteparo contra prejuízos inesperados

O capital deve estar em consonância com os riscos assumidos

Page 15: Entendendo o Resseguro

14 Entendendo o resseguro

Um portfólio bem diversificado constitui apedra angular para o sucesso de longo prazode um ressegurador

Figura 7Dimensões da diversificação

Figura 8A diversificação gera menores preços para as coberturas de resseguro

Diversificação e gestão de riscosUm processo de gestão de riscos bem estabelecido irá resultar em um portfólio onde osriscos técnico e financeiro são compatíveis com o capital disponível. Isso assegura umasobrevivência de longo prazo para o ressegurador. Para o ressegurador obter êxito emum mercado altamente competitivo, não é somente essencial estar seguro, mas tambémadministrar essa segurança de maneira eficiente, através da diversificação dos riscos. Os resseguradores obtêm um alto grau de diversificação atuando globalmente, em umgrande número de países e de ramos de negócios, e assumindo um grande número deriscos independentes (ver Figura 7). A diversificação através do tempo é também umaspecto importante. A gestão de riscos também desempenha o seu papel nesse proces-so, determinando capacidades e estabelecendo diretrizes.

O princípio básico por trás da diversificação é a Lei dos Grandes Números. Este princípioestatístico estabelece que quanto mais riscos independentes forem colocados em umportfólio menos volátil será o seu resultado. Em termos de capital, menor volatilidadesignifica menor exigência de capital e, portanto, menores custos de capital para ummesmo nível de proteção. Os resseguradores mais diversificados podem oferecer assimcoberturas de resseguro a um preço mais baixo e, em decorrência do grau decapitalização, fornecer um maior nível de proteção.

Como os resseguradores administram riscos

pequeno grande Portfólio de riscos independentes

Âmbito territorialinternacional

nacional

um ramo

muitos ramos

IdealRamos de negócio

Melhor diversificação

Necessidade e custo de capital menores

Coberturas de resseguro mais baratas

Maior nível de pro- teção, devido ao grau de capitalização

Page 16: Entendendo o Resseguro

15Entendendo o resseguro

Condições necessárias para que o resseguro cumpra o seu papel

A legislação não deve retroagir

Acesso aos mercados e livre fluxo de capitalsão fundamentais para o funcionamento dadiversificação global

O capital dos resseguradores deve refletir o seu perfil individual de risco

Durante os últimos 150 anos, o resseguro tem dado cobertura a um número crescentede riscos de natureza cada vez mais complexa. O resseguro somente pode cumprir o seupapel se existirem certas condições básicas, quais sejam:■ Liberdade contratual e segurança jurídica.■ Possibilidade de prestar serviços internacionalmente.■ Exigências de capital compatíveis à exposição ao risco.

Liberdade contratual e segurança jurídicaO resseguro baseia-se em um contrato que determina quais os riscos cobertos. Assim, aliberdade contratual é essencial para tornar eficiente o mercado de resseguros. Os sinis-tros ocorrerão no futuro. Por isso, é importante para os resseguradores que os contratosoriginais permaneçam válidos e que as alterações legais não tenham efeito retroativo.Sem segurança jurídica, coberturas destinadas a certos riscos não podem ser oferecidaspor muito tempo. Isto ocorreu, por exemplo, em meados dos anos 80, quando o “Super-fund“ adotou a responsabilidade conjunta e solidária retroativa, levando muitos segura-dores e resseguradores a abandonar o mercado americano de responsabilidade civil.

Permissão para a transferência internacional de riscos e livre fluxo de capital Os resseguradores precisam atuar globalmente para equilibrar seus portfólios. Onde istonão for possível, eles não estarão em condições de absorver riscos extremos, pois nãopoderão se valer da Lei dos Grandes Números por muito tempo. Um pré-requisito para aobtenção de uma abrangência global é a possibilidade de os resseguradores terem liber-dade de prestação de serviços e acesso ao maior número possível de mercados de res-seguro. Portanto, para que a diversificação internacional funcione, os resseguradoresnecessitam também poder utilizar a sua receita de prêmios mundial para pagar sinistroslocais. Para os resseguradores, as restrições ao livre fluxo de capital – em muitos lugares,na forma de exigência de depósitos – limitam sua capacidade de transferir ativos paracobrir eventos de grandes proporções e assim as coberturas tornam-se mais caras doque poderiam ser.

Exigências de capital que considerem as peculiaridades dos resseguradoresAs exigências de capital para os resseguradores devem ser as mesmas que para osseguradores, ou ainda mais liberais, considerando que os resseguradores negociam comempresas e não com consumidores finais. Atualmente, há muitas iniciativas regulatóriaspertinentes ao resseguro: um importante projeto de Diretiva da União Européia é o ”Fast-track reinsurance supervision”; outro, que irá afetar o resseguro em médio prazo, é relati-vo a exigências de solvência (Solvency II). Para que o resseguro preserve as suas carac-terísticas é importante que as prescrições legais considerem as características peculiaresdo resseguro, inclusive a sua ampla diversificação em ramos de negócios e em diferen-tes territórios, assim como a sua maior capacidade de gestão de riscos. Em princípio, asexigências regulatórias quanto a capital deveriam causar a menor distorção possível nomercado. Nesse contexto, são preferíveis iniciativas que promovam a transparência ereconheçam os modelos de risco dos resseguradores, mais do que meras exigências decapital, que não levam em consideração o perfil de risco dos resseguradores e suasdemais características.

O que se pode esperar no futuro?A indústria do resseguro enfrentará enormes desafios nos próximos anos. O panoramade riscos permanentemente mutante e as exigências regulatórias e de acionistas, volta-das a uma maior transparência, irão exigir que a indústria explique de modo cada vezmais detalhado as suas operações à coletividade. Nesse contexto, ela deverá enfatizaras suas preocupações com a estabilidade do setor, obtendo marcos regulatórios quepreservem a confiança na solidez financeira do resseguro e que levem em consideraçãosuas peculiaridades.

Page 17: Entendendo o Resseguro

16 Entendendo o resseguro

Apêndice 1:Como os seguradores transferem riscos aos resseguradores

Predomínio das coberturas tradicionais

Figura 9Resseguro proporcional

0

20

40

60

80

100

120

140 USD milhões

ResseguradoraSeguradora

Sinistros da Apólice 2

Prêmio da Apólice 2

Sinistros da Apólice 1

Prêmio da Apólice 1

Os produtos dos resseguradores são desenhados para satisfazer as necessidades dosseguradores quanto à proteção de seus balanços patrimoniais e suporte de capital.Normalmente, uma seguradora irá estruturar o seu programa de resseguro utilizandoquase todas as formas e tipos de contrato.

Os contratos de resseguro tradicionais basicamente aceitam os riscos subscritos direta-mente pelas seguradoras, mediante o pagamento de um prêmio de resseguro. Taiscoberturas de resseguro são, portanto, bem influenciadas pelos termos e condições dasapólices de seguro subscritas pelo segurador. Há dois tipos tradicionais de cobertura deresseguro: tratados e contratos facultativos. O tratado de resseguro é utilizado paracobrir portfólios inteiros, precisamente definidos. Esses instrumentos constituem a formade contratação predominante, tanto em resseguro de vida como também não-vida. O contrato de resseguro facultativo destina-se principalmente a riscos de grande porte,que não são apropriados a uma carteira e que necessitam ser avaliados e resseguradosindividualmente. Em ambas as formas de contratação, há ainda a cobertura proporcionale a não-proporcional (ver o quadro abaixo). Os tipos de contrato são os mesmos, tantoem âmbito vida como também em não-vida. O que normalmente difere é a finalidadedos contratos de resseguro e seus prazos. Em geral, um contrato de resseguro não-vidaé renovado anualmente. Já um contrato de resseguro de vida, geralmente, possui o mesmoprazo contratual da apólice original subscrita no ano em que o resseguro foi contratado.

Formas básicas de resseguro tradicional2

Existem dois tipos básicos de resseguro tradicional: proporcional e não-proporcional.

Em todos os tipos de resseguro proporcional, a seguradora e o ressegurador repartemprêmios e sinistros na proporção definida contratualmente. A participação do ressegu-rador nos prêmios é diretamente proporcional à sua obrigação de pagar sinistros. Por exemplo, um ressegurador aceita 25% de uma determinada carteira de riscos; aseguradora, por sua vez, retém 75%. Os prêmios e sinistros serão repartidos à razão de 25:75 (ver Figura 9)

2 Para efeito de maior clareza, as explicações estão limitadas aos conceitos mais simples sobre os tipos básicosde contratos tradicionais. Por conseguinte, não são considerados, por exemplo, custos de aquisição, negócioscom prêmio de risco de vida, etc.

Page 18: Entendendo o Resseguro

0

20

40

60

80

100

120

140 USD milhões

ResseguradorSeguradora cedente

Sinistro 3 Sinistro 2Sinistro 1

Responsa- bilidade do resse- gurador

Responsa- bilidade da seguradora cedente

Responsa- bilidade da seguradora cedente

17Entendendo o resseguro

Apêndice 1: Como os seguradores transferem riscos aos resseguradores

Figura 10Resseguro não-proporcional

As coberturas não-tradicionais significamapenas uma pequena parcela dos negócios de resseguro.

O resseguro não-proporcional é estruturado como uma apólice de seguro convencio-nal: o ressegurador paga todos os sinistros, ou uma porcentagem predeterminada dosmesmos, que estejam dentro de certos limites (mínimo e máximo) de cobertura (verFigura 10). A parte do sinistro que estiver acima ou abaixo desses limites estará porconta do segurador, o qual poderá, no entanto, ressegurá-la através de outros contra-tos. Diferentemente do resseguro proporcional, o prêmio do resseguro não-proporcio-nal não tem relação com o prêmio do negócio original.

Há poucos anos, surgiram novas técnicas de transferência de risco, resumidas sob adenominação geral de transferência alternativa de riscos (“alternative risk transfer” –ART). Os instrumentos principais são o resseguro finite de vida e não-vida, e os contratosplurianuais e de multirriscos de property e casualty. Esses tipos de contrato sãoextensões naturais do resseguro tradicional.■ Por sua natureza, os contratos finite apresentam maior possibilidade de repartir ganhos

(perdas), ao limitar a transferência de riscos ao ressegurador. Os contratos finite origi-naram-se na época da crise norte-americana das coberturas de responsabilidade civil,em meados dos anos 80. O resseguro finite foi desenhado para facilitar a transferên-cia de certos riscos, os quais não seriam mais seguráveis em decorrência da referidacrise.

■ Nos contratos multirriscos/plurianuais, os resseguradores obrigam-se a cobrirsinistros apenas se os danos acumulados de vários riscos diferentes excederem a umcerto patamar, durante determinado período (normalmente três anos). Os prêmiosdesses contratos são baixos, pois geralmente se destinam a cobrir apenas os danosagregados, muito severos e de baixa freqüência, que possam causar um impactoexcessivo em seguradoras ou em grandes corporações. Tais tipos de contratotambém reduzem custos de administração.

Os prêmios das coberturas não-tradicionais, principalmente de resseguro finite, signifi-cam de 10% a 15% de todos os prêmios de resseguro. Entretanto, a importância dascoberturas não-tradicionais é substancialmente menor do que essa fatia de 10% a 15%,pois os contratos finite, normalmente, possuem um forte componente de gestão decapital.

Page 19: Entendendo o Resseguro

18 Entendendo o resseguro

Apêndice 2: Dados estatísticos de resseguradoras

Volume global de prêmios de seguro e resseguro em 2003*, em USD bilhões

Seguradoras Seguro não-vida Seguro de vida

Prêmios diretos 1069.4 1520.8

Resseguradoras

Prêmios cedidos1 146.0 29.5Proporção das cessões2 13.7% 1.9%

* Cifras provisórias estimadas em outubro de 2004.1 As cessões incluem apenas prêmios de empresas não-coligadas; estimativa de outubro de 2004.2 A proporção de cessões é definida como o resultado do valor dos prêmios cedidos dividido pelo valor dos

prêmios diretos.

Fonte: Swiss Re Economic Research & Consulting

Origem geográfica das cessões

Prêmios de resseguro não-vida*, em USD bilhões1990 1995 2000 2001 2002 2003

América do Norte 25.48 35.73 48.64 58.14 66.37 71.90América Latina 1.18 3.09 3.61 4.39 4.55 4.67Europa Ocidental 26.99 37.32 30.64 32.61 39.93 48.95Ásia 6.03 12.56 9.91 10.88 12.49 13.82Demais 1.59 4.50 4.73 4.63 5.10 6.70Total mundial 61.27 93.20 97.52 110.65 128.44 146.04

* As cifras incluem apenas cessões a empresas não-coligadas; todas as cifras apresentadas são estimativas deoutubro de 2004.

Fonte: Swiss Re Economic Research & Consulting

Prêmios do resseguro de vida*, em USD bilhões1990 1995 2000 2001 2002 2003

América do Norte 4.31 6.00 13.47 15.40 17.82 19.57América Latina 0.12 0.41 0.95 0.88 0.41 0.40Europa Ocidental 2.64 4.06 4.56 4.85 5.55 7.50Ásia 0.25 0.59 0.72 0.72 0.81 0.91Demais 0.48 0.60 0.72 0.75 0.81 1.11Total mundial 7.79 11.66 20.42 22.60 25.40 29.50

* As cifras incluem apenas cessões a empresas não-coligadas; todas as cifras apresentadas são estimativas deoutubro de 2004.

Fonte: Swiss Re Economic Research & Consulting

Page 20: Entendendo o Resseguro

19Entendendo o resseguro

Apêndice 2: Dados estatísticos de resseguradoras

Os dez maiores grupos resseguradores* em 2003

Prêmio ganho líquido Ativos Patrimônio Solidez Grupo ressegurador Bens Vida&Saúde investidos líquido financeira

(USD m) (USD m) (USD m) (USD bi) (USD m) S&P, em 01/11/04

Munich Re 25 499 18 337 7 162 101.4 23 836 A+Swiss Re 22 779 15 199 7 580 71.3 14 967 AAGE Insurance Solutions 10 001 6 958 3 043 29.2 7 943 A+Hannover Re 9 181 7 001 2 180 17.6 3 033 AA–Gen Re 8 245 6 398 1 847 24.2 8 146 AAABerkshire Hathaway Re 4 430 4 430 0 na na AAAScor 4 162 2 638 1 524 7.7 781 BBB+Converium 3 677 3 294 383 7.5 2 083 BBB+PartnerRe 3 503 3 203 300 6.2 2 594 AA–Transatlantic Re 3 171 3 171 0 6.7 2 377 AA

* Somente empresas resseguradoras profissionais, excluído o Lloyd’s.Ativos investidos = investimentos declarados, sem considerar moeda corrente ou equivalente e depósitosmantidos junta às cedentes. Patrimônio líquido conforme declarado.Gen Re e Berkshire Hathaway Re: prêmio ganho líquido conjunto de USD 12.675 milhões em 2003.Munich Re: apenas prêmios de operações de resseguro, incluindo transações internas do Grupo, no valor deUSD 1.1 bilhão em P&C e USD 1.1. bilhão em L&H; ativos investidos apenas em operações de resseguro;patrimônio líquido do Munich Re Group.Swiss Re: As cifras P&C incluem a Área de Negócios P&C e o prêmio dos negócios da Área de ServiçosFinanceiros.Scor: GAAP francês, patrimônio líquido “pro forma”; incluído o aumento de capital, efetuado em 7 de janeiro de2004 (EUR 751 milhões), teria sido USD 1.69 bilhão.

Fonte: Swiss Re, com base nos relatórios das empresas; Financial Strength Rating da Standard & Poors’

Page 21: Entendendo o Resseguro

20 Entendendo o resseguro

Apêndice 3: Referências bibliográficas

Fontes e literatura relacionadaBerliner, Baruch: Limits of insurability of risks, Englewood Cliffs, 1982

Carter Robert L, et al: Reinsurance essentials, Reactions, 2004

Gastel Ruth: Reinsurance: fundamentals and new challenges, Insurance Information Institute, 2004

Gerathewohl, Klaus: Reinsurance Principles and Practice, Verlag Versicherungswirtschaft, 1980

Kiln, Robert/Kiln, Stephen: Reinsurance underwriting, Witherbys, 1996

Schwepcke, Andreas: Rückversicherung, Deutsche Versicherungsakademie, 2001

Shimpi, Prakash: Integrating Corporate Risk Management, Texere, 2001

Standard & Poor’s: Global Reinsurance Highlights, 2004 edition

Swiss Re: An introduction to reinsurance, Technical Publishing, 2002

Swiss Re: Natural catastrophes and reinsurance, Risk perception, 2003

Swiss Re: sigma No 1/2003, “The picture of ART”

Swiss Re: sigma No 5/2003, “Reinsurance – a systemic risk?”

Swiss Re: sigma No 3/2004, “World insurance 2003: insurance industry on the road to recovery”

Swiss Re: The insurability of ecological damage, Technical publishing, 2003

Tiller John E, et al: Life, health & annuity reinsurance, ACTEX Publications, Inc., 1995

Outras publicações sobre (res)seguro estão disponíveis em “Research & Publications”,no site da Swiss Re: http://www.swissre.com

Sites de interesseUnião Européia, Serviços Financeiros: http://europa.eu.int/comm/internal_market/finances/index_en.htm

Insurance Information Institute, New York, US: http://www.iii.org

International Accounting Standards Board: http://www.iasb.org

International Association of Insurance Supervisors, Basle, Switzerland: http://www.iaisweb.org

International Insurance Society: http://www.iisonline.org

National Association of Insurance Commissioners: http://www.naic.org

Page 22: Entendendo o Resseguro

© 2005Swiss Reinsurance CompanyZurique

Título:Entendendo o resseguro

Autores:Patrizia BaurAntoinette Breutel-O’Donoghue

Editor Executivo:Thomas Hess, Head of Economic Reasearch & Consulting

Publicação:Economic Research & Consulting

Projeto gráfico e produção:Logistics/Media Production

O conteúdo deste estudo está sujeito a todas asprescrições de direito de autor e suas conse-qüências. As informações aqui contidas poderãoser utilizadas para fins particulares ou internos,desde que as advertências quanto ao direito deautor ou à propriedade imaterial não sejam retira-das. É proibida a reutilização eletrônica dos dadospublicados neste estudo.

A reprodução deste estudo ou de parte delesomente será permitida mediante prévia autori-zação escrita por parte da Swiss Re EconomicResearch & Consulting, e desde que seja citada a fonte: “Swiss Re, Entendendo o resseguro”.Serão apreciadas cópias de cortesia.

Mesmo que todas as informações utilizadas nesteestudo provenham de fontes confiáveis, a SwissReinsurance Company não assume qualquer tipode responsabilidade pela exatidão ou inteireza deseu conteúdo. Os dados e informações aqui apre-sentados têm apenas finalidade informativa e nãosignificam a posição da Swiss Re. Em nenhumacircunstância a Swiss Re deverá ser responsabili-zada por qualquer dano ou prejuízo que venha aser alegado em conexão com a utilização dessasinformações.

Cópias adicionais, bem como o catálogo depublicações da Swiss Re podem ser solicitados no seguinte endereço:

[email protected]ário eletrônico: www.swissre.comHotline: 6800

Número para pedido: 1501330_05_pt

VO, 6/05, 500 pt

Page 23: Entendendo o Resseguro

Economic Research & ConsultingSwiss Reinsurance CompanyMythenquai 50/60Caixa Postal8022 ZuriqueSuíça

Telefone +41 43 285 2121Fax +41 43 285 2999www.swissre.com